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1Ensaio publicado originalmente na coletânea de (1969) Four Essays on Liberty. Oxford: Oxford University
Press.
2YAMAUTIi (2010) p.345 A questão da reprodução e da transformação da ordem nome perpectiva marxista.
3Subentenda-se neste artigo o uso do termo individual, principalmente em sua conotação compreendida pela
liberdade dada à pessoa Jurídica.
1 - O fundamento
The freedom which consists in being one's own master, and the
freedom which consists in not being prevented from choosing as I do by other men,
may, on the face of it, seem concepts at no great 'negative’ notions of freedom
historically developed in divergent directions, not always by logically reputable
steps, until, in the end, they came into direct conflict with each other. (BERLIN
1969, pg.8).
77 BERLIN (1969) p. 1, 4, 6 e 7.
Podemos então observar como nesta tênue “fronteira que deve ser traçada entre
a àrea da vida privada e aquela da autoridade pública” reside o limiar ontológico das duas
possíveis conotações que podem ser atribuídas ao termo liberdade que estão sendo discutidas
aqui. E defendemos que reside aí o núcleo-duro abstrato capaz de orientar a conduta liberal e
seus desdobramentos enquanto base das práticas capitalistas. Resumidamente, a liberdade
positiva pode ser compreendida como: possibilidade, liberdade para exercitar uma
possibilidade e consequentemente manifestar alguma coação ou influência sobre outrem;
enquanto que a liberdade negativa pode ser compreendida como: preservação, liberdade para
se preservar de alguma influência externa oriunda da possibilidade que existe para outrem.
Para além da concepcão maniqueísta destas concepções diametralmente opostas, vemos como
a apropriação implícita daquilo que pode ser compreendido através dos conceitos acima
apresentados, manifesta possíveis contradições causadas pela possível compreensão
reducionista dada pela mudança de perspectiva causada pelas diferentes análises ontológicas.
3 –Contradições e generalizações
Extendendo a análise destes conceitos, analisaremos possíveis contradições
dadas pela generalidade dos termos cunhados acima. Alegamos, de maneira reducionista, que
a ontologia da liberdade negativa pode existir dentro da ontologia liberdade positiva, na forma
de luta pela sobrevivência coletiva. Alegamos também que o contrário não seja perfeitamente
possível. Este não se dá por completo por não podermos reduzir a complexidade ontológica
dada pelos condicionantes presentes em ambas à uma lógica intrínseca comum. A mínima
diferença enextinguivel presente na conotação negativa reside numa complexidade que atende
às exigências da ontologia individual e, em certa medida e em íltima instância, negligência o
impacto desta sobre outrem. Ao se exercitar esta conotação negativa atribuída ao termo
liberdade, em última instância se prefere a conservação da dita mínima área de influência
essencial para evitar-se a alegada descaracterização da natureza humana. Diferentemente, na
conotação positiva, vemos algo ontológicamente diverso na medida em que esta supera as
exigências da ontologia individual ao legitimar a proatividade da interferência externa
justificada por uma cadeia lógica de causa e efeito que leva em conta exigências de ordem
tanto individual quanto coletiva. Devido à este caráter generalista com compreende o
indivíduo como compenente da coletividade e que exige algo deste, afirmamos que a
liberdade, enquanto valor positivo é ontológicamente irredutível às exigências dadas pelos
condicionantes existentes na lógica que responde aos imperativos dados pela lógica da
preservação manifestos no exercício da liberdade enquanto valor negativo; isto se dá,
fundamentalmente, por estas manifestações atenderem à necessidades políticas divergentes. A
compreensão dada pelo conjuto de condicionantes que se pretende conservar, a ética que
emerge das duas ontologias, difere na medida em que preserva-se algo diferente. Por agirem
ao preservarem ontologias diferentes: o indivíduo8 é preservado frente alguma forma de
colaboração exigida pelos imperativos de uma ontologia (social) mais abrangente. Esta outra
ontologia demanda de seus partícipes, o exercício da liberdade enquanto valor positivo, afim
de se sustentar, e daí emerge uma ética orientada por imperativos mais abrangentes e
fundamentais. O argumento acima encontra seu limite ao ter de levar em conta o momento da
escolha entre a preservação individual e a coletiva, vivida pelo indivíduo participando
simultâneamente nas ontologias individual e coletiva.
9 Que nos sugere uma leitura comparada frente a compreensão Durkheimiana do fato social suicídio.
10 RIBEIRO (2000) p. 26-34
11 Ao construir sua teoria da evolução sociocultural, Darcy Ribeiro observa a emergência de formas
imperialistas de cunho neocolonial conflitando com formas socialistas evolutivas e revolucionárias num conflito
que, em sua dimensão ideológica, implicitamente utiliza das duas conotações dadas ao termo liberdade
discutidas acima.
Finalizando por hora as generalizações e retomando às contradições, notamos
que ao se usar da liberdade enquanto valor positivo para sustentar um exercício político
calcado na conotação negativa, como foi acima citado, tal projeto se contradiz
ontológicamente na medida em que se sustenta no reducionismo que coloca a complexidade
da conotação conservadora negativa (que em última instância de desdobrará para garantir a
permanência da mínima àrea necessária à preservação da ontologia individual) acima da mais
abrangente conotação positiva (que em suas últimas instâncias poderá se desdobrar afim de
garantir as possibilidades supra-pessoais reais que, ao coagirem outrem, de alguma maneira
poderão atender ao imperativo das necessidades coletivas). Tal demagogia se sustenta ao
resignificar-se o mais abrangente denominador comum presente nos desdobramentos do
exercício positivo da liberdade, afim de implicita e contraditóriamente, apelar para a
preservação individual, virtualmente ameaçada, como fim último. Vemos este processo12 de
ressignificação na alegação liberal que compreende a suposta aplicação do Estado mínimo,
preservador das liberdades individuais, como o melhor instrumento para a construção do bem
estar coletivo. Tal compreensão reducionista é falaciosa pelos motivos expostos acima pois
age ao interpretar as necessidades oriundas da preservação da ontologia coletiva como mero
generalização das necessidades oriundas dos imperativos da preservação da ontologia
individual; ao agir assim, esta interpretação omite sinergias e relações causais mais complexas
implícitas no objeto mais complexo que é a ontologia coletiva (composta pelas ontologias
individuais e por todas as possíveis relações entre elas, ambas sujeitas e respondendo, em
escalas diferentes à mesma realidade, limitada pela compreensão da realidade dada por seus
paradigmas). Neste processo de ressignificação a complexidade das ontologias individual e
coletiva não é propriamente compreendida e ambas acabam impropriamente misturadas ao se
utilizar de tal demagogia para se preservar o ideário liberal. Ao se projetar na ontologia
coletiva, os imperativos que atendem à preservação das liberdades (negativas) individuais,
cometemos uma falácia ontológica reducionista que analisa os imperativos exigidos pela
preservação (positiva e transpessoal) da ontologia coletiva enquanto meras generalizações dos
imperativos exigidos pela preservação da ontologia individual (negativa em última instância);
tal equívoco se dá ao invés da interpretação capaz de analisar os imperativos exigidos pela
preservação (positiva e transpessoal) da ontologia coletiva enquanto práxis da manutenção de
uma ontologia diferente, mais complexa e abrangente. O indivíduo é o que é, apenas um
indivíduo; da mesma maneira a coletividade é o que é, uma coletividade; logo a complexidade
12 PANITCH, Leo.; GINDIN, Sam (2004) analisam relação entre a indústria financeira Estadunidense e a
política interna/externa e observa uma ressignificação impondo a agenda da indústria financeira enquanto
condicão para os alívios causados pela baixa oferta de crédito na economia.
ontológica da coletividade não pode ser reduzida aos imperativos menos complexos de ordem
individual sob o risco de se descaracterizar a coletividade ao individualizá-la. Tal concepcão
somente será verdadeira se a realidade social se mostrar naturalmente antropomórfica,
totemista, em última instância.
5 – Conclusão
BIBLIOGRAFIA
15 A visão em Paralaxe, surge novamente como referência para possíveis estudos futuros.
BERLIN, Isaiah. (1958) Two Concepts of Liberty. In: Isaiah Berlin (1969) Four Essays on
Liberty. - Oxford: Oxford University Press. Disponível, na data de 14/10/2012, em
http://www.wiso.uni-hamburg.de/fileadmin/wiso_vwl/johannes/Ankuendigungen/
Berlin_twoconceptsofliberty.pdf
ZIZEK, Slavoj. (2008) A Visão em Paralaxe / Slavoj Zizek, tradução de Maria Beatriz de
Medina. – São Paulo : Boitempo.