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Restaurações anteriores complexas


DIFICULDADES Ao contrário da matiz, o croma varia na
Þ Cor; mesma arcada e no próprio dente à de
dificuldades -

Þ Caracterização (em casos de anomalias de formação, anterior para posterior o croma aumenta
Maiores

estética

por exemplo); IC A2, IL A3/A2, C A3.5


Þ Opacidade (nível de translucidez). Exemplo do copo de leite: um copo com 2/3 de água e
com 1/3 de leite é branco. Um copo com ½ de água e
Þ Perfil (por exemplo encerramento de diastemas);
Mais falíveis quanto
maior a restauração

½ de leite é branco. Se for 99% de água e 1% de leite


Þ Forma, dimensões; continua a ser branco! A matiz continua a ser branca,
Þ Textura (relacionada com acabamento e polimento); não mudou. O que mudou foi o croma.
Þ Oclusão; Valor Ou brilho
Þ Camuflagem e transições (camular manchas e a Objeto com tom mais claro ou mais escuro
transição entre o dente e a restauração); Equivale à escala de cinzentos
Þ Escolha de materiais; > valor à > brilho à > branco
Þ Acabamento e polimento (em restaurações grandes < valor à < brilho à > preto
esta fase deve ser feita numa 2ª consulta); A1 tem > valor do que A4
Þ Matrizes individuais. O valor depende do esmalte à 1/3 médio
à “porque não 1/3 incisal?” à é no 1/3
FATORES NEGATIVOS DAS RESINAS médio onde o esmalte existe em grandes
COMPOSTAS quantidades. Em incisal existe esmalte,
Þ Variedade de materiais; mas este é tão fino que não reflete tanta
Þ Tempo exíguo; luz como no 1/3 médio
Þ Condições de trabalho; > valor à 1/3 médio (> dimensões)
Þ Contexto económico; < valor à 1/3 cervical à < esmalte
Þ Formação profissional; > valor à < croma
Þ Exigências dos pacientes. Quanto > luz refletida à > branco à >
valor
COR Nós podemos aumentar o valor sem
Matiz + croma + valor à fazem parte das dimensões de reduzir o croma à dando mais polimento
Munsell. ao dente à este reflete mais luz à parece
Ou tonalidade mais branco
Cor do objeto O polimento do dente não deve ser feito
Relacionado com a dentina de forma igual nos diferentes terços
Pode ser A, B, C ou D devido ao facto do dente possuir um perfil
A à marrom à 80% da população convexo, ter textura, diferente opacidade e
Matiz caucasiana tem matiz A translucidez
B à amarelo A saliva no dente também aumenta o valor
A A e a B são mais fáceis de trabalhar em RC e pois esta aumenta a reflexão da luz
cerâmicas do que a C e D Porque é que as pessoas da televisão têm sempre os
C à cinzento dentes mais brancos? à estúdio cheio de luz
D à vermelho Existe a escala vita organizada por valores
Para escolher a matiz à 1/3 cervical (útil em branqueamentos) à B1-A1-B2-D2-A2-C1-C2-
D4-A3-D3-B3-A3,5-B4-C3-A4-C4
Em dentes saudáveis, sem anomalias nem
Quando ouvimos “o branqueamento
endodonciado, a matiz é sempre a mesma
melhorou em 5 tons/níveis” significa que
na arcada e no próprio dente
utilizamos a escala vita organizada por
Croma Saturação/ intensidade/força da matiz
valores
O croma é o número que vem depois da
Ao contrário da matiz, o valor varia na
letra (matiz)
mesma arcada e no próprio dente
Pode ser 1, 2, 3 e 4.
Opalescência Consoante o comprimento de
Nós podemos ter uma X matiz que pode
onda da luz incidente, a cor é
ser a mesma em todo o objeto (ex. verde) mas
diferente
com diferentes saturações em diferentes
Relacionada com os cristais de
zonas desse mesmo objeto (verde-claro, verde-
escuro, ...) hidroxiapatite (+ esmalte)
> croma à 1/3 cervical A luz refletida é a de menor
< croma à 1/3 incisal e proximal comprimento de onda à zona
> croma à < valor de reflexão à azul/cinza
A4 tem > croma do que A1 A luz transmitida é a de maior
Molar tem > croma que o incisivo (molar tem comprimento de onda à zona
> dentina que o incisivo) de transmissão à
laranja/amarelo à só depende da
nossa técnica e não do material
Beatriz Ornelas | 4º Ano 2º Semestre 2022/2023
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Quando a luz do flash incide


por vestibular, temos bem
marcado o aspeto azulado ao
nível incisal
Se colocarmos um espelho
dentro da boca e fotografar,
não os dentes, mas a imagem
que está no espelho, apanha-
se o lado em que a luz foi A cor resulta dos comprimentos de onda que são
transmitida à O 1/3 incisal refletidos.
fica amarelo/alaranjado TIPOS DE RESINAS COMPOSTAS
É importante estratificar bem 1. Opaco;
Quando queremos camuflar algo.
e adequar bem a espessura do

Do mais opaco para o


Usado em dentes escurecidos.
material. A própria espessura
2. Dentina;

menos opaco
de material pode contribuir
3. Body:
para este fenómeno. Como está entre a dentina e o esmalte, pode ser uma cor boa para
Fluorescência Uma determinada restauração, ser utilizada por pessoas que não têm tanta experiência.
em diferentes condições de 4. Esmalte;
luz, pode transmitir uma cor 5. Incisais;
diferente 6. Caracterizadores.
Opacidade e Falar em translucidez e não
translucidez em transparência! A Dente (Por ordem): Camada fina de cor opaca
transparência é uma escurecido (temos de conseguir, com esta camada, camuflar
propriedade em que a luz que 80%) à massa de dentina para
incide no objeto atravessa o opacificar (os restantes 20%) à body à
objeto na sua totalidade esmalte no bordo incisal
A opacidade e translucidez são
propriedades que dependem
do “jogo” entre o esmalte,
dentina e a JAD
Depende da espessura do
Imagem da esquerda à coroa provisória no 22 em resina.
esmalte e dentina Imagem do meio à try in: vê-se que a cor não está bem. Mas o
O gradiente entre que é que não está bem? Para avaliar temos de individualizar
transparente e opaco por terços.
transmite “vida” aos dentes Se repararmos bem, o 1/3 médio e cervical estão mais
Depende da quantidade de acizentados (com baixo valor) à temos de dizer isto ao
luz que entra no dente antes laboratório.
de ser refletida
A resina composta tem de ESCOLHA DA COR
transmitir as variações de De forma visual ou com recurso a instrumental.
opacidade e translucidez
Opacidade > em dentes O método instrumental pode ser uma boa ajuda, mas
cariados à < transmissão de para funcionar corretamente, as condições entre
luz na zona de cárie consultório e laboratório têm de ser bem padronizadas
Quando > [ ] de dentina à > e o laboratório tem de ter exatamente o mesmo
opacidade à > 1/3 cervical aparelho que o consultório.
Caracterização Variações do terço incisal à
(NOTA: Os scaners intra-orais já têm softwares que permitem fazer isto,
associadas a características
mas não acertam sempre na cor).
fisiológicas ou patológicas
LUZ
Ambiente e instrumental na escolha da cor
Há um espetro de luz eletromagnético que os nossos
Þ Paredes cinza neutro ou azulada/teto branco;
olhos conseguem detetar entre os 380-760 nm. (No
fundo são as cores do arco-íris e, é este o espetro de cores que o Þ Luz ambiente indireta 4500-5500k, 5500k-
nosso olho consegue detetar). 6500k;
Þ Evitar luz de intensidade excessiva e
Para um objeto ter cor tem de haver luz. à Por exemplo, perpendicular ao dente:
um objeto azul absorve todos os comprimentos de onda, exceto o Reflete muito a luz à vamos escolher um dente com maior
azul, os restantes comprimentos de onda entram nos nossos olhos e valor (erro);
é isso que nós vemos. Þ Ideal à 3 horas depois do nascer do sol e 3h
antes do pôr do sol (10h-16h);

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Þ Escala adequada e fotografia digital em bkt estivermos a fazer uma restauração no 22,
(bracketing) para croma e textura; escolher a cor no 12; só quando não há
Þ Escala adequada e fotografia digital bw (preto e possibilidade de escolher a cor no homólogo é
branco) para o valor; que escolhemos no dente adjacente:
Þ Pode fazer-se 1 foto para cada passo (valor, matiz, A escolha da cor, faz-se no início ou fim? Se for um dente
croma); com cárie grande e/ou cinzento, vamos escolher a cor no fim
Þ Angulações e intensidade da luz para textura: (se não houver mais nenhum dente!) MAS se o homólogo está
Para ver bem o 1/3 incisal angular 15 graus positivos (até porque bem, então vamos escolher a cor logo de início pelo
a luz vem de cima e não de baixo) em relação à face vestibular do homólogo.
dente à para que assim haja reflexão de luz no bordo Þ Mapa cromático (do terço incisal) à fazer no início
Para ver a textura de superfície são melhores os flash twin da consulta quando escolhermos a cor para
com angulação horizontal a 30 graus e uma ligeira sobre não nos esquecermos. Além disso, no decorrer
exposição; da consulta os nossos olhos começam a ver
Þ Evitar o cansaço, intercalar e olhar para azul outro tipo de opacidades e podemos errar se
ou cinza: optarmos por aquilo que estamos a ver no
Importante para descansar a vista. Depois de 15-30 segundos momento;
a olhar para a escala vita nós deixamos de conseguir O mapa cromático é fazermos um desenho e escrevermos a
diferenciar a cor. cor que vamos usar em cada terço.
A fadiga é muito rápida para comprimentos de onda Þ Distância e ângulo (devemos estar a 30 cm para
próximos. escolher a cor e com o ângulo de visão ligeiramente acima
Þ Distância e nível ocular (30cm); do nível dos dentes).
Þ Luz natural (5000k) difusa (distribuída, não ter numa
só luminária muito intensa em cima da cadeira). Quando se perde mais do que 5-10-15 segundos na
escolha da cor, há fadiga da visão; deixamos de
Bracketing à Bracketing são 3 fotografias com conseguir fazer a distinção entre comprimentos de
diferentes parâmetros (uma equilibrada, uma sub-exposta e onda muito próximos. Para contornar esta fadiga,
outra sobre-exposta) à para o croma é feito a cores e para devemos olhar para cores como azul ou cinza.
o valor é feito a cinza. Algumas máquinas já têm esta
configuração. Se não tiverem, fazemos manualmente Quanto maior for a hidratação (excesso de saliva), faz com
alterando a abertura. que o croma e a translucidez baixem e se aumente o
valor. A luz passa a refletir mais e os dentes parecem
Posicionamento da escala em relação ao dente para a ter mais brilho.
escolha da cor
As escalas de cor não têm Escolha da cor 1/3 incisal
variação de croma e do esmalte 1/3 médio mais próximo da
translucidez incisal do dos região interproximal
dentes. Se quisesse comparar o Escolha da cor 1/3 médio e cervical
1/3 incisal teria de colocar o da dentina
bordo do dente da escala
exatamente na mesma posição ESCALAS VITA
do dente do paciente. Escala VITA à 4 grupos de matrizes e 5 cromas.

Estando a transmitir informação de croma e valor que Escala VITTAPAN 3D MASTER à 1º valor (5), 2º
não são componentes importantes no 1/3 incisal do croma (3) e 3º matiz (3).
dente posso fazer a fotografia como está na imagem.
PREPARAÇÃO DO DENTE
Para além das características ambientais, para a Na preparação de um dente em ambiente clínico não
escolha da cor também é importante: há qualquer tipo de desenho cavitário pré-definido a
Þ Dentes limpos (limpar a placa bacteriana); seguir, contrariamente ao que ocorre no pré-clínico.
Þ Hidratação (escolher a cor no início, antes do Temos de remover a quantidade de esmalte mínima
isolamento, enquanto os dentes não estão desidratados;
suficiente para acedermos à dentina cariada.
também não queremos muita saliva); Nota: por vezes temos de remover esmalte são apenas para
Þ Luz (não usar luz direta, sempre indireta); aceder à dentina cariada! Por exemplo, podemos ter uma classe III
Þ Escalas diversas (há compósitos que têm a sua própria totalmente interproximal e vamos ter de criar um acesso! Neste caso
escala); temos de remover esmalte são para remover a dentina cariada. O
acesso deve ser feito por palatino, a não ser que a Classe III esteja
Þ Restauração de ensaio (exige mais tempo e gasto de muito vestibularizada – devemos ser sempre os mais conservadores
material);
possíveis.
Þ “Porção” de compósito;
Þ Dente homólogo se... à quando temos uma Antes de começarmos a mexer no dente, devemos
classe IV extensa, escolher a cor a partir do perceber se o que temos à nossa frente é uma cárie ou
dente homólogo se estiver íntegro; se não.

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É lesão de cárie Usamos brocas Também se pode optar por pedir para bochechar 4-6
Não é lesão de Não usamos brocas dias anteriores à restauração (não CHX 2%, mas sim uma mais
cárie Apenas usamos ácido e adesão diluída como a que se usa em perio) para que o índice de
pura! hemorragia gengival esteja diminuído no dia da
O uso de brocas só se faz em técnicas subtrativas! Em restauração.
técnicas aditivas, se não for por cárie, não as usamos! 8. Condicionamento ácido:
Protocolo de preparação dentária Remove um pouco da hidroxiapatite superficial (pelo
1. Remoção do tecido cariado; que também contribui para a preparação do esmalte).

2. Pigmentos: 9. Protocolo adesivo.


Se houver pigmentos (por exemplo se tivermos esmalte são,
mas com pigmentação castanha ou branca) também os temos SELEÇÃO DOS MATERIAIS
de remover. Þ Tipo de compósito:
3. Bisel: Podem ser microhíbridos, microparticulados ou
Não é obrigatório, mas ajuda a termos uma transição nanoparticulados.
menos percetível, mais harmoniosa e estética entre o Restauração Com compósito microhíbrido
dente e a restauração (contudo tem a desvantagem de haver TODA nanoparticulado à (são compósitos
maior desgaste de material dentário são). microhíbridos com nanopartículas)
Nota: o bisel surgiu da necessidade de aumentar a adesão ao esmalte Restauração Se quisermos ser muito puristas na
ao aumentar a superfície de contacto. Atualmente já é possível obter
do esmalte substituição do esmalte (e apenas do
uma ótima adesão ao esmalte sem necessidade de realizar um bisel,
esmalte!) podemos usar um compósito
pelo que não é obrigatório.
microparticulado à é aquele que
Como decidir se faço, ou não, bisel?
Ex. Dente 11 com classe IV. O dente 11 encontra-se mais se assemelha ao esmalte
palatinizado relativamente ao 21. Por esta razão, eu não humano à pela taxa de desgaste,
preciso de fazer bisel. A má posição dentária favorece-me. translucidez, brilho e nível de
MAS, imaginemos que o 11 não está palatinizado mas sim polimento que lhe conseguimos dar.
vestibularizado. Nesse caso, o ideal era fazer bisel pois se não Contudo, os compósitos
o fizéssemos iriamos estar a sobrecontornar o dente ainda microparticulados têm menos
mais. resistência à fratura e, portanto,
O bisel pode ser feito com uma broca diamantada, com idealmente, não devem ficar em
discos ou com o sistema EVA/profin. bordos incisais e outras zonas de
contactos oclusais.
Em contra ângulo multiplicador
Broca Brocas de grão fino ou médio (grão 25- Þ Tipo de compósito vs. Cor:
diamantada 40)
Se houver alterações de cor (por exemplo, dente que sofreu
As brocas de grão grosso (80-120) criam alterações colorimétricas devido a tratamento endodôntico)
muitas fissuras no esmalte teremos de usar compósitos mais opacos para mascarar
Discos de Corresponde ao primeiro daqueles 4 essas alterações.
grão grosso discos de polir compósito
Sistema São umas lixas que se colocam no Þ “Massas” de compósitos:
EVA/Profin contra ângulo Opacos, dentinas, body, esmalte e incisais à
importância das espessuras.
4. Sobre contorno:
É a alternativa se não fizermos um bisel, ou seja, se não Temos de selecionar o compósito em função do
biselar o esmalte temos de colocar compósito para tamanho da cavidade que temos!
além da margem da cavidade. Às vezes realiza-se o bisel Cárie classe III Usar um body
e o sobre contorno no mesmo caso! ou encerramento
5. Esmalte alterado: de diastema
Esmalte com hipoplasias ou alterações estruturais Classe em Massa opaca tipo esmalte
(como por exemplo fluorose) deve ser removido não
esmalte
propriamente por motivos estéticos, mas sim porque a
Classe V Monomassa de dentina
adesão a esse esmalte não é tão eficaz como ao esmalte
Classe IV num Usar dentinas, esmaltes,
normal.
dente jovem ou incisais, etc.
As margens da cavidade devem ter esmalte são.
cavidades Um dente jovem é um dente
6. Limpeza com escova:
grandes onde se cheio de caracterização e
Pode ser só com água, é suficiente para remover o
perdeu esmalte e riqueza de detalhes.
filme bacteriano ou restos alimentares (mesmo se o doente
dentina ou até Cada uma dessas massas de
tiver os dentes aparentemente limpos devemos fazê-lo).
mesmo fraturas diferentes opacidades tem de
7. Desinfeção:
totais de V a P ser colocada no sítio e em
Clorhexidina 2% ou NaOCl a 1% (o prof. prefere usar CHX)
quantidades certas para que a
à mais importante em grandes restaurações (por
exemplo em encerramento de diastemas para prevenir gengivite).
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estratificação seja o mais acabamento deixando o body ou a dentina à


natural possível! vista! Tem de ser espessa o suficiente para que
possamos construir a microtextura sem expor
Um body não é nem de dentina nem de esmalte, dentina (principalmente em adultos jovens)!
corresponde a uma massa de opacidade intermédia Þ Forma e perfil: tão ou mais importantes que a
(menor que a dentina, mas maior que a do esmalte). cor;
Þ Caraterização: através das tintas ou
Þ Caracterizadores ou tintas: caraterizadores podemos obter resultados mais
Se tivermos um doente com manchas nos dentes (por naturais.
exemplo devido a defeitos estruturais do esmalte como fluorose ou
hipoplasia) podemos recriá-las com estes materiais. TERÇO INCISAL
Como já referido, o
Þ “cor” única: terço incisal é o mais
É uma única massa. Pode ser útil usar bodies para difícil. Por exemplo, se
pequenas restaurações de Classes I, III ou V. o doente desta imagem
fraturar um destes
Em restaurações maiores em que há perda de ambos incisivos vai ser muito
os tecidos dentários (esmalte e dentina) já não se podem trabalhoso e exigente replicar aquela caraterização
usar pois é necessária estratificação. toda incisal: as opalescências (“áreas ‘azuis’ no bordo incisal”;
isto occore porque o terço incisal tem muito mais esmalte e menos
ESTRATIFICAÇÃO dentina pelo que é muito mais translúcido), o “efeito pérola”
(aka contra-opalescência; é aquela última linha esbranquiçada a
A estratificação começa de palatino para vestibular
(também há quem faça de forma invertida, mas é mais complexo). os
seguir às opalescências mesmo no final do bordo incisal),
mamelões de dentina visíveis à transparência, os sulcos
do esmalte, as áreas de espelho, etc...

Resumindo, as caraterísticas do dente no terço incisal


são:
Þ Maior quantidade de esmalte;
Þ Projeções irregulares de dentina;
Þ Opalescência;
Þ Contra-opalescência: devido às diferentes formas
Para uma boa estratificação é necessário aquilo que se como os cristais de hidroxiapatite interagem com a luz;
vê nesta imagem: chave palatina, feita com recurso a Þ Translucidez variável;
silicone. Os problemas mais comumente associados à Þ Oclusão: também joga contra nós, visto que o terço
estratificação são: incisal é muito fino – o milímetro final da
Þ localização e espessuras das camadas à as restauração do dente tem menos de um milímetro
camadas até podem estar na sequência e de espessura! Podemos até fazer tudo bem, mas se a
posição certas, mas se a espessura não for matriz individualizada em silicone estiver mal feita
adequada o resultado vai ser comprometido; quando estivermos a acertar a oclusão podemos
Þ cor e opacidade (terço incisal !!!): o terço incisal é perder o terço incisal aquando dos desgastes – daí a
importância de termos um bom enceramento e uma
sem dúvida o mais difícil devido à sua
boa matriz de silicone pois caso contrário
complexidade cromática;
arriscamo-nos a arruinar uma estratificação perfeita
Þ Viscosidade: podem ser usadas diferentes aquando do acabamento e da eliminação de
viscosidades; prematuridades oclusais! Deste modo, estratificação
Þ Homogeneidade: a camada de compósito que e matrizes inciso- palatinas individualizadas de
colocamos deve ter uma espessura homogénea silicone são 2 temas estritamente relacionáveis – têm
sem altos e baixos; de ser os 2 perfeitos!
Þ Adaptação: as camadas devem estar bem- Þ Idade ou parafunções: agravam ainda mais isto
adaptadas, sem espaços vazios; devido aos desgastes e alterações que provocam!
Þ Defeitos e poros;
Nota: Se alguém nos chegar à consulta com um dente partido, a
Þ Macro e microtextura: obtemos com o primeira coisa que devemos tentar fazer é colar o fragmento no sítio,
acabamento (principalmente a micro, a macro podemos visto que nada replica a natureza como o próprio dente!
deixá-la mais ou menos feita com as últimas camadas de
Contudo, se eu estratificar a menos
compósito). Em termos de estratificação, temos vários graus de
ou a mais, quando for fazer o acabamento vou complexidade:
remover parte do compósito o que pode Þ Mono-massa: é o mais simples. Na verdade, não
estragar a estratificação! A última camada de há estratificação, é apenas uma massa de esmalte ou
esmalte não pode ser demasiado fina, caso dentina ou body, dependendo da localização da
contrário pode ser destruído quando lesão:
estivermos a fazer os sulcos durante o Incisal Esmalte

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Classe V quase radicular Dentina Devemos ter em conta...


Classe III num incisivo inferior Body
Observar devemos por nos de perfil, de
Þ Dentina (body) + Esmalte: intermédia; dentes por joelhos, ver o paciente por trás,
Þ Dentina (body) + Esmalte + Incisais + vários ângulos etc..
Caraterização: é a mais complexa. Desenhar temos de planear bem o mapa de
detalhes e cores ANTES da restauração pois
ESTRATIFICAÇÃO DIRETA cores depois a meio se já não nos
Sequência de materiais lembrarmos os dentes vão estar
1. Esmalte à palatino/incisal/proximal; desidratados devido o dique e vai
2. Opacos; ser impossível escolher
3. Dentina à uma matiz e diferentes cromas; corretamente a cor. Devemos fazer
4. Bodys; a escolha da cor depois de
5. Flow na JAD; limparmos os dentes e antes de
6. Caracterizadores; isolarmos!
7. Esmalte à por vezes incisais. Fotografar e
ampliar com
PARTICULARIDADES DOS DENTES JOVENS diversas
Há vários aspetos que distinguem os dentes jovens e exposições
que os tornam mais difíceis de restaurar: Não existem ou seja, se não acertarmos 100% na
emergências cor não está tudo perdido! Com
Esmalte tem maior valor, maior calma, o paciente vai para casa e
opalescência e menor depois volta e refacetamos parte da
translucidez; restauração!
Os dentes podem parecer mais Restauração por vezes, podemos usar as
opacos do que realmente são provisória/ de próprias provisórias como ensaios.
dependendo da forma como a diagnóstico/ Por exemplo, em dentes que estão
fotografia é tirada; ensaio a ser endodonciados uma boa
Respiradores bucais vão ter os restauração provisória
dentes mais desidratados e, por
anatomicamente correta pode
conseguinte, mais opacos – temos
poupar trabalho visto que otimiza
de ter isto em consideração na
a matriz de silicone e pode anular
escolha do compósito!
a necessidade de fazer um
Lobos ou
enceramento – não é tempo
mamelões de perdido fazer uma restauração
dentina provisória bem feita, visto que
pronunciados depois podemos usar essa
Bordo incisal provisória bem feita para realizar a
translúcido matriz inciso-palatina
Halo opaco o tal “efeito pérola”. individualizada em silicone!
incisal Este efeito pode ser feito de Concluir o professor gosta de concluir
duas formas: ou colocamos uma restauração restaurações muito complexas em
tirinha de dentina mais opaca lá numa 2 sessões visto que no final da
ou então jogando com a segunda primeira consulta estamos muito
espessura e tipo de esmalte que sessão cansados (inclusivamente a nossa visão!),
lá colocamos – se colocarmos o paciente está cansado (e mexe-se
uma maior espessura de esmalte facilmente, o que pode comprometer a
na zona mesmo final e depois execução da microtextura que requer
um estreitamento vamos criar movimentos muito etc...
precisos),
essa opacidade incisal seguida Assim, pode ser preferível fazer
das zonas de opalescência. um acabamento sumário, o
Curvatura paciente vai para cara e regressa
vestibular mais passado alguns dias para fazer o
acentuada acabamento final da restauração
anatomicamente em 15 minutos.
Maior textura tem maior reflexão e maior
de superfície impressão de opacidade, ou seja, MATRIZES INDIVIDUAIS
o esmalte é mais rico em macro Agora vamos então abordar matrizes individuais
e microtexturas (é mais irregular) inciso-palatinas em silicone para restaurações
anteriores. A razão pela qual se realizam estas matrizes

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Þ Enceramento:
a partir de enceramentos de diagnóstico com cêra, como
o desta imagem;
Þ Modelos Pré-Existentes:
Atualmente muitos dos nossos pacientes já trazem modelos
(quer em gesso quer 3D digitais) de outras áreas (ortodontia, por
exemplo) – se por exemplo o doente fraturar um dente basta
ir ao modelo de gesso (ou imprimimos o modelo digital) e realizar
é porque sem elas não seria possível estratificar a matriz individual para recuperar a anatomia. Se os modelos
corretamente. Isto está relacionado com vários forem antigos pode ser necessário fazer pequenos ajustes.
aspetos: Þ Se não tivermos nenhuma referência:
Þ Exigência Estética: as exigências estéticas dos Tiramos impressões, montamos em articulador, enceramos e
pacientes são muito maiores atualmente do fazemos a matriz.
que eram antigamente;
Þ Resinas Compostas: permitem hoje resultados
excelentes;
Þ Capacidade Profissional: exige uma grande
curva de aprendizagem.

Nota: na opinião do professor as resinas compostas deviam custar


praticamente tanto como uma faceta cerâmica. A verdade é que são
mais conservadoras, permitem resultados estéticos igualmente bons
quando bem feitas e requerem menos tempo de consulta e mais
exigência técnica ao profissional (apesar de durarem menos tempo
em boca – contudo também podem ser retocadas ou reparadas). O Com que material podemos fazer as nossas matrizes?
prof não gosta de fazer facetas ou coroas em pacientes jovens,
preferindo sempre usar compósitos – “Depois se quiserem aos 40
Þ Silicones de Impressão;
anos metem uma coroa!” Þ Silicones de Registo de Mordida: têm maior
conteúdo inorgânico do que os de Impressão,
Nem sempre é necessário realizar estas matrizes: por ou seja, são mais rígidos pelo que permitirão
exemplo, se tivermos uma Classe III ou até mesmo IV mais precisão. São os preferidos do prof.
pequena provavelmente não é preciso, basta a matriz Também há materiais transparentes. Contudo,
de acetato e o nosso dedo encostado à face palatina e como são transparentes não são tão rígidos. Se
proximal – contudo se forem lesões grandes, como por a anatomia for muito marcada o prof rebasa a
exemplo uma Classe IV que envolve ambos os ângulos impressão com um silicone de impressão
incisais, a largura da completa da coroa, etc... já vai ser fluído (flow ou ultra flow);
preciso realizar matrizes individualizadas. Þ Acrílicos: é mais difícil de usar, tem de estar
muito bem feito se não vai haver interferências
Assim, as indicações para o uso destas matrizes são: e depois a matriz não se vai adaptar bem;
Þ Classes IV; Þ Polietileno Termoformado: usamos aquelas
Þ Fraturas; placas transparentes que também se usam para
Þ Estética: as goteiras de oclusão – não reproduz tão bem
Quando a estética é muito difícil pela estratificação que o detalhe;
requer devemos fazer matrizes.
Þ Oclusão: Nota: a impressão basta sere
Quando a oclusão é um problema devemos usar matrizes realizada em palatino - na imagem a
impressão também apanha um
(pois como já temos a anatomia criada no sítio certo vamos
pouco da face vestibular pois serviu
ter de desgastar muito pouco).
como guia de desgaste dos caninos
Þ Substituição de restaurações: que iam ser convertidos em laterais.
Quando substituímos restaurações estéticas – ou seja, se o
paciente tem restaurações antigas que estão bem do ponto de
vista funcional e que apenas pecam pela estética, devemos
aproveitar e replicar essa mesma anatomia, visto que já foi
validada do ponto de vista funcional. Quais as vantagens das matrizes?
Þ Oclusão;
A partir de quê é que podemos fazer as nossas Þ Estética: pois a estratificação é mais previsível;
matrizes? Þ Acabamento: diminuímos o tempo de acabamento,
Þ Restaurações Prévias: principalmente no que toca ao ajuste dos parâmetros
oclusais fisiológicos;
restaurações antigas que estejam funcionalmente corretas;
Þ Restaurações Provisórias: Þ “Isolamento” com dique: se fizemos o enceramento
a partir do modelo de gesso e posteriormente a nossa
por exemplo as provisórias usadas em doentes que andaram
matriz individual a partir dessa construção, quando
a fazer endo (na imagem de cima dá para ver que as provisórias já formos colocar a matriz em boca o dique pode interferir
têm alguma anatomia dos bordos incisais e as dimensões corretas – com o ajustamento preciso da matriz – nessas situações
estão validadas em termos de oclusão); temos de fazer um isolamento com dique relativo (aka

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isolamento rasgado): podemos envaginar e colar o dique opalescente e contra-opalescente (“efeito pérola”), um
aos tecidos ou ao palato de modo que ele não interfira,
bordo incisal muito fino, etc... era um caso muito
como se vê na imagem;
complexo (muito mais difícil do que simplesmente colocar uma
Þ Tempo de cadeira: é mais curto, mas à partida
coroa ou um implante).
tivemos mais temos previamente (com os modelos e a
execução da matriz) pelo que na verdade nós não
poupamos tempo, mas o doente por outro lado poupa,
visto que o acabamento vai ser minimizado (se bem que
também perdemos tempo com as impressões);
Þ Faces proximais: é difícil a sua execução, pelo que a
matriz é essencial.

CASO CLÍNICO 1.

O professor começou por passar um disco para


eliminar excesso vestibulares e, como a restauração
não estava anatomicamente correta, acrescentou um
Este rapaz fez uma dupla fratura com necrose, abcessos pouco de compósito para configurar o tamanho do
e fístulas (dá para ver na 1a imagem do canto superior esquerdo). dente e a oclusão corretamente – isto anulou a
Foi feita uma revascularização pulpar. Os dentes necessidade de fazer enceramento.
estavam um pouco acinzentados (ou seja, tinham baixo valor) Depois o professor fez a matriz individual.
pelo que se fez um branqueamento – hoje é proibido por Seguidamente removeu a restauração antiga, bem
lei realizar qualquer tipo de branqueamento antes dos 18 anos (o prof como o tecido pigmentado (havia pigmentações por
diz que não faz sentido – não há qualquer evidência do ponto de vista
infiltração e o prof removeu por razões estéticas). Depois,
científico: se for bem feito é perfeitamente seguro e eficaz branquear
dentes em jovens, o que às vezes nos obriga a tratamentos mais também neste caso, o professor colocou um fio de
radicais). O pretexto é que as substâncias dos branqueamentos retração no sulco e removeu o dique para não interferir
podem ser tóxicas, mutagénicas e carcinogénicas – porém, por com a colocação da matriz.
exemplo, os perboratos que se usam nos branqueamentos internos
em dentes endodonciados durante 2 semanas nem sequer são
deglutidos pelo paciente (o irónico é que esses mesmos perboratos Imagem A à Antes de iniciar o protocolo de adesão
são usados na indústria alimentar como conservantes e aí já são com o condicionamento ácido, etc... o professor
ingeridos por nós). Quanto aos peróxidos de carbamida dos revestiu os dentes adjacentes com teflon para
branqueamentos externos é ainda mais estúpido pois é
perfeitamente eficaz e seguro nas concentrações que usamos (10%).
“melhorar” o isolamento e para os proteger da
Após o branqueamento, fez se o condicionamento aplicação do ácido, primer e adesivo (para não haver risco
de ficarem bocadinhos de adesivo nos dentes adjacentes, por
ácido e a restauração com a matriz.
exemplo).

Aquele “halo” escuro que se vê na gengiva de algumas


Após polimerizar o adesivo, colocamos a matriz com a
imagens é um fio de retração (sempre que não usamos dique
devemos usar fios de retração com hemostático colocado em toda a
primeira capa (fininha) de esmalte palatino,
volta do sulco – não substitui, mas é melhor que nada). polimerizamos e removemos a matriz. Quando colocou
esmalte na matriz para fazer a capa palatina, o
Ao fim do dia o céu está azul e quando o sol se começa professor colocou logo uma maior espessura (mas muito
a pôr o céu fica amarelo, alaranjado, etc... mas o céu é pequena) de esmalte no bordo incisal para fazer o “efeito
o mesmo, a atmosfera é a mesma – o que é que mudou? pérola”. A paciente tinha um pequeno espaço (nem chega
Mudou o ângulo dos raios de sol: torna-se a ser considerado diastema) e não o quis remover.
progressivamente mais horizontal e atravessa muitas
mais partículas de água da atmosfera. As partículas de Imagem B à Depois da capa palatina estar aderida o
água na atmosfera funcionam como os cristais de professor começa por preencher as zonas proximais
hidroxiapatite funcionam no esmalte: interagem com a para depois basicamente ficar com uma “Classe I” –
luz. está fechado em palatino, incisal, mesial e distal.
Depois começa por preencher a “Classe I” com dentina
CASO CLÍNICO 2. mais cromática em cervical e menos cromática em
Neste caso já havia uma restauração antiga que foi incisal, desenhando os lóbulos de dentina até ao
substituída. O dente natural tinha lóbulos de dentina, esmalte incisal. Após terminar a dentina coloca uma
sulcos do esmalte, microtextura horizontal, efeito
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última camada de esmalte. Posteriormente, o professor


realiza um primeiro polimento.

Nota: é normal que ao longo da restauração os dentes do


paciente aparentem ser mais brancos do que eram, visto que
devido ao facto de estar de boca aberta e com o isolamento
montado os dentes desidratam.

Imagem C à resultado final.

Este caso não foi acabado: a paciente faltou à segunda


consulta onde o professor termina o acabamento e
polimento com as macro e microtexturas. Passado 2
anos, a paciente voltou por que dizia que tinha uma
“cárie” na restauração – era um poro: “Quem vive com
resinas compostas vive com poros!”. De vez em quando
vão surgir casos destes, mas é muito fácil de resolver!

Para resolver os poros basta:


Þ Jatear com óxido de alumínio, glicina ou
bicarbonato (mas com cuidado, especialmente com o
de óxido de alumínio, para não destruir tudo!) para
eliminar o pigmento. Se não tivermos estes
equipamentos, temos de usar brocas para
remover o poro;
Þ Condicionar um pouco com ácido fosfórico
para limpar a smear layer que se produz;
Þ Aplicar o adesivo e um pouco de compósito;
Þ Polir.

Nesta mesma consulta, após remover o poro, o


professor deu um polimento e acabou a macro e
microtextura. Na imagem de perfil vê-se uma zona
onde transparecesse uma resina de dentina um pouco
mais amarelada, mas no dia-a-dia é impercetível. O
professor deveria ter usado algo mais opaco por cima
dessa zona.

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