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Implantologia
Nunca podemos dissociar a parte da reabilitação com pilar, pode existir ou não (não existe nos casos de implantes
implantes com os princípios de reabilitação protética. monotipo).
Os implantes podem ser metálicos ou cerâmicos: Um pilar protético é usado para restaurações
Þ Cerâmicos à a zircónia é cerâmico-metal, é aparafusadas (mais facilmente substituídas aquando de fratura)
um elemento metálico com características ou cimentadas.
cerâmicas. Tem também uma bioinatividade
muito interessante que o faz tornar um Coroa individualizada à ancorará por
material alternativo para a reabilitação com cimentação/encaixe ou por aparafusamento sobre o
implantes. pilar ou então diretamente ao implante se não houver
Þ A maioria dos implantes são de titânio ou uma pilar.
liga de titânio (ou então de zircónia como visto
anteriormente).
O QUE É UM IMPLANTE?
Um implante dentário é um dispositivo metálico que
se destina a substituir os dentes. Simula a parte
radicular de um dente (colocado através de cirurgia) e tem O implante ainda é constituído por um análogo (corpo
como objetivo ancorar a parte anatómica ou protética, do implante + pilar protético) e por pilares de impressão
que substituirá a coroa dentária. (colocados na impressão onde são colocados os análogos do
Podem ser utilizados para substituir um dente unitário, implante).
Em espaços comprometidos
QUAL A FUNÇÃO DE UM IMPLANTE?
usamos implantes estreitos.
Servir de base para uma reabilitação prostodôntica.
Normalmente variam entre os 7 e
Comprimentos os 18mm. VANTAGENS E DESVANTAGENS DE UM
Não existe limite máximo de IMPLANTE
comprimento, mas o professor nunca
Vantagens Sem preparação dos dentes
meteu > do que 17mm.
adjacentes (conservação dentária)
Estabilização e manutenção óssea
Um implante com 10mm de
(não há atrofia óssea)
comprimento é mais que Melhoria da função mastigatória
suficiente para suportar as cargas
Melhoria da qualidade de vida
mastigatórias. Porém, no setor
Desvantagens Risco de desaparafusar, ou
anterior, usamos o mais longo
descimentar
possível.
Extensão temporal do tratamento
Necessidade de múltiplas cirurgias
Antes considerávamos implantes
Desafio estético (mais facilidade de
curtos aqueles que tivesse adquirir estética com pontes do que quando
comprimento £ 8mm. implante aquando de defeitos verticais e
Atualmente, são considerados horizontais em que temos de arranjar a
arquitetura)
curtos aqueles que tenham
comprimento £ 6mm endósseos
(superfície de osteointegração).
OSTEOINTEGRAÇÃO
Em situações com disponibilidade A osteointegração é dos princípios mais importantes
óssea reduzida usamos implantes sobre os implantes.
curtos.
Interna, externa ou mista. Segundo Branemark, a osteointegração é uma ligação
Esta conexão é com o pilar estrutural, direta e funcional entre a superfície óssea
protético. ordenada viva e a superfície do implante, quando
sujeito a cargas à objetivo principal.
A maioria tem conexão interna e
cónica pois são mais estáveis, É imprescindível compreender que a osteointegração
Conexão previsíveis e fidedignas (escolher depende:
sempre as internas. São as mais usadas Þ Reparação e cicatrização tecidular;
atualmente). Têm uma maior Þ Remodelação tecidular;
estabilidade na transmissão das Þ Dinâmica dos tecidos duros e moles;
cargas, isto porque fica ao longo Þ Efeitos das forças envolvidas;
da interface óssea em vez de ser na Þ Resposta fisiológica do paciente.
periferia externa. Basicamente são
2 tubos que se unem, estando um Esta é a responsável pela estabilidade real do implante
deles no implante. Aqui o pilar à A forma do implante (liso, rosqueado, etc.) só dá a
liga-se dentro do implante. estabilidade inicial e não a estabilidade real.
especial e única que mais nenhum tecido tem. Qual é? Temos de garantir que, cirurgicamente, conseguimos
Capacidade de restitutio ad integrum: ter um leito muito limpo, com medidas de assepsia à
Þ Osteogénese; não realizar uma irrigação em excesso, preparação
Þ Cicatrização óssea; óssea sem sobreaquecimento, ... à tudo para garantir
Þ Remodelação óssea; uma boa vascularização.
Þ Osteointegração.
É a restituição/reparação dos tecidos sem 1. Hemóstase Adesão das proteínas do
cicatrização, sendo características do osso em ¯ fluido extracelular e de
situações de remodelação óssea. Muito importante! plaquetas
O osso regenerado não pode ser distinto do osso nativo Onde existe uma Coágulo tem atividade
que lá existia previamente. primeira interação antibacteriana à essencial
¯ entre as 2 superfícies! para esconder a superfície
É por esta situação que é possível que haja formação se ela for agredida
de osso no local cirúrgico da colocação do implante e A formação do coágulo é
até mesmo em redor do implante, o que faz com que essencial à volta do
este fique aprisionado de forma funcional, permitindo implante
a sua longevidade. Esta fase (+ a inflamação) são
as mais importantes para
Osteocondução haver cicatrização óssea! O
Osteogénese Formação óssea de novo que acontece nas primeiras
de contacto Fixação de algumas horas determina o sucesso
macromoléculas na superfície do do implante
implante e comunicação de A hemóstase é uma fase
osteoblastos inicial e curta no tempo
Devemos tomar todos os (muito mais que as outras) onde
No dente temos a
RESUMIDAMENTE: Proteínas + lípidos + iões + fibras do fluido
extracelular à primeiro condicionamento da superfície à
propriocepção das fibras e
recrutamento de alguns agentes e células que vão colonizar e da enervação, temos
proliferar esta rede sobre as superfícies à desencadeamento de defesas e uma maior
resposta inflamatória à diferenciação em osteoblastos à capacidade de
recrutamento de mais células à continua a inflamação à
angiogénese à aporte de sangue + nutrientes + mediadores à
remodelação do osso e das
produção de matriz (inicialmente desorganizada e indiferenciada) à cargas.
matriz calcificando-se à maturação e remodelação.
No implante temos apenas
HIGIENE DO PACIENTE a osteoperceção. Não há modelação das cargas, tudo o
Não é possível fazermos uma reabilitação em pacientes que é transmitido ao implante é transmitido à estrutura
que não tenham um bom comprometimento a nível óssea e a fisiologia óssea sofre com essas cargas
higiénico. funcionais. Os componentes do implante têm de ser
A PB vai aumentar a reação inflamatória inicial com a extremamente resistentes porque não há um ligamento
destruição celular e óssea acentuada. de reabsorção das cargas mastigatórias.
Se esta reação for demasiado elevada, a angiogénese
tarde, há a presença de muitos macrófagos e a INTERFACE OSSO/IMPLANTE E
produção de metaloproteináses que vão destruir as CICATRIZAÇÃO ÓSSEA
células e os tecidos ósseos, sendo nestes casos a Formação do coágulo:
destruição maior que a produção.
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1. Adsorção de biomoléculas → tem a ver com a Há sempre uma contração cicatricial em superfícies
carga superficial e a superfície dos implantes que com menos pontos de ancoragem, por isso é que se
influencia o tipo e quantidade de moléculas que usam superfícies moderadamente rugosas. São mais
adsorvem à superfície;
eficazes na retenção do coágulo.
2. Fixação de GV e plaquetas → os GV e as plaquetas, ¯
na superfície dos implantes, entram numa fase de
desgranulação e acabam por libertar mediadores A rugosidade da superfície é muito importante para
importantes para recrutarem células indiferenciadas, existir uma boa fixação da rede de fibrina. Há retenção
como macrófagos e células pluripotentes com capacidade efetiva das fibras de colagénio e fibrina na superfície
de se diferenciarem em células formadoras do endotélio,
do implante e, assim, todos os elementos podem
fazendo a angiogénese;
migrar até à superfície do implante e formar uma
3. Matriz de fibrina e maturação do coágulo.
No fundo, esta rede de fibrina, serve de base ao crescimento e cicatrização desde a superfície do implante até à
proliferação de células provenientes de vasos. (Superfícies superfície óssea. A angiogénese faz-se mais perto da
rugosas são mais efetivas a fazer esta retenção da matriz de superfície do implante. É uma ligação mais eficaz, mais
fibrina). rápida, mais efetiva e é o que nós mais procuramos.
Um osso menos denso é menos vascularizado e menos reativo à logo Para além disto, estas superfícies moderadamente
suporta bem as fases mecânicas. rugosas permitem uma diferenciação celular sem reter
demasiada PB.
Maturação do coágulo e osteocondução (na rede de
fibrina): Em superfícies mais planas há menos retenção do
4. Migração e diferenciação de células coágulo, a cicatrização faz-se com mais dificuldade, as
osteogénicas: células não chegam à superfície do implante, ficam
À medida que as células indiferenciadas chegam à pelo osso (são menos as células que se diferenciam), realizando
superfície do implante e ganham estabilidade, uma osteogénese à distância. Esta distância acaba por
começam-se a reticular e a diferenciarem-se em ser preenchida por tecido ósseo. Aqui a angiogénese
osteoblastos à que libertam biomoléculas que depois fica no leito da superfície onde estão as células.
levam à calcificação e à produção de um osteoide
imaturo.
Agentes mitogénicos e quimiotáticos à PDGF, TGF-B, FGF à
permitem a migração das células;
Diferenciação em osteoblastos à BMP – expressão Cbfa 1 ou Runx-
2; Sonic hedgehog proteína; PTH (células formadoras de osso que
têm um aspeto estrelado).
Nós queremos um ângulo de contacto baixo. Todo este processo acaba por ser uma transdução
Queremos que o sangue se espalhe pela superfície micromecânica, uma ligação das células que mediante
do implante. a superfície, vão realizar uma transdução no citoplasma
Nós queremos criar superfícies cada vez mais ao nível da replicação e formação proteica. Consoante
molháveis! as cargas que possam existir há uma mudança de forma
Þ Topografia: das próprias proteínas. O que leva a uma situação de
Os implantes hoje para além da macro têm a micro e a transdução proteína favorável ou desfavorável.
nano topografia. Atualmente usamos implantes com ¯
topografias muito controladas, essencialmente Será mais favorável quando a superfície for mais
implantes com topografias que são obtidas por hidrofílica, em que há menor mudança de
métodos subtrativos e não métodos aditivos que conformação das próprias proteínas (a sua transdução).
desenvolvem níveis topográficos de diferentes micro e Quando a camada de óxido está hidratada permite
nano rugosidades muito importantes. Com isso aderir melhor as moléculas de água, permitindo uma
também conseguimos controlar a composição química ligação mais efetiva das proteínas.
dos elementos que são metidos na estrutura da Superfícies lisas ou minimamente rugosa
superfície dos implantes, como já vimos, os implantes No gráfico seguinte
são essencialmente de titânio ou de ligas titânio, que conseguimos ver a
rapidamente oxidam formando um óxido do mesmo tradução da
material. Claro que este óxido pode ser mais ou menos largo (pode estabilidade do
ter diferentes espessuras), e o óxido de titânio tem uma tendência a implante ao longo
oxidar muito rapidamente e portanto formar camadas de titânio do tempo, após a sua
muito largas que depois descascam, e portanto poderia pensar-se
que não são bons a osteointegrar, mas se o processo for controlado,
colocação.
têm uma camada relativamente muito pequena e como a camada
inicial é sempre muito aderente à superfície do próprio biomaterial Quando colocamos um implante, temos uma
(ao passo que a camada mais externa é menos aderente e pode não ESTABILIDADE PRIMÁRIA (curva preta que desce) que
ser tão benéfica).
depende da:
Þ Energia de superfície:
Þ forma do parafuso; Estabilidade 1ª
Superfícies mais hidrofílicas são melhores porque há à Estabilidade à
Þ densidade óssea; custa da fixação
menos conformação das proteínas, havendo menos 1ª do implante à
Þ técnica de preparação (cirúrgica);
alteração da sua translação; < ao longo do
Þ ancoragem direta ao osso; tempo
Energia de superfície menor à maior molhabilidade
Þ leito ósseo compacto;
à menor ângulo de contacto. O implante está colocado de uma forma muito precisa dentro
do leito ósseo, a maior partes das vezes, e temos a
Devemos otimizar as superfícies dos implantes de tal estabilidade por fixação, por aparafusamento ou
forma que consigamos maximizar todo o processo de “atarraxamento” do implante do osso.
cicatrização óssea à para isso, as superfícies têm sido
trabalhadas na sua rugosidade a nível macro, micro e A partir desse momento, a cicatrização óssea leva a
nano. uma diminuição da estabilidade primária à o efeito
Nanorugosidades Importantes para a macrogeométrico acaba por se perder, isto porque o
osteointegração e permite uma efeito de remodelação óssea (no lado da ferida óssea há uma
ligação mais direta aos fluidos remodelação, há uma colonização na sua superfície por agentes
intercelulares faz-se com reabsorção (osteoclastos). Após
inflamatórios),
também temos de ter em atenção o desenho da parte posterior teremos mais estabilidade óssea e dos tecidos
protética, por este motivo não usamos em todas as e como é menos importante a parte estética, usamos os
situações os implantes mais estreitos. Claro que, em tissue level.
situações limite, onde temos pouco espaço ou pouco
osso, é indicada a utilização dos implantes muito O quarto implante, já foi referido como tissue-level,
estreitos para incisivos. mas é um implante monotipo (ou monotype) que tem uma
parte rugosa e daí para cima será transmucosa, ou seja,
Ex. incisivos inferiores à é difícil de substituir um incisivo por fora da gengiva.
inferior com um implante biologicamente estável, pelo que teremos
de usar opções mais estreitas. Para ajudar à festa, o tipo de osso que
muitas vezes temos disponível não é favorável, o que faz com que por A maior parte dos implantes, nos dias que correm, são
vezes apareçam nestes casos implantes com 3 ou menos milímetros para colocar ao nível ósseo. Na interface é importante
de diâmetro. que haja dissipação. As formas dos implantes possuem
2 partes, uma parte de espiras estabilizadoras que,
Por exemplo, se o osso tiver uma espessura de 4,8mm
normalmente, incluem o conceito de “Progressive
não podemos usar diâmetros com 4,8mm, uma vez que
Thread Design” ou desenho de espiras progressivo no
segundo os critérios temos de ter pelo menos 1,5mm
sentido de ter uma hélice (dupla ou tripla) para ancorarem
de distância entre os limites ósseos e os implantes. Os
incisivos inferiores têm pouca espessura óssea, esta zona é muito
e “enroscarem” o implante para que, se houver alguma
difícil de reabilitar. Na zona posterior inferior temos uma espessura condensação óssea, existirem ranhuras de escape para
suficiente, contudo muitas vezes não temos altura de osso suficiente. dissipação de tensões.
Antigamente à usávamos tão largos e longos quanto Esta quantidade de espiras faz com que aumente a
possível, no entanto esses conceitos estão superfície, pelo que a estabilidade irá, também,
abandonados hoje. Nós não usamos os muito largos aumentar.
porque queremos poupar osso à volta deste mesmo Vários desenhos, como vimos, para aumentarem toda
implante. Também caiu em desuso o facto de usarmos a superfície, fazem com que a parte superior do
implantes mais estreitos para dentes estreitos e implante contenha diferentes mecanismos, como por
implantes largos para dentes mais largos. exemplo a presença de microespiras (Microthread) à
(como já falamos anteriormente) têm como objetivo a
COMPRIMENTO DOS IMPLANTES diminuição da produção de tensões (dissipação de tensões),
Não necessitamos de um implante muito longo. Os sobretudo na zona do osso marginal, atuando também
implantes curtos estão provados que também têm uma na estabilização do osso, nesta fase é importante
boa taxa de sucesso. então, na estabilidade marginal óssea e na sua
manutenção a longo prazo, no sentido em que não há
Atualmente à queremos implantes mais curtos. exposição da superfície rugosa e não favorece o
aparecimento de perimplantites. Este desenho de
CONEXÃO PROTÉTICA DOS IMPLANTES microespiras é bastante conhecido e quase todas as
Além do corpo é também importante o tipo de marcas incorporam na parte superior dos implantes.
conexão. Neste sentido, temos implantes tissue level e
os bone level. Um outro artefacto, é a configuração de um corpo
mais estreito (tipo barril), como na 1º desenho, onde
percebemos que há um estreitar da parte cervical para
haver um aliviar de tensões no colo do próprio
implante. O corpo acaba por ter uma pequena
conicidade, sendo cónico para apical e há uma zona de
maior alargamento (abaixo da linha óssea), para diminuir as
tensões na zona, crítica, cervical e aumentar a
superfície de contacto. Portanto, vai aumentar a
No fundo, a diferença é o nível da plataforma da estabilidade óssea e diminuir a propensão à exposição
prótese que iremos conectar. Nos implantes tissue dos implantes, não facilitando desta forma a
level a plataforma é ao nível do próprio implante, colonização bacteriana e o aparecimento de
enquanto nos bone level a plataforma é independente perimplantites.
do implante.
Extremamente importante é, depois de selecionarmos
Interessa dizer que os bone level são colocados com a a parte intra-óssea é termos uma conexão favorável,
parte tratada dos implantes, até ao nível ósseo, uma vez que é responsável pela estabilidade da parte
enquanto a nos tissue level a plataforma de reabilitação protética e da transmissão das cargas oclusais à porção
fica intramucosa ou ao nível da mucosa. endóssea.
Na zona anterior como temos mais espaço de trabalho Hoje, a maioria, como vemos nas imagens, das
protético usamos implantes bone level, na zona conexões são cónicas sem ombros no seu interior para
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diminuírem as tensões e as microfendas no implante. menores). Para além disso, o ajuste marginal e a tensão
Nas conexões não cónicas apenas temos a facilidade da na parte externa são muito mais críticas, pois temos
colocação do componente, mas proporcionam alguns tensões muito mais elevadas perto da primeira espira,
erros em termos de estabilidade (diminuindo-a), acabando enquanto no desenho de Morse é uma tensão muito
por não ter uma capacidade de dissipar, tão bem, as mais baixa.
tensões quanto as conexões cónicas. Para além disso os Portanto, a tendência atual é a utilização destas
métodos de impressão são mais facilitados. conexões cónicas para conexões justa-ósseas.
Normalmente usam-se estas conexões, não cónicas, Quando o parafuso faz muita força, ou seja, não entra
para plataformas supra-ósseas, transgengivais. O que passivamente, temos o risco de fratura, o que depois
se faz, algumas vezes, é transformar uma conexão nos dificulta muito a vida. Em determinada altura com
cónica e depois ter uma parte adicional não cónica para a crescente utilização de implantes houve rutura dos
compensar a ausência de paralelismo. implantes mais largos (mais usados) e para tentar colmatar
esta falta de material, houve alguém que começou a
As conexões cónicas por sua vez dão uma maior usar implantes de diâmetro mais fino, usando
estabilidade de micromovimentos e proporciona uma implantes com plataformas mais largas que o pilar,
conexão fechada sem proliferação bacteriana. A daqui resultou o conceito de “platform switching”
conexão cónica é ideal para conexões justa-óssea com (plataformas discrepantes).
epitélio juncional mais espesso.
O conceito protético de plataforma discrepante, em
As conexões internas devem ser cónicas e as externas que a conexão para o pilar é mais estreita do que o
planas. diâmetro do próprio implante. Isto faz com que os
tecidos moles em redor desta conexão progridam mais
A conexão cónica tem um assentamento contra as lateralmente (não tenham um crescimento tão vertical, mas mais
paredes laterais, atualmente são as mais usadas por lateral e algo vertical) e desta forma possam criar um espaço
serem mais estáveis e precisas. biológico com uma altura apropriada, contribuindo
para uma maior estabilidade óssea.
Por norma só transformamos uma conexão interna
cónica numa conexão externa não cónica por Temos então de considerar que nos implantes a
vantagens protéticas em reabilitações protéticas conexão com o pilar deve ser uma conexão cónica e
múltiplas acima do nível gengival. deve permitir usar um pilar mais estreito do que o
implante, como conseguimos ver nas imagens. Se o
Atualmente optamos por conexões internas por pilar for das mesmas dimensões que a plataforma, faz
serem mais estáveis e mais precisas na transferência de com que haja uma remodelação óssea para baixo (porque
cargas e no assentamento dos componentes com o epitélio desenvolve-se apenas no sentido vertical) o que leva à
desaparecimento quase por completo de uma fenda exposição das primeiras partes rugosas do implante.
regional. Contrariamente, no Platform Switching este epitélio
juncional é feito verticalmente, mas também
Conexão de Morse à uma das conexões cónicas mais horizontalmente (na imagem da direita), o que leva a que
estudadas, é a conexão Morse. Este sistema tem 2 níveis haja uma menor reabsorção de osso marginal e uma
de conicidade, para assentamento e indexação das maior estabilidade.
cargas de uma forma mais facilitada. Em termos de
desenhos, escolhermos entre uma conexão externa e Hoje, a maioria dos sistemas permite ter plataforma
uma conexão interna é completamente diferente. A switching na conexão protética, que se traduz,
conexão interna acaba por diminuir as suas extensões efetivamente, num maior ganho de osso e numa
em relação àquilo que são os limites aceitáveis (definiu- estabilidade óssea. Portanto, selecionando o implante
se entre 8 e 11, sendo que 11 acaba por ser um valor já acentuado e o pilar, nós podemos depois ter conceitos diferentes.
porque as paredes ficam algo fragilizadas, mas é o limite que se tem Para se desenvolverem os componentes do espaço
usado).Pelas biológico temos de desenvolver uma malha ao longo da
imagens vemos superfície transepitelial dos implantes que se
as conexões desenvolve verticalmente.
cónicas internas
e o Morse interno A “mudança de plataforma” permite-nos não só um
acaba por ser desenvolvimento do espaço biológico no sentido
bastante mais favorável do que uma conexão externa. vertical, mas também horizontal ao longo da
A vermelho temos a zona crítica (nas conexões externas) que plataforma, conferindo uma maior produção de tecido
assenta, muito mais, na retenção do próprio parafuso e uma menor necessidade de termos implantes
do que, à esquerda, um desenho cónico interno que compridos. Pensa-se também que nas plataformas
distribui cargas mais pequenas e mais ao longo das discrepantes as tensões caiam um bocadinho mais
paredes do próprio implante. Assim, é muito mais sobre o interior do implante impedindo que não seja
crítico termos um desenho de uma conexão externa,
não cónica, do que uma conexão cónica (que cria tensões
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ultrapassado o limite crítico de viabilidade do osso Conceitos que atualmente temos são definidos
marginal. consoante o tipo de reabilitação que vamos ter, e é
mediante esta reabilitação que vamos escolher o
implante.
colocação de implante(s), se temos altura e/ou largura A colocação de um implante não é uma emergência.
de osso suficiente, se há, ou não, necessidade de Podemos sempre adiá-la, consoante o estado de saúde
regeneração óssea ou de tecidos moles. Tudo isto, é geral do nosso paciente, tendo sempre presente o
tanto mais importante quanto maior o nível de enquadramento global da nossa reabilitação. Apenas
desdentação. procedemos à colocação de implantes, caso tenhamos
condições para o fazer. Mesmo durante a osteotomia
Planear bem cada caso e olhar para o paciente como para a colocação do implante, podemos regredir no
um todo! Nem todos os casos são iguais e nem todos os processo, caso aconteça alguma coisa que nos impeça
pacientes têm as mesmas necessidades! Se falta um de continuar (falta de material de regeneração ou falta de
dente, então podemos colocar 1 implante, mas se falta eletricidade). É sempre melhor parar, ou caso o implante
mais do que 1 já temos de pensar que soluções vamos já esteja em boca, tirá-lo, do que deixar um biomaterial
propor e como é que vamos fazer toda a reabilitação. em boca em más condições de osteointegração. Caso nós
avancemos com a colocação do implante, perante condições
adversas, sejam elas quais forem, o destino desse implante será
A colocação de implantes é sempre orientada pela
sempre desastroso.
prótese!
Displasia ectodérmica
Þ A maxila constitui fator de risco relativo com do osso e ausência do seu desenvolvimento;
cerca do dobro da taxa de insucesso que a Algumas séries de casos mais alargados referem
mandíbula, devido a questões biomecânicas, taxas de sobrevivência mais baixas, sendo mais
disponibilidade de osso e cargas mastigatórias; significativa na maxila;
Þ De uma forma geral, não há contraindicações Ausência de estudos controlados, apenas relatos
para a reabilitação com implantes, há sim, de caos mais ou menos alargados, mas sem grupo
situações com risco relativo acrescido que de controlo, por isso não foi possível demonstrar
devem ser consideradas durante o qualquer efeito positivo ou negativo.
planeamento e objeto de consentimento Doença crónica autoimune que afeta as glândulas
informado. exócrinas, como as glândulas salivares e lacrimais,
etiologia não esclarecida;
PATOLOGIAS MAIS IMPORTANTES NESTA Sintomas: extremo cansaço, acompanhado de
ÁREA DOS IMPLANTES olhos secos (queratoconjuntiovite seca) e xerostomia; a
Síndrome Sjogren
Desordem multisistémica, inflamação vascular e xerostomia leva a dificuldade em deglutir,
alterações escleróticas da pele e vários órgãos progressiva e severa deterioração dentária e
internos como pulmões, coração e trato infeções orais. O tratamento é paliativo com
gastrointestinal; substantivos salivares;
Clinicamente aparência de mascarias facial, No caso dos implantes, há uma serie de casos, que
parecido com o aspeto de pacientes com displasia reportam uma taxa de insucesso relativamente
Esclerodermia
ectodérmica, lábios finos, microstomia, erosões elevada nestes pacientes. Taxa de insucesso de
periorais, esclerose do ligamento sublingual e 16,7% no 1o ano, é uma taxa de insucesso elevada;
endurecimento lingual; Mais uma vez não existem estudos muito
Provoca estiramento e friabilidade da pele e alargados, que nos permitam demonstrar
mucosas, dificultando tratamento ou impedindo a qualquer efeito positivo ou negativo.
inserção dos implantes e prótese; Não há literatura disponível referindo o
Ausência de estudos controlados, apenas 5 relatos desempenho de implantes nestes pacientes
Desordem neuropsiquiátrica e parkinson
É uma condição potencialmente maligna, mas que Em doentes psiquiátricos, a reabilitação com
raros casos apresentam esta transformação; implantes, deverá ser sempre um “recurso”, uma
Ausência de estudos controlados, apenas 1 relato última instância;
de caos, por isso não foi possível demonstrar Existindo apenas relatos de caos não foi possível
qualquer efeito positivo ou negativo; demonstra qualquer efeito positivo ou negativo.
Fazer abordagens cirúrgicas mais conservadoras e Para as doenças psiquiátricas não existem estudos.
apresentar consentimento informado ao doente, Doença idiopática cronica inflamatória do trato
embora não seja uma contraindicação absoluta, gastrointestinal que pode afetar a cavidade oral. A
pode apresentar dificuldades a nível da doença caracteriza-se por exacerbações e
cicatrização, pelo que o paciente tem de estar remissões recorrentes;
ciente disto e tentar compensar de alguma forma Devido às complicações imunológicas da doença,
Doença de Chron
prejudicar a cicatrização óssea e até diminuir a que ocorra uma maior perda dos implantes,
retenção de implantes antes osteointegrados; comparado a pacientes que não tomam;
Antes de avançar com implantes, deveremos Há autores que referem que a toma de
deixar que o paciente adquira uma maior resposta bifosfonatos está relacionada com a osteonecrose
imunológica e inflamatória após o transplante; dos maxilares, existem outros que desvalorizam
Não há estudos em humanos transplantados esta relação, de qualquer das formas a osteoporose
renais ou cardíacos. acaba por não ser um fator muito negativo, no que
Patologias como enfarte miocárdio, insuficiência diz respeito à taxa de sucesso dos implantes, tendo
Patologia cardiovascular (CVD)
Tipo 2 (não insulino dependentes): é vista como que toca à perda de implantes, bem como à
resistência à insulina em combinação com osteonecrose dos maxilares.
incapacidade de compensar em produção a Assim, sempre que os doentes tomam
necessidade extra de insulina; associada a bifosfonatos, tem de haver um período de 6 meses
obesidade, é a forma predominante na população a 1 ano de interrupção, consoante o tipo de
adulta. bifosfonato, para que posso ocorrer uma
renovação óssea e dessa forma podermos
Diabetes
Não sendo uma contraindicação, carece de um Sendo que este tempo de intervalo, depende
maior cuidado no planeamento da reabilitação, também do local e da quantidade de radiação a
sobretudo na reabilitação com implantes. que os pacientes foram submetidos na
Diminuição da massa óssea e densidade óssea radioterapia;
acompanhada pelo aumento do risco ou A partir de uma determinada dose de radiação,
incidência de fratura; nomeadamente 45 Gy, é necessário ter espicial
A relação entre a massa óssea do esqueleto e a atenção para evitar uma osteoradionecrose,
Osteoporose
Anti-coagulantes:
à Heparina – para administração IV e tem semi-
vida curta, atua reduzindo a formação do coagulo
de fibrina na via trombina-antitrombina.
à Varfarina– semi-vida de 36 horas atuando 2-
5dias, para administração oral, atua nos fatores de
coagulação dependentes da vitamina K.
Os anti-agregantes devem ser suspensos pelo
médico-assistente.
Os anti-coagulantes, já não é assim tão linear,
(não é recomendada a sua suspensão exceto se as intervenções
uma vez que se nós tivermos um
forem complexas)
INR entre 2-3.5, podemos não suspender para
procedermos à colocação de implantes normais
(sem grandes procedimentos regeneradores),
administrando vaso-constritores e fazendo uma
sutura mais cuidada, não temos grandes
problemas. Embora, num paciente destes,
devemos ter alguma coisa que nos auxilie numa
possível hemorragia (esponjas de fibrina e gazes de
celulose), durante o ato cirúrgico.