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cor e

translucidez
nos dentes naturais e resinas compostas

por rodrigo kiyuna


cor e
translucidez
nos dentes naturais e resinas compostas

por rodrigo kiyuna


Esse é um material didático feito
especialmente pra você, que decidiu se
dedicar ao fantástico universo das resinas
compostas. Sou suspeito para falar, mas as
resinas compostas representam o material
restaurador mais versátil e democrático na
Odontologia. Dedicar-se a compreender os
materiais envolvidos e desenvolver suas
habilidades com compósitos não só abre
um leque de oportunidade e soluções
clínicas como se torna um serviço rentável e
de grande aceitação pelos pacientes.

Vamos começar a estudar?

Rodrigo Kiyuna
criador do curso Transforma
A luz que ilumina diferentes objetos e
superfícies, em condições naturais, é uma
luz branca, formada pela mistura de todas
as cores. Quando incide em uma superfície,
essa luz branca pode sofrer absorção e/ou
reflexão de seus diversos componentes
coloridos. A cor que enxergamos nas
diversas superfícies é o resultado dos raios
coloridos refletidos da luz branca. Uma
maçã vermelha, por exemplo, absorve
todos os a cores da luz branca, e reflete o
vermelho apenas. O mesmo acontece com
uma fruta verde ou amarela.

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A passagem da luz através de um objeto é
chamada de transmissão. Objetos podem
ser transparentes, quando permitem a
passagem completa da luz, sem
modificação do seu trajeto; translúcidos,
quando a passagem é total ou parcial, com
modificação do trajeto do feixe; e opaco,
quando não há passagem. Corpos
transparentes permitem visualização
perfeita de objetos localizados atrás
enquanto para os translúcidos a
visualização não é nítida. Já os opacos não
permitem a visualização.

transparente translúcido opaco

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Objetos transparentes e translúcidos
transmitem a luz, mas podem refletir
componentes coloridos específicos do feixe
branco. Quando isso ocorre, a cor refletida
será predominante no objeto, o que o
tornará um transparente/translúcido
cromático. Caso nenhuma cor seja refletida,
o objeto é considerado acromático.

acromático cromático

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A cor final de um objeto posicionado sob
um material translúcido vai depender,
dentre vários fatores, se este é acromático
ou cromático. O material translúcido
cromático, além de filtrar a passagem de
luz, vai modificar a cor predominante.
Abaixo, mesmo os filtros apresentando o
mesmo grau de translucidez, o cromático
alterou de maneira mais perceptível a cor
final do círculo amarelo.

acromático cromático

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A translucidez de um objeto ou material em
alguns casos pode ser modulada pela
espessura. Materiais com baixa translucidez,
em finas espessuras, tendem a se tornar
mais translúcidos.

grosso médio fino

- translúcido + translúcido

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Como já definido, a cor é resultante da
interação do objeto com a luz. Entretanto,
não se trata de uma propriedade simples
de ser examinada. Na verdade, a cor é
composta por três dimensões, possíveis de
serem analisadas separadamente: matiz,
croma e valor.

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Matiz é o pigmento que dá nome à cor.
Para cores clássicas e genéricas, trata-se do
azul, verde, amarelo. É o que permite o
reconhecimento imediato da cor. A partir de
um único matiz, várias tonalidades de cor
podem ser criadas.

diferentes matizes

diferentes tonalidades a partir de um mesmo matiz

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Na Odontologia, os matizes se diferem de
maneira mais sútil. Classicamente, quatro
matizes são descritos na Odontologia,
representados pelas letras A, B, C, D. O
matiz A possui pigmento marrom-
avermelhado; o B, amarelo-avermelhado; o
C, acinzentado; e o D, cinza-avermelhado.

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O croma representa a intensidade ou
quantidade de pigmento em uma cor. É
também chamado de saturação. Quanto
mais intensa for a cor, maior é o seu croma.
Alterando-se o croma de uma cor, várias
outras cores (ou tonalidades) podem ser
criadas.

diferentes cromas de um mesmo matiz

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De maneira clássica, o croma na
Odontologia é descrito por um número. O
número após uma letra representa a
intensidade daquele matiz. Quanto maior o
número, mais saturada é a cor.

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O valor representa a quantidade de branco
presente em uma cor. Um alto valor
significa quantidade elevada de branco.
Esta dimensão é inversamente proporcional
ao croma, ou seja: quanto maior o valor,
menor é o croma.

- valor
+ croma

- croma
+ valor

A análise do valor, entretanto, independe


do croma ou do matiz. Isso significa que
podemos mensurar o valor em cores que
apresentam diferentes matizes e cromas
semelhantes.

+ valor - valor

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A melhor maneira de analisar o valor,
entretanto, é e removendo o matiz. Assim, a
influência do pigmento (matiz) deixa de
exisitir, o que acaba facilitando a
visualização da quantidade de branco.

+ valor - valor

Na prática odontológica, a remoção do


matiz pode ser feita com fotografias tiradas
em modo “preto e branco”, permitindo
assim maior precisão na análise do valor.

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Acredita-se que o valor é a dimensão da cor
mais importante na escolha do material
restaurador, seja ele resina composta ou
cerâmica odontológica. Isso significa que
mais importante que descobrir qual o matiz
(A ou B), é escolher corretamente o valor do
material restaurador. Esta deve ser a
dimensão com a qual o profissional mais
deve se preocupar na etapa de escolha de
cor.

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As características ópticas do dente natural
são resultado da interação entre esmalte e
dentina. Enquanto a dentina é considerada
a cor principal, o esmalte é considerado um
modificador dessa cor. Entender as
características particulares de cada um dos
tecidos é fundamental para compreender
os fenômenos ópticos no dente como uma
unidade.

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O esmalte possui translucidez média de
70,1% e tem a capacidade de atenuar as
cores nas quais se sobrepõe. Pode ser
cromático ou acromático. É comumente
mais espesso, menos mineralizado e menos
translúcido em pacientes jovens. Como
anteriormente falado, modifica a cor do
tecido subjacente, a dentina.

Comparação entre esmalte jovem (A) e idoso (B). Retirado de Vilarroel et al (2011).

Detalhe em corte histológico da disposição do esmalte. Retirado de Vilarroel et al (2011).

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A dentina é uma estrutura de baixa
translucidez (média de 52,6%) que pode
apresentar variados cromas. Em pacientes
mais velhos, ocorre deposição de dentina
no interior dos túbulos, fenômeno
conhecido como esclerose dentinária, que
resulta em aumento da saturação.
Representa a cor principal do dente,
modificada pela sobreposição do esmalte.

Mesma imagem, agora para comparação entre dentina jovem (A) e idosa (B).
Retirado de Vilarroel et al (2011).

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O esmalte, em geral, apresenta-se menos
espesso no terço cervical e mais espesso
nas regiões proximais e de terços médio e
incisal. A dentina, por sua vez, torna-se
gradativamente mais delgada nas regiões
de borda incisal e pontas de cúspides.

esmalte + delgado

dentina + espessa

dentina + delgada

esmalte + espesso

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O resultado da sobreposição do esmalte à
dentina é influenciado diretamente pelas
espessuras dos tecidos: no terço cervical,
maior saturação é notada, devido à maior
evidência de dentina, pouco modificada
pelo esmalte fino; no terço médio a
dentina tem sua cor modificada pela maior
espessura de esmalte, que assegura um
aumento de valor; no terço incisal a
delgada espessura de dentina aumenta a
translucidez da região, que é assegurada
pela cama de esmalte.

dentina esmalte + saturação

dentina esmalte + valor

dentina esmalte + translucidez

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O aspecto translúcido do terço incisal
permite a visualização de um fenômeno
óptico chamado de opalescência. Este
ocorre quando um corpo translúcido, ao ser
incidido por luz branca, assume aparência
azulada (refração de componentes azulados
da luz); ou transmitido por luz branca,
assuma aparência vermelho-alaranjada
(transmissão de componentes
avermelhados).

efeito opalescente

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Para imitar as características de cor e
translucidez dos dentes naturais, os
fabricantes têm desenvolvido materiais
cada vez mais modernos. Os sistemas de
resinas compostas ideais, além de variação
no croma (e valor) e, eventualmente, no
matiz, devem apresentar pelo menos dois
tipos de translucidez, equiparáveis às do
esmalte e da dentina. Essa variação pode
chegar em até quatro níveis (translúcido,
esmalte, corpo e dentina) para elaboração
de restaurações mais complexas ou
detalhadas.

translúcido esmalte corpo dentina

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Z350XT (3M)
4 translucidez

Spectra Smart (Dentsply)


3 translucidez

Aura (SDI)
2 translucidez

A resinas de corpo são ligeiramente menos


translúcidas que as de esmalte e, tanto
podem ser aplicadas para reconstruir
dentina mais superficial ou incisal quanto
para reproduzir esmaltes mais opacos.

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Os fabricantes das resinas compostas
podem adotar o sistema VITA para nomear
as cores do material, o clássico “letra
representa o matiz”e “número representa o
croma”. Sistemas conhecidos como Z350 XT,
da 3M ESPE, ou Empresa Direct, da Ivoclar,
utilizam na maioria das suas cores. Com
exemplo temos A2E (E para esmalte), A3D
(D para dentina) ou A4B (B para body, que
significa corpo).

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Entretanto, alguns fabricantes preferem
utilizar uma nomenclatura própria para
nomear as cores do seus compósitos,
caracterizando-os como materiais de
sistema não VITA. O sistema Aura, da SDI,
por exemplo, não possui variação de
matizes (letras), e suas cores de dentina,
chamadas de DC (dentin chroma) alteram
somente em saturação (e em valor,
inversamente proporcional).

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A partir da compreensão de todos esses
princípios acerca de cor e translucidez dos
materiais, uma análise do sistema de resina
composta utilizado pelo profissional deve
ser feita. Sistemas com três ou quatro
translucidez oferecem maiores
possibilidades de combinações para as
técnicas restauradoras, mas podem ser mais
complexos para os menos experientes.
Sistemas de duas translucidez facilitam a
estratificação mas podem representar uma
limitação para casos mais desafiadores.

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Na prática, a escolha da cor do material
pode ser feita da seguinte maneira:
posiciona-se incremento de resina de
dentina (ou corpo), com espessura próxima
de 1mm na região cervical e polimeriza-se.
O valor da resina deve ser semelhante ao
do dente; caso contrário, uma outra cor é
testada para dentina. O mesmo é feito com
esmalte, porém com o incremento
posicionado no terço médio ou incisal,
região onde esse tecido é mais espesso.
Uma película de saliva antes da foto em
"preto e branco", adquirida pelo contato da
língua do paciente com os incrementos é
bem-vinda, já que simula a situação natural
de umidade.

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Referências bibliográficas

1. Anusavice KJ, Shen C, Rawls HR. Phillips


Materiais Dentários. 12a ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2013.
2. Noort Rv. Introdução aos materiais
dentários. 3a ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2010.
3. Villarroel M, Fahl Jr N, Sousa AM, Oliveira
Jr OB. Direct esthetic restorations based
on translucency and opacity of
composite resins. J Esther Restor Dent
23:73-88, 2011.

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