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Resumo do artigo “Rodas de choro: entre o participativo e o apresentacional” de

Renan Moretti Bertho por André Rodrigues

O autor, nesse trabalho, analisa o evento chamado “Roda de Choro” em que o


grupo “Academia do Choro” se reúne periodicamente para tocar em bares de São Carlos –
SP. Tal evento é um hibrido entre uma apresentação formal e um fazer musical
participativo. No trabalho constroem-se apontamentos e paralelos entre a performance
observada nessas rodas e os conceitos de “performance participativa” e “performance
apresentacional” propostos por Thomas Turino.

1. O choro das – e nas – rodas.

Por volta de 1870, músicos amadores, reuniam-se para fazer música em festas,
surgindo as primeiras rodas de choro, no Rio de Janeiro.
Havia na época, forte influência de danças européias, sobretudo da Polca.
O choro desde então foi sofrendo modificações e um processo de profissionalização
destacando-se que a roda esteve presente em toda sua trajetória.
Uma roda de choro é conduzida por um grupo base de músicos que desempenham as
funções harmônica, melódica e rítmica.
Existe a possibilidade de participação de músicos profissionais ou amadores,
entretanto para isso é necessário o desenvolvimento de habilidades musicais e a
compreenção de alguns códigos.
O paradoxo consiste em que se por um lado o público em geral compreende a roda
como uma apresentação, por outro, aqueles que possuem habilidades para isso
compreendem este evento como uma oportunidade para fazer música.

2. Considerações teóricas: o participativo e o apresentacional.

Thomas Turino, em “Nationalists, Cosmopolitans, and Popular Music in


Zimbabwe” (2000), observa contrastes propostos por Roland Barthes entre “música para
tocar” e “música para ouvir”.
Turino propõe 4 tipos analíticos de música:
- música participativa
- música apresentacional
- música de alta fidelidade
- música de estúdio
Posteriormente, em “Music as Social Life” (2008), se baseia na idéia de campo
social, atribuída a Pierre Bourdieu, e subdivide as categorias de performance em 2 campos:
- de participação
- de gravação
Turino compreende a performance participativa como uma forma de arte e busca
compreender seu quadro participativo. Para tanto investiga a música indígena do
Zimbabwe, a música Aymara peruana e a contradança do meio oeste americano.
Três práticas orientadas por ações coletivas como dançar, cantar, bater palmas e tocar
diversos instrumentos.
Em uma roda de choro a participação depende de uma preparação individual com
conhecimento prévio.
As ações coletivas observadas por Turino como dançar, bater palmas, são exceções.

3. Academia do Choro: Entre o compromisso da participação e a formalidade da


apresentação.

Em 2011, o bandolinista Tiago Luiz Veltrone, o violonista Maurício Tagliadelo e o


pandeirista Ricardo Cury se reuniram para participar de uma roda de choro semanal e
começaram as atividades do projeto Academia do Choro (AdC).
Tendo como valores, um alto nível de comprometimento dos músicos e o
comportamento da audiência de respeito, voltado para escuta e identificação com o
repertório.
Outros músicos evidentemente poderiam participar, porém, o núcleo fixo garantiria a
prática musical indepentende dessas participações.

3. Etnografia de um fazer musical participativo

O autor realizou uma etnografia com foco na performance das rodas propostas pela
AdC entre agosto de 2013 e dezembro de 2014.
Os encontros eram realizados quinzenalmente no Almanach Bar e Restaurante,
espaço freqüentado por jovens e adultos, em sua maioria da classe média.
Os instrumentos soavam acusticamente e a participação era aberta.
Parte dos ouvintes presentes observava atentamente, enquanto outra parte se
mantinha em conversas. Alguns marcavam a pulsação com as mãos, outros batiam o pé ou
movimentavam o tronco e a cabeça de maneira sutil.
Em meio a audiência instrumentistas que inicialmente estavam no papel de público,
em determinado momento, pegavam seus instrumento e ocupavam um lugar na mesa dos
músicos e começavam a tocar.
Diferentemente do contexto apresentado por Turino, aqui os requisitos para a
participação, não podem ser adquiridos instantaneamente, pois são parte de um processo
construído ao longo do tempo.
O conhecimento técnico diferencia o público em geral dos participantes em
potencial.
E nesse ponto apresenta-se o paradoxo, a participação é aberta, mas só é possível
mediante um conhecimento específico.
Para apresentar uma perfomance são nescessários dois pré-requisitos:
- estudo: essencial para o desenvolvimento do conhecimento musical com ênfase na prática
instrumental, sendo de característica individual.
- preparação: implica na compreensão dos valores necessários para a participação como
compromisso e respeito.
Portanto só seriam considerados participantes em potencial, aqueles que possuíssem
conhecimento dos códigos e dinâmicas desse fazer musical.

4. Conclusão

Participação e apresentação são tipos de performance que estão em constante fricção


durante uma roda de choro.
Para participar enquanto instrumentista é necessário um conhecimento prévio,
enquanto a participação como ouvinte exige atenção e concentração por parte do público.
No caso da roda de choro apresentada temos um fazer musical híbrido com
características tanto da performance participativa quanto da performance de apresentação.

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