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INSTITUTO SUPERIOR DE GESTÃO

COMÉRCIO E FINANÇAS

Faculdade de Administração e Gestão

Licenciatura em Administração Pública Comércio e Finanças

2° ano - 2° Semestre – Regime: Laboral

Cadeira: FISCALIDADE

Tema:

ESTABELECIMENTO ESTAVEL

Docente:

dr. Bento

Discentes:

Domingos António Giro

Maputo, Dezembro de 2020

Índice
Introdução..................................................................................................................................3

Definição....................................................................................................................................4
A origem do conceito.................................................................................................................4

Análise do conceito....................................................................................................................5

Tipos de Estabelecimentos Estavel............................................................................................6

A importância do Conceito........................................................................................................8

O que é então um estabelecimento estável?.............................................................................10

Estabelecimentos reais.............................................................................................................10

Elenco não exaustivo de exemplos..........................................................................................11

Estaleiros de construção...........................................................................................................12

O elenco de exceções...............................................................................................................13

Estabelecimentos pessoais.......................................................................................................13

A jurisprudência nacional sobre estabelecimentos estáveis.....................................................15

Balanço final............................................................................................................................15

Conclusão.................................................................................................................................16

Bibliografia..............................................................................................................................17
Introdução
A evolução da economia internacional e a lógica das trocas comerciais desde sempre
implicou a internacionalização de empresas. Tal fenómeno levou a que empresas nacionais de
um Estado se estabelecessem noutro Estado, aí obtendo rendimentos. Ora, tais rendimentos
são vistos como fonte de receita tributária para os Estados onde eles são gerados e nesse
âmbito começaram a ser objecto de tributação. O conceito de estabelecimento estável é um
dos mecanismos que permite a tributação de rendimentos estrangeiros num determinado
Estado. Trata-se de um conceito essencial no domínio da tributação internacional que permite
fixar quais os rendimentos de não residentes tributáveis num dado território.
Definição
Segundo o codigo de IRPS da Lei n°34/2007, de 31 de Dezembro. O Estabelecimento
Estavel, no artigo 3 do n° 1 Considera se estabelecimentonestavelnqualquer instalacao fixada
atraves da qual seja exercida, total ou parcialmente, uma actividade de natureza comercial,
industrial ou agricola, incluindo a prestacao de servicos.

No artigo 3 do n°3 no caso de subempreitadas considera se que o subempreiteiro possui um


estabelecimento estavel no estaleiro se ai exercer a sua actividade pelo mesmo periodo
referido na alinea b) do n° anterior.

No artigo 3 do n°4 as actividades de coordenacao, fiscalizacao e supervisao em conexao com


os estabelecimentos indicados na alinea b) do n° 2 e no n° anterior, bem como as instalacoes,
plataformas ou barcos de perfuracao utilizados para prospeccao ou exploracao de recursos
naturais constituem tambem estabelecimento estavel nas condicoes ai referidas.

A origem do conceito
O conceito de estabelecimento estável tem demonstrado uma notável resistência ao longo dos
tempos, e consiste num princípio de direito internacional tributário há cerca de 100 anos.
Atribui-se que a primeira versão do conceito de estabelecimento estável tenha tido origem no
final dos anos 1800, quando as nações europeias procederam à negociação de tratados
bilaterais para regulamentarem o tratamento fiscal das actividades económicas
transfronteiriças. Encontra-se já uma referência ao conceito no Código Industrial da Prússia
de 1845.

A versão moderna e que hoje aparece como regra, surgiu após a I Guerra Mundial, quando as
nações se começaram a preocupar com o facto de a dupla tributação internacional estar a
inibir o comércio internacional e o investimento. Uma das situações que mais contribuiu para
a criação do conceito de estabelecimento estável foi uma divergência que opôs as
administrações fiscais do Canadá e dos Estados Unidos. Naquela altura as autoridades
tributárias do Canadá tentaram tributar as vendas por correspondência que provinham dos
Estados Unidos, apesar de a empresa não ter qualquer instalação no Canadá, local onde
apenas publicitava os seus bens. Os norte-americanos entendiam que tinham o direito
exclusivo de tributar aqueles rendimentos e isto começou a gerar um problema de dupla
tributação que despoletou a atenção da Liga das Nações.
Devido a esta crescente preocupação, a Liga das Nações, encarregou um grupo de
especialistas fiscais para desenvolver um mecanismo que pudesse evitar a dupla tributação. A
Liga chegou a um consenso e desenvolveu o conceito de estabelecimento estável, que ficou
consagrado no modelo fiscal de convenção de 1927 e, posteriormente foi adoptado em 1963
no modelo de convenção fiscal da Organização do Comércio e Desenvolvimento Económico
(OCDE) e ao longo das suas várias revisões em 1977 e 1992.

O estabelecimento estável veio permitir que esta tributação dos rendimentos pelo país de
origem adquirisse algum equilíbrio em relação à tributação efectuada pelo país da residência
promovendo o comércio entre Estados e o bem-estar internacional. Porém, muitos autores
atribuem o sucesso do conceito, ao longo da história, à sua característica de flexibilidade que
foi permitindo uma grande adaptação à evolução das práticas comerciais. Arvid Skaar (1991)
procurou traçar a evolução do conceito de estabelecimento estável desde o início até o final
dos anos 80, através da análise de casos julgados a nível internacional.

Análise do conceito
A prática comercial demonstra que são imensas as empresas que obtêm rendimentos num
Estado embora a sua sede esteja localizada noutro Estado. Para conseguir tributar estes
rendimentos o legislador fiscal teve de definir um critério específico, que considerasse a
organização empresarial, para além da sede e da direcção efectiva, tendo para isso fixado o
critério do estabelecimento estável. O problema está na definição deste conceito, saber em
que consiste e quando podemos afirmar que uma empresa tem um estabelecimento estável,
questão que pretendemos abordar. Os critérios comummente utilizados para definir
estabelecimento estável são os mencionados na Convenção Modelo da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para a Dupla Tributação sobre o
Rendimento e o Capital, no seu artigo 5.º

A OCDE define o estabelecimento estável como uma instalação ou local de negócio,


utilizado por uma empresa, com carácter fixo ou permanente. Para facilitar a utilização do
conceito a Convenção optou por exemplificar quais as instalações que constituem um
estabelecimento estável. Aqui incluiu realidades que vão desde o simples escritório à
instalação fabril ou industrial.

Nesse mesmo sentido, a Convenção fixa a exclusão de outras realidades, entendendo que não
são um estabelecimento permanente por exemplo os armazéns ou os postos de distribuição de
mercadorias. Por outro lado, para preencher a característica da permanência a Convenção
entendeu considerar algumas instalações como estabelecimento estável a partir do momento
em que permaneçam num Estado por mais de 12 meses. Neste ponto, os comentários feitos
aos artigos da Convenção Modelo da OCDE são a grande ajuda do intérprete para avaliar se
uma determinada instalação corresponde aos critérios do estabelecimento estável.

Analisando a Convenção Modelo da OCDE podemos apresentar os seguintes tipos de


instalações que surgem como estabelecimento estável:

Tipos de Estabelecimentos Estavel

Instalações
Instalação Fixa Agente Serviços
Ocasionais

Empregados,
Actividades Dependente Independente Estaleiros, Outro Pessoal
Preparatórias Obras,
e Auxiliares Construção

Sim Não Sim, quando


Actividades o serviço
Lucrativas ultrapassa o
Sim, desde
tempo
que durem
previsto
entre6/12
meses

Não Sim

Importa, ainda, referir que Portugal tem seguido, com uma ou outra reserva, o Modelo da
OCDE, unanimemente considerado o modelo dos países ricos, ou pelo menos desenvolvidos,
uma vez que o critério do país da fonte é aquele sobre que recai o maior esforço para a
eliminação da dupla tributação, e que, até ao momento, estão celebradas e em vigor
convenções para evitar a dupla tributação do rendimento com os seguintes países ou
territórios (por ordem alfabética): Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Bulgária, Cabo Verde,
Canadá, China, Coreia do Sul, Cuba, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Estónia Espanha,
Estados Unidos da América, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Índia, Irlanda, Islândia,
Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Macau, Malta, Marrocos, México Moçambique,
Noruega, Países Baixos Paquistão, Polónia, Reino Unido, República Checa, Roménia,
Rússia, Singapura, Suécia, Suiça, Tunísia, Ucrânia e Venezuela.

De notar, que uma das reservas de Portugal diz precisamente respeito ao sector da construção
civil, sector que tem sido determinante no desenvolvimento da economia do país.

A noção de estabelecimento estável, entidade carecida de autonomia jurídica, é


essencialmente utilizada para efeitos de determinação do direito de um Estado contratante
tributar os lucros, aí obtidos por uma empresa de outro Estado contratante. Isso mesmo está
previsto no artigo 7º da Convenção Modelo, segundo o qual um Estado só pode tributar os
lucros de uma empresa de outro Estado, caso esta exerça as suas actividades com recurso a
um estabelecimento estável situado no primeiro. Este é, pois, o princípio geral para a
construção do conceito da figura do estabelecimento estável. O Estabelecimento Estável
apresenta-se, assim, como fundamental para a tributação dos lucros comerciais ou industriais,
sendo, por isso, o índice de participação da empresa na vida do Estado.

A existência de estabelecimento estável supõe a verificação cumulativa de três condições, a


saber:

 a existência de um local através do qual seja exercida actividade;


 a sua localização noutro Estado contratante;
 a sua manutenção com um certo grau de permanência.

A expressão “instalação” abrange todo e qualquer local, material ou instalação utilizados no


exercício das actividades da empresa, em exclusividade ou não, sendo irrelevante o facto de a
empresa ser ou não proprietária do local, podendo até situar-se nas instalações de outra
empresa. A instalação deve ser fixa, no sentido de existir uma ligação entre a instalação e um
determinado ponto geográfico, com um certo grau de permanência ou regularidade, sem,
contudo, ser exigida a implantação no solo, mas apenas a permanência num determinado
espaço. E por fixo tem-se, não só em relação ao requisito temporal, mas também à condição
da localização. Sendo certo que, a empresa estrangeira tem de exercer controlo sobre a
instalação fixa de negócio, e esta deve servir a actividade de negócio da empresa.
É neste sentido que a Convenção modelo exclui do conceito de estabelecimento estável as
instalações que sirvam somente para armazenamento ou distribuição de mercadorias ou para
manutenção de stocks destinados a ser utilizados por outra empresa. E também não é considerado
estabelecimento estável a instalação fixa que sirva apenas para publicidade, informação,
investigação científica, nem para quaisquer outras actividades semelhantes com carácter auxiliar.

Veja-se ainda a amplitude da expressão “sua actividade” que permite encaixar aqui qualquer
actividade ligada ao objecto da empresa, o que garante um maior universo de tributação.

No que respeita às convenções para evitar a dupla tributação celebradas por Portugal, avultam
as seguintes diferenças em relação à Convenção Modelo da OCDE:

 Portugal estipulou, nas Convenções com a Alemanha, o Brasil e a Itália uma duração
menor (seis meses) para os estaleiros, reserva que já se mencionou supra.
 Também com a Alemanha, o Brasil e a Itália considerou-se haver estabelecimento
estável no caso de um representante que não seja um agente autónomo, quando
através dele uma empresa de seguros recebe prémios no território de outro Estado ou
segura riscos situados nesse mesmo território;
 A não inclusão de poço de petróleo ou gás (convenção com a República Checa e a
Itália);
 Eliminação dos casos de sociedades controladas por outras (convenção com a
Bélgica);
 Exigência, para não haver estabelecimento estável, de, no caso de actividades
preparatórias ou auxiliares, na instalação não serem auferidos quaisquer rendimentos
do exercício dessas actividades (convenção com o Brasil);
 As despesas do estabelecimento estável são as despesas directamente ligadas à sua
actividade (convenção com a Itália) Porém, esta amplitude do conceito legal
português apesar de se revelar bastante útil no sentido de evitar a fuga à tributação por
parte das empresas não residentes, acaba por tornar difícil a definição do conceito e
obriga a preenchê-lo e a analisá-lo caso a caso. Mais das vezes, obriga as empresas a
solicitar pareceres à Direcção Geral dos Impostos para evitarem problemas fiscais ou
a recorrer a uma decisão do Tribunal, que determine se numa dada situação estamos
ou não perante um estabelecimento estável.
A importância do Conceito
A noção de estabelecimento estável é absolutamente nuclear no Direito Tributário
Internacional. Trata-se de um dos seus conceitos identitários que goza de uma importância
fundamental em virtude de emergir, muitas vezes, como condição para a sujeição a imposto
de um não residente no Estado da Fonte. Tributação que terá, em princípio, uma natureza
ilimitada, isto é, o Estado da Fonte poderá tributar esse rendimento de acordo com as regras
domésticas em vigor, sem que para o efeito esteja convencionalmente limitado na taxa
aplicável1 . Em todo o caso, a noção de estabelecimento estável como elemento fundamental
para despoletar uma sujeição tributária no Estado da Fonte está naturalmente longe de
corresponder à realidade em todas as jurisdições.

O direito comparado é fértil em dar-nos exemplos de países em que a existência de um


estabelecimento estável é condição sine qua non – ou quase – para sujeitar um não residente a
imposto no Estado da Fonte, isto na medida em que se considera que apenas tal presença é
suficientemente digna para justificar a obrigação de pagamento do tributo para financiamento
da despesa pública. No entanto, também não é raro encontrar países onde a noção de
estabelecimento estável está longe de esgotar o elenco de situações ao abrigo das quais os não
residentes podem encontrar-se sujeitos a tributação no Estado da Fonte, bastando para o
efeito uma ligação muito mais ténue para despoletar factos tributários.

Sem surpresa, será nos países em que a noção de estabelecimento estável não esteja prevista
na lei doméstica que será mais frequente encontrar um extenso elenco de situações em que
uma ligação muito ténue – por vezes quase inexistente – com o Estado da Fonte pode ser
suficiente para despoletar, sem mais, um facto tributário para o não residente.

A utilidade do Conceito: Primeiro a Essência, depois a existência

Antes de se entrar na definição de estabelecimento estável cabe, em primeiro lugar, perceber


o propósito da noção. A essência do conceito passa, como se foi adiantando, pela necessidade
de em face dos factos do caso poder surpreender, em concreto, a sujeição a imposto do não
residente no Estado da Fonte. Por isso mesmo, o conceito de estabelecimento estável é
suscetível de ser entendido como um “limiar mínimo de presença” (threshold) e, ao mesmo
tempo, como uma regra de imputação geográfica de rendimentos (“sourcing rule”). Enquanto
“limiar mínimo de presença” exige-se, como não poderia deixar de ser, um mínimo de
substrato para que o não residente se torne sujeito passivo no Estado da Fonte.
Por seu turno, o conceito de estabelecimento estável encerra também uma lógica subjacente
de imputação geográfica de rendimentos na medida em que se considera que os rendimentos
imputáveis ao estabelecimento estável têm origem no Estado onde o estabelecimento estável
está localizado. Para além da natural relevância do conceito de estabelecimento estável ao
nível do Estado da Fonte, o mesmo assume igualmente importância para o Estado da
Residência. Na realidade, a existência de um estabelecimento estável noutro país geralmente
exige – ao abrigo da convenção de dupla tributação e / ou da lei doméstica – que o Estado da
Residência isente de imposto o rendimento do estabelecimento estável ou, em alternativa,
permita a dedução (credite) o imposto pago no estrangeiro em virtude da existência de tal
estabelecimento estável.

O que é então um estabelecimento estável?


É comum surpreender dois elementos na noção de estabelecimento estável. Por um lado, um
elemento estático – i.e. a organização através da qual é exercida uma atividade. Por outro
lado, um elemento dinâmico que consiste na atividade em si mesma considerada. Em
Portugal, o conceito de estabelecimento estável previsto na lei doméstica segue de perto a
noção do Modelo de Convenção Fiscal sobre o Rendimento e o Património da OCDE.

Estabelecimentos reais
Tanto os Códigos do IRC e do IRS, bem como o artigo 5.º, n.º 1, do Modelo de Convenção
Fiscal sobre o Rendimento e o Património da OCDE, definem estabelecimento estável de
forma semelhante. Trata-se, para o efeito, da “instalação fixa através da qual seja exercida
uma atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola” (artigo 5.º/1, do Código do IRC),
ou da “instalação fixa ou representação permanente através da qual seja exercida uma
atividade de natureza comercial, industrial, agrícola, silvícola ou pecuária” (artigo 18.º/2, do
Código do IRS) ou, por seu turno, da “instalação fixa através da qual a empresa exerce toda
ou parte da sua atividade” (artigo 5.º/1, do Modelo de Convenção Fiscal sobre o Rendimento
e o Património da OCDE). São vários os elementos que têm então de estar verificados:

(i) Instalação

Instalação fixa significa todo e qualquer local, material ou instalações utilizados no


exercício das atividades da empresa, independentemente de estarem ou não afetos
exclusivamente a esse fim.
(ii) Ligação entre a instalação e um certo ponto geográfico

A circunstância de a instalação ser fixa determina que deverá, em princípio, existir uma
ligação entre a instalação e um certo ponto geográfico.

(iii) Certo grau de permanência

A instalação deverá gozar de um certo grau de permanência, ou seja, se deverá ter um


caráter puramente temporário. Uma instalação fixa pode constituir um estabelecimento
estável mesmo que tenha existido, de facto, apenas por um período de tempo muito curto
dada a natureza específica das atividades da empresa que só podiam ser exercidas durante
um breve período de tempo. Sem surpresa, torna-se por vezes difícil determinar se esse é
o caso. Assim – e ainda que as práticas dos países não se mostrem homogéneas no tocante
ao critério temporal – a experiência demonstra que, normalmente, não se concluiu pela
existência de um estabelecimento estável quando a atividade foi exercida num país
através de uma instalação fixa mantida há menos de seis meses.

(iv) À disposição da empresa

Os comentários ao Modelo de Convenção Fiscal sobre o Rendimento e o Património da


OCDE clarificam, hoje em dia, que o simples facto de uma empresa ter à sua disposição
um certo espaço usado nas suas atividades empresariais é suficiente para constituir uma
instalação fixa, pelo que não é exigido que a empresa detenha um direito jurídico formal
sobre essa instalação. Pode assim surpreender-se um estabelecimento estável quando uma
empresa ocupa ilegalmente um certo espaço a partir do qual exerce a sua atividade6 .

(v) A atividade é exercida principalmente pelo empresário ou por pessoal da


empresa

A atividade da empresa é exercida principalmente pelo empresário ou por pessoas que


têm com a empresa relações de empregado-empregador (pessoal). Este pessoal
compreende os empregados e demais pessoas que recebam instruções da empresa
(agentes dependentes).

Elenco não exaustivo de exemplos


No artigo 3 do n° 2 Incluem-se, nomeadamente, na nocao de estabelecimento estavel referida
no n° anterior: alinea
Contém uma lista – não exaustiva – de alguns exemplos suscetíveis de ser considerados, cada
um deles, como constituindo prima facie um estabelecimento estável, a saber:

a) Um local de direcao, sucursal, escritorio, fabrica, oficina, mina, poco de petroleo ou


de gas, pedreira ou qualquer outro local de extracao de recursos naturais situados em
territorio Mocambicano.
b) Um local ou um estaleiro de construcao, de instalacao ou de montagem, quando a sua
duracao ou a duracao da obra ou da actividade exceder seis meses.

Tais exemplos deverão ser considerados em função da definição geral constante do n.º 1. do
codigo do IRPS, nesta matéria, uma redação diferente à luz da qual os exemplos da lista
deveriam ser considerados, a priori, estabelecimentos estáveis.

Ocorreu assim, no entretanto, uma inversão do ónus da prova. Ao abrigo da atual redação, a
existência de um estabelecimento estável tem de ser demonstrada pela entidade que alega a
sua existência.

Estaleiros de construção
Nos termos da lei doméstica um local ou um estaleiro de construção, de instalação ou de
montagem, as atividades de coordenação, fiscalização e supervisão em conexão com os
mesmos ou as instalações, plataformas ou barcos de perfuração utilizados para a prospeção
ou exploração de recursos naturais apenas constitui um estabelecimento estável se a sua
duração e a duração da obra ou da atividade exceder seis meses (artigo 5.º/ 3, do Código do
IRC). Ao invés, à luz do Modelo de Convenção Fiscal sobre o Rendimento e o Património da
OCDE um estaleiro de construção ou um projeto de construção ou de montagem só constitui
um estabelecimento estável se a sua duração exceder doze meses (artigo 5.º/3). Qualquer
estaleiro que não satisfizer este requisito não constitui por si só um estabelecimento estável,
ainda que compreenda uma instalação, como por exemplo um escritório ou uma oficina (nos
termos do artigo 5.º, n.º 2) conexa com a atividade de construção.

A expressão “estaleiro de construção ou projeto de montagem” não abrange apenas a


construção de edifícios, mas também a construção de estradas, de pontes ou de canais, a
renovação (sempre que pressuponha importantes obrais estruturais, mas não se se limitar a
uma mera manutenção ou decoração) desses prédios, estradas, pontes ou canais, a colocação
de condutas e bem assim a terraplanagem e dragagem.
Em virtude de o limite dos doze meses ter originado abusos – há vários casos conhecidos de
empresas que fracionavam os seus contratos em vários elementos (abrangendo cada um deles
um período inferior a doze meses) e atribuíam os mesmos a sociedades diferentes, mas
fazendo todas parte do mesmo grupo – surgiram no entretanto disposições legais ou critérios
pretorianos visando exatamente impedir tais expedientes de evasão fiscal.

O elenco de exceções
O artigo 5.º, n.º 4, do Modelo de Convenção Fiscal sobre o Rendimento e o Património da
OCDE enumera algumas atividades que não constituem estabelecimento estável, mesmo que
a atividade seja exercida numa instalação fixa. Todas essas atividades têm como elemento
comum o facto de serem, de um modo geral, operações preparatórias ou auxiliares, tal como é
expressamente enunciado na exceção constante da alínea e) – o que acaba por se traduzir,
nesses termos, numa restrição do campo de aplicação da regra enunciada no n.º 1.

Por outro lado, a alínea f) prevê que a combinação das atividades enumeradas nas alíneas a) e
e) na mesma instalação fixa não deve ser considerada como constituindo um estabelecimento
estável, desde que o conjunto das atividades exercidas pela instalação fixa, em resultado
dessa combinação, mantenha um caráter preparatório ou auxiliar (exceção esta que não
consta de múltiplos acordos de dupla tributação – particularmente os mais antigos – pelo que
mais uma vez poderão emergir daqui várias dúvidas interpretativas).

Estabelecimentos pessoais
Há um princípio geralmente aceite que determina que uma empresa deve ser considerada
como tendo um estabelecimento estável num determinado Estado se aí houver uma pessoa
que aja por sua conta, em certas condições, ainda que a empresa não disponha nesse Estado
de uma instalação fixa. Tal conclusão deverá ficar reservada para os casos de pessoas que, em
virtude da amplitude dos seus poderes ou da natureza das suas atividades, vinculam a
empresa em atividades empresariais de uma certa dimensão no Estado em causa. São por isso
vários os elementos que têm de estar verificados:

(i) Pessoa atue num Estado por conta de uma empresa de um outro Estado Implica
que o risco económico seja suportado pelo mandante (principal) e não pelo agente.
(ii) (ii) Não seja um agente independente
O agente deverá ser económica e legalmente dependente da empresa. Aos agentes
independentes (v.g. os comissionistas, mediadores, núncios, concessionários e outras
agentes independentes) aplica-se o artigo 5.º, n.º 6, do Modelo de Convenção Fiscal sobre
o Rendimento e o Património da OCDE. Poder-se-ão colocar a este nível questões
complexas, nomeadamente quando a remuneração do agente for estabelecida numa base
de cost-plus.

(iii) Goze de poderes para celebrar contratos

A pessoa deverá dispor de poderes suficientes para vincular a empresa sempre que esta
participe em atividades comerciais nesse Estado. Tais poderes deverão ser surpreendidos
tendo em conta o comportamento revelado pelas partes durante as negociações. Assim, tal
pressuposto poder-se-á encontrar igualmente verificado nos casos em que uma pessoa se
encontra autorizada a negociar todos os elementos e pormenores de um contrato de forma
vinculativa para a empresa, acabando depois o contrato por ser assinado por uma outra
pessoa no Estado onde está situada a empresa (ou mesmo no caso de a primeira pessoa
não ter recebido formalmente poderes de representação)15. Prevalece assim, sem
surpresa, a substância sob a forma.

(iv) Os contratos sejam celebrados em nome da empresa

A expressão “poderes para celebrar contratos em nome da empresa” não restringe a


aplicação da disposição a um agente que celebra contratos, literalmente, em nome da
empresa. A disposição deverá aplicar-se também a um agente que celebre contratos
vinculativos da empresa mesmo que tais contratos não sejam efetivamente celebrados em
nome da empresa. O facto de uma empresa não participar ativamente nas transações pode
significar que delegou essa competência num agente. A ratio subjacente a esta
interpretação tem que ver com o problema das assimetrias legais existentes entre países
de matriz civilística e países da common law; enquanto neste últimos qualquer contrato
celebrado por um agente poderia dar origem a um estabelecimento estável, nos países de
matriz civilística tal apenas deveria ser possível caso o agente/mandatário celebrasse o
contrato em nome do principal/mandante.

(v) A pessoa tenha e habitualmente exerça tais poderes

Pressupõe-se, igualmente, que a(s) pessoa(s) utilize(m) os seus poderes repetidamente e


não apenas em casos esporádicos, não obstante se suscitarem questões acerca de saber se
a celebração de um único contrato que tenha implicado longas negociações não seja
suscetível, em si mesmo, de ser suficiente para o efeito de se considerar verificada esta
condição.

A jurisprudência nacional sobre estabelecimentos estáveis


No panorama nacional existe uma jurisprudência relativamente escassa sobre questões
relacionadas com estabelecimentos estáveis. Dever-se-ão ainda assim referir os acórdãos em
que se confirma que o head office de um estabelecimento estável é responsável pelo
pagamento de dívidas fiscais daquele, em que se procede ao enquadramento em sede de IVA
dos gastos gerais do head office afetos ao estabelecimento estável, em que se determina o
tratamento fiscal dos juros pagos por um estabelecimento estável ao head office, em que se
procede à imputação do rendimento a um estabelecimento estável, em que se discute a
existência de um estaleiro de construção ou, finalmente, em que se suscitam temas de
dedução de gastos na cessação de um estabelecimento estável, de dedução por dupla
tributação económica e de dedução das diferenças entre valor de mercado e valor
contabilístico de elementos patrimoniais à data de cessação de atividade do estabelecimento
estável .

Balanço final
A definição de estabelecimento estável é uma das pedras angulares do Direito Tributário
Internacional. Trata-se de uma noção que, até pela sua longevidade, garante alguma
segurança aos sujeitos passivos envolvidos em operações transfronteiriças e assegura uma
repartição equitativa das competências tributárias entre Estados (Estado da Fonte e Estado da
Residência). Existem, apesar de tudo, ainda várias incertezas quanto às fronteiras da noção,
continuando a mesma a ser operativa (ainda que alterando os respetivos critérios) há mais de
100 anos. Também por isso – e essencialmente por isso – é decisivo o trabalho que a
jurisprudência vem fazendo e continuará a fazer na delimitação dos respetivos contornos.
Conclusão
Do exposto concluímos que não é possível definir o estabelecimento estável sem analisar as
circunstâncias que determinaram a sua origem, pois só podemos compreender um conceito a
partir do momento em que conhecemos as razões que justificaram a sua criação.

O conceito de estabelecimento estável foi uma consequência da necessidade de resolução de


problemas de dupla tributação entre os Estados. Com base na Convenção Modelo da OCDE,
o estabelecimento estável surgiu assim enquanto elemento de conexão constante das normas
de direito tributário internacional. Além da definição prevista na Convenção Modelo da
OCDE, discutiu-se o conceito de estabelecimento estável na legislação portuguesa, tendo
dessa contraposição resultado que o conceito tem maior amplitude na nossa legislação.
Bibliografia
Livro:
 Lei n.° 34/2007, de Dezembro “Código di Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas
Colectivas” – Legislação Fiscal 2020 8.°edição
Internet:
 Borges, António de Moura, Convenções sobre Dupla Tributação Internacional,
Editora da Universidade do Piauí, Instituto Brasileiro de Direito Tributário,
Universidade de São Paulo, 1992;
 Faveiro, Vítor António Duarte, Noções Fundamentais de Direito Fiscal Português, I
Volume, Coimbra Editora, 1984; Gomes, Nuno de Sá, Manual de Direito Fiscal,
Volume II (Lições revistas, ampliadas e actualizadas), 1996;
 PIRES, Manuel, Da Dupla Tributação Jurídica Internacional sobre o Rendimento,
Centro de Estudos Fiscais, 1984

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