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COMÉRCIO E FINANÇAS
Cadeira: FISCALIDADE
Tema:
ESTABELECIMENTO ESTAVEL
Docente:
dr. Bento
Discentes:
Índice
Introdução..................................................................................................................................3
Definição....................................................................................................................................4
A origem do conceito.................................................................................................................4
Análise do conceito....................................................................................................................5
A importância do Conceito........................................................................................................8
Estabelecimentos reais.............................................................................................................10
Estaleiros de construção...........................................................................................................12
O elenco de exceções...............................................................................................................13
Estabelecimentos pessoais.......................................................................................................13
Balanço final............................................................................................................................15
Conclusão.................................................................................................................................16
Bibliografia..............................................................................................................................17
Introdução
A evolução da economia internacional e a lógica das trocas comerciais desde sempre
implicou a internacionalização de empresas. Tal fenómeno levou a que empresas nacionais de
um Estado se estabelecessem noutro Estado, aí obtendo rendimentos. Ora, tais rendimentos
são vistos como fonte de receita tributária para os Estados onde eles são gerados e nesse
âmbito começaram a ser objecto de tributação. O conceito de estabelecimento estável é um
dos mecanismos que permite a tributação de rendimentos estrangeiros num determinado
Estado. Trata-se de um conceito essencial no domínio da tributação internacional que permite
fixar quais os rendimentos de não residentes tributáveis num dado território.
Definição
Segundo o codigo de IRPS da Lei n°34/2007, de 31 de Dezembro. O Estabelecimento
Estavel, no artigo 3 do n° 1 Considera se estabelecimentonestavelnqualquer instalacao fixada
atraves da qual seja exercida, total ou parcialmente, uma actividade de natureza comercial,
industrial ou agricola, incluindo a prestacao de servicos.
A origem do conceito
O conceito de estabelecimento estável tem demonstrado uma notável resistência ao longo dos
tempos, e consiste num princípio de direito internacional tributário há cerca de 100 anos.
Atribui-se que a primeira versão do conceito de estabelecimento estável tenha tido origem no
final dos anos 1800, quando as nações europeias procederam à negociação de tratados
bilaterais para regulamentarem o tratamento fiscal das actividades económicas
transfronteiriças. Encontra-se já uma referência ao conceito no Código Industrial da Prússia
de 1845.
A versão moderna e que hoje aparece como regra, surgiu após a I Guerra Mundial, quando as
nações se começaram a preocupar com o facto de a dupla tributação internacional estar a
inibir o comércio internacional e o investimento. Uma das situações que mais contribuiu para
a criação do conceito de estabelecimento estável foi uma divergência que opôs as
administrações fiscais do Canadá e dos Estados Unidos. Naquela altura as autoridades
tributárias do Canadá tentaram tributar as vendas por correspondência que provinham dos
Estados Unidos, apesar de a empresa não ter qualquer instalação no Canadá, local onde
apenas publicitava os seus bens. Os norte-americanos entendiam que tinham o direito
exclusivo de tributar aqueles rendimentos e isto começou a gerar um problema de dupla
tributação que despoletou a atenção da Liga das Nações.
Devido a esta crescente preocupação, a Liga das Nações, encarregou um grupo de
especialistas fiscais para desenvolver um mecanismo que pudesse evitar a dupla tributação. A
Liga chegou a um consenso e desenvolveu o conceito de estabelecimento estável, que ficou
consagrado no modelo fiscal de convenção de 1927 e, posteriormente foi adoptado em 1963
no modelo de convenção fiscal da Organização do Comércio e Desenvolvimento Económico
(OCDE) e ao longo das suas várias revisões em 1977 e 1992.
O estabelecimento estável veio permitir que esta tributação dos rendimentos pelo país de
origem adquirisse algum equilíbrio em relação à tributação efectuada pelo país da residência
promovendo o comércio entre Estados e o bem-estar internacional. Porém, muitos autores
atribuem o sucesso do conceito, ao longo da história, à sua característica de flexibilidade que
foi permitindo uma grande adaptação à evolução das práticas comerciais. Arvid Skaar (1991)
procurou traçar a evolução do conceito de estabelecimento estável desde o início até o final
dos anos 80, através da análise de casos julgados a nível internacional.
Análise do conceito
A prática comercial demonstra que são imensas as empresas que obtêm rendimentos num
Estado embora a sua sede esteja localizada noutro Estado. Para conseguir tributar estes
rendimentos o legislador fiscal teve de definir um critério específico, que considerasse a
organização empresarial, para além da sede e da direcção efectiva, tendo para isso fixado o
critério do estabelecimento estável. O problema está na definição deste conceito, saber em
que consiste e quando podemos afirmar que uma empresa tem um estabelecimento estável,
questão que pretendemos abordar. Os critérios comummente utilizados para definir
estabelecimento estável são os mencionados na Convenção Modelo da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para a Dupla Tributação sobre o
Rendimento e o Capital, no seu artigo 5.º
Nesse mesmo sentido, a Convenção fixa a exclusão de outras realidades, entendendo que não
são um estabelecimento permanente por exemplo os armazéns ou os postos de distribuição de
mercadorias. Por outro lado, para preencher a característica da permanência a Convenção
entendeu considerar algumas instalações como estabelecimento estável a partir do momento
em que permaneçam num Estado por mais de 12 meses. Neste ponto, os comentários feitos
aos artigos da Convenção Modelo da OCDE são a grande ajuda do intérprete para avaliar se
uma determinada instalação corresponde aos critérios do estabelecimento estável.
Instalações
Instalação Fixa Agente Serviços
Ocasionais
Empregados,
Actividades Dependente Independente Estaleiros, Outro Pessoal
Preparatórias Obras,
e Auxiliares Construção
Não Sim
Importa, ainda, referir que Portugal tem seguido, com uma ou outra reserva, o Modelo da
OCDE, unanimemente considerado o modelo dos países ricos, ou pelo menos desenvolvidos,
uma vez que o critério do país da fonte é aquele sobre que recai o maior esforço para a
eliminação da dupla tributação, e que, até ao momento, estão celebradas e em vigor
convenções para evitar a dupla tributação do rendimento com os seguintes países ou
territórios (por ordem alfabética): Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Bulgária, Cabo Verde,
Canadá, China, Coreia do Sul, Cuba, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Estónia Espanha,
Estados Unidos da América, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Índia, Irlanda, Islândia,
Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Macau, Malta, Marrocos, México Moçambique,
Noruega, Países Baixos Paquistão, Polónia, Reino Unido, República Checa, Roménia,
Rússia, Singapura, Suécia, Suiça, Tunísia, Ucrânia e Venezuela.
De notar, que uma das reservas de Portugal diz precisamente respeito ao sector da construção
civil, sector que tem sido determinante no desenvolvimento da economia do país.
Veja-se ainda a amplitude da expressão “sua actividade” que permite encaixar aqui qualquer
actividade ligada ao objecto da empresa, o que garante um maior universo de tributação.
No que respeita às convenções para evitar a dupla tributação celebradas por Portugal, avultam
as seguintes diferenças em relação à Convenção Modelo da OCDE:
Portugal estipulou, nas Convenções com a Alemanha, o Brasil e a Itália uma duração
menor (seis meses) para os estaleiros, reserva que já se mencionou supra.
Também com a Alemanha, o Brasil e a Itália considerou-se haver estabelecimento
estável no caso de um representante que não seja um agente autónomo, quando
através dele uma empresa de seguros recebe prémios no território de outro Estado ou
segura riscos situados nesse mesmo território;
A não inclusão de poço de petróleo ou gás (convenção com a República Checa e a
Itália);
Eliminação dos casos de sociedades controladas por outras (convenção com a
Bélgica);
Exigência, para não haver estabelecimento estável, de, no caso de actividades
preparatórias ou auxiliares, na instalação não serem auferidos quaisquer rendimentos
do exercício dessas actividades (convenção com o Brasil);
As despesas do estabelecimento estável são as despesas directamente ligadas à sua
actividade (convenção com a Itália) Porém, esta amplitude do conceito legal
português apesar de se revelar bastante útil no sentido de evitar a fuga à tributação por
parte das empresas não residentes, acaba por tornar difícil a definição do conceito e
obriga a preenchê-lo e a analisá-lo caso a caso. Mais das vezes, obriga as empresas a
solicitar pareceres à Direcção Geral dos Impostos para evitarem problemas fiscais ou
a recorrer a uma decisão do Tribunal, que determine se numa dada situação estamos
ou não perante um estabelecimento estável.
A importância do Conceito
A noção de estabelecimento estável é absolutamente nuclear no Direito Tributário
Internacional. Trata-se de um dos seus conceitos identitários que goza de uma importância
fundamental em virtude de emergir, muitas vezes, como condição para a sujeição a imposto
de um não residente no Estado da Fonte. Tributação que terá, em princípio, uma natureza
ilimitada, isto é, o Estado da Fonte poderá tributar esse rendimento de acordo com as regras
domésticas em vigor, sem que para o efeito esteja convencionalmente limitado na taxa
aplicável1 . Em todo o caso, a noção de estabelecimento estável como elemento fundamental
para despoletar uma sujeição tributária no Estado da Fonte está naturalmente longe de
corresponder à realidade em todas as jurisdições.
Sem surpresa, será nos países em que a noção de estabelecimento estável não esteja prevista
na lei doméstica que será mais frequente encontrar um extenso elenco de situações em que
uma ligação muito ténue – por vezes quase inexistente – com o Estado da Fonte pode ser
suficiente para despoletar, sem mais, um facto tributário para o não residente.
Estabelecimentos reais
Tanto os Códigos do IRC e do IRS, bem como o artigo 5.º, n.º 1, do Modelo de Convenção
Fiscal sobre o Rendimento e o Património da OCDE, definem estabelecimento estável de
forma semelhante. Trata-se, para o efeito, da “instalação fixa através da qual seja exercida
uma atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola” (artigo 5.º/1, do Código do IRC),
ou da “instalação fixa ou representação permanente através da qual seja exercida uma
atividade de natureza comercial, industrial, agrícola, silvícola ou pecuária” (artigo 18.º/2, do
Código do IRS) ou, por seu turno, da “instalação fixa através da qual a empresa exerce toda
ou parte da sua atividade” (artigo 5.º/1, do Modelo de Convenção Fiscal sobre o Rendimento
e o Património da OCDE). São vários os elementos que têm então de estar verificados:
(i) Instalação
A circunstância de a instalação ser fixa determina que deverá, em princípio, existir uma
ligação entre a instalação e um certo ponto geográfico.
Tais exemplos deverão ser considerados em função da definição geral constante do n.º 1. do
codigo do IRPS, nesta matéria, uma redação diferente à luz da qual os exemplos da lista
deveriam ser considerados, a priori, estabelecimentos estáveis.
Ocorreu assim, no entretanto, uma inversão do ónus da prova. Ao abrigo da atual redação, a
existência de um estabelecimento estável tem de ser demonstrada pela entidade que alega a
sua existência.
Estaleiros de construção
Nos termos da lei doméstica um local ou um estaleiro de construção, de instalação ou de
montagem, as atividades de coordenação, fiscalização e supervisão em conexão com os
mesmos ou as instalações, plataformas ou barcos de perfuração utilizados para a prospeção
ou exploração de recursos naturais apenas constitui um estabelecimento estável se a sua
duração e a duração da obra ou da atividade exceder seis meses (artigo 5.º/ 3, do Código do
IRC). Ao invés, à luz do Modelo de Convenção Fiscal sobre o Rendimento e o Património da
OCDE um estaleiro de construção ou um projeto de construção ou de montagem só constitui
um estabelecimento estável se a sua duração exceder doze meses (artigo 5.º/3). Qualquer
estaleiro que não satisfizer este requisito não constitui por si só um estabelecimento estável,
ainda que compreenda uma instalação, como por exemplo um escritório ou uma oficina (nos
termos do artigo 5.º, n.º 2) conexa com a atividade de construção.
O elenco de exceções
O artigo 5.º, n.º 4, do Modelo de Convenção Fiscal sobre o Rendimento e o Património da
OCDE enumera algumas atividades que não constituem estabelecimento estável, mesmo que
a atividade seja exercida numa instalação fixa. Todas essas atividades têm como elemento
comum o facto de serem, de um modo geral, operações preparatórias ou auxiliares, tal como é
expressamente enunciado na exceção constante da alínea e) – o que acaba por se traduzir,
nesses termos, numa restrição do campo de aplicação da regra enunciada no n.º 1.
Por outro lado, a alínea f) prevê que a combinação das atividades enumeradas nas alíneas a) e
e) na mesma instalação fixa não deve ser considerada como constituindo um estabelecimento
estável, desde que o conjunto das atividades exercidas pela instalação fixa, em resultado
dessa combinação, mantenha um caráter preparatório ou auxiliar (exceção esta que não
consta de múltiplos acordos de dupla tributação – particularmente os mais antigos – pelo que
mais uma vez poderão emergir daqui várias dúvidas interpretativas).
Estabelecimentos pessoais
Há um princípio geralmente aceite que determina que uma empresa deve ser considerada
como tendo um estabelecimento estável num determinado Estado se aí houver uma pessoa
que aja por sua conta, em certas condições, ainda que a empresa não disponha nesse Estado
de uma instalação fixa. Tal conclusão deverá ficar reservada para os casos de pessoas que, em
virtude da amplitude dos seus poderes ou da natureza das suas atividades, vinculam a
empresa em atividades empresariais de uma certa dimensão no Estado em causa. São por isso
vários os elementos que têm de estar verificados:
(i) Pessoa atue num Estado por conta de uma empresa de um outro Estado Implica
que o risco económico seja suportado pelo mandante (principal) e não pelo agente.
(ii) (ii) Não seja um agente independente
O agente deverá ser económica e legalmente dependente da empresa. Aos agentes
independentes (v.g. os comissionistas, mediadores, núncios, concessionários e outras
agentes independentes) aplica-se o artigo 5.º, n.º 6, do Modelo de Convenção Fiscal sobre
o Rendimento e o Património da OCDE. Poder-se-ão colocar a este nível questões
complexas, nomeadamente quando a remuneração do agente for estabelecida numa base
de cost-plus.
A pessoa deverá dispor de poderes suficientes para vincular a empresa sempre que esta
participe em atividades comerciais nesse Estado. Tais poderes deverão ser surpreendidos
tendo em conta o comportamento revelado pelas partes durante as negociações. Assim, tal
pressuposto poder-se-á encontrar igualmente verificado nos casos em que uma pessoa se
encontra autorizada a negociar todos os elementos e pormenores de um contrato de forma
vinculativa para a empresa, acabando depois o contrato por ser assinado por uma outra
pessoa no Estado onde está situada a empresa (ou mesmo no caso de a primeira pessoa
não ter recebido formalmente poderes de representação)15. Prevalece assim, sem
surpresa, a substância sob a forma.
Balanço final
A definição de estabelecimento estável é uma das pedras angulares do Direito Tributário
Internacional. Trata-se de uma noção que, até pela sua longevidade, garante alguma
segurança aos sujeitos passivos envolvidos em operações transfronteiriças e assegura uma
repartição equitativa das competências tributárias entre Estados (Estado da Fonte e Estado da
Residência). Existem, apesar de tudo, ainda várias incertezas quanto às fronteiras da noção,
continuando a mesma a ser operativa (ainda que alterando os respetivos critérios) há mais de
100 anos. Também por isso – e essencialmente por isso – é decisivo o trabalho que a
jurisprudência vem fazendo e continuará a fazer na delimitação dos respetivos contornos.
Conclusão
Do exposto concluímos que não é possível definir o estabelecimento estável sem analisar as
circunstâncias que determinaram a sua origem, pois só podemos compreender um conceito a
partir do momento em que conhecemos as razões que justificaram a sua criação.