Você está na página 1de 69

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

PRÓ-REITORIA DE ENSINO E GRADUAÇÃO


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

MIGUEL ALVARENGA DE MACEDO DOS SANTOS

A ATUAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS EM RORAIMA NO


ACOLHIMENTO AOS MIGRANTES E REFUGIADOS LGBTI DA VENEZUELA

Boa Vista - RR
2019
MIGUEL ALVARENGA DE MACEDO DOS SANTOS

A ATUAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS EM RORAIMA NO


ACOLHIMENTO AOS MIGRANTES E REFUGIADOS LGBTI DA VENEZUELA

Monografia apresentada ao curso de graduação em


Relações Internacionais da Universidade Federal de
Roraima como parte dos requisitos para a conclusão do
curso e obtenção do título de Bacharel em Relações
Internacionais.

Orientador: Dr. Gustavo da Frota Simões

Boa Vista - RR
2019
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima
S237a Santos, Miguel Alvarenga de Macedo dos.
A atuação das organizações internacionais em Roraima no
acolhimento aos migrantes refugiados LGBTI da Venezuela / Miguel
Alvarenga de Macedo dos Santos. – Boa Vista, 2019.
68 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Gustavo da Frota Simões.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal


de Roraima, Curso de Relações Internacionais.

1 - Migração venezuelana civil. 2 - LGBTI. 3 - Roraima. 4


- Organizações internacionais I - Título. II - Simões, Gustavo da Frota
(orientador).

CDU - 325.11(811.4)
Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária/Documentalista: Maria de
Fátima Andrade Costa - CRB-11/453-AM
MIGUEL ALVARENGA DE MACEDO DOS SANTOS

A ATUAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS EM RORAIMA NO


ACOLHIMENTO AOS MIGRANTES E REFUGIADOS LGBTI DA VENEZUELA

Monografia apresentada ao curso de graduação em


Relações Internacionais da Universidade Federal de
Roraima como parte dos requisitos para a conclusão
do curso e obtenção do título de Bacharel em
Relações Internacionais. Defendida em 12 de julho
de 2019 e avaliada pela seguinte banca:

_______________________________________________________

Prof. Dr. Gustavo da Frota Simões - Orientador (UFRR)

_______________________________________________________

Prof. Dr. João Carlos Jarochinski Silva (UFRR)

_______________________________________________________

Natália Arruda Saraiva Neves Dourado (ACNUR)


AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por minha vida e por abrir várias
portas que a mudaram para melhor. Por presentear-me com encontros de um repertório
simbólico indescritível e que nunca cogitei ter contato e também por proteger-me em
todos os momentos.
Agradeço à minha família por sempre se importar com minha educação e bem-
estar, independentemente de qualquer situação. Agradecimentos especiais à minha avó
Manoelina, à minha tia Édna, e principalmente à minha mãe Eliana. Obrigado por ser
minha mãe, por todos os dias que passávamos juntos, por todos seus ensinamentos, lições,
carisma, inteligência, por seu amor e por ser minha fonte de inspiração todos os dias. Te
amarei por toda a eternidade.
Agradeço à Universidade Federal de Roraima por brindar-me um ensino de
qualidade e todos os meios necessários para que eu pudesse alcançar meu sonho, a
exemplo dos auxílios e bolsas estudantis, assim como uma mobilidade internacional.
Também por apresentar-me meus amigos, os quais deram muito mais alegria e significado
aos meus dias de estudo, assim como suporte para lidar com as situações adversas, sempre
tendo eu uma mão a qual recorrer. Por colocar-me em um ambiente com professores
indescritíveis e que sem sombra de dúvidas definiram meu futuro e gosto pela área de
Relações Internacionais.
Agradeço meu professor João Carlos Jarochinski por suas aulas que me
transportavam aos lugares e épocas mais extraordinários da história. Atuou como
coordenador em todos os meus anos de graduação, sempre solícito e preocupado com
seus alunos e com o curso.
Agradeço à professora Marcelle Silva, por ensinar-me a não ter medo nem
vergonha de correr atrás de meus sonhos e a como ser um profissional qualificado.
Agradeço ao meu professor e orientador Gustavo Simões por todos os
ensinamentos na área de migração e refúgio, área que levarei comigo sempre e que talvez
trabalharei o resto da vida. Obrigado também por aceitar meu pedido de orientação e pela
paciência e compreensão.
Agradecimento especial à professora Júlia Camargo, a qual considero uma mãe
em muitos sentidos. Obrigado por apresentar-me o mundo do voluntariado e abrir portas
em minha vida como poucos fizeram. Não há palavras ou atos que demonstrem meu
sentimento de gratidão. Você mudou minha vida para sempre.
Agradeço a outros professores e professoras que marcaram minha trajetória e me
inspiraram profundamente como Felipe Kern, um dos homens mais inteligentes que tive
a honra de conhecer e escutar, assim como Anahí Barbosa, uma das pessoas mais
sensíveis e belas e que me ensinou que eu sou a fonte para tudo.
Agradeço a Roraima, terra que me proporcionou todas essas experiências e
oportunidades que não teria em nenhum outro lugar. Essa água do Rio Branco tem alguma
coisa.
Por fim, mas não menos importante, agradeço a mim mesmo por nunca desistir, e
sempre acreditar que dias melhores virão. Quase sempre eu fui o único a quem podia
recorrer e me amparar. Reconheço meus esforços e qualidades e trabalho para que eu seja
mais gentil e amoroso comigo mesmo. No final do dia, somos nós e só nós.
“Do I contradict myself? Very well, then, I
contradict myself; I am large -- I contain
multitudes.”
(Walt Whitman)
RESUMO

O presente estudo tem como temática o acolhimento de pessoas LGBTI na imigração


venezuelana em Roraima. O objetivo é analisar estas iniciativas atreladas à proteção e
integração desses migrantes e refugiados LGBTI por parte das organizações
internacionais em parceria com outros atores que atuam na emergência humanitária em
Roraima. A investigação do fluxo transfronteiriço no qual LGBTIs estão inseridos,
resultante da deterioração da situação interna da Venezuela, sua proteção internacional
pautada nos direitos humanos e a análise do acolhimento local deu-se a partir de uma
abordagem exploratória, descritiva e explicativa, caracterizando uma pesquisa
qualitativa, fundamentada no método histórico-dedutivo. Dessa forma, construiu-se um
estudo a partir de dois dos principais atores identificados na área de acolhimento de
migrantes e refugiados LGBTI onde conclui-se que as ações de caráter pontual não
atendem às especificidades e demandas dessas pessoas de forma plena, resultando numa
perpetração da invisibilidade e vulnerabilidade social imposta ao grupo, somada à
escassez de trabalhos científicos na área que podem corroborar para possíveis soluções.

Palavras-chave: Migração Venezuelana. LGBTI. Roraima. Organizações


Internacionais.
ABSTRACT

The present study investigates the reception of LGBTI people in the Venezuelan
immigration in Roraima. The aim is to analyze these initiatives linked to the protection
and integration of these LGBTI migrants and refugees by international organizations in
partnership with other actors working in the humanitarian emergency in Roraima. The
investigation of the transborder flow in which LGBTIs are inserted, resulting from the
deterioration of the internal situation of Venezuela, its international protection based on
human rights and the analysis of the local reception took place from an exploratory,
descriptive and explanatory approach, characterizing a qualitative research, based on the
historical-deductive method. Thus, a study was constructed from two of the main actors
identified in the area of reception of LGBTI migrants and refugees where it is concluded
that the actions of a specific nature do not fully meet the specificities and demands of
these people, resulting in a perpetration of the invisibility and social vulnerability
imposed on the group, together with the scarcity of scientific works in the area that would
corroborate with possible solutions.

Key Words: Venezuelan Migration. LGBTI. Roraima. International Organizations.


RESUMEN

El presente estudio investiga la recepción de personas LGBTI en la inmigración


venezolana en Roraima. El objetivo es analizar estas iniciativas relacionadas con la
protección e integración de estos migrantes y refugiados LGBTI por parte de
organizaciones internacionales en asociación con otros actores que trabajan en la
emergencia humanitaria en Roraima. La investigación del flujo transfronterizo en el que
se insertan los LGBTI, resultado del deterioro de la situación interna de Venezuela, su
protección internacional basada en los derechos humanos y el análisis de la recepción
local se realizó desde un enfoque exploratorio, descriptivo y explicativo, caracterizando
a Investigación cualitativa, basada en el método histórico-deductivo. Por lo tanto, se
construyó un estudio a partir de dos de los principales actores identificados en el área de
recepción de migrantes y refugiados LGBTI donde se concluye que las acciones de una
naturaleza puntual no satisfacen completamente las especificidades y demandas de estas
personas, lo que resulta en una perpetración. de la invisibilidad y vulnerabilidad social
impuesta al grupo, junto a la escasez de trabajos científicos en el área que corroborarían
con posibles soluciones.

Palabras clave: Migración venezolana. LGBTI. Roraima. Organizaciones


internacionales.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - População de migrantes e refugiados venezuelanos na América Latina e


Caribe ............................................................................................................................. 23
Figura 2- Solicitações de refúgio relacionadas à orientação sexual e à identidade de
gênero no Brasil (2010-2018). ........................................................................................ 43
Figura 3 - Atendimento do UNFPA em espaço próprio e utilização de visibilidade
LGBTI. ........................................................................................................................... 47
Figura 4 - Aulas de defesa pessoal para LGBTIs e outros grupos vulneráveis. ............. 48
Figura 5 - Cartaz no Centro de Referência para Refugiados e Migrantes ...................... 49
Figura 6 - Aviso de segurança para pessoas LGBTI na língua indígena warao, com
tradução “você está seguro aqui”.................................................................................... 50
Figura 7 - Pins que demonstram segurança para pessoas LGBTI utilizados pelo staff do
ACNUR e parceiros na missão em Roraima. ................................................................. 50
Figura 8 - Yordenis e Marielianna .................................................................................. 51
Figura 9 - Casal idealizador do DiverTsarte e que usa a arte como elemento de luta
contra a discriminação .................................................................................................... 54

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Preço médio anual pela OPEP do petróleo bruto de 2010 a 2018. .............. 19
Gráfico 2 - Taxa de inflação da Venezuela, preços médios ao consumidor (variação
anual em porcentagem). .................................................................................................. 20
Gráfico 3 - Crescimento das solicitações de refúgio (2014-2018). ................................ 27
LISTA DE ABREVIATURAS

AD Acción Democrática
ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
ACNUDH Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos
ANC Assembleia Nacional Constituinte
CRAS Centros de Referência de Assistência Social
CREAS Centros de Referência Especializados de Assistência Social
CNIg Conselho Nacional de Imigração
COPEI Comité de Organización Política y Electoral Independiente
DTM Displacement Tracking Matrix
DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos
GGB Grupo Gay da Bahia
MERCOSUL Mercado Comum do Sul
MDS Ministério do Desenvolvimento Social
MUD Mesa de Unidad Democrática
OVV Observatório Venezuelano de Violência
OEA Organização dos Estados Americanos
OIM Organização Internacional para as Migrações
ONU Organização das Nações Unidas
PDVSA Petróleos de Venezuela
PEP Permiso Especial de Permanência
PIDESC Pacto Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais
PIDCP Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
RI Relações Internacionais
TSJ Tribunal Supremo de Justicia
UNASUL União de Nações Sul-Americanas
UNFPA Fundo de População das Nações Unidas
UFRR Universidade Federal de Roraima
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 14

2 IMIGRAÇÃO VENEZUELANA: CAUSAS, FLUXOS, PERFIL ..................... 17

2.1 CRISE TRIDIMENSIONAL NA VENEZUELA (POLÍTICA, ECONÔMICA E


SOCIAL): 2015 A 2018....................................................................................... 17

2.2 IMIGRAÇÃO VENEZUELANA .................................................................... 21

2.3 IMIGRAÇÃO VENEZUELANA PARA O BRASIL ........................................ 25

3 PROTEÇÃO INTERNACIONAL DE PESSOAS LGBTI ................................ 31

3.1 DIÁSPORA LGBTI....................................................................................... 31

3.2. INSTRUMENTOS RELATIVOS À PROTEÇÃO INTERNACIONAL LGBTI .. 34

4 PROTEÇÃO E INTEGRAÇÃO A REFUGIADOS E MIGRANTES


VENEZUELANOS DO GRUPO LGBTI ........................................................... 41

4.1 PANORAMA DE PESSOAS LGBTI EM SITUAÇÃO DE REFÚGIO E


MIGRAÇÃO EM RORAIMA .............................................................................. 41

4.2 PROTEÇÃO E INTEGRAÇÃO DE VENEZUELANOS LGBTI EM SITUAÇÃO


DE REFÚGIO E MIGRAÇÃO EM RORAIMA ..................................................... 46

4.3 DESAFIOS E SUGESTÕES NO ACOLHIMENTO DE REFUGIADOS E


MIGRANTES LGBTI EM RORAIMA ................................................................. 54

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 58

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 60
14

1 INTRODUÇÃO

O fluxo migratório venezuelano, resultado de uma crise política, econômica e social que
assola o país nos últimos cinco anos, trouxe milhares de pessoas ao Brasil, principalmente pelo
estado de Roraima que é porta de entrada dos refugiados e migrantes venezuelanos. Dentre esse
grupo, encontra-se um recorte ainda mais vulnerável do que os que migram forçosamente: os
refugiados e migrantes LGBTI1. Uma força-tarefa logística e humanitária vem lidando com o
fluxo oficialmente desde 2018 e inclui inúmeros atores de diferentes esferas que estão
envolvidos no acolhimento, proteção e integração dos venezuelanos LGBTIs.
Existe uma intrínseca relação entre uma sociedade e um Estado, onde ambos legitimam
e encorajam a regulação de corpos, sexualidades e identidades de indivíduos dentro de padrões
dimórficos2 e heteronormativos3. Relações e indivíduos heterossexuais são privilegiados e
valorizados, assim como impostos como o ideal, enquanto pessoas que não se encontram nesses
padrões estabelecidos são submetidas a uma constante marginalização. Sabe-se que a condição
de migração e refúgio já impõe uma série de vulnerabilidade4s às pessoas. Quando pertencentes
ao grupo LGBTI, elas se tornam duplamente fragilizadas, necessitando um tipo de resposta
mais específica e pensada nesse recorte. Levando em conta o contexto migratório em Roraima,
indaga-se: quais ações e iniciativas sendo realizadas com os migrantes e refugiados
venezuelanos LGBTI que visam o acolhimento, proteção e integração e como elas são
realizadas?
A hipótese central é de que poucas ações são realizadas e de modo não prioritário, não
diminuindo a vulnerabilidade estrutural na qual esses indivíduos se encontram. Considera-se
também, que as poucas iniciativas realizadas alcançam um número limitado de LGBTIs em
situação de migração e refúgio, reforçando sua condição de invisíveis na sociedade patriarcal,
heteronormativa e cisgênera.

1
Utiliza-se o acrônimo utilizado pelas Nações Unidas, e em momento algum é desconsiderada a relevância
de outras siglas.
2
O dimorfismo refere-se às diferenças entre homens e mulheres que não envolvem os órgãos sexuais, e que
leva a crença que limita os sexos entre essas duas categorias.
3
Heteronormatividade descreve a crença de que a heterossexualidade seria a única e natural expressão da
sexualidade de um indivíduo, marginalizando e excluindo sexualidades que diferem.
4
Para um aprofundamento sobre o termo vulnerabilidade, que envolve sobreposição de vulnerabilidades,
justiça social e responsabilidade estatal, ver Dodds, Rogers e Mackenzie (2014). Disponível em: <
http://eltalondeaquiles.pucp.edu.pe/wp-content/uploads/2016/09/Studies-in-Feminist-Philosophy-Catriona-
Mackenzie-Wendy-Rogers-Susan-Dodds-Vulnerability_-New-Essays-in-Ethics-and-Feminist-Philosophy-
Oxford-University-Press-2013.pdf#page=14>.
15

O objetivo geral desse empreendimento intelectual é analisar como é feito o


acolhimento, a proteção e a integração de indivíduos LGBTI na imigração venezuelana. Como
objetivos específicos estão: analisar o contexto de crise venezuelano que gerou um enorme
fluxo migratório, entender a proteção internacional dada a indivíduos LGBTI e descobrir ações
e iniciativas em prol de migrantes e refugiados LGBTI em Roraima e seus desafios.
As motivações para a realização deste trabalho partiram de três questões estruturais à
pesquisa: uma de cunho pessoal/profissional, a segunda de importância acadêmica e a terceira,
motivações sociais que dão suporte a relevância desse projeto. A abordagem do trabalho é
importante, uma vez que traz visibilidade para as questões de gênero e sexualidade, estudos que
tradicionalmente não são pauta principal no campo das Relações Internacionais. Dessa forma,
há uma quebra de tradição de estudos, onde o Estado é visto como estrutura histórica que circula
os debates em torno de si, deixando de lado assuntos como o ser humano e suas idiossincrasias
dentro da disciplina.
Diante desses fatos, esse projeto tem como justificativa pessoal/profissional a realidade
de minha vida, e trazer elementos que corroborem para o crescimento e exploração do tema
dentro das RI, visto que o acadêmico trabalha e tem contato desde 2017 com o tema e com a
realidade da migração venezuelana em Roraima. O trabalho voluntário inicial desenvolvido foi
fruto de uma disciplina do curso de Relações Internacionais na UFRR, embarcando depois em
dois estágios em agências das Nações Unidas: OIM e ACNUR, atores que lidam com LGBTIs
em contexto migratório e de refúgio. Ademais, existe uma identificação com o tema e desejo
de continuação de linha de pesquisa e atuação profissional. Como justificativa científica, há
caráter intelectual inovador no curso de Relações Internacionais da UFRR e nas relações
internacionais em geral. Existe a possibilidade de agregar no crescimento de publicações, onde
a UFRR, por meio do curso de Relações Internacionais, corrobora com a linha de pesquisa do
grupo LAMIGRA (Laboratório de Estudos sobre Migrações, Refúgio e Apatridia), assim como
da Cátedra Sérgio Vieira de Mello/CSVM.
O recorte metodológico, quanto aos seus fins, a pesquisa é caracterizada como um
estudo exploratório, descritivo e explicativo. Quanto aos meios de estudo, a pesquisa é
caracterizada qualitativa, fundamentada em um método histórico-dedutivo. Ao que se refere às
técnicas, os procedimentos metodológicos estão fundamentados em uma revisão bibliográfica
e documental, assim como um estudo teórico, com análise dos dados encontrados.
O trabalho é divido em três capítulos. O primeiro capítulo aborda a crise tridimensional
na Venezuela, e como isso casou um movimento transfronteiriço enorme de pessoas, que foram
em direção a diversos países das Américas e do mundo. Entre eles está o Brasil, onde descreve-
16

se como ocorreu a migração para este país, que envolve migrantes e refugiados de diferentes
grupos, entre eles os LGBTI.
Pensando nisso, o segundo capítulo investiga a criminalização de orientações sexuais e
identidades de gênero em diversos países e apresenta dados sobre este tema. É analisado depois
o histórico da proteção internacional dada a indivíduos LGBTI e qual a fundamentação dessa
proteção por meio de levantamento de dados, diretrizes e instrumentos jurídicos internacionais
principalmente da Organização das Nações Unidas (ONU) ou relativo a ela.
Finalmente, o terceiro capítulo analisa o estado de Roraima e a migração que aqui ocorre
relativa à ações de acolhimento, proteção e integração de migrantes e refugiados LGBTI, assim
como os desafios advindos dessa temática. É apurada brevemente a divulgação de ações e
iniciativas voltadas a migrantes e refugiados LGBTI por parte das organizações internacionais
e órgãos públicos atuantes na resposta emergencial no estado de Roraima.
17

2 IMIGRAÇÃO VENEZUELANA: CAUSAS, FLUXOS, PERFIL

A deterioração socioeconômica, política e da segurança na Venezuela continua a assolar


o país nos últimos anos, culminando em uma crise humanitária sem precedentes na história
recente da América Latina. Sob essa ótica, ganha particular relevância as várias mudanças no
panorama político do país durante os dois últimos governos (Hugo Chávez e Nicolás Maduro),
assim como a queda do preço do barril de petróleo, principal produto de exportação do país e
fonte de riqueza do Estado venezuelano.

2.1 CRISE TRIDIMENSIONAL NA VENEZUELA (POLÍTICA, ECONÔMICA E


SOCIAL): 2015 A 2018

Para entender a situação da Venezuela, é necessário abordar o processo histórico-


político recente do país. Em 1958, um acordo entre elites políticas pôs fim à ditadura de Marcos
Pérez, criando o chamado “Pacto de Punto Fijo”. Esse pacto consistia no monopólio de dois
partidos, que revezaram o poder durante 40 anos: o Acción Democrática - AD e o Comité de
Organización Política y Electoral Independiente - COPEI, aliança que só seria rompida quando
Hugo Chávez elegeu-se no ano de 1998 (ORTIZ, 2017).
Nas décadas de 1980 e 1990, a Venezuela já passava por uma crise econômica e social
intensa, o que gerou uma pequena emigração de venezuelanos, contexto em que assumiu
Chávez, instaurando seu governo com forte estatismo e passou a tomar medidas de maior
controle sobre as finanças, preços e câmbio (afetando drasticamente o setor privado), assim
como as instituições do Estado, viabilizando um número ilimitado de reeleições para um
presidenciável. Não menos importante, o novo governo foi marcado por investimento massivo
em políticas sociais (FREITEZ, 2019).
Vale ressaltar o papel da oposição na deterioração da democracia na Venezuela, que
utilizou de estratégias ineficazes contra o chavismo. Uma tentativa fracassada de golpe em 2002
e um boicote geral às eleições em 2005, acabaram por, respectivamente, criar o cenário perfeito
para o cerceamento de líderes de oposição e a composição de um parlamento inteiramente
chavista.

Recusando-se a participar nas eleições legislativas de 2005, a oposição deu ao


Governo um Parlamento 100 por cento chavista entre 2006 e 2010, permitindo-lhe
acelerar o seu projeto legislativo, cooptar por completo os Tribunais e os órgãos de
fiscalização, eliminar meios de comunicação social independentes ou ligados à
oposição, usar o aparelho de Estado para perseguir os candidatos da oposição e alterar
as regras eleitorais quase à sua vontade (GAMBOA, 2016, p. 58).
18

Chávez foi reeleito para seu quarto mandato consecutivo em 2012, governando até
março de 2013, quando faleceu devido a um câncer o qual já vinha lutando por anos. Seu
sucessor, Nicolás Maduro, assumiu o mandato para o período de 2013-2019, dando
continuidade ao emparelhamento do Estado.
A crise política na Venezuela se intensificou em 2015, ano em que ocorreram as eleições
parlamentares que deram vitória na Assembleia Nacional - AN aos partidos de oposição, que
conquistaram a maioria dos lugares, contra o governo de Nicolás Maduro e seus simpatizantes.
Com controle de 67% da AN, a heterogênea oposição que havia se reunido em 2008, formando
a coligação Mesa de Unidad Democrática - MUD, viu no horizonte uma oportunidade de
contrabalancear o poder do Governo Maduro e promover uma mudança no regime (GAMBOA,
2016).
Apesar de obter a maioria dos lugares na AN, a esperança da MUD de frear o Governo
não teve o resultado esperado. Para López Maya (2018), após as eleições parlamentares de
2015, o governo venezuelano passou a implementar medidas antidemocráticas, tais como
utilizar o Tribunal Supremo de Justicia - TSJ para a destituição sem fundamentos ou provas de
quatro deputados sob alegação de corrupção, fato que fez a oposição perder a superioridade de
assentos.
Não obstante, o TSJ no dia 29 de março de 2017, por meio da sentença 156 despojou a
AN de seus poderes, alegando desacato, e passou a controlar o poder legislativo do país, ação
que provocou protestos massivos pelo país e condenação por parte de vários organismos
internacionais, o que fez o TSJ recuar e voltar atrás com sua decisão. No meio a essa tensão
institucional, Nicolás Maduro chamou eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte -
ANC, visando reescrever a Constituição do país, concentrando ainda mais o poder na mão do
Executivo, em detrimento do Legislativo e Judiciário (KOECHLIN; VEGA; SOLÓRZANO,
2019).
Esta ação culminou na suspensão da Venezuela do Mercosul (2017), que invocou a
ruptura da ordem democrática, baseado no Protocolo de Ushuaia5, assim como o não
reconhecimento da validez da Assembleia Nacional Constituinte - ANC por parte oposição
venezuelana, da Organização dos Estados Americanos – OEA (2017), da União Europeia
(EUROPEAN UNION EXTERNAL ACTION, 2017), do Grupo de Lima6 (BRASIL, 2017),

5
Foi assinado no dia 24 de julho de 1998 na cidade argentina de Ushuaia pelos Estados-membros do Mercosul
e dois países associados (Chile e Bolívia). É um dos tratados base do Mercosul e condição para adesão ao
grupo. Reafirma o compromisso democrático dos países, que, se rompido, pode acarretar na suspensão do
bloco, cerre de fronteiras, sanções econômicas, entre outras medidas.
6
Grupo formado por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México,
Panamá, Paraguai e Peru, que, reunidos na cidade de Lima, em 8 de agosto de 2017 para tratar da situação
19

entre outros países. Apesar da pressão doméstica e internacional, a ANC organizou eleições
presidenciais antecipadas, realizadas no dia 20 de maio de 2018, que deram vitória a Maduro
para um mandato de mais seis anos (LÓPEZ MAYA, 2018).
A divergência política profundamente bipolarizada, as ações de controle estatal cada vez
maiores e um isolacionismo internacional, somaram-se a outro cenário dramático em que se
encontra a Venezuela: a crise econômica. Para compreender a crise econômica venezuelana, é
crucial o entendimento da política fiscal do país. Conforme visto, desde a subida de Chávez ao
poder, o governo investiu altas receitas em programas sociais, grande parte destes financiados
com recursos advindos da empresa estatal Petróleos de Venezuela - PDVSA (ROSALES,
2018).
Nesse contexto, é relevante o fato de que desde o começo da década de 2000, o país
manteve um elevado gasto e realizava impressão inorgânica de dinheiro, ao mesmo tempo em
que elevou o endividamento externo, causando déficit fiscal. Não obstante, o país recebeu
baixas avaliações das agências de risco, teve os empréstimos com a China interrompidos por
falta de pagamento, piorando ainda mais a situação com as sanções impostas pelos Estados
Unidos em agosto de 2017 (ROSALES, 2018). Cabe ressaltar que o petróleo, elemento chave
para a economia venezuelana, desvalorizou-se a partir de 2014:

Gráfico 1 - Preço médio anual pela OPEP do petróleo bruto de 2010 a 2018.
120 107,46 109,45 105,87
96,29
100
77,45
80 69,78

60 49,49 52,43
40,76
40

20

0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Fonte: Elaboração Própria, baseado em OPEC (2018).

crítica na Venezuela, emitiram a Declaração de Lima, que condenava a ruptura da ordem democrática na
Venezuela.
20

Somado a este imbróglio, a Venezuela passa hoje por uma hiperinflação (a maior do
mundo). No ano de 2018, o país registrou inflação de 1,370,000% e encolhimento do PIB
em 18%, e a previsão para o ano de 2019 é de 10,000,000% de inflação e encolhimento do
PIB em 5%, de acordo com o FMI (2018).

Gráfico 2 - Taxa de inflação da Venezuela, preços médios ao consumidor (variação


anual em porcentagem).

1600000

1400000 1370000
1200000

1000000

800000

600000

400000

200000
43,5 57,3 111,8 254,4 1087,5
0
2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: Elaboração Própria, baseado FMI (2018).

Vê-se, no gráfico 2 que não é exagero dizer que essa realidade não mudará no curto
prazo. Pelo contrário, cada vez mais há uma perda na qualidade de vida das pessoas, reflexo
direto da crise política e econômica, que por usa vez, alimentam a dramática crise social.
Conforme mencionado, os dois últimos governos foram marcados por altos investimentos em
políticas sociais como moradia, saúde, educação, assistência social e outras, e estas, que
amenizavam o quadro de declínio social, enfrentam grave deterioro (VAZ, 2017).
O desabastecimento de produtos básicos alimentícios, de higiene, remédios e material
hospitalar, colocou a Venezuela no quadro de países com maiores índices de pobreza e de
pobreza extrema. De acordo com uma pesquisa sobre qualidade de vida, realizada por várias
universidades venezuelanas intitulada Encuesta sobre Condiciones de Vida en Venezuela –
ENCOVI (2017) 87% da população estava abaixo da linha da pobreza e 64% havia perdido
uma média de 11kg (ESPAÑA; PONCE, 2018). A escassez de alimentos básicos superava 80%
21

em 2016 de acordo com Datanálisis (2016) e falta de medicamentos, no estado de Nueva


Esparta, por exemplo, superava 90% em 2017, de acordo com a ONG venezuelana StopVIH
(2017).
Outro fator importante é a taxa de desemprego, que supera os 34% (FMI, 2018), ligado
ao aumento da pobreza, fome e carência de produtos, que levou ao crescimento da violência e
criminalidade, num país já marcado por esse estigma. O Observatório Venezuelano de
Violência - OVV, em seu informe de 2017, estimava uma taxa de 89 mortes a cada 100 mil
habitantes, totalizando 26.616 falecidos em tal ano (OVV, 2018).
Em suma, todo esse conjunto de fatores que caracterizam a crise tridimensional -
política, econômica e social – na Venezuela, se traduziu em um fluxo migratório nunca antes
visto na história recente da América Latina e o Caribe, envolvendo a maioria dos países da
região que buscam uma solução para lidar com a situação na Venezuela e a crise humanitária
que trouxe uma quantidade inédita de migrantes e refugiados à suas portas.

2.2 IMIGRAÇÃO VENEZUELANA

Devido à grave e generalizada crise pela qual passa Venezuela nos últimos anos, um
fluxo expressivo de pessoas passou a migrar para outros países, sobretudo em busca de
melhores condições de vida. Nesse sentido, ganha importância descrever brevemente o perfil
dessa população migrante, qual o destino dessas pessoas e como essa emergência humanitária
vem sendo coordenada e gerida.
A Venezuela foi, historicamente, um país receptor de migrantes atraídos pela busca por
melhores condições de vida. No século XX o país passou, resumidamente, por duas ondas
migratórias: de europeus que fugiam dos conflitos bélicos e crises políticas, econômicas e
sociais entre os anos 1950-1960 e de latino-americanos durante as décadas de 1960, 1970 e
princípios de 1980, principalmente colombianos devido a seu conflito interno. No entanto, a
partir de 1983 o país atravessou uma época de crise que foi decisiva para a mudança de perfil
de país receptor para país emissor de migrantes. Esse quadro se manteve nas décadas seguintes
e hoje experimenta seu ápice (RIBAS, 2018).
Embora venezuelanos migrem há vários anos, esse movimento aumentou a partir de
2017 e acelerou-se ainda mais em 2018, de acordo com a ONU News (2018), chegando a 3
milhões o número de pessoas vivendo fora de seu país. Mais além, as projeções são de que até
o fim de 2019, 5,3 milhões de pessoas terão deixado o país, de acordo com cifras do “Plano
22

Regional de Resposta a Refugiados e Migrantes da Venezuela”, lançado pelo Alto


Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados - ACNUR e a Organização Internacional
para as Migrações - OIM.
O perfil de migrantes que deixaram a Venezuela entre 2001 e 2018 mudou
consideravelmente. De acordo com um Policy Memo publicado pela Stanley Foundation e a
Coordinadora Regional de Investigaciones Económicas y Sociales - CRIES, a emigração
venezuelana passou por duas ondas: a primeira entre 2001 e 2014 e a segunda a partir de 2014,
(CRIES y Stanley Foundation, 2018) a qual perdura até o momento atual.
A primeira onda foi constituída por profissionais altamente qualificados, sobretudo do
setor petroleiro, majoritariamente de classe média e média alta, em direção a países
desenvolvidos como Estados Unidos, Canadá e Espanha (CRIES y Stanley Foundation, 2018).
Vale ressaltar que para Ribas (2018), nas décadas de 1980 e 1990 até 2014, o país já
experimentava perda de capital humano7: emigração em massa de indivíduos da área da saúde,
engenheiros, cientistas, acadêmicos, empresários, profissionais de organizações internacionais,
esportistas e etc. que migravam sobretudo pelo contexto político.
Com início em 20148, a segunda onda migratória tem uma mudança em seu perfil devido
ao agravamento da crise que levou a escassez de alimentos e medicamentos, e passam a migrar
em maior número pessoas mais socioeconomicamente vulneráveis, o que Ribas (2018, p.111)
intitulou “emigração como necessidade”:

A partir del año 2016 y como parte de un proceso que se viene gestando por la
desatención al tema migratorio y un aumento gradual de la crisis interna, comienzan
a cambiar de forma evidente las características de los que toman la decisión de
emigrar. El objetivo sigue siendo el mismo, mejorar la calidad de vida, pero ahora no
está relacionado solo con el hecho de una mayor seguridad personal y/o jurídica,
mejorar el poder adquisitivo, tener un empleo o evadir la polarización política; los
nuevos emigrantes venezolanos buscan condiciones mínimas de vida: acceso a la
alimentación y atención médica completa, que no encuentran en Venezuela por la
escasez de estos rubros o el alto costo de los mismos, pues se han vuelto inaccesibles
para el común, especialmente para sectores de la población con menor capacidad
económica (RIBAS, 2018, p. 111).

Estimativas, via Freitez (2018) mostram que no geral, o grupo etário que emigra é cada
vez mais jovem, com idades entre 15-59 anos, demonstrando a perda da população
economicamente ativa venezuelana. A imigração venezuelana recente ao Brasil, corrobora com

7
Também chamado de “fuga de cérebros”.
8
O ano exato de agravamento diverge entre os autores, como por exemplo Ribas (2018), que considera que
este se deu a partir de 2016.
23

essas estimativas, sendo esta majoritariamente composta por jovens (72% do total entre 20 e 39
anos) de alta escolaridade (SIMÕES et al., 2017).
A mudança também ocorreu nos destinos dessas pessoas, que, levando em conta a
proximidade e facilidade de transportes terrestres e marítimos, passaram a migrar a localidades
como as ilhas do Caribe9, a países fronteiriços como Brasil e Colômbia e a outros países sul-
americanos. As restrições de entrada de imigrantes em países do Norte e as dificuldades
econômicas em obter passagens aéreas também são fatores impeditivos para migrar para países
mais longínquos (CRIES y Stanley Foundation, 2018).
A Colômbia é hoje o país com o maior número de migrantes venezuelanos e continua
sendo o principal destino por razões como a fronteira compartilhada, histórico de migração
colombiana na Venezuela (muitos são retornados ou possuem familiares na Colômbia) e o
idioma. Até o fim de 2018 o total de venezuelanos no país era de 1 milhão 174 mil, de acordo
com a Migração Colombiana (2019). Além da Colômbia, há um fluxo intenso de migrantes e
refugiados venezuelanos a países como Peru, Estados Unidos, Espanha, Equador, Chile,
Argentina, Brasil, entre outros (OIM, 2018).

Figura 1 - População de migrantes e refugiados venezuelanos na América Latina e


Caribe

Fonte: UNHCR, 2018

9
As determinadas Ilhas do Caribe são: Aruba, Curaçao, Bonaire, Trinidad y Tobago e República Dominicana.
24

O fluxo venezuelano é caracterizado pela OIM (2009) como um fluxo misto, em que os
movimentos migratórios incluem refugiados, requerentes de asilo, migrantes econômicos e
outros migrantes. Também é, em grande parte, uma migração de sobrevivência. Portanto, há
venezuelanos que claramente se enquadram na definição de refugiado, fugindo por razões de
perseguição política, conforme disposto na Convenção de Genebra de 1951 e Protocolo de
1967, enquanto outros se enquadrariam na interpretação alargada da Declaração de Cartagena
de 1984 – grave e generalizada violação de direitos humanos –, somando-se ainda os que seriam
classificados como migrantes econômicos (CAMILLERI; HAMPSON, 2018).
Outa hipótese que corrobora com a celeuma sobre a regularização mais adequada aos
venezuelanos é levarmos em conta o conceito de migração forçada, assim como definido por
Betts (2013), onde pessoas são obrigadas a deixar seu país devido a violações de direitos
humanos, o que respaldaria a aplicação da Declaração de Cartagena:

Refere-se a pessoas que estão fora de seu país de origem por causa de uma ameaça
existencial para a qual elas não têm acesso a um recurso ou resolução interna. [...] Os
refugiados são um tipo de migrante de sobrevivência, mas muitas pessoas que não são
reconhecidas como refugiadas também se enquadram na categoria. [...] As pessoas
que fogem das privações fundamentais dos direitos humanos resultantes da fragilidade
do Estado, das mudanças ambientais e da insegurança alimentar no seu próprio país
têm o direito reconhecido de receber proteção internacional (BETTS, 2013, p. 4-5,
grifos nosso).

A distinção entre migrantes e refugiados é de extrema importância, devido às diferentes


proteções internacionais garantidas a cada, mais notadamente o princípio de non-refoulement
no caso dos refugiados (CAMILLERI; HAMPSON, 2018). Vale ressaltar a utilização da
solicitação de refúgio por migrantes que, na falta de outros institutos ou métodos de
regularização, optam por esta via, não significando de modo algum a invalidade do refúgio
como política universal de proteção (JAROCHINSKI SILVA, 2011). Isto diz mais sobre a
forma que o país garante oportunidades de regularização e acolhimento a essas pessoas do que
sobre elas mesmas.
Os países que possuem a maior quantidade de pedidos de refúgio de cidadãos
venezuelanos são o Peru (149,840), Brasil (84,736) e Estados Unidos (72,722) (UNHCR, 2018).
Vários países da região oferecem oportunidades de regularização fora do instituto do refúgio,
que possibilitam permanência dos migrantes por um período maior de tempo (um a dois anos),
como o Permiso Especial de Permanência - PEP na Colômbia, residência temporária no Brasil
por meio da Resolução Normativa nº 126/2017 do Conselho Nacional de Imigração - CNIg, o
qual foi substituída posteriormente pela Portaria Interministerial nº 9/2018 e acordos regionais
de residência como o do Mercado Comum do Sul - MERCOSUL e União de Nações Sul-
25

Americanas - UNASUL. Outros países como México, Panamá e Guatemala possuem políticas
restritivas como exigência de visto e fechamento das fronteiras (RIBAS, 2018).
Apesar de os países criarem formas alternativas de regularização, muitos se veem
obrigados a utilizar vias irregulares de entrada no território, o que aumenta o risco de tráfico de
pessoas (RIBAS, 2018), trabalho análogo à escravidão e outros crimes que põem em risco a
vida de muitos imigrantes. Isso também pode levar a um aumento da xenofobia, tema este que
foi utilizado como estratégica política em muitos países, gerando polarização através de
discursos de ódio contra imigrantes, culpabilizando-os. Cabe apontar que levar a questão muito
mais para o lado securitário não parece adequado, pois a realidade explicita um quadro bem
distinto, com pessoas extremamente vulneráveis e que necessitam de acolhimento.
Fica evidente diante desse quadro que a “crise venezuelana” não é uma questão
exclusiva da Venezuela, mas sim regional. Atores chave dentro da região têm responsabilidade
de buscar soluções produtivas e ativas à crise. O Brasil, que em outras ocasiões teve
protagonismo e liderança internacional na busca por soluções de outras crises na América
Latina, por enquanto não o demonstra, sendo este um dos países que têm recebido um grande
fluxo migratório.

2.3 IMIGRAÇÃO VENEZUELANA PARA O BRASIL

O fluxo venezuelano se deu em todos os países mais próximos da Venezuela na região


da América do Sul. O Brasil é o segundo maior destino dos venezuelanos entre os países
fronteiriços, devido a fatores como facilidade de transporte, qualidade da rodovia entre os dois
países e obtenção relativamente fácil de documentos para regularização migratória. É de suma
importância descrever o perfil desse fluxo, narrar algumas mudanças ocorridas no estado de
Roraima e abordar brevemente como a emergência humanitária vem sendo gerida no Brasil.
O fluxo de venezuelanos pela fronteira com o Brasil era inexpressivo se comparado a
cinco anos atrás. As regiões fronteiriças entre os dois países são caracterizadas por baixa
densidade populacional, onde Roraima, o estado menos populoso do Brasil, se encontra no que
é chamado de Amazônia Legal e o estado Bolívar, na Venezuela, é composto por grandes áreas
naturais e reservas indígenas também (JAROCHINSKI SILVA, 2017).
A vinda de venezuelanos se intensificou a partir de 2015, ano o qual ocorreram as
eleições parlamentares, que aumentaram a crise política, levando a um agravamento da crise
econômica e social, por consequência causando desabastecimento de produtos alimentares e
medicamentos. Neste ano, percebe-se a ocorrência de movimentos pendulares na fronteira entre
26

as cidades limítrofes de Pacaraima, no Brasil, e Santa Elena de Uiarén, na Venezuela, onde as


pessoas vêm em busca de alimentos, medicamentos e para trabalhar por um curto período,
buscando suprir a escassez de recursos em seu país (JAROCHINSKI SILVA, 2017).
O aprofundamento da crise agudizou os problemas sociais, chegando a um ponto crítico
e insustentável para muitas pessoas, que se viram obrigadas a sair da Venezuela. O movimento
que inicialmente era pendular, passou a ser de caráter permanente, com as pessoas se fixando
em Pacaraima e Boa Vista por estarem mais perto da fronteira (JAROCHINSKI SILVA, 2017).
A população venezuelana que migrou ao Brasil é composta por não-indígenas e indígenas,
sobretudo das etnias Warao e também E’ñepá (OIM, 2018).
Em termos nacionais, o fluxo venezuelano acontece em um momento importante para o
Brasil em termos de política migratória, em que foi aprovada a Nova Lei de Migração (Lei nº
13.445/2017). A Nova Lei de Migração, que entrou em vigor em novembro de 2017 (apesar de
o fluxo venezuelano ter intensificado a partir de 2015), foi considerada um avanço em termos
de proteção de Direitos Humanos, pois menciona princípios como acolhida humanitária
(JAROCHINSKI SILVA; SAMPAIO, 2018), que se aplica à migração venezuelana e substitui
o obsoleto Estatuto do Estrangeiro, documento da época da ditadura militar, que securitizava a
migração e via os migrantes como inimigos.
O incremento de nacionais da Venezuela atraiu a atenção das autoridades brasileiras
sobre em qual instituto ou regularidade migratória seria aplicado aos venezuelanos. No caso do
Brasil, a regularidade migratória dos venezuelanos, passou principalmente pela via do refúgio.
Em conformidade com a Convenção de Genebra de 1951, a Lei Brasileira de Refúgio 9474/97
considera como refugiado todo indivíduo que saiu de seu país de origem por um bem-fundado
temor de perseguição por razões de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões
políticas, assim como devido a grave e generalizada violação de direitos humanos em seu país
de origem (BRASIL, 1997). Desde 2015, o número de solicitações de refúgio cresceu
exponencialmente:
27

Gráfico 3 - Crescimento das solicitações de refúgio (2014-2018).

70000
61649
60000

50000

40000

30000

20000
17802

10000
722 3008
191
0
2014 2015 2016 2017 2018

Número de solicitações de refúgio de venezuelanos Tendência

Fonte: Elaboração Própria, baseada no Ministério da Justiça e Segurança Pública (2019).

Não restam dúvidas de que há pessoas que se enquadrariam na definição clássica de


refugiado, mais especificamente por opinião política ou pertencimento a grupo social, devido
às violações de direitos humanos ocorridas na Venezuela, apontadas por diversas organizações,
a exemplo da Human Rights Watch e Anistia Internacional. Entretanto, segundo Jarochinski
Silva (2017), o número de casos que uma eventual perseguição ocorreu, não coincide com o
número de solicitações de refúgio até hoje.
Como exposto anteriormente, o refúgio é por vezes utilizado como caminho migratório
devido a sua facilidade ou na falta de outras opções, uma vez que é um procedimento sem custos
e garante o acesso à documentação e aos serviços como educação, saúde e assistência social
(JAROCHINSKI SILVA, 2017). No âmbito do Brasil, essas pessoas que não sofreram
perseguição e não se aplicam a definição clássica, poderiam ser classificadas como refugiadas
se evocado o princípio da Declaração de Cartagena sobre grave e generalizada violação de
direitos humanos, sendo essa uma decisão do Estado brasileiro.
Visando uma saída para as pessoas irregulares e as quais o instituto do refúgio
não se aplicaria, o governo brasileiro após pressão de ONGs e órgãos governamentais, publicou
uma nova normativa, a Portaria Interministerial nº 9, que resolve:

Art. 1º - Esta Portaria regulamenta a autorização de residência ao imigrante que esteja


em território brasileiro e seja nacional de país fronteiriço, onde não esteja em vigor o
Acordo de Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul e países
associados. (BRASIL, 2018, p. 57).
28

Com a Portaria nº 9, os venezuelanos podem solicitar residência temporária de dois


anos, com possibilidade de renovação para tempo indeterminado, além de estarem isentos de
pagarem qualquer taxa, visto a situação de vulnerabilidade que se encontram essas pessoas. Até
o fim de 2018, 39,692 venezuelanos haviam solicitado residência temporária (UNHCR, 2019).
No entanto, o Brasil continua usando uma solução ad hoc para a regularização migratória dos
venezuelanos, sem legislação específica, usando a via da residência temporária através da
Portaria nº 9 e pela via do refúgio.
Roraima é o estado brasileiro com a maior população venezuelana. O perfil dessa
população é predominantemente de pessoas jovens (72% do total entre 20 e 39 anos), de maioria
masculina (59%), solteira (54%) e com bom nível de escolaridade (78% com nível médio
completo e 32% com superior completo ou pós-graduação) (SIMÕES et al., 2017).
Dados mais recentes da OIM (2018), por meio do Displacement Tracking Matrix - DTM
mostram que 71% da população tem entre 25 e 49 anos, 58% é masculina, 50% é solteira, e
também possuem bom nível de instrução, com 51% tendo nível secundário, 8% com nível
técnico, 26% superior e 2% pós-graduação. Portanto, comparando-se os anos, vê-se que o perfil
no geral pouco mudou, de que a população venezuelana em Roraima é formada por pessoas em
idade economicamente ativa, e com bom nível de instrução.
O emprego é outro fator marcante para os venezuelanos em Roraima. 42% estão
empregados (desses, 82% em trabalhos informais) e a taxa de desemprego figura entre 57%
(OIM, 2018), o que aumenta as chances de exploração laboral, trabalho análogo à escravidão e
outros riscos para a vida e dignidade dessas pessoas, situações estas documentadas, como visto
em reportagem da Deutsche Welle (BOECHAT, 2018). Muitas dessas pessoas não conseguem
emprego por não serem absorvidos pelo mercado de trabalho roraimense, estado cuja economia
em grande parte gira em torno de servidores públicos, com poucas ofertas no setor de serviços
e industrial, praticamente inexistente. Somado a isso, existe a dificuldade de revalidação de
diplomas, devido a seu alto custo por exemplo. Assim, isso traduz-se em uma perda lastimável
para o estado e para o país, onde pessoas que poderiam exercer suas profissões e contribuir para
a sociedade, se veem trabalhando muitas vezes em subempregos.
Outros dados importantes incluem que 37% das pessoas entrevistadas no DTM
consomem menos de três refeições por dia e 40% recebeu apoio por parte de alguma instituição,
principalmente as religiosas (OIM, 2018). Os serviços públicos, já debilitados antes da
migração, se encontram sobrecarregados: 77% consegue acesso a serviços de saúde, porém
apenas 45% têm acesso à educação (OIM, 2018). A situação de moradia dos venezuelanos em
Boa Vista e Pacaraima é preocupante, com uma parcela alta da população vivendo em condição
29

de rua ou em ocupações e abrigos informais. De acordo com dados do ACNUR, a população


abrigada até o fim de 2018 era de 6,632 pessoas (indígenas e não-indígenas) estavam abrigadas
(UNHCR, 2019). A maioria dos abrigos são gerenciados pelo ACNUR em parceira com o
Exército e ONGs, e têm o objetivo de acolher pessoas em situação vulnerável de moradia.
A sobrecarga dos serviços públicos e o alto índice de criminalidade fez com que setores
da sociedade usassem os imigrantes como bode-expiatórios para todos os problemas existentes,
criminalizando a figura do diferente. Vale esclarecer que Roraima figura entre os estados
brasileiros com maior disputa de facções criminosas (G1, 2018), sendo essa uma das principais
razões que levaram ao aumento dos índices de criminalidade e mortes violentas nos últimos
anos, e não devido à migração, como muitos pregam.
O tema da migração no estado gerou polarização e foi usado por figuras políticas como
meio de angariar votos, onde os candidatos prometiam o fechamento da fronteira como uma
maneira de interromper a migração e os males que essa trazia ao estado, em suas concepções
(G1, 2018). Além disso, Roraima é um estado historicamente conformado por migrantes, mas
a memória coletiva local não parece ater-se a esse fato. O aumento da xenofobia levou a casos
de violência contra migrantes, em cidades como Mucajaí (G1, 2018), onde migrantes foram
expulsos de uma casa abandonada e tiveram seus pertences queimados, e em Pacaraima
(DEUTSCHE WELLE, 2018), com expulsão coletiva de várias famílias e destruição de suas
barracas.
É de extrema importância ressaltar que o esforço em favor do acolhimento e dignidade
dessas pessoas se deu, e em grande medida permanece sendo, pela sociedade civil. A
Universidade Federal de Roraima (UFRR) mostrou-se como um local pioneiro de trabalho e
sensibilização em prol da causa, por meio da Cátedra Sérgio Vieira de Mello e projetos como
o Rede Acolher (SIMÕES, 2017). O Governo Federal, desde o começo do aumento do fluxo
não deu a atenção devida à questão, mesmo com as constantes cobranças da Prefeitura de Boa
Vista e o Governo do Estado, que tinham ações tímidas e pontuais sobre a crise. Somente em
fevereiro de 2018 acontece a federalização da resposta através de uma medida provisória e dois
decretos que reconheciam e davam parâmetros para a coordenação e organização da questão
migratória para ter-se uma resposta para a crise humanitária.
Foi instaurada assim a Operação Acolhida – Força-Tarefa Logística Humanitária em
Roraima, operação composta pelas Forças Armadas (Exército, Aeronáutica e Marinha),
Governo Federal, Estadual e Municipal, órgãos governamentais, organizações internacionais e
organizações não-governamentais. Preparação, montagem da estrutura e execução das ações de
ajuda humanitária no estado de Roraima. Entre os atores figuram os ministérios, a Polícia
30

Federal, Defensoria Pública da União, Conselho Tutelar, agências das Nações Unidas
(ACNUR, OIM, UNFPA, UNICEF, ONU Mulheres e PNUD), Fraternidade - Federação
Humanitária Internacional, Médicos Sem Fronteiras, Comitê Internacional da Cruz Vermelha e
Cruz Vermelha Brasileira, Cáritas e diversas outras instituições. A atuação dessas instituições
se dá em diversas áreas como logística, ordenamento, acolhimento, coordenação e integração.
Aliado a isso, foi criado o processo de interiorização, que visa transferir venezuelanos
que queiram voluntariamente ir para outros estados da federação que possuem maior capacidade
de integração e oportunidades laborais, tendo em mente os problemas estruturais e sobrecarga
em Roraima.
Até o fim de 2018, 3,9 mil pessoas haviam sido interiorizadas (UNHCR, 2019). Essa,
porém, é uma tarefa desafiadora e necessita crescer, visto que as previsões são de que a
migração aumente, segundo dados das Nações Unidas (UNHCR, 2018). São aspectos
fundamentais o trabalho contínuo contra a xenofobia e fomento da integração, alianças e
acordos entre as diversas organizações e empresas para que sejam geradas oportunidades
laborais, melhoria dos serviços disponíveis à população migrante e brasileira e coordenação
conjunta com outros países da região. No contexto local há ganhos em razão da migração e para
Jarochinski Silva (2018, p. 739):

[...] é preciso reconhecer e aproveitar os benefícios advindos direta ou indiretamente


deste fluxo que certamente vem dinamizando a economia local, melhorando a
qualidade e oferta local de serviços, gerando oportunidades de mobilização de
recursos públicos para melhoria, ampliação e criação de equipamentos sociais que
atendem a população local em geral, bem como a entrada de tecnologias sociais
trazidas pelas instituições privadas e organismos internacionais que vem
desempenhando atividades de assistência e proteção destas pessoas.

Com todo o exposto acima, é inegável a complexidade da migração venezuelana no


Brasil e de como é preciso de muito know-how para buscar soluções. O Brasil deve avançar na
regularização dessas pessoas, buscando o melhor instituto para esse fluxo caracterizado como
misto. A migração também é mista em outros sentidos, devido a presença de grupos vulneráveis
como mulheres, crianças, LGBTI, indígenas, entre outros, que devem ter atenção especial pelo
Brasil devido às suas necessidades específicas, pois apresenta-se nesse caso uma sobreposição
de vulnerabilidades: uma migrante mulher, negra e LGBTI, por exemplo, é muito mais
vulnerável que um migrante homem solteiro em idade adulta. O Brasil tem a oportunidade de
mostrar-se um exemplo de acolhimento e coordenação nessa emergência humanitária,
mostrando-se verdadeiramente como um país de imigrantes.
31

3 PROTEÇÃO INTERNACIONAL DE PESSOAS LGBTI

A população de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros e


intersexo (LGBTI) tem seus direitos violados e ainda sofre em muitas partes do mundo altos
níveis de violência e perseguição. Essas e outras razões levam esses a migrarem por melhores
condições de vida, ou mesmo em busca de proteção internacional, como no caso dos refugiados.
Nesse sentido, investiga-se brevemente o contexto de criminalização de orientações sexuais e
identidades de gênero em determinados países, os instrumentos e iniciativas mais relevantes na
esfera internacional que, ao longo dos últimos anos, vêm buscando salvaguardar a proteção de
pessoas LGBTI. Analisado o contexto histórico-jurídico, é possível ver que foi necessário o
desenvolvimento dos direitos LGBTI e a interpretação desses como direitos humanos, com
destaque para os Princípios de Yogyakarta, para que posteriormente os direitos dos migrantes
e refugiados desse grupo ganhassem mais atenção e iniciativas de proteção a nível internacional.
Nesse sentido, analisa-se a diáspora LGBTI, também chamada de sexílio, suas motivações e o
desenvolvimento da proteção às pessoas inseridas nessa dinâmica.

3.1 DIÁSPORA LGBTI

A reprodução de sexualidades e identidades de gênero não conformistas com os padrões


impostos pela sociedade heteronormativa levam a desrespeito, assédio, discriminação
perseguição e violência contra indivíduos LGBTI. Atualmente, relações consensuais entre o
mesmo sexo são criminalizadas ou consideradas ilegais em 70 países membros das Nações
Unidas (6810 com leis explícitas de criminalização e outros 2 que criminalizam de facto11), o
que representa 35% do número total de membros da organização, segundo o último relatório da
Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais, a ILGA (2019).
A pena de morte como punição é realizada em 6 estados: Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Nigéria,
Sudão e Somália – havendo possibilidades de aplicação também na Mauritânia, Emirados

10
África: Argélia, Botsuana, Burundi, Camarões, Chade, Comores, Eritreia, Essuatíni, Etiópia, Gâmbia, Gana,
Guiné, Quênia, Libéria, Líbia, Malaui, Mauritânia, Maurício, Marrocos, Namíbia, Nigéria, Senegal, Serra
Leoa, Somália, Sudão do Sul, Sudão, Tanzânia, Togo, Tunísia, Uganda, Zâmbia, Zimbábue; América Latina e
Caribe: Antígua e Barbuda, Barbados, Dominica, Granada, Guiana, Jamaica, St. Kitts e Nevis, Santa Lúcia,
São Vicente e Granadinas; Ásia: Afeganistão, Bangladesh, Butão, Brunei Darussalam, Irã, Kuwait, Líbano,
Malásia, Maldivas, Myanmar, Omã, Paquistão, Qatar, Arábia Saudita, Singapura, Sri Lanka, Síria,
Turcomenistão, Emirados Árabes Unidos, Uzbequistão, Iêmen; Oceania: Kiribati, Papua Nova Guiné, Samoa,
Ilhas Salomão, Tonga, Tuvalu. Além desses 68 países, somam-se países não-membros da ONU como a
Palestina (Gaza) e algumas províncias da Indonésia.
11
De facto significa que esses países não possuem leis específicas de criminalização de relações homossexuais,
porém utilizam premissas legais e interpretações jurídicas para punir e perseguir pessoas por tais relações.
32

Árabes Unidos, Catar, Paquistão e Afeganistão (ILGA, 2019). Vale ressaltar que indivíduos
LGBTI sofrem hostilidades e preconceitos por razões sociais, políticas, jurídicas e religiosas,
independentemente de o Estado criminalizar ou não suas relações ou expressões identitárias.
No contexto desses países, com sua orientação sexual e/ou identidade de gênero
constantemente confrontadas e reprimidas, essas pessoas veem a migração internacional como
uma das alternativas possíveis. Para Theodoro e Cogo (2018), a exemplo de outros marcadores
sociais como etnia e classe, a orientação sexual e o gênero aparecem como variáveis
importantes dentro do contexto migratório. É importante frisar que a migração não é homogênea
e apresenta várias realidades em si mesma: um indivíduo que já se encontra vulnerabilizado
devido ao processo migratório, vê-se duplamente vulnerável quando parte do grupo de LGBTIs.
O imaginário de indivíduos LGBTI e a migração estão fortemente ligados, como
exposto por Bell e Binnie (2004 apud VIEIRA, 2011), que trazem o debate da mobilidade como
um elemento constitutivo da identidade dessas pessoas, que tendem a distanciar-se do lugar em
que nasceram e buscar lugares mais acolhedores e tolerantes como grandes metrópoles onde
possam se expressar e ser quem são. As mobilidades humanas motivadas por orientação sexual
têm sido denominadas de “sexílio” para sociólogos como Manuel Guzmán (1997), no qual
baseou-se La Fountain-Stokes (2008, p. 296, tradução nossa), que explica:

Há um grande número de indivíduos na América Latina [...] e em todo o mundo que


se sentem compelidos a deixar seu local de nascimento devido a preconceito,
intolerância ou perseguição com base em sua sexualidade ou expressão de gênero,
uma situação que o sociólogo porto-riquenho Manuel Guzmán denominou "sexilío".
O sexílio pode ser o resultado de rejeição familiar implícita que leva a ansiedade e
infelicidade pessoais, ou agressões individuais e coletivas (família, igreja, governo)
que envolvem abusos físicos e emocionais, censura, punição, assédio público,
discriminação no trabalho e violência.

Vê-se, pois, que a realidade do sexilío é complexa e envolve inúmeras razões e causas
para que a migração ocorra. Um indivíduo pode migrar por livre e espontânea vontade,
buscando mais tolerância e liberdade em torno de sua sexualidade e gênero, ou mesmo por
motivos laborais e econômicos, podendo também aliar todos esses motivos (REZENDE, 2018).
No entanto, um grande número de pessoas não possui opções e são literalmente expulsas de
seus países, não sendo este tipo de migração caracterizada como voluntária e sim um
deslocamento forçado. Essa circunstância é regulamentada para uma categoria específica de
proteção internacional: o refúgio (THEODORO; COGO, 2018).
O instituto do refúgio é um direito assegurado por meio do Direito Internacional dos
Refugiados, no qual LGBTIs estão incluídos e podem emaná-lo em situações aplicáveis. No
entanto a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 não mencionam explicitamente que
33

perseguição por razão da orientação sexual e/ou identidade de gênero se aplicam para a
concessão do refúgio (NASCIMENTO, 2015). Sem embargo, a categorização de que pessoas
LGBTI que fogem de perseguições e outras violações de direitos qualificam-se para a
solicitação de refúgio se deu principalmente pelo critério “grupo social”, um dos cinco motivos
nos quais baseiam-se os documentos supracitados.
Por sua ampla interpretação, alguns Estados passaram a incorporar e compreender que
o critério “grupo social” incluía situações como mulheres que sofrem violência baseada em
gênero e, posteriormente, LGBTIs (THEODORO; COGO, 2018). O primeiro caso de
reconhecimento e concessão de pedido de refúgio em razão de orientação sexual foi na Holanda,
em 1981 (SPIJKERBOER, 2013). A tendência posterior foi de reconhecimento por parte de
outros países, entre eles o Brasil. O ACNUR estima que 42 Estados reconheceram como
refugiados indivíduos cujo fundado temor de perseguição se relacionava à orientação sexual
e/ou identidade de gênero (ONU LIVRES E IGUAIS, 2018)
No entanto, a análise dos pedidos de refúgio baseados em orientação sexual e/ou
identidade de gênero fica totalmente condicionada aos países de destino, com suas concepções
culturais e estereótipos que recaem sobre os solicitantes. Há casos emblemáticos como o da
República Tcheca, que aplicou técnicas de “falometria”12 para a análise do pedido de refúgio
(UNHCR, 2011), e inúmeras outras13 análises polêmicas que levam em conta vestimenta, gostos
musicais e tudo que é considerado como sendo do “mundo LGBTI” como critério para a
concessão de refúgio (SPIJKERBOER, 2013).

Autoridades de imigração e outras, além dos profissionais que trabalham com o tema
do refúgio, com frequência não possuem o conhecimento adequado ou estão
conscientizados sobre pessoas refugiadas que fogem de perseguição com esses
fundamentos. A credibilidade do depoimento de uma pessoa às vezes é avaliada com
base em suposições estereotipadas, e alguns solicitantes de refúgio são até mesmo
obrigados a “provar” sua orientação sexual ou identidade de gênero por meios que por
si sós podem caracterizar uma violação de direitos humanos (como requerer evidência
de atos íntimos, ou testes de reação a imagens explícitas). Em alguns casos, esses
solicitantes de refúgio são mesmo devolvidos (as) ao seu país de origem, com
instruções de “ir para casa e ser discreto (a)”, em violação a normas fundamentais de
direitos humanos (ONU LIVRES E IGUAIS, 2018).

Há ainda a questão de que muitas pessoas não sabem que possuem o direito de solicitar
refúgio por fundado temor de perseguição por motivos de orientação sexual, identidade de
gênero, expressão de gênero ou características sexuais (ONU LIVRES & IGUAIS, 2018).

12
Teste falométrico que mede o fluxo sanguíneo no pênis dos imigrantes quando submetidos a conteúdo
pornográfico heterossexual. Os indivíduos que ficam excitados, tem o pedido de refúgio negado.
13
Para um aprofundamento na questão de estereótipos usados na análise de pedidos de refúgio, ver Spijkerboer
(2013), disponível em: <https://bit.ly/1zWlaRQ>.
34

Outras não tem mesmo noção de sua sexualidade ou outras identidades e talvez nem saibam o
que significa os termos lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais ou intersexo, ainda que
sejam utilizados pelas autoridades do país de destino (ONU LIVRES & IGUAIS, 2018).
Por fim, é importante ressaltar que o desenvolvimento jurídico dos direitos de
solicitantes de refúgio e refugiados LGBTI deu-se por uma crescente interpretação de que
direitos LGBTI são, sobretudo, direitos humanos (VIEIRA, 2011),

3.2. INSTRUMENTOS RELATIVOS À PROTEÇÃO INTERNACIONAL LGBTI

Atualmente, não existem instrumentos internacionais vinculantes específicos sobre a


proteção de pessoas LGBTI. Sem embargo, há um movimento crescente que busca respaldar
essa proteção em outros documentos a nível internacional de alcance global, sobretudo por meio
de interpretações. A Declaração Universal dos Direitos Humanos - DUDH, de 1948, o Pacto
Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais - PIDESC e o Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos - PIDCP, ambos de 1966, serão o ponto de inicial de análise.
A DUDH define que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
direitos” (art. I) e poderão os indivíduos gozarem dos direitos descritos neste documento “sem
distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”
(art. II.1) (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948, p.4). Em seu artigo XVI.1,
menciona o direito ao casamento entre homens e mulheres maiores de idade, excluindo a
proteção às uniões entre pessoas do mesmo sexo (LELIS; GALIL, 2018).
O PIDESC, em seu artigo 2º proíbe a discriminação a restrição ao usufruto dos direitos
desse pacto por “motivos de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou qualquer outra
opinião, origem nacional ou social, fortuna, nascimento, qualquer outra situação”
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1966, p.2) não mencionando discriminação
contra LGBTIs, e o PIDCP veta a distinção ou tratamento desigual por “raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião política ou de outra índole, origem nacional ou social, posição econômica,
nascimento ou qualquer outra condição social” em seus artigos 2º, 4º, 24 e 26 (ONU, 1966, p.1-
9), tampouco mencionando especificamente a categoria de LGBTIs. Vê-se, pois, que os três
instrumentos básicos de proteção dos direitos humanos não têm a identidade de gênero e
orientação sexual como tema representado, mas, por interpretação, parte-se do princípio que
“qualquer outra condição, situação ou condição social”, abrangeria o grupo de LGBTIs..
35

Nas décadas seguintes à aprovação dos três documentos, enquanto vários outros tratados
de proteção a outros grupos minoritários vulneráveis eram criados (LELIS; GALIL, 2018), até
o início dos anos 2000, a temática da orientação sexual e identidade de gênero era invisibilizada
ou mesmo ausente nas discussões dos organismos e fóruns internacionais. O primeiro debate
acerca dos direitos de pessoas LGBTI e sua proteção aconteceu em 2003, por iniciativa do
Brasil, que propôs uma resolução específica proibindo a discriminação baseada na orientação
sexual à então Comissão de Direitos Humanos da ONU (OLIVEIRA, 2017). A resolução
“Direitos Humanos e Orientação Sexual” contou com o apoio de vários países e ONGs que
lutavam pela causa, mas também gerou controvérsia e pressão por parte de países como Estados
Unidos e Vaticano e foi abandonada em 2005 sem decisões ou resultados concretos
(ETTELBRICK; ZERÁN, 2010).
Apesar de não ter sido aprovada, a resolução proposta pelo Brasil pavimentou o caminho
e trouxe visibilidade à causa, ganhando apoio de vários ativistas, que em 2004 em um fórum de
diálogo em Genebra, se encontraram com a então alta-comissária da ONU para os direitos
humanos (ETTELBRICK; ZERÁN, 2010). O objetivo do fórum era trazer o tema orientação
sexual e identidade de gênero para o escopo de trabalho das Nações Unidas, e gerou ao final,
um pedido da alta-comissária para que um grupo de especialistas se articulassem e definissem
o status do direito internacional em relação a esses dois temas. Um grupo de ONGs que
defendiam os interesses de LGBTIs delegou ao Serviço Internacional para Direitos Humanos e
à Comissão Internacional de Juristas para que coordenassem e selecionassem uma comissão de
especialistas de todo o mundo para que averiguassem a questão da orientação sexual e
identidade de gênero sob a égide do direito internacional dos direitos humanos (ETTELBRICK;
ZERÁN, 2010).
Reunidos em Yogyakarta, na Indonésia, em novembro de 2006, um grupo renomado de
experts juristas, de ONGs e afiliados à ONU, deram origem a um marco, sendo este o
documento mais consistente já produzido no que diz respeito aos direitos LGBTI no âmbito
internacional: os Princípios de Yogyakarta. O guia firmado por especialistas de 29 países, gerou
29 princípios que têm como alicerce direitos humanos universalmente conhecidos, mas que na
prática, por diversas razões, constantemente são renegados a indivíduos LGBTI (OLIVEIRA,
2017). Pode-se dizer que os princípios foram criados visando dois propósitos principais:

Primeiro, para oferecer uma avaliação justa do estado atual da lei de direitos humanos
aplicada às minorias sexuais, em particular, lésbicas, gays, bissexuais e transexuais
(LGBT). No centro dos PY, estão as normas de direitos humanos de universalidade e
não-discriminação. Que nenhum ser humano ou grupo de seres humanos é
considerado fora da linguagem clara e direta dos tratados internacionais que são a
36

fundação do direito internacional dos direitos humanos. Que indivíduos LGBT não
são uma exceção a esse entendimento básico da aplicação da lei de direitos humanos.
Em segundo lugar, os PY, detalhando as obrigações de ação do Estado com cada um
dos 29 princípios, pretendem aumentar a capacidade de ativistas e defensores LGBT
de desafiar com sucesso algumas das mais persistentes violações de direitos humanos
enfrentadas pela comunidade (ETTELBRICK; ZERÁN, 2010, p. 4, grifos nosso).

O documento, além de conceituar a orientação sexual e a identidade de gênero, e


refletindo a aplicação da legislação internacional de direitos humanos, emite recomendações
aos Estados e resguarda direitos e liberdades de LGBTIs como: direito ao gozo universal dos
direitos humanos; direito à igualdade e não discriminação; direito ao reconhecimento perante a
lei; direito à vida; direito à segurança pessoal; direito à privacidade; direito de não sofrer
privação arbitrária da liberdade; direito de não sofrer tortura e tratamento ou castigo cruel,
desumano e degradante; proteção contra abusos médicos; direito à liberdade de opinião e
expressão; direito de constituir uma família; responsabilização (accountability); entre outros
(CENTRO LATINO-AMERICANO EM SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS, 2007,
p. 12-35).
No que concerne a migrantes e refugiados LGBTI, os princípios 22 e 23 têm particular
relevância. O princípio 22 brinda o direito à liberdade de ir e vir, assim como o de fixar
residência, não podendo os Estados impedirem a entrada, saída ou retorno de pessoas baseado
em sua orientação sexual e/ou identidade de gênero e o princípio 23 refere-se especialmente ao
direito de buscar e desfrutar do asilo (refúgio), não podendo os Estados devolverem essas
pessoas a seus países de origem caso experimentem um bem-fundado temor de perseguição,
tortura ou qualquer outro tipo de tratamento hostil e inumano (CENTRO LATINO-
AMERICANO EM SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS, 2007).
Recentemente, no ano de 2017, foram apresentados os Princípios de Yogyakarta +10,
com o intuito de complementar os princípios originais. Os novos princípios atualizam as noções
de orientação sexual e identidade de gênero e coloca novas obrigações aos Estados
(GRINSPAN; EHRT, 2019). Os Princípios de Yogyakarta apesar de não serem vinculantes,
formaram a base para a proteção relativa aos direitos humanos de pessoas LGBTI (SOUZA;
SCHIRMER; ANNONI, 2018) e nada impede de serem modelo para uma futura convenção
internacional, assim como existe em relação à discriminação racial, mulheres, crianças e
deficientes (VIANA, 2014). Estes também trouxeram o tema para debates do Conselho de
Direitos Humanos da ONU, que passou a emitir resoluções a respeito.
De fato, em 2011 foi adotada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, em votação
acirrada (22 votos a favor, 19 contrários e 3 abstenções), a resolução A/HRC/RES/17/19,
37

primeira das Nações Unidas sobre direitos humanos, orientação sexual e identidade de gênero.
Nessa, recorda-se a DUDH, assim como o PIDESC e o PIDCP, que evocam os princípios de
universalidade, interdependência, indivisibilidade e inter-relação, e que todos os indivíduos
nascem livres e iguais em dignidade e direitos, independentemente de qualquer status (raça,
cor, língua, religião, etc,) (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2011, p.1). Ademais,
expressou “grave preocupação com atos de violência e discriminação, em todas as regiões do
mundo, cometidos contra indivíduos por causa de sua orientação sexual e identidade de
gênero”, por fim, encomendando um relatório a ser feito pelo Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Direitos Humanos - ACNUDH sobre esse tema e como o direito internacional
dos direitos humanos poderia ser usado contra a existência de leis discriminatórias contra
LGBTIs (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2011, p.1).
O relatório solicitado fora produzido no final de 2011, apresentado por meio da
resolução A/HCR/19/41 e foi intitulado “Leis Discriminatórias, Práticas e Atos de Violência
contra Indivíduos em Razão de sua Orientação Sexual e Identidade de Gênero”, sendo
publicado em 2012 o documento “Nascidos livres e iguais: orientação sexual e identidade de
gênero no Direito Internacional dos Direitos Humanos”14, um guia para Estados entenderem
suas obrigações e quais passos devem tomar para alcançar a proteção de LGBTIs. O documento,
em conformidade com o relatório produzido, argumenta que “A proteção de pessoas baseada
na orientação sexual e identidade de gênero não requer a criação de novas leis ou direitos
especiais para pessoas LGBT”, e sim requer que seja garantida a não discriminação no gozo de
todos os direitos (PILLAY, 2013, p. 11).
Já no ano de 2014, o Conselho de Direitos Humanos adotou a resolução
A/HRC/RES/27/32, que obteve desta vez 25 votos a favor, 14 contrários e 7 abstenções,
mostrando um maior engajamento dos Estados. Essa foi a segunda resolução do Conselho a
reconhecer os direitos LGBTI como direitos humanos. A resolução brinda os mesmos
princípios básicos da primeira, saúda avanços obtidos a nível internacional, regional e nacional
sobre o tema, contempla o relatório feito pelo ACNUDH e solicita um novo relatório atualizado,
com maior atenção a mostrar ações específicas e maneiras de superar a violência e
discriminação (ONU, 2014).
Ainda no tocante ao Conselho, adotou-se a resolução A/HRC/RES/32/2 (a mais recente
até o momento), a qual considerou-se um marco histórico no tocante à proteção e no

14
Disponível em:
<https://www.ohchr.org/Documents/Publications/BornFreeAndEqualLowRes_Portuguese.pdf>.
38

reconhecimento de indivíduos LGBTI enquanto sujeitos de direito (LELIS; GALIL, 2018).


Essa, mais extensa e fundamentada que as outras, além de condenar os atos de violência e
discriminação contra LGBTIs, definiu a figura de um “expert independente”, com um mandato
que inclui, mas não se limita a: averiguar a situação da população LGBTI pelo mundo; avaliar
a aplicação de normas dos direitos humanos na proteção a LGBTIs; dialogar e consultar Estados
e outros atores relevantes como agências da ONU, ONGs, academia, etc.; e conduzir, facilitar
e auxiliar no aconselhamento, assistência técnica, e cooperação internacional sobre o tema
(ONU, 2016). Até o fim de 2018, o expert independente havia emitido dois relatórios.
Em relação a todas essas resoluções aprovadas, faz-se necessário trazer à tona o conceito
de resolução, um dos instrumentos no Direito Internacional. Resolução é um ato que emana,
em princípio, de uma organização e que propõe aos seus destinatários um determinado
comportamento, não possuindo caráter vinculante (DINH, DAILLER, PELLET, 1999, p. 422
apud GORISCH, 2013, p. 31). Não obstante, conforme ilustra Hildebrando Accioly (2012, p.
120), apesar da não-obrigação perante as resoluções, estas exercem certa pressão política e,
caso os Estados levem em conta, “uma prática pode desenvolver-se e resultar depois de algum
tempo na consciência de que existe obrigação jurídica, que pode dar origem ao nascimento de
costume”. Sendo assim, as resoluções em torno dos direitos LGBTI traduzem-se em soft law15,
que pode ser evocada por exemplo em casos de responsabilidade internacional. Importante
frisar também que:

Da mesma forma que a ONU edita Declarações, que são afirmações de um direito
consuetudinário, a Resolução nada mais é do que uma “chamada de atenção” a algo
que não é novo no mundo jurídico. A Resolução ganha ou perde força de acordo com
a força da votação, impacto mundial etc. Sem dúvida, a Resolução do Conselho de
Direitos Humanos da ONU, que pela primeira vez considerou os direitos LGBT como
Direitos Humanos, teve um impacto fortíssimo no âmbito internacional, ainda mais
em um momento político e jurídico em que vivemos, com vários países reconhecendo
diversos direitos civis, como o casamento homoafetivo, a adoção por homossexuais
etc (GORISCH, 2013, p. 31).

No que diz respeito à proteção de pessoas baseada na orientação sexual e identidade de


gênero, é pertinente frisar que esta não se desenvolve somente no âmbito internacional global,
havendo atuação de tribunais nacionais e também esferas regionais de promoção dos direitos
humanos (PILLAY, 2013). Cabe destacar sistemas regionais como o Sistema Europeu e o

15
Pode-se afirmar que na sua moderna acepção ela compreende todas aquelas regras cujo valor normativo é menos
constringente que o das normas jurídicas tradicionais, seja porque os instrumentos que as abrigam não detêm o status
de "normas jurídicas", seja porque os seus dispositivos, ainda que insertos no quadro de instrumentos vinculantes,
não criam obrigações de direito positivo aos Estados (MAZZUOLI, 2015, p. 184-185).
39

Sistema Interamericano de Direitos Humanos e a jurisprudência da Corte Europeia de Direitos


Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
No tocante à Europa, a Corte Europeia de Direitos Humanos julgou inúmeros casos
relativos à orientação sexual e à identidade de gênero, sendo considerado o sistema mais
avançado na temática. A Convenção Europeia dos Direitos do Homem em seu artigo 14 garante
os direitos e liberdades presentes no documento e proíbe discriminações em razão de “sexo,
raça, cor, língua, religião, opinião política ou outra opinião, origem nacional ou social, a
pertença a uma minoria nacional, a riqueza, o nascimento ou qualquer outra situação” (CORTE
EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS, 1950).
Entre alguns casos emblemáticos figuram: Salgueiro da Silva Mouta vs. Portugal
(1999), em que a Corte considerou que a recusa de um juiz em dar a custódia de seu filho a um
pai homossexual violava o direito de privacidade; Karner vs. Áustria (2003), onde a justiça da
Áustria proibiu o direito de posse e ocupação do parceiro de um homem já falecido sob um
imóvel, pois esse direito no país só se aplicava a casais heterossexuais, tendo a Corte intervindo;
L. e V. vs. Áustria (2003) e S. L. vs. Áustria (2003), onde a Corte considerou as diferenças entre
idade de consentimento para relações heterossexuais e homossexuais (O’FLAHERTY;
FISHER, 2008, p. 219).
No Sistema Interamericano, a OEA, em 2008, aprovou de forma unânime a resolução
AG /RES-2435 (XXXVIII-O/08), encabeçada pelo Brasil, afirma os direitos da DUDH e da
Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem e demonstra preocupação com os atos
de violência perpetrados por motivos de orientação sexual e identidade de gênero
(ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2008). A partir disso, todos os anos,
passou-se a emitir resoluções acerca do tema e “com conteúdo cada vez mais enfático quanto à
erradicação de violência homofóbica no continente” no âmbito da Assembleia Geral da OEA,
sendo exemplos as resoluções 2504, 2600 e a 2356 (BAHIA, 2012).
Um caso paradigmático foi o Caso Atala Riffo e filhas vs. Chile, em 2003, onde a Corte
Interamericana de Direitos Humanos aceitou seu primeiro caso de violação de direitos LGBTI.
O contexto era de uma juíza chilena que havia perdido a guarda de suas três filhas para o ex-
marido, pois na interpretação do juiz, a “opção sexual” da mãe e de sua parceira prejudicaria
no desenvolvimento psíquico e socioambiental das meninas. O caso chegou à Corte Suprema
do Chile, que também deu parecer favorável ao pai. Atala entrou com uma denúncia contra a
República do Chile junto a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que condenou o Chile
por violação de direitos como direito à igualdade, não discriminação, à vida privada e proteção
40

da honra de dignidade e recomendou o Estado a adotar políticas de erradicação da discriminação


com base em orientação sexual (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 2012).
Ainda no âmbito interamericano, há destaque para a Convenção Interamericana Contra
Toda Forma de Discriminação e Intolerância (2013), o primeiro e verdadeiro documento
internacional de caráter vinculante produzido até hoje no que concerne a direitos LGBTI. O
documento foi elaborado a partir de articulação perpetrada pelo Brasil. Apesar do avanço na
matéria de direitos LGBTI, o que mostra um engajamento maior das Américas, não houve
adesão significativa dos Estados. Apenas 10 assinaram o documento, e países influentes como
Estados Unidos, México e Canadá não o fizeram (LELIS; GALIL, 2018). Outra entidade
importante criada foi a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que desde 2011, possui
um painel temático sobre os direitos LGBTI, que acabou virando uma de suas relatorias
(VEADO, 2019).
Conclui-se diante dessa visão panorâmica, que até o momento não existem documentos
com caráter normativo relativo à proteção de pessoas LGBTI. Uma análise do número de países
que criminalizam relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo (70) nos traz à tona um
realismo em que não se vê no horizonte esse documento vinculante. Não é demonstrado
compromisso internacional suficiente. Sem dúvidas os Princípios de Yogyakarta figuram como
o documento mais importante já produzido, mas carecem de aplicabilidade. Entre as
instituições dos sistemas global e regional, a ONU é o principal canal de discussão e de busca
por meios de assegurar os direitos LGBTI, mas baseia-se principalmente por meio de
interpretações e respaldo em instrumentos internacionais já reconhecidos e enraizados no
costume, em vez de optar pela defesa da criação de instrumentos específicos, como defendem
alguns autores e ONGs. Apesar de ter realizado conquistas, seja por meio das resoluções,
discursos oficiais de autoridades, campanhas e outros, a ONU até o momento baseia-se em soft
law, carecendo a população LGBTI de um instrumento vinculante que lhes dê segurança
jurídica.
41

4 PROTEÇÃO E INTEGRAÇÃO A REFUGIADOS E MIGRANTES VENEZUELANOS


DO GRUPO LGBTI
Indivíduos LGBTI em situação de refúgio e migração fazem parte do fluxo global de
pessoas entre fronteiras, resultado de diferentes motivações e aspirações. Frequentemente, esses
indivíduos vêm de países onde há preconceito e discriminação latente. Pensando nisso e tendo
como objeto de estudo pessoas LGBTI em Roraima no contexto de migração e refúgio
analisaremos o contexto no qual o estado está inserido, eleito como o mais perigoso do Brasil
para pessoas LGBTI (GGB, 2016) e como a resposta ao fluxo migratório venezuelano se insere
no trabalho de acolhimento, proteção e integração de LGBTIs em situação de refúgio e
migração. Após a contextualização, discorreremos brevemente neste capítulo sobre as
principais ações de acolhimento e integração de pessoas, assim como todos os problemas
estruturais da resposta.

4.1 PANORAMA DE PESSOAS LGBTI EM SITUAÇÃO DE REFÚGIO E MIGRAÇÃO EM


RORAIMA

O Brasil recebeu, até julho de 2018, 369 solicitações de refúgio relacionadas à


orientação sexual e identidade de gênero (ACNUR, 2018). No entanto, o país figura como o
que mais mata LGBTIs, ficando em segundo lugar o México, mas que registra menos da metade
de assassinatos do primeiro colocado. Inserido nesse contraste, encontra-se o estado de
Roraima, que conforme levantamento do Grupo Gay da Bahia – GGB em 201416, era o mais
perigoso para os LGBTIs, levando em conta o tamanho da população e registrava 6,15 mortes
por milhão de habitantes (GRUPO GAY DA BAHIA, 2016). Quatro anos depois, com dados
de 2018, o estado registrou 2 mortes de LGBTIs em tal ano, mas de acordo com o GGB (2018),
devido à omissão dos órgãos de segurança pública em divulgar tais dados, as taxas de homicídio
variam muito.
Entre os assassinatos ocorridos em Roraima nos últimos anos, estão o de Hiago Nunes
Trindade, jovem de 18 anos encontrado morto em novembro de 2017 e que era homossexual
assumido (ASSOCIAÇÃO PARADA DO ORGULHO LGBT DE SÃO PAULO, 2017), e mais
recentemente em maio de 2019 o crime com requintes de crueldade de Sandrielly Vasconcelos,
travesti de 24 anos que foi encontrada morta, com seu corpo queimado e mãos e pés amarrados
(G1, 2019).

16
Relatório sobre o ano de 2014, porém, produzido apenas em 2016.
42

Tendo em conta o contexto de violência a LGBTIs em Roraima, estado que passa por
grande fluxo migratório forçado, consequentemente estes migrantes e solicitantes de refúgio
seriam afetados. Fato que chamou atenção à causa e gerou protestos de entidades e associações
roraimenses ligadas à causa LGBTI e de migrantes, foi o assassinato da travesti venezuelana
Sthephany Tablante, de 27 anos em outubro de 2017, morta com oito facadas profundas nas
costas e outros 12 cortes no corpo, sendo o crime perpetrado por um brasileiro (G1, 2017). O
suspeito alegou legítima defesa à uma suposta tentativa de roubo, no entanto, uma testemunha
do crime informou que o desentendimento se deu pela recusa do suspeito de pagar por um
programa sexual negociado com Sthephany (G1, 2017). O acontecimento fatal chama a atenção
para invisibilidade no contexto migratório de pessoas LGBTI, que comumente são alvos de
violência psicológica, física e verbal (LIVRES E IGUAIS, 2018).
Não há estimativas recentes e específicas do número de migrantes e solicitantes de
refúgio pertencentes ao grupo LGBTI na migração venezuelana no Brasil até o momento. E, se
analisadas três pesquisas17 relevantes no campo que analisam o perfil de venezuelanos no
Brasil, pouco, ou praticamente nada é abordado sobre indivíduos LGBTI. Uma plataforma no
âmbito da análise das solicitações de refúgio relacionadas à orientação sexual e à identidade de
gênero foi lançada em 2018 pelo Ministério da Justiça e o ACNUR, sendo o Brasil o quarto
país no mundo a tornar estes dados públicos, juntamente com Inglaterra, Noruega e Bélgica
(ACNUR, 2018).
Há de se louvar este pioneirismo a nível regional e global. No entanto, conforme afirma
a própria plataforma, existem limitações metodológicas de mapeamento e a maioria das pessoas
não revela sua identidade de gênero e/ou orientação sexual. No tocante à Venezuela, 8 pessoas
de 2010 a julho de 2018 tinham como fundamento para a solicitação de refúgio sua identidade
de gênero e/ou orientação sexual, e desses 8 pedidos, apenas 2 foram reconhecidos e 6 ainda se
encontram pendentes (ACNUR, 2018). Esse número é minúsculo se comparado à quantidade
de migrantes e solicitantes de refúgio que entraram no Brasil até hoje, onde a maioria deste
último grupo não teve suas solicitações analisada.

17
1) REACH - Information Needs Assesment. Venezuelan Migration in Northern Brazil, disponível em:
<https://bit.ly/2DC1g6q>. 2) OIM - DTM Brasil – N°1 Monitoramento do Fluxo Migratório Venezuelano,
disponível em: <https://bit.ly/2FKMRqu>. 3) Perfil Sociodemográfico e Laboral da imigração venezuelana no
Brasil, disponível em: <https://bit.ly/320QX7a>.
43

Figura 2- Solicitações de refúgio relacionadas à orientação sexual e à identidade de


gênero no Brasil (2010-2018).

Solicitações por país de origem

Nigéria
52 Gana
Camarões
7
8 121 Serra Leoa
11 Togo
18 Angola
18
Rep. Dem. do Congo
Senegal
21 Venezuela
25 45 Colômbia
43 Outros

Fonte: ACNUR, 2018.

A falta de informações com o recorte de pessoas LGBTI possui inúmeras causas, entre
as quais nem todas desejam revelar sua orientação sexual e/ou identidade de gênero por medo,
vergonha ou traumas, outros não se identificam ou nem mesmo têm conhecimento do que
significa ser LGBTI (LIVRES & IGUAIS, 2018). Mas há de reconhecer também o impacto das
autoridades e organismos que trabalham com migração, que, a partir do momento que não têm
o grupo LGBTI como prioridade, ajudam na invisibilidade imposta, conforme corroborado por
Fernandes (2019).
Apesar da invisibilidade, se levarmos em conta os 168 mil venezuelanos que chegaram
ao Brasil até junho de 2019 (PLATAFORMA DE COORDINACIÓN PARA REFUGIADOS
E MIGRANTES DE VENEZUELA, 2019) e nos basearmos no cálculo de que pelo menos
10%18 da população brasileira é LGBTI, teríamos então aproximadamente 17 mil pessoas
pertencentes a este grupo no país. Além desse dado, corrobora para este tema uma pesquisa
feita no âmbito do estudo da população LGBTI migrante e refugiada em Roraima, com destaque
para travestis e trans. O trabalho foi de realização de Beth Fernandes, presidente da Associação
de Travestis e Transexuais de Goiás, a ASTRAL. Entre os LGBTI mais vulneráveis, figuram
os em situação de prostituição, onde em Boa Vista foram contabilizadas 87 travestis, 50

18
Cálculo baseado na pesquisa de Beth Fernandes (2019) que considera 10% da população como LGBTI e
no relatório do Grupo Gay da Bahia (2018), que calcula como 16,5% esta mesma população LGBTI.
44

mulheres lésbicas e “muitos” homens gays, todos de nacionalidade venezuelana


(FERNANDES, 2019).
Entre a população LGBTI, o grupo trans é o mais vulnerável se comparado a outros do
grupo. No relatório sobre violência do GGB, mostrou-se que:

Enquanto nos Estados Unidos, com 330 milhões, mataram-se no ano passado 28
transexuais, no Brasil, com 208 milhões de habitantes registraram-se 164 mortes: o
risco de uma trans brasileira ser assassinada é 9 vezes maior do que as americanas.
[...] Esse total de 164 mortes, se referidas a 1 milhão de pessoas trans existentes em
nosso país, estimativa referendada pelas próprias associações da categoria, indicam
que o risco de uma pessoa trans ser assassinada é 17 vezes maior do que um gay
(GRUPO GAY DA BAHIA, 2018, p. 1-2).

Sabe-se que pessoas LGBTI em situação de refúgio e migração são duplamente


vulneráveis: primeiro, por serem migrantes ou refugiados, e segundo, por conta de sua
orientação sexual e/ou identidade de gênero (LIVRES & IGUAIS, 2018). Muitas também
sofrem preconceito e violência não somente em seu país de origem, mas também no país de
destino, inclusive por outros migrantes e refugiados em centros de acolhida (LIVRES &
IGUAIS, 2018). Estas situações são relatadas por um grupo de venezuelanas trans, entre elas,
Francis Lombardi de 27 anos:

Violência física não houve, mas verbal, todo dia, do país de origem e do país de
destino. Uma perturbação torturante, a violência física acontece no território
brasileiro”. Fala da Francis. [...] Migrar e peregrinar nas fronteiras pode transgredir as
convenções estabelecidas e sendo pessoas trans incorpora o simbolismo de
vagabundear, ou seja, trans migrando é sinônimo de vagabundagem. O preconceito é
muito maior. [...] O estigma que impera no país confunde os estereótipos que todas
trans seja (sic) prostitutas. E não foi diferente com a Francis (FERNANDES, 2019, p.
18-20).

Em reportagem do G1, Maria Gabriela Hernández, de 22 anos e amiga de Francis, conta


sua experiência em Roraima:

Teve (sic) uma situação muito feia que eu passei lá em Roraima. Lá tinha muito
preconceito. Em duas ocasiões, que eu saí na rua e encontrei dois travestis, eles (sic)
bateram na minha cara, na minha perna, nos meus braços porque elas pensavam que
eu também vivia na rua me prostituindo e vendendo meu corpo. Mas isso não era
verdade” [...] (G1, 2018).

Outras trans venezuelanas de nome relatam o preconceito desde a Venezuela, e também


após a chegada ao Brasil, onde após serem abrigadas em um dos abrigos públicos depois de
viverem meses na rua, passaram a sofrer discriminação por alguns de seus compatriotas
venezuelanos:
45

Na Venezuela, não nos sentíamos protegidas. Havia muito preconceito e não


podíamos contar com ajuda em agressões preconceituosas ou xingamentos. No Brasil,
ouvimos da própria polícia uma palestra sobre a lei de combate à violência contra
mulheres e sabemos que existem políticas públicas de saúde para a população LGBTI”
[...] Ainda em Boa Vista, no abrigo para o qual foram levadas, foram informadas sobre
o processo de interiorização, implementado pelo governo federal com o apoio do
ACNUR e de outras agências da ONU para realocar venezuelanos em outras cidades
do país com melhores perspectivas de integração. E optaram por Manaus. Ao
chegarem na capital amazonense à bordo de um avião da Força Aérea Brasileira, o
grupo foi alojado em um dos abrigos públicos da cidade. Mas esta ainda não seria uma
solução para elas, que passaram a ser discriminadas por outros venezuelanos no local.
“Diziam que éramos um mal exemplo para as crianças e as famílias. Assim, pedimos
ao ACNUR para sair de lá”, conta Yasmira [...] (ACNUR, 2018).

Os relatos nos exemplificam o cotidiano de pessoas LGBTI, particularmente as do grupo


trans, e como a discriminação e violência estão presentes na migração dessas pessoas, onde os
perpetradores podem ser tanto da comunidade/país de acolhida, quanto do mesmo país de
origem. Uma breve visita aos principais pontos onde se concentram a população venezuelana
como abrigos, o Posto de Informação da Rodoviária, ou mesmo perguntando pelas ruas,
comprova essa realidade. É possível ver também como há um estereótipo em ligar a identidade
trans à prostituição. E apesar de serem contabilizadas 87 pessoas trans em situação de
prostituição durante pesquisa de uma semana em agosto de 2018 (FERNANDES, 2019), é
necessário trazer à tona as situações de extorsão e exploração às quais são submetidas essas
pessoas.
A característica de migração por si só já exclui o sonho dessas pessoas em conseguir um
emprego devido à xenofobia, e somada à homo, lesbo e transfobia, levam gays, lésbicas e
pessoas trans à marginalização social. Devido à falta de oportunidades, muitos se submetem a
subempregos, e como demonstra o Relatório de Violência Homofóbica publicado pelo
Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos19, em 2013, transexuais
e travestis muitas vezes têm a prostituição como única opção de sobrevivência (BRASIL, 2013).
Outra questão importante é o tema da saúde. De acordo com a ONU, haviam 120 mil
pessoas na Venezuela vivendo com o vírus HIV em 2016, e a crise generalizada do país afetou
drasticamente o trabalho da UNAIDS (VOICE OF AMERICA NEWS, 2018), tendo esse
número muito provavelmente aumentado com o agravamento da crise. Dados do UNAIDS
(2018) mostram que o risco de infecção pelo vírus HIV é 27 vezes maior entre homens que
fazem sexo com homens, 23 vezes maior entre pessoas que usam drogas injetáveis, 13 vezes
maior entre profissionais do sexo e 13 vezes maior entre mulheres trans. A Prefeitura de Boa
Vista registrou de janeiro a novembro de 2018 pelo menos 152 casos de infecção por HIV ou

19
Atual Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
46

AIDS em venezuelanos que passaram pela rede de saúde (PREFEITURA MUNICIPAL DE


BOA VISTA, 2018). É importante, no entanto, a conscientização em torno do tema. Apesar de
estarem mais propensos a infecções por HIV, os dados da Prefeitura de Boa Vista devem ser
interpretados criticamente. LGBTIs não devem ser ligados a esse estigma, que reflete uma visão
antiquada e preconceituosa do grupo. Existem pessoas soropositivas de todas as sexualidades,
sexos, etnias, credos e cores.
Apesar de todos esses problemas, a rede de apoio específica a esse público migrante em
Roraima é escassa. As poucas casas de acolhida ou abrigos não dão conta de atenderem as
demandas de toda essa população, e permanecer na rua é permitir que essas pessoas sofram
exploração (FERNANDES, 2019). Dessa forma, é fundamental a diminuição das
vulnerabilidades e invisibilidades impostas à essas pessoas, assim como garantir o pleno acesso
a direitos como documentação, acesso à saúde, educação, proteção, segurança e oportunidades
no geral.
Tendo em conta esse pano de fundo sobre a realidade de muitos LGBTI em situação de
refúgio e migração, e após analisar ligeiramente o contexto das pessoas mais vulneráveis desse
grupo em Roraima e mais especificamente em Boa Vista, partimos ao breve relato de ações e
projetos realizados pelos principais atores nacionais e internacionais na resposta humanitária
ao fluxo migratório venezuelano no estado, tendo como objetivo a proteção e integração dessas
pessoas. As ações, ainda que pontuais e que infelizmente não alcançam todos os LGBTI, têm
impacto positivo na vida de muitos.

4.2 PROTEÇÃO E INTEGRAÇÃO DE VENEZUELANOS LGBTI EM SITUAÇÃO DE


REFÚGIO E MIGRAÇÃO EM RORAIMA

Levando em conta o cenário dramático de muitos migrantes e refugiados LGBTI em


Roraima, agências da ONU, e mais especificamente o Fundo de População das Nações Unidas
- UNFPA e a Agência da ONU para Refugiados - ACNUR, em parceria com outras instituições
internacionais, ONGs e o governo, passaram a realizar ações e projetos que dão atenção especial
a esse público. Essas ações e projetos que visam a proteção e integração do grupo estudado
serão brevemente narradas aqui, refletindo o real impacto e relevância das mesmas.
O UNFPA tem por papel prevenir e responder às questões de violência sexual e
violência de gênero em situações de emergência humanitária, assim como assegurar que as
pessoas tenham acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva (UNFPA, 2019). Atuando desde
agosto de 2017 no estado de Roraima, tem como população alvo de seu trabalho mulheres,
47

gestantes, lactantes, jovens, mães com crianças, indígenas, pessoas com HIV, pessoas LGBTI
e outras com necessidades específicas (UNFPA, 2019). O público LGBTI é uma das prioridades
do UNFPA no estado, trabalhando a agência com o fornecimento de informações como direitos
LGBTI e empoderamento, ações de conscientização sobre violência no Brasil e saúde sexual,
além de criar espaços seguros nos Postos de Triagem para atender e acolher essa população,
tendo atendido 2.909 pessoas desde dezembro de 2018 (UNFPA, 2019).

Figura 3 - Atendimento do UNFPA em espaço próprio e utilização de visibilidade


LGBTI.

Fonte: UNFPA, 2018.

Seguindo o trabalho com LGBTIs, O UNFPA realizou um dos primeiros grandes


eventos no âmbito das Nações Unidas em Roraima: o Seminário “Migração, Refúgio e
Violência de Gênero: promovendo o direito de todas e todos” realizado em julho de 2018 e que
abordou desafios e perspectivas na garantia de direitos a mulheres, população LGBTI e outros
grupos vulneráveis em Roraima. O evento, em parceria com a ONU Mulheres, teve a
participação de órgãos municipais, estaduais, judiciário, sociedade civil e outras agências da
ONU juntamente com moradores de seis abrigos para migrantes e refugiados de Boa Vista que
relataram suas experiências fora e dentro do abrigo (UNFPA, 2018).
Durante o seminário, foram ouvidas representantes da comunidade LGBTI, a exemplo
da venezuelana Elizabeth Betancourt de 19 anos. Ela afirma que por sua nacionalidade e pelo
fato de ser trans, sofre muita discriminação principalmente por parte dos homens, e que o
48

trabalho sexual fez parte de sua realidade, mesmo não sendo o que a jovem queria
(AMAZÔNIA, 2018).

Figura 4 - Aulas de defesa pessoal para LGBTIs e outros grupos vulneráveis.

Fonte: UNFPA Brasil/Yareidy Perdomo, 2018.

Pessoas que sofrem violência de gênero muitas vezes não têm capacidade de controle
sobre as ações dos agressores e acabam sem ter meios de fugir ou se defender. Pensando nessa
problemática, a Universidade Federal de Roraima, o UNFPA, o ACNUR, o UNICEF e a Cáritas
e o Instituto Migrações e Direitos Humanos criaram o projeto “Respeito à diversidade: Defesa
Pessoal e Rodas de Conversa”, com o objetivo de “fortalecer psíquica, física e coletivamente
as mulheres e a população LGBTI em situação de migração e refúgio” (UNFPA, 2018). O
projeto, voltado para os participantes e seus filhos e filhas, conta com profissionais de diferentes
áreas como saúde, direito e artes marciais, e tem o intuito de defesa pessoal e para enfrentar o
sexismo, machismo e outras desigualdades sociais, segundo a professora Eliane Costa,
coordenadora geral do projeto (UNFPA, 2018).
Um passo importante na luta por assegurar proteção a pessoas LGBTI, mas também de
outros grupos vulneráveis, foi a criação do Centro de Convivência e Atendimento Psicossocial,
uma parceria do UNFPA com o ACNUR e a instituição de caridade Exército da Salvação,
financiado pela União Europeia. Inaugurado em janeiro de 2019, o Centro oferece diferentes
serviços para brasileiros, refugiados e migrantes como atendimentos de serviço social, apoio
psicológico, orientação jurídica, oficinas terapêuticas e atividades socioeducativas para pessoas
que sofreram violência baseada em gênero e outras violações de direitos (ONU BRASIL, 2019).
49

O projeto ressalta a importância de oferecer acolhimento tanto à população migrante e


refugiada, quanto à de brasileiros, proporcionando integração e coexistência pacífica.
Conforme visto anteriormente, foram relatados casos de discriminação a LGBTIs dentro
dos próprios abrigos, onde essa população deveria sentir-se segura. Nesse sentido, o UNFPA
realiza rodas de conversa como a que ocorreu em junho de 2019, no abrigo Santa Tereza,
voltado para homens migrantes e refugiados em Boa Vista e onde foram relatados casos de
homofobia (UNFPA, 2019). O UNFPA forneceu informações relacionadas à saúde sexual e
combate à homofobia dentro do abrigo:

É importante lidar com esse público, para diminuir, por meio de ações educativas, as
contaminações por infecções sexualmente transmissíveis e também mostrar a eles os
insumos, camisinhas masculinas e femininas, falar sobre os benefícios da prevenção
combinada e a importância de respeitar a comunidade LGBT(UNFPA, 2019).

O ACNUR tem a proteção de refugiados e solicitantes de refúgio que pertencem ao


grupo LGBTI com uma de suas preocupações. Em Roraima, a agência tem suas ações pensadas
nesse recorte e trabalha muito com itens de visibilidade. O intuito é mostrar que o ACNUR e
seus funcionários estão disponíveis para lidar com o público LGBTI para questões como
proteção, informação e aconselhamento, assim como garantir que as pessoas se sintam
acolhidas nos espaços como centros de acolhida, abrigos, etc.

Figura 5 - Cartaz no Centro de Referência para Refugiados e Migrantes

Fonte: ALVARENGA, 2018.


50

Figura 6 - Aviso de segurança para pessoas LGBTI na língua indígena warao, com
tradução “você está seguro aqui”

Fonte: ACNUR, 2019

Em 2019, o ACNUR lançou uma série de consultas para identificar formas de garantir
que refugiados e solicitantes de refúgio LGBTI possam buscar apoio caso sofram discriminação
ou algum tipo de violência. A primeira rodada aconteceu em maio em Genebra, e nas palavras
do Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, “É vital criarmos
espaços seguros para os solicitantes de refúgio e refugiados LGBTI, para que eles não se sintam
compelidos a esconder sua orientação sexual ou identidade de gênero em um esforço para se
proteger”, salientando também que nos últimos anos o ACNUR investiu no treinamento em
torno da proteção de LGBTIs para seu staff e parceiros (ACNUR, 2019). Essas diretrizes e
abordagens refletem no dia a dia do trabalho da agência em Roraima.

Figura 7 - Pins que demonstram segurança para pessoas LGBTI utilizados pelo staff do
ACNUR e parceiros na missão em Roraima.

Fonte: ALVARENGA, 2018


51

Abrigos em Boa Vista como o Rondon 3, Latife Salomão e Santa Tereza possuem
população LGBTI organizada. Também existem casas seguras dentro dos abrigos e uma casa
segura em segredo na cidade, não sendo divulgada sua localização. Em termos de abrigamento,
o ACNUR garante a utilização do nome social nas carteirinhas de identificação dos abrigos para
todas as pessoas que assim o desejam. Também são feitos diagnósticos periódicos com a
população LGBTI, buscando entender suas demandas.
Falando em termos de integração, o ACNUR faz parceria com instituições públicas
como o Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), que por meio da Vara da Justiça Itinerante e
com a participação de cartórios da cidade, realizaram de forma gratuita o casamento de 101
casais venezuelanos do abrigo Rondon I em Boa Vista, entre eles casais LGBTI20 (G1, 2019).
A intenção é que mais projetos como esse aconteçam e mais pessoas sejam beneficiadas, tanto
migrantes e refugiados quanto nacionais. Umas das beneficiadas pelo projeto foram Yordenis
Marin e Marielianna Sosa, casal lésbico que se conheceu em Maturín, na Venezuela e está junto
há quatro anos. Elas relatam suas experiências e como foi casar-se no Brasil:

Na Venezuela, o casamento homoafetivo é proibido. A intolerância contra


homossexuais é muito forte por lá, e com as dificuldades financeiras, resolvemos vir
para o Brasil, onde estamos há um ano. Aqui sentimos preconceito constantemente,
mas pelo menos não é tão forte e segregador quanto lá”, disse Marielianna (G1, 2019).

Figura 8 - Yordenis e Marielianna

Fonte: G1-RR, 2019.

20
A reportagem não contabilizou o número de casais LGBTI.
52

No processo de interiorização do Governo Federal em parceria com a ONU e que leva


venezuelanos a outras partes do Brasil, o ACNUR tem papel importante e participa ativamente.
Em uma das viagens, seis mulheres LGBTI venezuelanas foram selecionadas. Elas explicam
como depois de morarem meses na rua, finalmente foram abrigadas, porém sofreram
discriminação por parte de outros venezuelanos nos abrigos de Boa Vista e Manaus, cidade para
onde foram interiorizadas.
A opção pensada foi a criação do primeiro abrigo LGBTI para refugiados do Brasil na
cidade de Manaus, Amazonas, coordenado pela ONG da mesma cidade Manifesta LGBTI +,
com o apoio do ACNUR e parceiros, onde as venezuelanas ficarão até três meses até
estabilizarem suas vidas, abrindo depois oportunidade para outros solicitantes de refúgio
LGBTI (ACNUR, 2018). O ACNUR afirma não ter o quantitativo sobre a população LGBTI
de refugiados no Brasil nem de casos de violência nos abrigos, mas deram exemplo de que em
um voo de interiorização de 180 pessoas, cinco delas eram LGBTI (FOLHA DE SÃO PAULO,
2018).
Tanto com a matéria publicada pelo site do ACNUR Brasil, quanto a da Folha de SP, as
venezuelanas LGBTI parecem estarem felizes com processo e interiorização e adaptando-se à
nova vida. Em Manaus, o ACNUR também firmou parceria com o Centro de Ensino Técnico
Profissionalizante de Manaus, que oferece cursos para refugiados e solicitantes de refúgio
LGBTI para atuarem em áreas de estética, auxiliar administrativo, auxiliar de cozinha e
confeitaria (BRASIL, 2018). Ações de inserção laboral figuram entre os meios mais
importantes para promover a autonomia e independência dessas pessoas, mas nesse caso é
reforçado o esteriótipo do gay ou da (do) trans cabeleireira (o)/manicure, área laboral em que
as pessoas assumem ser lugar de LGBTIs trabalharem.
Quatro transexuais venezuelanas interiorizadas ao Rio de Janeiro em julho de 2018
relataram a dificuldade de adaptação e recomeço da nova vida na cidade, assim como casos de
discriminação e agressão. Francis Lombardi foi vítima de um assalto, com agressão física, tendo
sua prótese dentária quebrada pelos assaltantes (G1, 2018). Abrigadas na Casa Nem, fundação
sem fins lucrativos que acolhe pessoas em situação de vulnerabilidade, as quatro trans viviam
de doações e não tinham perspectiva de emprego, apesar de participarem de um programa de
assistência social e saúde da Prefeitura do Rio de Janeiro (G1, 2018).
Apesar da situação delicada e vulnerável que alguns LGBTI encontraram pós-
interiorização, os casos noticiados ao quais se tem acesso, parecem mostrar em grande maioria
que o processo de interiorização alcançou seu objetivo. O município de Chapada (RS) recebeu
52 venezuelanos, entre eles quatro homossexuais, e todos conseguiram emprego, segundo o
53

Ministério do Desenvolvimento Social – MDS, (que fez questão de mencionar a sexualidade


dos indivíduos) e que atua no programa de interiorização e afirma estar trabalhando com
ferramentas que possam garantir direitos LGBTI, como nome social e respeito à orientação
sexual e identidade de gênero, trabalhando conjuntamente com os Centros de Referência de
Assistência Social – CRAS e os Centros de Referência Especializados de Assistência Social -
CREAS dos municípios (BRASIL, 2019).
Por último, ainda na parte de integração de pessoas LGBTI em situação de refúgio e
migração, destaca-se o fomento do UNFPA a jovens LGBTI que montaram um grupo de arte
dentro de um abrigo da Operação Acolhida em Roraima. O grupo, nomeado “DiverTsarte”
(diversão e arte), foi criado após um casal LGBTI fazerem esquetes de humor dentro do abrigo,
atraindo a atenção de outras pessoas (UNFPA, 2019). Jesus Daniel Villaroel, de 26 anos e
representante do grupo, explica como a iniciativa foi um meio de driblar a discriminação que
sofria dentro dos abrigos por parte de outros venezuelanos:

Estamos tratando de mudar o pensamento das pessoas por meio de nossa arte. Estamos
conscientizando as pessoas sobre a comunidade LGBTI, sobre a necessidade de não
ter preconceito e homofobia. Os venezuelanos nos falam palavras pejorativas.
Tentamos mudar e fazê-los perceber que somos todos iguais (UNFPA, 2019).

Uma das ações do UNFPA são rodas de conversa para sensibilizar a população abrigada
e fomentar a integração e a não-discriminação. Também apóiam o projeto DiverTsarte para
aumentar a resiliência comunitária e criar uma rede de proteção:

Nós fazemos vários encontros com eles para falar sobre violência e saúde sexual e
reprodutiva, para que eles sejam multiplicadores dentro dos abrigos, entendendo que
a arte e a cultura vão promover a resiliência comunitária e, por meio disso, os direitos
humanos, de uma maneira lúdica e divertida. A população LGBTI é uma população
que costuma sofrer muito. Eles estão conseguindo identificar casos de proteção e
ampliando a atenção do UNFPA dentro desses espaços em que fazem parte (UNFPA,
2019).
54

Figura 9 - Casal idealizador do DiverTsarte e que usa a arte como elemento de luta
contra a discriminação

Fonte: DÉBORA RODRIGUES/UNFPA BRASIL, 2019

4.3 DESAFIOS E SUGESTÕES NO ACOLHIMENTO DE REFUGIADOS E MIGRANTES


LGBTI EM RORAIMA

A realidade migratória do estado de Roraima trouxe inúmeros desafios em termos de


ordenamento da fronteira, de acesso a serviços como saúde, educação, segurança e outros
direitos básicos da população migrante e refugiada. Duplamente vulneráveis, lésbicas, gays,
bissexuais, pessoas trans e intersex inseridas nessa dinâmica migratória sofrem além de
violações de direitos básicos, discriminação e violência verbal, psicológica e corporal, desde o
país de origem, durante seu percurso e também no país receptor, tanto pela população local
quanto por outros migrantes e refugiados.
Não existem estatísticas que calculem o número de migrantes e refugiados LGBTI no
Brasil, muito menos na emergência humanitária em Roraima. Para termos um parâmetro
mínimo, podemos calcular a população de migrantes e refugiados LGBTI na migração
venezuelana no Brasil em 17 mil pessoas, baseado no saldo migratório até o momento21 (junho
de 2019) e pesquisas que mostram que a população não cisgênera e heterossexual gira em torno
de 10% a 16%. Dessa forma, temos um contingente populacional significativo de um grupo
migrante e refugiado mais vulnerável que outros grupos.

21
Dados usados apenas para estimativas e que contabilizam entradas e saídas e que não condizem exatamente com o
real número de pessoas residindo em território brasileiro
55

Conforme visto anteriormente, o estado de Roraima já foi considerado o mais perigoso


para LGBTIs no Brasil em 2016, fato que é respaldado total ou parcialmente pelos inúmeros
assassinatos ocorridos nos últimos anos, incluindo o de uma travesti venezuelana. Assassinatos
cometidos por ódio a pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero que não
conformam com a sociedade heteronormativa, por vingança, por desejo de eliminar aquilo que
é indesejável para alguns e por LGBTIfobia. O estado conta com inúmeras organizações
internacionais, ONGs brasileiras e de vários outros países, e órgãos públicos trabalhando na
resposta. No tocante ao trabalho com migrantes e refugiados LGBTI, analisado o contexto e
ações concretas (e noticiadas) para com essa população, vemos que o acolhimento ideal dessas
pessoas está longe no horizonte.
Parece evidente então que há muito caminho a ser percorrido. Agências e fundos
internacionais, assim como entidades e órgãos que trabalham diretamente com o público
migrante e refugiado LGBTI devem trabalhar no caminho contrário à invisibilidade estrutural
e criarem mais espaços seguros, políticas públicas e condições para a proteção e integração
desses indivíduos. Um início pertinente seria identificar dados e estatísticas desse grupo.
Gerenciadores desses dados devem incorporar variáveis como orientação sexual e identidade
de gênero com o intuito de ter acesso às experiências, problemas e desigualdades no processo
migratório, processo este que não deve de maneira alguma comprometer a segurança,
confidencialidade e bem-estar dessas pessoas (SHIDLO; AHOLA, 2013).
A Convenção dos Refugiados de 1951 está pautada em princípios como liberdade de
expressão e na dignidade e pluralidade humana (TÜRK, 2013), assim como a Lei 9474/97, em
conformidade com o primeiro documento. Portanto, devem ser reconhecidas como refugiadas
as pessoas que possuírem um bem fundado temor de perseguição, e que tenham seus direitos
básicos violados, utilizando “grupo social” como critério, tendo já as Nações Unidas emitido
documentos que mostram violação de direitos LGBTI e o inclusive o ACNUR, pautando-se nos
princípios de Yogyakarta (TÜRK, 2013).
Espaços seguros para a população LGBTI refugiada e migrante no Brasil é uma das
ações prioritárias do ACNUR neste tema (ACNUR, 2018). O fator psicológico é extremamente
importante na vida de uma pessoa que passa por situações traumáticas enquanto migram, por
isso é essencial que exista atendimento psicológico em mais lugares, como acontece no Centro
de Convivência e Atendimento Psicossocial onde atua o Exército da Salvação em parceria com
o UNFPA e o ACNUR.
Fernandes (2019) se aprofunda mais no assunto e exemplifica que muitas vezes o
público LGBTI se vê ignorado pela rede de atenção e se sentem intimidados. Um exemplo é a
56

utilização da Lei Maria da Penha por mulheres lésbicas, travestis e transexuais, em que há pouca
procura por parte destas nas delegacias por desconhecerem o processo e mesmo que têm esse
direito garantido como qualquer outra mulher, somado ao despreparo de muitos agentes da rede
que desconhecem o pleno funcionamento dessa lei (FERNANDES, 2019). Profissionais de
saúde utilizam o nome de nascimento em vez do nome social22, constrangendo pessoas trans,
além de as colocarem em recintos que não conformam com sua identidade de gênero
(FERNANDES, 2019).
Os problemas de saúde são agravados pela falta de acesso à educação. No ramo laboral,
é necessária maior conscientização de empresas e empregadores em relação a essa população.
Ações de inserção laboral como a de Manaus, vista no subtópico anterior, são rodeadas por
esteriótipos:

O que é novo é pensar essas informações sobre sexualidades desprovidas de pré-


julgamentos. O mercado de trabalho não consegue fazer isso, ainda impulsiona gays
para serem cabeleireiros, travestis e transexuais para serem profissionais do sexo. De
nada adianta falar para do futuro destes profissionais se não falarmos de direitos
humanos e saúde mental se não pensarmos em uma convivência humana mais justa e
igualitária, que possa fazer o usuário de nossos serviços e mercado de trabalho a
população LGBT se sentir respeitado, independentemente do que ele é
(FERNANDES, 2019, p. 41).

É necessária a capacitação de funcionários de organizações internacionais, ONGs,


agentes públicos de toda a rede de proteção, educação, saúde e segurança, assim como os meios
de comunicação, que no caso de Roraima, em muitos casos dão um tom negativo à imigração.
A reportagem sobre o casamento coletivo em um abrigo, onde casais LGBTI estavam incluídos,
é um bom exemplo de como a mídia pode trabalhar para dar visibilidade e fomentar a inclusão
dessas pessoas.
A questão do abrigamento é um outro dilema existente em Roraima. Não existem
abrigos específicos para o público LGBTI como em Manaus. Conversando com alguns atores
da operação, principalmente o ACNUR, ouviu-se o argumento de que quando LGBTIs fazem
parte de um abrigo plural, com vários tipos de pessoas, a boa convivência e inclusão é
fomentada. No entanto, é importante frisar que se vêm ocorrendo casos de discriminação,
conforme visto anteriormente, conclui-se que as pessoas não estão sendo devidamente
conscientizadas, ou mesmo punidas, pois LGBTIfobia é inadmissível e crime. Portanto, há que
se pensar melhor em torno desse debate.

22
Garantido por lei e que poucas trans têm conhecimento e buscaram retificação civil, além do despreparo dos
agentes em não perguntar como a pessoa prefere ser chamada.
57

Importante reconhecer as ações e iniciativas, ainda que pontuais, como utilização de


visibilidade, aulas de defesa pessoal, casamento coletivo e todas as outras vistas até agora. Deve
ser dada atenção ao processo de interiorização e sua implementação, vide o caso das trans
interiorizadas. Se reconhece que os desafios são muitos, e que é necessário mais trabalho em
torno do tema da migração e do refúgio LGBTI, inclusive da academia, dando mais voz à essas
pessoas e ouvindo seus relatos, independente de carência de fontes e dados sobre essa
população. É papel de todos que formam a sociedade dar cada vez visibilidade a essa causa.
58

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crise política, econômica e social na Venezuela é a razão do movimento migratório


de mais de 4 milhões de pessoas, que se deslocaram em direção a diversos países, entre eles o
Brasil. O estado de Roraima é a principal porta de entrada dessas pessoas no país e uma força-
tarefa logística e humanitária realizada por várias entidades públicas, organizações
internacionais, organizações não-governamentais e a sociedade civil foi instaurada para lidar
com esse fluxo. Dentre os grupos mais vulneráveis encontram-se o de refugiados e migrantes
forçados LGBTI.
Mais de 70 países criminalizam relações entre pessoas do mesmo sexo, alguns inclusive
com pena de morte. As recentes conquistas internacionais em termos de direitos LGBTI,
principalmente no reconhecimento de que estes são direitos humanos se deu através da
interpretação de documentos já celebrados internacionalmente e que ganharam contribuição de
documentos como os Princípios de Yogyakarta.
Mesmo sem existir até o momento um instrumento vinculante que garanta os direitos
LGBTI, conquistas nesse campo abriram caminho para os mesmos direitos, porém com ênfase
no refúgio e na migração. Isso impactou a realidade brasileira, que demonstra progressismo na
área, principalmente em termos de conquistas de direitos civis e da possibilidade de refúgio,
onde muitas pessoas receberam status de refugiados em razão de perseguição por orientação
sexual e/ou identidade de gênero. Não obstante, o país apresenta índices alarmantes de violência
e assassinato de LGBTIs, gerando um constatado paradoxo.
Nesse pano de fundo, os migrantes e refugiados LGBTI em Roraima, que não possuem
número contabilizado, são atendidos por uma rede de atores da operação. Conforme verificado,
a hipótese central de que pessoas LGBTI em situação de refúgio são tratadas com invisibilidade
e exclusão, foi constatada, apesar das ações e iniciativas em prol da proteção e integração.
Exemplificadas nesta pesquisa, foram realizadas ações como eventos sobre o tema
LGBTI, rodas de conversa aliadas a aulas de defesa pessoal, uso de visibilidade, a criação de
espaços seguros. Estas terminam por ser muito pontuais, e alcançam um número limitado de
pessoas desse grupo. É evidente a falta de treinamento e preparo de agentes públicos que não
fornecem tratamento, acolhimento e acesso a serviços adequados, assim como das organizações
internacionais, que, em tese, têm como uma de suas responsabilidades a proteção e garantia de
direitos da população migrante e refugiada LGBTI, como no caso do UNFPA e do ACNUR.
Programas elaborados conjuntamente por esses atores apresentaram falhas como no caso da
interiorização das mulheres trans ao Rio de Janeiro e acertos, como no caso do casamento
59

coletivo que incluiu pessoas LGBTI, e considera-se necessário que o tema ganhe mais
visibilidade na Operação Acolhida.
Conclui-se que é necessário mais pesquisas e investigação no campo da migração
LGBTI em Roraima e no Brasil como um todo, uma vez que as principais instituições que
trabalham no campo não têm esse recorte como prioritário. Não existem muitos materiais que
debatem e analisam o tema, o que corrobora para a noção de invisibilidade, perpetrando a
sociedade influenciada pela heteronormatividade que exclui orientações sexuais e identidades
de gênero consideradas diferentes e/ou indesejáveis.
Neste contexto, não são garantidos muitos direitos básicos a essas pessoas, assim como
direitos LGBTI, ocasionando uma violação constante de direitos humanos. O desenvolvimento
científico no tema serve como base para políticas públicas e recomendações ao Estado e às
organizações atuantes na emergência humanitária. Ressaltamos o caráter inicial desta pesquisa,
que tem por intuito ser uma introdução sobre o tema, assim como gerar conclusões parciais,
existindo a necessidade de mais estudos com metodologia de entrevista a serem aplicados,
alcançando principalmente a população que é objeto deste presente trabalho: migrantes e
refugiados LGBTI.
60

REFERÊNCIAS

ACCIOLY, Hildebrando; DO NASCIMENTO, Geraldo Eulálio; SILVA, Paulo Borba


Casella. Manual de direito internacional público. Saraiva Educação SA, 1953.

ACNUR. ACNUR ressalta a importância em assegurar espaços seguros para a


população LGBTI no Brasil. Brasil, 26 set. 2018. Disponível em:
<https://www.acnur.org/portugues/2018/09/26/acnur-ressalta-a-importancia-em-assegurar-
espacos-seguros-para-a-populacao-lgbti-no-brasil/>. Acesso em: 1 jul. 2019.

______. Brasil protege refugiados LGBTI, mostra levantamento inédito do ACNUR e do


Ministério da Justiça. Brasil, 28 nov. 2018. Disponível em:
https://www.acnur.org/portugues/2018/11/29/brasil-protege-refugiados-lgbti-mostra-
levantamento-inedito-do-acnur-e-do-ministerio-da-justica/. Acesso em: 1 jul. 2019.

______. Dia Internacional contra a LGBTIfobia: ACNUR lança consultas sobre os


direitos dos refugiados LGBTI. Brasil, 16 maio 2019. Disponível em:
https://www.acnur.org/portugues/2019/05/16/dia-internacional-contra-a-lgbtifobia-acnur-
lanca-consultas-sobre-os-direitos-dos-refugiados-lgbti/. Acesso em: 1 jul. 2019.

______. Trabalhando com Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Intersex


em Deslocamento Forçado. Brasil, 2011 Disponível em:
https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2014/Trabalhando_com
_LGTBI_no_contexto_do_deslocamento_Cartilha.pdf. Acesso em: 1 jul. 2019.

AMAZONIA. Migrante cidadão: ONU alerta para violações contra mulheres e LGBTs
em Roraima. Disponível em: http://amazonia.org.br/2018/08/migrante-cidadao-onu-alerta-
para-violacoes-contra-mulheres-e-lgbts-em-roraima/. Acesso em: 1 jul. 2019.

AMNESTY INTERNATIONAL. 10 things you need to know about Venezuela’s human


rights crisis. 18 fev. 2019. Disponível em: <
https://www.amnesty.org/en/latest/news/2019/02/10-things-you-need-to-know-about-
venezuelas-human-rights-crisis/ >. Acesso em: 19 fev. 2019.

ANALÍTICA. Escasez de alimentos básicos en el país supera el 80%, según datanálisis.


Venezuela, 27 maio 2016. Disponível em:< https://www.analitica.com/economia/escasez-de-
alimentos-basicos-en-el-pais-supera-el-80-segun-datanalisis/ >. Acesso em: 11 fev. 2019.

ANDRADE, Vítor Lopes. Refugiados e refugiadas por orientação sexual no Brasil: dimensões
jurídicas e sociais. In: Seminário “Migrações Internacionais, Refúgio E Políticas, 2016, São
Paulo. Anais... São Paulo: UNICAMP, 2016. Disponível em:
<https://www.nepo.unicamp.br/publicacoes/anais/arquivos/22_VLA.pdf>.

ASSOCIAÇÃO DA PARADA DO ORGULHO LGBT SÃO PAULODE. Jovem de 18 anos


é encontrado morto em Roraima. Disponível em: http://paradasp.org.br/homofobia-jovem-
de-18-anos-e-encontrado-morto-em-roraima/. Acesso em: 1 jul. 2019.

BETTS, Alexander. Survival Migration: Failed Governance and the Crisis of Displacement.
1 ed. Nova York: Cornell University Press, 2013. p. 10-28. Disponivel em:
<www.oapen.org/download/?type=document&docid=642723>. Acesso em: 07 abr. 2019.
61

BRASIL. Lei nº 13445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Lei de Migração.
Brasília, 24 de maio 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2VdMfia>. Acesso em 15 fev. 2019.

______. Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a implementação do


Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências, 22 de julho de 1997.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm>. Acesso em 19 de
fevereiro

______. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Refúgio em Números e Publicações.


Bases de dados. Tabela de solicitações de reconhecimento da condição de refugiado -
1994 (primeiro registro disponível) a 06 de fevereiro de 2019. Disponível em:
<http://www.justica.gov.br/seus-direitos/refugio/anexos/solicitacoes-_ate-06-fev-2019.xlsx>.
Acesso em 16 fev. 2019

______. Ministério das Relações Exteriores. Nota 249. Convocação de assembleia


constituinte na Venezuela. Brasília, 2017. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-
BR/notas-a-imprensa/16982-convocacao-de-assembleia-constituinte-na-venezuela>. Acesso
em 06 fev. 2019.

______. Ministério das Relações Exteriores. Nota 259. Declaração de Lima. Brasília, 2017.
Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/notas-a-imprensa/17073-declaracao-de-
lima#esp> Acesso em 09 de fev. de 2019.

______. Ministério da Justiça. Portaria Interministerial Nº 9, de 14 de março de 2018.


Dispõe sobre a concessão de autorização de residência ao imigrante que esteja em território
brasileiro e seja nacional de país fronteiriço, onde não esteja em vigor o Acordo de Residência
para Nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL e países associados, a fim atender a
interesses da política migratória nacional. Disponível em:< http://www.pf.gov.br/servicos-
pf/imigracao/cedula-de-identidade-de-estrangeiro/portarias-
interministeriais/PORTARIAINTERMINISTERIALN9DE14DEMARODE2018DirioOficiald
aUnioImprensaNacional.pdf>. Acesso em: 15 de mar. 2019.

______. MINISTÉRIO DA CIDADANIA. Imigrantes venezuelanos LGBTI recebem apoio


para inclusão no Brasil. Disponível em: http://mds.gov.br/area-de-
imprensa/noticias/2018/novembro/imigrantes-venezuelanos-lgbti-recebem-apoio-para-
inclusao-no-brasil. Acesso em: 1 jul. 2019.

______. MINISTÉRIO DAS MULHERES, DA IGUALDADE RACIAL E DOS DIREITOS


HUMANOS. Relatório de Violência Homofóbica no Brasil: ano 2013. Disponível em:
http://www.direito.mppr.mp.br/arquivos/File/RelatorioViolenciaHomofobicaBR2013.pdf.
Acesso em: 1 jul. 2019.

CAMILLERI, Michael J.; HAMPSON, Fen Osler. No Strangers at the Gate: Collective
Responsibility and a Region’s Response to the Venezuelan Refugee and Migration Crisis. 1
ed. Washington: World Refugee Council Report (Centre for International Governance
Innovation), 2018. 23 p.

CASA CIVIL: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Polícia Federal atualiza números da


migração de venezuelanos em RR. Disponível em: <https://bit.ly/2E5YpFw>. Acesso em:
19 fev. 2019.
62

CBC. Venezuelan exodus to reach 5.3 million by 2019, UN says. Dez. 2018. Disponível
em: <https://www.cbc.ca/news/world/venezuelan-exodus-5-3-million-un-1.4946322>. Acesso
em: 11 fev. 2019.

DEUTSCHE WELLE. Venezuelanos são agredidos e expulsos em Roraima. Disponível


em: <https://www.dw.com/pt-br/venezuelanos-s%C3%A3o-agredidos-e-expulsos-em-
roraima/a-45133253>. Acesso em: 20 fev. 2019

DEUTSCHE WELLE. A exploração dos trabalhadores venezuelanos em Roraima.


Disponível em: <https://www.dw.com/pt-br/a-explora%C3%A7%C3%A3o-dos-
trabalhadores-venezuelanos-em-roraima/a-45284173>. Acesso em: 19 fev. 2019.

ALVARENGA, Miguel M. S. Arquivo iconográfico sobre acolhimento de migrantes no


estado de Roraima. Boa Vista: UFRR, 2019.

EL PAÍS. Maduro é reeleito presidente da Venezuela com uma forte abstenção e em


meio a denúncias de fraude. Disponível em: <https://bit.ly/2Eugj3w>. Acesso em: 09 fev.
2019.

ESPAÑA, Luis Pedro; PONCE, Maria G.. Pobreza y Misiones Sociales. Encuesta sobre
Condiciones de Vida en Venezuela, Caracas, fev. 2018. Disponível em:
<https://bit.ly/2oxXyUy>. Acesso em: 06 fev. 2019.

EUROPEAN UNION EXTERNAL ACTION. Statement by the Spokesperson on the


Election to a Constituent Assembly in Venezuela, jul. 2017. Disponível em:
<https://bit.ly/2tbwd6t>. Acesso em: 09 fev. 2019.

ETTELBRICK, Paula L.; ZERÁN, Alia Trabucco. The Impact of the Yogyakarta
Principles on International Human Rights Law Development. 2010.

FERNANDES, BETH. LGBT na Fronteira Brasil e Venezuela: um tema (in)visível.


Goiânia: Espaço Acadêmico, 2019.

FREITEZ, Anitza. Emigración. Encuesta sobre Condiciones de Vida Venezuela 2017,


Caracas, 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2NuTAXA>. Acesso em: 08 fev. 2019.

______. Prólogo. El éxodo venezolano: entre el exilio y la emigración, Lima, v. 4, p. 9-14,


dez. 2018. Disponível em: <https://www.uarm.edu.pe/FondoEditorial/etica-desarrollo/el-
exodo-venezolano-entre-exilio-emigracion#.XHMO2-hKjIV>. Acesso em: 06 fev. 2019.

FOLHA DE SÃO PAULO. Abrigo para refugiados venezuelanos LGBTI é inaugurado


em Manaus. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/11/abrigo-para-
refugiados-venezuelanos-lgbti-e-inaugurado-em-manaus.shtml. Acesso em: 1 jul. 2019.

FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL (FMI). Venezuela country data. Disponível


em: <http://www.imf.org/en/Countries/VEN#countrydata>. Acesso em: 09 fev. 2019.

GRUPO GAY DA BAHIA. Assassinato de LGBT no Brasil: RELATÓRIO 2016.


Disponível em: https://homofobiamata.files.wordpress.com/2017/01/relatc3b3rio-2016-ps.pdf.
Acesso em: 1 jul. 2019.
63

GRUPO GAY DA BAHIA. População LGBT Morta no Brasil: #Relatório GGB 2018.
Disponível em: https://homofobiamata.files.wordpress.com/2019/01/relatorio-2018-1.pdf.
Acesso em: 1 jul. 2019.

G1. Alunos e professores da UFRR oferecem serviços gratuitos a imigrantes. Disponível


em: <https://glo.bo/2IQ3Ewj>. Acesso em: 20 fev. 2019.

______. Guerra entre facções rivais faz disparar índices de homicídios em Boa Vista.
Disponível em: <https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/guerra-entre-faccoes-rivais-faz-
disparar-indices-de-homicidios-em-boa-vista.ghtml>. Acesso em 20 fev. 2019

______. MP denuncia cinco por queimar bens e expulsar venezuelanos de prédio em


Mucajaí, interior de Roraima. Disponível em: <https://glo.bo/2LGm82l>. Acesso em: 20
fev. 2019.

______. Após fugir da Venezuela, transexuais tentam recomeçar vida no Rio e relatam
preconceito e agressões. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-
janeiro/noticia/2018/08/29/apos-fugir-da-venezuela-transexuais-tentam-recomecar-vida-no-
rio-e-relatam-preconceito-e-agressoes.ghtml. Acesso em: 1 jul. 2019.

______. Ato pede justiça após travesti ser assassinada a facadas em Boa Vista.
Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/ato-pede-justica-apos-travesti-ser-
assassinada-a-facadas-em-boa-vista.ghtml. Acesso em: 1 jul. 2019.

______. Cerimônia coletiva une 101 casais de venezuelanos em abrigo para refugiados
em Roraima. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2019/03/15/cerimonia-
coletiva-une-101-casais-de-venezuelanos-em-abrigo-para-refugiados-em-roraima.ghtml.
Acesso em: 1 jul. 2019.

GAMBOA, Laura. Venezuela: Aprofundamento do autoritarismo ou transição para a


democracia?. Relações Internacionais, Lisboa , n. 52, p. 55-66, dez. 2016 . Disponível
em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-
91992016000400005>. Acesso em 05 fev. 2019.

GORISCH, Patrícia Cristina Vasques de Souza. O Reconhecimento dos Direitos LGBT


como Direitos Humanos. Dissertação (Mestrado em Direito Internacional). 2013. 102 f. 74
Universidade Católica de Santos, Santos-SP. Disponível em: <
http://biblioteca.unisantos.br:8181/bitstream/tede/1564/2/Patricia%20Cristina%20V.de%20S.
% 20Gorisch.pdf >. Acesso em 10 jun. 2019.

GRINSPAN, Mario Cabral; EHRT, Julia. State-sponsored homophobia. Introduction to the


YP+10. Bruxelas: International Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender and Intersex
Association (ILGA), 2019.

GUZMÁN, Manuel. Pa’la escuelita con mucho cuida’oy por la orillita’: A journey through
the contested terrains of the nation and sexual orientation. In: NEGRÓN-MUNTANER,
Frances
GROSFOGUEL, Ramón. Puerto Rican jam: Rethinking colonialism and nationalism.
Minnesota: NED. 1997.
64

HUMAN RIGHTS WATCH. Venezuela. Disponível em:


<https://www.hrw.org/americas/venezuela>. Acesso em: 19 fev. 2019.

IMF DataMapper: Unemployment Rate percent. 2018. Disponível em:


<https://www.imf.org/external/datamapper/LUR@WEO/VEN?year=2018>. Acesso em 11
fev. 2019.

JAROCHINSKI SILVA, João Carlos. Migração forçada de venezuelanos pela fronteira norte
do Brasil. Anais do 41º Encontro Anual da Anpocs, 2017.

______. Uma análise sobre os fluxos migratórios mistos. In: RAMOS, André De Carvalho;
RODRIGUES, Gilberto; DE ALMEIDA, Guilherme Assis (Org.). 60 anos de ACNUR:
Perspectivas de futuro. 1 ed. São Paulo: CLA Cultural, 2011. p. 201-220

______; SAMPAIO, Cyntia. As ações decorrentes da migração de venezuelanos para o Brasil


- da acolhida humanitária à interiorização In: ANNONI, Danielle. (Org.). Direito
Internacional Dos Refugiados e o Brasil. 1 ed. Curitiba: Editora Gedai / UFPR, 2018, p.
734-746.

KOECHLIN, José; VEGA, Eduardo; SOLÓRZANO, Ximena. Migración venezolana al Perú:


proyectos migratorios y respuesta del Estado. El éxodo venezolano: entre el exilio y la
emigración, Lima, v. 4, p. 47-96, dez. 2018. Disponível em:
<https://www.uarm.edu.pe/FondoEditorial/etica-desarrollo/el-exodo-venezolano-entre-exilio-
emigracion#.XHMO2-hKjIV>. Acesso em: 06 fev. 2019.

LANDAETA-JIMÉNEZ, Maritza. et al. Alimentación. Encuesta Nacional de Condiciones


de Vida Venezuela 2017, Caracas, 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2HxkOOq>. Acesso
em: 06 fev. 2019.

LELIS, Rafael Carrano; GALIL, Gabriel Coutinho. Direito Internacional Monocromático:


Previsão e Aplicação Dos Direitos LGBTI Na Ordem Internacional. Revista de Direito
Internacional, v. 15, n. 1, 2018.

LÓPEZ MAYA, Margarita. El colapso de Venezuela. ¿Qué sigue?. PENSAMIENTO


PROPIO, Buenos Aires, v. 23, n. 47, p. 13-36, jan./jun. 2018. Disponível em:
<http://www.cries.org/pp47-webFINAL.pdf>. Acesso em: 06 fev. 2019
.
MERCOSUL. Decisão sobre a suspensão da Venezuela no MERCOSUL. Ago. 2017.
Disponível em: <https://www.mercosur.int/pt-br/decisao-sobre-a-suspensao-da-republica-
bolivariana-da-venezuela-no-mercosul/>. Acesso em: 06 fev. 2019.

MERCOSUL. PROTOCOLO DE USHUAIA SOBRE COMPROMISSO


DEMOCRÁTICO NO MERCOSUL, BOLÍVIA E CHILE. Disponível em:
<http://www.mercosul.gov.br/40-normativa/tratados-e-protocolos/123-protocolo-de-ushuaia>.
Acesso em: 09 fev. 2019.

MIGRACIÓN COLOMBIA. Ministerio de Relaciones Exteriores. Colombia finalizó el 2018


con más de un millón 174 mil venezolanos dentro de su territorio; Director de Migración
Colombia, fev. 2019. Disponível em: <https://bit.ly/2XnvumF>. Acesso em: 12 fev. 2019.
65

NASCIMENTO, Daniel Braga; DE HAAS, Emilie; BAGGIO, Roberta Camineiro. Migration


due to sexual orientation and gender identity. Revista do Direito, v. 1, n. 51, p. 58-67, 2017.

OBSERVATORIO VENEZOLANO DE VIOLENCIA. Informe OVV de Violencia 2017.


Disponível em: <https://observatoriodeviolencia.org.ve/informe-ovv-de-violencia-2017/>.
Acesso em: 11 fev. 2019.

O GLOBO. Candidatos ao governo de Roraima defendem o fechamento da fronteira


com a Venezuela. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/candidatos-ao-governo-
de-roraima-defendem-fechamento-da-fronteira-com-venezuela-23012211>. Acesso em: 28
fev. 2019.

OIM. DTM BRASIL – Nº 1: Monitoramento do fluxo migratório venezuelano. 2018.


Disponível em: <https://bit.ly/2BSX7ee>. Acesso em: 19 fev. 2019.

______. Aspectos Jurídicos de Atenção aos Indígenas Migrantes da Venezuela para o


Brasil. Brasília: Organização Internacional para as Migrações, 2018. Disponível em:
<https://bit.ly/2KF32dO>. Acesso em 19 fev. 2019

______. Glossário sobre Migração. Genebra: OIM, 2009.

______. República Bolivariana de Venezuela. Tendencias Migratorias En Las Américas,


[S.L], set. 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2AJHDJc>. Acesso em: 12 fev. 2019.

OLIVEIRA, Gabriela Werner. A proteção internacional de minorias sexuais: entre a idade


média e a pós-modernidade. Revista Direito Mackenzie, v. 9, n. 2, 2017.

ONU. Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados. 28 de julho de 1951. Disponível


em: <https://bit.ly/2SqtNRx>. Acesso em 15 fev. 2019.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Assembleia Geral. Declaração Universal Dos
Direitos Humanos. 10 dez. 1948. Disponível em: . Acesso em: 7 abril 2019.

______. Assembléia Geral. Resolução 2200 A de dezembro de 1966. Pacto Internacional de


Direitos Civis e Políticos. (International Covenant on Civil and Political Rights). Disponível
em http://www. ohchr.org/english/ law/ccpr.htm. Acesso em 2 maio 2019.

______. Assembléia Geral. Resolução 2200-A de 16 de dezembro de 1966. Pacto


Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais. (International Covenant on
Economic, Social and Cultural Rights). Disponível em http://www.ohchr.org/english/
law/cescr.htm. Acesso em: 18 maio 2019.

______. Comissão de Direitos Humanos. Draft Resolution on Human Rights and sexual
orientation. 17 abr. 2003. Disponível em:
<http://old.ilga.org/news_results.asp?LanguageID=1&FileCategory=44&FileID=406>.
Acesso em: 17 maio 2019.

______. Conselho de Direitos Humanos. 17/19 Human rights, sexual orientation and
gender identity. Genebra. 14 jul. 2011. Disponível em:
<http://ap.ohchr.org/documents/dpage_e.aspx?si=A/HRC/RES/17/19>. Acesso em: 9 abr.
2019.
66

______ . Conselho de Direitos Humanos. 35/36 Report of the Independent Expert on


protection against violence and discrimination based on sexual orientation and gender
identity. Genebra. 26 jun. 2017. Disponível em: <https://undocs.org/A/HRC/35/36>. Acesso
em: 9 abr. 2019.

______. Conselho de Direitos Humanos. 27/32 Human rights, sexual orientation and
gender identity. Genebra. 2 out. 2014 . Disponível em:
<http://ap.ohchr.org/documents/dpage_e.aspx?si=A/HRC/RES/27/32>. Acesso em: 9 abr.
2019.

______. Conselho de Direitos Humanos. 32/2 Protection against violence and


discrimination based on sexual orientation and gender identity. Genebra. 30 jun. 2016.
Disponível em: <https://www.right-docs.org/doc/a-hrc-res-32-2/>. . Acesso em: 9 abr. 2019.
ONU BRASIL. Roraima: ONU e Exército de Salvação inauguram centro para refugiados e
brasileiros vítimas de violência. Disponível em: https://nacoesunidas.org/roraima-onu-e-
exercito-salvacao-inauguram-centro-para-refugiados-e-brasileiros-vitimas-de-violencia/.
Acesso em: 1 jul. 2019.

______. Fundo de População da ONU promove atividades para integrar comunidades LGBTI
em Roraima. Disponível em: https://nacoesunidas.org/fundo-de-populacao-da-onu-promove-
atividades-para-integrar-comunidades-lgbti-em-roraima/. Acesso em: 1 jul. 2019.

ONU NEWS. Migrantes e refugiados da Venezuela chegam a 3 milhões. Nov. 2018.


Disponivel em: <https://news.un.org/pt/story/2018/11/1646801>. Acesso em: 11 fev. 2019.
ORGANIZACIÓN DE LOS ESTADOS AMERICANOS. Mensaje del Secretario General
sobre Venezuela. Mar. 2017. Disponível em: < https://bit.ly/2vkeFO0>. Acesso em: 06 fev.
2019.

ORGANIZACIÓN STOPVIH. StopVIH tras monitoreo: Desabastecimiento de


medicamentos supera 90% y la tendencia es a aumentar. Jun. 2017. Disponível em:
<https://bit.ly/2Xo2Z8o>. Acesso em: 11 fev. 2019.

ORGANIZATION OF THE PETROLEUM EXPORTING COUNTRIES. OPEC Basket


Price. Disponível em: <https://www.opec.org/opec_web/en/data_graphs/40.htm>. Acesso em:
09 fev. 2019.

PILLAY, Navi. Nascidos livres e iguais: orientação sexual e identidade de gênero no regime
internacional de direitos humanos. Brasília: UNAIDS, 2013

PERU. Ministerio de Relaciones Exteriores. Declaración de Lima, 08 de ago. 2017.


Declaración Conjunta. Lima, 2017. Disponível em:
ttps://www.gob.pe/institucion/rree/noticias/4702-declaracion-de-lima>. Acesso em 06 fev.
2019.

PONT, Andrei Serbin. La crisis humanitaria en Venezuela y su impacto regional: migración,


seguridad y multilateralismo. Pensamiento propio. Buenos Aires, v. 23, n. 47, jan./jun. 2018.
Disponível em: <http://www.cries.org/pp47-webFINAL.pdf>. Acesso em: 13 fev. 2019.

PREFEITURA DE BOA VISTA. Testes rapidos oferecidos gratuitamente nas unidades


físicas ajudam na prevencao do HIV e da AIDS. Disponível em:
67

https://www.boavista.rr.gov.br/noticias/2018/12/testes-rapidos-oferecidos-gratuitamente-nas-
unidades-basicas-ajudam-na-prevencao-do-hiv-e-da-aids. Acesso em: 1 jul. 2019.

REACH INITIATIVE. Information Needs Assessment: Venezuelan Migration in


Northern Brazil. Dez. 2018. Disponível em:
http://www.reachresourcecentre.info/system/files/resource-
documents/reach_bra_report_ina_venezuelan_migration_northern_brazil_november_2018_en
.pdf. Acesso em: 1 jul. 2019.

REZENDE, Lucas Felicetti. Sexílio, alteridade e reconhecimento: Uma análiseteórica sobre o


refúgio de LGBTs. In: O Social em Questão - Ano XXI - nº 41. Disponível em:<
http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_41_art_13_Rezende.pdf>. Acesso em: 9
abr. 2019.

RIBAS, CLAUDIA VARGAS. La migración en Venezuela como dimensión de la crisis. In.


LEGLER, Thomas; PONT, Andrei Serbin; GARELLI-RÍOS, Ornela. Pensamiento propio.
Buenos Aires, v. 23, n. 47, jan./jun. 2018. Disponível em: <http://www.cries.org/pp47-
webFINAL.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2019.

ROSALES, Antulio. El agotamiento del modelo de neo-extractivismo en Venezuela: causas


económicas y sus implicancias globales. In. LEGLER, Thomas; PONT, Andrei Serbin;
GARELLI-RÍOS, Ornela. Pensamiento propio. Buenos Aires, v. 23, n. 47, p. 69-90, jan./jun.
2018. Disponível em: <http://www.cries.org/pp47-webFINAL.pdf>. Acesso em: 06 fev. 2019.

SHIDLO, Ariel; AHOLA, Joanne. Sexual orientation and gender identity and the protection
of forced migrants. Forced Migration Review, Oxford, v. 42, n. 1, p. 9-10, abr./2013.
Disponível em:
<https://www.fmreview.org/sites/fmr/files/FMRdownloads/en/sogi/FMR42listing.pdf>.
Acesso em: 1 jul. 2019.

SIMÕES, Gustavo da Frota et al. Perfil sociodemográfico e laboral da imigração


venezuelana no Brasil. Curitiba: CRV, 2017.

SIMÕES, Gustavo da Frota. Venezuelanos em Roraima: migração no extremo norte do


país. Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais. Brasil,
ago. 2017. Disponível em: <https://www.mundorama.net/?p=23834>. Acesso em: 20 fev.
2019.

SPIJKERBOER, Thomas. Fleeing homophobia: Sexual orientation, gender identity and


asylum. Routledge, 2013.

THEODORO, Hadriel Geovani da Silva; COGO, Denise. DA DIÁSPORA QUEER: entre (in)
visibilidades sociocomunicacionais e o exercício de cidadania. THE QUEER DIASPORA:
sociocommunicational (in) visibilities and the practice of citizenship. Associação Nacional
dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. In: XXVII Encontro Anual da Compós,
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Anais... Belo Horizonte. Jun. 2018.
Disponível em:
<http://www.compos.org.br/data/arquivos_2018/trabalhos_arquivo_DV6WTUDCM8JGVL83
E94T_27_6723_25_02_2018_18_38_54.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2019.
68

TÜRK, Volker. Ensuring protection for LGBTI Persons of Concern. Forced Migration
Review, Oxford, v. 42, n. 1, p. 5-8, abr./2013. Disponível em:
<https://www.fmreview.org/sites/fmr/files/FMRdownloads/en/sogi/FMR42listing.pdf>.
Acesso em: 1 jul. 2019.

UNAIDS. RELATÓRIO INFORMATIVO – DIA MUNDIAL CONTRA A AIDS 2018.


Disponível em: https://unaids.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Fact-sheet-UNAIDS-
novembro-2018-1.pdf. Acesso em: 1 jul. 2019.

UNFPA. Evento debate desafios e perspectivas para garantia de direitos a mulheres e


população LGBTI em contexto de migração. Disponível em: https://brazil.unfpa.org/pt-
br/news/evento-debate-desafios-e-perspectivas-para-garantia-de-direitos-mulheres-e-
popula%C3%A7%C3%A3o-lgbti-em. Acesso em: 1 jul. 2019.

UNFPA. Ação apoiada por agências da ONU leva aulas de defesa pessoal e rodas de
conversa a Roraima. Disponível em: https://brazil.unfpa.org/pt-br/news/acao-apoiada-por-
agencias-da-onu-leva-aulas-de-defesa-pessoal-e-rodas-de-conversa-roraima. Acesso em: 1 jul.
2019.

UNFPA. Jovens LGBTI venezuelanos montam grupo de arte dentro de abrigo da


Operação Acolhida. Disponível em: https://brazil.unfpa.org/pt-br/news/jovens-lgbti-
venezuelanos-montam-grupo-de-arte-dentro-de-abrigo-da-opera%C3%A7%C3%A3o-
acolhida. Acesso em: 1 jul. 2019.

UNFPA. UNFPA faz roda de conversa sobre saúde sexual e combate à homofobia em
abrigo voltado para homens. Disponível em: https://brazil.unfpa.org/pt-br/news/unfpa-faz-
roda-de-conversa-sobre-sa%C3%BAde-sexual-e-combate-%C3%A0-homofobia-em-abrigo-
voltado-para. Acesso em: 1 jul. 2019.

UNHCR. Operational Data Portal. Asylum-seekers from Venezuela 2014-18. Disponível


em: <https://data2.unhcr.org/en/situations/vensit>. Acesso em: 13 fev. 2019.

UNHCR. Operational Data Portal. Brazil Response 2018 - 1 January 2019. Jan. 2019
Disponível em: <https://data2.unhcr.org/es/documents/details/67795>. Acesso em: 13 fev.
2019.

UNHCR. Operational Data Portal. Coordination Platform for Refugees and Migrants from
Venezuela Regional RMRP for Refugees and Migrants from Venezuela. Dez. 2018.
Disponível em: <https://data2.unhcr.org/en/documents/details/67282>. Acesso em: 11 fev.
2019.

UNHCR), UNHCR's Comments on the Practice of Phallometry in the Czech Republic to


Determine the Credibility of Asylum Claims based on Persecution due to Sexual
Orientation, Abr. 2011, Disponivel em:< https://www.refworld.org/docid/4daeb07b2.html>.
Acesso em: 25 maio 2019.

______. Operational Data Portal. Latin America and the Caribbean:


Stocks of Venezuelan population in the region. 31 out. 2018.<
https://data2.unhcr.org/en/documents/details/67311>. Acesso em: 11 fev. 2019.
69

VAZ, Alcides Costa. A crise venezuelana como fator de instabilidade regional. Centro de
Estudos Estratégicos do Exército: Análise Estratégica, v. 3, n. 3, p. 1-7, fev. 2017.
Disponível em: <http://ebrevistas.eb.mil.br/index.php/CEEExAE/article/view/1171>. Acesso
em: 05 fev. 2019.

VEADO, Luiza Drummond. The Protection of the Rights of LGBTI People by the Inter-
American Commission on Human Rights. State-sponsored homophobia. Bruxelas:
International Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender and Intersex Association (ILGA), 2019.

VENEZUELA. TRIBUNAL SUPREMO DE JUSTICIA. Sentencia No. 156. 28 de março de


2017. Disponível em: <http://historico.tsj.gob.ve/decisiones/scon/marzo/197364-156-29317-
2017-17-0325.HTML>. Acesso em 13 de fev. 2019.

VIANA, Thiago Gomes. Da (In)visibilidade à Cidadania Internacional: a longa caminhada


das pessoas LGBTI nos sistemas global e interamericano de Direitos Humanos. In: Revista
Publius. São Luís: Revista Publius v. 1, n. 1, p.1-20, jan. 2014. Semestral. Disponível em:<
http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rpublius/article/view/2237/4310>.
Acesso em: 9 maio 2019.

VIEIRA, Paulo Jorge. Mobilidades, migrações e orientações sexuais: percursos em torno das
fronteiras reais e imaginárias. Ex aequo, n. 24, p. 45-59, Lisboa, 2011. Disponível em:<
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-
55602011000200005#fundo*1> . Acesso em: 9 maio 2019.

VOA NEWS. Living in Venezuela Now Is Hard, Being LGBT Makes It Harder.
Disponível em: https://www.voanews.com/americas/living-venezuela-now-hard-being-lgbt-
makes-it-harder. Acesso em: 1 jul. 2019.

Você também pode gostar