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Abordar preconceitos

e estereótipos
antissemitas

3
Material
pedagógico
1. Aumentar o conhecimento sobre a população judaica e o judaísmo
2. Ultrapassar preconceitos inconscientes

3. Abordar preconceitos e estereótipos antissemitas


4. Desconstruir as teorias da conspiração
5. Ensinar sobre antissemitismo através da educação sobre o Holocausto
6. Abordar a negação, a distorção e a banalização do Holocausto
7. O antissemitismo e o discurso da memória nacional
8. Lidar com incidentes antissemitas
9. Lidar com o antissemitismo online
10. O antissemitismo e a situação no Médio Oriente
Abordar preconceitos
e estereótipos antissemitas

Lutar pela equidade, inclusão Os estereótipos sobre o povo judeu preconceituosa em relação aos
e oportunidade para todas as pes- e  as suas comunidades têm per- colegas judaicos; e 
soas é um objetivo universal. Ao meado a história europeia duran-
incorporar os talentos e identida- te milhares de anos. Os estereóti- • os estereót ipos ant issemitas
des únicos de cada pessoa, a socie- pos contribuem para uma imagem podem estar refletidos na litera-
dade está mais apta a assegurar negativa da comunidade judaica, tura, em textos religiosos, na arte
um futuro próspero. No entanto, tendo o potencial de fomentar ati- ou em fontes históricas que este-
com a diversidade surge frequen- tudes e comportamentos preconcei- jam a ser utilizadas na escola.
temente uma série de generaliza- tuosos em relação ao povo judeu na
ções e estereótipos que podem ser comunidade. O objetivo deste material pedagógi-
prejudiciais. Um estereótipo é uma co é fornecer uma descrição geral
imagem demasiado simplificada de Os estereótipos contra os judeus do papel e da função dos estereóti-
um determinado grupo de pessoas. podem entrar na sala de aula de pos, um resumo e uma “desmistifi-
As pessoas riem-se frequentemen- diferentes maneiras incluindo, mas cação” dos estereótipos e mitos mais
te dos estereótipos ou ignoram-nos. não se limitando a: comuns contra os judeus, bem como
Contudo, os estereótipos encora- sugestões concretas sobre a forma
jam os preconceitos e constituem • os alunos podem repetir um como os professores os podem abor-
um perigo para o ambiente da sala estereótipo antissemita ou uma dar nas suas salas de aula.
de aula.1 Podem conduzir a reper- visão preconceituosa que tenham
cussões negativas e facilitar o ódio. ouvido e, depois, agir de forma

Addressing Anti-Semitism through Education: Guidelines for Policymakers (Varsóvia: OSCE/ODIHR, 2018), p. 41, <https://www.osce.org/
1

odihr/383089>.

1
Contexto Preconceito refere-se a uma “in-
clinação ou discriminação a fa-
vor ou contra uma pessoa ou gru-
po, especialmente de uma forma
considerada injusta.”

Discriminação é o “tratamento
injusto ou prejudicial de diferen-
tes categorias de pessoas”.

fonte: Concise Oxford English


Dictionary, nona edição

Estereótipo refere-se a uma “ima-


gem demasiado simplificada de
um determinado grupo de pes-
soas.”

Estereótipos, preconceitos e discri- Durante milhares de anos, ima- Preconceito é um “sentimento so-
minação são fenómenos humanos gens, noções e mitos antijudaicos bre um grupo de pessoas ou uma
naturais. As pessoas podem optar conduziram a estereótipos, inci- pessoa de um grupo que se baseia
por acreditar em estereótipos para tando ao ódio e à perseguição do num estereótipo.”
ajudar a simplificar a complexi- povo judeu. Os estereótipos conti-
dade do mundo à sua volta. Infe- nuam a emergir em todo o mundo, fonte:Addressing Anti-Semitism
lizmente, podem ser encontrados tanto de forma explícita como dis- through Education: Guidelines for
muitos estereótipos sobre grupos simulada, apesar de serem oficial- Policymakers (Varsóvia: OSCE/
sociais específicos na cultura e na mente rejeitados pelas autoridades ODIHR, 2018), p. 41, <https://www.
comunidade em geral. Os precon- internacionais, regionais e nacio- osce.org/odihr/383089>.
ceitos prevalecentes numa comu- nais. São continuamente gerados
nidade podem, inconscientemen- novos estereótipos, difamações
te, orientar o nosso comportamento e imagens, ao passo que os antigos
e levar-nos a conclusões inadequa- são reciclados em novas formas.
das ou prejudiciais. Isto tem um O preconceito antissemita é fre- à esquerda como à direita política,
impacto negativo sobre a equida- quentemente expresso, talvez em há pessoas que afirmam falsamen-
de e a justiça que procuramos numa momentos e por pessoas diferentes, te que os judeus planearam o ata-
sociedade democrática: na educa- em termos contraditórios.2 que terrorista nos Estados Unidos
ção, emprego, resolução de confli- a 11 de setembro de 2001. Recen-
tos e manutenção da paz e harmo- Os estereótipos antissemitas tra- temente, surgiram novas teorias
nia entre grupos sociais. dicionais podem ser vistos em da conspiração que alegam falsa-
ataques antissemitas quer moti- mente o envolvimento dos judeus
No seu pior, os estereótipos têm sido vando ou acompanhando o com- na crise europeia dos refugiados. 3
deliberadamente utilizados como portamento. Estes podem incluir
uma forma de asfixiar a mudan- afirmações de que “os judeus” são De forma a responder eficazmente
ça social e manter os sistemas de ricos e gananciosos, que conspi- a estereótipos e equívocos, é neces-
poder político existentes. Isto tem ram para controlar o mundo ou sário que consigamos identificar as
sido visto ao longo dos tempos, por que “os judeus” mataram Jesus suas várias formas e compreender
exemplo, nos debates sobre as rela- Cristo. A  difamação antissemi- como estas falsidades se desenvol-
ções de género à  medida que as ta manifesta-se frequentemente veram ao longo do tempo. Abaixo
mulheres ganhavam maior inde- através de uma visão conspirató- estão alguns dos mitos mais per-
pendência política e económica. ria do mundo. Por exemplo, tanto sistentes, tropos e  memes sobre

Por exemplo, os judeus são frequentemente criticados por serem cosmopolitas sem raízes e comunitários de mente fechada, ou retratados
2

como todo-poderosos e sub-humanos.


Péter Krekó et al., “‘Migrant Invasion’ as a Trojan Horseshoe”, em Péter Krekó et al. (eds.), Trust within Europe (Budapeste: Political Capital,
3

2015), pp. 63-72, <http://www.politicalcapital.hu/wp-content/uploads/PC_OSIFE_Trust_Within_Europe_web.pdf>.

2
Investigadores da Alemanha e dos Estados Unidos analisaram como
a contemplação das experiências psicológicas das outras pessoas torna
as pessoas menos propensas a exibir expressões automáticas de pre-
conceito. Depois de considerarem a perspetiva de uma pessoa idosa,
os participantes do teste tiveram uma menor probabilidade de aplicar
estereótipos sobre idosos, como dependência ou enfermidade. O pre-
conceito em relação aos negros diminuiu quando os participantes foram
instruídos a imaginar o que as vítimas sentiam enquanto assistiam a in-
cidentes de discriminação racial.

fonte: A. R. Todd et al., “Perspective Taking Combats Automatic Expres-


sions of Racial Bias”, Journal of Personality and Social Psychology, Vol. 100,
junho de 2011, pp. 1027-1042.

judeus, que se destinam a ser ilus- na primeira metade do século XX O mito deicida reforçou a associação
trativos e não exaustivos.4 e  a  propaganda nazi promoveu- de todos os judeus com traços que se
-o ativamente tanto na Alemanha imagina terem acompanhado a mor-
Libelo de sangue como nos territórios que ocupou te de um messias como, por exemplo,
durante a Segunda Guerra Mundial. poderes sobrenaturais, intransigên-
Desde os tempos antigos, os judeus O internacionalismo do comunismo cia e traição conspiratória.
têm sido falsamente acusados de na sua fase inicial, combinado com
matar pessoas não judaicas para o facto de alguns combatentes da Dupla ou ausência de lealdade
fins ritualísticos e supostamente resistência judaica se terem juntado nacional
em conluio com o Diabo. Na Euro- a unidades partidárias soviéticas
pa medieval, a  partir do século ou a partidos comunistas nacionais, Os judeus estão frequentemente
XII, isto foi frequentemente acom- complementou frequentemente as sujeitos a alegações de que conspi-
panhado por acusações de que os alegações de que os judeus, cole- ram para moldar a política públi-
judeus usavam o sangue das suas tivamente ou a título individual, ca em nome dos interesses judai-
vítimas para cozer matzah para não eram leais às suas pátrias. cos, ou q ue o  seu patriotismo
o feriado judaico do Pessach. His- Nos tempos modernos, o tropo dos é menor do que o de outros cida-
toricamente, estas falsas alegações judeus comunistas ressurge nos dãos. Isto manifesta-se ocasional-
têm sido frequentemente seguidas debates sobre a identidade nacio- mente na forma de alegações de que
de motins antissemitas e assassí- nal ou sobre a história da Segunda os judeus, coletivamente ou a nível
nios em massa. Os ecos deste libe- Guerra Mundial como afirmações individual, não são leais aos seus
lo de sangue ainda hoje se podem de que os crimes locais contra os países de origem. Para serem acei-
ouvir no discurso. judeus antes, durante e depois do tes como compatriotas nacionais,
Holocausto eram o resultado do fer- pede-se por vezes aos judeus que
Comunistas vor anticomunista. neguem a sua ligação com Israel,
apesar de Israel constituir fre-
O envolvimento de alguns judeus Mito do deicídio quentemente uma parte central da
e m mo v i me nt o s c omu n i s t a s identidade judaica. Este mito tam-
e social-democratas na Europa tor- Desde os primeiros anos da igreja bém pode aparecer em afirmações
nou-se frequentemente a base de cristã, algumas pessoas cristãs con- de que os judeus não participam
acusações de judaico-bolchevismo denaram os judeus pela morte de proporcionalmente no ser v iço
ou judaico-comunismo. Este mito Jesus Cristo e responsabilizaram os militar ou noutras esferas públicas
foi generalizado em toda a Europa judeus como um todo por esta ação.5 da vida em estados democráticos.

4
Os parágrafos anteriores e os exemplos de mitos e estereótipos são retirados de Addressing antissemitism through Education, op. cit.,
pp. 80-83.
5
A “Declaração sobre a relação da igreja com as religiões não-cristãs do Concílio Vaticano II (“Nostra aetate”)” repudiou este mito em
1965.

3
Comunicação social para tomar decisões, mas igno- emprestar dinheiro a juros, deixan-
ra o  facto de muitas outras pes- do este setor aberto a outras pes-
Alegações do controlo judeu dos soas, que podem ser semelhantes soas. Uma vez que os judeus eram
meios de comunicação social per- de alguma forma, serem também severamente impedidos de execu-
sistem desde pelo menos o início do funcionárias na indústria da comu- tar a maioria dos ofícios e possuir
século XIX e foram repetidas nos nicação social, e que a sua varieda- terras agrícolas, alguns começaram
Protocolos dos Anciãos de Sião.6 de, vastidão e constante desenvol- a emprestar dinheiro. Desde então,
Nos séculos XX e XXI, as pessoas vimento tornam impossível o seu os judeus têm sido retratados como
de ascendência judaica presumi- controlo dessa forma. ricos, poderosos e ameaçadores. Em
da ou real, que podem ter influên- alguns países, as mulheres judias
cia pessoal como resultado do car- Dinheiro e criminalidade têm sido estereotipadas como pes-
go que ocupam num determinado soas que se vestem de forma osten-
meio de comunicação social, têm A s a legações de fasc í n io dos siva para demonstrar riqueza. Hoje
sido associadas a reivindicações de judeus pelas finanças, e  de con- em dia, encontram-se em referên-
“controlo judeu” geral sobre toda trolo das mesmas, são tão anti- cias ao “dinheiro dos Rothschild”
a indústria dos meios de comuni- gas como o Novo Testamento, no ou à identificação de uma conspi-
cação social. Alguns grupos refe- qual os judeus são ocasionalmente ração judaica com a banca interna-
rem-se a isso como “controlo sio- retratados como cambistas envol- cional e a criminalidade.
nista” dos meios de comunicação vidos em práticas profanas no
social. A ideia afirma que estas pes- Templo em Jerusalém. Isto conti-
soas atuam em conjunto ao longo do nuou no período medieval, quan-
tempo de uma forma conspiratória do os cristãos estavam proibidos de

Os Protocolos dos Anciãos de Sião constituem um texto antissemita forjado que pretende descrever um plano judaico de domínio glo-
6

bal. Foi publicado pela primeira vez na Rússia, em 1903, e exposto como plágio grosseiro em 1921. Tem sido traduzido para várias línguas
e divulgado internacionalmente desde o início do século XX.

4
Estratégias para identificar
e desmistificar os estereótipos
antissemitas na sala de aula

Os professores devem realizar a compreenderem o impacto nega- a identidade de grupo, os professo-


debates sobre padrões gerais de tivo dos estereótipos e a abordagem res podem utilizar uma abordagem
estereótipos como ponto de parti- (muitas vezes atrativa) simplificada baseada nos direitos humanos para
da para a sensibilização relativa- a questões complexas que os este- combater a intolerância e a discri-
mente a estereótipos específicos, reótipos encorajam e permitem. minação contra os judeus por serem
incluindo o antissemitismo. Isto judeus, traçando paralelismos com
pode envolver o uso de exemplos de Uma vez que os alunos tenham as experiências de outros grupos.
tipos de estereótipos e padrões rela- ref let ido sobre a  for ma como
cionados para orientar os alunos estes conceitos se relacionam com

Três perguntas para desmistificar uma narrativa

Quem está por trás da informação? vas na informação. Se houver provas, potenciais disponíveis a partir des-
Pergunte aos alunos quem pensam são credíveis? Existe alguma forma tas outras fontes?
que está por trás da informação. de verificar as possíveis provas?
A fonte está identificada? É anóni- fonte:Adaptado de Stanford History
ma? É uma fonte primária? O que dizem outras fontes? Education Group, Civic Online
Pergunte aos alunos se já ouviram Reasoning, <https://sheg.stanford.
Quais são as provas para a afirma- esta informação antes. Existem ou- edu/civic-online-reasoning>.
ção ou declaração? tras fontes de informação iguais ou
Pergunte aos alunos se existem pro- semelhantes? Há diferentes provas

5
Exemplos de exercícios que os educadores podem utilizar para desconstruir
e prevenir os estereótipos antissemitas7

Tipo
Exemplo
de exercício

Usar narrati- Partilhar narrativas pessoais que destaquem:


vas pessoais • a diversidade dentro do mundo judaico para demonstrar que os judeus, tal como as pessoas
de outras tradições, têm uma ampla variedade de crenças e práticas religiosas, ou podem até
não ter crenças e práticas religiosas;
• as semelhanças entre judeus e outras pessoas, tais como características culturais, socioeco-
nómicas, geográficas, linguísticas e outras; e
• os judeus e outras pessoas de diversas comunidades religiosas ou culturais que tenham tido
impactos positivos em contextos locais, nacionais e/ou internacionais.

Integrar em • ensinar a história dos judeus na escola como parte da história local, nacional ou internacional;8
aulas de his- • individualizar a história e contar histórias pessoais de judeus (pessoas comuns e figuras conhe-
tória cidas que tenham contribuído para a ciência, as artes, a filosofia, etc.);
• considerar como vários estereótipos aceites nas sociedades têm impacto nos direitos desfru-
tados por homens, mulheres e membros de certas comunidades ou grupos, incluindo judeus,
em diferentes épocas da história, bem como nos dias de hoje; e/ou
• incluir aulas sobre antissemitismo desde o período antes do Holocausto até ao presente (não
substitui as aulas essenciais sobre o Holocausto).

Foco nas di- • os alunos podem criar os seus próprios autorretratos (na escrita, pintura, poemas, etc.) para re-
versas iden- fletirem sobre as suas próprias identidades diversas;
tidades dos • peça aos alunos que apresentem os seus autorretratos e peça-lhes que identifiquem a diver-
alunos sidade na sua turma (por exemplo, raça, cor, língua, nacionalidade, origem nacional ou étnica,
religião, cultura, sexo, orientação sexual, passatempos, interesses, ideais e idiossincrasias);
• orientar os alunos para identificarem certos aspetos dos seus autorretratos que possam revelar
ou gerar um estereótipo. Para tal, peça aos alunos que se concentrem em quem são e em que
fatores influenciam a formação da sua identidade (incluindo as suas escolhas internas e pres-
sões externas); e/ou
• explorar a relação entre a autoperceção de traços específicos por parte de um aluno e a perceção
que os outros têm dos mesmos para demonstrar como as narrativas sociais são construídas.

Estes exemplos foram retirados de Addressing antissemitism Through Education: Guidelines for Policymakers (Varsóvia: OSCE/ODIHR,
7

2018), p. 41, <https://www.osce.org/odihr/383089>.


Para uma bibliografia completa de fontes de informação de base sobre o Médio Oriente, ver a coleção da Biblioteca Yale do Próximo Orien-
8

te, <https://www.library.yale.edu/neareast/politics1.html>.

6
O que fazer se...? que a experiência pessoal é limita- houver, pode ser útil recordar aos
da e notar que os investigadores nor- alunos que todas as pessoas podem
... alguém exprimir um estereóti- malmente olham para milhares ou fazer generalizações baseadas em
po como, por exemplo: “Todos os centenas de milhares de exemplos noções pré-concebidas, mesmo que
judeus adoram dinheiro — é por antes de tirarem conclusões. não o devêssemos fazer. Isto permi-
isso que são ricos e gerem os ban- te que toda a sala de aula descon-
cos”? Mu itos estereót ipos contra os traia e esteja aberta a explorar de
judeus têm bases históricas comple- forma mais construtiva a afirma-
De uma forma não ameaçadora, ten- xas — como as acima mencionadas ção problemática no trabalho de
te encontrar as bases desta genera- — e vale a pena explorar as suas acompanhamento.
lização. Este estereótipo deve-se origens. Se não possuir o conheci-
apenas a uma experiência limita- mento para abordar o estereótipo ... alguém dá um exemplo que
da com judeus? Estas ideias vêm da quando este é levantado na sala de parece confirmar um estereótipo
família, amigos, filmes, televisão ou aula, responda explicando que sus- como verdadeiro, por exemplo:
livros? Ajude-os/as a pensar sobre as peita que se trata de um estereótipo “Os judeus têm narizes grandes,
origens desta desinformação. Este e que voltará ao assunto mais tar- basta olhar para [...], é um judeu
é um bom momento para falar sobre de com mais informações. e tem um nariz grande”?
como é fácil tirar conclusões erra-
das a partir de alguns exemplos. Há tensão na sala depois de o este- Esta afirmação específica refere-se
Também pode ser útil reconhecer reótipo ter sido dito em voz alta? Se a um antigo estereótipo racial de

Atividade deiro? E se estas afirmações fossem vários estereótipos. A raiva pode cor-
generalizações negativas? A sensa- responder a sentimentos de ataque,
Escreva no quadro algumas generali- ção seria diferente? Ensine ou recor- ao passo que o medo se pode refle-
zações, deixando o sujeito em bran- de à turma o que é um estereótipo. tir em querer recuar ou fugir. Os es-
co. Por exemplo: “Todos ___ gostam Relacione esta atividade ao estereó- tereótipos relacionam-se frequente-
de esparguete” ou “Todos ___ bebem tipo contra os judeus expresso an- mente com a forma como o poder ou
chá.” Peça à turma para contribuir teriormente na aula e lidere um de- a segurança são experienciados. Por
com ideias e para preencher o espa- bate com a turma sobre os perigos vezes a abordagem destas ideias de
ço em branco com diferentes grupos. dos estereótipos. um ponto de vista emocional pode
O que é que notam? O que aconte- ajudar a clarificar os conceitos sub-
ce quando se coloca o seu próprio Ajude os alunos a ganhar consciên- jacentes que estão a ser expressos
grupo interno (por exemplo, “alunos”) cia das emoções que estão a ex- na escolha de imagens estereotipa-
no espaço em branco: Parece verda- perienciar durante a discussão de das de um aluno.

7
A contraestereotipagem é uma técnica em que são fornecidas imagens As perguntas podem incluir: De
alternativas, expandindo as nossas noções sobre as características de onde vem esta ideia? Baseia-se na
grupos particulares de pessoas. Relativamente às características físi- sua própria experiência ou está
cas dos judeus, peça aos alunos para prepararem uma lista com fotos a repetir algo que já ouviu? Conhe-
de dez judeus conhecidos, do passado ou do presente, representando ce a fonte da informação que optou
uma grande variedade de setores sociais (por exemplo, ciência, des- por repetir? Pode partilhar alguma
porto, política, artes, negócios e filantropia) e países de todo o mundo. prova da sua afirmação? Está aber-
to/a a investigar a sua opinião? Está
Sabia que as pessoas de cor representam cerca de um quinto dos ju- aberto a mudar a sua opinião após
deus do mundo atualmente? Para um vídeo de rap sobre a diversidade a sua investigação?
judaica, ver “This is Unity” de Y-Love: <https://www.youtube.com/wat-
ch?v=uvRy8bGSpDU&list=PLvIhxOY_PTr2QjL2dwP8_hgPIg_R2mXQm>. ... uma fonte ou material didáti-
co inclui um estereótipo antisse-
mita?

É importante compreender que


que os judeus têm narizes grandes combinações possíveis. O estereó- muitas figuras influentes da his-
e tortuosos. Explique que alguns tipo do “nariz judaico” é uma pode- tória, incluindo líderes religio-
judeus, tal como algumas pessoas rosa imagem visual que liga a arte sos, políticos, filósofos, escritores
que não o são, podem ter narizes cristã medieval à propaganda nazi e artistas, tiveram opiniões antis-
grandes, mas que se trata de uma e aos desenhos animados antisse- semitas. Como resultado, os alu-
generalização. Os judeus vivem em mitas dos nossos dias,9 cujo objetivo nos podem deparar-se com tais
todo o mundo e casaram com popu- é retratar os judeus como ameaça- opiniões enquanto estudam fontes
lações locais durante séculos, resul- dores, desprezíveis, maus ou social- históricas, literatura e outros mate-
tando na inexistência de um “aspe- mente distantes. riais. Por exemplo, o famoso filóso-
to” judaico em particular (os judeus fo Iluminista Voltaire é conhecido
não são uma raça). Há judeus com Faça perguntas aos alunos que pelos seus escritos antissemitas, tal
cabelo ruivo e pele pálida, judeus desafiem as suas suposições e enco- como o poeta britânico T. S. Eliot
com pele escura e cabelo escuro raje o desenvolvimento das suas e o pensador-chave da Reforma Pro-
e  judeus com todas as restantes capacidades de pensamento crítico. testante, Martinho Lutero.10 Figuras

9
Sara Lipton, “The Invention of the Jewish Nose”, The New York Review of Books, 14 de novembro de 2014, <https://www.nybooks.com/dai-
ly/2014/11/14/invention-jewish-nose/>.
10
O antissemitismo nas obras destas figuras influentes do pensamento ocidental está bem documentado. Por exemplo, ver: Arthur Hert-
zberg, The French Enlightenment and the Jews (Nova Iorque: Columbia University Press, 1968); Anthony Julius, T.S. Eliot, Anti-Semitism
and Literary Form (Cambridge: Cambridge University Press, 1995); “Martin Luther”, Museu do Holocausto da Florida, <https://web.archive.
org/web/20080522013514/http://www.flholocaustmuseum.org/history_wing/antisemitism/reformation.cfm>.

8
políticas, incluindo Franklin D. Para um exemplo de como ensinar sobre uma obra de literatura que
Roosevelt, 11 também foram por emprega estereótipos, ver a orientação da Liga Antidifamação sobre
vezes associadas a ideias antisse- “O Comerciante de Veneza” de Shakespeare: <https://www.adl.org/news/
mitas. article/anti-semitism-and-the-merchant-of-venice>.

Há muitas oportunidades para


abordar histórias escondidas ou
controversas em currículos já exis-
tentes. Vale também a pena iden- Identificar e desconstruir estereó- também conter estereótipos sobre
tificar escritores, políticos, heróis tipos de judeus em fontes ou mate- mulheres, pessoas com deficiência,
populares e  histórias locais ou riais didáticos proporciona uma pessoas de cor e outras. É uma opor-
nacionais que retratam os judeus importante oportunidade de apren- tunidade para os alunos praticarem
e as comunidades de uma forma dizagem do contexto histórico e de o seu pensamento crítico, identi-
positiva, e apresentar o seu traba- como encarar textos e materiais ficarem os seus próprios valores
lho à turma. controversos. Estes textos podem e tornarem-se mais confiantes na

Estereótipos nas fontes: Lista de verificação de análise

• Quando é que a fonte foi escrita te com elementos desconfortáveis pos? Por que razão podem ter sido
e por quem? Qual era o contexto do passado da sociedade? utilizados estereótipos nesta fon-
social e a perspetiva do autor na • Havia alguma agenda política ou te? Poderia o autor tê-lo feito de
altura? social por trás do que a fonte escre- forma diferente?
• Que assunto aborda a fonte? É uma veu? Poderia isso ter influenciado • Porque é que esta fonte vale a pena
peça de literatura sobre um deter- a forma como foi escrito o texto? utilizar ainda hoje? O que podemos
minado lugar e  tempo? Trata-se • Que estereótipos são retratados? aprender com ela?
de um período histórico importan- Qual é a origem destes estereóti-

“Eleanor Roosevelt and the Jews” por Warren Boroson, Jewish Standard, Nova Jérsia, Estados Unidos da América, 26 de julho de 2013,
11

<https://jewishstandard.timesofisrael.com/eleanor-roosevelt-and-the-jews/>.

9
Atividade

Experimente a “autoassociação”:
• durante uma aula ou comemoração histórica, ao conceber a noção de “nós” (“na nossa cidade/país”, etc.), inclua
judeus e outras comunidades minoritárias como uma parte normal do grupo;
• numa reunião, tente incluir judeus e membros de outros grupos minoritários na ocasião e nas imagens utilizadas
para promover o evento; e
• quando pensar em si próprio enquanto pai/mãe, professor, mulher ou homem, religioso ou não religioso, veja-se
a si próprio como estando a partilhar esse atributo com pessoas pertencentes a outras comunidades.

Dado que as pessoas normalmente pensam em si próprias de forma positiva, e associam prontamente os mem-
bros do grupo interno a si próprias, os membros do grupo interno ficam automaticamente imbuídos de positivida-
de. Investigações demonstraram que uma estratégia denominada “autoassociação” pode reduzir a probabilidade
de ativação de tais preconceitos automáticos. A autoassociação pede-nos para redefinir “nós”, de modo a que as
pessoas tipicamente fora do grupo se tornem parte do nosso grupo interno. Foi demonstrado que, quando um gru-
po inter-racial de pessoas trabalha em cooperação sob uma identidade partilhada, essas pessoas estão menos in-
clinadas a aplicar estereótipos ao grupo racial de outras pessoas.

fontes: Anna Woodcock e Margo J. Monteith, “Forging links with the self to combat implicit bias”, Group Processes and
Intergroup Relations, Vol. 16, 4.ª edição, 8 de novembro de 2012, p. 445-461; Gaertner, S.L e Dovidio, J.F. (2000). Aver-
sive Racism and Selection Decisions. Psychological Science 2(4), p. 315-319.

rejeição de certas ideias, enquanto um estereótipo prejudicial a partir como os colegas da sua turma.
consideram outras. do seu espaço de aprendizagem, os A  responsabilidade partilhada
alunos podem também identificar entre os alunos cria uma atmosfera
Os professores podem encorajar os seus próprios preconceitos pes- de apoio nas salas de aula e incen-
os alunos a aceitarem a sua res- soais, que podem não ter percebi- tiva o trabalho de equipa, nomea-
ponsabilidade partilhada na iden- do que eles/elas e a sua sociedade damente entre alunos que possam
tificação e desconstrução de este- tinham e que podem ter tido um ter tido anteriormente preconceitos
reótipos. Através do processo de impacto negativo sobre os judeus uns em relação aos outros.
identificação, pesquisa e difusão de ou outras pessoas à sua volta, tais

10
Recursos e materiais para
leitura complementar

Principais publicações: Para mais informações sobre mitos e factos antis-


semitas, ver:
Addressing Anti-Semitism through Education: Guide-
lines for policymakers (Varsóvia: OSCE/ODIHR, 2018), Liga Antidifamação, “CAS Myths and Facts”,
<https://www.osce.org/odihr/383089?download=true>: <https://www.adl.org/sites/default/files/documents/
• para informação e atividades para encorajar a autor- assets/pdf/education-outreach/CAS-Myths-and-Fac-
reflexão entre educadores e alunos, ver página 32; ts.pdf>;
• para exemplos de exercícios para desconstruir e pre-
venir os estereótipos antissemitas, ver páginas 41 Liga Antidifamação, Using Facts to Respond to Anti-Sem-
e 42; itism, 2006,
• para informações sobre a educação das crianças rela- <https://www.adl.org/media/5137/download>; e
tivamente a imagens estereotipadas, ver página 43; e
• para informação para ajudar a reconhecer estereó- Rede Europeia contra o Racismo, “Debunking Myths
tipos antissemitas, ver Anexo 2 (“Examples of Anti- about Jews”, outubro de 2015,
-Semitic Tropes or Memes”) e Anexo 3 (“Examples of <https://www.enar-eu.org/wp-content/uploads/
Anti-Semitic Symbols”). debunkingmyths_lr.pdf>.

A Teacher’s Guide on the Prevention of Violent Extre- Para mais informações sobre o preconceito implí-
mism (Um Guia do/da Professor/a sobre a Prevenção do cito, ver:
Extremismo Violento) (Paris: UNESCO, 2016),
<https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000244676>. Implicit Bias Project (Projeto de preconceito implíci-
to) (incluindo testes para medir o preconceito implí-
cito das pessoas em relação a diferentes grupos), ver:
<https://implicit.harvard.edu/implicit/>; e 
<https://www.projectimplicit.net/>.

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Para ideias de ensino sobre estereótipos, ver:

Teaching Tolerance, “Teaching About Stereotypes”


(Ensinar Sobre Estereótipos),
<https://www.tolerance.org/magazine/teaching-abou-
t-stereotypes-20>; e 

“Learning Plans” (Planos de Aprendizagem),


<https://www.tolerance.org/classroom-resources/lear-
ning-plans?keyword=stereotypes>;

Liga Antidifamação, “Lemons — An Activity on Gene-


ralization and Stereotypes for Elementary School Chil-
dren” (Limões — Uma Atividade sobre Generalização
e Estereótipos para Crianças do Ensino Básico),
<www.adl.org/assets/pdf/education-outreach/Lemons-
-from-Empowering-Children.pdf>;

Discovery Education, “Understanding Stereotypes”


(Entender os Estereótipos),
<http://www.discoveryeducation.com/teachers/free-
-lesson-plans/understanding-stereotypes.cfm>; e

Education World, “Bursting Stereotypes” (Eliminan-


do Estereótipos),
<http://www.educationworld.com/a_lesson/03/lp294-
01.shtml>.

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