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APRESENTAÇÃO DA MÁRCIA

DOM PEDRO II: APTIDÃO AO ESTUDO DOS IDIOMAS E O AVANÇO DO


IMPÉRIO BRASILEIRO NA COMUNICAÇÃO

Dom Pedro II (ou Pedro II do Brasil) foi o segundo e último Imperador do Brasil,
ele nasceu no Paço de São Cristóvão, na Quinta de Boa vista, no Rio de Janeiro.
Eram duas e meia da madrugada de 2 de dezembro de 1825. Pedro nasceu com
47 centímetros sendo o 7º filho do Imperador Pedro I e da Imperatriz Leopoldina
o casal imperial que ocupava o trono desde a independência. Os dois primeiros
que foram: Miguel e João Carlos morreram ainda recém-nascidos. O boletim
oficial do médico da corte diz: “Sua Majestade, a imperatriz, deu à luz a um
príncipe, com a maior felicidade possível”. (Olivieri, s.n., pág. 5). Era difícil
crer, pois um parto complicado com cerca de 5 horas pudesse ter dado certo.

Seguindo as tradições portuguesas e reais, o herdeiro do trono recebeu vários


nomes a fim de homenagear seus avós, santos e anjos, seu nome completo era:

Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco


Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e
Bourbon.

INFÂNCIA E EDUCAÇÃO

Era considerado precoce, dócil e obediente, porém chorava frequentemente e


muitas vezes nada parecia agradar ele. Ele "não foi criado na luxúria e tudo era
muito simples.
O jovem, que perdeu a mãe, Maria Leopoldina, com um ano de idade, cresceu
no grande palácio, mas distante do pai, que revezava entre comemorações e o
governo.
Todavia, as coisas ficariam ainda piores em 1831, quando, por diversas
pressões, D. Pedro I abdicou do trono e foi para Portugal. Sem o pai, o garoto
passou a ser criado pelos tutores, diante de uma situação bagunçada

Além disso, seus dias também eram marcados pela imensa pressão diária,
afinal, ele deveria ser instruído para liderar um gigante império. Mais do que isso:
precisaria transpassar as dificuldades do pai, sendo conciliador, bom
administrador e articulador político, diante das contradições do império brasileiro,
marcado pela escravidão e o isolamento.

Como consequência, José Bonifácio tornou-se o tutor do jovem. Seria sua


responsabilidade o treinamento político, diplomático e cultural do futuro
imperador. Ao mesmo tempo, a Assembleia Geral exigia constantes relatórios
do desenvolvimento do herdeiro.
O tutor começou bem sua educação, mas logo foi destituído pelo Parlamento
diante da situação caótica do país. Então, Manuel Inácio de Andrade, o Barão
de Itanhaém, tornou-se o novo responsável por Dom Pedro II. Ele foi um dos
principais instrutores do jovem, e chegou a indicar o Marquês de Sapucaí como
um de seus instrutores na criação de um vasto léxico ao monarca.

léxico significa dicionário, é o conjunto dos vocábulos de uma língua, de


uma arte, de uma ciência, de expressões regionais, de línguas clássicas
antigas etc.

Desde criança, foi levado a acordar diariamente às 6h30, para iniciar seus
estudos às 7, com poucos intervalos. A jornada durava até às 22h, quando
jantava e ia para a cama. D. Pedro ainda teve a ajuda de personagens notáveis
durante sua criação, como D. Mariana Carlota de Verna, principal aia e
professora, que ensinou ao lado do padre Antônio de Arrábida, antigo tutor
de Pedro I, e do frei Pedro Mariana, que o lecionou línguas, matemática e
religião. Seu último responsável foi um homem de nome Rafael, no entanto,
pouco se sabe sobre sua vida. No entanto, afirma-se que se trata de um homem
negro e veterano da Guerra da Cisplatina. Era tratado com carinho por Mariana
carlota e Rafael, que costumava carregá-lo em seus ombros e permitia que o
monarca se escondesse em seus aposentos para fugir dos estudos, para a
educação do futuro imperador foram destacados mestres ilustres de seu tempo.
D. Pedro estudou vários idiomas, literatura, geografia, ciências naturais, pintura,
piano e música e equitação, aprendendo desde cedo, ele desenvolveu grande
inteligência e foi versado nas mais diversas áreas. Forçou-se a desenvolver uma
personalidade distante do boêmio pai, o fazendo ser empático e disciplinado,
além de alfabetizado em latim, francês, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe,
hebraico, occitano e tupi. Ainda entendia de engenharia, astronomia,
matemática, esgrima, biologia e diversas outras áreas (LYRA, 1977).

APTIDÃO AOS ESTUDOS

O ambiente em que o imperador cresceu o transformou em uma pessoa tímida


e carente que via nos "livros outro mundo onde ele podia se isolar e se proteger”.
Por de trás da "pompa da monarquia, da aparência autossuficiente, deve ter
vivido um homem infeliz".

Nesse sentido, o estudo na vida de D. Pedro II ia além de uma normal rotina


educacional, “mais do que hábito, leitura e estudo transformaram-se numa de
suas paixões. Enfurnado no palácio, longe dos pais, educado por estranhos [...]
fez dos livros um mundo à parte, em que podia isolar-se e proteger-se”
(CARVALHO, 2007, p. 29)
O grande isolamento e a infelicidade que o seu precoce papel de Imperador lhe
causava o levou a buscar não somente amparo na leitura, mas também
compensação afetiva e autoafirmação nas intensas relações .
O primeiro idioma que aprendeu obviamente foi o português. Quando a
Imperatriz Amélia chegou na corte carioca em outubro de 1829 encontrou o
palácio muito bagunçado, tentando organizar as coisas, ela impôs como língua
oficial o francês. Dessa forma, o príncipe e suas irmãs princesas começaram a
aprender o idioma francês para se comunicarem com sua madrasta. Ainda antes
dos 5 anos, dona Mariana escreveu que Dom Pedro II estava começando a falar
e escrever em inglês.
Aos 12 anos de idade, o menino já havia aprendido mais um idioma, o alemão,
que era a língua falada por sua família materna. Ainda na adolescência aprendeu
a falar espanhol fluentemente, tendo em vista que esse era o idioma principal
dos países vizinhos do Brasil. Posteriormente, por volta de seus 17 anos, o
Imperador aprendeu a falar italiano, pois sua esposa, a Imperatriz Teresa
Cristina era proveniente de uma corte de Nápoles. Existem registros que
comprovam que o Imperador também aprendeu a falar tupi chegando a
conversar com vários indígenas em seu idioma nativo. Podemos concluir que
Dom Pedro II falava fluentemente cerca de sete idiomas, são eles: português,
espanhol, francês, inglês, italiano, alemão e tupi. Um verdadeiro poliglota. Em
seu tempo livre, o monarca se dedicava ao estudo de outros idiomas, mas isso
não quer dizer que ele falava fluentemente. Sabemos que Dom Pedro II
estudou Latim, que é uma antiga língua indo-europeia do ramo itálico
originalmente falada no Lácio, uma região do entorno da cidade de Roma.
Estudou também sânscrito, que é uma língua litúrgica muito importante no
hinduísmo e budismo. Também se dedicou ao estudo do idioma provençal, que
é um antigo dialeto falado em determinada região da França. Dom Pedro II,
estudou também o idioma russo e grego e temos vestígios que Dom Pedro II,
estudou a fundo hebraico e árabe, chegando a traduzir grandes obras.
Com isso, podemos concluir, que o segundo imperador do Brasil falava
fluentemente sete idiomas (português, espanhol, francês, inglês, italiano, alemão
e tupi) e estudou outros sete (latim, sânscrito, provençal, russo, grego, hebraico
e árabe) totalizando 14 idiomas.

DOM PEDRO II: UM TRADUTOR IMPERIAL E O AVANÇO DA


COMUNICAÇÃO NO BRASIL IMPÉRIO
A possível visão de um imperador marionete, deu-se um lugar a um personagem
de personalidade gigante:

Pronto ou não para governar, o Imperador teve sua maioridade antecipada nos
seus quatorze anos; na sua formação política de D. Pedro II, que se iniciou em
uma certa idade, além dos tutores, tomaram parte outras pessoas do ambiente
doméstico e político que o cercava com certa influência e participação na
condução de seu governo. A possível visão de um imperador marionete, deu-se
um lugar a um personagem de personalidade gigante:
O poder entregue em suas mãos, ainda inexperientes, impôs-lhe a missão de
governar, fato que o fez se recolher cada vez mais em sua intimidade. Esse
recolhimento foi visto como desinteresse pela tarefa de governar e tornou-se
tema das críticas mais levadas à imprensa da época.
Contudo o Imperador foi perseverante no trabalho e nos estudos, sendo estes
últimos os que despertavam seu interesse mais genuíno, e sua atitude, que era
reservada nas atividades políticas, tornava-o louco, quando falava de artes,
ciências e, principalmente, literatura. Como era um entusiasta da linguagem, D.
Pedro II fazia uso de seu conhecimento das línguas sempre que podia.
A questão da formação cultural introduz a importância e contribuição das
traduções literárias que assumem um papel para a formação de uma nova
literatura, por possibilitarem novos modelos textuais ou mesmo matrizes para o
desenvolvimento de uma história cultural nacional (1978)..
É notório o amor do imperador D. Pedro II pela ciência e pela literatura a criação
de uma identidade nacional começou com uma necessidade inata de se
expressar sua posição política pessoal, representada pelo imperador, é
enfatizada por meio de seus escritos, seu papel governante provou ser vantajoso
para sua causa. Ele adorava aprender idiomas e as artes, especialmente a
literatura. O Imperador incentivou ações intelectuais, acolhidas em um centro de
estudos e debates, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de
Janeiro, que, seguindo os moldes franceses, foi criado com o objetivo de
construir uma nova nação.
D. Pedro II empenhou-se também no conhecimento da língua indígena, tanto o
tupi como o guarani, o que lhe rendeu o sucesso em conflitos territoriais. Tal fato
o valorizou nos círculos do movimento literário e incentivou as pesquisas
etnográficas, linguísticas e naturalistas como resgate de elementos de uma
cultura nacionalista. Provavelmente esses eventos influenciaram a projeção
internacional do Imperador, e, especialmente nos meios literários, foi de grande
importância sua habilidade com as línguas estrangeiras. Por volta de 1850, e
com menos de trinta anos, D. Pedro II descreve em seu Diário, em registro de
Lyra (1977), suas aptidões com as letras e as ciências e, também, seus primeiros
contatos com homens do pensamento, que eram considerados espíritos
iluminados, a satisfazer suas curiosidades crescentes na busca do
conhecimento.

Essa gama de leituras e informações a que se dedicava D. Pedro II pode ser


verificada na intensa troca de correspondência entre ele e diversos intelectuais
do país e do exterior. Esses correspondentes expunham ao Imperador as
inovações intelectuais e científicas de seus países, e este, por sua vez, buscava
aplicar algumas dessas inovações no Brasil. Os acontecimentos culturais,
científicos ou de outra natureza eram discutidos tão logo ocorriam, seus
correspondentes eram fontes seguras de informações. Por serem em sua
maioria pessoas ligadas às artes e à literatura, é evidente que exerceram
influência nas leituras e, por conseguinte, nas traduções realizadas pelo
Imperador.

A escolha dos textos para tradução não segue um critério único: há textos
poéticos, em prosa, músicas, peças de teatro e textos religiosos, em línguas
antigas e modernas.

Essa necessidade de comunicação, além dos


assuntos políticos, é testemunhada pela prática
constante, ao longo de sua vida, de escrever diários
em que anotava toda a sua atividade de forma
quase maníaca.

Conforme relata Carvalho, “O Imperador escreveu


5.500 páginas de diário, registradas a lápis em 43
cadernos” (2007, p. 29).

Essas páginas se tornam fundamentais para acompanhar o processo criativo do


Imperador, pois frequentes são as anotações acerca de sua atividade tradutória
e acerca de livros, estudos e encontros. Nos seguintes trechos, há uma
confirmação da constância com que a atividade tradutória estava presente em
sua vida e do papel importante que desenvolvia em sua aprendizagem de línguas
e culturas estrangeiras e para sua afirmação no meio literário e não literário.
Vejamos aqui trechos do seu diário.

• 21 de novembro de 1872 “5h ¼. Tomei o café e vou traduzir do hebreu”.


• 18 de novembro de 1876 “Depois do almoço, enquanto não se seguia traduzi
os Atos dos Apóstolos com o Henning
• 8 de julho de 1887 [...] “3h ½ Traduzi desde 2 ½ sânscrito com o Seibold”.
• 12 de julho de 1887 [...] “[sic] h ½. Acabei de traduzir árabe depois de
comparar a tradução dos Lusíadas em alemão com o original e de continuar
a traduzir as Mil e uma noites no original com o Seibold”.
• 1 de maio de 1888 [...] “8h ¾ Não pude acabar de traduzir o Soneto de
Manzoni falando de si”. “11h 40’ [...] traduzi o soneto que Manzoni fez a si
[...]”.
• Interessava-se pelas línguas estrangeiras com prazer e porque acreditava
que estas auxiliavam no aperfeiçoamento de sua formação. Procurava
compreendê-las e, como ele próprio afirmou, ocupou-se delas em relação à
filologia e as traduzia por conta própria. D. Pedro II foi um visionário que não
poupou esforços para estimular a chegada e circulação de outras culturas.
Nessa direção, acredita-se que suas práticas tradutórias puderam favorecer
a ampliação de uma cultura nacional que pôde ser resgatada e
reapresentada. (TEIXERA, 1917)

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