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“O uso do termo hegemonia não é acidental, uma vez que o grupo racial no
poder enfrentará resistências. Para lidar com os conflitos, o grupo dominante
terá de assegurar o controle da instituição, e não somente com o uso da
violência, mas pela produção de consensos sobre sua dominação. Desse
modo, concessões terão de ser feitas para os grupos subalternizados a fim de
questões essenciais como o controle da economia e das decisões
fundamentais da politica permaneçam no grupo hegemônico. (Pag 33)
“Por ser processo estrutural, o racismo também é processo histórico” (Pag 44)
“Nas teorias liberais sobre o Estado há pouco, senão nenhum, espaço para o
tratamento da questão racial. O racismo é visto como uma irracionalidade em
contraposição à racionalidade do Estado, manifestada na impessoalidade do
poder e na técnica jurídica. Nesse sentido, raça e racismo se diluem no
exercício da razão pública, na qual deve imperar igualdade de todos perante a
lei” (pag70)
“o Estado tem uma autonomia relativa sobre a economia, algo importante para
a preservação do próprio capitalismo” (pag75)
DA BIOPOLÍTICA A NECROPOLÍTICA
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“Se para Foucault o Estado nazista foi o ponto exemplar da fusão entre morte e
política, a síntese mais bem-acabada entre “Estado racista, Estado assassino e
Estado suicidário” foi, todavia, a experiência colonial a sua gênese.” (pag93)
“A peculiaridade do terror colonial é que ele não se dá diante de uma ameaça
concreta ou de uma guerra declarada; a guerra tem regras, na guerra há
limites. Mas e na ameaça da guerra? Qual o limite a ser observado em
situações de emergência, em que sei que estou perto da guerra e que meu
inimigo está próximo? Não seria um dever atacar primeiro para preservar a vida
dos meus semelhantes e manter a “paz”? É nesse espaço de dúvida, paranoia,
loucura que o modelo colonial de terror se impõe. A iminência da guerra, a
emergência de um conflito e o estresse absoluto dão a tônica para o mundo
contemporâneo, em que a vida é subjugada ao poder da morte.”(pag96)
“Hoje em dia, a grande maioria dos autores, até mesmo por imposição das
circunstâncias sociais e econômicas do capitalismo, é juspositivista, ou seja,
concebe o direito como o conjunto de normas impostas pelo Estado.”(pag106)
“Tanto o racismo quanto o próprio direito são retirados do contexto histórico e
reduzidos a um problema psicológico ou de aperfeiçoamento racional da ordem
jurídica de modo a eliminar as irracionalidades – como o racismo, a
parcialidade e as falhas de mercado.”(pag107)
“da mesma forma que podemos analisar a relação entre direito e poder na
direção do antirracismo, a história nos mostra que, na maioria dos casos, a
simbiose entre direito e poder teve o racismo como seu elemento de ligação. A
ascensão ao poder de grupos políticos racistas colocou o direito à serviço de
projetos de discriminação sistemática, segregação racial e até de extermínio,
como nos notórios exemplos dos regimes colonial, nazista e sul-africano.
Contemporaneamente, a chegada ao poder de grupos de extrema-direita em
alguns países da Europa e nos Estados Unidos tem demonstrado como a
legalidade coloca-se como extensão do poder, inclusive do poder racista, na
forma de leis anti-imigração direcionadas a pessoas oriundas de países de
maioria não branca, ou da imposição de severas restrições econômicas às
minorias, A conclusão é que o racismo é uma relação estruturada pela
legalidade.”(pag109)
“Embora a resistência contra o racismo tenha raízes mais antigas, foi no século
XX que os movimentos sociais assumiram um decisivo protagonismo político.
Além da luta política – que envolveu disputas institucionais e até combates
armados –, os movimentos sociais formaram intelectuais de produção variada e
constituídos sob a influência das mais diversas matrizes culturais e ideológicas,
que dialogaram, mesmo que de modo tenso e muito crítico, com vertentes
liberais, existencialistas e marxistas, o que se pode observar na tradição de
estudos decoloniais e pós-coloniais. O certo é que a experiência política e
intelectual dos movimentos sociais serviu para inspirar práticas políticas e
pedagógicas inovadoras que contestaram firmemente os fundamentos do
racismo.”(pag118)
RACISMO E ECONOMIA
“Esta questão se torna ainda mais curiosa se olharmos para o debate brasileiro
sobre as cotas raciais. Embora acreditando que o problema do racismo – e da
desigualdade – seja educacional, muitas pessoas foram contrárias às políticas
de cotas. Isso se explica pelo fato de que no Brasil a universidade não é
apenas um local de formação técnica e científica para o trabalho, mas um
espaço de privilégio e destaque social – um lugar que, no imaginário social
produzido pelo racismo, foi feito para pessoas brancas. O aumento de negros
no corpo discente das universidades tem, portanto, impactos ideológicos e
econômicos, pois, ainda que timidamente, tende a alterar a percepção que se
tem sobre a divisão social do trabalho e a política salarial.” (PAG132)
“A base da constituição da sociedade capitalista – a troca mercantil – não é um
dado natural, mas uma construção histórica. O mercado ou sociedade civil não
seria possível sem instituições, direito e política. Como nos adverte Robert
Boyer, “as instituições básicas de uma economia mercantil pressupõem atores
e estratégias para além dos atores e estratégias meramente econômicos”.
(PAG134)