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MARIANA

CRISTINA FERNANDES

RELACIONAMENTO
(DES)COMPLICADO:
autoconhecimento é liberdade
Sumário
Apresentação................................................ 2
Você, seu par e suas bagagens................... 6
Comportamento de escolha.......................18
Valores pessoais.........................................30
Comunicação e seus desafios...................46
Privacidade e individualidade....................65
Objetivos de vida........................................ 92
Ciladas: cuidado!.......................................107
Não pare, continue!...................................137
Sobre a autora........................................... 140
apresentação

Meu trabalho, na maior parte do tempo,


acontece nos bastidores, somente eu e meu
cliente. Nossas conversas ganham o mundo,
quando cada uma dessas pessoas que passa
pelo meu consultório alcança mudanças
em seus comportamentos. Elas são teste-
munhas vivas de que o autoconhecimento
promove qualidade de vida e autonomia.

Relacionamento (des)complicado: autoconhecimento é liberdade


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Por conta disso, é costumeiro ouvir o quanto
cada cliente se sente mais livre, à medida
que a psicoterapia avança. Montar seu
próprio quebra-cabeça não é fácil, exige
coragem, entrega e muita confiança, tiro
meu chapéu para cada um deles.
Enquanto Psicóloga, meu objetivo é
promover autoconhecimento e mudanças
comportamentais, para além das quatro
paredes do consultório. Com este e-book,
estou cada vez mais perto deste sonho!
Aqui, você vai entrar em contato com
uma série de informações e reflexões pensa-
das com cuidado e atenção, buscando trazer
um conteúdo rico e questionamentos
inquietantes. Desejo fortemente que as
próximas páginas te causem muito incô-
modo, afinal, não há autoconhecimento,

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quando todas as “peças” permanecem no
mesmo lugar.
Agradeço imensamente a cada um dos
clientes que confiam suas vidas a mim.
Com eles aprendo o que é ser humana
e imperfeita, acima de qualquer coisa.
Juntos, choramos e sorrimos, comemora-
mos e nos decepcionamos, semanalmente.
Sem dúvida, foram as relações terapêuticas
estabelecidas com cada um deles que me
fizeram chegar a este apanhado de infor-
mações. Use e abuse de cada reflexão pro-
posta aqui, pois foram todas pensadas com
muito amor.
Penso que se você está com este material
em mãos, está disposto a ir mais fundo,
conhecendo a si mesmo e melhorando seu
relacionamento. Saiba que o caminho para

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o autoconhecimento não se esgota com
este livro, há muito mais, além de tudo isso.
Não pare por aqui, continue. Mergulhe
mais fundo! Autoconhecimento é uma via-
gem que liberta. E viagens, para mim, são
sempre encantadoras!
Apaixone-se pela sua história, reconheça
seu caminho, exercite a autocompaixão
e, a partir disso tudo, potencialize seu rela-
cionamento. Ele é um reflexo de quem o
compõe, e você faz parte desse time.
Pegue um café e boa viagem!

Com muito carinho,


Mari

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Você,
seu par e
suas bagagens
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Como começar a falar de relaciona­
mento, sem falarmos de cada uma das
partes? Impossível! Não podemos perder
de vista que, para formarmos uma relação
amorosa, precisamos de, ao menos, duas
pessoas diferentes, concorda? É a partir
dessa ideia que construiremos toda a nossa
conversa por aqui.
Costumo dizer que cada um de nós, eu,
você, seu parceiro ou sua parceira, não
chegamos “zerados” a uma relação. Todos
temos uma série de experiências prévias
que nos acompanham para todo lado.
Carinhosamente, batizei a junção des-
tas experiências com o termo “bagagem”.
Gosto desta expressão, porque nos remete
ao ato de carregar elementos fundamen-
tais, independentemente de onde viemos e

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para onde vamos.
Pois bem, quando falamos de relacio-
namento amoroso, estamos falando da
junção de duas bagagens. São grandes
malas cheias de experiências, alegrias,
aprendizados, marcas, cicatrizes, vitórias,
fracassos, dores, alegrias, desamores, con-
quistas e muito mais. Somos uma grande
mala repleta de emoções e “verdades”.

O QUE É A MINHA BAGAGEM?

Esta é a pergunta que você deve estar


se fazendo neste exato momento. Vou te
ajudar a esclarecer!
Quando falo sobre bagagem, me refiro
a sua história de vida, às experiências que
te moldam como pessoa e influenciam sua
forma de se comportar. Nossa família é

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protagonista nesta história toda, não há
como negar. Desde crianças, somos modela-
dos por nossos cuidadores (mãe, pai, avós,
padrinhos, tios, amigos, abrigo...). Eles nos
ensinam muito! Influenciam nosso modo
de falar, nossa forma de resolver proble-
mas, de nos comunicar e também a forma
como sentimos o mundo. É comum subes-
timarmos o impacto e influência que essas
pessoas têm em nossa vida. Mas, acredite,
não há como negarmos o quanto somos
“fruto” desse ambiente.
Conforme vamos crescendo, outras pes-
soas e lugares passam a nos influenciar:
escola, amigos, família de amigos, colegas,
religião, namorados, “ficantes”, faculdade,
profissão, lugares em que trabalhamos,
enfim, todos ambientes e lugares que nos

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relacionamos. Claro que nem todas essas
experiências têm a mesma proporção em ter-
mos de intensidade e significância. Mas todos
os lugares e as pessoas que encontramos
vão adicionando experiências e aprendiza-
dos, contribuindo assim com nossa baga-
gem de bordo.

O QUE É A BAGAGEM DO OUTRO?

O princípio é o mesmo: nosso parceiro


ou parceira não viveu “no vácuo”, ele ou ela
também carrega uma porção de experiên-
cias de vida. Sua família, seus cuidadores,
os lugares que frequentou, tudo isso está
dentro de sua bagagem.“Ah, mas isso é
óbvio!” você deve estar pensando. Devo
dizer que, por mais óbvio e claro que
pareça, a maioria das pessoas escorrega

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neste primeiro detalhe: a história de vida
do outro é diferente da sua. Isso mesmo
que você leu! Negligenciar a bagagem de
vida do seu par é uma das práticas mais
comuns nos relacionamentos tóxicos e fra-
cassados, pois ela abre margem para uma
porção de problemas.
Assim como você, seu par também
vivenciou uma série de experiências. Foi
ensinado e reproduziu formas diferentes
de viver a vida. Percorreu caminhos que
você não percorreu e tropeçou em pedras
que você não tropeçou. Atente-se!
Neste exato momento, você pode estar
invalidando a história de vida da pessoa
com quem você se relaciona, tentando
interpretá-la com base em suas verdades.

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NOSSA BAGAGEM?

Como você deve imaginar, o que vou dizer


agora soará como ”um mais um é igual a dois”.
A noção de que você tem uma bagagem de
vida, somada à clareza de que a pessoa com
quem você se relaciona também tem uma
bagagem de vida, só poderia resultar num
grande desafio: como viver orquestrando
duas bagagens distintas? Este é o grande
desafio do relacionamento. Conhecer a sua
bagagem, respeitá-la, conhecer a bagagem
do outro, respeitá-la, unir as compatibili-
dades e respeitar as incompatibilidades,
tudo isso é, sem dúvidas, uma luta diária.
A união de duas histórias de vida diferen-
tes constituirá um “nós” que, por sua vez,
também terá sua própria bagagem.
Será que compliquei demais?

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Vamos tentar esclarecer: trocando em
miúdos, um relacionamento amoroso, nada
mais é que um “filho” a ser criado, educado
e modelado por pessoas diferentes, que
decidiram constituir uma nova história.

A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO

Não é papo de Psicólogo somente, nem


exagero da minha classe. Desenvolver o
autoconhecimento economiza boas “cabe-
çadas” na vida e nos relacionamentos. Nem
sempre é tão simples e fácil compreender
nossa bagagem. Nem sempre temos muito
claro os impactos que a relação com nossa
família nos causou. Sequer conseguimos
perceber o quanto repetimos e reproduzi-
mos comportamentos de algumas pessoas
como, por exemplo, nossos pais (esse é

Relacionamento (des)complicado: você, seu par e suas bagagens


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clássico!).
É por tudo isso que acabamos vivendo
no automático e, simplesmente, saímos por
aí, nos relacionando. Sem clareza e cons-
ciência de nada, apenas agindo, iniciamos
relações “sem pé e nem cabeça” e saímos
de relações “num passe de mágica”. Pouco
refletimos sobre nossas ações, apenas nos
damos conta de onde fomos parar, quando
o “calo aperta”.
Desenvolver o autoconhecimento nos
tira desse tal “modo automático”, nos
coloca para pensar e nos responsabiliza
por nossas ações. Revisitamos memórias
importantes e passamos a conhecer mais
do nosso modo de funcionamento. De que-
bra, mudamos alguns padrões e aprende-
mos a fazer diferente.

Relacionamento (des)complicado: você, seu par e suas bagagens


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Quando você aprende a montar o que-
bra-cabeça que é a sua história, quando
se torna consciente de suas dificuldades e
do seu “calcanhar de Aquiles”, fica muito
mais fácil se relacionar. Juro para você! Ao
entrar mais consciente na relação, se torna
mais difícil “se perder” em meio ao outro.
Você consegue separar o que é seu, o que
é do seu par. Que liberdade, já imaginou?
Além de tudo isso, o autoconhecimento
tem mais um valor agregado. O ato de
conhecer a si mesmo (e mudar, quando
necessário!) ajuda muito na compreen-
são da bagagem do outro. Fazer as pazes
com nossa história favorece a empatia pelo
outro, nos ajuda a olhar para a história do
nosso par com mais gentileza, paciência
e amor.

Relacionamento (des)complicado: você, seu par e suas bagagens


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Que tal refletirmos um pouquinho? Abaixo estão
algumas perguntas que nortearão sua reflexão acerca
da sua bagagem, da bagagem do outro e da bagagem
de vocês em união.
Questione-se sobre sua história:
• Como é a família em que você foi criado?
• Como são as pessoas que cuidaram devocê?
• Qual é a forma que você se lembra dessas
pessoas?
• Quais são os momentos mais marcantes de
sua história (bons e ruins)?
• Quais ambientes foram importantes para
você e como eles influenciaram em sua
história?
• Como você aprendeu a se relacionar?
• Q u a l a q u a l i d a d e d e s u a s r e l a ç õ e s
interpessoais?
• Como será que é se relacionar com você?

Sobre a história da outra pessoa:


• Como é a família que essa pessoa foi criada?
• Quem são as pessoas que cuidaram dela?
• Como ela se refere ao falar dessas pessoas

Relacionamento (des)complicado: você, seu par e suas bagagens


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e como é a relação com elas?
• Quais ambientes essa pessoa frequentou?
Como eles a impactaram?
• Quais foram os momentos mais marcantes
da história de vida dela (bons e ruins)?
• Como ela se relaciona com as pessoas ao
seu redor?
• Como você se sente ao se relacionar com ela?

Sobre a história do relacionamento:


• Como nos conhecemos?
• Como iniciamos nosso contato?
• Quais foram os momentos mais importantes
do nosso relacionamento?
• Como nos relacionamos um com o outro?
• C o m o n o s s e n t i m o s n a m a i o r p a r t e d o
tempo?
• O que esse relacionamento significa para
nós?

Converse com, ao menos, uma pessoa que te


conhece desde criança. Pergunte sobre detalhes
dessa fase e da sua adolescência. Como será que as
pessoas te veem? Coloque-se apenas como ouvinte,

Relacionamento (des)complicado: você, seu par e suas bagagens


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não interrompa, nem censure a fala da outra pessoa.
Guarde as informações com parcimônia, sabendo que
são interpretações pessoais, de uma outra pessoa,
também ela com sua própria bagagem.

Relacionamento (des)complicado: você, seu par e suas bagagens


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Comportamento
de escolha
Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha
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VIVEMOS ESCOLHENDO

Eu escolho, você escolhe, nós escolhe-


mos o tempo todo, todos os dias. Nossas
relações são todas constituídas de escolhas,
mas achamos que não. Ou melhor, não
temos consciência disso. Quando falamos
de relacionamento amoroso, é importante
que tenhamos clareza de que, desde o iní-
cio, escolhas foram, são e serão feitas.
Escolher é uma ação aparentemente sim-
ples, mas que pode ser bastante complexa
em algumas situações. Para que façamos
boas escolhas, comumente, utilizamos
alguns critérios, ponderamos consequên­
cias a curto, médio e longo prazo, ava-
liamos impactos e alguns pormenores. É
claro, nem sempre pegamos caderninhos
e construímos listas de prós e contras,

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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muitas de nossas escolhas acontecem, apa-
rentemente, no automático. No entanto,
independente da intensidade, todas elas
exigem, no mínimo, alguma ponderação
e análise.
Quando o assunto é relacionamento,
existem algumas escolhas que precisam
ser analisadas com cuidado. Certamente,
a primeira escolha realizada por ambas as
partes diz respeito à aproximação um do
outro. Aos poucos, com muita conversa, ou
rapidamente, numa balada, não importa,
houve um processo de escolha. Desde então,
uma sucessão delas passou a acontecer.
Você escolheu se apresentar, falar ou não
da sua vida, mentir ou contar tudo na ínte-
gra. Escolheu encontrar novamente, ini-
ciar um namoro, conhecer a família, enfim,

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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pequenas e grandes escolhas passaram a
fazer parte do ato de se relacionar.

MEU PAR, MINHA ESCOLHA

Sabemos que nem todas as escolhas


incialmente são tão ponderadas. Muitas
delas acontecem com base em critérios rasos
como, por exemplo, beleza. No entanto, com
o passar do tempo, não há como fugir. As
escolhas tendem a ficar mais complexas.
Agora, o lance não é só escolher entre ficar
quieto ou se apresentar, é preciso escolher
palavras para descrever o que pensa ou
sente. É preciso defender uma ideia, falar
sobre você mesmo. Inevitavelmente, com
o passar dos dias, a relação vai tomando
forma e, com isso, exigindo maior comple-
xidade nos seus atos.

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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Com base nesse raciocínio, pense aqui
comigo: ao se aproximar dele ou dela, você
utilizou alguns critérios. Mais do que isso,
ao permanecer e dar continuidade a essa
relação, você utilizou critérios ainda mais
complexos. Ou seja, o seu relacionamento
não aconteceu “do nada”. Ele foi consti-
tuído a partir de uma série de decisões
que ambas as partes fizeram e fazem dia-
riamente. Foi um processo de pequenas e
grandes escolhas.

ESCOLHAS DIÁRIAS

Por conta da falta de consciência, muitas


vezes, nós menosprezamos os atos corri-
queiros. Ligamos o modo automático, vamos
passando por cima dos detalhes e sequer
notamos o que estamos fazendo. Muitas

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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vezes, inclusive, nos surpreendemos com
os impactos que causamos à frente.
As escolhas diárias que fazemos entram
nesse mesmo pacote. Como você já sabe,
seu relacionamento não chegou até deter-
minado ponto “do nada”. Você realizou
uma porção de escolhas em relação à pes-
soa com quem você se relaciona. Acontece
que, no começo do relacionamento, o ato
de escolher ganha mais da sua atenção: há
mais planejamento no passeio, na roupa,
nas palavras, no trato. Depois, a tendência
é de que tudo isso caia numa automatici-
dade perigosa, e sabe por quê?
Quando reduzimos nossa atenção sobre
algo, deixamos de cuidar dos detalhes,
ganhamos uma “confiança” traiçoeira, que
acaba nos cegando, em alguma medida.

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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Dentro de um relacionamento amoroso, “se
tornar cego” é um verdadeiro perigo, abre
margem para a sensação de negligência, de
“tanto faz”. É como se, com a rotina, tudo
se tornasse banal ou pouco importante.
Afora os prejuízos na rotina, também
existe um outro aspecto importante a ser
tratado: além das pequenas escolhas diá-
rias, que tornam a relação mais praze-
rosa, a permanência na relação precisa
ser olhada com cuidado. Muitas pessoas,
quando buscam ajuda para “salvar” seus
relacionamentos, estão em momentos difí-
ceis, normalmente com ambas as partes
machucadas. Na maioria das vezes essas
pessoas perderam de vista os reais motivos
de terem escolhido um ao outro. Os moti-
vos que os fizeram permanecer na relação

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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ficam pequenos, quase invisíveis.
Por tudo isso, as escolhas diárias das
mais complexas às mais simples, sutis, são
importantes e merecem toda sua atenção,
desde a escolha de se manter ao lado de
alguém, até mesmo a escolha do cardápio
para o jantar. Se coloque atento, consciente.
Busque uma postura mais consciente em
relação a suas escolhas, observando, com
cuidado e atenção, como você as tem feito,
principalmente aquelas relacionadas ao
seu par.

ESCOLHENDO JUNTOS

Compreender que escolhas fazem parte


do nosso dia a dia é fundamental. Estar
atento ao modo como você faz essas esco-
lhas, sobretudo em seu relacionamento, é

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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primordial. Agora, vamos acrescentar mais
um aspecto importante: realizar escolhas
juntos.
Quando um relacionamento se estabe-
lece, nasce com ele uma espécie de “con-
selho dirigente”. Imagine que o relaciona-
mento é um navio. Bem, esse navio precisa
ser conduzido por alguém, não é mesmo?
Pois então, na verdade, esse navio tem dois
comandantes: você e seu par. Não há quem
mande mais ou menos. Relações saudáveis
permitem que as vozes de ambos tenham
o mesmo peso em situações de decisão ou
escolhas. São dois votos no conselho, ambos
os comandantes têm o mesmo “poder”.
Devem, então, cumprir o desafio de chegar
a um consenso de qual rumo tomar, sem
que o barco naufrague.

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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Por isso, o modo como o casal toma deci-
sões juntos deve ser algo muito cuidado.
Chegar a um consenso em momentos de
decisão é um desafio dos grandes. Exige
escuta, cautela, paciência, racionalidade,
empatia, concessão, flexibilidade, asserti-
vidade e muito mais. É um processo com-
plexo. Se tomar uma decisão sozinho já é
difícil, quem dirá tomar decisões em con-
junto, não é?
Mas, pensando bem, se você reparar, vai
perceber que essas decisões em conjunto
acontecem quase que diariamente, dentro
de uma relação. Desde escolhas de rotina,
como falei no tópico anterior, até mesmo
as escolhas de vida, de objetivos, de famí-
lia, de trabalho e muito mais.

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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Vamos praticar um pouquinho? Abaixo estão algu-
mas perguntas que nortearão sua reflexão acerca
do modo como você tem feito escolhas em seu
relacionamento.
Questione-se sobre sua forma de escolher:
• Você tem dificuldade para fazer escolhas
em sua vida?
• Quais áreas ou contextos são mais difíceis?
• Você presta atenção em suas escolhas e
sabe das consequências delas?
• Você costuma ser criterioso com suas esco-
lhas? É atento também?
• Você pensa em outras pessoas ao tomar
decisões?

Sobre as escolhas feitas em seu


relacionamento:
• Como você se aproximou da pessoa com
quem se relaciona?
• Como você se mostrou desde o primeiro
contato: aberto, mais fechado, verdadeiro,
na defensiva?
• O que te fez querer escolher ver essa pes-
soa de novo? E de novo? E de novo?

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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• Por que escolhe estar com ela até hoje?
• O que você tem escolhido para o seu rela-
cionamento diariamente? Como faz essas
escolhas rotineiras (lazer, tempo, conversas,
problemas)?
• Vocês sabem escolher juntos? Respeitam o
ponto de vista um do outro?
• Se comunicam para escolher algo para o
casal?

Elabore uma linha do tempo, marcando cada ano, a


partir do seu nascimento. Em cada ano, preencha com,
pelo menos, duas lembranças marcantes. Se possí-
vel, uma boa e uma “ruim”. Quais foram suas escolhas
nessas situações? Qual conduta você escolheu ter?
Quais desses momentos que mais te impactaram? E
como eles moldaram sua vida?

Relacionamento (des)complicado: Comportamento de escolha


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Valores pessoais
Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais
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O QUE SÃO VALORES?

Lembra da história da bagagem que


falamos? Então, os valores pessoais são
mais uma parcela do conteúdo que car-
regamos em nossa mala. São conceitos,
regras, “verdades” e condutas que aprende-
mos, ao longo de nossa vida. Via de regra,
são as “lentes” com as quais enxergamos o
mundo, que norteiam nossa conduta, por
apontarem “o que mais valorizamos” na
vida. Muitos dos nossos valores são apren-
didos com nossa família e com as pessoas
que têm influência sobre nós.
Algumas perguntas-chave nos ajudam
a identificar alguns de nossos valores: “O
que é importante pra mim?”, “O que é sig-
nificativo em minha vida?”, “O que nor-
teia minha conduta?”, “Qual significado

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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quero dar a minha vida?”. Provavelmente,
as respostas dessas perguntas sinalizarão
alguns de seus valores. Algumas pessoas
poderiam responder: “Importante para
mim é ser honesto, justo, trabalhador”,
“Significativo para mim é ser um bom pai/
uma boa mãe, deixar um legado, fazer a
diferença”, “Minha conduta é norteada por
justiça, humildade, excelência”, “Quero que
minha vida seja regida por amor, família,
generosidade”.
Vamos voltar então ao assunto central:
relacionamento. Você deve estar se pergun-
tando, neste momento, sobre como esse
papo de valores pode influenciar sua vida
com seu par, sua relação. Vamos construir
essa resposta juntos! Responda a seguinte
pergunta: Você imagina um relacionamento

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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saudável e duradouro quando as pessoas
envolvidas têm valores de vida muito dife-
rentes? Acredito que não.
O fato é que a maioria dos casais ou clien-
tes de psicoterapia, que estão passando
por dificuldades em seus relacionamentos,
muitas vezes, “patinam” nessa história de
valores e por isso acabam entrando em
colapso por pensarem e conduzirem suas
vidas de forma diferente um do outro.

QUAIS SÃO MEUS VALORES?

Conhecer nossos próprios valores faz


parte do processo de autoconhecimento e
nos ajuda de diversas formas. A primeira
delas diz respeito à consciência que toma-
mos de nossas ações: é como se encontrás-
semos uma bússola para nortear nossas

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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ações, decisões, escolhas e condutas diá-
rias. Também passamos a ver mais sentido
na vida, como se soubéssemos para onde
ir e aonde queremos chegar. Sabe aquela
sensação boa que sentimos quando esta-
mos no caminho certo? Pois é, conhecer
seus valores e agir em direção a eles gera
exatamente essa sensação deliciosa.
Para conhecer seus valores, é importante
ter um bom conhecimento da sua bagagem
de vida e um bom grau de consciência sobre
suas ações. Mais do que isso: é importante
que você esteja conectado com o que pensa
e sente. Geralmente, quando algo nos afeta
intensamente (de forma positiva ou nega-
tiva), algum valor pessoal pode estar em
evidência, seja por estar em concordância
com ele, ou por estar em conflito.

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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Aqui, sua família e as pessoas impor-
tantes para você entram neste jogo nova-
mente. Costumo dizer que absorvemos por
“osmose” os valores da nossa família, por-
que eles regem o ambiente que, por muitos
anos, vivemos. Eles fazem parte da cultura
familiar, “do jeitão” que este ambiente
funciona. Inclusive, eles estão presentes
nas expectativas que tinham sobre você.
Sendo assim, vale a pena olhar para o seu
redor e tentar identificar possíveis valores
das pessoas que mais lhe influenciaram,
ao longo da vida.

QUAIS SÃO OS VALORES DO OUTRO?

O princípio é o mesmo, o processo de


aquisição dos valores é o mesmo: a famí-
lia e o ambiente em que seu par viveu

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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influenciam nos valores pessoais que ele
cultivou até hoje. Insisto: conhecer a baga-
gem de vida da pessoa com quem você quer
se relacionar é extremamente importante.
Quando você ignora tudo isso, é como se
“comprasse” um produto às cegas.
Devo dizer que, para conhecermos os
valores da outra pessoa, é preciso muita
convivência e atenção. Observar suas con-
dutas, suas motivações, a forma como leva
e conduz a vida pode ser um bom início.
Ouso dizer que a comunicação facilita, e
muito, todo esse processo. Converse com
a pessoa com quem está se relacionando.
Pergunte, se coloque curioso, questione,
tente entender razões e porquês. Não tenha
preguiça de conhecer a história de vida
dessa pessoa e, também, a cultura familiar

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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em que ela viveu. Esteja presente e ativo,
fale, observe e escute muito.
É comum as pessoas negligenciarem
detalhes importantes quando estão ini-
ciando uma relação. Por empolgação ou
qualquer outro motivo, colocam uma
venda para muitas condutas do outro. É
clássico ouvir no consultório algo como:
“Eu percebia que ele era meio preguiçoso,
não parava em nenhum emprego e tinha
sempre muitas reclamações sobre todos os
lugares em que estava. Algumas vezes ele
mentia para faltar no trabalho e dizia que
não era um problema”. Falas assim, apon-
tam algumas impressões do início de um
relacionamento. Notavelmente, a pessoa
que fala estava em desacordo com a con-
duta do outro, mas foi deixando passar e

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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levando adiante.
Evite esse caminho, não negligencie
sinais importantes, principalmente as sen-
sações que os comportamentos do outro
provocam em você. A ideia é admirarmos
os valores da pessoa com quem vamos nos
relacionar. Mais do que isso, estes valores
devem estar em comunhão com os nossos,
para que evitemos “choques” posteriores.

O QUE APRENDO COM O OUTRO?

Nesta altura do campeonato, você pode


estar se questionando: a ideia é que tenha-
mos cem por cento dos valores iguais, numa
relação? Nada disso! Temos histórias de
vida diferentes, nossas bagagens são dis-
tintas, o que nos faz pressupor que alguns
valores podem ser diferentes também.

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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E isso é bom!
Podemos aprender muito com a pes-
soa que escolhemos para nos relacionar.
Inclusive, podemos flexibilizar e até ampliar
nossos valores. Não é incrível? A beleza
de um relacionamento duradouro está na
troca de experiências e no ato de inspirar
um ao outro.
Você pode aprender com seu parceiro
ou sua parceira, e isso pode agregar bons
valores à sua vida. O contrário também é
verdadeiro: você pode ser influência posi-
tiva e saudável e ajudar o outro a crescer
e desenvolver seus valores pessoais. Para
que tudo isso aconteça de forma saudável,
apesar de não serem iguais, é importante
que a maioria desses valores sejam próxi-
mos, coabitáveis e afins. Quando eles ferem

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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a você ou ao outro, a chance de dar certo é
diminuída significativamente.
Mas o que eu devo aceitar? Até onde ir?
Aposto que são essas as perguntas que
você está pensando neste momento.
A resposta é muito particular, individual.
No entanto, alguns detalhes são importan-
tes para que você estabeleça seus limites.
O primeiro deles é o respeito. Não há como
falarmos de valores sem falarmos de tole-
rância e respeito. É preciso ser tolerante
e respeitoso com o outro. Lembre-se que
tudo isso faz parte da bagagem de vida dele,
não é justo que você o julgue ou o puna por
qualquer valor que você discorde.
A aceitação é o segundo detalhe impor-
tante, no meio disso tudo. Alguns valo-
res podem ser muito importantes para o

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


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outro, a ponto de que mudar pode não ser
uma opção. Em algumas situações, esses
valores podem ser incômodos para você.
Incômodos, não insuportáveis. Por isso,
praticar a aceitação será muito importante.
Apesar de respeitarmos, existem limites
para o que podemos aceitar. Você precisa
estabelecer o seu. Nem sempre consegui-
remos conviver com determinados valores
e isso não é um demérito.
Quando nosso autoconhecimento está
bem desenvolvido, fica mais fácil estabele-
cermos “o que bancamos ou não”. Quando
temos convicção de quem somos, e sabe-
mos o que nos motiva e o que desejamos
ao nosso lado, estabelecer limites ainda é
um desafio, no entanto, o caminho é muito
mais claro.

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


43
NOSSOS VALORES EM COMUM:
NOSSA FAMÍLIA

Lembram do papo sobre escolhas? Então,


agora ele será importante. Conhecidos os
valores de cada uma das partes, calibrados
os ponteiros, a relação continua. Conforme
ela avança, as partes vão se acostumando,
admirando, aprendendo e se desenvolvendo
uma com a outra. A ponto de fazerem nas-
cer valores novos, adaptados aos dois.
Novamente a adição é simples: 1+1=2.
Seus valores em comum com o outro e, tam-
bém, os valores que construíram juntos,
se tornam o bem mais precioso que vocês
terão neste relacionamento. Serão esses
os valores que vocês “passarão” adiante,
compartilhando com amigos, inspirando
pessoas. Estes mesmos valores serão os que

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


44
vocês ensinarão aos seus filhos, caso optem
por tê-los. Nesse caso, torna-se ainda mais
necessária a homogeneidade de condutas,
afinal, como educar um filho com valores
e visões diferentes? Melhor não, né?!
Faz sentido, agora, a importância do
equilíbrio, do respeito e da afinidade em
relação à bússola que são os valores pes-
soais? Eles determinarão a conduta do
casal, sinalizarão o Norte para onde devem
caminhar. E lembre-se: não existem dois
Nortes, apenas um!

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


45
Vamos fazer uma pausa. Falar sobre valores pesso-
ais é denso. Respire e, aos poucos, inicie os exercícios.

Sobre seus valores:


• Você consegue identificar quais são os valo-
res mais “poderosos” para você?
• Sob quais valores você foi criado? Como é
sua cultura familiar?
• Esses valores fazem sentido para você?
Você os repete?
• O que era esperado de você, por parte da
sua família? O que eles valorizam?
• De quais valores você abdicou? Quais outros
você desenvolveu com a maturidade?
• Quais são seus valores mais difíceis?
• E os que você mais admira?
• Você se comporta hoje em consonância aos
seus valores?

Sobre os valores da outra pessoa:


• Quais são os valores mais evidentes da ​o utra
pessoa?
• Como é a cultura familiar em que ela viveu?

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


46
• O que essa cultura valoriza?
• Quais valores você admira?
• Quais você tem dificuldade em aceitar?
• Você gostaria de “absorver” algum desses
valores?

Sobre os valores da relação:


• Vocês têm valores parecidos?
• Conseguem “dirigir” a vida de vocês na
mesma direção sem sofrimento?
• Sente que estão no caminho certo?
• Estão abertos a conversar quando neces-
sário? Conseguem flexibilizar e aceitar as
diferenças um do outro?
• Quais são os valores que vocês constru-
íram juntos? Vocês os praticam? Como?

Se você tivesse que abdicar de um valor pessoal,


qual seria mais doloroso abrir mão? Imagino que seja
um valor muito significativo para você, estou certa?
Faça uma lista com diversas ações, que você já teve
e tem, que demonstram quão poderoso é este valor
para você.

Relacionamento (des)complicado: Valores pessoais


47
Comunicação
e seus desafios

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


48
Em meio a extensão incontável de com-
portamentos que temos, o ato de comuni-
car deve ganhar atenção especial. Tudo o
que fazemos hoje, foi aprendido em algum
momento. Nossa comunicação não é dife-
rente. Correndo o risco de ser repetitiva,
digo que está aí mais uma área da nossa
vida extremamente influenciada pela nossa
história e pelo ambiente que estamos inseri-
dos. Sim, é o papo da bagagem novamente,
nunca esqueça dele!
Você já reparou que cada família tem um
modo específico de se comunicar? Algumas
falam alto, brigam por qualquer coisa.
Outras são silenciosas, pouco falam quando
estão juntos. Tem família que utiliza pala-
vras agressivas na maior parte do tempo.
Já vi famílias competitivas, expansivas,

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


49
algumas caladas, depressivas. Enfim, inú-
meras características, e formas diferentes
de se comunicar. Lembre-se que uma famí-
lia é um grupo, e grupos são formados por
pessoas diferentes, com bagagens de vida
distintas.
Pois bem, o modo como nos comunica-
mos tem muita relação com o modo que
nossa família se comunica. Aprendemos
muito com elas. É claro que com o passar
do tempo, vamos “modificando”, por con-
viver em outros ambientes, mas a base é
sempre muito enraizada em nossas ori-
gens. Essa base determina nosso tom de
voz, nossa organização de raciocínio, o
modo como falamos sobre questões ínti-
mas, nossas entonações, questionamentos,
clareza de ideias, inclusive, a forma como

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


50
descrevemos algo.
Obviamente, nossa família não é o único
fator determinante para a qualidade da
nossa comunicação. Não podemos desco-
lar o contexto cultural em que vivemos,
não estamos no vácuo, existem “práticas”
superiores às que aprendemos em casa.
Você já deve ter ouvido falar que em cada
país a forma de se comunicar é diferente.
Até mesmo aqui no Brasil, existem mui-
tas “regionalidades” que alteram a forma
como as pessoas se expressam.
Independente desses detalhes, costumo
dizer que a comunicação é o que nos conecta
uns com os outros. Ela estabelece a ponte
entre nós. Nos liga ao outro, nos conecta.
Não se esqueça disso! Imagine, então, como
comunicar-se bem é importante em um

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


51
relacionamento.

EXPRESSÃO DE NECESSIDADES

E SENTIMENTOS

Em nosso aprendizado, uns dos primei-


ros recursos de comunicação que desen-
volvemos é o ato de “pedir”. Quando crian-
ças, choramos e, de repente, aparece uma
mamadeira em nossa boca. Dizemos “aua”
e nossa sede é sanada. Apontamos para
algo e, magicamente, alguém o coloca em
nosso alcance. E por aí vai...
Fazer pedidos e comunicar o que queremos
é uma habilidade bastante inicial, primária.
O problema é que, com o passar dos anos,
ela se torna muito mais complexa. Nossas
necessidades mudam, se tornam difíceis
até mesmo de compreendermos, quem dirá

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


52
comunicarmos. Claro que o fator cultural
torna tudo isso ainda mais complexo. Pedir
ajuda nem sempre é bem visto. Falar sobre
sentimentos menos ainda, a depender do
grupo em que você está inserido (homens
sabem do que estou falando!).
Voltemos nossos olhares ao relaciona-
mento amoroso. Para um casal, o ato de
comunicar necessidades é extremamente
importante. Se não soubermos dizer o que
precisamos, especificar o que queremos,
começam a acontecer diversos ruídos na
comunicação. Inclusive, algumas pessoas,
por conta de sua aprendizagem, acham
que o parceiro ou parceira deve adivinhar
o que ele precisa. Fala sério, ninguém tem
bola de cristal!
Além da dificuldade em pedir, falar sobre

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


53
o que está pensando ou sentindo é um dos
grandes problemas das relações. Aqui fica
ainda mais evidente a influência da nossa
família. Poucos são os ambientes familia-
res que estimulam a comunicação genu-
ína, em que todos falam como se sentem. A
maior parte das famílias praticam o silên-
cio quando o assunto é sentimentos. Bom,
acho que você já pode imaginar o que acon-
tece. Quem cresce neste ambiente, deixa
de desenvolver a habilidade de falar sobre
si mesmo. E quando iniciam uma relação,
se perdem em meio aos sentimentos e a
necessidade de falar sobre eles.
Lembre-se sempre: fazemos o que
aprendemos. Por isso, muitas pessoas bus-
cam psicoterapia, quando estão enfren-
tando problemas de comunicação em seu

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


54
relacionamento. Como é que poderiam se
comunicar com qualidade, exprimir sensa-
ções e pensamentos, se não desenvolveram
tudo isso ao longo de seu crescimento?

COMO EU FAÇO PEDIDOS?

É extremamente importante estar


atento à sua comunicação. Como você tem
empregado suas palavras? Você tem sido
claro, específico? Como você tem feito pedi-
dos? Essa é uma parte importantíssima da
comunicação de um casal. Muitas pessoas
confundem o ato de pedir com exigên-
cia. Outras acham que indiretas deveriam
funcionar. Algumas pessoas escolhem se
calar, porque acham que irão atrapalhar,
se pedirem algo.
São inúmeras as “escorregadas” dos

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


55
casais, na hora de fazer pedidos. Por isso,
é importante que fique claro: estar em um
relacionamento não pressupõe que todos seus
desejos sejam atendidos, mas é necessário
que você saiba comunicá-los. Não escolha
o caminho do silêncio, ele não leva a nada
nem a lugar nenhum. A ideia é aprender a
pedir com cautela, em momentos propícios,
de forma leve e não agressiva. Também é
importante lidar com frustrações, sabendo
que nem sempre o outro concordará com
seu pedido.
Nem preciso dizer que, a forma como
seu par faz pedidos é extremamente impor-
tante também, certo? Muitas vezes, a
pessoa com quem nos relacionamos tem
mais dificuldades de se “abrir” do que nós.
Ofereça feedbacks, comente como você

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


56
tem dificuldades de “adivinhar” as neces-
sidades dela. Não caia na cilada de suprir
a dificuldade do outro, deixando-o numa
zona de conforto.

COMO EU DESCREVO?

O modo como falamos sobre o mundo, as


pessoas, as coisas, sobre nós, é mais uma
parte de nossa comunicação. Algumas pes-
soas têm muita dificuldade em descrever
com precisão, falam com poucos detalhes,
dão respostas muito curtas, que abrem
margens para múltiplas interpretações.
Em terapia de casal, é comum perceber-
mos a falta de habilidade em descrever.
Fato este que promove muitas brigas e
interpretações errôneas. Pessoas que dão
respostas evasivas, que falam sempre de

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


57
forma muito prática, acabam promovendo
um “buraco” na comunicação. Descrever
com cuidado, separar um tempo “confor-
tável” para conversar sobre um assunto
específico, garantir que a outra parte com-
preendeu, são algumas formas de melhorar
sua forma de descrever.
Reafirmo o alerta anterior: se a pessoa
com quem você está se relacionando, tem
dificuldade em expressar, explicar, comen-
tar, descrever os fatos e assuntos do dia a
dia, não se acostume. Ofereça feedbacks,
converse, diga o quanto “os buracos” na
comunicação estão sendo prejudiciais para
o bem-estar de vocês.

DR E SEUS PERIGOS

Chegamos até aqui, neste papo sobre

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


58
comunicação e talvez você esteja se per-
guntando: “Será que vou ter que falar tudo
o tempo inteiro, para a pessoa com quem
me relaciono? ”, “Será que vou ter que
ficar pedindo e cutucando o outro o tempo
inteiro? ”. Bem, a resposta para ambas as
questões é: NÃO!
Apesar de ser muito importante saber-
mos nos comunicar de forma clara, fazendo
pedidos, descrevendo e nos expressando
com qualidade, uma peneira deve acontecer!
Não dá para comunicarmos tudo o tempo
inteiro, é preciso filtrar o que vamos falar,
sobretudo quando há emoções intensas
no meio. Falarmos motivados por raiva,
mágoa, tristeza, nos leva a cometer mui-
tas falhas na comunicação, algumas delas
irreparáveis.

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


59
A peneira deve conter alguns critérios
como por exemplo: o que eu quero comuni-
car é importante? Esse pedido é realmente
significativo para mim? Agora é o melhor
momento de eu falar sobre esse assunto?
Eu estou muito emocionado (qualquer emo-
ção)? Vou conseguir comunicar de forma
não agressiva, não violenta? Vou agredir ao
outro com o que vou dizer? Estou ferindo
meus valores ao falar sobre isso? Estou
repetindo demais e não esperei tempo hábil
para mudar?
Observe que, ao responder algumas des-
sas perguntas, muitos assuntos a serem
discutidos com seu par ficam barrados. Se
falamos igual “tagarelas” de forma repe-
titiva, perdemos a credibilidade da nossa
comunicação. É isso que acontece com

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


60
muitos casais que fazem DR, a discussão
do relacionamento, para tudo, em alta
frequência.
Ambas as partes correm o risco de serem
repetitivas, levando um ou outro ao des-
crédito. Sabe quando parece que a pessoa
com quem estamos falando entrou em
“modo avião”? É mais ou menos assim que
os casais que discutem demais ficam. Não
se escutam mais, não se colocam mais,
ficam apenas falando as mesmas coisas.
Por conta destes equívocos, se faz neces-
sário esclarecer: DR com muita frequência
é um perigo!
Estabeleça uma cultura de comunicação
clara em seu relacionamento. Em que ambas
as partes escutam e falam, com cuidado e
empatia. Deixe a DR para um momento

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


61
extremamente necessário. Ela é desgas-
tante, emocionalmente carregada e pode
cair na banalidade. Quando um casal está
bem afinado, DR é quase desnecessária.

RESPEITO É BOM E TODO MUNDO


GOSTA!

Como finalizar este capítulo sem citar a


importância do respeito, para que a ponte
(a comunicação) do casal, se mantenha
saudável? Embora precisemos cuidar e
desenvolver habilidades mais qualitativas
para nos relacionarmos melhor, não pode-
mos perder de vista o respeito. Respeitar
a forma como o outro se comunica é mais
uma forma de amar. Embora possamos
estimular a melhora, faz parte aceitarmos
algumas características muito pessoais.

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


62
Não são raras as pessoas que, mesmo
se incomodando significativamente com
alguma característica muito comum e mar-
cante da outra pessoa, embarcam num
relacionamento sério. É quase pedir para
sofrer. O incômodo inicial não passa e,
então, as “exigências” para mudar começam
a acontecer. Às vezes essa característica
que incomoda tanto, é parte fundamental
da personalidade do outro, exigir mudança
é quase uma mutilação.
Se te incomoda tanto, lembre-se do papo
sobre valores, não entre nessa! Não espere
ficar sério para exigir algo. Atitudes assim
podem ser muito nocivas ao seu relacio-
namento. Tenha cautela e muito cuidado,
estamos falando da vida do outro. E da sua
também.

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


63
Depois de todo este conteúdo sobre comunicação.
Vamos testar a sua?

Sobre seu ato de comunicar:


• Como sua família se comunica? O que você
repete dessa forma de se comunicar?
• Quais são as características da sua comu-
nicação hoje?
• Você fala sobre você, seus sentimentos e
pensamentos?
• Falar sobre você é difícil, você se sente
vulnerável?
• C o m o v o c ê f a z p e d i d o s ? C o n s e g u e s e r
assertivo ou espera demais e depois pede
agressivamente?
• Você sabe ouvir? É paciente?
• Você tem um bom autocontrole no que comu-
nica ou fala o que pensa (“sincericídio”)?
• Qual parte da sua comunicação prejudica a
ponte com seu par?

Sobre a comunicação da pessoa que


você se relaciona

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


64
• Qual a prática de comunicação na família
dela?
• Quais características ela repete?
• Ela descreve com clareza, sabe organizar
os fatos, expor as ideias?
• Ela te faz pedidos claros? Não faz pedidos?
Espera que você adivinhe?
• Essa pessoa te escuta quando você está
falando? É paciente?
• Ela fala coisas sem pensar ou tem um bom
autocontrole no que vai ser dito?
• Qual parte da forma como ela se comunica
que prejudica a ponte entre vocês?

Sobre a comunicação no relacionamento:


• Vocês conversam com frequência? Na maio-
ria das vezes é prazeroso?
• Vocês chegam a conclusões juntos com
conversa?
• Com qual frequência vocês têm DR?
• Ambas as partes se escutam e expõem com
clareza suas necessidades?
• Se sentem conectados? Sentem medo de
falar algo?
• Acontecem muitos ruídos na comunicação?

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


65
Como é conversar com você? Eleja uma pessoa
de confiança, que te conheça há um tempo razoável
e peça um feedback. Como é te ouvir? Como você se
expressa? Como você se coloca? Qual a sensação de
estar numa conversa com você?

Relacionamento (des)complicado: Comunicação e seus desafios


66
Privacidade
e individualidade
Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade
67
Chegamos até o capítulo cinco, após ter
percorrido muitos caminhos. Em todos
os capítulos anteriores, deixei claro que o
olhar individual é a chave para compreen-
dermos a nós mesmos e a pessoa com quem
nos relacionamos. Nossas histórias de vida
são diferentes umas das outras e, por sua
vez, nossas bagagens têm peso e conteú-
dos distintos. Com base nesse raciocínio,
te convido a refletir, agora, sobre a impor-
tância da privacidade e da individualidade
dentro de um relacionamento amoroso.
Somos seres diferentes, o que pressupõe
necessidades distintas, quando compa-
ramos uma pessoa com outra. Apesar de
haver um consenso entre as partes de uma
relação, quando escolhem estar juntos, as
necessidades não se uniformizam. Embora

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


68
cada um seja uma parte na relação, ainda
são pessoas inteiras. Grave isto: pessoas
inteiras! É aqui que muitos casais se per-
dem: passam a viver a vida um do outro
como se fossem uma só. E não é. Não deve
ser!

A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO INDIVIDUAL

Reduzir a vida de duas pessoas a somente


uma, com aquele papo de alma gêmea, “uma
alma só”, é de um equívoco sem tamanho.
Você consegue imaginar o quão reducio-
nista é essa ideia? O quão mutilador é esse
pensamento? É por seguir esse caminho
que muitos casais abdicam de sua vida
individual e, aos poucos, vão conduzindo
o relacionamento ao fracasso.
Quero que olhemos na contramão de

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


69
tudo isso. Vamos olhar para o lado oposto
desse pensamento. O lado em que respei-
tamos as pessoas envolvidas na relação!
Expanda sua visão e enxergue quantas
necessidades diferentes você e seu par têm.
São pensamentos, formas de ver o mundo,
desejos, sensibilidades, condutas e pontos
de vista diferentes. Respeitar cada um des-
ses detalhes é honrar a pessoa que está ao
seu lado. Inclusive, me atrevo a dizer que
você espera ser respeitado também.
Por que estou falando sobre respeito e
individualidade, ao mesmo tempo? Para
esclarecer, vamos construir juntos nosso
raciocínio.
Quando duas pessoas estão se conhe-
cendo, aos poucos, vão se apaixonando
exatamente pela pessoa que aparentam

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


70
ser. Decidem ficar juntas, por conta do
que admiram no outro, pelos detalhes,
pela forma como se comportam. Ambos os
lados escolhem estar juntos, baseado em
critérios específicos, como já vimos. E eu
espero, fortemente, que você tenha usado
bons critérios para entrar em uma relação!
Agora, pense comigo: se você pensou,
observou, avaliou, ponderou, conversou,
pensou novamente, ponderou um pouco
mais, eu tendo a achar que a pessoa com
quem você está se relacionando te agra-
dou muito. “Ganhou” em muitos aspectos
e por isso você decidiu continuar. Então,
por qual motivo plausível você desejaria
que essa pessoa perdesse as característi-
cas que tanto te encantaram? Abrir mão
das características de cada um é como

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


71
sacrificar, justamente, o que uniu um ao
outro. Famoso “tiro no pé”, conhece? Além
de ser um grande desrespeito, é claro!
Vamos um pouco mais fundo, então.
Imagine um relacionamento em que uma
das partes passou a “boicotar” a vida indi-
vidual da outra. Fez com que se afastasse
dos amigos, proibiu eventos sociais, pas-
sou a checar celular, computador, além de
ligar inúmeras vezes ao dia. Além do des-
respeito à outra pessoa, qual grande con-
sequência poderá acarretar a essa relação,
a longo prazo?
Você pode ter pensado em inúmeras con-
sequências, mas quero chamar a atenção
para o seguinte prejuízo que chamarei de
“o feitiço virou contra o feiticeiro”. Quando
uma das partes “despersonifica” a outra

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


72
pessoa, ela mesma, aos poucos, passará
a reclamar do quão diferente essa pessoa
está. Como assim? Explico.
É muito comum, em terapia de casal, as
partes reclamarem “ele não é mais do jeito
que eu o conheci, eu perdi a admiração”,
“ela se tornou dependente, não parece mais
aquela mulher bem resolvida que me apai-
xonei”. Quer maior contradição? As pes-
soas que falam essas frases são as mesmas
que, ao longo do relacionamento, foram
“podando” a outra.
Por essas e mais outras é que o “espaço”
individual é tão importante. Cada uma das
pessoas que compõe uma relação tem o
direito de se relacionar socialmente, ter ami-
gos, programas de lazer, hobbies, trabalho,
opiniões e muito mais, independentemente

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


73
de seu par. Privar alguém de tudo isso
não é amor, devo dizer: é egoísmo! Fique
alerta, se você é a pessoa que priva, você
pode estar emocionalmente adoecido.

MUDANÇAS VERSUS INDIVIDUALIDADE

De forma alguma quero que você entenda


que respeitar individualidade significa
aceitar tudo e nunca pedir por mudanças.
Aposto que algumas pessoas chegaram
até aqui pensando: “Já que escolhi meu
marido, tenho que aceitar quem ele é na
íntegra, sem pedir pra que ele mude...”. Se
esse pensamento te ocorreu, pare, respire e
deixe de lado esse extremismo descabido.
Ele não nos ajudará.
Falar sobre individualidade e privaci-
dade é falar sobre respeitar a outra pessoa

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


74
como um todo (e a si mesmo, claro!). É
sobre deixá-la livre para ir e vir. Mais que
isso, é permitir que ela continue sendo ela
mesma, apesar de estar em um relaciona-
mento. Não levemos para o lado oposto.
Mudanças sempre farão parte de qualquer
relação, pelo princípio básico (muito falado
por aqui) de que somos pessoas diferentes.
Ajustar convivência, exige muita mudança.
Então, não confunda alhos com bugalhos:
mudanças têm a ver com fazer diferente e
elas sempre serão bem-vindas, desde que
façam sentido para quem assumir o preço
de mudar. Você pode pedir, em uma con-
versa amigável, que seu parceiro ou parceira
seja mais cuidadoso com as palavras que
usa, mas não exija isso. Se não fizer sentido
para o outro, ele fará isso “por obrigação”

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


75
ou não fará. Veja só, mudar obrigado ou
ignorar seu pedido, não é exatamente o
que você esperava, não é mesmo?
Mudanças têm a ver com “ajuste de pon-
teiros”, mas pode ser perigosa quando feita
de forma agressiva, tirana e arbitrária.
“Como eu poderia pedir por mudanças de
forma saudável?” Vou te contar!
Um bom caminho é compreender primeiro
qual o comportamento que a outra pessoa
tem que te incomoda. Posteriormente, ava-
lie como é que você se sente quando ela se
comporta dessa forma. Questione-se sobre
o contexto em que acontece esse compor-
tamento, avalie se foi realmente “exage-
rado”, “desproporcional”, “descabido”.
Observe em outras situações, cheque a
frequência com que isso acontece. Se esse

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


76
comportamento for frequente e, de fato,
te causa mal, avance para uma conversa.
Conversar é sempre um desafio em nossas
relações, ainda mais quando há pedido de
mudança envolvido. Sugiro que você pro-
grame um momento tranquilo para comu-
nicar o seu pedido. Isso garante que suas
emoções não estejam à flor da pele e que
a outra pessoa esteja prestando atenção.
Fale com cautela e inicie falando como se
sente, explique os contextos e diga o quanto
aquele comportamento tem te impactado.
Finalize com uma chave de ouro: “eu gosta-
ria que você fizesse diferente, é importante
para mim. Você pode pensar a respeito e
voltamos a falar em breve? ”.
Percebe que, ao fazer algo parecido com
o que citei acima, você está longe de ferir a

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


77
individualidade do outro? Mesmo pedindo
por mudanças, você está respeitando a
individualidade ao pedir que avalie se faz
sentido o que você propôs ou não. Mais
do que isso, você está exercendo sua indi-
vidualidade indo em busca de algo mais
confortável para você.
Não seja extremista, nem fatalista.
Entenda que, ao falarmos de relações inter-
pessoais, há muitos pormenores envolvi-
dos. A individualidade deve ser cuidada
para que as pessoas não se percam den-
tro de uma relação. Para que não exijam
mudanças de formas descabidas, tampouco
privem seu parceiro ou parceira de viver,
de forma saudável, suas individualidades.

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


78
RELACIONAMENTO: MAIS UM PILAR,
NÃO O ÚNICO

Nem só de relacionamento vivemos


eu e você, correto? Sim, sim e sim! Nós
somos muito mais que a relação que temos.
Inclusive, costumo dizer que temos alguns
“pilares” em nossa vida. Família, amigos,
educação/desenvolvimento, trabalho, lazer
e religião são alguns deles, além do relacio-
namento. Acredito que a ideia de “pilar” é
totalmente útil neste contexto, porque nos
sugere o sentido de sustentação.
O ser humano é complexo demais para
apoiar toda sua estrutura de vida em um
único alicerce. Precisamos de diversos
pilares para nos sustentarmos. Por isso,
nossa construção de vida é baseada em
estruturas diferentes (ao menos deveria!).

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


79
Essa sustentação nos gera a segurança de
sermos quem somos, pois temos apoio e
amparo em cada um desses pilares.
Infelizmente, a ideia de “múltiplas sus-
tentações” não existe para algumas pes-
soas. Obviamente, pela história de vida, a
bagagem adquirida e os aprendizados que
tiveram, algumas pessoas alicerçam sua
vida à vida de outra pessoa. Que perigo!
Indivíduos com histórias severas de negli-
gência emocional, violência, abusos, excesso
de mimos e outros problemas, podem
desenvolver um padrão emocionalmente
dependente.
Por não desenvolver bem e nem estru-
turar diversos alicerces, o relacionamento
passa a ser o único sustento da vida de
algumas pessoas. Colocando-se em cheque

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


80
quando essas relações declinam. Você já
deve ter conhecido alguém que “respira” o
relacionamento amoroso (talvez você seja
essa pessoa), pois é comum encontrar-
mos relações assim em nosso ciclo social.
Essas relações são extremamente doentes
e afastam as partes do desenvolvimento e
fortalecimento de suas individualidades.
“Amigos, para quê? Família, não me
importo! Trabalho, não suporto! Lazer,
só acompanhado”. Esse é o raciocínio das
pessoas emocionalmente dependentes.
Deixam de investir em si mesmo, se dedi-
cando apenas ao relacionamento. Nem pre-
ciso te contar o caminho desse cenário, não
é? Transtornos de personalidade, depres-
são, ansiedade, síndrome do pânico, são
alguns exemplos de consequências desse

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


81
padrão.
Relacionamento amoroso não é, nem
deve ser sua única fonte de prazer, muito
menos sua estrutura. Nos “amarrar” a uma
relação por sentimentos ruins e baixa auto-
estima é podar nosso desenvolvimento
emocional e social. Encare sua relação
como mais uma parte da sua vida, a ponto
de, se ela findar, você ter todos os outros
pilares para te sustentar.

AMIGOS E COLEGAS: QUAL A IMPOR-


TÂNCIA DAS CONEXÕES?

No tópico anterior expus a ideia dos pila-


res que nos sustentam como pessoas. Um
deles refere-se às nossas relações interpes-
soais: colegas e amigos, além da família. Ao
longo do nosso desenvolvimento, vamos

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


82
conquistando pessoas, por onde passa-
mos: escola, faculdade, cursos, trabalhos,
academia, vizinhança, amigos de amigos.
Você se lembra quando citei a importância
do ambiente sobre nosso comportamento?
Pois bem, todas essas pessoas contribuem
com a pessoa que somos hoje.
Assim como eu, você e seu par também
possuem uma história de vida, repleta de
relações interpessoais. Algumas dessas pes-
soas, inclusive, podem ter grande relevância
para cada um de nós, por terem marcado
algum momento de vida ou, simplesmente,
pelo fato de nos conhecerem muito bem.
Quase todo mundo tem, ao menos, uma
pessoa que é “aquela pessoa”, sabe? Aquela
que te reconhece sempre, independente do
caminho que você tenha tomado.

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


83
Além das relações mais profundas,
também possuímos colegas e conhecidos.
Aquelas pessoas que nos encontramos em
eventos sociais, num happy hour, festas
de aniversário ou churrascos. Talvez você
nunca tenha percebido a importância que
essas pessoas têm em nossa vida. Com elas
que temos conversas triviais, menos pro-
fundas. Com elas que ouvimos de assun-
tos diversos e comentamos também. Elas
fazem parte do nosso lazer, mesmo não
nos conhecendo tão intimamente.
Gosto da analogia do bolo, para falar-
mos de relações interpessoais. Imagine
que a primeira camada, a cobertura, refe-
re-se aos colegas, conhecidos, pessoas com
quem temos conversas e papos superficiais,
engraçados. Em seguida, a segunda camada

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


84
que é a massa, representa os amigos com
quem conversamos um pouco mais, que
pedimos conselhos e com quem temos uma
troca racional relevante. Por fim, imagine
que na terceira camada, o recheio, encon-
tram-se as pessoas com quem temos muita
intimidade, aquelas que podemos ser nós
mesmos sem máscara alguma.
Agora, quais dessas camadas são impor-
tantes para nós? Eu te respondo: Todas
elas. Precisamos de todas essas relações,
ao longo de nosso dia a dia. Desde pessoas
que nos permitem conversas íntimas e pro-
fundas, às pessoas com quem vamos apenas
dividir a mesa do bar e sorrir por qualquer
assunto superficial. Faz sentido? Vamos
extrapolar um pouquinho mais agora.
É muito comum que, ao iniciar

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


85
relacionamentos, as pessoas deixem de
lado suas relações interpessoais, sobretudo
a camada “cobertura”. Existem muitos
casais que proíbem (ou desestimulam) um
ao outro de sair com seus colegas. Nesse
sentido, há uma parcela de pessoas que
minam as relações de amizade (segunda
camada) do outro, afastando seu par, das
pessoas com quem estabelecia uma troca de
ideias saudável. Inclusive, podemos dedu-
zir que algumas pessoas também afastam
seu parceiro, ou parceira, dos amigos mais
íntimos e preciosos que o outro tem.
Você consegue avaliar o tamanho do pre-
juízo produzido por esses afastamentos?
Comentei acima a importância de sermos
sustentados por diversos pilares. Quando
um relacionamento passa a interferir na

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


86
qualidade das suas relações interpesso-
ais, tome muito cuidado! Fique alerta! É
assim que relações abusivas se iniciam e,
mais do que isso, esse é um caminho infa-
lível para que você se sinta cada vez mais
dependente desse relacionamento. O que
não é nada bom.
E se você é a pessoa que afasta seu par
dos amigos e colegas, repense sua conduta
egoísta e, muito provavelmente, adoecida.
Geralmente, a parte que promove esse dis-
tanciamento sofre por não ter sua própria
rede de amigos. Muitas pessoas, inclusive,
sentem-se inseguras por deixar o outro se
relacionar socialmente. Entenda, o pro-
blema pode estar com você. Atente-se!

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


87
Trocarmos nossas relações interpessoais,
por uma única pessoa, é mais um capítulo
da série “tiro no pé”. Relacionamento sau-
dável agrega amigos, estimula e incentiva
a manutenção das relações, por compre-
ender a importância desse pilar na vida do
outro. É claro que, por conta da rotina e da
logística do dia a dia, a frequência com que
encontramos essas pessoas muda, algumas
relações também deixam de fazer sentido.
Mas não se engane: diminuir a frequência
e selecionar companhias, não significa se
afastar totalmente. Não pratique o rela-
cionamento “ilha deserta”, onde somente
duas pessoas se bastam.

ADMIRAÇÃO PELO OUTRO

Sem medo, afirmo que a admiração é


um dos ingredientes que mantém vivo um

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


88
relacionamento. Este papo não poderia
entrar em outro capítulo, se não o de indi-
vidualidade, pois é exatamente sobre ela
que estamos falando. Não existe admiração
sem que notemos os aspectos individuais
da pessoa com quem nos relacionamos.
Inclusive, ouso dizer que a admiração é,
ou deveria ser, um critério de escolha para
embarcarmos em uma relação amorosa
com alguém. É isso mesmo que você leu!
Como poderíamos escolher, para estar ao
nosso lado, uma pessoa pela qual não cul-
tivamos admiração pelas suas ações?
O que despertará sua admiração, tem
relação com sua história de vida, sua baga-
gem e, sobretudo, com os seus valores pes-
soais. Por isso, novamente, ratifico a impor-
tância de colocarmos atenção no processo

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


89
de aproximação do outro. Não escolha com
base em critérios superficiais como, por
exemplo, beleza do outro, posição social do
outro ou insegurança sua. Vá mais fundo,
observe os valores, a forma como se com-
porta mediante diferentes situações. Seja
detalhista e minucioso, pergunte-se sempre
“eu admiro o que ele ou ela está fazendo?”.
Considero o processo de conhecer alguém
extremamente encantador, porque um dos
combustíveis que mantém nosso interesse
pelo outro é exatamente - ou deveria ser - a
admiração que vamos cultivando por ele.
Ela é um ingrediente dos mais importantes
para uma relação, pois (junto com outros
ingredientes) fará com que você se mante-
nha escolhendo essa pessoa diariamente.

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


90
Chegou a hora de você avaliar como anda sua vida
individual, além do relacionamento que você vive.

Sobre suas individualidades:


• Você compreendia o quão importante é o
seu espaço individual?
• Quais são suas características mais “pode-
rosas” e mais admiráveis?
• Como estão os pilares que sustentam sua
vida?
• Quais pilares precisam de sua atenção além
do relacionamento?
• Você respeita suas individualidades? Sabe
comunicá-las ao outro?
• Como está sua relação com colegas, amigos
e conhecidos? Tem se afastado deles?
• Você tem feito do seu relacionamento seu
único pilar?

Sobre as individualidades da pessoa com


quem você se relaciona:
• Você respeita as características individuais

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


91
dela?
• Você pede por mudanças mas respeita o
limite dessa pessoa?
• Quais são os detalhes, características, com-
portamentos que você admira nela?
• Você respeita e estimula a relação dessa pessoa
com seus colegas, amigos e conhecidos?
• Como andam os pilares dessa pessoa? Ela
tem te usado como único pilar? Você tem
permitido?
• Você incentiva que seu par esteja sempre
fortalecendo seus pilares?

Sobre a individualidade em seu relacio­-­
namento
• Vocês respeitam as convicções, pontos
de vista e características diferentes um do
outro?
• Vocês falam sobre o que admiram um no
outro?
• Vocês estimulam a integração de amigos
e comunicação com “as pessoas” um do
outro?
• Vocês têm clareza de quais características
mantém vocês dentro desta relação?
• Você se sente respeitado e valorizado den-
tro desta relação?

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


92
Vamos voltar no tempo! Pegue uma foto sua criança,
uma adolescente e uma atual. Coloque uma ao lado
da outra e admire suas mudanças físicas, observe com
compaixão e amor. Quais eram suas necessidades em
cada uma dessas épocas? Quais dessas necessida-
des você abriu mão? Quais você não deixou de lado?
Quais características suas você cultivou e se orgulha?
Quais você cultivou, mas gostaria de mudar? A criança
da primeira foto se orgulha da pessoa da última foto?

Relacionamento (des)complicado: Privacidade e individualidade


93
Objetivos
de vida
Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida
94
Falar sobre objetivos de vida é sempre
um desafio porque, costumeiramente, as
pessoas conduzem a conversa para um
lado profundo e filosófico sobre “sentido
de vida”. Não é sobre isso que vamos falar
agora, tudo bem? Este capítulo tem o obje-
tivo de questionar seu planejamento e suas
ações de curto, médio e longo prazo.
Em páginas anteriores, falamos sobre
valores pessoais e como eles norteiam nos-
sas condutas. Comentei, inclusive, que,
para nos sentirmos satisfeitos na vida,
devemos combinar nossas ações com nos-
sos valores. Essas ações nada mais são que
o caminho que nos leva a atingir nossos
objetivos, que, por sua vez, devem estar
alinhados aos nossos valores. Isso mesmo,
o raciocínio é cíclico. Nossos valores regem

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


95
nossos objetivos, e nossas ações nos levam
a alcançá-los.
Quando falamos da união de duas pes-
soas, dividindo e conduzindo um relacio-
namento, estamos falando de objetivos de
vida individuais que se unem. Conforme
você leu no capítulo anterior, sabemos que
nem sempre somos iguais à pessoa com
quem nos relacionamos, muitas vezes,
diferimos em objetivos, por exemplo. Por
conta disso, é importante que tenhamos
sempre muito claro, para onde queremos
ir, desde o início da relação. Os objetivos de
vida que você e a outra pessoa têm podem
ser, inclusive, um fator para que essa rela-
ção não continue.
Agora é o momento que entramos em
mais um departamento complexo dos

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


96
relacionamentos: o alinhamento de objeti-
vos de vida. Para continuar, tenha certeza
que o capítulo sobre valores pessoais foi
bem compreendido.

O QUE EU QUERO?

Impossível iniciarmos essa conversa, sem


que eu te questione: O que você quer? Ou
melhor, você sabe o que quer da vida? Não
caminhe agora para respostas profundas,
apenas questione-se a respeito de quais são
os valores que regem seus objetivos neste
momento. Poucas vezes na vida paramos
para, de fato, avaliarmos se estamos cami-
nhando em direção a algo que faça sentido
de verdade. Na maioria das vezes, vivemos
no automático.
Nosso caminho é construído com base,

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


97
muitas vezes, na autoestima que temos.
Pessoas com autoestima muito baixa, pla-
nejam e ousam pouco. Jogam com pouca
energia, porque acham que não são capa-
zes de conquistar algo maior ou melhor.
A maioria dessas pessoas até aspira algo,
mas quase sempre acha que “é demais”. Por
conta disso, acabam vivendo o modo auto-
mático com mais intensidade. É como se
qualquer caminho estivesse bom, mas quase
nunca são caminhos, de fato, satisfatórios.
Se você não sabe o que quer neste
momento, se não tem objetivos a alcançar,
pare o percurso e não continue. Algo deve
estar muito ruim! É preciso que você retome
alguns passos. Relembre anos anteriores,
talvez retome seus sonhos de criança. O
que você aspirava? O que você dizia que

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


98
queria ser? O que fazia seu coração bater
mais forte? É comum, por conta dos cami-
nhos que a vida nos conduz, perdermos
de vista o que sonhamos desde pequenos.
Mas saiba que esses sonhos definem boa
parte de quem somos hoje.
Retome o controle do seu caminho. Tenha
clareza de onde você quer chegar e planeje
as ações que você precisa tomar para isso.
É fundamental que você saiba qual cami-
nho seguir, para que a outra pessoa escolha
se quer ir com você ou não. Ficar perdido
e sem rumo acontece com a maioria das
pessoas em algum momento da vida, mas
deve ser algo pontual. Se você se encon-
tra assim, neste momento, as chances de
se “amarrar” em uma relação é enorme.
Afinal, viver a vida e os objetivos do outro

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


99
é mais “confortável” do que recalcular sua
rota, não é?

O QUE O OUTRO QUER?

Quais são os objetivos de vida do seu


par? Estão alinhados com os valores pes-
soais dele? Ele sabe qual caminho seguir
para alcançá-los? Eu diria que conhecer
os objetivos de vida da pessoa com quem
estamos nos relacionando é tão importante
quanto identificarmos os nossos. Você se
lembra da metáfora do barco? Comentei
que no barco do relacionamento há dois
comandantes. Imagine só se cada um deles
traçar uma rota diferente que leva a um
lugar diferente?
É importante que você tenha ciência dos
caminhos a serem percorridos pela pessoa

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


100
com quem você se relaciona. Mais do que
isso, é importante que ela tenha clareza de
onde quer chegar. Iniciar (e permanecer)
uma relação com uma pessoa que não tem
clareza de seus objetivos, é como comprar
um produto sem saber qual é sua utili-
dade. Esse objeto vira um “peso”, passa a
incomodar no meio da casa. Com pessoas
o efeito é o mesmo. Relacionar-se com
alguém “perdido” é sinônimo de carregar
essa pessoa “em suas costas”.
Com frequência escuto, no consultório,
falas como “eu me sinto responsável por
ele/ ela, é muito ruim, fico com receio de
terminar, o que vai ser dele/dela?”. Muito
provavelmente, essa fala vem de alguém
que se relaciona com uma pessoa sem obje-
tivo e sem perspectiva de vida. A relação

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


101
que deveria ser prazerosa e produtiva para
os dois se torna, então, um peso para uma
das partes.
Vamos expandir um pouco mais o assunto,
acrescentando o que foi dito sobre admira-
ção anteriormente. Você já conhece, agora,
o papel que a admiração exerce em um
relacionamento. Não preciso dizer muito,
para que você conclua que a clareza de seus
objetivos e a clareza de objetivos da outra
pessoa tem relação direta com a admiração
que ambos vão nutrir, a respeito da pessoa
do outro.

COMO MEDIAR?

Agora, em meio a tudo isso, você deve


estar se perguntando: como mediar os
objetivos diferentes um do outro? Tendo

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


102
passado por muito critérios de escolha, por
diversos filtros, penso que se você está se
perguntando algo assim, é porque decidiu
que vale a pena permanecer com essa pes-
soa. Missão difícil, meus caros. Devo dizer
que mediar objetivos de vida exige habili-
dades pessoais – de ambos os lados. É pre-
ciso ceder, ponderar, avaliar, reprogramar,
adaptar, recalcular, priorizar, redesenhar e
abdicar. Que combo difícil, não é mesmo?
Mas não é impossível, saiba disso!
Você passou por um longo capítulo sobre
comunicação, justamente para facilitar este
momento. Comunicar com clareza seus
objetivos de vida, desde o início, é funda-
mental para o bom andamento da relação.
Fale. Fale tudo e sobre tudo, não esconda
o jogo. Pergunte sobre o que o outro acha

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


103
das suas ideias e desejos. Questione os da
outra pessoa, também. É importante que
ambas as partes saibam receber e acolher
os objetivos um do outro.
Garantida a comunicação clara, as duas
partes estarão na mesma página. É chegada
a hora de ponderar. Como realizar cada
um desses objetivos, sabendo que podem
impactar a vida do outro? Para responder
essa questão, saiba que nem sempre reali-
zaremos tudo o que queremos, no momento
que queremos, é preciso adaptar ao rela-
cionamento. Acredito que, por ter esco-
lhido essa pessoa, há uma grande repre-
sentatividade dela para você – a recíproca
deve ser verdadeira. É a partir do quanto o
outro representa em nossa vida que adap-
taremos e, muitas vezes, abdicaremos de

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


104
algo. Com limite e bom senso, é claro.
Não devo mentir: numa relação, alguns
objetivos pessoais são reprogramados. No
entanto, eles não devem ser, nem de longe,
a maioria. Lembra do capítulo sobre indi-
vidualidade? Pois bem, nunca se esqueça
do quão importante é respeitarmos as
características do outro sem podarmos sua
essência.
Quanto mais valores parecidos e objeti-
vos semelhantes, as duas partes tiverem,
mais fácil será a realização dos sonhos e
desejos de ambas as partes. Não econo-
mize em conversas que abordem questões
como: onde queremos chegar? Onde que-
remos morar? O que queremos fazer de
nossas vidas? Qual posição social quere-
mos ter? Ao responder, juntos, perguntas

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


105
como essas, aos poucos, os objetivos que
eram individuais, vão germinando objeti-
vos do casal.
É como se, juntos, vocês germinassem
uma terceira vida. Não é uma vida única,
como falam por aí. Já deixei clara a minha
crítica sobre o papo de “uma vida só”. Gosto
da ideia de que a partir de duas vidas, de
duas pessoas com individualidades bem
vividas e respeitadas, nascem objetivos
afins. Mais potentes e conduzidos por duas
partes. É parecido com o princípio de time:
jogadores diferentes jogam para alcançar
objetivos semelhantes.
Nascida essa “terceira pessoa”, as esco-
lhas passam a ter mais um filtro, além de
sempre cada parte se questionar “isso faz
sentido pra mim?”, agora, ambas as partes

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


106
se questionarão “isso faz sentido para nós?”.
Afinal, não dá para um jogador fazer gol
contra, concorda?

Vamos lá, agora é hora de sair da “zona de con-


forto”. Questione-se.

Sobre seus objetivos:


• Você tem claro o que quer fazer da vida?
• Quais foram seus desejos/sonhos ao longo
da vida? Eles mudaram? Persistiram?
• Você age, hoje, de acordo com o que deseja?
• Seus objetivos estão alinhados com seus
valores pessoais?
• Você comunica claramente quais são seus
objetivos de vida?
• Você recalcula a rota quando necessário?
• Está satisfeito com sua vida atual?

Sobre os objetivos da outra pessoa:


• Você tem ciência de quais são objetivos de

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


107
vida dela?
• Ela tem clareza desses objetivos e sabe
comunicar para você?
• O s o b j e t i v o s d e l a e s t ã o d e a c o r d o c o m
os valores dela? Estão de acordo com os
seus?
• Além de saber o que deseja, essa pessoa
age para conquistar?
• Ela responsabiliza os outros ou caminha em
direção a conquistar seus sonhos?
• Ela te escuta e te estimula a conquistar seus
planos?

Sobre os objetivos do relacionamento:


• Quais objetivos vocês construíram juntos?
• Ambos se agradam desses objetivos?
• Vocês agem juntos para realizá-los?
• Vocês abdicam, adaptam e recriam objeti-
vos juntos?
• Vocês se sentem feridos por abdicar de
algo?

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


108
Retome a linha do tempo que você construiu no
capítulo dois. A partir de cada ano vivido, pergunte-se
sobre seus objetivos da época. Você alcançou cada
um deles? Quais ainda fazem sentido e precisam de
mais energia? Quais não fazem mais sentido?

Relacionamento (des)complicado: Objetivos de vida


109
Ciladas: cuidado!
Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!
110
Cada relacionamento, assim como nós,
tem sua bagagem. Não existe regra sobre
certo e errado, haja vista a junção de his-
tórias de vida diferentes, de cada uma das
partes envolvidas. Mas alguns temas são
muito recorrentes quando o assunto é
relacionamento, principalmente, quando
estamos falando de “ciladas”.
Boa parte dessas ciladas vem do nosso
contexto cultural, tenha certeza. Somos
influenciados pela nossa “microcultura”
familiar, pela nossa cultura brasileira e,
inclusive, por práticas globalizadas. Os
tópicos a seguir são uma coletânea de temas
que, costumeiramente, chegam ao consul-
tório, por gerarem problemas nas relações
amorosas.

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


111
FAMOSOS CLICHÊS

Um dos primeiros fantasmas que assom-


bram o modo como as pessoas encaram o
relacionamento tem a ver com os clichês
sobre o que é certo ou errado. Você deve
ter crescido ouvindo uma porção deles. Sua
mãe, seu pai, seus avós devem ter “buzi-
nado” muito em seus ouvidos.
Mulheres escutam sobre o quanto devem
servir ao seu marido, e que se eles forem
trabalhadores, já está no lucro. Homens
ouvem conselhos mirabolantes sobre per-
formances sexuais e crescem acreditando
que mulher decidida é “mulher fácil”. Esses
são apenas alguns exemplos de clichês
baseados em crenças culturais, aos quais
somos expostos desde que nascemos.
Muitos desses clichês influenciam nossas

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


112
condutas dentro de um relacionamento ou
no início dele. Não são raras as mulheres
que acreditam que homem bom é aquele
que paga a conta e que esperam um prín-
cipe encantado para se relacionar. Também
não é incomum encontrarmos homens
que acreditam que devem dar um gelo nas
mulheres, para que elas não o vejam como
um apaixonado.
Eu passaria dias dando exemplos de cli-
chês – péssimos - que tropeçamos por aí,
no dia a dia. Mas, nesse momento, o mais
importante é que você fique alerta! Observe
as regrinhas descabidas que podem estar
controlando alguns de seus comportamen-
tos, sem que você tivesse percebido. Note
o quanto somos sensíveis a regras como
essas, sem questioná-las. O que será que

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


113
você já perdeu por nortear sua conduta
em um clichê qualquer? Muitas relações
deixam de “engatar” por conta dessas ver-
dades infundadas. Atente-se!

CRENÇAS

Ao longo do nosso crescimento, cultiva-


mos muitas crenças. Elas são como regras
que regem parte de nossos comportamen-
tos. Não é novidade, você já deve ter dedu-
zido: sim, elas são produto da educação
que recebemos, fruto de nossas experiên-
cias, e nos acompanham dentro de nossa
bagagem. Por estarem sempre com a gente,
essas crenças podem se tornar poderosos
fantasmas que assombram nossas decisões.
A forma como nos comportamos atu-
almente é baseada em nosso processo de

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


114
aprendizado. Fazemos o que aprendemos.
Por isso, ao entrarmos numa relação, auto-
maticamente, passamos a agir conforme
agimos no passado. Inclusive, passamos a
julgar as ações dessa pessoa, conforme as
regras que extraímos de relações anterio-
res. Explicarei um pouco mais, vamos lá!
Nossas primeiras relações são basea-
das nas regras e clichês que ouvimos dos
outros. Com o tempo, criamos nossas pró-
prias regras e impressões sobre o assunto.
Conforme vamos nos relacionando, leva-
mos conosco esse novo “pacote” de cren-
ças. Elas se tornam, então, a régua com
que julgaremos as situações, sobretudo, o
comportamento do outro.
Aqui mora o perigo! Quando nos basea-
mos piamente em uma experiência passada,

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


115
para julgar uma situação atual, corremos o
risco de negligenciar os aspectos diferentes
da nova situação. Embora seja impossível
não criarmos regras, ao longo das nossas
experiências, é preciso usá-las com muita
parcimônia e cuidado. Do contrário, cor-
remos o risco de achar que, por termos um
martelo em mãos, tudo virou prego.
Provavelmente, você já se pegou ava-
liando uma situação, com base em alguma
experiência anterior que viveu, estou certa?
“Ele sai com os amigos, e quando está em
casa, fica assistindo tevê no sofá, por muito
tempo, parece que não está nem ligando
para mim, ele não deve me amar mais”. Essa
frase poderia ser dita por uma pessoa que,
em alguma relação anterior, notou que esses
comportamentos do parceiro sinalizavam

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


116
desinteresse e desamor. Acontece que essa
mesma interpretação pode não se apli-
car à nova relação. Será que é desamor,
ou poderia apenas ser cansaço e estresse,
quem sabe apenas um estilo diferente de
passar o tempo?
Por essas e mais outras, não podemos
deixar que nossas crenças influenciem
todas as nossas decisões. É preciso checar,
perguntar, questionar, buscar evidências.
Nem sempre elas se aplicam. Ao deixar
que elas te controlem, você pode se enga-
jar em comportamentos muito destruti-
vos, que podem te levar a cometer muitos
erros. Imagine se a pessoa que falou a frase
acima acreditar no seu julgamento inicial,
provavelmente, passaria a cobrar amor e
atenção do parceiro, de forma desesperada.

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


117
Nem preciso dizer, né? Que “vacilo”!
Muitos relacionamentos acabam por uma
série de interpretações erradas, baseadas
em crenças e não em evidências. Lembre-se
sempre da máxima: cada um tem uma his-
tória de vida diferente, é preciso respeitar
a individualidade de cada um, inclusive a
sua.

CALAR-SE

Como lidar com problemas e situações


difíceis, sem expressar o que pensa? Como
a pessoa que está ao seu lado saberá o que
lhe agrada, sem você comunicar isso a ela?
Sem dúvidas, o “não falar” é o vilão do rela-
cionamento amoroso. Inúmeras relações
acabam por falta de posicionamento, por
segredos e falta de assertividade.

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


118
Pode parecer estranho, mas é muito
comum que pessoas que têm tendência
a não se comunicar passarem anos ocul-
tando uma série de coisas da outra pessoa.
E quando o relacionamento está prestes a
terminar, decidem “abrir o baú”, falando
tudo e mais um pouco, de forma deses-
truturada e desrespeitadora. Você já pode
supor o caminho disso tudo, não é mesmo?
Brigas, feridas, desamor e rancor são alguns
dos efeitos colaterais deste padrão.
Eduque seu relacionamento com base na
comunicação assertiva e cuidadosa. Não
deixe de comunicar o que está sentindo,
nem deixe de ouvir o que a outra pessoa
está te comunicando. Fale sobre os pro-
blemas e, também, fale sobre o que há de
bom. Exalte o que há de bom!

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


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CIÚME

Ciúme é controle. Um está para o outro,


assim como a lua está para noite e o sol
está para o dia. Te pergunto, então, qual
relação baseada em extremo controle pode
ser duradoura? Desconheço.
Costumo dizer que o ciúme é a ponta
do iceberg, ele esconde muitos problemas
e questões mal resolvidas, de ambos os
lados, principalmente do ciumento. Você
deve concordar comigo: uma pessoa sau-
dável, com autoestima alta e bem estrutu-
rada emocionalmente, tem motivos para
controlar a vida do parceiro ou parceira?
Aposto que não. Quando compreendemos
que o ciúme é um sintoma, entendemos
que há muito sofrimento envolvido, não
só para o parceiro, mas para quem o sente,

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


120
também.
O ciúme é apenas uma manifestação de
muita insegurança, proveniente de auto-
estima dilacerada. Há dificuldade de auto-
aceitação e, com certeza, de confiar no
outro. Por isso, as tentativas deliberadas
de controle. É com base em todos esses
“buraquinhos” que o ciumento age: che-
cando celular, restringindo saídas, ame-
açando, vigiando, cercando e sufocando.
Suas ações são controladas pelo medo de
ser traído e substituído.
Acontece que, com o passar do tempo,
os efeitos colaterais do ciúme aparecem.
Relacionamentos baseados em controle
são muito danosos, causam ansiedade e
muitos prejuízos emocionais, para ambos
os lados. O ciumento perde o bom senso e

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


121
leva suas tentativas de controle às últimas,
em contrapartida a outra pessoa, passa a
viver sob regime militar, tendo de viver
escondendo e agindo pelas costas.
Relações com esta configuração naufra-
gam, não chegam ao porto! Como conduzir
um barco em que um comandante descon-
fia, o tempo inteiro, do outro? Não há time,
não há parceria. Há muita desconfiança e
culpa. Um combo horrível!
Ao identificar-se como ciumento, ques-
tione suas ações. Não permita que suas
feridas mal resolvidas impactem a vida
de outra pessoa. Busque caminhos para
se reestruturar como, por exemplo, a psi-
coterapia. Deixar suas emoções e crenças
adoecidas transbordar é como romper uma
barragem: lama para todo o lado.

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


122
Se você sofre com as tentativas de con-
trole de outra pessoa, repense tudo o que
aprendeu até aqui. Esses comportamentos
estão de acordo com seus valores? Te edi-
ficam e te estimulam a viver, de forma sau-
dável, suas individualidades? Aposto que
não. Levante-se dessa “zona de conforto
desconfortável”. Acredito que a parte que
se acostuma a viver sob “regimes totalitá-
rios” dentro de um relacionamento está
tão adoecida quanto a outra pessoa.

INVALIDAÇÃO

“Eu falo, mas ela debocha, finge que está


entendendo, mas sequer comenta algo”, “Ele
não escuta o que eu digo e, quando ouve,
diz que meus sentimentos não têm sen-
tido nenhum”. Frases assim são exemplos

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


123
claros de comunicação invalidante. Mais
um fantasma que assombra muitos rela-
cionamentos. Você já ouviu esta palavra
antes? Muitas pessoas não têm ideia do
que se trata. Vou explicar melhor.
Invalidar tem relação com desvalorizar
o que o outro diz, pensa e sente. É como
um paciente me contar que se sente pés-
simo em determinada situação e eu, sim-
plesmente dizer: “relaxa, isso é besteira!”.
Qual sensação eu causaria nessa pessoa,
a partir da minha hipotética resposta?
Sensações horríveis, imagino eu. Acredite
ou não, muitos casais vivem, por muitos
anos, invalidando um ao outro. Que desa-
mor! É nítido o quanto não respeitamos a
outra pessoa, quando fazemos isso.
A invalidação é sorrateira. Eu já cometi,

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


124
você já cometeu. Por isso, devemos obser-
var, com cuidado, a forma como ouvimos
o outro. Um relacionamento exige carinho
e respeito. Ouvir com atenção, validar as
emoções e a forma como o outro se expressa
são valiosas demonstrações de cuidado.
Os impactos da comunicação invalidante
são desastrosos, causam muito tristeza,
mágoa e sensações de invisibilidade. Não
permita que sua relação caminhe para o
buraco, fique atento.

SEXO

Até aqui não falamos sobre relações


sexuais, não por falta de importância,
na verdade, teríamos conversa para um
novo livro. O sexo importa muito dentro
de um relacionamento amoroso. Apesar

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


125
de ser um tema pouco discutido, ele pode
ser mais um assombroso fantasma.
Não são raros os casais com problemas
sexuais. Um dos mais comuns tem a ver
com o diálogo sobre o tema. Aposto que
boa parte das pessoas que estão lendo este
livro tem dificuldade em falar sobre sexo
com seu parceiro ou parceira. É claro que
muitas questões culturais promovem essa
dificuldade, mas já sabemos o quanto de
informação temos hoje. Não deixe que o
diálogo sobre sexo se torne um tabu em
seu relacionamento.
Outro aspecto comum nas relações diz
respeito à prática do sexo. Muitas vezes,
os pares não se combinam sexualmente,
reclamam da performance um do outro,
sentem-se insatisfeitos. Você já pode

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


126
imaginar que boa parte desses problemas
tem a ver com a falta de diálogo, não é?
Acertou. Como os casais poderiam desem-
penhar de forma prazerosa e saudável, no
sexo, se não comunicam o que gostam e o
que desejam?
Continue o raciocínio e identifique mais
um costumeiro problema da vida sexual dos
casais: a negligência com o sexo. A maioria
não fala sobre, não comunica, nem ensina
ao outro e, por consequência, pouco prati-
cam. Não há sexo na relação em que as par-
tes não falam sobre ele. Relacionamentos
que vivem em escassez sexual tendem a
gerar sentimento “fraternal” pelo parceiro
ou parceira e, aí, você já pode imaginar,
não é?
A educação sexual brasileira é bastante

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


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deficitária, nós sabemos. Mas podemos ter
acesso, atualmente, a muita informação.
Mulheres, busquem entender seu corpo,
ciclos, sensibilidade e desejos. Homens,
abram-se ao diálogo e libertem-se do
modelo dos filmes, a sexualidade de vocês
foi superestimada por anos, causando mui-
tos malefícios, busquem informação.

REDES SOCIAIS

Quer tema mais atual que este? As redes


sociais vieram para nos expor e escanca-
rar nossas dificuldades. Se tornaram um
problema da vida moderna e não podemos
negligenciá-lo. Sim, muitos relacionamen-
tos naufragam por brigas relacionadas às
redes, inclusive, você já deve ter passado
por isso.

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


128
Interpreto as redes sociais como mais
um ambiente em que podemos nos com-
portar. A diferença é que temos acesso a
ela com facilidade. Antes, para nos expor-
mos, precisávamos ir a um evento ou algo
do tipo, hoje, temos celular e aplicativos
em mãos. É foto para lá e foto para cá, likes
de um lado, comentários de outro. O pro-
blema é que tudo isso ainda é muito novo,
principalmente, para a geração de 25 anos
ou mais.
Pessoas emocionalmente saudáveis
não se descabelam por redes sociais, já per-
cebeu? Quem mais se preocupa e se ocupa
de cada minúcia das redes, são as pessoas
mais ciumentas, inseguras e com autoes-
tima baixa. Se não existisse o Facebook
e Instagram, elas ainda se sentiriam

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


129
ameaçadas não por likes ou comentá-
rios, mas por qualquer contato visual,
por exemplo.
Encare as redes sociais como uma área
de lazer, em que você pode manter contato
com diversas pessoas que, pelo tempo e
rotina, se afastam. Utilize com parcimônia,
e não reduza sua autoestima aos comentá-
rios e corações que recebe em suas fotos.
Quanto mais valor e espaço você dá para a
rede social, em sua vida, mais “encanado”
vai ficando com a rede social da pessoa com
quem você se relaciona.
Muitas relações se desgastam por conta
de discussões baseadas em interpretações,
“eu vi o comentário, ela quis me provocar!”.
Não seja essa pessoa, por favor! Há muito
mais vida longe dos aplicativos. Estabeleça

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


130
bons combinados com a pessoa com quem
está se relacionando. Quando essa pessoa
te respeita e quando você a respeita de
volta, vocês fazem isso online ou off-line.

FAMÍLIAS

Famílias, comumente, são pivôs de dis-


cussão e muitos desentendimentos. Mas
isso acontece somente quando as partes não
combinam como vão agir. Relacionamento
é parceira, correto? Pois bem, quando o
assunto é família, a parceria deve se man-
ter muito alinhada.
Nem sempre você escolherá uma pessoa
para se relacionar, proveniente de família
saudável e acolhedora. Em algumas rela-
ções, lidar com a sogra, o sogro, cunhados
e avós, se torna uma missão, por conta

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


131
do padrão de comportamento de cada
um deles. Quem nunca se relacionou com
uma sogra difícil, afinal? Pois é! O antí-
doto mais importante nestas situações, é
um combo: respeito, diálogo, paciência
e homogeneidade.
Não bata de frente com a família da pes-
soa com quem você se relaciona, quase
sempre, você perderá essa briga. Mantenha
sempre o diálogo com seu par e estabeleça
combinados claros. Muitas vezes, se torna
importante alinhar discurso e lidar de forma
homogênea com as cobranças e pedidos
das famílias. Não implore por afeto, nem
entre em discussões. Ao detectar relações
“perigosas”, mantenha-se discreto e razo-
avelmente distante.
Para lidar de forma saudável e positiva,

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


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com questões familiares, a comunicação
do casal é mais do que importante, é fun-
damental. Se a comunicação com seu par-
ceiro ou parceira estiver cheia de ruídos,
não tenha dúvidas, os problemas familia-
res dominarão a relação de vocês.

NADA É DO NADA

Percorremos um longo caminho para


chegar até aqui, não é mesmo? Você leu
e refletiu sobre assuntos que, talvez, nem
faziam parte dos seus pensamentos. Espero,
fortemente, que você tenha compreen-
dido quão complexo é um relacionamento
amoroso e como ele necessita do seu auto-
conhecimento. Não há relação saudável
quando alguma das partes está adoecida.
Não existe relação duradoura, sem que

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


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você tenha consciência de quem você é.
Este tópico não está aqui por acaso. Ele
vem para fechar todo este ciclo de reflexão
e expansão de ideias. Agora, você tem um
pouco mais de noção sobre como compor-
tamentos individuais impactam o seu rela-
cionamento. Inclusive, agora, você pode
supor quantos prejuízos foram gerados por
escolhas impensadas, no passado.
Cada capítulo deste livro foi escrito com
o objetivo de chegar até aqui, na seguinte
mensagem: relacionamentos não acabam
do nada. Nada é do nada! Agora você tem
clareza disso. Muitas pessoas chegam aos
consultórios de Psicologia, desesperadas,
sem saber os motivos de sua relação ter
acabado. Sendo assim, eu te pergunto:
como pode uma relação acabar, sem que

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


134
você tenha visto tudo definhando?
A falta de atenção e pouca consciência
das pessoas, faz com que muitas relações se
percam em meio a um mar de problemas,
chateações, intrigas e desrespeito. E ainda
dizem: “foi do nada!”. Não mesmo! Do nada
não foi! Provavelmente, percorreram um
longo caminho até chegar nesse desfecho.
Eu não desejo esse caminho para você. Não
deixe que a falta de consciência consuma
sua relação. Mantenha-se atento, ativo e
consciente de suas ações. Desenvolva sua
empatia e trabalhe com afinco para que
suas emoções estejam sempre saudáveis.
Adotar a postura “braço curto”, ape-
sar de conveniente, não é justa. Você está
na relação tanto quanto a outra pessoa.
Responsabilize-se pelos seus atos e as

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


135
consequências deles. Defendo a ideia de
que a relação é sempre 50% para cada um.
Há responsabilidade para ambos os lados,
aproprie-se das suas, sem desculpas ou
melindres, seja parte ativa na relação sem-
pre. Assim, não há espaço para sentimento
de culpa, nem autoflagelo.

Ufa! Agora é hora de refletir mais um pouco!

Sobre clichês:
• Quais clichês fazem parte do seu dia a dia?
• Quais já influenciaram suas relações?
• Quais fazem sentido para você?

Sobre crenças:
• Quais são suas crenças mais “fortes”?
• Elas têm influência da sua família?
• Vo c ê q u e s t i o n a s u a s c r e n ç a s ? B u s c a

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


136
evidências?
• Já “abandonou” alguma crença por perceber
que não fazia sentido?
• Você conhece as crenças do seu parceiro
ou parceira?

Sobre “não falar” e invalidação:


• Você tem falado tudo o que precisa, dentro
do seu relacionamento?
• Tem ouvido tudo o que seu par lhe diz?
• Tem se sentido ouvido pelo seu par?
• Já se sentiu invalidado dentro do
relacionamento?
• Já invalidou seu parceiro ou parceira?
• O que precisa melhorar, na comunicação,
para ser mais acolhedora?

Sobre redes sociais:


• Como você encara as redes sociais?
• Qual a importância delas para você? E para
seu par?
• Quais combinados vocês fizeram sobre as
redes sociais?
• Você fica interpretando e discutindo sobre
o que acontece nas redes sociais?

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


137
Sobre família:
• Como você se relaciona com a família do
seu par?
• Como ele se relaciona com a sua?
• Quais são suas considerações sobre a famí-
lia do outro? Ele sabe? E o contrário?
• Vocês estabeleceram combinados para lidar
com situações familiares delicadas?
• Você respeita a família do seu parceiro ou
parceira? Sabe quando se afastar?

Sobre ciúme:
• Você se considera ciumento? Com qual fre-
quência acontece?
• Você se sente inseguro?
• Já buscou ajuda profissional?
• Está numa relação com alguém ciumento?
Como se sente nessa relação?

Sobre sexo:
• Você conhece seu corpo? Sabe o que gosta
e o que te dá prazer?
• Se sente à vontade para falar sobre sexo
com seu parceiro ou pareceira?
• Como você avalia sua vida sexual? Seu par
tem consciência disso?

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


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• Você acha que sexo não é importante?
• Vocês falam sobre sexo com qual frequência?

Sobre processo:
• Se sente mais consciente, agora, ao termi-
nar este livro?
• Sente que conhece um pouquinho mais de
você? E da sua relação?
• Quais aspectos importantes você se lembrou
e que tiveram impacto em sua relação?
• Se sente apto a se responsabilizar pelas suas
ações?

Se você estiver em um relacionamento, comparti-


lhe tudo que aprendeu neste livro com seu parceiro ou
parceira. Fale com empolgação, sobre os conteúdos
que mais significaram para você. Comente, também,
sobre os que mais lhe surpreenderam. Eleja, ao menos,
um objetivo de melhora para sua relação e pergunte se
ele ou ela topa embarcar com você nesta mudança.

Relacionamento (des)complicado: Ciladas: cuidado!


139
Não pare, continue!
Relacionamento (des)complicado: Continue...
140
Como você está se sentindo após per-
corrermos todo esse caminho? Se você
utilizou este livro como instrumento de
reflexão e, de fato, esteve imerso em cada
exercício, imagino que esteja casando e
um “tanto mexido”. Você acabou de expe-
rimentar um pouco dos “incômodos” que
o processo de autoconhecimento provoca.
Estou muito feliz por você ter chegado até
aqui! Eu realmente adoraria poder te abra-
çar neste momento e parabenizar pela sua
coragem.
À medida que conhecemos mais de nós
mesmos, podemos modificar e alterar aspec-
tos do ambiente (e de nós) que nos afetam
negativamente. A liberdade não consiste
em não nos afetarmos. A liberdade con-
siste em sabermos o que nos afeta e a partir

Relacionamento (des)complicado: Continue...


141
disso, controlarmos nosso próprio compor-
tamento. Agora, após adentrar a estrada
do autoconhecimento, você está a alguns
passos mais próximos de sua “liberdade”!
Foi um prazer caminhar contigo ao longo
dessas páginas! Desejo que muitos frutos
sejam colhidos por você e que eles impac-
tem sua autoestima e relacionamento de
forma transformadora. Que você se apai-
xone, assim como eu, pelo caminho liber-
tador do autoconhecimento e, que a partir
da leitura deste livro, sinta-se motivado
a mergulhar mais fundo em sua própria
história.
Nos falamos em breve!

Relacionamento (des)complicado: Continue...


142
Sobre a autora

MARIANA CRISTINA FERNANDES

Psicoterapeuta e Supervisora Clínica,


divide sua atuação entre consultório, super-
visão de profissionais e acompanhamento
terapêutico. Apaixonada pelo compor-
tamento humano desde criança, sempre
teve o sonho de desenvolver pessoas e a
Psicologia se tornou um caminho para tal.

Relacionamento (des)complicado: Sobre a autora


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O ponto central de seu trabalho é aju-
dar pessoas a encontrar mais sentido em
sua vida. Com amor, cuidado e profissio-
nalismo, busca estabelecer relações tera-
pêuticas transformadoras.
Psicóloga Comportamental, formada pela
Universidade de São Paulo e Universidade
São Judas Tadeu. Paulista de corpo, alma
e coração, vive uma relação de amor e ódio
com a imensidão que a metrópole propõe,
por isso, está sempre em busca de calma-
ria mundo afora.

Relacionamento (des)complicado: Sobre a autora


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