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Mito e Filosofia: desvendando suas singularidades.

O nascimento da filosofia pode ser entendido como o surgimento de uma nova ordem
do pensamento, complementar ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. Uma visão de
mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas de geração a geração por séculos
e que transmitiam aos jovens a experiência dos anciãos. Como narrativas, os mitos falavam de
deuses e heróis de outros tempos e, dessa forma, misturavam a sabedoria e os procedimentos
práticos do trabalho e da vida com a religião e as crenças mais antigas.
Quando dizemos que a filosofia nasceu na Grécia, pontuamos que a mesma nascera
das adaptações que os pensadores gregos regimentaram aos conhecimentos adquiridos por
meio de influências, e da superação do pensamento mitológico buscando racionalmente aliar
essa nova ordem de pensamento propriamente grega.
A filosofia, por outro lado, trata de problematizar o porquê das coisas de maneira
universal, isto é, na sua totalidade. Buscando estruturar explicações para a origem de tudo nos
elementos naturais e primordiais (água, fogo, terra e ar) por meio de combinações e
movimentos.
Enquanto o mito está no campo do fantástico e do maravilhoso, a filosofia não admite
contradição, exige lógica e coerência racional e a autoridade destes conceitos não advém do
narrador como no mito, mas dá razão humana, natural em todos os homens.
Existem duas versões principais sobre a origem da filosofia: a versão mais conhecida é
aquela que acentua o surgimento de uma metodologia nova de abordagem dos problemas no
esforço de certos pensadores em explicar os fenômenos naturais com métodos que
possibilitavam medir, verificar e prever os fenômenos. Nessa versão a filosofia ao nascer,
opõe-se ao mito e o substitui, a partir de uma nova racionalidade. A segunda versão diz que
não houve um rompimento com o mito e a religiosidade dos antigos continuou a aparecer nas
formas de conhecimento filosófico.
As duas respostas podem ser consideradas extremadas. A filosofia surgiu
gradualmente a partir da superação dos mitos, por sua vez, abandona e supera a crença mítica
e abraça a razão e a lógica como pressupostos básicos para o pensar. Então podemos dizer que
a filosofia surgiu por meio da racionalização dos mitos, mas sob a influência dos
conhecimentos adquiridos de outros povos gerando algo novo, ou seja, houve uma superação
e transformação do antigo, gestando o novo de maneira diferente.
Na modernidade, podemos pensar filosoficamente outros conceitos para o mito. Um
dos modos de entender o mito é pensá-lo como fantasmagoria, isto é, aquilo que a sociedade
imagina de si mesma a partir de uma aparência que acredita ser a realidade. Por exemplo: é
mítica a ideia de progresso, porque é uma ideia que nos move e alimenta nossa ação, mas, na
realidade não se concretiza. A sociedade moderna não progride no sentido que tudo o que é
novo é absorvido para a manutenção e ampliação das estruturas do sistema capitalista. O
progresso apresenta-se como um mito porque alimenta o nosso imaginário.
O pensamento mítico é por natureza uma explicação da realidade que não necessita de
metodologia e rigor, enquanto que o logos ( termo da filosofia) se caracteriza pela tentativa de
dar resposta a esta mesma realidade, a partir de conceitos acionais.
O homem moderno continua ainda a mover-se em direção a um valor que o apaixona e
só posteriormente é que busca explicitá-lo pela razão. Entende-se, pois, que o mito se
manifesta por meio de elementos figurativos, enquanto que o logos utiliza-se de elementos
racionais. Mas existe razão nos mitos? Não seria também a racionalidade, um mito moderno
disfarçado?

Referências:
Filosofia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p.
ISBN: 85-85380-33-0
1. Filosofia. 2. Ensino médio. 3. Ensino de filosofia. 4. História da filosofia. 5. Mito.
6. Ética. 7. Filosofia política. 8. Teoria do conhecimento. 9. Estética. 10. Filosofia da ciência.
I. Folhas. II. Material de apoio pedagógico. III. Material de apoio teórico. IV. Secretaria de
Estado da Educação. Superintendência da Educação. V. Título.

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