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17 Alopecias em Cosmiatria

Capítulo 17 Alopecias em Cosmiatria


Fabiane Mulinari-Brenner • Themis Hepp

dos cabelos se reflete na ansiedade e sofrimento, muitas


Pontos Principais vezes desproporcional, referido pelos pacientes.
1. A queixa de queda de cabelo está entre as mais Neste capítulo, serão discutidos aspectos básicos do
frequentes nos consultórios dermatológicos, couro cabeludo, além de critérios de avaliação clínica,
especialmente entre jovens e mulheres. métodos complementares e conduta inicial nos diagnósti-
2. Reconhecer as características do couro cabeludo e cos mais prevalentes na prática diária do dermatologista.
do ciclo do cabelo normal é fundamental para definir
alterações referidas pelo paciente.
3. Anamnese cuidadosa e exame clínico, acompanhados  ANATOMIA E FISIOLOGIA DO CABELO
de dermatoscopia, caracterizam a maioria dos
diagnósticos. Os pelos podem ser de dois tipos: velos ou terminais. Os
pelos velos são finos, sem medula e despigmentados, apre-
O
4. Avaliações complementares, como estudo microscópico
dos fios em queda e biópsia de couro cabeludo, podem
ser necessárias nos casos desafiadores.
sentam menos de 0,03 cm de diâmetro e até 2 cm de
comprimento. Já os pelos terminais são longos, grossos,
5. Uma biópsia adequada de couro cabeludo, obtida por pigmentados, e estão restritos ao couro cabeludo, sobran-
punch 4 ou 6 mm, avaliada por um dermatopatologista celhas e cílios até a puberdade. Por estímulo hormonal an-
experiente pode fornecer dados valiosos ao diagnóstico.
drogênico, os pelos velos se transformam em terminal na
axila e pube de ambos os sexos e face dos homens.
 O folículo piloso, a glândula sebácea e o músculo ere-
INTRODUÇÃO
tor do pelo formam a unidade morfofuncional pilossebá-
Mitos, lendas e superstições cercam as referências his- cea. A compreensão desta unidade é fundamental para o
tóricas do cabelo. Ele é uma das características huma- entendimento de suas anormalidades. O folículo piloso
nas mais variáveis. Cor, comprimento, densidade e pen- compreende as seguintes porções: o acrotríqueo — por-
teado caracterizam diversas raças, religiões e aspectos ção intraepidérmica do folículo; o infundíbulo — entre o
políticos e etários. Desde os relatos bíblicos de Sansão óstio e o ponto de inserção da glândula sebácea; o istmo
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e suas longas tranças, o cabelo se relaciona à força. Sua — entre a glândula sebácea e a inserção do músculo ere-
modelagem está relacionada à sedução, especialmente tor do pelo; e o segmento inferior em que há uma expan-
no sexo feminino, e à moda, determinando padrões de são chamada bulbo piloso, que contém a matriz do pelo
beleza. e engloba a papila. No terço inferior do bulbo, há intensa
Os estudos de Hipócrates (460 a.C.) incluíram a ob- atividade mitótica e as células matricais se diferenciam
servação de que crianças e eunucos não desenvolviam gradualmente ao longo do folículo em duas vias: a bainha
calvície. Desde então, muito se desenvolveu no reco- radicular interna e o pelo ou cabelo. A bainha radicular
nhecimento e caracterização clínica das diversas formas interna compreende a cutícula, a camada de Huxley e a
de alopecia. Os estudos do ciclo do cabelo de Kligman, camada de Henle, de dentro para fora. A bainha radicu-
nos anos 1950, foram a base para determinar os padrões lar interna guia o pelo em direção à superfície, através da
do tricograma. A compreensão e o reconhecimento dos camada companheira e, na altura do istmo, sofre quera-
aspectos histológicos do couro cabeludo ganharam for- tinização e se desintegra. Uma proliferação epidérmica
ça com as observações de Headington, avaliando cortes liga a matriz à superfície da pele e forma a bainha radicu-
transversais de amostras de couro cabeludo, na década lar externa. Externamente a ela, situa-se a camada vítrea
de 1980. Nos anos seguintes, a utilização da dermatos- ou basal e, em torno dela, estão feixes colágenos densos,
copia do couro cabeludo, ou tricoscopia, trouxe novos que constituem a bainha radicular fibrosa (Figura 17-1).
dados para a prática diária do consultório, responsável As hastes capilares são compostas por uma cutícula
por grande número de publicações na área atualmente. de células imbricadas, pelo córtex e a medula (Figura
A queda de cabelo está dentre as causas mais fre- 17-2). A cutícula normal é lisa, permitindo a reflexão da
quentes de visita ao dermatologista, especialmente em luz e conferindo aparência brilhante às hastes. O córtex é
mulheres e adultos jovens. A importância psicossocial responsável pela maior parte das propriedades mecânicas 203
Haste Haste

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(cutícula, córtex, medula)

Músculo Bainha radicular interna


eretor
do pelo
Bainha radicular externa
Glândula
sebácea
Camada vítrea
Raiz do
cabelo Medula
Seção 2 Cosmiatria

Bulbo
capilar do Bainha radicular fibrosa
folículo

Córtex

Matriz
Melanócito

Papila dérmica

Tecido celular subcutâneo

Copyright 2002 Pearson Education. Inc., publishing as Benjamin Cummings.

Figura 17-1. Representação esquemática da estrutura folicular e seu bulbo.

Cutícula
O
de e podem ser esticados até 30% de seu comprimento.
O cabelo seco possui carga negativa, mas pode produzir
Medula eletricidade estática, capaz de afastar as hastes e produ-
zir aspecto “arrepiado”, o qual pode ser amenizado com
hidratantes capilares.
O número total de folículos em todo o corpo em
adultos é estimado em 5 milhões. Cerca de 1 milhão está
na cabeça e 100 mil, no couro cabeludo. A densidade de
pelos no couro cabeludo é variável, de 175 a 300/cm²,
dependendo da área, sexo e idade do indivíduo. A redu-
ção da densidade com o envelhecimento é significativa
PR

em todas as regiões do couro cabeludo, com perda de


cerca de 30% da segunda à oitava décadas. Em geral, a
velocidade de crescimento dos fios terminais é de pou-
co mais de 2 mm por semana e 100 a 150 hastes são
Córtex eliminadas diariamente. Essas hastes são substituídas de
forma cíclica, a partir de células germinativas do bulge
Figura 17-2. Representação esquemática da estrutura da (região mediana dérmica do folículo). O folículo piloso é
haste capilar. um dos poucos tecidos humanos ricos em células germi-
nativas, além disso, possui queratinócitos e melanócitos,
das hastes capilares, com queratinócitos compactados. O fundamentais na reparação da epiderme.
principal componente do pelo é a queratina e os aminoá-
cidos associados a ela, como cisteína, arginina e citrulina. Atividade Cíclica do Cabelo
As cadeias de queratina se ligam por pontes dissulfeto
(entre moléculas de enxofre), conferindo resistência à O desenvolvimento e a multiplicação das células da ma-
haste. Essas ligações são alteradas nos tratamentos quí- triz folicular seguem um padrão cíclico, alternando fases
micos da haste como tinturas e alisamentos definitivos. de crescimento, repouso e queda. As alterações que ca-
Outras ligações importantes na manutenção da estrutura racterizam essas fases se dão na porção inferior do folícu-
da haste são as ligações de hidrogênio e as de Van der lo e ocorrem de forma independente e assincrônica entre
Walls, que são modificadas no processo de umidificação os folículos. A fase anágena ou de crescimento dura entre
e subsequente secagem para modelagem temporária dos dois e sete anos e caracteriza-se por intensa atividade mi-
204 fios. Quando molhados, os fios aumentam sua elasticida- tótica na matriz, quando o pelo apresenta sua estrutura
pelo padrão central ou difuso de alopecia androgenética

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e pelas alopecias cicatriciais linfocíticas.
A anamnese deve abordar o início, a duração e a natu-
reza da queixa. Queda, rarefação e quebra são facilmente
distinguidas na história. Familiares com AAG, alterações
nas hastes ou doenças autoimunes podem influenciar o
diagnóstico. Outras doenças como câncer de mama ou de
próstata na família podem impactar na decisão terapêuti-
ca: o uso crônico de antiandrógenos na mulher aumenta
o risco de neoplasias mamárias; bem como a finasterida,

Capítulo 17 Alopecias em Cosmiatria


que, apesar de não interferir na incidência de câncer de
próstata, pode retardar o seu diagnóstico. Modificações no
peso devem ser observadas. A obesidade aumenta a trans-
formação periférica de andrógenos. Dietas restritas ou
Figura 17-3. Representação esquemática do ciclo do pelo: crônicas para emagrecimento podem levar a deficiências
fases anágena, catágena e telógena. proteicas e minerais, facilitando um eflúvio telógeno (ET).
Anormalidades endócrinas, enfermidades sistêmicas, ci-
rurgias recentes e uso de medicamentos podem ser um ga-
completamente desenvolvida. A fase catágena, também
tilho para queda. Assim como ocorre com medicamentos,
denominada fase de regressão ou involução, é um perío-
vitaminas, compostos homeopáticos e outros suplementos
do de transição de cerca de duas semanas entre a fase de
alimentares. Tricodínea (sensação de ardência no couro
crescimento e a de repouso. As células matricais param de
cabeludo) ou prurido podem estar associadas à queda ou
se dividir e a estrutura do folículo diminui em um terço.
A fase subsequente dura aproximadamente três meses e dermatite seborreica. Em mulheres, a história deve incluir
denomina-se telógena ou de repouso, quando o pelo se a data da última menstruação, gestações e abortos, infer-
tilidade, menopausa, terapia de reposição hormonal e uso
O
separa da papila dérmica e é facilmente destacado. Sua
porção inferior está queratinizada em forma de clava pela
deposição adicional de queratina. No final dessa fase, um
ou suspensão de anticoncepcionais orais. Irregularidade
menstrual e hipermenorreia podem se correlacionar com
trato fibroso pode ser observado na região previamente alterações hormonais e deficiência de ferro. O desejo de
ocupada e uma nova fase anágena ali se desenvolverá. engravidar pode interferir na decisão terapêutica, já que os
Entre a queda do folículo telógeno e a nova fase anágena, antiandrógenos devem ser sempre acompanhados de anti-
um período de total repouso folicular é observado: a fase concepção. Outras doenças sistêmicas e infecções, como
quenógena. Em geral, de curta duração, ela parece ser a sífilis, devem ser excluídas. Ainda que a sífilis no couro
mais duradoura na alopecia androgenética (AAG), cola- cabeludo normalmente seja manifestação de secundaris-
borando para a rarefação observada (Figura 17-3). mo, associada à alopecia em outras áreas ou exantema, a
No couro cabeludo normal, 85-90% dos fios estão na queixa principal pode ser de alopecia.
fase anágena, 10-15% na telógena e 1% na fase catágena. Com a popularização de diversos tratamentos es-
A duração da fase de crescimento é diretamente propor- téticos capilares, é fundamental questionar o paciente
cional à espessura do pelo; com o envelhecimento, essa quanto aos hábitos de cuidados com os cabelos. Tinturas
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fase sofre um encurtamento progressivo. Os fatores re- e alisamentos facilitam a quebra e podem intensificar o
guladores do ciclo piloso são desconhecidos, admitindo- problema básico. A frequência da lavagem e os produtos
se a influência de condições intrínsecas do folículo (ainda utilizados, os tratamentos químicos no último ano e sua
pouco esclarecidas) e sistêmicas (nutricionais, emocio- frequência além do uso de calor para secar ou modelar os
nais, humorais e hormonais). Diferentemente das cren- fios podem interferir na qualidade da haste.
ças populares, não há influências da menstruação, depila-
ção, fases lunares e cortes frequentes no ciclo dos pelos. Exame Clínico

 Durante o exame, deve-se classificar o acometimento do


AVALIAÇÃO CLÍNICA couro cabeludo como localizado ou difuso, além de ava-
História Clínica liar outras áreas pilosas, como sobrancelhas e pelos cor-
porais, as quais podem evidenciar lesões associadas. Ma-
Uma série de fatores está envolvida no desenvolvimento nifestações de hiperandrogenismo como acne, seborreia,
das alopecias. O diagnóstico correto pode ser complexo acantose nigricante, hirsutismo e alterações no timbre da
e requer uma história clínica detalhada, especialmente voz devem ser observadas. O exame das unhas pode au-
focada nos meses que antecederam a queda. Caracterís- xiliar no diagnóstico da alopecia areata (AA), líquen pla-
ticas epidemiológicas como idade e sexo são importan- no pilar (LPP) e no diferencial entre psoríase e dermatite
tes. Crianças possuem incidência maior de AA, tricotilo- seborreica. A presença de sinais de inflamação do couro
mania (TM) e tinea capitis. Mulheres são mais sucetíveis cabeludo, secreção ou cicatrizes foliculares com óstios
à queda de cabelo, normalmente percebendo precoce- ausentes remetem ao diagnóstico de alopecia cicatricial
mente alterações discretas. Elas são mais acometidas e são sinais de alerta para uma possível biópsia. 205
Provas Diagnósticas realizado com a aplicação de gel para evitar a reflexão de-

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sorganizada da superfície da pele. Entretanto, a derma-
Para identificar queda excessiva, pode ser realizada con- toscopia sem imersão tem se mostrado útil para analisar
tagem dos cabelos desprendidos diariamente, que nor- características como poros sudoríparos, pontos amarelos,
malmente não ultrapassa 100 fios. Os fios de cabelo são secreção sebácea e exsudação. Nas áreas de alopecia, cro-
coletados durante sete dias e podem ser analisados ao nicamente expostas ao sol, a presença de rede pigmentar
microscópio e classificados de acordo com sua fase e em “favo de mel”, melanoses e outros sinais de fotodano
diâmetro. podem ser identificados. Diversos achados foram des-
O teste de tração do cabelo é uma técnica simples, critos e correlacionados a determinadas tricoses, poucos
envolvendo delicada tração de um grupo de cerca de 50 são patognomônicos das doenças, mas complementam os
fios da base à extremidade distal. O ideal é que o pa-
Seção 2 Cosmiatria

achados clínicos e podem ser utilizados para seguimento


ciente não tenha lavado o cabelo desde o dia anterior à desses doentes. A Tabela 17-1 apresenta os achados mais
consulta. Desprendimento de mais de 10% no número comuns em associação às alopecias.
de fios tracionados é anormal. Na queda normal e no ET
são desprendidas hastes telógenas, identificadas por sua
 INVESTIGAÇÃO COMPLEMENTAR
porção intraepidérmica, a qual lembra uma “ponta de co-
tonete” (Figura 17-4). A queda espontânea de fios aná-
genos é anormal, e pode ser observada na AA, no eflúvio
Investigação Laboratorial
anágeno (EA) e na síndrome da queda anágena. A tração Em geral, poucos exames laboratoriais podem colabo-
nas bordas das lesões de LPP e lúpus eritematoso discoi- rar no diagnóstico das alopecias. Investigações extensas
de (LED) costuma revelar fios anágenos, reconhecidos devem ser evitadas e os exames devem ser relacionados
pelo bulbo pigmentado e envolto na bainha radicular. às queixas do paciente. Dosagens séricas de TSH, ferro
sérico e ferritina podem ser úteis, pois alterações nes-
Dermatoscopia ses exames podem se associar a um eflúvio. A dosagem
da ferritina é o exame que melhor reflete o aspirado de
O
O uso da dermatoscopia no couro cabeludo foi incorpo-
rada na prática diária pela sua praticidade e potencial de
minimizar a necessidade de exames invasivos. Ela é útil
medula óssea; entretanto, a sua interpretação em rela-
ção à queda de cabelo é controversa. A ferritina é uma
proteína de fase aguda, passível de alterações por pro-
em diversas doenças, desde pediculose e anomalias da cessos inflamatórios e infecciosos de forma inespecífica.
haste capilar, até no diferencial de alopecias cicatriciais Apesar de valores acima de 10ng/dL serem considerados
e não cicatriciais. Pode ser realizada pelo dermatoscópio normais do ponto de vista laboratorial, valores abaixo de
tradicional ou com luz polarizada (DermLite®), por ví- 60 ng/dL (com velocidade de hemossedimentação nor-
deo-dermatoscópio com luz polarizada (FotoFinderder- mal) apresentam elevada especificidade para deficiência
moscope®) ou em associação à análise computadorizada de ferro. Em mulheres com ET e deficiência de ferro, a
dos fios (TrichoScan®). Como a maioria dos dermatolo-
gistas possui o dermatoscópio tradicional de 10 aumen-
tos, para uso no exame das lesões pigmentadas, os acha-
dos nessa modalidade possuem maior aplicação prática. Tabela 17-1. Principais achados dermatoscópicos nas alopecias
O exame dermatoscópico do couro cabeludo pode ser
PR

Alopecia areata Pontos pretos, fios em ponto de


exclamação, cabelos quebrados, pontos
amarelos e pelos velos.
Tricotilomania Pontos pretos, cabelos quebrados vários
comprimentos, pontos amarelos raros.
Tinea capitis Pontos pretos e cabelos quebrados em
forma de vírgula em razão das hifas dentro
da haste.
Alopecia Diversidade no diâmetro das hastes com
androgenética fios mais finos na região frontal que na
occipital, redução no número de hastes/
unidade folicular. Pontos amarelos
e hiperpigmentação acastanhada
perifolicular (sinal peripilar).
Alopecias Áreas cicatriciais eritêmato-leitosas,
cicatriciais hiperqueratose perifolicular, telangectasias,
descamação, politriquia (tufos “cabelos de
boneca”), pústulas nas foliculites. No LED
recente: pontos vermelhos foliculares. No
LED e LPP: estruturas azul-acinzentadas
em padrões anular ou salpicado,
Figura 17-4. Aspecto do fio telógeno à microscopia óptica
consequentes à dermatite de interface.
206 com polarização.
correção dos níveis de ferritina reduziu o número de fios epiderme ao subcutâneo, onde está a maioria dos bulbos

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telógenos no couro cabeludo em mais de 60%. Mulheres anágenos, utilizando punch de 4 ou 6 mm, após anestesia
com AAG em uso de antiandrógenose com deficiência com vasoconstritor. Para pacientes com cabelos lisos, o
de ferro devem receber suplementação de ferro. punch pode ser inserido no couro cabeludo seguindo a
Nas mulheres com manifestações clínicas de hiperan- direção do fio de cabelo; em pacientes com cabelos enca-
drogenismo, dosagens hormonais fazem parte da investi- racolados, o punch deve entrar perpendicular à superfície
gação e devem ser solicitadas de maneira individualizada, da pele. Sempre que possível, duas amostras devem ser
já que menos de 40% das mulheres com AAG apresen- colhidas para cortes transversais e longitudinais. Suturas
tam alteração laboratorial e esses exames parecem não são fundamentais nos casos de alopecia, pois a cicatriz
interferir na conduta terapêutica. A análise dos níveis sé- pode ser evidente devido à rarefação.

Capítulo 17 Alopecias em Cosmiatria


ricos de testosterona é útil para a exclusão de neoplasias
ovarianas e adrenais, quando podem estar marcadamente  ALOPECIAS
elevados. O marcador para andrógenos da glândula adre-
nal é o sulfato de dehidroepiandrosterona (DHEA-S) e As alopecias podem ser classificadas de forma didática
o marcador ovariano é a ∆-4-androstenediona. Nas pa- em difusas e localizadas, de acordo com a sua distribui-
cientes com irregularidade menstrual, os hormônios fo- ção no couro cabeludo (Tabela 17-2). Este item apresen-
liculoestimulante (FSH) e luteinizante (LH) devem ser tará aspectos clínicos, métodos complementares e con-
avaliados no período menstrual. A relação LH/FSH >3 duta inicial nos diagnósticos mais prevalentes na prática
sugere para o diagnóstico de síndrome dos ovários poli- diária do dermatologista.
císticos (SOP). Em pacientes com alopecia cicatricial, a
presença de FAN positivo pode orientar a investigação Alopecias Difusas
de lúpus eritematoso sistêmico. Nos pacientes com AA,
não há consenso sobre a necessidade de rastreamento de As alopecias difusas são um grande desafio nos consultó-
doenças autoimunes; embora a frequência de anticorpos rios de dermatologia. Alopecia androgenética feminina,
antitireoideanos esteja significativamente aumentada eflúvio telógeno crônico e alopecia areata difusa são suas

dade do quadro.
O
nesses doentes, não foi provada correlação com a severi- três principais causas. A diferenciação entre elas, mui-
tas vezes, não é fácil e dados clínicos, laboratoriais, de
exame físico, manobras propedêuticas e biópsia de couro
Tricograma e Fototricograma cabeludo podem ser necessários.

No tricograma, amostras de 70 a 100 hastes de cabelo Eflúvios


arrancadas por uma pinça hemostática do couro cabelu-
A queixa de que o “cabelo está caindo com a raiz” sugere
do são avaliadas. Nos indivíduos normais, 85 a 90% das
alteração no padrão de crescimento cíclico dos cabelos e
hastes estão em fase anágena; 10 a 15%, na fase telóge-
pode ser decorrente de queda anágena ou telógena.
na e apenas 1% ou menos, na fase catágena. Proporções
acima de 15% de cabelos telógenos são sugestivas de ET. Eflúvio Telógeno
O arranchamento dos fios gera desconforto em muitos
O ET é uma causa comum de alopecia, devido à conver-
pacientes e, para evitar essa manobra, a associação do
são prematura dos folículos em fase de crescimento para
PR

tricograma à dermatoscopia tornou capaz a avaliação do


fase telógena, levando à queda de mais de 100-200 hastes
ciclo do cabelo por meio da raspagem de uma pequena
ao dia, dois a três meses após o estímulo desencadean-
área do couro cabeludo. A avaliação dermatoscópica com
te. As formas agudas são pontuais e duram de dois a seis
fotos no momento do corte e sete dias após permite di-
meses. O ET pode ser fisiológico como no recém-nascido
ferenciar os cabelos em anágenos — com crescimento —
e após o parto. Entretanto, em geral, outros gatilhos po-
e telógenos/catágenos — sem crescimento. Esta técnica
dem ser determinantes da queda, como os apresentados
avalia com facilidade a proporção de fios velo e terminais
na Tabela 17-3. Em aproximadamente 30% dos pacien-
e a densidade capilar, sendo útil para o seguimento e ava-
tes, a causa não é identificada, mas a evolução é auto-
liação da resposta terapêutica dos pacientes. limitada. O paciente geralmente procura auxílio após a

Biópsia de Couro Cabeludo


A biópsia do couro cabeludo está indicada nos casos de Tabela 17-2. Alopecias difusas x localizadas
dúvida diagnóstica e nos suspeitos de alopecia cicatri-
cial (AC). Os achados histopatológicos nas AC podem DIFUSAS LOCALIZADAS
guiar a escolha terapêutica pelo padrão do infiltrado in- Eflúvios telógeno e anágeno Alopecia areata
flamatório. Boas amostras e um patologista experiente Alopecia androgenética Tricotilomania e alopecias por
são essenciais para obter as informações adequadas deste tração
exame. O local da coleta deve ser representativo da do-
Anormalidades das hastes Alopecias cicatriciais
ença com a presença de folículos. Nas AC, a borda ativa capilares
é a área preferencial de biópsia. Recomenda-se incluir da 207
ca do ET. A biópsia do couro cabeludo apresenta relação

VA
de pelos terminais: velos normal (6-8:1) no ET. Por volta
dos 60 anos, 25% das mulheres apresentarão algum grau
de AAG; dessa forma, as duas doenças podem ser vistas
coincidentemente. A diferenciação precisa entre as enti-
dades faz-se necessária no momento de optar pelo uso de
antiandrógenos sistêmicos, úteis nos casos de AAG.
O tratamento é eliminar o fator desencadeante. Em-
bora o tratamento da deficiência de ferro sem anemia
seja controverso, suplementação de ferro nesses pacien-
Seção 2 Cosmiatria

tes pode ser útil, especialmente quando os níveis de fer-


ritina estão abaixo de 60 mg/dL. Dermatites associadas
devem ser tratadas e o minoxidil pode ser coadjuvante
na recuperação. Tratamentos eficientes produzem dimi-
nuição da queda em oito semanas. Entretanto, o cresci-
mento com resultado estético aceitável pode levar um
ano inteiro ou mais. A prescrição de suplementos de vi-
taminas e minerais de forma aleatória não é encorajada,
exceto nos casos de deficiência documentada.

Eflúvio Anágeno
O eflúvio anágeno resulta de um grande insulto ao folí-
Figura 17-5. Amostra de queda, frequentemente trazidas para
culo em crescimento, com interrupção abrupta da que-
consulta por pacientes com eflúvio telógeno.
ratinização produzindo fios com estreitamentos abruptos
e fraturas, que caem com facilidade. Este tipo de queda

nesse momento, remover o fator desencadeante só per-


O
queda instalada, trazendo sacolas de queda (Figura 17-5);
geralmente ocorre 1-2 semanas após o fator desenca-
deante. A prova da tração é positiva e, embora a perda
de alguns fios telógenos possa ser encontrada, um grande
mitirá a observação da redução da queda dois a três meses número de fios anágenos é eliminado espontaneamente.
após, pois o ciclo do cabelo já estará comprometido. O Causas clássicas de EA incluem radioterapia do couro ca-
ET ocorre em ambos os sexos, porém mulheres o relatam beludo ou face e quimioterapia sistêmica, especialmente
com mais frequência. A principal queixa é a queda, já por agentes alquilantes como a ciclofosfamida. A repila-
que os pacientes perdem entre 25 a 35% dos cabelos e a ção ocorre alguns meses após o término do tratamento,
rarefação torna-se aparente apenas quando cerca de 50% embora ciclos de bussulfam, especialmente pré-trans-
dos fios são perdidos. Tricodínea pode acompanhar cerca plante de medula óssea, possam induzir queda irrever-
de 30% dos casos. sível. O resfriamento do couro cabeludo já foi testado
A forma crônica do ET apresenta-se como queda de como medida preventiva; no entanto, é pouco efetivo e
fios telógenos por mais de seis meses. Frequentemente, mal tolerado. O uso tópico de minoxidil pode encurtar o
causa rarefação bitemporal, sem rarefação frontoparietal,
PR

tempo de repilação no EA.


preservando o repartido central do couro cabeludo. Ocor-
re por encurtamento da fase anágena dos fios sem mi- Alopecia Androgenética
niaturização associada. É um diagnóstico diferencial im-
portante com AAG. A prova de tração positiva com fios A AAG é a causa mais comum de alopecia em ambos os
telógenos abundantes e a dermatoscopia, evidenciando sexos, afetando 50% dos homens acima dos 50 anos. Nas
hastes com fios de diâmetros homogêneos, é característi- mulheres, a interferência hormonal é incerta e, por este
motivo, o termo alopecia de padrão feminino (APF) tem
sido preferido. A AAG masculina inicia-se frequentemen-
te após a puberdade com recessão bitemporal simétrica,
Tabela 17-3. Fatores desencadeantes de eflúvio telógeno evoluindo com acometimento do vértex (Figura 17-6A). A
Dietas Parto Cirurgias
progressão costuma ser mais exuberante quanto mais cedo
for o início. A APF costuma surgir entre a terceira e quarta
Estresse Deficiência de Doenças décadas de vida, com piora progressiva após a menopausa.
emocional ferro sistêmicas
Ocorre afinamento difuso dos cabelos com alargamento do
Metais Deficiências Distúrbios repartido central, poupando a linha de implantação frontal
pesados vitaminas hormonais (Figura 17-6B). Aproximadamente 20% dos casos não res-
Medicamentos: antidepressivos, anticonvulsivantes, peitam a distribuição característica do sexo.
anti-hipertensivos, anti-inflamatórios, quimioterápicos, Nos homens, a AAG é reconhecida como uma desor-
hipolipemiantes, anticoncepcionais e outros hormônios, dem andrógeno-dependente. Apesar de a testosterona
retinoides e vitamina A, anfetaminas, lítio, metotrexate, isoniazida, participar da fisiopatogênese, existe uma clara predispo-
amiodarona
208 sição familiar para a doença. O padrão de herança mais
VA
Capítulo 17 Alopecias em Cosmiatria
A B
O
Figura 17-6. Aspecto clínico da alopecia androgenética. A. Masculina, predomínio da rarefação biparietal e vértex. B. Feminina,
predomínio da rarefação central no couro cabeludo.

provável é poligênico. Em homens, regiões variáveis do dependentemente da etiologia, a alteração folicular em


gene AR foram identificadas como possíveis responsáveis. homens e mulheres parece ser a mesma, havendo uma
Apesar do caráter andrógeno-dependente, a maioria dos via comum na miniaturização folicular indistinguível en-
homens apresenta níveis séricos hormonais normais. Des- tre os sexos.
sa forma, superprodução de andrógenos na unidade pilo- Várias doenças podem mimetizar o aspecto clínico da
sebácea, superexpressão ou hiper-responsividade dos re- AAG, mas o ET e a AA difusa são as causas mais comuns
ceptores de andrógenos são responsáveis pelo processo. de confusão diagnóstica. Não há um exame padrão-ouro
Nas mulheres, a APF pode ser manifestação de hi- para o diagnóstico da AAG. Nas mulheres, é importante
PR

perandrogenemia, especialmente quando rapidamente observar sinais de hiperandrogenismo e, eventualmen-


progressiva e acompanhada de sinais de virilização. Nos te, é necessária a avaliação hormonal. Ecografia de ová-
casos de progressão lenta, elevações modestas dos an- rios faz parte do algoritmo de investigação da síndrome
drógenos e SOP eventualmente estão associadas. Ainda dos ovários policísticos, que constitui diagnóstico de
assim, na maioria das pacientes não há aumento sérico exclusão. Investigações extensas podem ser feitas com
de andrógenos, sugerindo participação de outros meca- acompanhamento interdisciplinar; entretanto, a maioria
nismos ainda pouco conhecidos. das mulheres terá exames normais. O teste genético é
A testosterona é o andrógeno circulante mais potente. feito por meio de um esfregaço de mucosa oral e pode
Sob a ação da 5-alfa redutase ela se transforma em di-hi- identificar as pessoas com risco de desenvolver AAG
drotestosterona (DHT), com afinidade cinco vezes maior antes que apresentem manifestações clínicas da doença.
pelos receptores androgênicos. A testosterona e a DHT O exame dermatoscópico evidencia a variação de diâ-
podem ser convertidos em andrógenos fracos ou estróge- metro das hastes na área acometida. A biópsia de couro
nos por outras vias enzimáticas, incluindo a aromatase. A cabeludo com cortes transversais permite a visualização
deficiência de aromatase herdada ou adquirida (mulheres da densidade dos folículos pilosos e miniaturização. A
em uso de inibidores de aromatase para tratamento de relação entre os pelos terminal, velo menor ou igual a
câncer de mama) também acarreta aumento de andróge- 3:1 é considerada diagnóstica de AAG. Aumento do nú-
nos circulantes e perda de cabelos semelhante à AAG. mero de folículos telógenos, diminuição do número de
A doença representa uma desordem do ciclo do fo- folículos na gordura subcutânea, variação no diâmetro da
licular associada à miniaturização de fios terminais em haste e aumento no número de tratos fibrosos também
velo. A fase anágena sofre término prematuro e há au- podem ser observados. Infiltrado linfocítico perifolicular
mento do número de folículos em fase quenógena. In- e eventual fibrose podem ser observados. Colonização 209
microbiana do infundíbulo folicular, toxinas bacterianas etinilestradiol, em doses variáveis. Os progestágenos

VA
ou exposição de antígenos foliculares podem estar envol- variam entre as pílulas e são preferíveis os de ação an-
vidas na etiologia da inflamação. tiandrogênica superior, como o acetato de ciproterona,
O objetivo do tratamento é frear a miniaturização e drospirenona e a clormadinona.
recuperar parcialmente a rarefação. Medidas gerais como Reposição de suplementos vitamínicos aleatoriamen-
controle da obesidade, dieta balanceada e tratamento da te não está indicada na AAG. Além das medidas farma-
dermatite seborreica são importantes. Entre os produtos cológicas, podemos contar com a camuflagem cosmética
de uso tópico, ominoxidil, em concentrações de 2 a 5%, é e com o transplante capilar (Capítulo 20).
droga de primeira linha no tratamento de homens e mu-
lheres, atuando no prolongamento da fase anágena. Seu Anormalidades da Haste Capilar
Seção 2 Cosmiatria

pico de ação ocorre com 16 semanas e, após seis meses


de descontinuação, o quadro retorna ao estágio inicial. O Anormalidades da haste capilar (tricodistrofias) podem
alfaestradiol tópico é capaz de reduzir a formação de DHT ser hereditárias ou adquiridas; em geral, levam alopecias
e aumentar a conversão de testosterona em esteroides me- difusas por quebra de fios de cabelo e não queda. Di-
nos ativos in vitro; no entanto, em estudo comparativo com versas alterações podem ocorrer na haste e são esque-
minoxidil, demonstrou apenas manutenção do padrão clí- maticamente demonstradas na Tabela 17-4. As formas
nico, sem crescimento de fios novos. Derivados botânicos hereditárias geralmente aparecem na infância e podem
inibidores da 5-alfa-redutase, como a Serenoa Serrulata, se associar a doenças sistêmicas, retardo mental, baixa
carecem de maiores estudos para encorajar seu uso. estatura, hipogonadismo e outros distúrbios metabólicos.
A finasterida é um inibidor da 5-alfa-redutase tipo 2, Danos físicos e químicos adquiridos são mais comuns do
capaz de reduzir em dois terços a transformação de tes- que os herdados. Luz solar, calor e tratamentos químicos
tosterona em DHT. Sua eficácia em homens já foi com- podem resultar em hastes frágeis e facilmente quebra-
provada por estudos randomizados e controlados por diças com o manuseio normal. A queixa mais comum é
placebo. Nos primeiros 12 meses, há aumento na conta- de falta de crescimento de cabelo; na realidade, a haste
gem folicular, com posterior aumento da espessura dos é produzida, mas se quebra facilmente na superfície da
O
fios. Diminuição da libido, disfunção erétil e diminuição
do volume do ejaculado foram relatados em menos de
5% dos homens jovens e frequentemente desapareceram
pele ou ao longo da haste. Suplemetação de vitaminas
do grupo B, como ácido pantotênico e biotina, parecem
melhorar a penteabilidade das hastes, especialmente na
durante o tratamento ou após sua descontinuação. Ainda síndrome dos cabelos impenteáveis, uma forma de trico-
não há consenso quanto ao uso da finasterida na APF. distrofia com hastes canaliculares de herança autossômi-
Não há evidência de melhora com 1 mg/dia de finaste- ca dominante (Figura 17-7).
rida em mulheres pós-menopausa. Relatos esporádicos
sugerem doses maiores (2,5-5mg/dL), associadas ou não
a anticoncepcionais orais com resultados variáveis.
Outros antiandrógenos podem ser usados em mu-
lheres. A espironolactona é um inibidor da aldosterona
que bloqueia o receptor androgênico e inibe a síntese de
androgênio. Utilizada na APF em doses diárias de 50 a
300 mg, é capaz de retardar a progressão da queda e pro-
PR

mover o retorno do crescimento em mulheres, com um


bom perfil de segurança para o uso prolongado. Possíveis
efeitos adversos são: hipotensão postural, desequilíbrio
hidroeletrolítico, irregularidades menstruais e fadiga. A
ingestão adequada de líquidos deve ser incentivada no
intuito de amenizar os efeitos colaterais. O acetato de
ciproterona é um antiandrógeno útil no tratamento de
mulheres, com eficácia semelhante à espironolactona.
Preconiza-se a dose de 50 a 100 mg/dia do 5º ao 14º dia
do ciclo menstrual em mulheres pré-menopausa e a dose
de 50 mg/dia continuamente nas mulheres pós-meno-
pausa. Aumento de peso, fadiga, diminuição da libido,
mastodínia, náuseas, cefaleia, depressão e hepatotoxi-
dade podem ocorrer durante seu uso. Mais de 80% das
mulheres tratadas com antiandrógenos orais (ciprotero-
na e espironolactona) observam melhora ou estabilização
da queda. Nas pacientes em idade fértil, é recomendada
associação com anticoncepcionais pelo risco de irregu-
laridade menstrual e feminização do feto masculino no
caso de gestação. Os anticoncepcionais hormonais com- Figura 17-7. Aspecto clínico da síndrome dos cabelos
210 binados são preferidos. O estrógeno mais utilizado é o impenteáveis.
Tabela 17-4. Aspecto nas diversas formas de anormalidades das hastes

VA
Capítulo 17 Alopecias em Cosmiatria
1. Pelo afilado ou em ponto de 2. Pelo normal 3. Moniletrix 4. Tricorrexis nodosa
exclamação (alopecia areata)

O
4. Tricorrexis invaginada 6. Triconodose 7. Constrição de
Pohl-Pinkus
PR

8. Pili torti 9. Pelo em lã de carneiro 10. Tricoptilose 11. Tricosquise

12. Pili anulati 13. Pelo bifurcado 14. Pelo canalicular


ou em goiva

211
VA
Seção 2 Cosmiatria

Figura 17-8. Haste com tricorrexe nodosa à microscopia Figura 17-9. Dermatoscopia evidenciando haste em ponto de
óptica com polarização exclamação, na alopecia areata.

Ao exame, é possível identificar cabelos curtos com


densidade normal. Nas formas adquiridas, manipulação
cuidadosa, suspensão de tratamentos químicos e hidrata-
ção com agentes condicionadores, especialmente os silico-
O
nes. Afastada a agressão, o cabelo crescerá normalmente.
A tricorrexe nodosa é a tricodistrofia mais comum
e pode ser hereditária ou adquirida. A forma heredi-
tária pode estar associada à aminoacidúria, enquanto a
adquirida é o resultado de traumas e muito frequente
em cabelos crespos ou quimicamente tratados. Carac-
teristicamente, é possível notar uma pequena pápula na
haste, no local em que o cabelo se quebra facilmente. O
diagnóstico é feito pela coleta da hastes de cabelo e ob-
servação à microscopia óptica (Figura 17-8). O aspecto
em “vassoura” da haste é típico.

Alopecias Localizadas Figura 17-10. Aspecto clínico da alopecia areata difusa, difícil
PR

diagnóstico diferencial com alopecia androgenética de padrão


Alopecia Areata feminino e eflúvio telógeno.

A alopecia areata é uma condição frequente, que afe-


ta aproximadamente 2% da população. Acomete igual-
mente os sexos em todas as idades, com 20% dos casos pecia totalis) ou de todos os pelos do corpo (alopecia
aparecendo na infância. De etiologia desconhecida, sofre universalis).O fenômeno de embranquecimento súbito
influências genéticas e ambientais. Pode associar-se de dos cabelos pode ser visto pela perda apenas dos fios
doenças autoimunes como tireoidopatias, anemia perni- pigmentados. Raramente a AA pode se apresentar com
ciosa, síndrome de Down, vitiligo, lúpus eritematoso e uma queda difusa, simulando eflúvio telógeno crônico
outras. No entanto, a investigação laboratorial na ausên- ou alopecia androgenética (Figura 17-10). Alterações un-
cia de sintomas não é indicada. gueais afetam cerca de 10% dos doentes e auxiliam no
O processo se inicia por uma reação a antígenos do diagnóstico. As mais frequentes são pequenas depressões
bulbo do folículo piloso anágeno pigmentado, gerando cupuliformes na lâmina ou “pittings” ungueais. Raramen-
eflúvio e fratura dessas hastes. A porção inferior da haste te traquioníquea, onicomadese e lúnula avermelhada es-
emerge, dando aos fios o aspecto em “ponto de exclama- tão associadas.
ção”, característica importante da doença, visível clinica- Na fase ativa, a tração é positiva peri-placa com elimi-
mente e à dermatoscopia (Figura 17-9). nação de fios anágenos distróficos, a dermatoscopia pode
A apresentação clínica é heterogênea. O aspecto clás- apresentar fios cadavéricos (pontos pretos), pontos ama-
sico é de placas alopecicas de surgimento abrupto, lisas, relos, pontos de exclamação facilitando o diagnóstico. O
circulares e bem definidas, que podem confluir, levan- exame anatomopatológico na fase ativa da doença de-
212 do à queda completa dos pelos do couro cabeludo (alo- monstra um infiltrado linfoide peribulbar anágeno típico
com aspecto em “enxame de abelha”. Cronicamente, tos. Psicoterapia, camuflagem e uso de perucas podem

VA
podem haver fios miniaturizados e tratos fibrosos com ajudar o paciente a conviver com a doença irresponsiva.
linfócitos, eosinófilos e melanina em torno do bulbo,
achados infrequentes na AAG ou tricotilomania. Tricotilomania e Alopecia de Tração
O tratamento pode ser desafiador, com recaídas fre-
Essas alopecias, causadas por tração e dano físico ao eixo
quentes. A escolha terapêutica depende da extensão
do cabelo, levam a alterações no ciclo de crescimento
da doença e da idade do paciente. Remissão espontâ-
dos cabelos e inflamação perifolicular. A tricotilomania
nea pode ser observada no primeiro ano em até 80%
é o arrancamento compulsivo de pelos, principalmente
dos pacientes, embora muitos apresentem recidivas ao
do couro cabeludo, gerando áreas de alopecia irregulares,
longo da vida. O prognóstico é desfavorável na doença
bizarras, ásperas e permeadas por fios de diferentes com-

Capítulo 17 Alopecias em Cosmiatria


de longa data e nas crianças. Em adultos com menos de
primentos (Figura 17-11). É mais comum em meninas
50% de acometimento do couro cabeludo, corticoides
menores de 10 anos, adolescentes e idosas. Geralmente,
intralesionais são a opção terapêutica de primeira linha.
é reflexo de distúrbios obsessivo-compulsivos, depressão
Injeções intradérmicas com acetonido de triancinolona
ou ansiedade. Na criança, o diagnóstico diferencial com
(2,5 a 5 mg/mL) podem ser realizadas na área afetada,
tinea capitis e AA é importante. Confirmar o hábito de
totalizando 10 a 15 mg por visita, a cada quatro a seis arrancar fios nem sempre é fácil; a raspagem dos fios na
semanas. Outros corticoides injetáveis apresentam pior área afetada (janela de crescimento) pode evidenciar a
resposta e maior risco de atrofia epidérmica. Repilação impossibilidade de tração e crescimento homogêneo dos
ocorre em dois a quatro meses, na maioria dos casos. fios. Na biópsia, folículos anágenos vazios, um grande nú-
Em crianças, são preferidos corticoides, antralina e mi- mero de catágenos, tricomalácea (irregularidade folicu-
noxidil tópicos. O minoxidil tópico é adjuvante, com lar) e cilindros de pigmento no canal folicular são suges-
pouca resposta quando usado isoladamente. Solução de tivos de tricotilomania. A terapia requer aconselhamento
antralina 0,5 a 1% é um tratamento alternativo, com me- psicológico, os anticonvulsivantes e antidepressivos po-
canismo de ação provavelmente relacionado à supressão dem ser úteis.
local de fator de necrose tumoral e inibição da apresen-
O
tação de antígenos. Aplica-se por 20 minutos antes da
lavagem diária, com aumento progressivo do tempo de
A alopecia de tração é vista frequentemente em mu-
lheres negras com tranças apertadas e pacientes que tra-
cionam seus cabelos para trás em “rabo de cavalo” ou ou-
permanência até uma leve dermatite de contato ocorrer. tras formas físicas de alisamento, como escova ou pente
Interrupção está indicada na falta de resposta após 12 quente. Corrigir o hábito é fundamental, pois a foliculite
semanas de tratamento. Pode causar linfadenomegalias,
dermatite de contato e foliculitem além de manchar
roupas. Imunoterapia tópica com difenilciclopropeno-
na ou difenciprona (DPCP) é o tratamento de escolha
para adultos com acometimento maior que 50%. Dini-
troclorobenzeno é menos utilizado por ser mutagênico.
DPCP a 2% em acetona é aplicada no consultório em
uma área de 2 cm2. Após duas semanas, o paciente apli-
cará uma solução a 0,001%, lavada a cada dois dias, cuja
PR

concentração é aumentada semanalmente com objetivo


de manter prurido e eritema leves. Inicialmente, trata-se
uma metade do couro cabeludo e apenas se houver res-
posta terapêutica passa-se para a outra metade. O início
da resposta é esperado em quatro a seis meses com re-
pilação em mais de 50% dos casos com 62% de recaídas.
Pode ocorrer dermatite de contato intensa, discromias,
linfadenomegalias, edema e eritema multiforme.
Corticoterapia sistêmica pode ser ministrada em do-
ses diárias ou sob forma de pulsos e está indicada em AA
severa de início recente. Seu uso é limitado pelo perfil de
efeitos colaterais e pela alta taxa de recaída com a sus-
pensão da droga. Dentre as alternativas de tratamento
sistêmico, o metrotexate se mostra seguro e com relatos
crescentes de bons resultados, isolado ou em associação
a baixas doses de corticoides sistêmicos ou intralesionais.
Apesar das taxas de sucesso da ciclosporina, seu perfil de
efeitos colaterais limita seu uso. Diversos imunobiológicos
(etanercept, efalizumab, adalimumab e infliximab) não se
mostraram efetivos na AA. Fototerapia, excimer LASER e Figura 17-11. Alopecia de distribuição bizarra com fios em
infravermelho podem ser coadjuvantes a outros tratamen- vários comprimentos. 213
traumática crônica pode evoluir para alopecia cicatricial. A classificação mais usada atualmente tem como base

VA
Corticoides intrelasionais podem reduzir o processo in- o tipo celular predominante do infiltrado inflamatório
flamatório folicular. perifolicular; logo, uma biópsia do couro cabeludo está
sempre indicada nas suspeitas de ACP. Redução do nú-
Alopecias Cicatriciais mero de folículos e glândulas sebáceas com aumento de
tratos fibrosos são achados comuns a todas as formas de
As alopecias cicatriciais são um grupo de desordens ca- ACP; outras alterações anatomopatológicas são apresen-
pilares pouco diagnosticadas, com dano irreversível aos tadas na Tabela 17-5.
folículos pilosos e substituição do epitélio folicular por Clinicamente, as ACP, apresentam redução dos ós-
tecido conjuntivo. Podem ocorrer de forma secundária tios foliculares em meio a áreas cicatriciais com graus
a agressões generalizadas do tecido no couro cabeludo,
Seção 2 Cosmiatria

variáveis de atrofia epidérmica e outras alterações peri-


como as induzidas por queimaduras, sarcoidose, morfeia foliculares. Descamação, crosta, pústulas ou drenagem
e radioterapia, ou ocorrer de forma primária, em que o de secreção sugerem processo ativo. Cultura para fungos
alvo da doença é o folículo piloso. O diagnóstico acurado e germes comuns devem iniciar a investigação comple-
e precoce pode reduzir o dano folicular, minimizando o mentar nesses casos.
impacto estético da doença. A patogênese da maioria das
alopecias cicatriciais primárias (ACP) é pouco conheci- Alopecias Cicatriciais Linfocíticas
da; entretanto, dano irreversível às células-tronco do bul- Lúpus discoide (LE) de couro cabeludo e líquen plano
ge é comum a todas as formas, impedindo a regeneração são responsáveis pela maioria dos casos deste grupo. As
do folículo destruído. mulheres adultas são as mais acometidas por essas do-

Tabela 17-5. Achados histopatológicos nas alopecias cicatriciais primárias


INFILTRADO
Linfocítico
DIAGNÓSTICO
Lúpus eritematoso
O
ANATOMOPATOLÓGICO
Infiltrado linfocítico perianexial e perifolicular com mucina dérmica. IgG, IgM, e C3 padrão
cutâneo crônico granular ou homogêneo na zona da membrana basal.
Líquen plano pilar Infiltrado linfocítico em infundíbulo e istmo, dermatite de interface (liquenoide), corpos
citoides, infiltrado inflamatório perivascular. IF: IgM nos corpos citoides.
Pseudopelada de Pode ou não revelar discreto infiltrado linfocítico no istmo e infundíbulo, sem interface.
Brocq Infiltrado inflamatório perivascular superficial com lamelas concêntricas de fibroplasia.
Fibras elásticas espessadas no trato fibroso e na derme interfolicular. IF: negativa.
Alopecia cicatricial Infiltrado linfocítico em infundíbulo e istmo sem alterações de interface; inflamação
central centrífuga perivascular superficial (ou ausente); fibroplasia lamelar concêntrica. IF: negativa.
Alopecia mucinosa Infiltrado linfocítico envolvendo folículo inteiro; sem alterações de interface; inflamação
perivascular superficial e profunda. Epidermotropismo e linfócitos atípicos podem ocorrer.
PR

Degeneração mucinosa das glândulas sebáceas e bainha radicular externa. IF: negativa.
Ceratose folicular Lesões agudas mostram edema epidérmico com neutrófilos, substituídos mais tarde por
espinulosa decalvante infiltrado linfocítico em infundíbulo e istmo. IF: negativa.
Neutrofílico Foliculite perifolicular e Inicialmente infiltrado neutrofílico, substituído por linfócitos e plasmócitos; inflamação
interfolicular decalvante perifolicular e intrafolicular com formação de abscessos, fibrose dérmica variável e plugs
foliculares. IF: negativa.
Foliculite dissecante Oclusão folicular. Infiltrado inicialmente neutrofílico e após misto, na derme perifoliculares
e interfolicular profunda e subcutâneo; formação de abscessos profundos com fístulas;
fibrose proeminente em torno do trato fibroso. IF: negativa.
Misto Foliculite queloideana Infiltrado misto de linfócitos e neutrófilos na derme perifolicular e folículo; formação de
granulomas e abcessos perifoliculares; fibrose perifolicular lamelar precoce, seguida de
cicatriz hipertrófica; plugs foliculares. IF: negativa.
Foliculite necrótica Dilatação folicular acneiforme, exocitose de linfócitos, espongiose folicular e edema
perifoliculares com infiltrado misto de linfócitos e neutrófilos, com necrose progressiva. IF:
negativa.
Dermatose pustular Inespecífico. Pode ter infiltrado misto de linfócitos e neutrófilos em toda a epiderme,
erosiva folículo, derme e subcutâneo. IF: negativa
Inespecífico Estágios finais das ACP Ausência de infiltrado inflamatório.

IF: Imunofluorescência.
214
VA
Capítulo 17 Alopecias em Cosmiatria
Figura 17-12. Aspecto dermatoscópico do lupus eritematoso Figura 17-13. Líquen plano pilar. Placas atróficas
discoide. Placa atrófica com telangectasias e plugs de disseminadas em couro cabeludo.
queratina foliculares.

alopecia com eritema folicular e descamação progressiva,


enças. O processo pode se iniciar de forma silenciosa e de início na infância e especialmente em meninos, deve
progressiva. O lúpus eritematoso discoide se apresenta levantar suspeita de ceratose folicular espinulosa decal-
como placas de alopecia eritematosas, centrífugas, com vante (CFED). Exacerbações com infecção e pústulas
tampões foliculares de queratina e descamação. Tele-
O
langectasias, atrofia epidérmica e discromias podem
estar presentes (Figura 17-12). Remissão espontânea é
são frequentes e alterações como fotofobia, distrofia cor-
neana e ceratodermia palmo-plantar podem ocorrer.
A pseudopelada de Brocq é uma forma incomum de
frequente, exceto em aproximadamente 10% dos casos ACP, de curso insidioso, não inflamatório e que pro-
em que está associado à doença sistêmica. Uma investi- duz pequenos focos de alopecia, habitualmente em
gação inicial cuidadosa facilmente afasta o lúpus erite- vértex, com aspecto de “pegadas na neve”. Acredita-
matoso sistêmico. se que possa representar o estágio final de outras ACP,
O líquen plano pilar (LPP) apresenta etiologia des-
especialmente do LPP. A imunofluorescência negativa
conhecida, levando a uma alopecia multifocal com eri-
e a presença de fibras elásticas espessadas nos tratos
tema e hiperceratose perifolicular características (Figura
fibrosos e na derme interfolicular podem ajudar a indi-
17-13). Pode estar associado a lesões características de
vidualizá-la.
líquen plano na pele, mucosas ou unhas. Seu curso pode
A conduta inicial nas ACP linfocíticas inclui corticos-
ser insidioso ou fulminante. Algumas variantes clínicas
teroides tópicos potentes ou injetáveis, como acetonido
do LPP apresentam aspecto histológico idêntico. Na alo-
PR

de triancinolona (10 mg/mL a cada 4-6 semanas). Dife-


pecia frontal fibrosante, uma rarefação marginal progres-
siva, especialmente em mulheres pós-menopausa, é ca- rentemente da AA, nesses casos, a infiltração deve ser
racterística. Na síndrome de Grahan-Little, alopecia não realizada na área perilesional e não no centro, em geral já
cicatricial em axilas e pube, além de pápulas foliculares cicatricial. Na doença rapidamente progressiva, cursos de
lembrando ceratose pilar em tronco e extremidades, são corticosteroide sistêmicos (prednisona 1 mg/kg dia por
associadas às lesões de couro cabeludo. quatro a oito semanas) retirados lentamente ao longo de
A alopecia cicatricial central centrífuga (ACCC) é dois a quatro meses podem reduzir o dano permanente.
a causa mais comum de alopecia cicatricial em adultos A hidroxicloroquina pode ser associada (200 mg 2x/dia)
afrodescendentes. Surge como rarefação centrífuga, em após avaliação oftalmológica. Nos pacientes tabagistas,
geral única, em vértex, sendo muitas vezes confundida há redução da eficácia dos antimaláricos. Outras opções
com outras formas de alopecia, especialmente a foliculite terapêuticas úteis incluem o micofenolato de mofetil, a
decalvante. Inicialmente atribuída a tratamentos capila- tetraciclina ou seus derivados em dose anti-inflamatória,
res inadequados (alopecia do pente quente) e associada a ciclosporina oral (5 mg/kg/dia por 3-5 meses) ou tópica
à característica histológica de queratinização precoce da (1,5%), os retinoides sistêmicos e a talidomida. Pacien-
bainha radicular interna (síndrome da degeneração folicu- tes com doença estável por mais de seis meses podem
lar), atualmente definida como de origem multifatorial. se beneficiar da redução cirúrgica das áreas cicatriciais.
Formas raras de ACP linfocítica incluem a alopecia Excepcionalmente na ACCC, os tratamentos químicos e
mucinosa, importante pela possível associação com linfo- físicos das hastes devem ser interrompidos, pois podem
ma cutâneo de células T em adultos, requer acompanha- piorar o quadro. Crises de foliculite aguda nos pacientes
mento a longo prazo, especialmente das lesões extensas. com CFED podem ser controladas com antibióticos sis-
Ceratose pilar em face, membros e tronco, seguida de têmicos de acordo com o antibiograma. 215
VA
Seção 2 Cosmiatria

Figura 17-14. Foliculite decanvante. Placa atrófica com Figura 17-15. Foliculite queloideana. Pápulas queloidiformes
pústulas perifoliculares na periferia. perifoliculares na nuca.

Alopecias Cicatriciais Neutrofílicas clina ou sulfas) podem reduzir o processo inflamatório.


O
A foliculite decalvante é a mais frequente deste grupo,
acomete homens mais frequentemente e é caracteriza-
da por uma foliculite purulenta dolorida, evoluindo com
Infiltração de corticoide nas áreas queloideanas, exérese
cirúrgica e até epilação à laser da área afetada podem ser
necessários para controlar os casos mais extensos.
placas confluentes de alopecia cicatricial, preferencial- Acne necrótica e dermatose pustular erosiva são
mente em vértex (Figura 17-14). A politriquia é achado quadros raros. Na primeira, pápulo-pústulas foliculares
frequente, mas não característico da doença, pois tam- evoluem com necrose e cicatrizes varioliformes na re-
bém é vista em outras ACP. O Staphilococcus aureus é a gião frontoparietal. Na última, grandes crostas encobrem
bactéria mais frequentemente cultivada. Antibioticote- áreas de erosão e pústulas no couro cabeludo de idosos,
rapia sistêmica e tópica deve ser guiada pelo antibiogra- frequentemente com história de trauma precedente.
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Capítulo 17 Alopecias em Cosmiatria


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