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PÚBLICOS, COMUNIDADES E MEDIAÇÃO

Susana Alves e Tiago Fernandes

Trabalho final de curso


Laboratório Planeamento Estratégico na Cultura
Formadora Vânia Rodrigues

ArtemRede: Percurso e Posicionamento

Quando entre 2000 e 2005, através de financiamentos comunitários, foram


reconstruídos teatros na região de Lisboa e Vale do Tejo, ficou latente a preocupação
da fragilidade na dinamização e gestão dos mesmos. Foi com base nesta preocupação
que surgiu a ArtemRede – Teatros Associados, por forma a fazer face a esta
necessidade.

Inicialmente, a atividade mais visível e impactante foi a da programação, sempre numa


ótica de rede e parceria com e entre os municípios associados.

Com o desenvolvimento da sua atividade e consequente extensão do seu trabalho,


surgiram desafios mais específicos no percurso da ArtemRede que se prenderam,
inevitavelmente, com a consciencialização, identificação e fidelização de públicos, tendo
em conta maioritariamente um historial de ausência e lacuna de oferta de programação
cultural em equipamentos municipais.

Foi neste contexto de preocupação no reconhecimento dos públicos e de uma crescente


oferta cultural que a ArtemRede se posicionou no desenvolvimento de projetos
comunitários, como meio de resposta às necessidades encontradas e como veículo de
crescimento do seu conceito de rede cultural.
VALE como caso de boas práticas

A convite da ArtemRede, Madalena Victorino foi desafiada a pensar um objeto artístico


que articulasse identidade cultural, território e comunidades a partir da região do Vale
do Tejo, território habitado por cerca de 1 milhão de pessoas.

Para efetivar essa criação, foram planeados diversos objetivos entre os quais: realizar
residências artísticas, em diferentes locais do território, de forma a adquirirem
perspetivas e conhecimentos acerca do imaginário da comunidade; criar um objeto
artístico que fosse possível de ser apresentado em todos os teatros associados na
ArtemRede; incluir a comunidade na construção e apresentação do espetáculo; propor
artisticamente novos olhares acerca do assunto estudado.

Assim, Madalena Victorino criaria um espetáculo com uma equipa artística previamente
estruturada, envolvendo ainda profissionais das áreas da dança, teatro e música de
cada região envolvida bem como um conjunto de participantes das comunidades.

Teriam como concelhos de pesquisa para as residências artística, Santarém, Alcanena,


Montijo e Sobral de Monte Agraço de forma a poderem recolher informações por parte
dos habitantes acerca de histórias, tradições e vivencias que cada local proporcionava.
Dadas as acentuadas diferenças destes territórios, o maior desafio terá sido encontrar
pontes comuns que os ligassem, de forma a explorarem, em conjunto, essas dimensões
no objeto artístico que se propunham criar.

Iniciando em Santarém, concelho que representaria a Lezíria do Tejo, destacou-se a


forte presença do campo, os animais que nele habitam e as atividades económicas e
sociais que deles dependem. Visitaram herdades e ganadarias obtendo inspiração nos
próprios animais para a criação de movimentos coreográficos dos cavalos e touros,
como exemplo.
Representando o Médio Tejo, Alcanena, foi fonte de inspiração com a temática dos
curtumes, uma indústria predominante e significativamente relevante para ser
representada no espetáculo.

Sobral de Monte Agraço, representando o Oeste, foi fonte de imagens paisagísticas que
contribuíram para a criação de formas cénicas e movimentos coreográficos, como é o
caso das ventoinhas eólicas da região.

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Susana Alves e Tiago Fernandes

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Já Montijo, representando a região da Península de Setúbal, serviria de inspiração em
temáticas como a pesca e os movimentos migratórios. De salientar também a diferença
paisagística e arquitetónica do local, vincadamente diferente das restantes regiões.

De todas estas visitas e residências, a equipa artística fortaleceu a sua rede de


contactos, com agentes locais, que iriam permanentemente estando em contacto, de
forma a fornecerem informações mais detalhadas acerca dos diversos temas
trabalhados.

Foi também essencial ir tendo retornos do objeto artístico que se estava a compor,
contando para isso com as escolas, grupos de seniores que de uma forma ou de outra
contribuíam, com um olhar externo à criação, com ideias e outros elementos essenciais
para a criação artística em comunidade.

Sendo assim, os ensaios com a comunidade multiplicaram-se, ajustando movimentos,


marcações e adaptando momentos às necessidades especificas de cada grupo de
participantes das diferentes regiões. Integrariam pessoas de todas as faixas etárias,
com diversas experiências sociais e profissionais.

Só assim foi possível, passar da ideia à concretização com os diferentes grupos de


participantes, que teriam 3 dias prévios ao espetáculo para ensaios, começando um
mês antes com um encontro para a apresentação e explicação do projeto da coreografa
Madalena Victorino.

ArtemRede e o futuro dos projetos de mediação

Partindo do pressuposto apresentado no PEO da ArtemRede, até 2020, onde se


encontra estabelecida a intenção de continuar a “desenhar projetos artísticos que
dialoguem com e contribuam para o desenvolvimento local, que estabeleçam relações
duradouras com as populações” (RI PEO pág. 12) fica clara a ideia de que a ArtemRede
há muito que vinculou o seu papel e percurso na mediação de públicos e assim o
pretende continuar a fazer.

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No ponto 4 do PEO – Desenvolver uma programação em rede de qualidade e que
promova a relação das artes e da cultura com o território e a população - a estrutura da
ArtemRede deixa subjacente que o percurso de trabalho da associação passa pela
programação, em primeiro lugar, mas, com uma preocupação muito definida e intensa
em envolver a participação das comunidades na construção e desenvolvimento das
propostas culturais que apresenta.

Se tivermos em conta que o processo de mediação cultural, por si só, tem intuitos de
caracter formativo conjuntamente com a fidelização de públicos, a ArtemRede tem tido,
em grande escala, um forte desempenho neste contributo, uma vez que tem vindo a
centrar as suas intenções bem como o desenvolvimento dos seus projetos, numa linha
de preocupação no envolvimento das populações afetas aos municípios associados.
Envolvimento esse que passa pela frequência nos espetáculos apresentados, mas
também na participação direta das comunidades nos mesmos.

Esta prática, que tem vindo a ser cada vez mais comum, tem contribuído,
indiscutivelmente, para o enraizamento do trabalho da ArtemRede nos territórios e do
seu contributo para a solidificação do seu caracter mediativo e de cooperação.

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