Você está na página 1de 53

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1

1 TREINADORES DE FUTEBOL DE ALTO NÍVEL: AS EVIDENTES


DIFICULDADES QUE CERCAM A PRODUTIVIDADE DESTES PROFISSIONAIS ... 2

1.1 Reportando às Origens do Futebol e a sua atual situação ................... 2

1.2 A Estrutura do Futebol e a Figura do Treinador ................................... 3

2 A INTERAÇÃO FUTEBOL X SOCIEDADE: SUA IMPORTÂNCIA PARA A


NAÇÃO BRASILEIRA ................................................................................................. 5

3 O TRABALHO DOS TREINADORES DE FUTEBOL NO BRASIL .............. 8

4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE TREINADORES DE FUTEBOL ..... 10

5 A IMPORTÂNCIA DA PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL.................. 12

6 A ATUAÇÃO DA BIOMECÂNICA NO DESENVOLVIMENTO DOS


TREINAMENTOS DAS EQUIPES DE FUTEBOL DE CAMPO ................................. 15

6.1 O que é Biomecânica? ....................................................................... 16

6.2 Contribuições da Biomecânica para o esporte ................................... 18

6.3 A importância do estudo da Biomecânica no futebol .......................... 18

6.4 Aplicação prática da Biomecânica no futebol ..................................... 19

6.5 Instrumentação Biomecânica aplicada ao futebol .............................. 20

6.6 A Biomecânica aplicada com sucesso no futebol: o caso Sport Club


Corinthians Paulista ............................................................................................... 21

7 LESÕES NO FUTEBOL ............................................................................ 22

7.1 Definição de lesão no futebol ............................................................. 23

7.2 Classificação das lesões no futebol ................................................... 25

7.3 Tipo, localização e gravidade das lesões no futebol .......................... 27

8 Lesões do joelho ....................................................................................... 29

8.1 Aspectos anatómicos e funcionais da articulação .............................. 30


8.2 Lesões de "overuse" no joelho ........................................................... 31

8.3 Síndroma da bandícula iliotibial (SBI)................................................. 31

8.4 Tendinite rotuliana .............................................................................. 31

8.5 Tendinite quadricipital......................................................................... 32

8.6 Instabilidade rotuliana......................................................................... 32

8.7 Bursites .............................................................................................. 33

8.8 Síndroma de hiperpressão externa da rótula ..................................... 33

8.9 Desalinhamento rotuliano, condromalácia e gonalgia anterior ........... 34

8.10 Lesões traumáticas no joelho.......................................................... 35

8.11 "Lesões de contato" ........................................................................ 36

8.12 "Lesões sem contato"...................................................................... 37

9 LESÕES NA COXA .................................................................................. 38

9.1 Considerações anatómicas e funcionais ............................................ 39

9.2 Corrida................................................................................................ 39

9.3 Contato com a bola (pontapé) ............................................................ 41

9.4 Salto e cabeceamento ........................................................................ 41

10 Tipo de lesões na coxa .......................................................................... 42

10.1 Contusões ....................................................................................... 42

10.2 Roturas musculares ........................................................................ 43

11 PREVENÇÃO DE LESÕES NO FUTEBOL ........................................... 44

11.1 Principais fatores de risco ............................................................... 44

11.2 Fatores de risco intrínsecos ............................................................ 45

11.3 Fatores de risco extrínsecos ........................................................... 47

11.4 Medidas Preventivas ....................................................................... 48

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 50
INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

1
1 TREINADORES DE FUTEBOL DE ALTO NÍVEL: AS EVIDENTES
DIFICULDADES QUE CERCAM A PRODUTIVIDADE DESTES
PROFISSIONAIS

Fonte: desporto.sapo.cv

1.1 Reportando às Origens do Futebol e a sua atual situação

Desde sua introdução, seja na Inglaterra em 1863 ou no Brasil em 1894 por


Charles Muller, o futebol passou de esporte de elite para o mais popular em todo o
mundo. No início do século XIX, no Brasil, o velho esporte britânico criou um caráter
cultural contraditório aos valores tradicionais. A sociedade, hierárquica e escravocrata,
habituada a jogar e não a competir, reagia diferentemente ao futebol, pois este dava
ênfase ao desempenho, produzindo ganhadores e perdedores democraticamente,
obstante a nomes ou a outros preconceitos.
O futebol fez com que a sociedade aprendesse a separar as regras dos homens
a do jogo, começando assim a ser apreciado por todos.

Visto como uma atividade de grande popularidade, o futebol deve isto graças
a seu fascínio, à facilidade de poder ser praticado em pequenos espaços e
ao baixo custo do material, pois, uma simples bola feita de meia velha,
recheada de papel, jogada por pés descalços, excita, diverte e socializa uma
coletividade. (LEAL, 2000, p.25)

2
Hoje, busca-se através do futebol, uma comercialização de sua popularidade,
bem como o aperfeiçoamento de sua prática, na busca infinita de superação e
modernização.
Numa visão mundial, vive-se um momento de transformação com a era da
globalização, onde os avanços tecnológicos proporcionam uma maior integração entre
diversas culturas e maior facilidade na obtenção e interpretação de dados que
contribuem nas mais diversas atividades. Portanto, fica evidenciada a necessidade de
evolução no futebol, buscando-se contribuições que possam auxiliar neste processo.
No Brasil, o futebol vem atravessando um momento de reestruturação em sua
organização e tem atraído cada vez mais, a atenção de empresários e,
consequentemente, o interesse de uma participação mais ativa neste novo mercado,
onde as possibilidades na exploração do marketing e a supervalorização dos
profissionais envolvidos são pontos fundamentais para o interesse econômico. Surge
então, a era do clube-empresa.
Existem ainda inúmeras questões administrativas que acabam por afetar a
prática do futebol nos clubes, pois com os diversos interesses envolvidos, a
preocupação na estrutura e organização do trabalho específico acabam ficando sem
a atenção necessária.
Portanto, a metamorfose administrativa que o futebol brasileiro atravessa,
requer também uma nova proposta de organização do trabalho nas diferentes ações
do clube, desde sua diretoria, comissão técnica e jogadores e, sabe-se, que a
organização do trabalho em qualquer instituição, é um dos principais fatores que
levam uma empresa a alcançar seus objetivos, portanto as adoções de postura
profissionais e de planejamento, são ações de suma importância para o seu
desenvolvimento.

1.2 A Estrutura do Futebol e a Figura do Treinador

Dentro da estrutura do futebol, a classe profissional dos treinadores é


considerada de suma importância no desempenho e evolução constante deste
esporte. No Brasil, no entanto, os treinadores vêm sendo considerados
frequentemente responsáveis pela baixa produtividade de uma equipe, não
conseguindo assim, atingir seus objetivos.

3
No Brasil, a formação deste profissional bem como sua especialização é
razão de constantes discussões. Por ser o futebol amplamente divulgado pela
mídia e com a evolução e modernização do mesmo, a função do treinador
envolve responsabilidades que exigem uma formação qualificada,
conhecendo a cultura geral deste esporte, bem como suas formas de
expressão e comunicação. (LEAL, 2000, p.211)

Criticados e, em alguns casos, até ironizados, os treinadores são


frequentemente denominados de incompetentes, despreparados e ultrapassados em
suas metodologias de trabalho. Porém, estas críticas, são geralmente realizadas ou
influenciadas pelos órgãos de comunicação nem sempre confiáveis e com
credibilidade para tal, que muitas vezes realizam análises limitadas do problema.
A estrutura organizacional do futebol brasileiro, em muitos casos, ainda sob
direções amadoras, a falta de tempo para se colocar em prática um planejamento, a
visão da imprensa, buscando comparar o passado com o presente e nem sempre
reconhecendo a evolução natural de outras equipes com a globalização, somados a
uma possível formação inadequada de profissionais atuantes no esquema
organizacional, poderão ser a chave para uma compreensão das dificuldades
enfrentadas pelo profissional treinador de futebol.
A instabilidade profissional do treinador de futebol vem sendo justificada muitas
vezes por diretorias de clubes, pela falta de resultados positivos no comando de suas
respectivas equipes. Um planejamento organizacional cujos resultados são previstos
a médio e longo prazo é normalmente interrompido por pressões internas, quer seja
da diretoria dos clubes, como de torcidas, muitas vezes, decisões tomadas de forma
precipitada e sem o conhecimento dos problemas internos que realmente poderão
estar prejudicando a produtividade da equipe. A mudança do treinador e
consequentemente à vinda de um novo profissional "salvador da pátria", ameniza as
pressões e desvia a atenção, buscando assim, novas tentativas de melhorar o
rendimento.
Estudar o comportamento dos jogadores no campo, seus principais erros, suas
virtudes, seu comportamento em relação aos companheiros e frente à equipe
adversária, são análises feitas constantemente pelas equipes na busca de seu
aperfeiçoamento. Com o avanço tecnológico, onde a internet, vídeos, câmeras
digitais, computadores, rádios intercomunicadores, tvs a cabo, enfim, aparelhos
eletrônicos, facilitam a observação das equipes em jogos coletivos, estaria levando a

4
análise do jogo a ser considerada instrumento fundamental para a elaboração de
estratégias de ação que resultem em uma maior produtividade.

A informação recolhida a partir da análise do comportamento dos atletas em


contextos naturais (treinos e competições) é atualmente considerada uma
das variáveis que mais afetam a aprendizagem e a eficácia da ação
desportiva. (GARGANTA, 2001, p.57)

O treinador deve estar atento à importância de analisar o rendimento das


equipes para, com os dados coletados e interpretados, elaborar seu programa de
trabalho de acordo com suas necessidades e qualidades. Assim sendo, percebemos
como problema eminente deste estudo, o fato de se perceber poucos clubes
profissionais que realizam um trabalho consistente de análise de performance,
existindo apenas trabalhos esporádicos e temporários onde o empirismo prevalece.
Assim ocorrendo, acabam por surgir alguns questionamentos que não
podemos deixar de destacar haja vista a relevância destes para toda a estrutura da
pesquisa apresentada. São eles:
 Seria este fato ainda uma visão limitada dos treinadores?
 Seria a falta de estrutura organizacional dos clubes?
 Seria a instabilidade profissional no comando técnico das equipes, que
resulta na falta de tempo para a organização racional de um plano de
trabalho?
Compreendemos que o estudo e a análise destas questões acabarão por
contribuir não somente com o futebol, mas também para estabelecer um parâmetro
de reflexões que possam possibilitar um grande avanço na busca constante de
superação e evolução.

2 A INTERAÇÃO FUTEBOL X SOCIEDADE: SUA IMPORTÂNCIA PARA A


NAÇÃO BRASILEIRA

O futebol, introduzido no Brasil por Charles Muller no final do século XIX,


atualmente mobiliza milhões de pessoas em todo o território nacional. Praticado
inicialmente por jovens da classe alta, jovens estes que conheceram o esporte em
suas viagens para estudos na Europa, principalmente na Inglaterra no final do século
XIX, o futebol foi introduzido nos colégios brasileiros elitistas.

5
[...] o que Charles Muller trouxe, em 1894, foi um esporte universitário e
burguês, elegante e obediente a um código. Esporte de ‘Gentleman’,
exatamente como são o tênis e o golfe hoje. [...] pelo menos dez anos
seguintes, o futebol continuou um jogo inglês e de elite: os jogadores eram,
na sua esmagadora maioria, técnicos industriais e engenheiros ingleses
(SANTOS, 1981 apud FREITAS, 2000, p.3).

Porém, em pouco tempo, sua prática não era mais privilégio das elites, sendo
praticados em clubes, em fábricas pelos operários e em camadas menos favorecidas.
A importância que as pessoas atribuíam ao futebol pode ser justificada pela
possibilidade da disputa em condições de igualdade com representantes de países
que na vida social sempre foram superiores.
Entretanto, no campo de futebol, uma vitória é prova de uma superioridade e
este resultado transcende ao próprio jogo, expandindo suas conquistas e honrarias
ao grupo que está diretamente ligado ao vencedor (neste caso o torcedor, o qual se
sente tão importante quanto o próprio jogador), sintetizando pode-se dizer que o êxito
obtido pelo indivíduo passa diretamente para o grupo.
O clube de futebol é uma das formas de organização e ocupação do espaço
social que revela um duplo movimento de configuração da sociedade, pois, ao mesmo
tempo em que o clube se constitui um elemento de integração do imigrante na
sociedade local, o imigrante, por sua presença populacional dá a cidade uma nova
configuração sociocultural (RIBEIRO, 1998 apud FREITAS, 2000).
Buscam-se explicações para a grande popularidade do futebol no Brasil. Uma
justificativa seria a ideia de que os negros, cujo número é grande no Brasil, possui
características físicas e culturais da raça que propiciariam a expressão corporal,
destacando-os em atividades de ritmo e coordenação, como a capoeira, o samba e
outras atividades de origem do continente Africano.
Outra razão para a o sucesso do futebol no Brasil também poderia ser a
facilidade de ser praticado, pelas possibilidades de execução em vários espaços e
com materiais simples e adaptados. Além disto, suas regras são consideradas simples
se comparadas a de outros esportes como voleibol e o basquetebol.
Estas análises, ou seja, a facilidade de sua prática e as possíveis vantagens da
miscigenação racial existente na prática do futebol brasileiro, levaria a uma relevante
contribuição para justificar sua popularidade. O Futebol, somado as vantagens citadas
a um contexto cultural de nossa população, atenderia as necessidades do brasileiro,
sendo mais do que apenas um jogo lúdico, possibilitando situações características do

6
jogo, que traz contribuições na formação cultural do homem, na compreensão dos
seus limites, vivenciando vitórias e superando derrotas, comum no cotidiano de uma
sociedade.
O futebol é uma forma que a sociedade brasileira encontra para se expressar.
É uma maneira do homem nacional extravasar características emocionais profundas,
tais como, paixão, ódio, fidelidade, felicidade, tristeza, prazer, dor, resignação,
coragem, fraqueza e muitas outras (DAMATTA, 1997).
O carisma por clubes e pela seleção nacional de futebol chega, em
competições como a Copa do Mundo, a renovar o espírito nacionalista de um povo,
espírito este esquecido pelas dificuldades enfrentadas pela população mais carente.
O futebol está presente no dia a dia do brasileiro. Em jornais, revistas,
televisões, rádios, nos ambientes de trabalho, enfim, ao analisar o cotidiano da
população brasileira nota-se músicas, filmes e novelas sempre destacando o futebol
em suas programações.
Terminologias futebolísticas fazem parte do nosso vocabulário: "pisar na bola",
"bater na trave", "gol de letra", "bola murcha", entre outras; expressões incorporadas
às manifestações diárias.
O brasileiro sofre pelo seu time. Quanto maior a dificuldade parece que o amor
aumenta. "No Brasil, essa fidelidade vem desde o nascimento, quando o garoto
recebe um nome, uma religião e um time de futebol para o qual vai torcer a vida toda"
(DAOLIO, 1998, p.3).
O reconhecimento global da importância do futebol brasileiro justifica-se por ser
o Brasil o único país pentacampeão mundial, o único a participar de todas as Copas
do Mundo, ser ainda o maior exportador de craques, ter o maior estádio do mundo,
entre outros aspectos em comum conhecimento daqueles contempladores desta
modalidade.
Porém, tudo isto, contradiz com problemas tais como: calendário com jogos
constantes que sacrificam clubes, jogadores e torcidas; a média salarial é baixa em
relação a poucos jogadores de grandes equipes; os clubes estão endividados em com
salários atrasados; demissões de jogadores e comissão técnica são frequentes, não
existindo o respeito a um planejamento a médio ou longo prazo; evasões de renda e
administração amadora onde, em muitos casos, políticos utilizam-se do clube apenas

7
para arrecadar votos, investindo em períodos eleitorais e abandonando-os em
situações desastrosas após as eleições.

3 O TRABALHO DOS TREINADORES DE FUTEBOL NO BRASIL

Fonte: www.curiosidadesnota10.com

Atualmente, a organização do trabalho de treinadores de futebol tem enfrentado


diversas dificuldades e vários são os motivos. A instabilidade profissional, com
mudanças constantes dos clubes em seu comando técnico, mesmo que estes clubes
busquem na nova contratação, um profissional com perfil que tenha afinidades com a
filosofia adotada pelo clube, provoca rupturas na estrutura do Departamento de
Futebol, pois mudanças constantes podem prejudicar a integração das diversas áreas
e profissionais envolvidos nesta organização. Afora isso, é inevitável a perda de
produtividade em virtude do período de adaptação não só do profissional, mas
também de seus colaboradores.
Segundo Leal (2000), denominados como especialistas, continuam hoje,
muitos treinadores serem ex-jogadores, que, ao encerrarem a carreira, mantêm
vínculos com os clubes. Após 1939, A Escola de Educação Física e Desportos da
Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, trazia em seus

8
objetivos além da formação de professores de Educação Física a de técnicos
desportivos, entre eles o de futebol.
Sabe-se que a organização de um trabalho passa necessariamente por
diversas fases, a do conhecimento da empresa (clube), o conhecimento do trabalho a
ser exercido e o dos executores deste trabalho (atletas e comissão técnica). Com este
conhecimento, pode-se levantar possíveis falhas na elaboração da tarefa e aplicar
recomendações com o objetivo na melhora da produtividade.
Neste processo, as funções de um treinador, em razão da popularidade do
futebol, exigem do mesmo um conhecimento amplo da modalidade bem como uma
boa comunicação, pois as formas de se expressar serão de suma importância em sua
vida profissional. Para MARQUES (2001), quem quer ter sucesso como treinador no
desporto de alto rendimento tem que ser dono de um conjunto vasto de recursos em
conhecimentos e competências, uma vez que somente com intuição e inspiração não
se obtém resultados.
Os treinadores de futebol, conforme características em suas formas de
comandar suas equipes, são muitas vezes definidos como estrategistas, uma vez que
esta designação atribui a este profissional um grande conhecimento da prática do
jogo, organizando seus jogadores em campo de uma forma harmoniosa, procurando
explorar seus pontos fortes e amenizar os pontos fracos de seu elenco, com a
capacidade de mudar sua forma de jogo para jogo, com vistas a sucessivos
progressos, atingindo desta forma seus objetivos com uma economia de esforço.
Além do estrategista, treinadores são chamados de disciplinadores, ditadores,
democráticos, casuais, versáteis, psicólogos, enfim, conforme a característica de ação
mais utilizada. Estas denominações podem significar pontos positivos e ou negativos
da formação deste profissional, devendo cada um, saber o momento certo e as formas
de utilização destes determinados comportamentos.
Assessorado por uma comissão técnica, formada normalmente por
profissionais de diversas áreas, o treinador de futebol é hoje responsável por toda a
programação a ser desenvolvida pela equipe. Não somente pelos treinamentos
técnicos e táticos, mas também nos dias de folga do elenco, horários de viagens,
concentrações, ida ou não em viagens de integrantes da comissão técnica, enfim
funções múltiplas que acabam por atrapalhar seu desempenho específico, mesmo
que estas funções busquem auxiliá-lo. Este problema está sendo repensado pelos

9
clubes, cuja organização do trabalho começa a ser realizada de forma mais
profissional.
Os treinadores normalmente trabalham com dois tipos de treinamento: o
técnico e o tático. O treinamento técnico serve para melhorar a qualidade dos atletas
no trato com a bola nos fundamentos do futebol, ou seja, domínio, condução, passe,
drible, chute, cabeceio e desarme. O treinamento tático é aplicado para distribuir os
jogadores dentro do campo observando-se as características individuais, sem tirar sua
criatividade e capacidade de improvisação, buscando-se assim uma maior
produtividade.

4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE TREINADORES DE FUTEBOL

A Organização do trabalho é fator decisivo para o sucesso de qualquer


empresa. Os clubes de futebol, com o surgimento da nova filosofia empresarial
imposta e em função da constante competitividade que enfrentam, estão em busca
constante de modernização e soluções para seus problemas.
Questionados quanto as principais dificuldades enfrentadas no trabalho,
verificou-se que os atuais treinadores enfrentam diversos problemas para
desempenhar suas funções nos respectivos clubes. A instabilidade profissional, com
42%, foi considerada como o principal problema da classe. A problemática do atual
calendário de jogos foi citado por 23% dos treinadores; 19% destacaram a
interferência de diretorias dos clubes; 12% a interferência da imprensa e 4% o
relacionamento com jogadores como principal problema (Figura 1).

Fonte: www.uel.br
10
Estes resultados demonstram que a busca de resultados imediatos e os
constantes jogos que impedem qualquer planejamento, aliados a pressões de
diretoria, imprensa e torcidas, acabam por impor barreiras ao profissional Treinador
de Futebol. Esta instabilidade comprovou-se pelas constantes mudanças ocorridas
nos clubes durante a 1ª fase do campeonato Brasileiro de 2001.
Houve 26 mudanças no comando técnico das 28 equipes participantes da 1ª
Fase do Campeonato Brasileiro, ou seja, 15 profissionais perderam seus empregos
no período de quatro meses; cinco profissionais trocaram de clubes e apenas 11 dos
28 clubes mantiveram seus treinadores do início ao fim da 1ª fase do campeonato,
cuja durabilidade foi de apenas quatro meses.
Outro dado significante mostra que dos oito clubes finalistas da competição,
seis mantiveram seus treinadores desde o início, ou seja, acreditaram da necessidade
de tempo para a aplicação e consequente resultados de um planejamento.
Estas informações demonstram a importância e o resultado do trabalho quando
executado com tempo adequado e planejamento. Além disto, pode indicar aos clubes
que realizaram tais mudanças e não obtiveram sucesso, que o problema possa ser de
ordem organizacional do próprio clube e não das funções e competências dos
treinadores.
A organização do trabalho de treinadores de futebol, algumas das suas
principais dificuldades e estratégias de ação na busca de uma maior produtividade,
relacionando a importância de fatores alheios ao instante do jogo em todo seu
contexto.
Passamos a perceber que o futebol, pelo seu papel de destaque no cenário
mundial, exige do profissional Treinador de futebol uma atenção especial em relação
às evoluções em diversas áreas. Novas formas de organização do trabalho na busca
constante de uma melhor performance e consequente aumento de produtividade
devem ser preocupações diárias desta classe.
Na intenção de amenizar a questão da instabilidade profissional, principal
dificuldade relatada pelos treinadores, ousamos propor o início de um estudo
relacionado à inclusão no regulamento dos campeonatos (inclusão esta imposta pelo
órgão máximo diretivo do futebol), de uma eventual limitação na troca de treinadores
numa mesma competição. Acreditamos que isto poderia contribuir para trazer uma

11
maior estabilidade além de propiciar um consequente favorecimento de
planejamentos mais adequados para o trabalho destes profissionais.
Procuramos ainda, apresentar contribuições à organização do trabalho de
Treinadores de Futebol no Brasil, porém, é evidente a necessidade de novos estudos
para uma maior compreensão e evolução do futebol brasileiro e em especial deste
profissional, sem desconsiderar, é lógico, pontos extremamente importantes que não
podem deixar de ser mencionados.
Tal menção se apresenta no instante em que trazemos à tona detalhes como a
formação profissional dos treinadores de futebol, a necessidade em se obter uma
formação específica, a situação em ter sido ou não um ex-jogador, o tempo (anos) de
atuação profissional como treinador e por que não dizer o tempo necessário para que
se possa estar implantando uma filosofia de trabalho, além de outros aspectos que
são de relevante consideração ao se tratar do assunto em questão e que, neste
momento, cabe-nos apenas levantar tais circunstâncias para que se possa
estabelecer um campo imaginário de contemplação e complexidade da situação.1

5 A IMPORTÂNCIA DA PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL

Fonte: www.footurefc.com.br

1 TEXTO EXTRAÍDO DO SITE: http://www.uel.br


12
O preparador físico, além de preparar seus atletas para que possam exercer
com eficiência suas ações durante a partida, possui papel de extrema importância na
recuperação física entre jogos e treinamentos. As exigências financeiras do futebol
atual expõem os atletas a uma quantidade de jogos excessivos, que prejudicam seu
desempenho e preparo físico, justamente porque os períodos de recuperação entre
uma partida e outra não são respeitados.
A fisiologia utiliza métodos científicos para aperfeiçoar o processo de
recuperação, objetivando uma melhor performance com um risco menor de lesões
causadas pela sobrecarga de jogos e treinamentos.
A preparação física no futebol é um dos fatores que mais evoluiu nas últimas
décadas e continua evoluindo. O conhecimento do condicionamento físico para o
futebol é de vital importância para o sucesso de uma equipe dentro de uma
competição. Segundo Garganta, (2001), o futebol não é uma ciência que as técnicas
científicas possam determinar o vencedor ou perdedor de uma partida. Existem outras
variáveis que podem influenciar no resultado de uma partida como, preparação
psicológica e os sistemas táticos, por exemplo.
Com o passar do tempo, a profissionalização do futebol foi crescendo de forma
avassaladora. Com isso, as comissões técnicas foram percebendo que a preparação
física dos atletas seria cada vez mais importante para um melhor rendimento de suas
equipes. Daolio, 1998). Segundo Silva et al, (1997), o futebol atual, comparado a
décadas passadas está mais rápido e intenso. O milionário mundo do futebol conta
com uma preparação física, técnica e tática que evoluiu vertiginosamente nos últimos
anos. Corrêa et al, (2002). Portanto, fica cada vez mais evidente a valorização e a
preocupação com uma preparação física bem desenvolvida e apoiada em conceitos
científicos bem fundamentados. Silva et al, (1999). Para uma evolução eficaz na
preparação física dos atletas, foram criados novos testes e técnicas para o melhor
desempenho dos atletas. Oliveira et al, (2000).
O futebol é talvez uma das modalidades mais desgastantes do mundo
esportivo. No jogo moderno (em qualquer nível) o treinamento e condicionamento são
fundamentais. Poucos esportes são praticados em um campo tão amplo, em um
período longo de tempo sem intervalo.
Os profissionais se especializam cada vez mais utilizando computadores e os
mais variados aparelhos eletrônicos possíveis, para determinar o nível de

13
condicionamento e a evolução dos atletas. Portanto, percebe-se que a preparação
física evoluiu de tal maneira que seria impensável a falta de um profissional
especializado em treinamento físico integrando a comissão técnica de uma equipe.
As capacidades físicas que exercem influência no futebol são: força muscular;
velocidade; potência, resistência (aeróbia e anaeróbia) e flexibilidade. No futebol, um
bom rendimento em todas as capacidades físicas é mais importante que o
desempenho excepcional em somente uma delas. O futebol é um esporte
caracterizado por atividades intermitentes. Ele exige grande demanda física, o que
requer um elevado grau de habilidade, técnica, força, velocidade e agilidade. Trata-se
de um jogo com bastante trabalho anaeróbico seguido de exercícios contínuos de
corrida. Alencar, (2009).
Segundo Guerra et al, (2004), que o futebol moderno exige um jogador forte,
rápido, capaz de vencer resistências, suportar cargas intensas e, ao mesmo tempo,
ter pouca fadiga durante o jogo. Logo, o atleta precisa manter força, velocidade,
resistência e flexibilidade de forma conjunta.
Durante o jogo o atleta submete-se a diferentes tipos de esforços, como saltos,
arranques curtos, piques, giros, etc. É necessário ao atleta ter uma boa aptidão física
nos diferentes sistemas energéticos (aeróbio e anaeróbio lático e alático). Apesar de
tratar-se de uma modalidade em que tática e técnica e habilidades individuais são
fundamentais, tem se notado uma preocupação especial no aprimoramento físico do
atleta. Hoje em dia são encontrados diversos estudos que procuram estabelecer as
características da movimentação ou carga fisiológica imposta ao atleta durante o jogo.
A motivação para o desporto é algo interessante de ser estudado e pesquisado, pois
revela inúmeras facetas que envolvem não apenas a motivação em si, mas também
toda a preparação física e psicológica de atletas, implicando ainda as relações
humanas entre atletas, treinadores e/ou educadores físicos. Buriti, (2001).
Hoje em dia, na opinião da maioria dos profissionais, a preparação física é um
fator fundamental para o êxito de uma equipe, até porque o futebol moderno é
baseado na velocidade dos atletas. Isso acabou tornando o atleta multifuncional, ou
seja, os laterais são marcadores e atacantes, como pontas ou elemento surpresa pelo
meio do campo, os volantes e meias que compõem o meio-campo interagem entre si
na parte de criação e marcação, os zagueiros hoje em dia fazem muito mais gols por
terem muita liberdade nos sistemas atuais de jogo e os atacantes, antigos criadores e

14
finalizadores apenas, hoje são os primeiros marcadores quando o time está sem a
posse da bola. Porém esse estilo de jogo exige muito treinamento, priorizando muito
mais a parte coletiva do que o talento individual como era o futebol antigo.2

6 A ATUAÇÃO DA BIOMECÂNICA NO DESENVOLVIMENTO DOS


TREINAMENTOS DAS EQUIPES DE FUTEBOL DE CAMPO

Fonte: biomecanicadomovimentohumano.blogspot.com.br

Nos últimos anos o interesse pela análise da técnica do gesto motor no futebol
tem aumentado, principalmente pelos profissionais que trabalham com esporte,
visando um melhor entendimento da habilidade motora, que possa gerar planos de
treinamento mais eficazes, em diferentes setores; seja na aprendizagem básica ou no
treinamento desportivo de alto nível. O profissional de Educação Física tem no estudo
do movimento o seu principal objetivo. Para isso, estes profissionais buscam estudar
as habilidades dos esportes e os movimentos do cotidiano. A partir desta análise,
pode-se definir um padrão cinemático de movimento, ou seja, encontrar um modelo
para uma habilidade motora ou movimento. Com isso, poderão ocorrer intervenções
na prática, corrigindo o movimento visando à melhora na execução. Para que ocorra
uma definição de um padrão cinemático de movimento, este necessita ser analisado

2 TEXTO EXTRAÍDO DO SITE: https://repositorio.ucb.br


15
meticulosamente, e a ciência que vem permitindo grandes avanços quanto a este tipo
de análise é a Biomecânica.
Objetivos
 Geral: Entender a Biomecânica como ciência atuante nas equipes de
futebol;
 Específicos: Levantamento da importância da biomecânica para o
esporte e principalmente no futebol; contribuições e benefícios da
implantação desta ciência no cotidiano das equipes de futebol.

6.1 O que é Biomecânica?

Define biomecânica como um ramo da engenharia biomédica (1), sendo um


campo interdisciplinar no qual os princípios e métodos da engenharia, das ciências
básicas e da tecnologia são aplicados para projetar, testar e fabricar equipamentos
para uso em medicina, a fim de entender, definir e resolver problemas em fisiologia e
biologia. A Biomecânica é uma disciplina que estuda e faz análises físicas de
movimentos do corpo humano. Os objetivos da biomecânica podem ser atingidos em
diversos domínios da atividade motriz (2), por outras palavras, em diferentes campos
de aplicação, conforme mostra o quadro 1.
Quadro 1. Campos de aplicação da Biomecânica (Adrian e Cooper, 1995)

Fonte: www.def.ufla.br

16
É tarefa da Biomecânica das atividades esportivas a caracterização e melhoria
das técnicas de movimento através de conhecimentos científicos. Atualmente, está
ciência tem muita importância e traz muitas contribuições para o esporte, dentre estas
contribuições podemos citar a análise e melhoria da técnica desportiva, prevenção de
lesões, desenvolvimento de equipamentos esportivos, etc. Se classifica a
biomecânica em: interna e externa (3), sendo a primeira responsável em determinar
as forças transmitidas pelas estruturas internas do corpo humano e a segunda em
determinar modelos de gestos desportivos ou de movimentos padrões cotidianos, a
fim de diagnosticar e corrigir os erros encontrados. No futebol os métodos mais
utilizados num laboratório de biomecânica são: cinemetria (filmagem do movimento
do atleta em 2D ou 3D, medindo posição, velocidade e aceleração no espaço),
antropometria (elaboração de modelos matemáticos ou das medidas por exemplo do
centro de massa do atleta, do centro de gravidade), dinamometria (medidas de forças
externas, com destaque para a análise da força de reação do solo, utilizando
plataformas de força ou análise do centro de equilíbrio postural, utilizando plataforma
de equilíbrio), eletromiografia (objetivo de verificar a atividade muscular de superfície
ou detectar o nível de fadiga muscular que ocorre com o atleta no período de
treinamento e recuperatório pós jogos); Também como suporte para estes, ocorre a
aplicação dos conhecimentos da microeletrônica e informática (4).
Utilizando esses métodos, o movimento esportivo pode ser descrito e modelado
matematicamente, permitindo maior compreensão sobre os mecanismos internos,
reguladores e executores do movimento. Pode ser analisada sob âmbito quantitativo
ou qualitativo, sendo o primeiro mais aplicável e com resultados mais fidedignos. O
ensino e a pesquisa em biomecânica, ainda requerem padronizações metodológicas
e incremento para formação de teorias com explicação experimental do movimento
humano; as pesquisas nesta área podem proporcionar a melhoria do conhecimento
sobre uma estrutura muito complexa, que é o corpo humano, pois leva em
consideração cada área que compõe sua formação, sendo considerada uma ciência
multidisciplinar.

17
6.2 Contribuições da Biomecânica para o esporte

Nos últimos anos, o progresso das técnicas de medição, armazenamento e


processamento de dados contribuiu enormemente para a análise do movimento
humano. É claro que nenhuma disciplina científica se desenvolve por si mesma. A
Biomecânica se consolidou, principalmente, ancorada pelas demandas do esporte de
rendimento, seja sob o ponto de vista da fundamentação científica para o desempenho
esportivo (5), seja sob a forma da produção de materiais esportivos e outras (6). A
biomecânica do esporte é o estudo das técnicas desportivas procurando a
maximização de sua eficiência e, redução dos riscos de lesão (7). No Brasil, os
resultados das pesquisas em Biomecânica têm influenciado diretamente na Medicina,
Ergonomia, fabricação de equipamentos esportivos e muitos outros aspectos da vida
humana. Atualmente existem centenas de estudiosos interessados em Biomecânica.
Os resultados das suas pesquisas contribuem grandemente para aumentar a
compreensão sobre os limites do corpo humano. As suas aplicações ao nível da
Medicina, Ergonomia, Desporto e equipamentos, são inúmeras.

6.3 A importância do estudo da Biomecânica no futebol

Apesar de ser uma área que vem sendo estudada há algum tempo,
principalmente nos EUA, o estudo da biomecânica aplicada aos esportes, e em
particular no futebol, no Brasil é recente. Atualmente alguns clubes no Brasil e na
Europa utilizam os recursos da análise biomecânica, com destaque para o Sport Club
Corinthians, SP e no exterior para o Porto, Real Madrid e Milan. Os resultados são
evidentes e as análises dos atletas são realizadas por profissionais de diversas áreas
integradas. A implantação de laboratórios de biomecânica nos clubes de futebol ainda
“esbarra” em vários obstáculos, que vão desde o alto custo para implantação do
sistema integrado, tais como: estrutura física, equipamentos e materiais utilizados,
mão de obra especializada, entre outros; e alguma desconfiança dos investidores e
dirigentes que esperam sempre um retorno visível e que seja imediato. Sabe-se que
a biomecânica atua na melhoria gradativa, seja do atleta ou de um grupo de atletas,
mas os resultados somente são percebidos através do feedback com outros setores,
tais como: departamento médico, preparação física e comissão de planejamento

18
técnico; as informações advindas destas áreas são primordiais para o sucesso do
programa desenvolvido pela biomecânica à equipe.
É importante destacar que em biomecânica esportiva deve-se analisar o
movimento de maneira cinemática, através de imagem ou filmagem de um
determinado evento; e cinética, através da força vertical ou aceleração do membro,
entre outros aspectos que podem ser explorados numa análise quantitativa deste
movimento. Ainda há muito a evoluir nesta área, mas os resultados são cada vez mais
visíveis, seja na recuperação de lesões, na melhoria da performance ou
condicionamento físico; os clubes ou associações desportivas que utilizarem os
recursos biomecânicos largarão à frente dos demais, tendo em vista os avanços
tecnológicos e exigências que não permitem mais que os clubes trabalhem com seus
profissionais de maneira “amadora” ou empírica. Um profissional bem-sucedido deve
tão somente conhecer a proposta do movimento que está sendo analisado, mas
também conhecer os fatores que contribuem para uma excussão habilidosa do
movimento. Uma técnica má realizada impedirá que o atleta coloque suas
potencialidades físicas (força, flexibilidade, resistência, etc.) crescentes a serviço de
uma performance específica superior.

6.4 Aplicação prática da Biomecânica no futebol

Cada vez mais aplicada ao esporte, essa modalidade da educação física /


fisioterapia é vista como ideal para análise e diagnóstico e tratamento de lesões, e
melhoria da performance motora. Os laboratórios de biomecânica existem nas
universidades, mas não são aplicados diretamente num esporte de alto rendimento,
como o futebol. O que acontece ainda são parcerias entre Instituições de ensino e
clubes, a fim de desenvolver pesquisas utilizando os atletas como amostras de
pesquisas, mas normalmente é um trabalho com grupos limitados e que não se
estende para a equipe toda; apenas alguns jogadores são privilegiados com a
participação nestas pesquisas.

19
6.5 Instrumentação Biomecânica aplicada ao futebol

Para utilização dos recursos da biomecânica é necessário que seja elaborada


uma estrutura (laboratório) específica para mensuração das variáveis analisadas,
sendo que cada variável analisada depende de instrumentação especifica para tal
evento; há a necessidade de softwares aplicados à rotina de linguagem de cada
programa de análise e coleta de dados, que podem ser obtidos por versão free ou
através de licença paga. Percebe-se que o investimento nesta área é alto, mas para
um projeto inicial de uma sala ou laboratório deve-se adquirir o básico, tendo
plataforma de força e de equilíbrio, cadeira isocinética, eletro miógrafo, conjunto de
câmeras ou filmadoras high speed e o espaço adequado pode-se obter resultados de
trabalho excelentes. Contamos, atualmente com fabricantes nacionais e
internacionais, mas o que deve ser observado ao adquirir estes equipamentos é a
validação dos mesmos, manutenção, mão-de-obra especializada e treinamento de
funcionários capacitados. A figura 1 mostra o layout do laboratório de biomecânica R9
do Sport Club Corinthians Paulista, em que são utilizados plataforma de força,
disparador vertical de bola, eletro miógrafo, câmeras, computadores com utilização de
softwares específicos para coleta e análise de dados.

Fonte: www.def.ufla.br

20
6.6 A Biomecânica aplicada com sucesso no futebol: o caso Sport Club
Corinthians Paulista

Implantado em 2010, o Lab R9 é sucesso e também precursor de uma


metodologia que será constante nos clubes considerados grandes do futebol
brasileiro, assim como a fisiologia hoje é extremamente importante para os clubes, a
implantação de laboratórios de biomecânica também será; devido às demandas
evolutivas da modalidade e a necessidade de implantação de recursos tecnológicos
diferenciais. Com essa estrutura, o corpo médico do Corinthians consegue ter o
mapeamento completo de todos os atletas da base, visando diminuir as chances
desses jogadores se machucarem e otimizando os fundamentos, detectando falhas
no gesto mecânico. No laboratório, os profissionais do Corinthians medem a força de
contato, os ângulos e as velocidades das articulações durante os movimentos de
salto, corrida, chute, entre outros movimentos de acordo com a necessidade clínica
do atleta. Nas três plataformas instaladas no corredor central da sala, mede-se as
forças de reação dos apoios durante a aceleração e a desaceleração, e desta forma
pode-se analisar como esse esforço afeta as articulações e os músculos do atleta.
Além disso, é possível também diagnosticar a forma da pisada do jogador, que
descalço observa se a forma como pisa o chão é correta ou não. O objetivo, segundo
o fisioterapeuta responsável é “analisar os movimentos, e se encontradas alterações
com influências clínicas, o atleta será treinado no laboratório com "biofeedback"
(treinamento simultâneo com software de movimento) e com exercícios sensório-
motores no departamento de fisioterapia, e após esse treino, o jogador irá voltar ao
LAB para analisar os resultados”. Com a associação entre os dados do laboratório e
a análise clínica dos profissionais do clube, a reabilitação do atleta poderá ser
otimizada, ou seja, será mais um parâmetro quantitativo para auxiliar o departamento
médico. A integração deste processo é fundamental e os envolvidos devem ter a
percepção de que este trabalho deve ser duradouro e que os resultados certamente
serão percebidos no decorrer das competições em que o número de lesões tende a
diminuir, a efetividade dos atletas aumentar e a otimização de resultados acontecer
mediante a estrutura oferecida aos jogadores e comissão técnica.
É possível estabelecer programas de treinamentos utilizando a biomecânica
concomitantemente com outras áreas, tais como: fisiologia, preparação física e
fisioterapia; é importante que as equipes, através de seus dirigentes e investidores
21
acreditem no sucesso da implantação desta ciência atuando de maneira mais direta
nos próprios clubes, com estrutura adequada e equipamentos tecnológicos que
tragam resultados eficazes; tanto no rendimento do comportamento motor quanto no
diagnóstico e prevenção de lesões.

7 LESÕES NO FUTEBOL

Fonte: cienciadotreinamento.com.br

O futebol é o mais popular desporto no mundo, com mais de 22 milhões de


praticantes (Ekstrand, 1982). Com o aumento da popularidade, aumentou também o
interesse pelas lesões no futebol (Keller et al. 1987).
Na verdade, a frequência e gravidade crescentes das lesões no desporto em
geral, e no futebol em particular, constituem uma preocupação central dos vários
intervenientes desportivos. Segundo Aglietti e colaboradores (1994), a frequência de
lesões no futebol é o resultado da sua elevada popularidade, mas também, do tipo de
esforço e ações que lhe são específicas, como o tackle (carrinho), o corte ou o remate.
Luthje e colaboradores (1996) acrescentam que o principal fator que contribui para a
elevada ocorrência de lesões no futebol prende-se com o contato físico permanente
entre os jogadores. Estas são algumas razões que podem explicar o elevado número
de lesões no futebol estimado em cerca de 50 a 60% de todas as lesões desportivas
22
e 3.5 a 10% da totalidade das lesões tratadas em centros hospitalares (Ekstrand,
1982).

7.1 Definição de lesão no futebol

Não há atualmente uma definição universalmente aceite de lesão do futebolista.


Vários estudos têm sido desenvolvidos nesta área, contudo, os diversos autores não
se mostram consensuais e consideram diferentes conceitos sobre a mesma matéria
(Ekstrand, 1982; Keller et al, 1987; Inklaar, 1994). A falta de uma definição unânime
de lesão e de critérios efetivos na seleção das amostras são dois fatores que Inklaar
(1994) aponta com estando na base da controvérsia de resultados encontrados em
vários estudos. Por outro lado, a idade, sexo, nível competitivo, superfícies de jogo,
condições atmosféricas, serviço de apoio médico, frequência de jogos, para além dos
aspectos socioculturais, são também fatores que condicionam decisivamente o tipo e
incidência de lesões contribuindo, deste modo, para a disparidade de resultados
(Inklaar, 1994; Luthje et al. 1996). Então, vários investigadores sugeriram para futuros
estudos a seleção cuidadosa das amostras com base nestes aspectos, e a
necessidade de uma definição única e consensual de lesão do futebolista (Ekstrand,
1982; Inklaar, 1994; Luthje et al. 1996).
A fim de controlar objetivamente o número de lesões ocorridas, alguns autores
registaram a participação da lesão ao seguro de saúde (Wehmeyer,1988), enquanto
que outros observaram os casos tratados em centros hospitalares e clínicas próprias
(Sandelin et al, 1985). Constata-se, no entanto, que em ambas as situações há casos
que habitualmente não são comunicados ao seguro ou tratados em hospitais e, como
tal, não são contabilizados. Foi provavelmente tal constatação que terá levado outros
autores a entrar em linha de conta com o tempo de afastamento da atividade (Vulpen,
1989; Mechelen et al. 1992). Este é o critério mais utilizado no futebol sendo, contudo,
o diagnóstico médico o método mais objetivo para determinar a existência de uma
lesão (Noyés et al. 1988).
Não existindo um entendimento consensual entre os vários estudos sobre a
definição de lesão no futebol, pode perceber-se na literatura a preocupação em
adoptar definições já existentes ou conceber novos conceitos.

23
Assim, Inklaar (1994) considera a lesão do futebolista todo o tipo de dano
causado pelo futebol. Esta definição apresenta-se, em nossa opinião, muito genérica
não atendendo à gravidade de lesão nem ao consequente tempo de inatividade. Nela
todos os casos são englobados incluindo as lesões menos graves que, sendo as mais
frequentes (Keller et al., 1987), não implicam qualquer período de paragem.
Por seu lado, Luthje e colaboradores (1996) definem lesão como um incidente
ocorrido ao longo de uma época desportiva, durante um jogo ou treino, obrigando o
atleta a abandonar a atividade e a consultar um médico. Na nossa perspectiva, a
sintomatologia dolorosa que poderá impedir o atleta de prosseguir a atividade
levando-o a consultar o médico, poderá não se traduzir em lesão efetiva. Pelo que,
esta definição também não se ajusta plenamente ao pretendido.
Ekstrand e Gillquist (1983), Jorgensen (1984) e outros autores utilizaram uma
definição comum onde lesão no futebol era definida como a ocorrência de um dano
físico durante a época desportiva, em situação de jogo ou preparação, que impedia o
atleta de participar no treino ou jogo seguintes. Esta definição está de acordo com
Keller e colaboradores (1987) que consideram que só os casos de afastamento da
prática ou competição devem ser incluídos nas estatísticas, e sugere para futuras
investigações que este parâmetro seja observado como principal medida de gravidade
de lesão.
No entanto, Larson e colaboradores (1996) ao perceberem que a maioria das
lesões no futebol são de menor gravidade e requerem menos de uma semana de
paragem, sugeriram que só após um período de afastamento desta duração a lesão
fosse contabilizada. Com efeito, o contato frequente com outros atletas ou com a
superfície de jogo contribui para um elevado número de pequenas lesões que não
assumem uma gravidade significativa. Estas situações, cuja recuperação é
conseguida num curto espaço de tempo e onde se torna possível a participação na
competição seguinte, não devem ser contabilizadas dado não constituírem um
prejuízo efetivo para a equipa e para o próprio atleta.
Assim, a definição geral de lesão do futebolista será todo o tipo de dano físico
observado ao longo de uma época desportiva e ocorrido numa situação de treino ou
competição. Contudo, neste estudo apenas serão considerados os casos de lesão
dos quais resulta um período de inatividade igual ou superior a uma semana e/ou
indisponibilidade para participar na competição seguinte. Esta é uma situação de

24
incapacidade para treinar e competir, e da qual resultam consequências nefastas para
o atleta e para a equipa.

7.2 Classificação das lesões no futebol

As discrepâncias que encontrámos na literatura em relação à definição de lesão


permanecem no que respeita à sua classificação. Marzo e colaboradores (1994)
classificam as lesões no futebol em macro traumáticas e micro traumáticas. As
primeiras prendem-se com um acontecimento específico, onde uma força significativa
é capaz de causar dano efetivo numa estrutura. As lesões micro traumáticas
englobam situações cumulativas, em que cada uma individualmente não seria capaz
de causar lesão pela sua magnitude, mas cuja acumulação conduz ao aparecimento
de lesão. Quando estas forças ultrapassam limiares de duração e intensidade poderão
esperar-se alguns tipos de lesão. Deste modo, o stress repetido provocado pela
corrida, pelo contato frequente com a bola, pelas cargas de impacto nos saltos ou
pelas forças de torção em movimentos de rotação, poderão explicar porque é que
tantas lesões de "overuse" são diagnosticadas no futebol (Marzo et al. 1994). A lesão
de "overuse" foi definida por Orava (1980) como um síndroma doloroso ao nível do
sistema muscular surgido durante o exercício físico, sem qualquer traumatismo,
doença, deformidade ou anomalia que poderiam ter desencadeado sintomas prévios.
Os sintomas iniciam-se durante o exercício físico e localizam-se em zonas musculares
mais solicitadas.
Aglietti e colaboradores (1994) também classificaram as lesões dividindo-as em
dois grupos: as que envolvem a unidade músculo - tendão e as que recaem sobre a
unidade osteoarticular. Os resultados da investigação destes autores revelaram que
as lesões relativas à unidade osteoarticular representaram cerca de 2/3 da totalidade
das lesões. A lesão mais frequente foi a entorse articular, enquanto que a rotura
muscular foi a mais registada dentro do grupo de lesões relacionadas com a unidade
músculo - tendão.
Relativamente ao grupo de lesões que envolvem a unidade músculo - tendão,
Massada (1989) refere que as massas musculares estão sujeitas a processos
lesionais do tipo traumático desencadeados por vectores intrínsecos ao próprio
músculo ou extrínsecos. A localização superficial das massas musculares como

25
função protetora das partes rígidas do esqueleto, propicia a ação nefasta de vectores
externos, principalmente em atividades desportivas onde se verifica o contato físico,
das quais é exemplo o futebol. Esta evidência acaba por justificar a elevada
percentagem de contusões musculares diagnosticadas. Os vectores intrínsecos
prendem-se, por exemplo, com os processos de descoordenação neuromuscular que
podem, efetivamente, provocar o aparecimento de lesão (Massada, 1989).
As lesões musculares podem ser condicionadas por mecanismos agudos
(overstress) ou crónicos (overuse) que atuam no seio da própria massa muscular
(Massada, 1989). A lesão muscular será aguda quando um esforço súbito e intenso
se concentra numa determinada área muscular momentaneamente fragilizada na
sequência de um movimento que ultrapassa a sua resistência mecânica (overstress).
Por outro lado, a lesão poderá surgir como resultado da hiperfunção de um
determinado grupo muscular em que as fibras musculares se fragilizam por fadiga
(overuse).
Sobre esta problemática das lesões no futebol, Larson e colaboradores (1996)
reconhecem que a distinção entre lesão aguda e crónica não é muito clara. Apesar
disso, consideram que, na generalidade dos casos, o início do processo lesionai é
agudo, muito provavelmente devido aos numerosos sprints, arranques, mudanças de
direção e velocidade, bem como colisões com outros atletas, com a bola ou a
superfície de jogo. Pelo contrário, Tucker (1997) considera que a lesão muscular tem,
normalmente, uma origem crónica e de "overuse", embora o resultado final seja
descrito como uma dor súbita ocorrida de forma aguda.
Ekstrand e Gillquist (1983) classificam as lesões no futebol, tendo em conta o
mecanismo de lesão subjacente, em lesões traumáticas (agudas ou crónicas) e de
stress (overuse). As primeiras ocorrem predominantemente em jogo, enquanto que as
lesões de "overuse" são frequentes durante as sessões de treino. São também as
lesões de "overuse" que contribuem para a elevada percentagem de lesões na pré-
época (Ekstrand e Gillquist, 1983), provavelmente pelos esforços intensos e inabituais
que normalmente são efetuados nesse período. Além disso, quando se compara a
incidência de lesões traumáticas e de "overuse" conclui-se que as lesões traumáticas
ocorrem predominantemente durante os jogos e são cerca de 3 vezes mais frequentes
que as de "overuse" (Ekstrand e Gillquist, 1983; Engstrom et al. 1990).

26
7.3 Tipo, localização e gravidade das lesões no futebol

Cada desporto possui características próprias e assim um padrão único de


lesão (Reilly et al. 1996). No futebol, as lesões ocorrem predominantemente nos
tecidos moles (músculo e tendão) e nas articulações, centrando-se frequentemente
nos membros inferiores. A localização e o tipo de lesão em jogadores de futebol têm
sido largamente estudados (Albert, 1983; Ekstrand e Gillquist, 1983; McCarrol et al.
1984).
Quando atendemos ao tipo de lesões observadas no futebol os autores são, de
um modo geral, consensuais ao distinguir entorses articulares, roturas musculares,
contusões, luxações, fraturas e outras (Ekstrand, 1982; Inklaar, 1994) (cf. quadro 1).
Segundo Ekstrand e Gillquist (1983) e Engstrom e colaboradores (1990) as lesões
mais comuns no futebol são as entorses (de 27.6% a 35%), roturas (de 10% a 47%)
e contusões (de 8.1% a 21.3%). Também Albert (1983), estudou a incidência de
lesões em 142 futebolistas profissionais e verificou que as entorses e roturas
musculares eram as lesões predominantes que obrigavam a uma interrupção superior
a uma semana, sendo assim as mais graves. O quadro 1 é referente ao tipo de lesões
que Ekstrand (1982) ordenou em três categorias de gravidade. As lesões de gravidade
menor são aquelas que obrigam a uma interrupção da atividade até uma semana. As
lesões de gravidade moderada implicam uma paragem entre uma e quatro semanas.
Por último, as lesões de maior gravidade são aquelas que obrigam a um período de
inatividade superior a um mês.

27
Fonte: repositorio-aberto.up.pt

A partir da análise do quadro anterior é possível observar que as entorses


articulares, as lesões de overuse, as contusões e as roturas musculares são, as lesões
mais frequentes no futebol. Além disso, a maioria das lesões (62%) são recuperadas
em menos de uma semana. Por outro lado, entre as lesões mais graves contam-se as
entorses, lesões de overuse, roturas e fraturas (cf. quadro 1).
Quanto à sua localização, a lesão ocorre em diversas partes do corpo como o
pé, o tornozelo, a perna, o joelho, a coxa, a anca, a região inguinal, a região dorsal ou
outras (cf. quadro 2). Embora as lesões na cabeça, tronco e membros superiores
também possam ocorrer, a verdade é que as mais frequentes ocorrem ao nível dos
membros inferiores (Ekstrand, 1982; Inklaar, 1994). O joelho e o tornozelo evidenciam
maior incidência de entorses articulares (Ekstrand, 1982), enquanto a coxa é a região
anatómica onde predominam as roturas musculares (Massada, 1989). Os membros
inferiores apresentam-se, assim, mais vulneráveis devido às características do jogo
em si e ao contato frequente entre os jogadores e com a bola (Ekstrand, 1982;
McCarrol et al. 1984; Aglietti et al. 1994; Larson et al.,1996; Luthje et al., 1996.

28
Fonte: epositorio-aberto.up.pt

A observação atenta do quadro 2, não só permite confirmar a grande incidência


de lesões sobre o membro inferior, como também salienta a frequência e gravidade
de lesões ao nível do joelho. A gravidade é um aspecto que não podemos ignorar
quando estudamos as lesões no desporto. Acerca deste parâmetro, Mechelen e
colaboradores (1992) consideraram, fatores como a natureza da lesão, a duração e o
tipo de tratamento, o tempo de paragem e os custos envolvidos para descrever a
gravidade das lesões no futebol.

8 LESÕES DO JOELHO

Do ponto anterior poderá reter-se que, a articulação do joelho é particularmente


vulnerável num desporto como o futebol (Reilly et al. 1996). De facto, as lesões no
joelho contraídas durante o treino ou competição revelam-se frequentes, mas também
de grande gravidade e, em diversos casos, com longos períodos de recuperação e
algumas possibilidades de recidivas.

29
8.1 Aspectos anatómicos e funcionais da articulação

O joelho é uma articulação que, como qualquer outra, estabelece a junção entre
ossos permitindo o movimento dos segmentos corporais. Mais do que uma
articulação, o joelho é um complexo articular constituído por duas articulações
distintas, a articulação pateiofemural, entre a rótula e o fémur, e a articulação
tibiofemural, entre a tíbia e o fémur. Embora ambas as articulações possam ser
atingidas, a verdade é que é a segunda que sofre a maior parte das lesões (Moore et
al. 1994).
As superfícies ósseas articulares são revestidas de cartilagem articular que é
superficialmente lisa e macia para permitir o movimento. Entre as superfícies
articulares existe a cavidade sinovial preenchida por um líquido que lubrifica a
articulação e nutre a cartilagem articular, denominado líquido sinovial (Howe, 1996).
No joelho, a dupla função de estabilidade, por um lado, e mobilidade por outro, é
assegurada por uma complexa interação de ligamentos, cápsulas, cartilagens e
ossos. Esta interação é posta em causa quando ocorre um dano ou lesão de um ou
da combinação de vários componentes, particularmente, a lesão de um dos quatro
principais ligamentos: ligamento cruzado anterior, ligamento cruzado posterior,
ligamento lateral interno e ligamento lateral externo (Howe, 1996).
Situada anteriormente, a rótula atua como proteção de todo este complexo
articular face a traumatismos anteriores. A cartilagem articular da rótula é a mais
densa do corpo humano, o que reflete o seu importante papel no aparelho extensor
do joelho (Marzo et al. 1994). A rótula possui também algumas estruturas
estabilizadoras, como o tendão quadricipital situado superiormente e o tendão
rotuliano situado inferiormente. Lateralmente encontram-se o retináculo lateral e o
músculo vasto lateral, e a nível medial situam-se o retináculo medial e o músculo vasto
medial (Marzo et al. 1994). Importa ainda salientar a presença de duas estruturas
cartilaginosas, medial e lateral, entre as superfícies ósseas articulares (tíbia/fémur),
cujo objetivo é reduzir o impacto das forças de torção e compressão, a que chamamos
meniscos.
Após esta breve referência a algumas considerações anatómicas, será de
referir que outras particularidades deste âmbito serão descritas quando abordarmos
especificamente as lesões no joelho.

30
8.2 Lesões de "overuse" no joelho

"As lesões de 'overuse' no joelho do futebolista são frequentes, porque esta é


uma articulação que participa em quase todos os movimentos e gestos tipicamente
realizados no futebol, como correr, saltar, pontapear a bola, etc."(Pecina et al, 1993).
A literatura apresenta um vasto leque de lesões de 'overuse', contudo, iremos
apenas cingir-nos àquelas que serão mais comuns entre futebolistas.

8.3 Síndroma da bandícula iliotibial (SBI)

Esta é uma lesão de "overuse" provocada pela corrida, mais especificamente


pela repetição excessiva de movimentos de flexão e extensão do joelho. O
consequente estiramento junto ao cóndilo femural lateral gera reações inflamatórias
localizadas. O SBI é uma lesão típica de corredores, mas é também diagnosticada em
praticantes de outras modalidades, como o futebol (Pecina et al. 1993). Caracteriza-
se pela sensação de dor (rubor ou picada) situada lateralmente ao joelho, junto ao
côndilo femural lateral.
Entre os fatores predisponentes contam-se a deficiente flexibilidade dos
músculos abdutores da anca (Ekstrand et al, 1983), os erros de treino ou o deficiente
alinhamento anatómico dos membros. Na verdade, de acordo com Taunton e
colaboradores (1988), o treino desajustado e as mudanças súbitas de intensidade ou
duração de treino predispõem o atleta para a lesão. A hiperpronação do pé e o joelho
varo são alterações anatómicas que também contribuem para o aparecimento deste
síndroma, conjuntamente com o uso de calçado inadequado, ou a prática em
superfícies duras e irregulares.

8.4 Tendinite rotuliana

Uma tendinite é uma inflamação de um tendão que pode ser originada pelo
desgaste provocado pelo uso excessivo, por traumatismos diretos ou por processos
degenerativos inerentes ao próprio tendão (Marzo et al. 1994).
A tendinite rotuliana é uma lesão de "overuse" caracterizada por alterações
patológicas na parte distai do sistema extensor do joelho, mais concretamente, ao
nível do tendão rotuliano. A primeira descrição da tendinite rotuliana data de 1921
31
quando Sinding - Larson e Johansson detectaram alterações patológicas na inserção
proximal do tendão rotuliano. Contudo, só em 1973, Blazina e colaboradores
descreveram detalhadamente o quadro clínico e o tipo de terapia a utilizar,
introduzindo o termo Jumper's knee (joelho do saltador). Esta é uma lesão frequente
em atletas que, nas suas atividades desportivas, desenvolvem uma grande
sobrecarga sobre o aparelho extensor dos joelhos, através de numerosos saltos ou
longos períodos de corrida (Pecina et al. 1993). O síndroma ocorre, basicamente, por
sobrecarga do músculo quadricípites que se contrai excentricamente na fase de
recepção após salto. A tendinite rotuliana é, por vezes, diagnosticada em futebolistas,
muito embora sejam os voleibolistas, basquetebolistas, e saltadores em comprimento
ou altura, quem mais revela este tipo de lesão. O calçado inadequado e as superfícies
duras podem potenciar o aparecimento desta tendinite.

8.5 Tendinite quadricipital

Alterações degenerativas podem ter lugar na inserção do tendão quadricipital


junto ao polo superior da rótula (Marzo et al. 1994). O processo de lesão é semelhante
ao verificado na tendinite rotuliana, contudo, é pouco frequente em atletas jovens.
Com o avanço da idade do atleta, os processos degenerativos são favorecidos
podendo surgir não só a tendinite, como também, a rotura do tendão quadricipital
(Marzo et al. 1994).

8.6 Instabilidade rotuliana

A luxação da rótula representa um sério problema de instabilidade femural.


Surge como resultado de alterações neuromusculares ou laxidez ligamentar
generalizada. A deslocação, que mais frequentemente ocorre no sentido lateral,
poderá ser resultante de um forte traumatismo ou, simplesmente, a partir de um
movimento aparentemente inofensivo. O paciente que sofre de uma luxação da rótula
apercebe-se de que tal realmente aconteceu, descrevendo muitas vezes a situação
como uma "deslocação do joelho" (Marzo et al. 1994).
A sub-luxação da rótula pode ocorrer em ambos os sentidos, como
consequência da hipermobilidade da rótula e da significativa laxidez articular.

32
Pacientes com uma trajetória anormal da rótula durante o movimento de
flexão/extensão do joelho, experimentam uma sensação de instabilidade, uma certa
"cedência do joelho" durante a flexão, provocada pelo deslocamento lateral da rótula.
Os principais indícios da sub-luxação prendem-se com a laxidez ligamentar, o
deficiente alinhamento do membro inferior (joelho valgo ou varo) e uma posição
proximal ou distai da rótula com o membro inferior em repouso (patela alta ou baixa).
Esta patologia está muitas vezes associada a outros problemas como a dor anterior
do joelho (Marzo et al. 1994).

8.7 Bursites

Uma "bolsa serosa" é um saco lubrificado pelo líquido sinovial com a função de
permitir movimentos de uma estrutura sobre a outra. Em geral, situa-se em torno de
articulações e entre estruturas anatómicas móveis, atuando como fator anti-atrito
(Massada, 1985).
Uma bursite é uma inflamação da bolsa sinovial como resposta a
manifestações reumatológicas, causas infecciosas ou como resultado de
traumatismos. A bursite poderá ter uma origem aguda ou crónica, aparecendo na
sequência de micro ou macro traumatismos. As alterações crónicas surgem por
afecção do mecanismo que controla a produção de fluídos, em que as paredes da
bursa se tornam mais densas e espessas, com possíveis calcificações. A título de
exemplo, a bursite pré-patelar, situada na parte frontal do joelho entre a pele e a
superfície óssea da rótula, possibilita o movimento da pele sobre a rótula durante o
movimento de flexão/extensão do joelho. Dada a sua localização esta é a bolsa
sinovial mais exposta a macro traumatismos provocados pelo contato direto com
adversários, postes ou superfície de jogo. Deste modo, desenvolve-se a bursite pré-
patelar também conhecida pelo "joelho da beata" (Massada, 1985).

8.8 Síndroma de hiperpressão externa da rótula

Este síndroma doloroso ocorre nos tecidos moles e resulta de mudanças


adaptativas do retináculo lateral ou, em algumas situações, de alterações na
cartilagem articular da rótula (Marzo et al, 1994). A flexão do joelho promove a tensão

33
sobre as estruturas laterais e pode causar a compressão de pequenos nervos,
resultando em dor (Fulkerson et al. 1985).
Quando este síndroma surge por alterações da cartilagem articular, o paciente
tem tendência a experimentar crepitação com o movimento. O trabalho de
flexibilidade, predominantemente sobre o quadríceps e estruturas laterais, constitui
um importante meio de prevenção. O calçado desportivo deve possuir uma boa
capacidade de absorção dos choques para reduzir a carga compressiva sobre a
articulação patelofemural. Como meio de prevenção, são também utilizadas técnicas
de mobilização da rótula que parecem promover uma certa proteção contrariando o
desenvolvimento deste síndroma. Faltam, no entanto, estudos para demonstrar tal
eficácia (Marzo et al. 1994).

8.9 Desalinhamento rotuliano, condromalácia e gonalgia anterior

Ao nível da articulação patelofemural podemos encontrar algumas lesões


características como o deficiente alinhamento da rótula, a condromalácia e a dor
anterior do joelho. Pecina e colaboradores (1993) consideram não existirem grandes
dúvidas sobre a correlação entre estas lesões no joelho que facilmente se confundem.
O desalinhamento rotuliano surge na sequência de problemas no aparelho
extensor do joelho, com alterações na arquitetura da articulação patelofemural. Larson
(1979) levou a cabo investigações sobre esta matéria e concluiu que, para um
deficiente aparelho extensor do joelho muito contribui o ineficaz funcionamento dos
estabilizadores da rótula e possíveis desvios anatómicos do membro inferior. Segundo
Larson (1979), as alterações do aparelho extensor do joelho devem-se a três fatores
principais: aos distúrbios de relação na articulação patelofemural, às irregularidades
nos estabilizadores da rótula e ao deficiente alinhamento do membro inferior.
Vários autores estudaram as causas que conduzem ao aparecimento da
condromalácia. De acordo com Morscher (1978), a etiologia da condromalácia poderá
ser classificada em seis categorias: (1) traumatismo e sobrecarga mecânica; (2)
variações anatómicas; (3) distúrbios no alinhamento da rótula; (4) alterações no
deslizamento da rótula; (5) modificações na cartilagem; (6) fatores hormonais.
Alguns investigadores depararam com um novo síndroma clínico caracterizado
por dor localizada na parte anterior da rótula, ao qual designaram de gonalgia anterior

34
(Radin, 1985; Dandy, 1986; Fulkerson et al. 1990;). A dor na parte anterior do joelho
pode ser desencadeada por uma excessiva pressão lateral ou por lesão de um tendão,
sendo o rotuliano o mais frequente (Dandy, 1986). As alterações ósseas onde se
incluem as doenças de Osgood - Schlatter e Sinding - Larson - Johansson e as fraturas
da rótula, poderão também estar na base da dor anterior do joelho. De entre vários
outros possíveis fatores causais contam-se as lesões ligamentares, meniscais e
bursites infra patelares (Dandy, 1986).

8.10 Lesões traumáticas no joelho

O problema das lesões no joelho em futebolistas é realmente preocupante, não


só pela sua elevada frequência, mas principalmente pelo significativo grau de
incapacidade que impõe, pelo tempo de inatividade a que obriga e pelo risco em que
permanece a continuidade da carreira do atleta (Lohnes et al. s.d.).
Engstrom e colaboradores (1990) investigaram a incidência e efeitos de lesões
graves no joelho em 64 futebolistas profissionais de elite. Dos atletas estudados, 12
contraíram lesões no joelho das quais resultaram 80 a 348 dias de inatividade, e
destes, 7 evidenciaram rotura dos ligamentos cruzados. Face a estes resultados, os
autores deste estudo concluíram que, entre a totalidade das lesões observadas ao
longo do seu estudo, as lesões no joelho implicavam um período mais longo de
inatividade.
Perante este cenário, a primeira tarefa que se nos apresenta é a de identificar
quais os mecanismos de lesão, ou seja, quais as situações específicas do jogo que
estão na base das graves lesões no joelho. Esta estratégia poderá permitir avançar
com algumas medidas preventivas para contrariar a ocorrência de lesões do joelho.
Relativamente aos mecanismos de lesão diagnosticados no joelho do
futebolista, Aglietti e colaboradores (1994) constataram que uma parte significativa
das lesões no joelho ocorre sem contato físico. Além disso, em cerca de metade das
entorses no joelho, o ligamento cruzado anterior é afetado seguido do ligamento
lateral interno (28%). As lesões do ligamento cruzado posterior e do ligamento lateral
externo são menos frequentes, como menos frequentes são as lesões do menisco
lateral quando comparadas com as lesões do menisco medial (Aglietti et al. 1994).

35
Qualquer das estruturas ligamentares mencionadas pode ser danificada pela
combinação de forças intrínsecas e extrínsecas. Estas forças podem ser oriundas de
agentes externos, como o contato com outro jogador, poste ou outro, que a literatura
vulgarmente classifica de 'lesões de contato', ou por forças geradas pelo próprio atleta,
como uma súbita torção para evitar um adversário ou simplesmente uma contração
muscular súbita e violenta, consideradas 'lesões sem contato' (Moore et al. 1994;
Reilly et al., 1996).
Em seguida iremos atender aos mecanismos de lesão de contato e sem contato
físico, isoladamente.

8.11 "Lesões de contato"

As lesões de contato são o resultado da ação de forças externas direcionadas


ao joelho. A posição do joelho e a direção, magnitude e ponto de aplicação da força,
irão determinar que estruturas do joelho serão afetadas. Todos estes fatores
acrescidos dos níveis de força e flexibilidade dos tecidos envolvidos, irão concorrer
para a gravidade do dano provocado nas estruturas internas e envolventes ao joelho
(Moore et al. 1994).
Uma das mais comuns lesões do joelho é a rotura do ligamento lateral interno
(LLI). Esta lesão ocorre tipicamente por ação de uma força valgisante, ou seja,
aplicada lateralmente sobre o joelho, quando o atleta possui o pé fixo no solo e o
joelho em extensão ou perto dela. Deste modo, um choque sobre a parte externa do
joelho, forçará a articulação a ceder internamente (sub-luxação em valgo) danificando
o LLI (Reilly et al. 1996). O LLI e a cápsula medial são as primeiras estruturas a
romper, mas se a força for realmente elevada, seguir-se- ao ligamento cruzado
anterior e o menisco interno. Com o joelho próximo da extensão completa, também o
ligamento cruzado posterior poderá ser afetado (Moore et al. 1994).
Pelo contrário, uma força variante, isto é, aplicada sobre a região medial do
joelho, provoca consequências semelhantes, mas noutras estruturas. O ligamento
lateral externo, a cápsula lateral e, em situações mais graves, os ligamentos cruzados
e menisco externo serão afetados. Este mecanismo de lesão é muito menos frequente
dado que a região medial do joelho está parcialmente protegida pelo membro inferior
oposto (Moore et al. 1994; Reilly et al, 1996). Muito embora estes mecanismos de

36
lesão possam ocorrer em diversas ocasiões no futebol, Reilly e Howe (1996) referem
que é em situações de jogo como no tackle (carrinho) que o risco de lesão aumenta.
A lesão dos ligamentos cruzados anterior e posterior poderá ocorrer em
situações de contato ou sem contato. Ekstrand e Gillquist (1983) defendem que a
lesão do LCA surge mais frequentemente por contato (60%) que em situações sem
contato (40%). Contrariamente, os resultados encontrados por Feagin e
colaboradores (1985) revelam que as lesões do LCA surgem predominantemente em
situações sem contato físico. Para aumentar a controvérsia de resultados, Cross
(1998) constatou que o número de lesões do LCA sem contato é sensivelmente
idêntico ao observado em situações de contato.
O mecanismo de lesão do LCA com contato resulta da hiperextensão do joelho
e rotação externa (Ekstrand et al. 1983). Moore e colaboradores (1994) consideram
que o LCA poderá ser atingido conjuntamente com outras estruturas, mas também,
de forma isolada. Johnson e colaboradores (1993) acrescentam outros possíveis
mecanismos de lesão do LCA para além da hiperextensão e rotação externa, como a
desaceleração com o joelho em flexão e o stress varus com o joelho flectido.
O ligamento cruzado posterior (LCP) poderá igualmente ser danificado por
mecanismos de contato. A lesão deste ligamento é menos frequente mas poderá
surgir com a hiperextensão do joelho, com uma força sobre a parte anterior da tíbia
quando o joelho se encontra em flexão, ou numa recepção após salto com o joelho a
90° da flexão (Moore et al. 1994; Tucker, 1997). Será importante salientar nesta altura
que a principal função do ligamento cruzado posterior é impedir o deslocamento
posterior da tíbia em relação ao fémur (Reilly et al., 1996), função esta que é posta
em causa quando a tíbia sofre um traumatismo no sentido anteroposterior.

8.12 "Lesões sem contato"

O mecanismo de lesão sem contato afetando os ligamentos da articulação do


joelho é também frequente no futebol. Ocorre, fundamentalmente, nas mudanças de
direção quando se verifica a combinação entre a desaceleração do quadricípites e
uma força valgus com rotação externa e ligeira flexão do joelho (Zarins et al. 1985). O
atleta sente normalmente um "pop" e percebe o joelho como se estivesse
momentaneamente "fora do lugar", devido à rotura de um ou mais ligamentos. Na

37
verdade, este será talvez o principal mecanismo de lesão isolada do LCA. O drible,
conjuntamente com o tackle (carrinho) e a mudança de direção constituem momentos
específicos onde poderá ocorrer uma rotura do LCA.
Situações em que se verifica uma hiperextensão do joelho podem traduzir-se
em rotura dos ligamentos cruzados, como acontece quando o atleta dá um passo em
falso. Uma recepção ao solo após salto realizada de forma descontrolada surge
também referenciada como possível mecanismo de lesão dos ligamentos cruzados
(Moore et al. 1994). Em suma, alguns mecanismos de lesão subjacentes a técnicas
desportivas estão perfeitamente identificados entre os quais salientamos: (I)
movimentos de desaceleração com mudança de direção em que o joelho se aproxima
da extensão, o que sucede por exemplo na tentativa de o atacante iludir o defesa com
uma rápida mudança de direção; (II) recepção ao solo após salto com os membros
inferiores em extensão, ou seja, sem amortecimento da queda por parte dos joelhos,
como pode ocorrer após um cabeceamento sem controlo do salto; (III) paragem num
só apoio, isto é, o atleta tenta parar e mudar de direção num só apoio, o que surge
por exemplo quando o defesa se aproxima do jogador com bola, para rapidamente
num apoio e então tenta mudar de direção reagindo ao movimento do atacante
(Henning et al., 1994). Eis-nos perante alguns movimentos particulares, realizados ao
longo do jogo, que acarretam um risco mais elevado de lesão do ligamento cruzado
anterior e, como tal, devem ser tidos em consideração.
Podemos constatar deste modo, que vários são os mecanismos de lesão do
joelho afetando os seus ligamentos principais, envolvendo situações onde se observa
contato físico, mas também, movimentos realizados pelo próprio atleta sem qualquer
ação de forças externas.

9 LESÕES NA COXA

Tal como foi possível constatar quando nos referimos às lesões no futebol (cf.
ponto 1), a coxa é uma das regiões anatómicas com maior susceptibilidade à lesão.
Em estudos desenvolvidos com cerca de 1200 atletas de várias modalidades
desportivas, Massada (1989) verificou que a coxa é a região anatómica mais
frequentemente lesada, fundamentalmente através de lesões no quadríceps e
isquiotibiais.

38
Em seguida, analisaremos alguns estudos em que as lesões na coxa são
referidas. Serão focados os aspectos anatómicos e funcionais, bem como, o tipo de
lesões mais frequentes no futebolista. Atendendo ao importante papel que
desempenham quer no movimento quer na estabilidade da articulação do joelho e à
elevada incidência de lesões, os músculos isquiotibiais e do quadríceps irão ser alvo
preferencial da nossa atenção.

9.1 Considerações anatómicas e funcionais

As lesões musculares em futebolistas ocorrem frequentemente no membro


inferior e, de modo particular na coxa (Massada, 1989). Este último autor refere que,
à exceção dos músculos adutores, os músculos de maior vulnerabilidade são bi
articulares, isto é, atuam em duas articulações, tal como sucede com o quadríceps e
com os isquiotibiais nas articulações da anca e joelho.
O quadríceps é constituído por quatro componentes musculares: reto femural,
vasto interno, vasto externo e vasto intermédio. A sua função é permitir a extensão do
joelho. O reto femoral é um músculo bi articular tendo também por função a flexão da
anca.
O bíceps femoral, o semimembranoso e semitendinoso compõem o grupo dos
isquiotibiais que se estende desde a articulação da anca até ao joelho, sendo assim
músculos bi articulares que promovem a flexão do joelho e a extensão da anca.
Os músculos adutores, tal como o próprio nome indica, efetuam a adução da
anca, podendo também contribuir para a flexão e rotação da anca. No futebol, estes
músculos possibilitam movimentos como a corrida lateral ou o passe com a parte
interna do pé (Howe, 1996).
Passaremos a analisar a preponderância dos músculos quadríceps e
isquiotibiais na realização de alguns movimentos desportivos típicos do futebolista.

9.2 Corrida

O deslocamento no espaço de jogo através da corrida é, sem dúvida, um dos


comportamentos mais observados no futebolista em competição. Os jogadores de
futebol percorrem em média distâncias superiores a 10 km por jogo (Ekblom, 1994).

39
A corrida pode ser dividida em duas fases, a fase de apoio ou suporte que
ocorre quando o pé está em contato com o solo, e a fase de suspensão que se verifica
quando tal não acontece (Howe, 1996).
Ao iniciar a fase de suspensão, o pé deixa o contato com o solo e as
articulações da anca e joelho estão em extensão. Neste momento, os músculos
isquiotibiais assumem um papel importante na extensão da anca. A recuperação da
perna é conseguida, não só pela ação dos músculos isquiotibiais na flexão do joelho,
mas também, pela ação do quadríceps na flexão da anca.
Na preparação para o contato com o solo, a anca está flectida e o joelho em
ligeira flexão. Então, a extensão da anca e joelho é possibilitada pela ação dos
isquiotibiais e quadríceps, respectivamente. Estes grupos musculares asseguram a
estabilidade do joelho quando o peso do corpo do atleta se encontra sobre o membro
inferior de apoio. Finalmente, o pé prepara-se para deixar o solo e termina a fase de
apoio para, ciclicamente, se iniciar uma nova fase de suspensão (Howe, 1996).
Massada (1989) refere que quando se observa a ação dos músculos
isquiotibiais e do quadríceps em corrida, podemos presenciar verdadeiros fenómenos
paradoxais. Assim, ao atuar em duas articulações distintas, a sua contração possibilita
uma ação que é requisitada para o movimento, enquanto a outra contraria a função
desejada (Paradoxo de Lombard). Por exemplo, quando se pretende a extensão do
joelho e da anca solicitam-se os músculos quadríceps e isquiotibiais, contudo, a
mesma solicitação permite a flexão do joelho e da anca, o que contraria a função
desejada.
Parte da explicação para este facto poderá ser fornecida por Yamamoto (1993)
quando refere que o trabalho dos músculos isquiotibiais é muito complexo do ponto
de vista mecânico e fisiológico devido ao movimento de duas articulações distintas, à
diferente estimulação nervosa e à diferente coordenação muscular.
Face ao exposto anteriormente, será de salientar o importante papel
desempenhado pelos grupos musculares quadríceps e isquiotibiais na corrida, e desta
no desempenho global do futebolista.

40
9.3 Contato com a bola (pontapé)

Existem variadas formas de contatar a bola com o pé. As partes medial e lateral
são geralmente utilizadas para realizar passes curtos e exatos. O "peito do pé" é a
zona preferencial de contato com a bola onde a potência é determinante, como nos
passes longos ou remates (Lohnes era/. s.d.). Um forte contato sobre a bola poderá
promover uma aceleração superior a 120 km/h (Keller et al. 1987). Lohnes e
colaboradores (s.d.) consideram que o típico contato do "peito do pé" com a bola,
possui três fases principais: (i) aproximação, (ii) contato e (iii) pós-contato.
Após a preparação do pontapé em que o membro inferior se desloca para trás
através da ação dos músculos isquiotibiais na extensão da anca e flexão do joelho, a
fase de aproximação ocorre pela flexão da anca levada a cabo pelos músculos da
face anterior da coxa. Posteriormente, verifica-se uma desaceleração da coxa
controlada pela ação dos isquiotibiais e uma forte extensão do joelho através da ação
do quadríceps (Howe, 1996).
Para além das forças exercidas sobre a coxa e abdómen, o jogador de futebol,
e especificamente o seu joelho, terá de resistir a fortes forças rotacionais e
translacionais (Lohnes et al. s.d.). Segundo estudos desenvolvidos por Gainor e
colaboradores (1978) a máxima energia cinética gerada pelo gesto é estimada em
2000 N (força suficiente para fraturar um fémur). Contudo, apenas 15% desta força é
transmitida à bola, sendo a restante absorvida pelo membro inferior do atleta, em
particular, pelos músculos da região posterior da coxa que se contraem
excentricamente nesta fase. É aqui que reside a explicação para a vulnerabilidade
acrescida dos músculos isquiotibiais na realização de um potente pontapé sobre a
bola. O contato acidental com o solo ou com a perna de outro jogador gera uma carga
de impacto adicional e retarda a dissipação de forças, ultrapassando os limites de
tolerância de forças, da qual podem resultar fraturas ósseas ou roturas musculares
(Lohnes et al., s.d.).

9.4 Salto e cabeceamento

Saltar para cabecear, controlar ou agarrar a bola (guarda redes) é da maior


importância no futebol. O salto pode ocorrer a partir da posição de parado ou em
corrida, com impulsão num membro ou através de ambos. Inicialmente observa-se um
41
abaixamento do centro de massa, controlado pela ação excêntrica dos músculos
quadríceps e isquiotibiais. Em seguida, verificam-se potentes contrações dos mesmos
grupos musculares ao elevar o centro de massa pela extensão da anca e joelhos
(Howe, 1996). A recepção ao solo não é menos importante e procura controlar o peso
corporal na queda. Basicamente, são processadas novas contrações excêntricas do
quadríceps e isquiotibiais para desacelerar a ação, absorver as forças de impacto com
o solo e reduzir o risco de lesão (Howe, 1996).

10 TIPO DE LESÕES NA COXA

O jogador de futebol poderá contrair diversas lesões na coxa. As contusões


seguidas de possíveis complicações como a miosite ossificante e o síndroma de
compartimento muscular, são habitualmente referidas como frequentes entre
futebolistas, a par das roturas musculares. É sobre estas lesões que, de modo sucinto,
iremos expor a seguir.

10.1 Contusões

As contusões estão entre as lesões mais comuns no futebol (Lindenfeld et al.


1994). Habitualmente ocorrem por contato com diferentes partes do corpo de outro
atleta como o joelho, o pé ou o cotovelo (Tucker, 1997). Estas lesões são normalmente
de gravidade menor e traduzem-se em pouco tempo de inatividade (Lohnes et al, s.d.),
no entanto, outras há que podem trazer complicações pela magnitude do traumatismo
sofrido. O uso de caneleiras tem contribuído para reduzir a incidência de contusões
na perna, mas tal não se verifica em relação à coxa.
Em situações de maior gravidade do traumatismo, as contusões podem resultar
em complicações como o síndroma de compartimento muscular e a miosite ossifiante
(Lohnes et al, s.d.).
O síndroma de compartimento muscular é uma complicação da contusão que
surge pelo aumento de pressão dentro de um espaço parcialmente fechado, causando
hipóxia tecidular, isquemia muscular e danos nervosos. Com a elevada pressão local,
o fluxo capilar é comprometido. A duração deste compromisso é particularmente
crítica. Pois, se até 30 minutos a recuperação é total, após 6 horas a reversibilidade é

42
apenas parcial e, daí por diante, poderá ocorrer a morte celular permanente. Em
situações de maior gravidade está aconselhado o tratamento cirúrgico.
A miosite ossificante é outra lesão que pode surgir de uma contusão muscular
profunda, principalmente na parte anterior da coxa (Lennox, 1993). Walton e Rotwell
(1983) sugerem que o desenvolvimento de miosite ossificante após um traumatismo
resulta de uma deficiente transferência de forças nas camadas musculares mais
profundas. A massagem após a contusão pode facilitar esta situação e agravar um
problema já existente, pelo que, é absolutamente desaconselhada (Lohnes et al., s.d.).

10.2 Roturas musculares

A rotura muscular é definida como uma solução de continuidade das fibras


musculares desencadeada pela ação de um esforço mecânico que ultrapassa os
limites da resistência elástica (Massada, 1989). Embora as pequenas roturas possam
ser ignoradas, a verdade é que noutros casos, podem tornar-se crónicas, redicivantes
e quase indiferentes ao tratamento (Lohnes et al., s.d.). Massada (1989) refere que
quando a unidade músculo-tendinosa é submetida a esforços mecânicos de grande
intensidade, ou à repetição sucessiva e prolongada de esforços de intensidade média,
poderá verificar-se a cedência no ponto de maior fragilidade mecânica. A localização
deste ponto poderá variar com a idade do atleta, a intensidade da força e as
características do tecido muscular. Lohnes e colaboradores (s.d.) consideram que as
roturas musculares ocorrem tipicamente quando músculos bi articulares sofrem
cargas excêntricas. Além disso, uma elevada percentagem de roturas musculares
surge nas fibras musculares rápidas, tipo II, com a lesão a situar-se na junção
miotendinosa (Massada, 1989).
Com efeito, Reilly e Howe (1996) defendem que é por ação de forças súbitas
de estiramento muscular, na tentativa de acelerar, travar, mudar de direção ou
estender o membro inferior para alcançar a bola, que as roturas musculares dos
isquiotibiais ocorrem. Lesões no quadríceps podem resultar de movimentos
explosivos, como a hiperextensão violenta contrariada do joelho, ou por ação de um
alongamento durante uma contração excêntrica (Massada, 1989). O remate e o tackle
(carrinho) são duas situações privilegiadas para a ocorrência de lesões no quadríceps
(Reilly et al, 1996).

43
Muito embora os músculos adutores não sejam bi articulares, os constantes
movimentos laterais e diagonais, por vezes associados a acelerações ou travagens
típicas do futebol, solicitam uma grande participação deste grupo muscular e explicam
em parte a grande incidência de lesões a este nível (Reilly et al. 1996). Massada
(1989) constatou ainda que as lesões musculares do quadríceps são mais frequentes
entre futebolistas amadores, enquanto os profissionais contraem maior número de
lesões nos isquiotibiais.
Roturas dos isquiotibiais, quadríceps e adutores são comuns em futebolistas e
resultam em longos períodos de recuperação e inatividade. Avanços recentes no
conhecimento destas lesões têm contribuído para um tratamento e prevenção mais
efetivos (Lohnes et al. s.d.).

11 PREVENÇÃO DE LESÕES NO FUTEBOL

Até ao momento, procurámos analisar a incidência, tipo e localização das


lesões no futebol bem como os mecanismos que lhes estão subjacentes. Uma
atenção especial foi dispensada às lesões do joelho e da coxa pela preocupante
frequência e gravidade com que ocorrem no futebol.
Neste momento, propomo-nos identificar alguns fatores de risco associados às
principais lesões do futebolista para, no final, concluirmos este capítulo com algumas
medidas preventivas e estratégias a adoptar no sentido de contrariar a forte tendência
para o aparecimento de lesões no futebol.

11.1 Principais fatores de risco

Como qualquer atividade desportiva diária, o futebol possui risco de lesão. O


risco é expresso pela incidência que não é mais que o número de novos casos de
lesão surgidos numa dada população e por um certo período de tempo (Fletcher et al,
1992). O elevado risco de lesão no futebol varia entre países de acordo com as
diferenças de popularidade e as características de jogo (Pritchett, 1981). Por exemplo,
nos Estados Unidos o futebol americano possui um risco de lesão muito superior ao
futebol (soccer), não só pelas suas características, como também pela sua elevada
popularidade. Por outro lado, o risco de lesão pode variar com a posição do jogador,

44
o tempo de jogo, a natureza do esforço em causa (Inklaar, 1994), o nível competitivo
(Nielson et al. 1989; Aglietti et al, 1994) e momento da época desportiva (Ekstrand et
al, 1983; Agliettiefa/. 1994).
A etiologia das lesões no futebol é muitas vezes multifatorial (Ekstrand et al,
1983) e resulta da complexa interação dos vários fatores de risco (Inklaar, 1994).
Existe um consenso generalizado sobre a classificação dos vários fatores de risco em
duas categorias: (i) os fatores de risco intrínsecos que são inerentes às características
do próprio indivíduo e (ii) os fatores de risco extrínsecos relacionados com o tipo de
atividade desportiva, condições exteriores e equipamentos (Inklaar, 1994; Larson et
al., 1996).

11.2 Fatores de risco intrínsecos

Os fatores de risco intrínsecos são frequentemente identificados com a falta de


flexibilidade articular, a laxidez ligamentar, a reduzida elasticidade muscular, a
instabilidade funcional, as lesões anteriores com inadequada reabilitação (Inklaar,
1994), as alterações anatómicas e biomecânicas (Reilly et al., 1996) e os
desequilíbrios musculares (Ekstrand et al., 1983; Yamamoto,1993; Kellis et al., 1997;
Aagaard et al., 1998; Gleeson et al., 1998).
Ekstrand e Gillquist (1983) realizaram um estudo com 180 futebolistas seniores
amadores e demonstraram a existência de uma correlação positiva entre a falta de
elasticidade muscular e o aparecimento de roturas musculares e tendinites.
Provavelmente, esta falta de elasticidade muscular será consequência do esforço
típico que o futebol exerce sobre o desenvolvimento da força e potência musculares
e da pouca atenção que por vezes é dispensada ao treino da flexibilidade. Lesões
musculares anteriores também podem provocar a falta de elasticidade muscular
(Inklaar, 1994). Ekstrand e Gillquist (1983) verificaram ainda que futebolistas seniores
amadores, em geral, evidenciam menores níveis de flexibilidade articular quando
comparados com sedentários.
A história clínica constitui, por si só, um importante fator de risco. Atletas que
sofreram determinada lesão apresentam um risco superior de se voltarem a lesionar
(Larson et al. 1996). Relativamente à entorse do tornozelo, Nielsen e colaboradores
(1989) constataram que 56% destas lesões são redicivantes. Ao analisar o

45
mecanismo de lesão, Nielsen e colaboradores (1989) verificaram que 80% dos atletas
tiveram a primeira entorse da tibiotarsica ao realizar um tackle (carrinho) e que todos
os casos de entorse do tornozelo provocados pela corrida eram redicivantes.
No que se refere à entorse do joelho, Ekstrand e Gillquist (1983) verificaram
que atletas que haviam sofrido de entorse sem contato físico padeciam mais
frequentemente de entorse no joelho com instabilidade mecânica residual, quando
comparados com atletas lesionados durante colisões. A instabilidade mecânica e
funcional predispõe o atleta para a entorse do joelho e tornozelo (Inklaar, 1994), o que
significa que atletas com entorse prévia possuem um risco acrescido de contrair novas
entorses (recidivas).
Não apenas as entorses articulares, mas também as roturas musculares
possuem um elevado risco de recidivas. Deste modo, a reabilitação assume um papel
particularmente importante na recuperação do atleta, dado que, uma inadequada
reabilitação resulta num importante fator de risco de aparecimento de lesões
redicivantes.
A par da reduzida flexibilidade articular já referida e do inadequado
"aquecimento", os desequilíbrios de força muscular constituem um forte fator de risco
de lesão na coxa (Poulmedis, 1988; Yamamoto, 1993). As fragilidades musculares,
principalmente ao nível dos músculos isquiotibiais, são um importante fator de risco
de lesão nesse grupo muscular e na articulação do joelho, como veremos adiante.
Ekstrand e Gillquist (1983) ao submeter 180 futebolistas seniores amadores ao
teste isocinético, verificaram que os atletas que haviam sofrido de lesões no joelho
sem contato físico denotavam reduzidos níveis de força de extensão do joelho
comparativamente a atletas não lesionados (p< 0.05). Com efeito, a falta de força
muscular capaz de gerar desequilíbrios bilaterais ou a alteração da relação
flexores/extensores do joelho, aumenta o risco de o atleta se lesionar no joelho ou na
coxa. Na detecção e diagnóstico destes desequilíbrios e fragilidades musculares, o
dinamómetro isocinético apresentasse como um instrumento fundamental (Kannus et
al. 1990).

46
11.3 Fatores de risco extrínsecos

Os fatores de risco extrínsecos são responsáveis por uma percentagem


significativa de lesões no futebol (Inklaar, 1994) e, como tal, não devem ser ignorados
por atletas e treinadores. A carga de treino é um importante fator que poderá
incrementar ou reduzir o risco de lesão consoante o modo como é ministrada.
Ekstrand e Gillquist (1983) concluíram que equipas com um nível de treino inferior
apresentavam um aumento do número de lesões com o incremento do volume e
intensidade de treino, contrariamente ás equipas de nível de treino superior. Além
disso, Reilly e Howe (1996) consideram que incrementos súbitos na duração e
intensidade de treino, excessivas sessões de treino ou inadequado aquecimento
muscular, constituem erros de treino que podem potenciar o aparecimento de lesões
no futebolista.
Outros estudos concluíram que atletas pertencentes a equipas com uma
elevada relação jogo/treino estão mais vulneráveis à lesão (Ekstrand e Gillquist,
1983). Está elevada relação pode resultar de uma grande sobrecarga de jogos,
provocada por exemplo pela participação em várias competições oficiais ou, pelo
défice de preparação e prática que limita a condição física do atleta. Ou seja, a elevada
frequência de jogos por um lado, ou o destreino por outro, são aspectos que podem
agravar o risco de lesão entre futebolistas. Deste modo, a quantidade e qualidade de
treino parecem ser importantes, não apenas para o sucesso de uma equipa de futebol,
mas também, para a prevenção de lesões.
O calçado desportivo e o terreno de jogo são normalmente referidos como
fatores dê risco extrínsecos de grande importância (Ekstrand, 1982; Larson et al.
1996; Reilly et al. 1996). Do calçado desportivo pretende-se que, para além do
conforto, comodidade e performance, possua boas qualidades de absorção de
choques no contato com o solo. O terreno de jogo quando se apresenta duro e
irregular, não só limita a performance dos atletas, como pode igualmente contribuir
para uma maior incidência de lesões (Inklaar, 1994; Larson et al. 1996; Reilly et al.
1996).
As regras de jogo, ao condicionar o comportamento dos atletas, são também
apontadas como fator de risco extrínseco (Weaver et al., 1996). A proibição do uso do
cotovelo nas disputas de bola na 1a Liga inglesa e do tackle (carrinho) por trás no
Campeonato do Mundo em 1994 são exemplos de como as alterações
47
regulamentares procuram ter em consideração a integridade física dos praticantes. A
obrigatoriedade do uso de caneleiras para proteção de colisões com outros atletas
sustenta a preocupação anterior (Reilly et al. 1996).
Em suma, existe um conjunto de fatores que podem fazer perigar a integridade
física dos atletas. O seu conhecimento por parte de treinadores e atletas poderá levar
à adopção de algumas medidas preventivas capazes de reduzir a incidência e
gravidade de lesões no futebol.

11.4 Medidas Preventivas

É mais fácil prevenir que recuperar, como tal, as preocupações devem incidir
sobre a prevenção de lesões. O treino deve ser o principal meio de prevenção de
lesões (Larson et al. 1996). A falta de treino é, por si só, um fator de risco de lesão ao
limitar as capacidades físicas do atleta. Reduzidos níveis de força e flexibilidade são
aspectos que conduzem frequentemente a lesões e, como tal, devem ser contrariadas
no treino. Graves lesões no joelho poderão ser evitadas recuperando a estabilidade
articular, e reforçando adequada e equilibradamente as estruturas musculares
envolventes, concretamente os músculos do quadríceps e isquiotibiais.
As lesões no ligamento cruzado anterior poderão ser contrariadas, segundo
Henning e colaboradores (1994) desenvolvendo no treino técnicas de corrida,
desaceleração, mudanças de direção, impulsão para salto e recepção ao solo
adequadas. As lesões na coxa estão especificamente associadas à falta de
"aquecimento muscular" e reduzidos índices de flexibilidade (Ekstrand et al. 1983;
Larson et al., 1996). A rotura do reto anterior acontece, não raras vezes, na realização
de fortes remates sem adequada ativação muscular (Larson et al., 1996). Estudos
experimentais em modelos animais revelaram que músculos previamente ativados
podem absorver mais energia antes de ultrapassar o limite da sua capacidade,
relativamente a músculos inativos (Safran et al. 1988). Ou seja, após aquecimento
muscular é necessária uma carga superior para provocar uma rotura muscular.
De igual modo, os desequilíbrios musculares bilaterais e recíprocos são um
forte fator de risco de lesão e, como tal, devem ser contrariados através de programas
adequados de reforço muscular das estruturas fragilizadas. Neste âmbito, a
informação proveniente da avaliação em dinamómetro isocinético reveste-se de

48
grande importância na prevenção de lesões no futebol. Perfis de força angular
poderão ser determinados a partir da avaliação de força isocinética, não obstante a
importância do movimento em toda a sua extensão (Perrin, 1993). A reabilitação,
muitas vezes inadequada e responsável por recidivas, sai também favorecida com o
uso deste dinamómetro de força, ao permitir o reforço muscular de ângulos articulares
específicos de força reduzida (Reilly et al. 1996). Ekstrand (1994) referiu-se à
preponderância da avaliação de força máxima a partir de um dinamómetro isocinético,
com especial atenção para os músculos extensores e flexores do joelho.3

3 TEXTO EXTRAÍDO DO SITE: https://repositorio-aberto.up.pt


49
BIBLIOGRAFIA

ALENCAR, R. Futebol – preparação física e treinamento técnico-tático.


rubioalencar.blog.uol.com.br, 2009.

GUERRA, I. LEITE, T. B. Ciência do Futebol. 2004

AMADIO, A.C; SERRÃO, J.C. Contextualização da biomecânica para a


investigação do movimento: fundamentos, métodos e aplicações para análise
da técnica esportiva. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo,
v.21, p.61-85, dez. 2007.

NOZAKI, H. T. Biomecânica. In: GONZÁLEZ, F. J.; FENSTERSEIFER, P. E. (orgs.).


Dicionário crítico de Educação Física. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.

VEIGA, Paulo Henrique Altran; DAHER, Carla Raquel Melo; MORAIS, Maria Fernanda
Fernandes. Alterações posturais e flexibilidade da cadeia posterior nas lesões
em Atletas de futebol de campo. Ver. Bras. Ciênc. Esporte, 2011.

TAGLIARI, Carla Cristina. A utilização aguda de dicas na performance no chute


de precisão no futebol. Curitiba: UFPR. 2009.

SOUSA J.P., CABRI J., DONAGHY M. Case research in sports physiotherapy: A


review of studies. Literature review. Physical Therapy in Sport 2007;

SARAIVA, M.C. Manual de técnicas quiropráticas. 2º Ed, Novo Hamburgo: Feevale,


2006.

SANTOS, Gustavo Amon Abreu; SANDOVAL, Renato Alves. Perfil epidemiológico


dos atletas profissionais do Vila Nova Futebol Clube no campeonato brasileiro
série B 2010. Rev. Digital Buenos Aires, Ano 16, n 163, 2011. Disponível em:
http://www.efdeportes.com/efd163/perfil-epidemiologico-dos-atletas-do-futebol.htm.
Acesso em: 10 de Abril de 2013.

PERRIN, D. H. Bandagens Funcionais e Órteses Esportivas. 2. ed. Porto Alegre,


RS: Artmed, 2008.

RABELO, Renata. A pelve. Salvador, 2012. Disponível em:


http://fisioviver.blogspot.com.br/. Acesso em 15 de Maio de 2013.
50

Você também pode gostar