Você está na página 1de 4

Sucessões

A constituiçã o resguarda direitos e proteçã o à vida, inclusive, os de vida uterina,


diante disso o doutrinador Alexandre de Moraes conceitua que “o direito à vida é o mais
fundamental de todos os direitos, já que constitui-se em pré-requisito a existência e
exercício de todos os demais direitos. A Constituiçã o Federal, é importante ressaltar,
protege a vida de forma geral, inclusive a uterina.”( MORAES, Alexandre de, Direito
Constitucional, 2000, p. 61).
A vida se inicia com a fecundaçã o, e apó s é tutelada pela lei reguladora. A tutela dá-
se a partir da concepçã o e tergiversaçõ es humanas, pois aquele feixe de luz, o embriã o, ali
depositado é um ser humano em formaçã o. Assim, ao ter a concepçã o aquela vida que se
inicia é uma criança sem total formaçã o bioló gica, um ser passível de experimentos e
extermínios, porque ainda nã o se construiu um ser adulto.
Com isso, a vida começa no exato instante da fecundaçã o, todos os atos que seguem
a esse momento, e que possam interromper o processo dessa nova vida humana, é a
destruiçã o de um ser humano, portanto um assassinato. Logo, ao se ter a concepçã o que a
vida nã o se inicia com a fecundaçã o, estará justificando o descarte e destruiçã o dos
embriõ es, e, por enfim, a vida passará a nã o ter mais valor.
A ciência explique que em 15 a 20 horas seguintes à fusã o dos gâmetas o zigoto
humano vai comportar-se como uma célula orientada pela informaçã o genética de que
está dotada no sentido de uma evoluçã o bem definida e precisa. Nos genes dos seus
cromos-somas está inscrito um plano-programa que distingue cada zigoto de todos as
outras células (incluindo as células dos seus progenitores). Neles está incluída a
informaçã o constitutiva de um ser com uma identidade ú nica, existente a partir da fusã o
dos dois gâ metas, que irá desenvolver-se se as condiçõ es ambientais forem. Se assim
acontecer o novo ser prosseguirá o seu destino e irá constituir-se num corpo com as
características somá ticas de uma determinada figura humana no qual todas as células
terã o um padrã o cromossó mico igual ao da célula original. O embriã o humano, logo desde
a fusã o dos gâ metas, nã o é um ser humano potencial. É um ser humano real que iniciou a
sua pró pria existência.
Diante de tais fatos científicos e evolutivos, no Brasil, o Supremo Tribunal Federal
foi chamado a examinar a Lei de Biossegurança (no.11.105/2005) por força de uma ADI
interposta pelo entã o Advogado-Geral da Uniã o, Dr. Cláudio Lemos. Embora a açã o nã o
haja sido julgada, o Ministro Relator
já apresentou o seu voto, com argumentos que, se acatados, trarã o novo rumo para
questõ es como a manipulaçã o dos embriõ es, o marco inicial da vida, a proteçã o
jurídica aos embriõ es. Porém, com as técnicas atuais de manipulaçã o genética, surgem
situaçõ es que nã o se enquadram nas fattispecies previstas pelo Có digo Civil Brasileiro e
que receberam regulamentaçã o incipiente pela Lei de Biossegurança. Questõ es como o
congelamento de embriõ es, estudos científicos e pesquisas com células embrioná rias
ainda nã o causam perplexidades entre os atores sociais e jurídicos brasileiros. A Lei de
Biossegurança dispõ e, sobre a utilizaçã o de células embrioná rias em pesquisas científicas,
mas neste ponto teve a sua validade constitucional questionada.
A reprodução humana assistida tem sido uma biotecnologia muito procurada por
casais com problemas de fertilidade, além de casais homoafetivos e pessoas solteiras que
buscam sua realização na família. O Código Civil informa que o nascimento é o marco inicial da
personalidade jurídica, pondo a salvo os direitos do nascituro deste a concepção como forma
de proteger os interesses da pessoa que está por nascer. Porém, sem a identificação legal ou o
consenso científico sobre o marco da concepção, não haverá tranqüilidade quanto ao início da
proteção que se delibera ao nascituro, especialmente em face dos embriões excedentários,
zigotos compostos in vitro para auxiliar na reprodução artificial sem que hajam sido
implantados no útero materno. A inseminação artificial já é prática corriqueira no Brasil,
embora com uma regulamentação precária. O Código Civil dividiu a fecundação artificial em
homóloga e heteróloga. A primeira refere-seao embrião gerado do espermatozoide e o óvulo
provenientes do casal, que serão pais da criança; já a segunda diz respeito ao embrião gerado
por espermatozoide ou óvulo de terceiro.
Porém, temos que o Código Civil abordou o tema no seu artigo 1.597 que trata da
presunção absoluta de filhos havidos na constância do casamento:

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:

I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência


conjugal;

II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por


morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;

III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;

IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários,


decorrentes de concepção artificial homóloga;

V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização
do marido.(grifo meu)

Mencionado artigo nos dá a interpretação de que há presunção de paternidade ao


marido, enquanto a constância de casamento, em relação aos filhos: nascidos cento e oitenta
dias depois de estabelecida a convivência conjugal; dos nascidos trezentos dias subsequentes à
dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do
casamento; dos havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; os
havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de
concepção artificial homóloga; e, os havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que
tenha prévia autorização do marido, atentamo-nos para os três últimos.

Desta forma, temos que o filho havido de fecundação artificial homóloga é


considerado havido na constância do casamento mesmo que falecido o marido, portanto, filho
legítimo do de cujus.Poderíamos, então, dar interpretação conforme e avocar ao embrião,na a
hipótese de ser concebido após a morte do de cujus,os direitos sucessórios que receberia do
pai, se concebido ao tempo da morte deste,haja vista que a paternidade já está presumida e,
portanto, aplicar-se-á a este os direitos de sucessão, apesar de que, no momento da abertura
da sucessão, o embrião ainda não estava posicionado dentro do útero materno. Ademais
podemos raciocinar que, aqueles que congelam seus espermatozoides ou óvulos com
intenções de fertilização artificial, já têm manifestadas as suas vontades de terem filhos.

Por outro lado temos que, pela sucessão testamentária, poderia a prole eventual,
havida por fecundação artificial ser nomeada para receber herança de seu pai, falecido, desde
que este tenha se posicionado desta forma, expressamente, em testamento, observando,
porém o prazo de dois anos para onascimento do filho, sob pena de seu quinhão hereditário
ser transmitido aos herdeiros legítimos.

De outro modo, quanto a sucessão legítima, se posiciona MARIA HELENA DINIZ que:

“Filho póstumo não possui legitimação para suceder, visto que foi concebido após o
óbito de ser pai genético, e por isso é afastado da sucessão legítima ou ab intestado. Poderia
ser herdeiro por via testamentária, se inequívoca a vontade do doador do sêmen de transmitir
herança ao filho ainda não concebido, manifestada em testamento. Abrir-se-ia a sucessão à
prole eventual do próprio testador, advinda de inseminação homóloga post mortem (LICC,
arts. 4º e5º)”.

O §4º do artigo 1.800 do Código Civil parte da premissa que haveria a implantação do
embrião no útero materno no prazo de dois anos, contando os nove meses para o nascimento.

JOSÉ ROBERTO MOREIRA FILHO:

“Quanto à inseminação post mortem, ou seja, a que se faz quando o sêmen ou óvulo do de
cujus é fertilizado após a sua morte, o direito sucessório fica vedado ao futuro nascituro, por
ter sido a concepção efetivada após a sua morte do de cujus, não havendo, portanto, que se
falar em direitos sucessórios ao ser nascido, tendo em vista que pela atual legislação somente
são legitimados a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da
sucessão”.

Referencias
https://jocianegeraldo.jusbrasil.com.br/artigos/500337195/a-reproducao-humana-assistida-a-
luz-da-bioetica-e-do-biodireito
Eliane Alfradique Juíza de Direito Aposentada Mestre em Direito Público pela UFF/RJ Doutora em
Direito Penal e Processual Penal pela UGF/RJ Consultora Jurídica da Nante Internacional.
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5151

NOTAS SOBRE A NATUREZA JURÍDICA DO EMBRIÃO HUMANO E O MARCO INICIAL DOS


DIREITOS DE PERSONALIDADE Joyceane Bezerra de Menezes. Revista do Curso de Mestrado
em Direito da UFC

https://jus.com.br/artigos/62545/possibilidade-de-reconhecimento-da-vocacao-hereditaria-
ao-embriao-fecundado-post-mortem
http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/ESMP/monografias/dir.familia/
analise.juridica.sobre.direitos.sucessorios.decorrentes.da.inseminacao.artificial.pdf

https://tatyanagurgel.jusbrasil.com.br/artigos/112043363/direito-a-sucessao-legitima-do-
nascituro-concebido-apos-a-morte-do-pai

Você também pode gostar