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• Revolta da Vacina

A Revolta da Vacina foi uma revolta de caráter popular que aconteceu no


Rio de Janeiro, em 1904. Sua motivação foi a insatisfação da população com a
campanha de vacinação obrigatória contra a varíola implantada na cidade por
meio de Oswaldo Cruz. Houve grande destruição material na cidade e saldo de
31 mortos.

Contexto da Revolta da Vacina

No começo do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, além de capital,


era a maior cidade do Brasil, com uma população em torno de 800 mil
habitantes. O crescimento urbano carioca aconteceu de maneira descontrolada
no final do século XIX, sobretudo depois que a escravidão foi abolida e
a economia cafeeira entrou em decadência naquele estado.
A grande quantidade de pessoas na cidade reforçou a habitação nas
suas regiões centrais, mas, além disso, a cidade era entrada para milhares de
imigrantes e tinha um porto importante em que centenas de embarcações
atracavam. A concentração de pessoas em seus pequenos bairros e o fluxo de
viajantes que passavam pela cidade permitiram que uma série de doenças
ganhassem espaço nela.
A partir da segunda metade do século XIX, doenças como tuberculose,
peste bubônica, febre amarela, cólera, varíola, entre outras, espalhavam-se
frequentemente pela cidade, causando a morte de milhares de pessoas. No
ano de 1891, por exemplo, o Rio de Janeiro tinha sofrido:
• 4454 óbitos causados por febre amarela;
• 3944 óbitos causados por varíola;
• 2235 óbitos causados por malária;
• 2373 óbitos causados por tuberculose.

Esses números repetiam-se ao longo dos anos e deixaram o Rio de Janeiro


com fama de ser uma cidade “pestilenta”, o que afastava estrangeiros e
produzia má impressão em relação ao Brasil internacionalmente. Ao longo do
século XIX, médicos e especialistas debateram medidas sobre como resolver os
problemas sanitários do Rio de Janeiro. Muitos médicos acreditavam que os
males da cidade pelos miasmas emitidos pelos pântanos nos arredores do Rio
de Janeiro. Os miasmas eram basicamente, na visão da medicina da época,
odores pútridos que rodavam os ares do Rio de Janeiro e contaminavam a
população. A quantidade de residências coletivas e as ruas estreitas, além de
geografia da cidade, impediam a circulação de ventos que reduziam os efeitos
desses odores.

Essa teoria, como sabemos, comprovou-se falsa, no entanto, as propostas


de solução dadas pelos que acreditavam nas teorias miasmáticas
permaneceram na mentalidade das elites brasileiras, e ideias de reforma do Rio
de Janeiro ganharam força. Reformas que aconteceram em cidades como Paris
e Buenos Aires serviram de inspiração para o caso carioca. Essas reformas
visavam a um embelezamento e modernização da cidade, além de
promoverem sua gentrificação, expulsando os pobres das regiões centrais e
forçando-os a morar em locais mais afastados do centro. Nesse contexto da
reforma, Rodrigues Alves e Pereira Passos foram duas figuras essenciais.

Reforma do Rio de Janeiro

A ideia de realizar reformas modernizadoras no Rio de Janeiro era


debatida desde o século XIX, mas foi só durante o governo do presidente
Rodrigues Alves que houve possibilidade de levar-se esse projeto em frente.
Durante sua campanha eleitoral, Rodrigues Alves já defendia a necessidade de
reformar o Rio de Janeiro, e quando foi eleito, reforçou esse desejo. Rodrigues
Alves encaminhou o projeto de reforma da cidade para Francisco Pereira
Passos, arquiteto de formação e prefeito do Rio de Janeiro. A reforma do Rio de
Janeiro foi responsável pela demolição de centenas de edifícios, o que fez
com que milhares de pessoas pobres fossem desalojadas de suas casas. O alvo
da reforma foi justamente a região central do Rio de Janeiro, onde havia
inúmeros cortiços, residências coletivas que abrigavam dezenas de pessoas.
Esses locais deram espaço para avenidas largas e para prédios novos e com
arquitetura moderna (para os padrões europeus). Essa população desalojada
ou teve de ir para os subúrbios ou instalou-se nos morros da cidade.

A reforma do Rio de Janeiro não afetou apenas as classes pobres, mas


também grupos que formavam uma espécie de classe média de
comerciantes, que tiveram que adequar seus negócios a novos padrões
impostos pelo governo. A reforma foi conduzida de maneira autoritária, e até
festas tradicionais da cidade sofreram com a repressão policial. Com a reforma
e modernização do Rio de Janeiro estava o projeto sanitarista para erradicar
as doenças que afetavam a população carioca. Esse projeto foi executado
por Oswaldo Cruz, líder da Diretoria Geral de Saúde Pública, a DGSP.

Existem historiadores que sugerem que a insatisfação da população do


Rio de Janeiro iniciou-se com a forma como a reforma foi conduzida, outros
apontam que foi somente a política sanitária implantada por Oswaldo Cruz que
gerou a revolta popular.

Campanha sanitarista
O projeto sanitarista de Oswaldo Cruz focou-se no combate de três
doenças que afetavam o Rio de Janeiro: a varíola, a febre amarela e a peste
bubônica. Para a febre amarela, criaram-se brigadas de mata-mosquitos,
equipes formadas para combater os focos de proliferação do
mosquito Stegomyia fasciata (atual Aedes aegypti). As brigadas de mata-
mosquitos agiam de maneira brusca, invadindo casas para fazer vistorias,
ordenando a realização de reformas, e até propondo
a interdição e demolição de edifícios. No caso da peste bubônica, as equipes
sanitárias incentivavam a população a caçar os ratos e entregá-los em troca de
dinheiro. Por fim, no caso da varíola, a saída encontrada foi a realização de
uma campanha de vacinação obrigatória. O projeto de vacinação foi proposto
em junho de 1904, e, em 31 de outubro, a campanha de vacinação obrigatória
tornou-se lei no Rio de Janeiro. A população demonstrou-se insatisfeita com
essa proposta, e um motim iniciou-se.

Início da Revolta da Vacina


A insatisfação da população do Rio de Janeiro com a vacinação
obrigatória foi muito grande, e um sinal disso foi a criação da Liga Contra a
Vacinação Obrigatória. As motivações para a insatisfação são explicadas de
diferentes formas pelos historiadores. Alguns levantam a questão da violência
pela qual a reforma e a campanha sanitarista estavam sendo realizadas. Outros
levantam a questão da falta de informação da população, que temia os efeitos
da vacina, sobretudo por uma série de boatos que se espalhavam. A situação
ficou ruim quando vazou pela imprensa, em 9 de novembro de 1904, que uma
série de restrições seriam estipuladas em lei para os cidadãos que não se
vacinassem.

A população revoltou-se e foi para as ruas do Rio de Janeiro. O protesto


iniciou-se em 10 de novembro, no Largo do São Francisco, e logo se espalhou
por outras regiões da cidade. O momento mais tenso da revolta foi no dia 13 de
novembro, quando houve confrontos muito violentos dos manifestantes com
a polícia. Houve saques a prédios públicos, vandalismo pela cidade, e até troca
de tiros entre polícia e manifestantes.

Durante a Revolta da Vacina, houve ainda mobilização de trabalhadores


operários e, até mesmo, uma tentativa de golpe militar contra o presidente
Rodrigues Alves, mas esse golpe fracassou. Rodrigues Alves foi aconselhado a
fugir da cidade para proteger-se da multidão e dos golpistas, mas decidiu ficar
no Rio de Janeiro.

Fim da Revolta da Vacina


No dia 16 de novembro, foi decretado estado de sítio, e polícia e o Exército
foram mobilizados para reprimir os manifestantes. A última grande ação policial
deu-se no dia 23 de novembro contra trabalhadores operários mobilizados. Ao
todo, a Revolta da Vacina deixou 31 mortos, 110 feridos, quase mil presos e
quase 500 pessoas degredadas para o Acre.

Por que começaram a fazer a Revolta da Vacina?


O estopim da revolta foi a publicação de um projeto de regulamentação
da aplicação da vacina obrigatória no jornal A Notícia, em 9 de janeiro de
1904. O projeto exigia comprovantes de vacinação para a realização de
matrículas nas escolas, para obtenção de empregos, viagens, hospedagens e
casamentos.

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