Entendendo a

ideia de heresia
no imaginário e na
Igreja medieval

O contexto de
surgimento das
heresias
medievais

A criação do
Tribunal do Santo
Ofício e a atuação
do braço secular
no combate as
heresias

Cátaros e
Valdenses

H E R E S I A S
M E D I E V A I S
O QUE SÃO
HERESIAS
MEDIEVAIS E O
CONTEXTO
HISTÓRICO
LIGADO A ELAS O período da baixa idade média compreende a
maior parte dos casos de heresia e o contexto
A etimologia da palavra heresia vem do grego haíresis
social da época contribuiu significativamente
que significa “escolher”, portanto, o herege
para que isto ocorresse. A sociedade medieval
representaria “aquele que escolhe”. Diferentemente do
passou por um período de Renascimento
pagão que está além da lógica do cristianismo, o
Urbano durante a baixa idade média, com o
herege, segundo o pensamento cristão ortodoxo, é
ressurgimento e crescimento das cidades o que
aquele que, após o batismo, reconhece e escolhe
propiciou um renascimento comercial também,
parte do pensamento cristão, mas nega com
porém não eram só as mercadorias que
persistência outros dogmas do cristianismo.
circulavam nesse período, mas também as
ideias. Aliado ao contexto do Renascimento
É importante perceber que a partir do século XII a
Intelectual do século XII, momento de criação
ideia de heresia está mais estabelecida, isso ocorre por
das Universidades Medievais e de tradução para
se tratar de uma etapa de maior consolidação da
o latim de uma grande quantidade de textos
Igreja no que diz respeito a seus dogmas e formação
árabes, gregos e hebraicos, o renascimento
da ortodoxia cristã, facilitando o julgamento das
urbano propiciou um aumento dos
crenças que fugiam do padrão religioso. Essa
questionamentos a respeito das contradições
consolidação do doxa do cristianismo foi algo
sociais como, por exemplo, a pobreza vivenciada
processual, mas como exemplo de um grande passo
pela plebe enquanto a Igreja esbanjava riqueza e
para tal consolidação pode-se citar o estabelecimento
poder.
do Cânone cristão.

A própria Reforma Gregoriana um século antes

pode ter alimentado pensamentos contra
algumas práticas da Igreja, a medida que dentre
suas pautas propõe de certa modo uma “reforma
moral do clero”, criticando e banindo práticas
como a da “simonia” o ato de vender favores
divinos, bênçãos, cargos eclesiásticos,
prosperidade material, bens espirituais, coisas
sagradas, etc. em troca de dinheiro.
 A MENTALIDADE
MEDIEVAL EM
TORNO DAS
HERESIAS
No que se diz respeito a mentalidade
medieval é interessante analisar a
questão das heresias pensando os
ditames uma sociedade fundada em
um pensamento de guerreiros, pautada
em acordos e fidelidade. Assim como o
contrato vassálico e o juramento do
cavaleiro medieval representam um ato
de fidelidade cujo o descumprimento
seria uma falta grave, o batismo pode
ser interpretado como um juramento
simbólico para com a fé cristã e a
quebra desse juramento representaria
uma heresia e uma infidelidade não só
de ordem religiosa como também
social.
A PRESSÃO SOBRE OS
SENHORES FEUDAIS E
A CRIAÇÃO DO
TRIBUNAL DO SANTO
OFÍCIO
Os séculos XII e XIII poderiam ser chamados os
séculos heréticos, caso pudéssemos olhar a História
de uma época ou período sob um único prisma, ou
seja, a História da Igreja Ocidental (FALBEL, 1976). O
aumento no aparecimento de movimentos
heréticos contribuiu para que a pressão do poder
eclesiástico sobre os senhores feudais também
crescesse, a obrigação desses senhores em ajudar a
Igreja a combater as heresias foi ainda mais
institucionalizada com o IV Concílio de Latrão em
1215 quando uma das pautas abordadas se tratou da
atuação do braço secular no combate aos
movimentos heréticos, sob pena de excomunhão
para aqueles que não colaborassem com a causa.
Em 1229, no Concílio de Toulouse ocorreu a criação,
pelo papa Gregório IX, do Tribunal do Santo Ofício
que seria responsável pela investigação, julgamento
e condenação dos casos de heresia. O Tribunal do
Santo Ofício estava ligado diretamente ao Papa
(Roma) não respondendo aos bispos locais, contudo,
esperava-se uma cooperação mútua entre os
inquisidores papais e os episcopais. Era papel do
Tribunal do Santo Ofício realizar o recolhimento de
depoimentos e os interrogatórios, muitas vezes
utilizando dos conhecidos meios de tortura. Apesar
da maior parte do papel de repressão dos heréticos
ficar a cargo do poder religioso, o braço secular
(Estado) era o responsável por executar as penas
após o julgamento, como as mortes nas fogueiras.
ALGUNS CASOS DE
HERESIA NO SÉCULO
XII: AMAURY DE BÈNE
E PEDRO DE BRUYS
Amaury de Bène foi um teólogo francês, nasceu na
última parte do século 12 em Bene, uma vila na diocese
de Chartres. Ele ensinou filosofia e teologia na
Universidade de Paris. Amaury formulou uma
concepção panteísta segundo a qual não existe um ser
separado do mundo que tenha criado este mundo,
Deus é o mundo. Nessa concepção Deus estaria em
tudo inclusive na matéria, portanto, a inteligência
criadora se confundiria com a coisa criada.
O pensamento de Amaury de Bene foi difundido para
seus discípulos, os amauricianos, mesmo após sua
morte. Os amauricianos se aprofundaram na heresia.
Algumas das doutrinas desse movimento são: a ideia
de uma tríplice encarnação de Deus, primeiro como
pai na figura de Abraão, depois como filho em Cristo e
como o espírito santo em cada crente. Os amauricianos
se opunham as instituições eclesiásticas e negavam os
sacramentos.
A Seita foi descoberta em 1209 e condenada em
concílio em 1210, os membros foram expulsos de suas
ordens religiosas e entregues ao Estado para
queimarem nas figueiras. O corpo de Amaury de Bène
foi desenterrado e também foi reduzido as cinzas. Em
1215 o Concílio de Latrão renovou a condenação dos
amauricianos.
Também no século XII tem-se o caso de Pedro de
Bruys. Nascido em Cantão de Rosans, nos Alpes,
sabe-se que foi padre, mas foi expulso da igreja por
motivos desconhecidos. As ideias difundidas por ele
levaram-no a prisão e a morte.
Dos livros da Bíblia,Pedro de Bruys se atinha aos
evangelhos e colocava em dúvida o Novo
Testamento, desconfiando da autenticidade da
Epístola de São Paulo e de outros apóstolos. Bruys
também entendia que o que constituía a Igreja
eram aqueles que creem nos evangelhos e não as
suas propriedades e bens materiais.
Os seguidores de Bruys, os petrobrusianos,
rejeitavam o batismo das crianças pois ainda não
teriam consciência de sua fé e, portanto, de nada
valeria o batismo, sendo a idade adulta o momento
ideal para que ele ocorresse.
Havia também a rejeição de símbolos do
cristianismo como a cruz pois ela representaria o
"deus morto" e também a rejeição da eucaristia e do
sacrifício da missa pois justificavam que o sangue e o
corpo de Cristo só teriam sido dados uma única vez
durante a última ceia.
 MOVIMENTOS Os perfeitos, que preferiam ser chamados de “bons cristãos”,
recebiam o batismo do espírito, o consolamentum, que era

HERÉTICOS: OS um dos ritos de iniciação para ingressar na seita – com isso é

que se alcançava a condição de “perfeito”. Os crentes
recebiam o consolamentum na hora da morte. Além desse

CÁTAROS
Tudo o que se sabe sobre os Cátaros estão presentes nos manuais
deixados pela Inquisição devido todos os escritos de fonte cátara
terem sido queimados pelos inquisidores. O catarismo surgiu no
final do século IX na França, e está ligado ao pensamento
maniqueísta (religião surgida no século III que mistura
cristianismo, zoroastrismo e gnosticismo), os cátaros desprezam o
corpo e as sensações corporais, pois acreditavam que desse modo
o espírito triunfaria sobre o mundo material.
O nome cátaro vem do grego katharos e significa “puro”. Na
doutrina Cátara existe uma concepção dualista em relação ao
espírito e a matéria. Para os Cátaros, existem dois deuses: um Deus
rito, existia ainda a covenenza, que era um acordo entre a
Igreja Cátara e o crente, no qual este era levado a crer que, na
hora da morte, seria “consolado”.
O Catarismo foi considerado herético e condenado pelo
Concílio Regional de Toulouse em 1119, quando a Igreja
Católica a considerou uma ameaça para a fé e a unidade
cristã. Os cátaros não aceitavam seguir as regras católicas, e
negava seguir o sistema feudal da época. Sendo assim, foi
estabelecida a Cruzada albigense, para combater essa
heresia, que cada vez mais conquistava mais seguidores.
O papa Inocêncio III, decidiu pregar a Cruzada contra os
Albigenses. Levantava-se, então, um grande exército,
comandado por Simão de Montfort, com aproximadamente

bom (criador do plano espiritual) e um Deus mal, Satã, (criador do 100 mil combatentes. A tomada de Béziers foi um grande
mundo material). O homem estaria ligado a estas duas naturezas, massacre. O legado papal não procurou distinguir a
com sua alma sendo prisioneira da matéria, o objetivo do homem população cátara da católica e mandou assassinar a todos,
seria, portanto, purificar-se espiritualmente para se libertar-se do dizendo que “Deus saberia reconhecer os seus”. Os albigenses
mundo material. que conseguiram escapar da França, se refugiaram na Itália,
O Catarismos propagou-se por toda a Europa entre os séculos XI e mas foram descobertos pela Inquisição, resistiram ainda por
XIII. No início do século XIII, essa heresia desenvolveu-se quatro anos até que Montségur, sua última fortaleza, caiu em
principalmente em Languedoc, no sul da França, onde os Cátaros 1244.
passaram a ser chamados também de albigenses, nome derivado
da cidade de Albi, onde vivia considerado número de heréticos
dessa doutrina.
A doutrina cátara contrariava algumas costumes do cristianismo,
especialmente no que diz respeito à volta pobreza. Contestava
também a parte do Antigo Testamento, elaborando uma espécie
de mitologia para substituí-lo, por acreditar que esse era obra do
“mau principio”; quanto ao Novo Testamento, em alguns casos, ele
acabou sendo reescrito, pois, por exemplo, negava-se a
Encarnação, Paixão e a Ressurreição de Jesus.
Quanto à organização da Igreja Cátara, o que se tem
conhecimento é que existiam dois tipos de discípulos, os eleitos ou
perfeitos e os simples crentes. Os primeiros, em pequeno número,
praticavam um ascetismo rigoroso, viviam em mosteiros e
atentavam-se para a filosofia moral do Catarismo: eram contra a
união sexual, já que havia a crença que perpetuar a vida terrena
era uma ilusão satânica, e praticavam jejum absoluto três vezes
por ano. Repugnam tanto o juramento quanto o serviço militar,
pois, para eles deixar-se morrer de fome é a forma perfeita de
cometer suicídio (considerado o ideal da santidade). Os simples
crentes constituíam a grande maioria, tinham regras para jejuar e
eram proibidos de ingerir certos alimentos, como carne, leite e
ovos; não deveriam aspirar ao alto nível, no qual estavam os
“perfeitos”.
MOVIMENTOS Por volta do ano de 1533, os valdenses
aderiram ao movimento calvinista e
passaram a ser protestante, contudo,

HERÉTICOS: mesmo depois disso, sofreram várias

perseguições e em 1545 22 aldeias
valdenses foram totalmente destruídas
com um total de pelo menos 3 mil pessoas
OS VALDENSES mortas. Em 1848 os valdenses foram
libertados pela lei de tolerância religiosa
do Piemonte e hoje aderiram ao
Um dos mais importantes movimentos heréticos movimento ecumênico da unidade das
anticlericais foi o dos valdenses, no reino da igrejas e vivem espalhados pelo mundo:
Borgonha, pertencente ao Império Romano- Vales Alpinos, Piemonte, Lombardia,
Germânico (atual França), entre o final do século Veneza, Nici, Toscana, Roma, Sicília e etc.
XII e início do século XIII. O idealizador do
movimento foi Pedro Valdo ou Valdés, um
mercador lionês que, tal como São Francisco de
Assis, se desfez de todos os seus bens e entregou
aos pobres. Os seus discípulos eram um grupo de
pregadores pobres, na cidade de Lion, e por isso
ficaram conhecidos como “os pobres de Lion”.
A doutrina valdense expressava a opinião de que o
clero se preocupava menos com a religião, do que
com a riqueza e com a posição de destaque que
estava ocupando. Os valdenses sustentavam
algumas práticas e ideias que iam diretamente de
encontro aos dogmas e sacramentos da Igreja
como, por exemplo, confessar seus pecados uns
aos outros, ferindo a doutrina sacramental de que
a confissão só poderia ser feita a um padre
ordenado. Devido a estas contradições com o
pensamento ortodoxo cristão, o poder eclesiástico
declarou o movimento valdense como herético.
Desse modo, os “pobres de Lion” foram
denunciados, e o papa Lúcio III, os condenou no
encontro de Verona, em 1184.
Os valdenses foram expulsos de Lion e chegam às
cidades italianas, a Germânia e a Suíça,
denunciando os erros do clero, sua riqueza e seu
luxo, aproximando seu discurso com o de outros
grupos heréticos como os cátaros, “Os valdenses
diferenciavam-se dos cátaros porque se opunham
ao ascetismo e não tinham um sacerdócio oficial,
embora tivessem uma tríplice hierarquia de
diácono, presbítero e bispo” (João Ribeiro Jr., em
Pequena História das Heresias; 1989). No IV Concílio
de Latrão (1215), foram definitivamente
considerados heréticos.
 REFERÊNCIAS
FALBEL, Nachman. Heresias Medievais. São Paulo: Editora
Perspectiva. Coleção Kronos, n° 9, 1977, 117 pp.

WIKIPEDIA. Catarismo. Disponível em:.

<http://pt.wikipedia.org/wiki/catarismo>. Acesso em: 06 de
setembros de 2021.

WIKIPEDIA. Valdenses. Disponível em<

https://pt.wikipedia.org/wiki/Valdenses>. Acesso em: 06 de
setembros de 2021.

História Online RV, Aula 9 - História Medieval II - Heresias Medievais

#1. Youtube. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?
v=Baczscl1n_w&t=173s >. Acesso em: 06 de setembro de 2021.

História Online RV, Aula 10 - História Medieval II - Heresias Medievais

#2. Youtube. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?
v=8gdKrpRRrCg&t=164s >. Acesso em: 06 de setembro de 2021.