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2020
No 17 de maio de 1987, Asas do Desejo, do cineasta alemão Wim Wenders, estreava no Festival
Internacional de Cannes. Mais de duas décadas depois, os temores do diretor de que o filme fosse mal
compreendido por público e crítica não passam de uma pálida lembrança.
O longa tornou-se não apenas um clássico da história da sétima arte, mas talvez a realmente última
grande obra cinematográfica de Wenders. E, acima de tudo, um dos mais belos registros de uma Berlim
que há muito deixou de existir.
O anjo Damiel (Bruno Ganz): céu Os anjos que sobrevoavam a cidade dividida, desejando experimentar a intensidade da dor e do delírio
sobre Berlim humano, rodaram o mundo. Asas do Desejo (ou "O céu sobre Berlim", na tradução fiel do original Der
Himmel über Berlin) tornou-se um must entre cinéfilos mundo afora.
Wenders levou o prêmio de melhor direção em Cannes e o filme foi, em seguida, exibido em mais de 80 salas dentro da então Alemanha
Ocidental. Fora do país, a recepção foi tamanha que o longa chegou a ficar em cartaz mais de um ano no Japão.
"Em outra cidade que não fosse Berlim, eu jamais teria tido a idéia de fazer um filme como
este", afirmava o diretor 20 anos depois, ao diário Berliner Morgenpost.
Certamente nenhuma outra cidade teria oferecido às lentes do fotógrafo Henri Alekan uma
paisagem urbana tão abandonada, exatamente onde as referências à história eram tão
marcantes, como na Potsdamer Platz, por exemplo. Da mesma forma, certamente nenhum
outro fotógrafo teria captado a textura da cidade com tamanha sutileza quanto Alekan.
"Sua luz criou um novo espaço, no qual existia também outro tempo e no qual se falava
outra língua, uma língua mais poética. Henri criou uma arquitetura de luz e sombras, O francês Henri Alekan: mestre da luz
construindo um equilíbrio marcadamente complexo entre tons claros e escuros, do mais
profundo negro ao mais claro branco", dizia Wenders seis anos mais tarde, na entrega do Prêmio Wilhelm Murnau ao fotógrafo francês, em
1993.
"Se hoje, no fim da minha carreira, olho para trás, o filme mais importante que fotografei, a coroação do meu trabalho, foi Asas do Desejo",
respondia Alekan a Heidi Wiese, em declaração publicada no volume A Metafísica da Luz, antes de sua morte em 2001, aos 92 anos.
https://www.dw.com/pt-br/1987-lançamento-de-asas-do-desejo/a-2509237 1/2
22/05/2021 1987: Lançamento de ″Asas do Desejo″ | Fatos que marcaram o dia | DW | 17.05.2020
Esta seqüência "do outro lado do Muro", na então Alemanha de regime comunista, "foi rodada por um fotógrafo de Berlim Oriental. Não
pudemos colocar o nome dele nos créditos, pois ele havia feito as imagens escondido e nos cedido secretamente", contou Wenders ao jornal
Berliner Zeitung.
A Berlim Ocidental era aquela de Nick Cave e dos shows embaçados nos galpões mal-iluminados, como o
que se vê no filme. Sem Nick Cave, disse Wenders ao Die Zeit, "não teria havido (pelo menos não para
mim) a sensação de que aquela cidade ilhada era, ao mesmo tempo, o centro do mundo. Este australiano
soturno e seu guitarrista Blixa Bargeld fizeram ali uma música que conseguiu definir melhor aquele
tempo do que qualquer outra música qualquer outro lugar".
Damiel (Bruno Ganz) e Cassiel (Otto
Sander): Anjos sobre Berlim Clássico da história do cinema
Embora todas essas imagens se tornem cada vez menos compreensíveis para o espectador de hoje, devido
à distância do tempo e às constantes mudanças da cidade nos últimos anos, Asas do Desejo é um desses filmes que, como Paris, Texas ou
Alice nas Cidades – para se ater apenas a Wenders – "ficam".
Os anjos Damiel e Cassiel ficam, mesmo que o rosto do ator Bruno Ganz esteja hoje mais
associado à Queda de Hitler, mesmo que o purismo estético de Henri Alekan venha se
tornando cada vez mais raro na era da tecnologia e dos retoques milagrosos da pós-
produção, mesmo após a morte prematura, em janeiro de 2007, da atriz Solveig
Dommartin, a trapezista por quem o anjo Damiel se apaixona no filme.
Este "Céu sobre Berlim" entra como clássico para a história do cinema, porque conseguiu
cartografar magistralmente a singularidade de Berlim nos anos que antecederam a queda
do Muro. Conseguiu fazer com que o espectador fosse levado, se não de fato, pelo menos
Marion (Solveig Dommartin): a trapezista do Circo Alekan
em sonho à cidade dividida, isolada e única. Levado até lá, nas asas do desejo, para passar
a saber, assim como Damiel na última cena do filme, "o que nenhum anjo sabe".
LEIA M A I S
Data 17.05.2020
Assuntos relacionados Muro de Berlim, Alemanha, Berlim, Erich Honecker, Ernst Lubitsch, Friedrich Wilhelm Murnau, Wim Wenders, Volker Schlöndorff, Werner
Herzog, Wolfgang Petersen
Palavras-chave 17/05/1987, cinema, asas do desejo, céu sobre berlim, filme, cineasta, berlim, capital alemã, alemanha, muro de berlim, 20 anos, película, história,
comunismo
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