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ANTROPOTOPIA:

A LUGARIZAÇÃO HUMANA DO PLANETA:

A PRODUÇÃO DO MUNDO

RESUMO: O pensamento espacial, junto com o imaginário temporal, balizam a


nossa cotidianidade. Ambos estão presentes e imbricados nos objetos que
acessamos, para viabilizar o nosso dia a dia, como artefatos imprescindíveis
para a resolução de nossas necessidades. Portanto, tais próteses atuam como
recursos. Mas, como surgem esses artefatos? São originados do fato de
sermos entes eminentemente exossomáticos. Nossa humanidade está
umbilicalmente ligada a tais objetos. Desse modo, a dimensão espacial, que é
inerente à matéria, permite a manipulação da materialidade para a confecção
dos referidos artefatos. Esses objetos exibem uma tetradimensionalidade
têmporo-espacial em sua estrutura, constituindo-se no que denominamos de
espacialidades, diversificados pela função e pela forma específicas. E começa
com a instituição de um objeto primordial: o lugar (tópos). Assim, a produção da
espacialidade-lugar, ou a lugarização humana do planeta (antropotopia), se
estende até a mais sofisticada de todas as espacialidades: o mundo. E então
se discute as implicações ecológicas dessa instituição, em paralelo aos limites
do exossomatismo humano (anthropos).

PALAVRAS-CHAVE: Lugarização, Antropotopia, Exossomatismo,


Espacialidade, Temporalidade.

ANTHROPOTOPIA: THE HUMAN PLACE: THE PRODUCTION


OANTHROPOTOPIA:
THE HUMAN PLACE: THE PRODUCTION OF THE WORLD

ABSTRACT: Spatial thinking, together with the temporal imaginary, mark our
everyday life. Both are present and imbricated in the objects that we access, to
enable our day to day, as indispensable artifacts for the resolution of our needs.
Therefore, such prosthesis act as resources. But how do these artifacts come
about? They originate from the fact that we are eminently exosomatic beings.
Our humanity is umbilically attached to such objects. In this way, the spatial
dimension, which is inherent in matter, allows the manipulation of the materiality
for the making of said artifacts. These objects exhibit a spatio-spatial
tetradimensionality in their structure, constituting what we call spatialities,
diversified by the specific function and form. And it begins with the institution of
a primordial object: the place (topos). Thus, the production of spatiality-place, or
the human place of the planet (anthropotopia), extends to the most
sophisticated of all spatiality: the world. And then the ecological implications of
this institution are discussed, parallel to the limits of human exosomatism
(anthropos).

KEY WORDS: Lugarization, Anthropotopia, Exosomatism, Spatiality,


Temporality.

A tônica da discussão em questão aqui, é fundamental


esclarecer, busca superar a visão geográfica de cunho telúrico,
como referência estrita ao planeta em que vivemos, para considerar
como referencial o pensamento espacial, isto é, teorizar sobre o
imprescindível caráter espacial das ações humanas. Assim, a meta
é superar-se a abordagem meramente geográfica e inaugurar-se
um fórum no âmbito antropotópico, isto é, no âmbito da
Antropotopia.

A discussão sobre o processo de lugarização humana do


planeta em que vivemos parte da premissa de que há um
imperativo espacial no comportamento humano pelo fato de tratar-
se de um ser exossomático (GEORGESCU-ROENGE, 1971), isto é,
de funcionar através de próteses. O expressar humano requer uma
espacialização na sua manifestação. Ou seja, exige uma moldagem
da materialidade, que afinal é a própria realidade, quanticamente
falando, na medida em que qualquer linguagem que o indivíduo
humano use implica sempre uma instrumentalização da realidade.
Daí advindo uma panóplia de artefatos que atuam como extensões
do seu corpo. Portanto, explorando a dimensão espacial da
materialidade, o ente humano se expressa numa parafernália de
próteses. E essa exploração da materialidade começa quando,
perante a premência de resolver necessidades, a mente incita o
cérebro a produzir ideias que criem esboços virtuais que depois são
concretizados na prática. Assim, a mente humana utiliza a
plasticidade que a dimensão espacial permite e percorre as
possibilidades que vão se apresentando. É, dessa forma, que
espaço é pura possibilidade. Pois, ao se manifestar na extensão e
no volume da materialidade, o espaço é uma possibilidade aberta
pela espacialidade quando esta se concretiza em funções
ambientais e em artefatos/objetos.

Em suma, é quando a dimensão espacial da materialidade


permite a espacialidade de sua moldagem. Isto é, a possibilidade de
se modelar a matéria cria construtos espaciais que contêm as
dimensões básicas de comprimento, largura e altura que os tornam
espacialidades. É evidente que é preciso se acrescentar a
dimensão temporal por conta da vida útil dos artefatos/objetos, de
modo que os mesmos tenham uma tetradimensionalidade. Quer
dizer, os objetos por conterem dimensões têmporo-espaciais se
tornam espacialidades. Analisando mais a fundo, explicitando uma
inferência fundamental, a dimensão espacial não pode ser criada.
Ela é inerente à matéria. Mas a espacialidade é que pode ser
produzida na proporção em que se molda a matéria ao transformá-
la em objetos, ou quando essa moldagem é feita ao se atribuir
funções à materialidade, pela alocação de valor de uso
transformando-a em utilidade. Definitivamente, a espacialidade é a
forma expressando uma estrutura que obedece à função ali alocada
– é, portanto, o todo configurado de um
extenso/construto/artefato/objeto/prótese/recurso.

Desse modo, podemos falar então de lugarização humana do


planeta, isto é, da produção do lugar (tópos) a partir de um local
(lócus) definido cartograficamente, e, no limite, da confecção do
lugar-mundo a partir dos insumos naturais do planeta. Antes de
qualquer outro conceito de caráter espacial, por exemplo,
paisagem, território, região, e congêneres, que se possa considerar,
é fundamental se analisar o lugar. Esse conceito contém os demais.
No âmbito do lugar é que vamos encontrar, como manifestação de
seus aspectos, as paisagens. A partir da delimitação dos limites do
âmbito do lugar e do controle para a manutenção dos mesmos
surge o território. A conexão com outros lugares, de modo
sistêmico, em uma escala mais abrangente, implica uma região, ou
seja, um lugar maior. Então tudo começa com o lugar (tópos). Em
decorrência, antes de falarmos de territorialização e similares ou de
regionalização e derivados, devemos tratar da lugarização. Assim a
produção de uma dada espacialidade, a partir da alocação da
função de ocupação a um local, a torna um lugar. Desse modo, o
ato de ocupar, enfim, de estabelecer um uso específico de um dado
local, formata um ambiente exclusivo que é o lugar, – a
espacialidade básica. Esclarecendo que local é um ponto preciso,
estabelecido pelas coordenadas cartográficas (atualmente marcado
por GPS), às quais poder-se-ia acrescentar a altitude ou a
profundidade, servindo então de endereço unívoco do lugar, isto é,
a sua localização. É bom lembrar que sendo o espaço uma
dimensão, não há rigorosamente falando a ocupação espacial, um
espaço a ser ocupado, mas sim a agregação de um dado corpo
material à materialidade circundante.

É mister ressalvar, portanto, que ocupar um local não significa


ocupar um espaço. Dado que espaço é uma dimensão, como
vimos, ele não existe concretamente, ontologicamente falando.
Trata-se da modelagem da materialidade desse local. Então o que
ocorre é a agregação da materialidade humana à materialidade do
local, como já salientado. Como se trata em geral de um ponto da
superfície terrestre há aspectos geológicos, geomorfológicos,
edafológicos, hidrológicos, climáticos, floro-faunísticos ou
fitozoológicos, ou seja, sistemas ecológicos e mesmo contextos
culturais a serem considerados por integrarem, afinal, a substância
do local. São tais ingredientes, em suas peculiaridades, que irão
constituir a individualidade do lugar. Mas podemos falar de lugares
que são móveis ou mesmo portáteis, como veículos
terrestres/aéreos/aquáticos ou naves cósmicas, estações orbitais,
ou seja, espacialidades que, de alguma forma, não são exatamente
pontos fixos na superfície terrestre.

A produção do lugar evidencia o poder humano de dominação


da materialidade, dada a sua condição de ente exossomático. O
fato de ser um animal racional mostra o caráter que o ato de
inteligência possui: a capacidade de instrumentalizar. O processo
de instrumentalização humana abrange tanto a materialidade que
chamamos de natureza quanto o contexto sócio-humano. A
realidade humano-social é marcada por uma sistemática
hierarquização. E o humano enquanto um animal político engendra
mil e uma táticas e estratégias para exercer a dominação. A maior
prova desse poder de domínio está, como já referido, na
construção, a partir de insumos do planeta, da espacialidade mais
sofisticada: o mundo.

A questão é que o humano surge por um processo de


adaptação às condições ambientais do planeta, dentro da
sistemática de seleção natural que privilegia o mais apto, isto é, o
mais adaptado. Mas o processo de exossomatismo o leva a práticas
de predação, que se dão tanto com o meio ambiente (dilapidação
do patrimônio natural) quanto em relação ao âmbito social
(exploração e exclusão). A única fonte de recursos que o ser
humano pode contar é a natureza. E recurso é o que a ação
humana imbuída de técnica extrai dos insumos naturais. Na medida
em que a natureza é um estoque de insumos, as matérias-primas
utilizadas na produção dos recursos são reservas que possuem
uma finitude, podem acabar. E só temos uma natureza.

Então, qual o limite do exossomatismo humano? O modo


como a sociedade humana se organiza para produzir recursos
estabeleceu dois modelos básicos: via mercado e via estatismo.
Pelo mercado privilegia-se a iniciativa privada visando o sucesso
individual, sacrificando-se a igualdade social. Pelo estatismo
privilegia-se o coletivismo visando a igualdade social, sacrificando-
se a liberdade individual. Em ambos os modelos pratica-se uma
forma pertinente de capitalismo. O capitalismo é uma totalidade,
nada escapa de sua lógica. E o capitalismo é a roupagem atual do
exossomatismo humano. As bandeiras desfraldadas em nome do
socialismo ou do comunismo nunca conseguiram de fato
implementá-los em algum lugar do mundo. Afinal, o que resta? A
democracia. O velho novo modo de se exercer o poder político
inventado pelos gregos. Mas a democracia é singular e plural ao
mesmo tempo. Singular enquanto meta de plena representatividade
e de seguras garantias institucionais e plural em suas diversas
formas de manifestação.

Em suma, como controlar a predação humana? Em qualquer


forma em que o capitalismo é exercido sempre implica predação. O
processo de modernização sempre impactou o meio-ambiente a
ponto de se ter hoje o fenomenal problema do aquecimento global.
Pois o capitalismo exponencia exatamente a condição
exossomática humana. Claro que há o limite ecológico: não é
possível o crescimento econômico exponencial e infinito com base
em reservas finitas de insumos naturais. Teríamos um novo
referencial: o Paradigma Ecológico? Mas há uma questão
subterrânea ao comportamento exossomático humano. O humano é
uma forma da materialidade/natureza tomar consciência dela
mesma – precisamente através da natureza humana. Ao dispor da
natureza, enquanto um reflexo dela, o humano estaria expandindo-
a? Ou seja, a natureza humana tem a função de desdobrar em
novas dimensões a natureza-natural? Diante do desafio do avanço
científico com a edição de genes pela engenharia genética, a nano-
engenharia e a racionalidade artificial, conquistas científico-
tecnológicas entre tantas outras, que podem levar ao descarte do
próprio ser humano, pela sua substituição por algoritmos-robôs,
estaria a natureza nos induzindo a passar o bastão a formas auto-
racionais mais eficazes? Talvez para nosso consolo poderíamos
lembrar que o ato de inteligência envolve emoção. Quer dizer, a
racionalidade por ser mecânica pode se tornar artificial, mas não a
inteligência. Haverá esse limite?

Por outro lado, é inegável que ser humano ainda é uma meta.
A produção de recursos e o acesso a eles deveria ser um meio do
ente humano alcançar plenamente a sua humanidade. Lograremos
êxito?

Exossomatismo Humano

A discussão, portanto, como já indicado acima, sobre o


processo de lugarização humana do planeta em que vivemos parte
da premissa de que há um imperativo espacial no comportamento
humano, pelo fato de tratar-se de um ser exossomático
(GEORGESCU-ROENGE, 1971), isto é, de funcionar através de
próteses. O expressar humano requer uma espacialização na sua
manifestação. Ou seja, as ações humanas implicam uma moldagem
da materialidade, que, afinal, é a própria realidade, quanticamente
falando, na medida em que qualquer linguagem que o indivíduo
humano use exige sempre uma instrumentalização da realidade.
Daí advindo uma panóplia de artefatos que atuam como extensões
do seu corpo (SANTOS, 1986). Portanto, explorando a dimensão
espacial da materialidade, o ente humano se expressa numa
parafernália de próteses.

E essa exploração da materialidade começa quando, perante


a premência de resolver necessidades, a mente incita o cérebro a
produzir ideias que criem esboços virtuais que depois são
concretizados na prática. Principalmente a partir da Revolução
Cognitiva, acontecida entre setenta a trinta mil anos atrás, conforme
Harari (2017). Segundo este autor: “O período de setenta mil anos
atrás a trinta mil anos atrás testemunhou a invenção de barcos,
lâmpadas a óleo, arcos e flechas e agulhas (essenciais para
costurar roupas quentes). Os primeiros objetos que podem ser
chamados de arte e joalheria datam dessa época, assim como os
primeiros indícios incontestáveis de religião, comércio e
estratificação social”. (Página 29.)

Depois, há cerca de doze mil anos, aconteceu a Revolução


Agrícola, com a domesticação de plantas e animais; e, com a
consequente sedentarização, os primeiros assentamentos
permanentes, complexificação da divisão do trabalho, abrindo
bases para a Revolução Urbana: as primeiras cidades, o estado
antigo, os primeiros impérios, invenção da escrita, dos números, da
moeda, criação de leis morais. Há quinhentos anos, graças a uma
massa crítica de conhecimentos empíricos e especulativos, surge a
Revolução Científica. No bojo das mudanças da época, que ficou
conhecida como modernidade, surgem o estado moderno e o
capitalismo. Tudo isso foi consolidado há duzentos anos com a
Revolução Industrial. E hoje vivemos os desdobramentos dessas
conquistas que podem nos lançar pelo cosmos, nos imortalizar
fisicamente ou simplesmente sermos substituídos por cyborgs.

Assim, a mente humana utiliza a plasticidade que a


dimensão espacial permite e percorre as possibilidades que vão se
apresentando. É, dessa forma, que espaço é pura possibilidade.
Pois, ao se manifestar na extensão e no volume da materialidade,
isto é, na espacialidade natural, o espaço também é uma
possibilidade aberta pela espacialidade quando esta se concretiza
em artefatos/objetos. Em suma, é a espacialidade que revela o
espaço, e não o contrário. A grande conclusão é que há um
imperativo de espacialidade balizando a expressão humana, o que
nos enseja a rotular esse processo de antropotopia (SANTOS,
2011, 2017), que significa a necessária lugarização humana da
natureza como algo imprescindível para o sobreviver e o pleno
existir humano. O completo existir humano tem a ver com a total
manifestação da singularidade que cada ente humano é. E é claro
que tal libertarismo só pode ser possível havendo acesso amplo e
irrestrito aos recursos que são as espacialidades

Dimensão Espacial e Espacialidade

A dimensão espacial, ou seja, a espacialidade natural da


materialidade permite a produção de uma espacialidade formatada
a partir de uma ação intencionada, programada, quiçá movida por
uma logística, isto é, sintagmática (RAFFESTIN, 1990) sobre a
mesma (a materialidade) que resulta em moldagem de artefatos.
Isto é, a possibilidade de se modelar a matéria cria construtos
espaciais que contêm as dimensões básicas de comprimento,
largura e altura que os tornam espacialidades. É evidente que é
preciso se acrescentar às três referidas dimensões espaciais
também a dimensão temporal por conta da vida útil dos
artefatos/objetos, de modo que os mesmos tenham uma
tetradimensionalidade. Providência que se faz necessária de vez
que a física relativista entrelaçou o espaço e o tempo, tornando-os
relativos ao deslocamento dos corpos, abolindo a absolutidade
newtoniana de ambos (SZAMOSI, 1988). Quer dizer, os objetos por
conterem dimensões têmporo-espaciais se tornam
espacialidades/artefatos que, evidentemente, funcionam como
recursos.
Inclusive, podemos fazer uma analogia com a tese
einsteiniana de que as densidades podem gerar ondas
gravitacionais que alteram o tempo. No caso das espacialidades
humanas, com uma densidade grande de conteúdo, tal
concentração material provoca uma modulação de tempo mais
acelerado, isto é, uma temporalidade mais rápida (como nas
metrópoles em relação às áreas rurais, efeito que é contrário ao que
ocorre com a gravidade física). Há também a temporalidade
necessária para se entender o funcionamento dos objetos, como no
caso dos sistemas peritos (GIDDENS, 1991). Ou seja, não ter o
domínio pleno do funcionamento dos objetos nos deixa a mercê
deles (risco bem palpável quando se trata de algoritmos). O que
pode ser estendido a um conjunto de espacialidades, isto é, à
complexidade do contexto que elas formatam. Dado que há uma
sintaxe, uma gramática ou uma semiologia regendo a conectividade
dos elementos desse sistema. Então, ler semelhante texto requer
uma certa temporalidade para a decodificação da informação, o que
é crucial para a acessibilidade a tais recursos. Portanto,
recolocamos a questão suscitada em Carlos Santos (2009): Que
espacialidades me servem na medida que possam produzir as
temporalidades que preciso?

Claro que na física, como já referido, é ao contrário: as


densidades retardam o tempo. Mas, analogamente, só que de modo
invertido, temos densidades antrópicas acelerando o tempo por se
tratar de um tempo social. Outra analogia da obra einsteiniana é a
chamada curvatura do espaço-tempo quando sob o efeito de uma
fonte de forte densidade e, portanto, de poderosa ação
gravitacional. Ora, o vazio não teria substância para interagir com a
gravidade. Portanto, o chamado contínuo espaço-tempo
quadridimensional não é um vazio. Deve ser alguma forma de
matéria, uma tessitura quântica. Então, tempo e espaço são, na
verdade, dimensões dessa materialidade, que é quântica em sua
essência.

Analisando mais a fundo, explicitando uma inferência


fundamental, a dimensão espacial não pode ser criada. Ela é
inerente à matéria. Mas a espacialidade é que pode ser produzida
na proporção em que se molda a matéria ao transformá-la em
objetos (SANTOS, 2017). Definitivamente, a espacialidade é a
forma expressando uma estrutura que obedece à função ali alocada
– é, portanto, o todo configurado de um
extenso/construto/artefato/objeto/prótese/recurso. É o que Milton
Santos (1984, 1996) chama de forma-conteúdo e que depois
ampliou para um formatado contexto, que ele denomina de espaço,
um arranjo dialetizado de sistema de ações versus sistema de
objetos. Espaço que está mais para um contexto circunstancial ou
uma circunstância contextual, ou, sumarizando, um contexto-
circunstancial-contextual.

Desse modo, a partir da moldagem da materialidade para a


produção das espacialidades, é que podemos falar então de
lugarização humana do planeta, isto é, da produção do lugar
(tópos), e, no limite, da confecção do lugar-mundo. Antes de
qualquer outro conceito de caráter espacial, por exemplo,
paisagem, território, região, e congêneres, que se possa considerar,
é fundamental se analisar o lugar. Este conceito contém os demais.
No recinto do lugar é que vamos encontrar, como manifestação de
seus aspectos, as paisagens. A partir da delimitação dos limites do
âmbito do lugar (demarcação/territoriaridade) e da vigilância
(controle/territorialidade) para a manutenção dos mesmos surge o
território. A conexão com outros lugares, de modo sistêmico, em
uma escala mais abrangente, implica uma região, ou seja, um lugar
maior. Então tudo começa com o lugar (tópos). Em decorrência,
antes de falarmos de territorialização e similares ou de
regionalização e derivados, devemos tratar da lugarização.

Assim, a produção de uma dada espacialidade, a partir da


alocação da função de ocupação a um local, a torna um lugar.
Desse modo, o ato de ocupar, enfim, de estabelecer um uso
específico de um dado local, formata um ambiente exclusivo que é
o lugar, – a espacialidade básica que, obviamente, possui uma
temporalidade própria (SANTOS, 2009). Portanto, o lugar, ao surgir
da produção de uma espacialidade especial e exclusiva em um
local, se torna a premissa maior do discurso espacial.

Esclarecendo que local é um ponto preciso na superfície


terrestre, estabelecido pelas coordenadas cartográficas (atualmente
marcado por GPS), às quais poder-se-ia acrescentar a altitude ou a
profundidade, e, evidentemente, também o fuso horário, servindo
então de endereço unívoco do lugar, isto é, a sua localização
quadridimensional única.

É mister ressalvar que ocupar um local não significa ocupar um


espaço. Dado que espaço é uma dimensão, como vimos, ele não
existe concretamente, ontologicamente falando. Trata-se da
modelagem da materialidade desse local. Então o que ocorre é a
agregação da materialidade humana à materialidade do local. Como
se trata em geral de um ponto na superfície terrestre há aspectos
geológicos, geomorfológicos, edafológicos, hidrológicos, climáticos,
floro-faunísticos ou fitozoológicos, ou seja, sistemas ecológicos e
mesmo contextos culturais a serem considerados por integrarem,
afinal, a substância do local. São tais ingredientes, em suas
peculiaridades, que irão constituir a individualidade do lugar. Mas
podemos falar de lugares que são móveis ou mesmo portáteis,
como veículos terrestres/aéreos/aquáticos ou naves cósmicas,
estações orbitais, ou seja, espacialidades que, de alguma forma,
não são exatamente pontos fixos na face terrestre ou, quiçá, em
qualquer outra superfície planetária.

As Implicações do Exossomatismo Humano

A produção do lugar evidencia o poder humano de dominação


da materialidade, dada a sua condição de ente exossomático. O
fato de ser um animal racional mostra o caráter que o ato de
racionalidade possui: a capacidade de instrumentalizar. O processo
de instrumentalização humana abrange tanto a materialidade que
chamamos de natureza quanto o contexto sócio-humano. A
realidade humano-social é marcada por uma sistemática
hierarquização, ou seja, uma situação de cabal heteronomia
(CASTORIADIS, 1982). Um mundo imaginariamente instituído,
onde esquemas de dominação são criados ao sabor de correlações
de forças de poder político-econômico. E o humano enquanto um
animal político engendra mil e uma táticas e estratégias para
exercer a dominação. A maior prova desse poder de domínio está
na construção, a partir de insumos do planeta, da espacialidade
mais sofisticada: o mundo.

O que significa dizer que, face aos problemas ambientais em


decorrência da ação humana, não se trata de salvar o planeta,
como ecoa o grito ecológico. O planeta existe há quase cinco
bilhões de anos e vai continuar por outros tantos, já o mundo é uma
construção a partir do imaginário humano. O que nos ameaça é o
mundo por estar marcado pela cultura do individualismo e pelas
práticas de predação sócio-ambiental. Por ser um evento natural o
planeta não pode ser refeito pelos humanos, mas o mundo
comporta ser reconstruído dado que é produto da ação humana.
Afinal, o planeta não precisa de nós, ao contrário, nós é que
precisamos dele.

A questão é que o humano (anthropos) surge por um


processo de adaptação às condições ambientais do planeta, dentro
da sistemática de seleção natural que privilegia o mais apto, isto é,
o mais adaptado, conforme Darwin e, agora reconhecido, seu
parceiro nas mesmas pesquisas, Wallace (DAWKINS, 2009). Mas o
processo de exossomatismo o leva a práticas de predação, como já
mencionado, que se dão tanto com o meio ambiente (dilapidação do
patrimônio natural) quanto em relação ao âmbito social (exploração
e exclusão). Assim, apesar de um ser esculpido pela adaptabilidade
às condições ambientais do planeta onde surgiu, o humano tornou-
se um ente predador.

Por outro lado, a única fonte de recursos que o ser humano


pode contar é a natureza. E recurso, como já mencionado, é o que
a ação humana imbuída de técnica extrai dos insumos naturais
(RAFFESTIN, 1990). Na medida em que a natureza é um estoque
de insumos, as matérias-primas utilizadas na produção dos
recursos são reservas que possuem uma finitude, podem acabar. E
só temos uma natureza. O fascinante é que a mesma tecnologia
que cria uma situação de ameaça à presença humana no planeta,
pelos impactos nocivos a ele, é a mesma que pode sanar todos
esses males tornando-o um paraíso, algo que pode ser
concretizado pelo domínio da fusão nuclear, por exemplo. Desde
que, evidentemente, se produza tecnologias simbióticas.

Então, qual o limite do exossomatismo humano? O modo


como a sociedade humana se organiza para produzir recursos
estabeleceu dois modelos básicos: via mercado e via estatismo.
Pelo mercado, privilegia-se a iniciativa privada, visando o sucesso
individual, sacrificando-se a igualdade social. Pelo estatismo,
privilegia-se o coletivismo, visando a igualdade social, sacrificando-
se a liberdade individual. Em ambos os modelos pratica-se uma
forma pertinente de capitalismo. O capitalismo é uma totalidade,
nada escapa a sua lógica. E o capitalismo é a roupagem atual do
exossomatismo humano.

As bandeiras desfraldadas em nome do socialismo ou do


comunismo nunca conseguiram de fato implementá-los em algum
lugar do mundo. Afinal, o que resta? A democracia. O velho novo
modo de se exercer o poder político inventado pelos gregos. Mas a
democracia é singular e plural ao mesmo tempo. Singular enquanto
meta de plena representatividade e de seguras garantias
institucionais, e plural em suas diversas formas de manifestação.

Reservas versus Recursos

Em suma, como controlar a predação humana? Em qualquer


forma em que o capitalismo é exercido sempre implica predação. O
processo de modernização sempre impactou o meio-ambiente a
ponto de se ter hoje o fenomenal problema do aquecimento global.
Pois o capitalismo exponencia exatamente a condição
exossomática humana. Daí a criação do conceito de pegada
ecológica (footprint) por Wackernagel e Rees, em 1990, que é a
aferição do quanto cada um de nós impacta o planeta. Claro que há
o limite ecológico: não é possível o crescimento econômico
exponencial e infinito com base em reservas finitas de insumos
naturais. Desse modo, podemos inferir que há um imperativo
ecológico a ser considerado. E de tal modo que devemos ter claro
que estamos diante do surgimento, nos moldes de Kuhn (1962), de
um novo referencial: o Paradigma Ecológico.

Mas há uma questão subterrânea ao comportamento


exossomático humano. O humano é uma forma da
materialidade/natureza tomar consciência dela mesma (RECLUS,
1985) – precisamente através da natureza humana. Ao dispor da
natureza, enquanto um reflexo dela, o humano estaria expandindo-
a? Ou seja, a natureza humana tem a função de desdobrar em
novas dimensões a natureza-natural?

Diante do desafio do avanço científico, com a edição de genes


pela engenharia genética, a nano-engenharia e a racionalidade
artificial, conquistas científico-tecnológicas entre tantas outras, que
podem levar ao descarte do próprio ser humano, pela sua
substituição por algoritmos-robôs, estaria a natureza nos induzindo
a passar o bastão a formas auto-racionais mais eficazes? Segundo
Harari (2017), a partir do momento em que a racionalidade artificial
for mais eficiente que a racionalidade humana, então toda a
humanidade poderá se tornar inútil, supérflua, descartável. Então, a
ditadura do gene, que segundo Dawkins (2007) teria guiado a
trajetória biológica na Terra, estaria sendo suplantada pelo
autoritarismo do algoritmo eletrônico.
Talvez, para nosso consolo, poderíamos lembrar que o ato de
inteligência envolve emoção, no sentido de que o agir inteligente é
uma ação orgânica, posto que o ato racional é um proceder
mecânico. Quer dizer, a racionalidade por ser mecânica pode se
tornar artificial, mas não a inteligência, face à organicidade de sua
complexidade. Haverá esse limite?

Por outro lado, é inegável que ser humano ainda é uma meta.
A produção de recursos e o acesso a eles deveria ser um meio do
ente humano alcançar plenamente a sua humanidade. Lograremos
êxito?

Espacialidade e Logística

A chamada organização espacial (aqui denominada de


espacialidade) é o outro lado do corpo da organização social. São
dois lados de uma mesma moeda. Ou seja, não dá para separar
uma face da outra. Só que de um lado tem-se processo e do outro
forma. A forma espacial é a manifestação/expressão da
moldagem/estrutura social. Forma que, reforçando, resulta sempre
de um processo social. Ou seja, não se pode falar nunca em
processo espacial, mas sempre em forma espacial. Pois espaço é
apenas uma dimensão, não possui concretude, como já referido. Já
o processo social é a dinâmica da sociedade manifestando seus
interesses, suas necessidades, seus conflitos e suas contradições,
que se expressam em instituições, em miríades de atividades,
empreendimentos, ofícios e profissões. O modo como esse
processo se desenrola é estruturativo/organizativo; isto é, a
produção das formas espaciais segue uma sequência racional de
etapas. Assim, podemos perceber que existe uma estratégia
racional de planejamento por trás dos arranjos/formas espaciais,
isto é, das espacialidades – ou, de modo mais rigoroso, uma
logística balizando a produção dessas espacialidades. A discussão
aqui é da necessidade de se formalizar essa logicidade.

Desse modo, recuperamos a definição de logística de Ronald


Ballou (1993) de que “Logística é o processo de planejamento do
fluxo de materiais, objetivando a entrega (resolução) das
necessidades na qualidade desejada no tempo certo, otimizando
recursos e aumentando a qualidade nos serviços”. E também
buscamos a versão da Associação Brasileira de Logística que
entende logística como “Processo de planejar, implementar e
controlar eficientemente, ao custo correto, o fluxo e armazenagem
de matéria-prima, estoque durante a produção e produtos
acabados, desde o ponto de origem até o consumidor final, visando
atender aos requisitos do cliente”. Podemos perceber que em
ambas definições duas preocupações básicas estão presentes:
racionalidade e eficiência. Ou seja, há um encadeamento racional
de etapas que se constitui em um procedimento eficiente,
resultando em algo que pode/deve ser eficaz em seu
funcionamento.

Logística sempre foi um procedimento crucial nos


empreendimentos militares desde a antiguidade. Ganhou foros de
ciência após a Segunda Guerra Mundial. Mas não seria exagero
afirmar-se que os planos quinquenais, adotados pela então União
Soviética nas décadas posteriores à revolução de outubro de 1917,
tenham inspirado a evolução da logística empírica para a científica.
Em uma visão mais geral da logística, podemos dizer que
trata-se de um procedimento racional tanto na distribuição espacial
de funções quanto na conexão sinérgica entre as mesmas, de modo
a se ter um funcionamento harmônico do conjunto; ou seja, por
exemplo, plena conexão entre instalação (fixos) e circulação
(fluxos). A logística enquanto um procedimento que se dá por
etapas encadeadas entre si de modo racional é, então, um
algoritmo.

Portanto, temos um procedimento de eficiência de elaboração


visando uma eficácia de utilidade do resultado. Então, a aplicação
da logística à produção das espacialidades é um modo de se ter a
eficiência na confecção delas e a eficácia das mesmas em seu
funcionamento/utilidade. A produção de espacialidade(s) resulta da
moldagem/manipulação da materialidade, conforme discussão
anterior. Materialidade que se confunde com a realidade. Dado que
a realidade é quântica, a sua concretude/materialidade é composta
por partículas e subpartículas.

Manipular a realidade/materialidade é algo inerente ao


comportamento humano, face á condição exossomática dos entes
humanos. Isto é, devido ao imperativo humano de instrumentalizar a
realidade/natureza, para produzir artefatos/objetos que funcionam
como próteses/recursos, e, com isso, numa ação dialética, produzir
sua própria humanidade, como já lembrado. E, como já
referenciado, dado que ser humano ainda é um processo, isto é, a
condição plena de se ser humano continua sendo uma meta,
podemos perceber a importância capital das espacialidades no
processo.
Então, a logística pode dar à condição exossomática humana
uma capacidade mais racional, não só como refinamento da
intencionalidade da ação, mas também, na sua relação com o meio
ambiente/natureza enquanto fonte de recursos, dado que essa
racionalidade pode/deve implicar uma abordagem ecológica do
processo. Porquanto é possível uma relação de harmonia com a
natureza a partir do uso de tecnologias simbióticas.

Daí, em consequência, temos um jogo dialético entre espaço


e espacialidade, onde espaço é a possibilidade aberta pela
dimensão espacial da materialidade, em sua extensão e volume,
enquanto espacialidade é a moldagem/manipulação da
materialidade, transformando-a em artefatos/objetos que atuam
como próteses/recursos, conforme análise antecedente. Nesse
processo, entra a logística como modo preciso de condução da
formatação de espacialidades, cujas utilidades são medidas pelo
grau de acessibilidade que elas permitem em suas utilizações.

Desse modo, temos, então, as espacialidades humanas


expressas na parafernália de objetos, aos quais estamos ligados
umbilicalmente, e que viabilizam ou complicam nossa cotidianidade
de cada dia, conforme Carlos Santos em As Espacialidades
Humanas (2017). E é evidente que esse complexo de objetos
interligados por diversos meios (modais e eletrônicos) se constitui
nos mais variados ambientes que, conforme a escala de abordagem
escolhida, vai de um simples lugar ao mundo como um todo. Ou
seja, uma escalada de espacialidades que, enquanto recursos,
devem ser avaliadas em termos de propiciamento de fomento do
pleno desenvolvimento humano. E, dado que o futuro está em
aberto, em contraposição ao passado que está fechado, a produção
das espacialidades significa também a produção do futuro. Pois
quanto ao passado só cabe a sua reconstituição. Porquanto o futuro
não é para se prever, o futuro é para se fazer.

Espacialidade e Inovação

Inovar no sentido de criar algo novo que tenha um


desempenho melhor é algo inerente ao funcionamento do
capitalismo. Se a logística é a inteligência da ação, a inovação é a
precisão da ação. Na medida em que fazer sempre abre a
perspectiva de fazer melhor, a logística se torna a eficiência do
processo de fazer, enquanto que a inovação é a descoberta de uma
eficácia maior. É crucial para as empresas lançarem continuamente
novos produtos no mercado mediante uma massiva e insinuante
campanha de marketing e publicidade sobre as qualidades dos
mesmos. E para tanto investem fabulosas quantias em pesquisas
científicas na busca de novas tecnologias. Assim, o binômio P&D
(Pesquisa e Desenvolvimento) é o indicativo mor de
desenvolvimento econômico. E o ciclo se estabelece: pesquisa
científica gera novas tecnologias, e estas facultam mais pesquisas
científicas que geram novas tecnologias... E assim vai.

Inovar é um imperativo para as empresas como também para


as instituições. Deve haver um arcabouço legal para balizar o
comportamento social e societário. A competitividade impõe a
sistemática da inovação. Claro que acaba acontecendo uma
radicalização nesse processo através da programação da
obsolescência precoce. Por força da busca da produtividade,
imposta pela imperiosa redução de custos, acontece a sistemática
modernização dos meios de produção, implicando a adoção de
automação. Isso acarreta preços competitivos, mas tem efeitos
colaterais como fechamento de postos de trabalho de um lado e
maior exigência de qualificação de mão de obra de outro. Mas a
produtividade também faculta o acesso massificado às mercadorias,
dado que ao baixar o custo marginal das mesmas as tornam cada
vez mais baratas. E há quem acene para uma "sociedade com
custo marginal zero", conforme obra do mesmo nome de Jeremy
Rifkin (2015). Mas há controvérsias.

Globalização e o Jogo Público-Privado

Portanto, logística e inovação são procedimentos


indispensáveis cobrados pela globalização. Há um acervo de
conquistas científico-tecnológicas tal que poderiam, se houvesse
vontade e consenso político, acabar com todas as mazelas que
afligem a humanidade. No entanto, vozes como a de Picketti (2013)
alertam para um aumento da desigualdade social por conta da
concentração do capital. A aposta é no papel das instituições no
controle desse processo. Mas como afirma Zigmunt Bauman, em
entrevista à mídia (Fronteiras do Pensamento/Café Filosófico) ao
considerar a impotência dos estados-nação para controlar a
globalização financeira, é preciso a criação de uma democracia
global.

A globalização exerce um domínio férreo a partir do


predomínio do setor financeiro sobre os demais campos do
mercado. A obsessão pelo dinheiro em detrimento da produção de
bens e serviços leva a uma exclusão social cada vez mais perigosa
e explosiva. Por ser a mercadoria primaz que dá acesso às demais
a produção de dinheiro é priorizada por uma cada vez mais
sofisticada engenharia de derivativos financeiros em um verdadeiro
delírio de especulação. Sem falar nos paraísos fiscais e seus
sigilos!!! Um dia a casa sempre cai.

Mas, enquanto isso e à mercê disso, instala-se o jogo de


interesses público-privado, onde o Estado desempenha o papel de
socializador dos custos e dos desmandos do capital. O
documentário de Michael Moore de 2009, inspirado na crise dos
subprime em 2008, intitulado Capitalismo: uma história de amor,
“apresenta uma análise de como o capitalismo corrompeu os ideais
de liberdade previstos na Constituição dos Estados Unidos, visando
gerar lucros cada vez maiores para um grupo seleto da sociedade,
enquanto que a maioria perde cada vez mais direitos.” No caso do
Brasil, há a análise de Sérgio Lazzarini em seu livro Capitalismo de
Laços (2010), mostrando o compadrio do público e do privado entre
nós. Laços de interesses que vão desde isenção fiscal,
financiamentos oficiais privilegiados, passando por negociatas de
influência em órgãos públicos, até compra de representação
parlamentar.

E a sistemática é: dinheiro para ter poder e poder para ter


mais dinheiro. E haja crises!!!

Fechando o Cerco
A discussão desenvolvida acima buscou fundamentar a
possibilidade de uma explicação espacial para a fenomenologia
sócio-humana, porquanto há uma imprescindibilidade de
espacialização na necessidade de expressão por parte dos
humanos. É inerente ao agir humano a espacialidade de suas
ações, dado que a condição de humano do agente requer a
produção exossomática de artefatos, na função de próteses, que
atuam como potencialidades de sua corporeidade. De modo que se
pode dizer que foi fazendo próteses que o ser humano se fez
enquanto tal.

Por outro lado, o avanço científico-tecnológico levou o ser


humano a um patamar perigoso no uso dos insumos naturais, na
medida em que ele ultrapassou os limites da adaptabilidade e se
tornou um predador. Sua condição de ser eminentemente
exossomático levou-o a produzir um mundo que tanto ameaça os
ecossistemas do planeta, precarizando o sobreviver tanto humano
quanto de outras espécies no âmbito planetário, como pode colocar
em xeque a existência do próprio ente humano pela escalada sem
freio das pesquisas biocibernéticas.

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ANTROPOTOPIA:

O PENSAMENTO ESPACIAL:

A ESSÊNCIA DA LUGARIZAÇÃO PLANETÁRIA

Já é hora de assentarmos definitivamente a falência do discurso


geográfico. (Data Venia aos que pensam em contrário.) Em seu
lugar devemos afirmar o discurso espacial. A preocupação telúrica
que sempre lastreou a abordagem geográfica já não faz mais
sentido. È um discurso que caducou. Depurada da geografia
humana, temos a questão da(s) espacialidade(s) como herança
concreta da aventura epistemológica das descrições da crosta
terrestre. Depuração que vem de se abstrair a noção de espaço da
tradicional consolidada consideração referencial pela superfície
terrestre, porquanto fundamento da corriqueira expressão espaço
geográfico. Então, tomando-se esta ideia de espaço geográfico, até
hoje clássico ponto de partida do discurso geográfico, temos que,
como discutiremos mais adiante, tal espaço nada mais é do que a
dimensão espacial da superfície terrestre. Ou seja, a concretude
constatada é a da superfície terrestre e não a do espaço. O que é
concreto é a extensão da crosta terrestre, que, por este fato, está
aberta e disponível a diferentes usos. Desse modo, há um problema
a ser resolvido no discurso geográfico, que é o de partir em sua
origem, em sua raiz, de um mito: o pseudo espaço geográfico. A
superação desse mito implica, evidentemente, a exorcização de um
pensamento metafísico com relação ao espaço como algo concreto
e palpável.

Assim, superando o esforço em vão de se colocar o espaço como


objeto de estudo, pelas razões adiante colocadas, chega-se,
finalmente, a algo ontologicamente consistente, capaz de nuclear
uma teoria espacial eficientemente construída e eficazmente
explicativa, ou seja, trata-se, como acima mencionado, das
espacialidades. Desse modo, como demonstrado adiante, não há
espaço geográfico. O que há é o lugar geográfico (por se tratar de
um ambiente terrestre), ou, como conceito teórico: a espacialidade
humana. Como se discute mais na frente, trata-se de um jogo
teórico entre local e lugar. Desse modo, o discurso geográfico é o
que sempre procurou dar conta da transformação do local (um
ponto definido cartograficamente) em lugar (resultante da ação de
um grupo humano que a partir dos insumos naturais disponíveis no
local produz um ambiente humano: um lugar). Ou, de acordo com o
contexto aqui: o processo de lugarização do local – tornando-se tal
local no endereço do lugar. Claro que por comodidade ainda
usamos o termo geográfico por conta da superfície terrestre, porém
no âmbito de uma abordagem antropotópica o geográfico passa a
ser substituído pelo termo espacial. Ou seja, qualquer local
considerado, dentro ou fora do âmbito terrestre, importando apenas
tão somente sua dimensionalidade espacial.

Tal esforço deve visar dar conta da fenomenologia sócio-humana


em sua dimensão espacial: a espacialidade humana. Acompanhada
concomitantemente de sua outra face, isto é, a temporalidade, que
abrange desde a historicidade de sua produção, passando pela sua
validade social, e chegando ao aprendizado de seu
acesso/manuseio. As espacialidades e suas concomitantes
temporalidades estão, na verdade, fluindo como um rio. Mas,
diferente do rio, que é puxado pela força gravitacional, o fluxo das
espacialidades é impulsionado pela ação da segunda lei da
termodinâmica: a entropia. Portanto, as espacialidades são eventos
que compõem o fluxo do mundo. Fluidez que se configura como
antropia versus entropia.

O Exossomatismo Humano

A premissa básica que deve lastrear o discurso espacial é a do


exossomatismo humano. O fato do humano ser eminentemente um
ente exossomático, isto é, sua condição humana ser definida
através de uma ligação umbilical com próteses (de vez que o ente
humano construiu sua humanidade instrumentalizando elementos
da natureza, isto é, construindo objetos), evidencia que
suas manifestações/expressões implicam sempre espacializar suas
ações via construtos/artefatos que funcionam como
objetos/recursos. E tais extensos de sua corporeidade são obtidos
pela manipulação da materialidade em suas diversas modalidades.
A referida manipulação só se torna possível pela extensão/volume
da matéria, isto é, pela sua plasticidade. Por sua vez, a
extensão/volume da materialidade exibe uma espacialidade natural.
Desta espacialidade surge o espaço enquanto condição de
possibilidade de todos os intentos/ações humanos.

Ao manipular-se a materialidade, moldando-a em inúmeros


artefatos, produzem-se as espacialidades humanas. Estas, então,
tomadas de modo singular, ou seja, como a espacialidade humana,
como já colocado, afigura-se como ente ontologicamente definido e
se torna um conceito. Então, a ação exossomática humana (uma
ação que molda algo, uma ação moldante, jamais uma ação apenas
pela ação), algo imperativo e inerente à condição humana, produz
artefatos que, de modo recíproco, condiciona a dinâmica do
processo de humanização do ente humano. Produzir espacialidades
é produzir futuros cenários humanos.

Por outro lado, percebe-se que, na medida em que as


espacialidades possuem concretude, que são moldagens, enfim,
que são construtos, portanto, podem ser produzidas. Enquanto que
o espaço mostra-se como uma dimensão, um atributo, uma
propriedade da extensão/volume da materialidade; ou seja, um
campo de possibilidades para as ações humanas. Portanto, não
pode ser definido ontologicamente. Por conta disto, o espaço se
torna uma categoria. Insistir em tratá-lo como objeto concreto é
trabalhar apenas com uma metáfora. E, claro, metáfora não é
ciência. É evidente que nada impede que se possa referir ao âmbito
geral de um contexto como sendo espaço. Só que, ao zelar-se pelo
rigor científico do discurso sobre o espaço, deve-se ter em conta
que se trata de uma dimensão, como já indicado, e não de algo
concreto existindo de modo independente.

Por outro lado, inerente à materialidade, em qualquer modo de sua


manifestação, há sempre uma temporalidade, que, como outras
modalidades de movimento, demonstram a dinâmica da
materialidade (enfatizando: quer no seu estado natural, quer no seu
formato humanizado), revelando que o tempo é também uma
propriedade da matéria. Ou seja, o espaço e o tempo são
dimensões gêmeas e imbricadas da materialidade. O espaço surge
da extensão e do volume da materialidade, e o tempo é revelado
pelo movimento e pela dinâmica da mesma.

Categoria e Conceito

É preciso lembrar que categoria e conceito são formulações da


filosofia desde Aristóteles, passando por Kant, até discussões mais
contemporâneas, como, por exemplo, a de Armando Correa da
Silva, no âmbito da Geografia, como ingredientes do processo
epistemológico ou de conhecimento. Mas, sem entrar no cipoal das
argumentações e controvérsias filosóficas, a respeito de tais
construtos mentais, apenas estabelecer que aqui toma-se conceito
como representação intelectual do ser, enquanto algo
ontologicamente concreto; e considera-se categoria como figura
abstrata, relativa aos atributos/propriedades do ser. Uma operação
intelectual que parte da experiência empírica e a torna racionalizada
através de abstrações mentais.

Superando Geografismos

Como fica o discurso geográfico? Podemos passear através das


concepções clássicas desde as escolas alemã e francesa, e suas
derivações, e verificar o caráter telúrico de todas elas. Ou seja, o
meio-ambientalismo alemão e o culturalismo francês. As distintas
facetas físicas da superfície terrestre, em suas diferenciações de
áreas, e os modos de vida surgidos dos condicionamentos sócio-
humanos a essas diversidades ambientais foram a tônica dessas
abordagens. A ênfase na superfície terrestre, buscando entender
seus fenômenos físicos, pela escola alemã, se contrapôs à
dinâmica sócio-cultural, enquanto foco da escola francesa,
impactada pela concepção sociológica de morfologia social. Mas,
essa visão sociológica deve exigir uma concomitante e evidente
morfologia espacial. Uma Geografia versus uma Sociologia?

A preocupação com os fenômenos terrestres, a dinâmica promovida


pelas forças naturais, determinou ciências como a Geologia,
Geomorfologia, Meteorologia, Biologia, lastreadas na Física e na
Química, com o concurso das matemáticas, visando formulações
precisas. Com relação à fenomenologia sócio-humana, deste
enfoque resultaram abordagens como as da Antropologia,
Economia, Sociologia e História, e derivações. Então, o discurso
geográfico buscava sintetizar esses conhecimentos, mapeando-os
com a Cartografia. Assim, essa pretensa ciência de contato nunca
teve uma identidade real que lhe desse uma autonomia científica de
fato.

Mas, do embate entre fatos naturais e fatos sociais, uma dialética


que tem permeado o processo civilizatório, durante o qual a espécie
humana tem moldado o planeta à sua imagem e semelhança,
emerge a compreensão de que os processos sociais,
desencadeados pela dinâmica dos grupos humanos organizados,
resultam em formas espaciais que atuam como recursos sociais, na
medida em que se constituem em autênticas próteses para a
viabilização da sobrevivência da espécie, dando-lhe o caráter de um
conjunto de entes humanizados. Processo que segue porquanto a
plenitude de ser humano ainda é uma meta a ser alcançada: de vez
que somos animais humanizados em processo de gradação de
humanidade. Portanto, trata-se de próteses que funcionam como
extensos para os indivíduos, potencializando suas corporeidades, e,
no caso da sociedade humana ou da espécie humana como um
todo, servindo de aparato indispensável de recursos.

Lugarizando o Planeta
Em suma, pode-se falar em uma morfologia sócio-espacial. O
processo de produção dessa morfologia denominar-se-ía
antropotopia. Ou seja, o lugar do humano tendo como meta o
humano do lugar. E o núcleo dessa concepção é o conceito de
exossomatismo. Então, é possível se esboçar uma teoria da
espacialidade humana a partir da ação exossomática. O conceito
seminal desse processo é o lugar. Pois o agir exossomático é o
modo de lugarizar a espacialidade natural, revelada pela
extensão/volume da materialidade, explorando as possibilidades
abertas pelo espaço enquanto dimensão. A lugarização humana se
dá pela manipulação da materialidade, moldando-a em artefatos,
conforme já ventilado, daí surgindo as espacialidades na forma de
objetos para funcionarem como recursos, isto é, diversos tipos de
próteses.

A ação exossomática humana abrange tanto a preocupação e a


ênfase de Milton Santos com as técnicas, ou melhor, com o
fenômeno da técnica, quanto a proposta de Benno Werlen de se
explicar as espacialidades pelas ações humanas. É necessário
lembrar que o lugar contém todos os conceitos fundamentais do
discurso geográfico/antropotópico, relativos à sua composição, isto
é, que definem seus elementos constituintes: paisagem (os
aspectos do lugar), região (um continente espacial cujo conteudo
pode revelar homogeneidades ou diferenciações, interna ou
externamente, em comparação a outros contextos, conforme a
escala considerada), território (demarcação e controle de limites do
lugar), população (agente da moldagem do conteúdo de um local e
da consequente produção do lugar) e os derivados de tais
conceitos. Porquanto o lugar surge pela moldagem do conteúdo de
um local, ou seja, pela referida ação exossomática, quando se
aloca, ou se localiza, um determinado uso. Isto é, pela construção
da espacialidade básica: o lugar, de acordo com nossa tese aqui.

Por sua vez, o local, ao ser definido cartograficamente pelas


coordenadas, torna-se o endereço singular do lugar. No caso das
chamadas regiões naturais, a lugarização surge implicitamente pelo
uso na forma de reserva, conservação ou outra modalidade de
função atribuída ao conteúdo do local. Da mesma forma com
relação à paisagem. Os aspectos imagéticos de um local são
também lugarizados pelo uso estético dos mesmos. Quer de modo
explícito (turismo, por exemplo), quer de maneira implícita (reserva
para uso efetivo futuro).

Pela importância do conceito de região para o discurso espacial,


podemos tambem definí-la do seguinte modo:
Geograficamente/Antropotopicamente falando, região é um local
ampliado ou um lugar (resultante da ocupação humana de um local)
cujo conteúdo diferenciado determina os limites de sua ocorrência.
Desse modo, regionalização é o processo de delimitação tanto de
um dado conteúdo localizado quanto da compartimentação de
aspectos singulares desse mesmo conteúdo.

Em tempo, as regiões naturais, como locais de biomas, por


exemplo, passam à condição de lugares na medida em que lhe são
atribuídas funcionalidades, como reservas, unidades de
conservação, etc., como já foi ventilado. Portanto, também
podemos dizer que região é a escala de ocorrência de um dado
fenômeno (natural e/ou social), com suas complexidades
intrínsecas, que define a magnitude da mesma. Assim, a região
define o local de um detalhe revelado por uma grande ampliação
(zoom) espacial tanto quanto a fisionomia mostrada por uma
imensa área contida em uma escala reduzida. Em suma, região é
um contexto lugarizado antropicamente quer pela virtual exploração
de suas potencialidades, quer pela efetiva ocupação humana. Em
definitivo: qualquer contexto antes de ser uma região é sempre um
lugar. Porquanto o conteúdo do lugar é definido a partir das
funcionalidades que suas diferenciações ganham por conta das
suas propriedades intrínsecas. A tais propriedades, socialmente
reconhecidas, são atribuídos valores, os quais, no jogo social,
transitam entre valor de uso e valor de troca.

Antropotopia
Então, é possível a partir do conceito de lugar se fazer o resgate de
outros conceitos chave que definem suas funções, isto é, que
expressam os atributos (categorias) do mesmo, dentro do âmbito do
pensamento espacial: paisagem, território, região e congêneres. O
lugar, portanto, é o fundamento do pensamento espacial como
superação do discurso geográfico. De vez que, relembrando Marx,
trata-se de um concreto de múltiplas determinações, cuja incidência
em um determinado local gera uma espacialidade sempre
exclusiva, ou seja, um lugar único e singular. Pois as ações
humanas são modos de lugarização do planeta, conformando-se a
variáveis diversas tanto físicas quanto culturais, resultando disso o
que chamamos de mundo. A tarefa que se impõe é a análise da
dialética mundo versus planeta. Tal dialética implica uma teoria
antropotópica, superando a geográfica, fundamentada numa
explicação lugarativa que, por sua vez, expresse a ação
exossomática humana como motor de moldagens ambientais.
Desse modo, por exemplo, a grade curricular para a formação do
profissional dessa área deve subsidiar a formatação de um discurso
espacial visando a explicação científico-social da produção de
recursos espaciais.

Há, então, no processo de lugarização do planeta, diferentes


dimensões/escalas de lugar: desde o povoado e a cidade,
passando pela região, e chegando ao país e ao mundo.
Lugarização que deveria ser discutida e analisada antes de se falar
em territorialização e derivados ou de regionalização e congêneres.
Para tanto, propomos uma nova disciplina: Antropotopia.

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