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UFC/FEAAC/DTE Análise Microeconômica Prof.

Henrique Félix Aula 01

FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA ECONÔMICA

1. Definições Preliminares

➢ Economia: é uma ciência social que estuda como os agentes econômicos - indivíduos ou
famílias, empresas ou firmas, setor público (governo) e setor externo (resto do mundo) -
tomam decisões (escolhem) em relação a utilização dos recursos produtivos escassos na
produção de bens e serviços, com a finalidade de satisfazer as ilimitadas necessidades
humanas. Portanto, o elemento básico norteador da ciência econômica é a escassez dos
recursos produtivos quando confrontada com o atendimento das necessidades humanas.

➢ Sistema Econômico: é a forma de organização assumida por uma sociedade composta de


agentes econômicos tomadores de decisões em relação à alocação dos recursos produtivos
(base econômica), produção e distribuição de bens e serviços. Pode também ser definido
como um conjunto de regras e práticas que regem a atividade econômica de uma região ou
país.

➢ Atividade Econômica: é o conjunto dos esforços realizados pelos agentes econômicos para
produzir os bens e serviços capazes de satisfazerem as necessidades humanas.

➢ Necessidades: constituem as carências que um ser humano sente de um determinado bem ou


serviço. As necessidades podem variar de sociedade para sociedade de acordo com o grau de
desenvolvimento destas (padrões culturais, religiosos, clima, topografia, recursos existentes,
etc.). As necessidades podem ser classificadas em:
- Individuais: diz respeito a um indivíduo, como alimentação, vestuário, moradia. Nesta
categoria, ainda podem ser:
• Absolutas: aquelas sentidas por todos os seres humanos (fome, sede, sono,
sexo);
• Relativas: são aquelas sentidas de formas diferentes pelos seres humanos,
dependendo de seus hábitos, costumes, valores, etc.
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- Coletivas: dizem respeito a um grupo de pessoas ou à sociedade como um todo. São


exemplos: educação, saúde, saneamento, transporte e segurança.

➢ Utilidade: é a satisfação total auferida por um indivíduo ou sociedade em decorrência do


consumo de certa quantidade de um bem ou serviço. Também pode ser definida como o grau
de adequação de um bem ou serviço à necessidade sentida pelo indivíduo ou sociedade.

➢ Bens: é todo e qualquer objeto material e tangível capaz de satisfazer a uma necessidade,
portanto, que tem utilidade.

Classificação dos Bens:

➢ Livres: são os bens cuja disponibilidade é maior que as necessidades dos seres humanos.
Existem em abundância na natureza. Sua produção não envolve a utilização de fatores de
produção escassos, portanto, não são passíveis de avaliação econômica. Ex.: ar, luz solar,
água do mar.
➢ Econômicos: são os bens cuja disponibilidade é menor que as necessidades dos seres
humanos. Sua produção envolve a utilização de fatores de produção escassos. São
passíveis de avaliação econômica, possuem custo e, por conseqüência, é necessário pagar
um preço para obtê-los.
De Consumo: são os bens cujo atendimento às necessidades humanas os exaure
completamente de forma mediata ou imediata. Esta característica os classifica em:
Não-Duráveis: seu consumo os exaure completamente, imediatamente
após ao atendimento das necessidades humanas. Ex.: alimentos, produtos
de higiene e limpeza, etc.
Duráveis: seu consumo não os exaure completamente após o atendimento
das necessidades humanas, portanto, sua utilidade perdura durante um
certo período de tempo. Ex.: eletrodomésticos, veículos, vestuário,
utensílios em geral, etc.
De Capital (ou de Produção): são os bens que servem para a produção de outros
bens, especialmente, os bens de consumo. Ex.: máquinas, equipamentos,
instalações.

SERVE PARA A PRODUÇÃO DE OUTROS BENS


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Intermediários: são bens manufaturados, insumos agrícolas ou matérias-primas que são


empregados na produção de outros bens. Ex.: peças, aço, madeira, ferro, cimento, etc.

Finais: são os bens prontos para o consumo. Ex.: roupas, artigos de higiene, lâmpadas,
móveis, televisão, etc.

Complementares: são bens cuja utilidade somente se completa com o consumo de um


outro bem que lhe complementa. Ex.: carro e pneus/combustível, cd’s e toca cd’s,
computador e programas, armações e lentes, etc.

Substitutos (ou sucedâneos, similares, concorrentes): são bens que possuem parcial ou
totalmente a mesma finalidade de consumo. Geram a mesma utilidade ou satisfação para
o consumidor. Ex.: manteiga e margarina, etc.

➢ Serviços: são itens não-materiais (intangíveis) de consumo que também são capazes de
satisfazer a uma necessidade, portanto, tem utilidade. Ex.: educação, telefonia, energia,
saúde, transporte, lazer, comunicação, etc.

➢ Fatores de Produção (ou Recursos Produtivos): são os elementos (ingredientes)


necessários para a produção dos bens e serviços pelas empresas.
Recursos Naturais Terra, água, minerais, vegetais, etc.
Trabalho Mão-de-obra (capital humano)
Capital Físico (máquinas, equipamentos, instalações)
Tecnologia Técnicas produtivas (know how)
Capacidade Gerencial Técnicas de gerenciamento da produção

➢ Produção: é a atividade econômica da firma, empresa ou produtor individual responsável


pela transformação dos fatores de produção em bens e serviços (produto).

➢ Firma (empresa ou grupo de empresas): organizações responsáveis pela produção, ou seja,


que utilizam tecnologias na transformação dos recursos produtivos em bens e serviços.
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➢ Sistema de Preços: é o conjunto de todos os preços finais dos bens e serviços e de todas suas
inter-relações.

➢ Mercado: é o cenário (geográfico ou não) de negócios entre compradores (demandantes) e


vendedores (ofertantes). Numa economia moderna, existem inúmeros mercados:
- Mercado de Bens e Serviços (define os preços dos bens e serviços)
- Mercado de Trabalho (define as remunerações do fator trabalho)
- Mercado Monetário (define a taxa de juros, por exemplo SELIC)
- Mercado Financeiro (define taxas, volume e prazos de crédito, poupança e
financiamentos nos cenários interno e externo)
- Mercado de Capitais (preços de ações e títulos públicos e privados)
- Mercado de Commodities (spot, Futuro e a Termo)
- Mercado de Câmbio (taxa de câmbio e volume de divisas)
- Mercado Externo (comércio de bens e serviços)

2. Problema Econômico

A escassez é originada do conflito entre a disponibilidade limitada de recursos produtivos e


as necessidades ilimitadas dos consumidores. Deste conflito nascem as questões (ou problemas
econômicos) fundamentais:
➢ O QUE e QUANTO produzir?
Problema de natureza ALOCATIVA. Os indivíduos (sociedade) devem escolher quais
bens/serviços serão produzidos e em que quantidades.
➢ COMO produzir?
Problema de natureza TECNOLÓGICA. As firmas devem escolher o melhor processo de
produção com vistas a produzir o máximo de bens/serviços com o menor custo.
➢ PARA QUEM produzir
Problema de natureza DISTRIBUTIVA. Os indivíduos (sociedade) devem decidir como o
resultado do esforço econômico será distribuído pela sociedade.
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3. Sistemas de Organização Econômica

- Economia de Mercado
- Economia Planificada (Centralizada)
- Economia Mista (de Mercado e Planificada)

➢ Economia de Mercado: sistema no qual todos os fatores de produção são de propriedade


LIBERALISMO
privada. Com isso, as decisões do que, de quanto, como e para quem produzir são tomadas
pelo setor privado da economia, sem a interferência do Estado. Numa economia de mercado
pura, todos os preços básicos da economia (preço dos bens e serviços, salários, juros e
câmbio) são definidos e ajustados livremente nos mercados. São exemplos de países que se
aproximam deste tipo de organização: Estados Unidos, alguns países da Europa Ocidental.

Principais características:
- Propriedade privada dos fatores de produção;
- Não há intervenção do Estado na economia, a não ser naquelas atividades próprias de
governo (saúde, educação, transporte, habitação, segurança pública e nacional, etc.);
- O mercado é o elemento soberano e sinalizador para a alocação dos recursos produtivos
direcionados à produção de bens e serviços;
- A atividade de produção das empresas objetiva a maximização do lucro.

➢ Economia Planificada: sistema no qual a propriedade dos fatores é do Estado. O Estado é o


SOCIALISMO
planejador e o gerenciador central de todos os recursos produtivos e é quem decide o que,
quanto, como e para quem produzir. Exemplos: ex-URSS, países do ex-bloco socialista,
China Comunista e Cuba.

Principais características:
- Propriedade estatal dos fatores produtivos;
- O Estado é o agente único de todas as decisões econômicas (produção, distribuição e
consumo);
- A produção tem destinação coletiva de acordo com o planejamento estatal.

O ESTADO TOMA AS DECISÕES RELACIONADAS A ECONOMIA DO PAÍS


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Críticas mais usuais:


- Economia de Mercado: o conflito de interesses entre consumidores e produtores
(empresas) provoca: má repartição (distribuição) da renda gerada na produção (conflito
distributivo entre capitalistas e trabalhadores); imperfeições no mercado (oligopólios,
sindicatos); utilização abusiva (desperdício) de recursos; existência de externalidades
negativas (poluição); alienações e ansiedades (em relação ao consumo) provocadas pela
publicidade; instabilidades econômicas (abastecimento e preços): a liberdade de escolha
é limitada pela insuficiência de renda da maioria dos componentes da sociedade. No
âmbito político, a principal mazela é a corrupção.
- Economia Planificada: A centralização dos poderes político e econômico nas
economias planificadas levou-as ao fracasso como sistema alternativo, refletidos em
burocracia crescente, falta de flexibilidade na condução dos planos estatais, restrições à
liberdade e aos direitos individuais e ineficiência produtiva (empresas deficitárias que
recorrem sistematicamente ao financiamento por parte do poder central). No cenário
político, também ocorre corrupção e a existência de modelos políticos corporativistas.

➢ Economia Mista (de Mercado e Planificada): É um modelo híbrido, intermediário, no


qual a iniciativa privada concorre em diferentes dimensões com a intervenção estatal. O
grau de intervenção do Estado na atividade econômica (como controlador dos preços,
comprador de bens e serviços, fornecedor de serviços públicos, etc.) é o elemento
diferenciador das economias com forma de organização mista. Exemplos: a grande
maioria dos países.

4. A Curva de Possibilidades de Produção (Fronteira de Produção)

Diante da escassez, qualquer economia se defronta com os problemas do que e quanto,


como e para quem produzir. Numa economia de mercado, a tarefa é escolher dentre as inúmeras
opções de utilização dos recursos produtivos, aquelas que permitam atender aos objetivos de
maximização da satisfação dos consumidores e de maximização dos lucros das firmas ou
empresas.
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Suposições:
1. Considere apenas duas opções de produção (ex.: agricultura ou indústria);
2. A tecnologia é dada, ou seja, não há inovações no período analisado;
3. A disponibilidade de recursos produtivos é fixa, ou seja, não há alteração da base
econômica;
4. Os recursos ou fatores de produção estão totalmente empregados (pleno
emprego).

Define-se a Curva de Possibilidades de Produção ou Curva de Transformação como a fronteira


de produção máxima que uma economia pode atingir, dadas as suposições acima.

Pontos Importantes

➢ Ponto A: a economia está alocando todos os seus recursos para a produção de bens
Agrícolas.
➢ Ponto B: está reservando todos os seus recursos de produção para a produção de bens
Industriais.
➢ Ponto C: a economia está combinando eficientemente e plenamente os recursos
produtivos entre as duas opções de produção.
➢ Ponto E: ponto além da fronteira que não pode ser alcançado a menos que as suposições
sejam relaxadas.
➢ Ponto I: ponto interno à fronteira significa que os recursos não estão sendo utilizados
plenamente, isto é, estão parcialmente empregados (há ociosidade).
➢ Ponto O: origem do espaço bidimensional, significa que não há utilização dos recursos
(produção zero, ociosidade total)
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Expansão ou Contração da CPP


➢ A descoberta de novos recursos produtivos e as inovações tecnológicas que garantam
uma maior produtividade dos fatores são elementos de expansão da CPP.
➢ A destruição, o desperdício ou esgotamento da base econômica são fatores de retração da
CPP. INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E NOVOS RECURSOS

O Conceito de Custo de Oportunidade (implícito ou alternativo)

➢ Custo de Oportunidade refere-se ao sacrifício ou perda decorrente da escolha de uma


determinada alternativa de produção em detrimento de outra.
➢ Dadas as suposições da CPP, se uma sociedade decide por uma determinada alternativa de
produção, ela deve reduzir a produção de uma outra alternativa. No nosso exemplo, se a
sociedade decidir produzir bens industriais, então a produção de bens agrícolas terá que ser
reduzida. A perda ou o sacrifício imposto à sociedade em termos da menor oferta de produtos
agrícolas no mercado chama-se custo de oportunidade.
➢ Obs.: Esse conceito somente faz sentido no caso em dos recursos estarem plenamente
empregados. Portanto, se existirem recursos ociosos, o custo de oportunidade é zero, pois não
é necessário sacrificar recursos e sim apenas utilizá-los mais plenamente.

O Formato da CPP
A CPP é decrescente, visto que há perdas (custo de oportunidade) quando a economia opta por
uma alternativa em detrimento da outra.
A CPP é côncava em relação à origem em função da lei dos custos crescentes. No nosso exemplo,
se a economia decidir produzir mais bens industriais, o deslocamento de mão-de-obra do setor
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agrícola para o setor de manufaturas implicará em maiores custos de treinamento. Ao contrário,


se a economia decidir produzir mais bens, a mão-de-obra mais qualificada da indústria, deslocada
para a agricultura, implicará em custos mais altos com estes trabalhadores.

DIVISÃO DA CIÊNCIA ECONÔMICA

Teoria Econômica
Microeconomia Macroeconomia
• Teoria do Consumidor • Contabilidade Nacional
• Teoria da Firma • Teoria da Determinação da Renda
• Estruturas dos Mercados • Teoria Monetária
• Teoria dos Jogos • Teoria da Inflação
• Equilíbrio Geral • Teoria do Comércio Exterior
• Economia do Bem-Estar • Teoria do Crescimento e do
• Organização Industrial Desenvolvimento Econômico
➢ Política Econômica: É a forma como a Teoria Econômica é aplicada na prática.
Corresponde às formas pelas quais o governo intervém na produção, consumo e
distribuição das riquezas de um país.

FORMAS PELO QUAL O GOVERNO INTERFERE NA


PRODUÇÃO, CONSUMO E DISTRIBUIÇÃO DE RIQUEZAS

Referência:
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: Micro e Macro. Quarta Edição. São Paulo: Editora
Atlas, 2008. Cap. 1

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