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3.

4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (1 de 14) B


&
3.4.2- Eixo e topo de locação da linha: P

3.4.1- PRINCÍPIOS.
O princípio básico da execução da geometria vem a ser, obviamente, a colocação (ou recolocação) da
via na cota e eixo de projeto. No campo, a materialização deste princípio é alcançado com as definições de:
a) Qual a posição em que a linha tem que ser colocada?
b) Como levar a linha para a nova posição?

Linha de eixo piquete


real da via

Linha de eixo Marcos fixos


desejada, de referência
locada pela
topografia

piquete

Figura 3.27: eixo e topo da linha


3.4.2- EIXO E TOPO DE LOCAÇÃO DA LINHA: A definição do posicionamento da via, em eixo e
cota, pode ser através dos meios:
a) Processo visual: É de baixa precisão mas muito prático, sendo um processo ainda muito usado no
Brasil, principalmente para defeitos SPOT (pontuais), onde a referência dos pontos próximos permite que
o Mestre de Linha reposicione a linha em uma condição geométrica adequada.
b) Levantamento por corda: Usado principalmente em curvas, é um processo bastante prático e que tem
uma precisão superior ao visual. Deve ser usado para correções SPOT. (ver Figura 3.28)
O uso de aparelho ótico seria o meio correlato para correções em tangentes.

c) Topografia: Com precisão adequada, a topografia fornece o correto posicionamento da linha,


materializando o eixo e cotas nas formas de piquetes e marcos laterais, conforme mostrado na Figura
3.27. Os piquetes de eixo indicam o posicionamento para o qual a linha deve ser levada, em planimetria.
Os marcos laterais fornecem as cotas do trilho. A cota do marco lateral é transferida, por régua de nível,
para o trilho. Em situação de curva, a transferência deve ser feita para o trilho interno.

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (2 de 14) B
&
3.4.3- Execução do posicionamento geométrico da linha P

d) Marcos fixos de referência: Os marcos fixos são peças sólidas, normalmente perfis metálicos, que são
posicionados topograficamente na lateral da linha. Os marcos são instalados a uma distância fixa do eixo
de projeto da via, e com altura que define a cota de projeto do trilho. Assim, o marco fixo disponibiliza
os mesmos dados da “topografia”, mas de uma maneira perpétua. A qualquer instante a linha pode ser
checada quanto ao correto posicionamento sem a necessidade de serviços topográficos.

3.4.3- POSICIONAMENTO DA LINHA NO EIXO E TOPO:


Além das funções básicas desenvolvidas pelo lastro, tais como a de absorver e distribuir
uniformemente sobre a plataforma as cargas transferidas pelo dormente, mantendo a estabilidade da linha
quanto aos movimentos vertical, lateral e longitudinal, é também o lastro que permite o trabalho de
recuperação da geometria da linha.
Por ser um elemento de pedra granulada, o lastro permite que sua conformação possa ser alterada e
estabilizada a qualquer instante. Dessa maneira a grade ferroviária (trilhos + dormentes + fixação) pode ser
reposicionada em seu interior através da seguinte seqüência de procedimentos (manuais e mecanizados):
 escarificação e remoção do lastro;
 deslocamento da grade para a nova posição de eixo e cotas prefixados;
 “encaixe” (colocação) do lastro, socaria (adensamento) do lastro;
 estabilização e consolidação do lastro.
3.4.3.1- Escarificação:
Quando o serviço de descolamento lateral da grade for manual torna-se necessário a remoção do
lastro no entorno da grade, na região para onde ela será deslocada. Para tal também é necessário que o lastro
seja escarificado com ferramentas também manuais (picaretas); Se o serviço for de nivelamento não há
necessidade de escarificação.
3.4.3.2- Deslocamento da grade:
O reposicionamento da linha compreende os trabalhos de alinhamento e nivelamento. O alinhamento
pode ser executado através da ação manual ou de equipamentos de grande porte. O nivelamento pode ser
também manual, mecanizado, ou com uso de macacos mecânicos próprios para o serviço.
Quanto a precisão o processo pode ser dito absoluto ou relativo. É absoluto quando o novo local para
onde a grade deve ser posicionada é definido com precisão topográfica, quando existe a materialização do
eixo e cotas (topo do trilho) que permitem que a grade seja posicionada com total exatidão. A figura 3.27,
anterior, mostra a existência de eixo e cotas de topos para a execução da correção, permitindo que o
reposicionamento da grade seja em processo absoluto.
O processo é dito relativo quando a correção de um ponto é feita em relação (ou com auxílio) a outros
pontos usados como referência, como exemplificado na figura 3.28, a seguir apresentada. Nela está ilustrado

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (3
(1 de 14)
6) CURSO
B
&
3.4.3.2.1 --- método
3.4.1.2- Execução dorelativo
posicionamento geométrico da linha P

que a correção do ponto “b” é executada com auxilio da corda “d-e”, logo é uma correção de “b” relativa aos
pontos “d” e “e”. A correção no ponto “g” é feita em relação aos pontos “f” e “h”.
A Figura 3.28 exemplifica uma correção pelo método relativo, em uma linha em curva. Mostra que a
curvaque deveria estar na posição teórica “a-d-e-c” (linha azul tracejada) encontra-se na posição real “a-b-c”
(linha preta cheia). Com isto a flecha, que no ponto “b” que deveria ser “f 1”, encontra-se com um valor
maior “f2”. O mesmo sucedendo com “f3” no ponto “g”, e nos demais pontos da curva onde a real (linha
preta) não coincide com a teórica (linha azul tracejada)
Figura 3.28: correção geométrica em b (ponto)
g
curva pelo método relativo f2 h
f
d e
a f1 c
f3

R = raio da curva R

a-b-c: curva – posição real f1 – flecha teórica da curva, na corda: d e


a-d-e-c: eixo teórico da curva f2 – flecha real no ponto “b”, na corda “d-e”
f3 – flecha real da curva, no ponto “g”, na corda “f-h”

3.4.3.2.1- Processo de correção pelo método relativo:


a) Definição da flecha da curva: Se for conhecido o raio de projeto da curva, a flecha (f= C 2/8R) será
deduzida pela expressão “f=18/R” para uma corda usual de 12 metros. Caso não seja conhecido o raio,
diversas medições devem ser feitas com uma corda de 12 metros (pode ser de outro comprimento) ao
longo da curva “a-b-c” para a definição da flecha média a ser usada como padrão de correção.
b) “Puxamento da linha”: Conhecida a flecha “f1”, a correção da curva em um ponto “b” é executada com
um “puxamento” da linha para este valor. No caso, o ponto “b” que tem uma flecha “f 2” (na corda d-e)
tem que ser deslocado para o interior da curva até que alcance um valor de flecha igual a “f 1”. Um ponto
“g”, de flecha “f3” tem também que ser deslocado até que alcance uma flecha “f 1”. Dessa maneira a
corda será deslocada ao longo da curva e as flechas serão corrigidas para o valor “f 1”, até que toda a
curva tenha seu eixo coincidente com o dito “de projeto”.
c) Em tangentes: Tendo menor aplicabilidade nas tangentes, a corda dá lugar ao visual e a equipamentos
óticos, porém a correção será sempre de um ponto em relação a outros dois.
d) Nivelamento relativo: Tanto em curvas como em tangentes o nivelamento longitudinal pode ser
executado pelo princípio da corda, com aplicações do recurso visual e de ferramentas como o nível ótico.
Em curvas o nivelamento longitudinal tem a ajuda da utilização de régua de superelevação, na
verificação do nivelamento transversal.

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (4 de 14) B
&
3.4.3.2.2 ---- correção mecanizada P

3.4.3.2.2- Processo de correção mecanizado:


a) Princípios básicos: Uma máquina de grande porte, de correção geométrica de Via Permanente, chamada
de Socadora de Linha, pode trabalhar pelo processo absoluto e relativo.
No absoluto o operador comanda a máquina para “puxar” a linha para o eixo e topo, nos valores
disponibilizados pela topografia ou marcos de referência. No sistema absoluto a máquina usa o mesmo
princípio da corda para executar a correção geométrica, conforme ilustrado na Figura 3.29.
A maioria das máquinas trabalham com dois eixos fixos e um móvel. Os dois fixos (1 e 3) funcionam
como a base de referência (ou corda) para o método “relativo”. O “eixo_2” funciona como dispositivo de
leitura do “erro” de alinhamento, com liberdade de movimento no sentido transversal a linha. Ao mesmo
tempo que detecta o erro, o dispositivo do “eixo_2” envia informações para que outros dispositivos
desloquem a região da linha sob o eixo_2, no sentido de correção necessária.
Eixo Eixo
Eixo
1 2
3

deslocamento -5

a c 0
b
+5

Figura 3.29: princípio da correção mecanizado, por corda Sentido de trabalho

No exemplo da Figura3.29, o eixo_2 está posicionado em um defeito de alinhamento da linha


(“gancho”). Em decorrência o eixo está deslocado para a esquerda (em relação ao sentido de trabalho),
configurando um deslocamento relativo entre ele e a corda “a-b”.
A escala solidária ao eixo (em azul na figura) mostra que ocorreu um deslocamento de “+2” em relação à
corda “a-b”, sendo esse o “defeito” a ser corrigido.
Se a escala ilustrada na figura funcionar também como um potenciômetro, ou outro dispositivo
codificador de um sinal elétrico, a máquina terá a informação necessária para fazer o puxamento da linha
até a posição em que o conjunto zere a leitura na escala, ou seja, quando a corda “a-b” estiver sobre a
posição zero da escala.
O exemplificado mostrado para a tangente (reta) pode ser estendido para um alinhamento em curva.
Caso o “+2”, da escala, signifique uma flecha de 20 mm, e caso o operador da máquina fixe este “+2” como
o “ponto zero” da escala, o qual a máquina tem que manter, a máquina tenderá a fazer uma curva com
flecha de 20 mm. Isto significa que se a escala mostrar “+3” a máquina terá que puxar a linha para o “+2”
e, caso a leitura seja 0 (zero), a máquina terá que puxar a linha também para o “+2”.
Nota: A figura mostra o sistema medindo a linha, como um todo, mas tanto a leitura quanto a
correção é feita individualmente por fiada de trilho.

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (5 de 14) B
&
( erro induzido no processo mecanizado & nivelamento mecanizado) P

b) Erro induzido: A Figura 3.30 retrata o mesmo defeito de alinhamento ilustrado na Figura 3.29 (anterior),
mas posicionando o sistema de medição de maneira diferente. Na anterior, o eixo_2 (medidor) estava
sobre o defeito. Na figura 3.30, abaixo, o eixo_3 é que está inserido no defeito.
Na situação anterior da figura 3.29 a leitura na escala era de “+2”, enquanto na figura 3.30 a leitura é de
“-1” para um mesmo defeito. O exposto permite concluir que o sistema de medição induz a um erro sempre
que o eixo dianteiro da máquina sofrer a influência de um defeito. Nesse caso o sistema mecanizado estará
incutindo na linha um “gancho” de magnitude “e” (1 na escala) proporcional ao defeito “d” da linha,
conforme:
 e/d = AC / (CB+AC)
logo: e = d . AC / (AC+CB)
portanto o erro “e” será tanto menor quanto menor for a distância “AC” e maior for a distância entre os
eixos extremos da máquina (base de medição). Nas máquinas convencionais o erro “e” nunca alcança
a 20% do valor do defeito induzido pelo eixo dianteiro (eixo 3).
AC CB

d
e

deslocamento -5
a 0 b
c
Eixo 2 +5

Eixo
Eixo Sentido de trabalho 3
1 Figura 3.30: erro induzido

c) Nivelamento mecanizado pelo processo da corda: O dispositivo básico de medição do nivelamento é


ilustrado na figura 3.31. O princípio de medição, e do “erro”, é o mesmo daquele mostrado para o
alinhamento.
c
a +30 b
0
deslocamento - 30

Figura 3.31: nivelamento mecanizado Sentido de trabalho

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (6 de 14) B
&
(sistema com raio de luz) P

d) Sistema com raio de luz: Em alguns equipamentos a corda física é substituída por raio de luz,
infravermelho ou laser.
O princípio de trabalho é o mesmo daquele mostrado anteriormente como “relativo”, com uso da corda
física. As peculiaridades dos equipamentos, e leituras, são ilustradas na Figura 2.32.
Como nos exemplos anteriores a máquina Socadora continua com três eixos, sendo dois fixos (1 e 3) e
um móvel no sentido transversal, o “eixo 2”, que tem a finalidade de relocar a linha para a nova posição. A
novidade neste presente sistema é que existe um quarto eixo representado na figura pelo “carrinho”. No
meio deste eixo é montado um emissor de luz direcionado para o meio do “eixo 1”. No “eixo 2” é instalado
um anteparo para o feixe de luz, chamado “placa de sombra”. A placa de sombra é posicionada do meio do
eixo para um dos lados, fazendo com que o eixo fique dividido em duas partes iguais quanto a possibilidade
de deixar passar o feixe de luz.
Eixo
Eixo 2 Eixo carrinho
1 3

com sinal
c b d
a
sem sinal
receptor placa de sombra transmissor

Figura 3.32: princípio do alinhamento mecanizado com raio de luz Sentido de trabalho

O princípio de trabalho é o “zero – um”. Se a placa de sombra impede a passagem de luz um dispositivo
“entende” como “zero”, ou ausência de sinal e, neste caso, é acionado o descolamento do “eixo 2” (e da
linha) para o lado da placa (direito da máquina), até que com o deslocamento a placa deixe passar a luz e o
receptor acuse o sinal, quando então o deslocamento é interrompido.
Se na figura o “gancho” da linha fosse para o lado oposto, para o lado direito da máquina, a placa de sombra
não estaria interceptando o sinal luminoso e então o receptor estaria recebendo o feixe de luz. Neste caso o
dispositivo de comando entenderia como “um”, ou existência de sinal, e acionaria o “eixo 2” para o lado
esquerdo da máquina até que a placa de sombra intercepte o sinal, quando então o movimento é
interrompido.

Para o nivelamento o princípio é o mesmo, com os equipamentos montados no plano vertical.

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (7 de 14) B
&
( alinhamento com leitura de gráfico) P

A grande vantagem desse sistema de feixe de luz sobre a corda convencional é a possibilidade de ser
conseguido uma base de medição muito maior (distância de “a” a “d” na Figura 3.32), com isto há um
aumento na precisão do trabalho e uma grande redução no erro induzido “e” citado no item b.2.2.
Os maiores benefícios estão sendo conseguidos com o raio laser, já que ele tem um alcance muito
superior ao infravermelho. Com o laser tem sido possível trabalhar com “bases de medição” de até 300
metros. Quando a tangente é inferior aos 300 metros o alinhamento torna-se perfeito, quase um alinhamento
em processo “absoluto”, conforme ilustrado na Figura 3.33.
transmissor
socadora feixe laser ou emissor

curva 2
Curva 1 Tangente < 300 metros
Figura 3.33: raio laser no alinhamento mecanizado

No exemplo da Figura 3.33 o emissor foi posicionado no ponto notável “TE” da curva 2. A máquina
Socadora, iniciando o serviço no ponto notável “ET”, da curva 1, irá fazer um alinhamento perfeito da
tangente entre as duas curvas.
Nivelamento com raio de luz: Tanto o raio infravermelho quanto o raio laser são usados
simultaneamente para alinhamento e nivelamento da linha, dentro do mesmo princípio.
e) Alinhamento através de leitura prévia da curva: Por qualquer dos dois sistemas, de corda física ou
por raio de luz, dispositivos da máquina Socadora podem levantar e registrar um gráfico com os pontos
relativos de uma curva, seja em papel, seja em um computador.
Sobre o gráfico da curva levantado pela própria máquina (Figura 3.34-a) o operador do equipamento “traça”
a melhor situação de correção da curva (Figura 3.34-b, linha preta). Posteriormente a máquina segue o
“traçado” executando a correção da linha.
máquina

CE ET CE ET
TE EC TE EC

Figura 3.34-a Alinhamento com registro prévio da curva Figura 3.34-b

A Figura 3.34-a mostra o gráfico da curva levantado pela máquina. A Figura 3.34-b mostra o trabalho
do operador ao colocar a “fita preta” sobre o gráfico, demarcando o traçado que a máquina tem que seguir. O
operador retorna a máquina para o ponto de início de curva (TE) e aciona o comando da máquina que

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (8 de 14) B
&
( ALC ) P

iniciará os serviços automáticos de correção. Um sensor ótico irá ler os pontos do gráfico, demarcados pela
fita preta, e comandará a correção de alinhamento conforme o traçado dessa “fita preta”.
O sistema de correção por gráfico apresenta a vantagem de ser bastante prático, mas tem como
desvantagem a dependência do “bom senso” do operador. É o operador que através do gráfico levantado
define a posição dos pontos notáveis da curva, além da própria flecha. A má colocação da “fita preta” pode
até piorar a situação geométrica de uma curva.
O gráfico da Figura 3.34-b detalha a disparidade dos comprimentos das Espirais. Isso é errado e não
ocorreria se o processo de alinhamento fosse sempre pelos pontos fixos, com marcos de referência. Mas o
sistema relativo permite que o operador “tire” a linha do lugar. Principalmente permite que programe um
traçado impossível que a máquina não poderá fazer por “falta ou sobra” de trilho. Isto acontece muitas vezes
e, em decorrência, a máquina acaba fazendo um “gancho disfarçado” na linha.

Para aproveitar o de bom que o sistema de gráfico pode proporcionar, eliminando os seus pontos
fracos, os fabricantes de Socadoras desenvolveram um novo sistema em que um computador subsidia ao
operador na tomada de decisão. Dessa maneira a “colocação da fita preta” é feita com precisão matemática.
O computador recebe o gráfico, com o posicionamento planimétrico da curva. Analisa matematicamente e
informa qual é o traçado que melhor se adapta na curva em correção. O operador pode aceitar a sugestão ou
incutir alguma variante para uma nova avaliação do programa do computador, algo como um ponto notável
deslocado de poucos centímetros. Confirmado o plano de correção, o operador leva a máquina ao início da
curva, ponto “TE”, e sob comando a máquina executa automaticamente a correção da curva de acordo com a
programação definida no sistema computadorizado.

A Figura 3.35 mostra o monitor e comandos de um equipamento de correção computadorizada antes


descrito. A foto é de um
sistema do fabricante Plasser &
Theurer, designado ALC.

Figura
3.35

Nota: Existem programas de


computador que fazem de uma
maneira mais trabalhosa, e
menos precisa, o processo do
ALC. Um programa chamado SAP-2, usado na FCA, define as flechas “ideais” de uma curva a partir de
flechas lidas no campo (por corda) e digitadas no computador.

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (9 de 14) B
&
(3.4.3.3 ----- encaixe do lastro - Reguladora) P

3.4.3.3- “Encaixe” (colocação) do lastro: Tanto em serviços manuais quanto mecanizados pode ocorrer a
falta de lastro após o deslocamento da grade. Os “vazios”, conseqüentes do deslocamento, devem ser
preenchidos com lastro adicional para permitir a socaria. Também, após completa a socaria, pode ser
necessário lastro adicional para compor o perfil da linha.

 Manualmente o “encaixe” e formação do perfil do lastro pode ser


Figura 3.36: forcado
feito com auxílio de garfos (forcados), como o ilustrado na Figura 3.36.

 O serviço mecanizado é feito por equipamentos chamados de reguladoras de lastro. São máquinas de
grande porte equipadas com “arados” que permitem levar camadas de lastro de fora para o centro da linha,
ou do centro para as laterais,
além de formar o ombro do
lastro. São máquinas que
normalmente trabalham em
tandem com as socadoras. As
Figuras 3.37 mostram os arados
da máquina Reguladora.

Figura 3.37-a mostra o lastro


sendo “arrastado” por um arado
tipo central.
Com o deslocamento da
máquina o arado arrasta uma Figura 3.37-a: arado da reguladora de lastro
camada de lastro, tirando o
excesso de alguns pontos e suprindo a falta em outros.
A Figura 3.37-b mostra como o arado pode deslocar o lastro das laterais para o interior da linha, e vice-
versa.

Figura 3.37-b

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (10 de 14) B
&
( Reguladora de lastro) P

A Figura 37-c mostra o arado lateral executando (cortando) o ombro e talude do lastro.

Figura 3.37-c

Arado lateral
da reguladora
de lastro

A Figura 37-d mostra a máquina Reguladora de Lastro com o arado lateral cortando o ombro do lastro.

Figura 3.37-d: reguladora de lastro

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (11 de 14) B
&
(3.4.3.4 ---- socaria da linha) P

3.4.3.4- Socaria (adensamento) do lastro: Após o deslocamento da grade para a posição idealizada, o
lastro deve sofrer uma socaria (ou adensamento) através de ferramentas manuais ou dispositivos
mecanizados. A região de socaria compreende o entorno dos dormentes, na região de distribuição de
carregamento sob os trilhos.
vibrador soca
 Os dispositivos manuais tradicionais são as socas
manuais (picareta de ponta rombuda), e vibradores
vulgarmente chamados de Jakson, ilustrados na
Figura 3.39.
São ferramentas usadas para serviços de pequena
monta e baixa qualidade. A ferramenta de soca
danifica bastante as pedras do lastro, e o vibrador Figura 3.39 Vazios
não consegue um adensamento ideal.
 A socaria mecanizada é executada pelas máquinas de grande porte de Via Permanente chamadas de
“Socadoras”. As máquinas são equipadas com os “grupos de socaria”, os quais são compostos por
ferramentas de socas e dispositivos mecânico–hidráulicos que executam simultaneamente as funções das
socas e dos vibradores usados no processo manual.
Um grupo de socaria típico é mostrado na figura 3.40-a. A Figura 3.40-b ilustra os movimentos das
ferramentas de soca . As ferramentas penetram no lastro em movimento vertical (de cima para baixo),
para somente após iniciar um movimento de recalque do lastro sob o dormente (W 1 e W2). Durante todo o
movimento as ferramentas são mantidas sob vibração, o que facilita a penetração e o adensamento do
lastro.

Figura 3.40-b

Figura 3.40-a: grupo de socaria

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (12 de 14) B
&
(continuação de socadora de linha)
P

A Figura 3.40-c mostra um grupo de socaria dos mais modernos, onde é possível socar três dormentes
simultaneamente.

Figura 3.40-c

A Figura 3.40-d mostra uma socadora completa, onde pode ser visto o grupo de socaria e as unidades de
levante e alinhamento.

Figura 3.40-d – socadora 09-3X

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (13 de 14) B
&
(3.4.4.5 ----- estabilização do lastro) P

3.4.4.5- Estabilização do lastro:


A socaria, principalmente feita com equipamentos modernos, fornece à linha uma boa condição de
estabilidade, tanto para o suporte das cargas verticais, como para a resistência aos esforços laterais. Todavia
essa estabilização não é total, conforme ilustrado na Figura 3.41.
O gráfico da figura 3.41 retrata a situação real em que uma via perde a seu estado de estabilização total
(“linha no calo”) ao sofrer qualquer intervenção que altere as condições de interação e consolidação entre o
lastro e o dormente (simbolizado na queda de 100% para 66%)
Isto significa que no plano horizontal à resistência lateral suprida pela socaria das grandes máquinas não
supera os 66 % do total, considerando total a “linha no calo”, ou linha estabilizada.

100
Figura 3.41
90
Resistência lateral da linha - %-

Gráfico
relação 80
“resistência
lateral” X
70
tonelada 60
trafegada
50
40
30
0 200 400 600 800 1000 1200

Tonelada Bruta Trafegada x 1000

O gráfico mostra que somente após o tráfego dos trens é que a estabilidade lateral vai sendo readquirida.
Alcança 78% com 50 mil de toneladas brutas trafegadas, 82% após 150 mil, 88% após 700 mil.

Como os esforços laterais gerados pelo trem são diretamente proporcionais a sua velocidade, resulta
que o posicionamento geométrico recém proporcionado à linha será perdido se um trem circular em alta
velocidade, em no trecho que ainda não teve tempo suficiente para alcançar sua consolidação.

Assim conclui-se que somente com controle de velocidades o trem executará a estabilização sem “tirar
a linha do lugar”. Para que o trem circule com velocidade normal, tão logo seja executada a socaria, torna-se
necessário que equipamentos adicionais proporcionem à linha a estabilidade que o trem faria. O
equipamento em questão é o chamado “Estabilizador de Lastro”

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3.4 – EXECUÇÃO DA GEOMETRIA DA LINHA (14 de 14) B
&
(continuação de estabilizadora de lastro) P

 Equipamento Estabilizador de Lastro.


A Figura 3.42-a detalha a unidade vibratória do equipamento Estabilizador de Lastro esquematizado na
Figura 3.42-b. Através das rodas e rolos guias a vibração gerada no equipamento é transmitida à linha na
forma de movimentos oscilatórios horizontais. Esse movimento faz com que ocorra um adensamento
acelerado do lastro sem que a linha mude sua posição geométrica de alinhamento e nivelamento
proporcionada pela socadora. Em conseqüência a estabilidade lateral, que havia sido reduzida para 66 %
com a execução da socaria, é imediatamente recuperada para aproximadamente 90 % do total. A partir daí o

Figura 3.42-a

Grupo
vibrador da
Estabilizadora
de lastro

trem pode circular na velocidade normal sem que ocasionar distorções no alinhamento da linha, e o próprio
trem completará a estabilização lateral da linha para os 100%.
A Figura 3.42-b ilustra um equipamento de Estabilização de Lastro.

Unidades vibratórias

Figura 3.42-b: máquina Estabilizadora de Lastro

Curso de Via Permanente Ferroviária (Ernani Duval – 20/02/2001) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Parte_3 - Pagina 38

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