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TEMA

Existe alguma motivação que não envolva


consumo atualmente? Nossas escolhas têm
outra finalidade que não a de consumirmos
cada vez mais?

PRÉ-VESTIBULAR

EXISTIR PARA CONSUMIR OU


CONSUMIR PARA EXISTIR?
O consumismo é uma das características mais intimamente conectadas a problemas
ambientais e à desigualdade social que permeiam todo o mundo. Não à toa, ele é um
dos assuntos mais frequentes em diversas discussões sobre os rumos da humanidade
e do planeta, caso algumas mudanças não sejam estimuladas e adotadas desde já. Na
coletânea a seguir, há algumas considerações nessa linha, além de outras perspectivas
que colocam o hábito de comprar excessivamente como razão de existência diante de
uma lógica social marcada por consecutivas tragédias, entre elas a própria pandemia
pela qual passamos nos últimos dois anos. Nesse contexto, é possível questionarmos
se existe alguma motivação que não envolva consumo atualmente, bem como se as
nossas escolhas têm outra finalidade que não a de consumirmos cada vez mais. Após a
leitura, pense a respeito para fazer a atividade proposta.

TEXTO 1

Compulsão por compras?


[...] Sem dúvida, a perda de controle nas compras, que persiste apesar das suas
sérias consequências para o consumidor, é real. No entanto, os limites que separam os
consumidores comuns daqueles que compram de maneira “patológica” não estão cla-
ros, e sua delimitação arbitrária de diagnóstico perpetua o mito de que a cura será mais
fácil com tratamentos psicofarmacológicos.
Ou seja, contribui para medicalizar mais um aspecto da vida cotidiana, apesar de
não existir nenhum tratamento psicofarmacológico específico e eficaz para esse proble-
ma. Além disso, desvia a atenção do contexto social em que ocorre. [...]
A perda de controle nas compras pode ser considerada não apenas um problema
individual, mas um sintoma de um problema social. A expressão do consumismo, que
se caracteriza pela compra ou acumulação de bens e serviços não essenciais, constitui
o objetivo final da economia para garantir o crescimento constante.
As marcas competem para vender mais e os consumidores por comprar mais.
Segundo o economista Victor Lebow, o consumismo se converteu em um estilo de vida.
[...] Paradoxalmente, se incentiva o consumo em um contexto de poder aquisitivo
cada vez mais desigual: oito pessoas ganham mais que a metade da população mundial.
Além disso, os custos derivados da maximização das margens de lucro — produ-
zindo mais, mais rápido e mais barato — estão se tornando cada vez mais evidentes,
tanto em termos de precárias condições de trabalho quanto em termos de grave dete-
rioração ambiental.
Assim, embora os níveis de consumo tenham atingido níveis recordes após a pan-
demia, os problemas de saúde mental também registram números recordes. [...]

RUISOTO, Pablo. BBC. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59389592. Acesso em: 21 dez. 2021.

TEXTO 2

Na contramão da crise econômica, mercado de


luxo cresce no Brasil
A Associação Brasileira das Empresas de Luxo (Abrael) viu as vendas de itens de
alto padrão despontarem a partir do ano passado. A classe média alta, que investia seu
dinheiro em produtos no exterior, passou a consumir no país, e o resultado foi o cresci-
mento médio de 51,74% em setembro de 2021 em relação ao mesmo período do ano
passado. [...]
O boom de vendas dessas lojas aconteceu, principalmente, por meio do
e-commerce, com 694% de crescimento do consumo. Mesmo com as restrições da
pandemia, as vendas nos shoppings não foram tão afetadas por conta dos serviços de
entregas e vendas por aplicativos e redes sociais. [...]

COUTO, Camille. BBC. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/na-contramao-da-crise-economica-mercado-de-luxo-cresce-no-


-brasil/. Acesso em: 21 dez. 2021.

TEXTO 3

Todo excesso esconde uma falta. Já ouviu essa frase antes?


Ela faz ainda mais sentido em um cenário que, por si, já conta com diversas fontes
de escassez. A pandemia trouxe à tona medos que, até então, nossa mente deixava
muito bem guardados. [...]
Segundo a SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo), as vendas no
e-commerce brasileiro cresceram 41% em 2020 – e é justamente no comércio online
que os impulsos ficam mais fortes, já que não é preciso nem sacar o cartão para sentir
o dinheiro saindo. [...]
Existe um fenômeno cientificamente comprovado chamado miopia da tristeza.
Ele é responsável por levar as pessoas a preferirem satisfações imediatas – como gastar
o que se tem em um instante –, em vez de desfrutar dos ganhos maiores que vêm com
a espera – como investir.
Essa descoberta foi feita pelos departamentos de psicologia das Universidades de
Harvard e Columbia, nos Estados Unidos.
Além disso, a miopia da tristeza faz com que o gasto em si receba mais atenção
do que o benefício que ele poderia trazer. Você sente mais prazer em gastar do que
usufruir do que você comprou. [...]

SANDLER, Carol. Estes são os 5 gatilhos de consumismo durante a pandemia. Forbes. https://forbes.com.br/colunas/2021/03/carol-sandler-
-estes-sao-os-5-gatilhos-de-consumismo-durante-a-pandemia/. Acesso em: 21 dez. 2021.

TEXTO 4

Trabalho em excesso e consumismo exagerado


podem ser a nova pandemia
[...] A verdadeira pandemia silenciosa que me preocupa decorre de duas ilusões
que permeiam nossa sociedade hoje: que somos capazes de trabalhar incansavelmente
e que consumir insaciavelmente é a solução da maioria de nossos problemas. Minha
hipótese é que a confluência entre esses dois mindsets possa ser uma das causas raízes
dos indicadores de saúde mental que tanto nos preocupam.
[...] As pessoas que se encontram na média e na base das pirâmides organiza-
cionais e que, para garantir sua empregabilidade, sofrem com a pressão imposta pela
concretização das metas também terminam o dia exaustivo de trabalho e passam no
supermercado, nas lojas ou simplesmente abrem as plataformas de e-commerce para
consumir os novos produtos. Nesse contexto, a tempestade está criada!
Você deve estar se perguntando: mas de quem é a culpa? Do capitalismo desen-
freado? Da tecnologia, que facilita as disrupções e ameaça os empregos? Dos líderes e
acionistas que cobram cada vez mais? Dos consumidores ávidos por novidades e moda?
Em minha simples opinião, sem nenhum embasamento científico, somos todos nós!
Tudo junto e misturado. Não estamos discutindo em profundidade qual é a causa raiz
de tudo isso. Já passamos da hora de pensar “como estou contribuindo para esta reali-
dade?”. [...]

ESTEVES, Sofia. Exame. Disponível em: https://exame.com/revista-exame/a-nova-pandemia/. Acesso em: 21 dez. 2021.

TEXTO 5

Ainda dá tempo? O sonho interrompido de futuro


[...] Parar o tempo. Voltar no tempo. Avançar no tempo. Três desejos associados
à felicidade que até foram realizados pela covid-19, mas como tragédia. O ser humano
sonhou errado?
A humanidade é ambígua ao se relacionar com o tempo. Na prática, vive o presen-
te. Na fantasia, adora o passado. De verdade, só pensa em antecipar o futuro. Era assim.
Mas mudou com a covid-19. [...]
A pandemia interrompeu o fluxo livre dos nossos desejos. Nessa medida, foi bom.
Isso porque o sonho humano de controlar o tempo nunca foi inócuo. Apontava para a
determinação da espécie humana em estar no controle das vidas, de todas as vidas,
incluindo a vida das outras espécies que habitam o planeta, também para além da vida,
na governança do legado de quem já faleceu. Nem na ficção científica isto costuma dar
certo.
É tudo delírio da humanidade, porque o tempo sempre fluiu a seu capricho, po-
deroso e soberano. Mas imaginávamos que fosse sempre para a frente, na direção do
futuro. Não foi. Veio o passado. Ou a nítida sensação de que voltamos ao passado. [...]
É sobretudo no mundo digital que a urgência em alcançar o futuro se manifesta. A
paixão pela velocidade virtual inebria, vicia e concretiza a obstinação da humanidade em
prematurar o tempo. Confinados, ficamos ainda mais ávidos por experienciar processos
que fluem com rapidez, como quando consumimos online. E talvez resida justamente
nessa contradição, expressa na convergência entre continuar correndo nas redes virtu-
ais, ainda que imobilizado em casa, um jeito de não enlouquecer. [...]

WERNECK, Claudia. Nexo. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2021/Ainda-d%C3%A1-tempo-O-interrompido-sonho-de-futu-


ro. Acesso em: 21 dez. 2021.

PROPOSTA DE REDAÇÃO

Após a leitura e análise dos textos, escreva uma dissertação argumentativa que tenha
como norte uma resposta à pergunta: no mundo atual, existimos para consumir ou
consumimos para existir? Nela, defenda um ponto de vista claro que seja sustentado
por meio de raciocínios lógicos consistentes e exemplos a eles conectados, primando
pela coesão e coerência. Além disso, cumpra os seguintes critérios:
• Dê um título ao texto.
• Respeite o mínimo de três e o máximo de cinco parágrafos.
• Evite excessivas paráfrases ou cópia do texto de apoio para não zerar a sua redação.
• Respeite o mínimo de 24 e o máximo de 30 linhas.

Bom trabalho!
Professora Andressa Tiossi

IMAGEM 1: Matthew Corrigan/Shutterstock.com

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