Você está na página 1de 8

FUNDAMENTOS DA SAÚDE COLETIVA

FUNDAMENTOS DA SAÚDE COLETIVA:


DEFINIÇÕES DE SAÚDE E PERSPECTIVAS
SOBRE SAÚDE E DOENÇA

-1-
Olá!
Objetivo desta Aula

Nesta aula, você irá:

1.Compreender o conceito de saúde.

2.Identificar as perspectivas sobre saúde e doença.

1 Introdução
Uma das mais importantes características atribuídas ao SERVIÇO SOCIAL refere-se ao reconhecimento do todo

indivisível que cada pessoa representa, trazendo como conseqüência a não-fragmentação da atenção,

reconhecendo os fatores sócio-econômicos e culturais como determinantes da saúde, e, principalmente,

sugerindo um modelo integral de atenção que não tem como pressuposto a cura da doença, mas alarga os

horizontes do mundo da vida espiritual e material (PINHEIRO, MATOS, 2001).

Nos espaços sócio-institucionais é que se desenvolve e se realiza o compromisso ético-político e competência

técnica dos profissionais do Serviço Social a partir da relação com o usuário. Ou seja, ouvir cuidadosamente,

apreender, compreender e analisar para identificar as necessidades de saúde da população.

Nesse sentido o atendimento aos usuários deve ser visualizado como resultado da articulação de cada serviço

com a rede complexa composta por todos os demais serviços e instituições. Fica também evidente que o

atendimento não é atributo exclusivo de uma determinada profissão, serviço ou setor, mas compreende distintas

práticas profissionais interdisciplinares que se articulam no campo da promoção da saúde, através de diferentes

serviços e instituições.

Além disso, o imperativo constitucional e legislação complementar apontam para outros componentes que

determinam um novo enfoque que permite identificar o acesso e a garantia do direito à saúde.

Destacadamente o principio constitucional da participação da comunidade é um ponto importante na relação

entre as práticas dos assistentes sociais que se pautam no Código de Ética e no projeto ético-político e o SUS.

Todo esse contexto possibilita uma inserção diferenciada do assistente social na área da saúde, superando o

estatuto de profissão paramédica, típico do modelo biomédico.

Urge corrigir-se a postura de um agir em saúde fragmentado e desarticulado, com base em uma postura

autoritária e verticalizada, de um saber cientificista descontextualizado, insensível aos anseios e desejos da

população no tocante a sua própria saúde e condições de vida. A atuação do asistente social deve estar voltada

-2-
para ouvir, entender e, a partir daí, atender às demandas e necessidades das pessoas, grupos e coletividades;

capaz de defender um modelo de atenção à saúde de forma que o relacionamento com o usuário/família seja

profissional/sujeito e não profissional/objeto.

A construção do conhecimento em saúde aponta para a necessidade de ativar um processo que permita uma

reflexão crítica da realidade e dos fatores determinantes de um viver saudável, permitindo também propor ações

transformadoras, que levem o indivíduo a sua autonomia e emancipação enquanto sujeito histórico e social,

capaz de propor e opinar nas decisões de saúde para si, sua família e coletividade.

TEXTO RETIRADO DO SITE E ADAPTDO PARA A AULA. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do

Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde.

2 Definições de saúde
A Organização Mundial da Saúde que foi criada, pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial, preocupava-se em

traçar uma definição positiva de saúde, que pudesse incluir fatores como alimentação, atividade física, acesso ao

sistema de saúde e etc.

O "bem-estar social" da definição veio de uma preocupação com a devastação causada pela guerra, assim como

de um otimismo em relação à paz mundial — a Guerra Fria ainda não tinha começado. A OMS foi ainda a

primeira organização internacional de saúde a considerar-se responsável pela saúde mental, e não apenas pela

saúde do corpo.

A definição adotada pela OMS tem sido alvo de inúmeras críticas desde então. Definir a saúde como um estado de

completo bem-estar faz com que a saúde seja algo ideal, inatingível, e assim a definição não pode ser usada como

meta pelos serviços de saúde. Alguns afirmam ainda que a definição teria possibilitado uma medicalização da

existência humana, assim como abusos por parte do Estado a título de promoção de saúde.

Por outro lado, a definição utópica de saúde é útil como um horizonte para os serviços de saúde por estimular a

priorização das ações. A definição pouco restritiva dá liberdade necessária para ações em todos os níveis da

organização social.

Christopher Boorse definiu em 1977 a saúde como a simples ausência de doença; pretendia apresentar uma

definição "naturalista".

Em 1981, Leon Kass questionou que o bem-estar mental fosse parte do campo da saúde; sua definição de saúde

foi: "o bem-funcionar de um organismo como um todo", ou ainda "uma atividade do organismo vivo de acordo

com suas excelências específicas.

-3-
" Lennart Nordenfelt definiu em 2001 a saúde como um estado físico e mental em que é possível alcançar todas

as metas vitais, dadas as circunstâncias.

As definições acima têm seus méritos, mas provavelmente a segunda definição mais citada também é da OMS,

mais especificamente do Escritório Regional Europeu: À medida que um indivíduo ou grupo é capaz, por um

lado, de realizar aspirações e satisfazer necessidades e, por outro, de lidar com o meio ambiente.

A saúde é, portanto, vista como um recurso para a vida diária, não o objetivo dela; abranger os recursos sociais e

pessoais, bem como as capacidades físicas, é um conceito positivo.

Essa visão funcional da saúde interessa muito aos profissionais de saúde pública, incluindo-se aí os médicos,

enfermeiros, fisioterapeutas e os engenheiros sanitaristas, e de atenção primária à saúde, pois pode ser usada de

forma a melhorar a eqüidade dos serviços de saúde e de saneamento básico, ou seja, prover cuidados de acordo

com as necessidades de cada indivíduo ou grupo.

3 Saúde - conceito constitucional


O enunciado do art. 196 da Constituição Federal considera saúde como resultante de condições biológicas,

sociais e econômicas.

O direito à saúde, nos termos do art. 196 da CF, pressupõe que o Estado deve garantir não apenas serviços

públicos de promoção, proteção e recuperação da saúde, mas adotar políticas econômicas e sociais que

melhorem as condições de vida da população, evitando-se, assim, o risco de adoecer. A Constituição determina

ainda, o acesso universal. Ou seja, garantir a saúde para "todos".

Pelas descrições dos arts. 196 e 198 da CF podemos afirmar que somente da segunda parte do art. 196 se ocupa

o Sistema Único de Saúde, de forma mais concreta e direta, sob pena de a saúde, como setor, como uma área da

Administração Pública, se ver obrigada a cuidar de tudo aquilo que possa ser considerado como fatores que

condicionam e interferem com a saúde individual e coletiva.

Isso seria um arrematado absurdo e deveríamos ter um super Ministério e super Secretarias da Saúde

responsáveis por toda política social e econômica protetivas da saúde.

Se a Constituição tratou a saúde sob grande amplitude, isso não significa dizer que tudo o que está ali inserido

corresponde à área de atuação do Sistema Único de Saúde.

-4-
Repassando, brevemente, aquela seção do capítulo da Seguridade Social, temos que:
• O art. 196, de maneira ampla, cuida do direito à saúde;
• O art. 197 trata da relevância pública das ações e serviços de saúde, públicos e privados, conferindo ao
Estado o direito e o dever de regulamentar, fiscalizar e controlar o setor (público e privado);
• O art. 198 dispõe sobre as ações e os serviços públicos de saúde que devem ser garantidos a todos os
cidadãos para a sua promoção, proteção e recuperação, ou seja, dispõe sobre o Sistema Único de Saúde;

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e

constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços

assistenciais;

III - participação da comunidade.

§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento

da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras

fontes. (Parágrafo único renumerado para § 1º pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) e etc.

• O art. 199 trata da liberdade da iniciativa privada, suas restrições e a possibilidade de o setor participar,
complementarmente, do setor público;
Não pode explorar o sangue, por ser bem fora do comércio; deve submeter-se à lei quanto à remoção de órgãos e

tecidos e partes do corpo humano; não pode contar com a participação do capital estrangeiro na saúde privada;

não pode receber auxílios e subvenções, se for entidade de fins econômicos etc.
• E o art. 200, das atribuições dos órgãos e entidades que compõem o sistema público de saúde. O SUS é
mencionado somente nos arts. 198 e 200.

-5-
mencionado somente nos arts. 198 e 200.

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar

da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;

III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;

IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;

V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico;

VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como

bebidas e águas para consumo humano;

VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias

e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

A leitura do art. 198 deve sempre ser feita em consonância com a segunda parte do art. 196 e com o art. 200. O

art. 198 estatui que todas as ações e serviços públicos de saúde constituem um único sistema. Aqui temos o SUS.

E esse sistema tem como atribuição garantir ao cidadão o acesso às ações e serviços públicos de saúde (segunda

parte do art. 196), conforme campo demarcado pelo art. 200 e leis específicas.

O art. 200 define em que campo deve o SUS atuar. As atribuições ali relacionadas não são taxativas ou exaustivas.

Outras poderão existir, na forma da lei. E as atribuições ali elencadas dependem, também, de lei para a sua

exeqüibilidade.

4 Objetivos e atribuições do SUS


Em 1990, foi editada a Lei n. 8.080/90 que, em seus arts. 5º e 6º , cuidou dos objetivos e das atribuições do SUS,

tentando melhor explicitar o art. 200 da CF (ainda que, em alguns casos, tenha repetido os incisos daquele artigo,

tão somente).

São objetivos do SUS:

• a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde;


• a formulação de políticas de saúde destinadas a promover, nos campos econômico e social, a
redução de riscos de doenças e outros agravos; e
• execução de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, integrando as ações
assistenciais com as preventivas, de modo a garantir às pessoas a assistência integral à sua saúde.

-6-
Fique ligado
O art. 6º estabelece como competência do Sistema a execução de ações e serviços de saúde
descritos em seus 11 incisos.

O SUS deve atuar em campo demarcado pela lei, em razão do disposto no art. 200 da CF e porque o enunciado

constitucional de que saúde é direito de todos e dever do Estado, não tem o condão de abranger as

condicionantes econômico-sociais da saúde, tampouco compreender, de forma ampla e irrestrita, todas as

possíveis e imagináveis ações e serviços de saúde, até mesmo porque haverá sempre um limite orçamentário e

um ilimitado avanço tecnológico a criar necessidades infindáveis e até mesmo questionáveis sob o ponto de vista

ético, clínico, familiar, terapêutico, psicológico.

Fique ligado
A lei deverá impor as proporções, sem, contudo, é obvio, cercear o direito à promoção,
proteção e recuperação da saúde. Neste caso, o elemento delimitador da lei deverá ser o da
dignidade humana.

O Projeto de Lei Complementar n. 01/2003 -- que se encontra no Congresso Nacional para regulamentar os

critérios de rateio de transferências dos recursos da União para Estados e Municípios – busca disciplinar, de

forma mais clara e definitiva, o que são ações e serviços de saúde e estabelecer o que pode e o que não pode ser

financiado com recursos dos fundos de saúde. Esses parâmetros também servirão para circunscrever o que deve

ser colocado à disposição da população, no âmbito do SUS, ainda que o art. 200 da CF e o art. 6º da LOS tenham

definido o campo de atuação do SUS, fazendo pressupor o que são ações e serviços públicos de saúde, conforme

dissemos anteriormente.

5 Perspectivas sobre saúde e doença


Para sabermos como será o mundo e como estaremos agindo no futuro, precisamos analisar o passado. Toda a

história e os detalhes da evolução da sociedade são importantes se quisermos obter a ideia mais correta possível

do que acontecerá. Um assunto que, sem dúvida, merece toda a atenção é a saúde.

• Qual será o conceito de saúde?

-7-
• Qual será o conceito de saúde?
• O que será ser saudável?
• Descobrirão a cura de alguma doença?
Essas são apenas algumas das perguntas que estão sempre nos rodeando. Afinal, estamos em um mundo cuja

população não pára de crescer e cada vez mais surgem doenças. É mais do que normal tanta preocupação com a

questão da saúde. A resposta para tantas perguntas está no que já vimos nas situações pelas quais já passamos,

enfim, no que já vivemos e em todas as conclusões que podemos tirar dessas experiências.

Na intenção de alcançar essas metas, também foi necessária a tentativa de conceituar novamente o que

representa o estado de saúde e o de doença, pois a ideia de que um consistia na ausência do outro não foi

bastante para os interessados no assunto.

Portanto, para descobrirmos como será a saúde, precisamos saber como ela foi, e principalmente como ela

evolui. E para isso, é essencial o estudo dos costumes da sociedade e dos conceitos por ela estabelecidos ao longo

dos anos.

Saiba mais
Sugestões para essa aula:
ALVES, P. C. & MINAYO, M. C. S. Saúde e doença: um olhar antropológico. Rio de Janeiro:
FIOCRUZ, 1994.
Amarante, P. – Loucos pela vida: A trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. 2ª. Edição, ED:
Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, 1995.
Assista ao vídeo Momento da Saúde 02 'Conceitos de Saúde e Doença'.

O que vem na próxima aula


Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
• Definições sobre saúde coletiva.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Aprendeu os conceitos sobre os fundamentos da saúde coletiva.
• Compreendeu as perspectivas sobre saúde e doença.

-8-

Você também pode gostar