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FACULDADE DE SUZANO - GRUPO UNIESP S. A

JENIFFER ALVES NEPOMUCENO - RA 2017006440

A PRIVATIZAÇÃO DOS CORREIOS E AS CONSEQUÊNCIAS


PARA O QUADRO DE FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA

SUZANO -2021
1

FACULDADE DE SUZANO - GRUPO UNIESP S. A

JENIFFER ALVES NEPOMUCENO - RA 2017006440

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de


certificado em Direito pela faculdade de Suzano/
Uniesp, sob a orientação da professora Dr. Carolina
Mesquita.

SUZANO -2021
2

AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer a Deus que me direcionou a


faculdade, mesmo em meio as tantas lutas e não me desamparou ao
longo desses cinco anos. Agradecer a todos os meus familiares que
sempre me apoiaram, mas em especial ao meu esposo que me ajudou
dia após dia com as tarefas da faculdade. E a minha tia Richelly
Vanessa Alves e a minha avó Vanda Chaves Alves que me
direcionaram para o curso e me propuseram uma enorme experiência
na área. Agradecer aos meus colegas de sala, pelo companheirismo e
lealdade, que neste momento de pandemia fez toda diferença.
Agradecer ao corpo docente da universidade Suzano pelos
ensinamentos ao longo desses cinco anos, que hoje me capacita para
ser um profissional da área jurídica com louvor.
3

FACULDADE DE SUZANO - GRUPO UNIESP S. A

A PRIVATIZAÇÃO DOS CORREIOS E AS CONSEQUÊNCIAS PARA O QUADRO


DE FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA

JENIFFER ALVES NEPOMUCENO - RA 2017006440

FOLHA DE APROVAÇÃO

ORIENTADOR

EXAMINADOR

EXAMINADOR

SUZANO - 2021

SUMÁRIO
4

RESUMO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 07
1- BREVE HISTORICO DOS SERVIÇOS POSTAIS NO BRASIL ................... 09
1.1. Considerações iniciais............................................................................... 09
1.2. Do surgimento dos correios à criação da Estatal....................................... 09
1.3. Os Correios pós Constituição de 1988 ...................................................... 12
1.4. Breve análise do cenário internacional ...................................................... 16

2- DA LEGISLAÇÃO QUE REGE OS SERVIÇOS POSTAIS NO BRASIL ..... 19


2.1. Nas normas e princípios. ........................................................................... 19
2.2. Considerações sobre os Correios na atualidade ...................................... 22

3- PL 591- DA PRIVATIZAÇÃO DOS CORREIOS .......................................... 26


3.1. Da proposta. ............................................................................................. 26
3.2. Razões que fundamentam a privatização.................................................. 26
3.3. Críticas a Privatização .............................................................................. 28
3.4. Das emendas ao PL 591 ........................................................................... 29

4. IMPACTOS DA PRIVATIZAÇÃO PARA OS TRABALHADORES ............. 31

4.1. Considerações iniciais .............................................................................. 31

4.2. Da estabilidade dos empregados dos correios .......................................... 34

4.3. Do Plano de Demissão Voluntaria (PDV) .................................................. 36

CONSIDERAÇOES FINAIS ............................................................................. 40

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 42
5

RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo discutir a privatização dos Correios no Brasil
buscando compreender as razões que condicionam a abertura ao mercado e o fim
de seu monopólio e as contra razoes para a manutenção da condição atual. Para
tanto, faz-se necessário conhecer a ECT ( Empresa de Correios e Telégrafos) na
atualidade, comparar o cenário brasileiro ao internacional e evidenciar os impactos
para a esfera trabalhista, tendo em vista que a empresa de correios brasileiro possui
mais de 95 mil trabalhadores.
Palavras-chave: Serviços Postais. Privatização dos Correios. PL 591/ 21.
Empregados públicos.
6

INTRODUÇÃO

A proposta de privatizar a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos do


Projeto de Lei 591/21 foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 05 de agosto de
2021 com 286 votos a favor e 173 contra, e agora segue em debate no Senado. A
questão é sensível e relevante, pois privatizar os serviços postais do Brasil implica
em posições ideológicas, políticas e econômicas que afetam não apenas a Estatal e
seus quase cem mil funcionários, mas o conjunto da sociedade.

Desde a sua criação os correios passaram por diversas reformas e o


momento político foi determinante, porém, se manteve conservador em relação ao
monopólio ou privilégio postal e a atuação da União. A proposta de Privatização em
discussão talvez seja a mais sensível, e por diversas razões entre elas a redução do
tamanho do Estado, e o contingente de trabalhadores afetados.

Esse cenário abarca um debate sobre a qualidade dos serviços postais dos
correios, o fim do monopólio, a abertura ao mercado privado e a modernização do
serviço, mas também a função social tão importante que essa instituição tem, que é
a de atingir a totalidade dos municípios brasileiros, mesmo sem lucratividade (na
maioria deles).

Para se ter uma ideia, os serviços postais dos correios atendem 5.570
municípios1 do país de um total de 5.568 municípios, um subdistrito federal (Brasília)
e Fernando de Noronha (Pernambuco) e 10.496 distritos municipais e 683
subdistritos municipais.2 Ou seja, os correios atendem praticamente a totalidade de
municípios e distritos, portanto não se pode negar a sua importância e relevância,
especialmente em locais de difícil acesso.

Os serviços dos correios atingem uma marca de 15, 2 milhões de entrega de


objetos postais por dia (dados do correio) incluindo encomendas nacionais e
internacionais, e integram brasileiros levando a cidadania por meio de outros
serviços, por exemplo, a emissão de CPF, consulta ao Serasa, achados e perdidos,
descarte de capsulas de café, doações e filantropia (natal solidário entre outros),

1
Dados dos Correios: https://www.correios.com.br/atendimento.
2
Dados do IBGE (2018).
7

vacinação em locais isolados, cujos carteiros tem papel relevante em conhecer e


abrir os caminhos o transporte de livros didáticos e de urnas eletrônicas, entre
outros. Há locais em que os correios funcionam como instituição bancária, sendo o
único serviço do tipo ou conjuntamente com a Caixa Econômica Federal.

Dada a importância dessa instituição que goza de prestígio por parte dos
brasileiros, embora comporte críticas e atenção em relação a modernização dos
serviços e da livre concorrência, é natural que a privatização dos correios traga
dúvidas e incertezas, afinal, se pretende leiloar 100% (cem por cento) da empresa.

Algumas incertezas e questionamentos se tornam pertinentes diante desse


cenário, afinal, a privatização dos serviços postais trará benefícios para o mercado
ou para o conjunto da sociedade? Empresas estatais privatizadas melhoram a
performance? Como ficará o serviço nos municípios mais remotos que não oferecem
lucros? Quem pagará essa conta? Teria uma empresa privada interesse em investir
onde não há lucratividade? Aumentar a competitividade reduzira custos nos
serviços? Problemas de logística seriam resolvidos com a privatização? Quais os
impactos negativos e positivos que a privatização traria para os trabalhadores da
empresa? Essas são reflexões importantes que cercam o debate da privatização, as
quais convém considerações ao longo do texto dada a sua relevância.

O objetivo da presente pesquisa é debater sobre esse processo de


privatização e suas implicações para os serviços postais, e sobretudo para quase
100 mil empregados dos correios que oferecem a mão de obra e a inteligência para
essa estrutura funcionar. Pretende-se fazer uma análise do que irá acontecer com
esses funcionários, quais garantias trabalhistas serão resguardadas, quais direitos e
garantias irão sucumbir, qual prazo terá a estabilidade, qual será a indenização em
caso de demissão voluntária e o papel dessa instituição na recolocação desses
funcionários no mercado de trabalho, entre outros.

Para alcançar o objetivo primeiramente é preciso conhecer as transformações


que ocorreram em na história da empresa em cada momento político dada a
importância da instituição e as forças ideológicas e políticas, bem como a legislação
que permeia o tema.

Pretende-se apresentar um panorama geral da Estatal no cenário atual e as


propostas de reforma do PL 591/21 discutindo as vantagens e desvantagens da
8

privatização discutidas no Congresso e observar o cenário internacional em relação


aos serviços postais, tecendo comparativos e possíveis projeções. E por fim, as
interferências que a privatização trará aos trabalhadores.

Para fundamentar a pesquisa serão realizadas revisões em publicações sobre


o tema, como artigos, livros, legislação e documentos como relatórios dos Correios,
entre outros. Também servirão como base vídeos da sessão de votação do PL
591/21 da Câmara dos deputados, portanto, trata-se de revisão bibliográfica para
uma análise crítica e informativa.
9

1. BREVE HISTÓRICO DOS CORREIOS NO BRASIL

1.1. Considerações Iniciais

A história dos Correios no Brasil foi marcada por mudanças estruturais e de


gestão ao longo do tempo, afinal são 358 anos dessa instituição que atravessou o
Brasil Colônia, Período Imperial, a República Velha e Nova, e a Constituição de
1988.

As reformas ocorridas durante essa história têm relação direta com a própria
história do país, seu desenvolvimento e as forças dominantes de cada momento,
sejam elas nacionais ou internacionais A globalização, o avanço da tecnologia e a
política praticada pelo governo Federal, as forças economias e a pressão da
sociedade foram determinantes para o que representa os Correios na atualidade.

Para melhor entendimento, esse primeiro capítulo pretende traçar uma visão
geral de alguns fatos marcantes que introduziram reformas nesse sistema até
chegarmos na proposta atual que pretende a sua privatização.

1.2. Do surgimento dos Correios até a criação da Estatal.

A história dos correios no Brasil teve início no século XVII e remete ao próprio
descobrimento do nosso território pelos portugueses.

Há relatos que no século XVIII, as cartas eram depositadas ao pé de árvores


próximas a rios, essas árvores funcionavam como caixas postais. Também há
relatos de que correspondências eram transportadas pelos condutores de gado e
mercadorias, pelos escravos e pelos tropeiros, mas o serviço só veio ganhar a
atenção com a chegada da Corte no Brasil em 1808.

Os serviços postais foram regularizados pelo decreto 5/12/1809 que


permitia serviços postais entre Rio de Janeiro e São Paulo e entre a Corte e
10

o Rio de janeiro. Em 1817, iniciaram serviços entre São Paulo e algumas


poucas localidades gerenciadas por pessoas da confiança da corte. Em
1850 foram criadas linhas urbanas, serviços de diligência e caixas de coleta,
em 1852 introduzida a linha telegráfica. Entre os anos de 1889 e 1930, a na
república velha os correios passaram a lucrar e ampliar os serviços graças a
expansão das ferrovias. Foi também nesse período que a primeira rodovia
pavimentada que ligava São Paulo a Santos permitiu que a correspondência
se tornasse cada vez mais regular. 3

No reinado de D. Pedro II entre as mudanças foram lançados os primeiros


selos postais, a criação do cargo de carteiros, caixas de coletas e distribuição
domiciliar na Corte e nas províncias.4

Nessa época os serviços postais eram administrados por repartições e


funcionários do governo. Também foi estabelecido o serviço telegráfico, por adesão
ao tratado internacional de telecomunicações.

Na República Velha em 1889, foi criado o Museu Postal Brasileiro, e nos anos
seguintes selos comemorativos com rosto de figuras humanas, e a expansão dos
serviços em termos territoriais.

Apesar da expansão dos serviços postais graças ao desenvolvimento do país


e das vias ferroviária e rodovias o serviço postal brasileiro passou a ser questionado,
principalmente por sua insuficiência, faltavam regras e o serviço se mostrava muito
falho. Os atrasos nas correspondências eram muito criticados e a época e se fazia
necessário uma reforma estrutural.

Apesar das inúmeras críticas e desafios, foi em 1925 que teve início o
transporte de correspondência aérea internacionais.

Todavia, as mudanças mais significativas ocorreriam na década de 30 por


influência da revolução de organismos internacionais.

Os Correios, logicamente, não ficaram indiferentes às mudanças e


passaram a remodelar não só a sua estrutura, mas também a atualizar a
sua capacidade técnica de atender à necessidade de comunicação. Com a
criação do Departamento de Correios e Telégrafos (DCT), finalmente a
gestão desses serviços foi unificada5.

3
BOVO, Cassiano Ricardo Martines, 1997, p.20.
4
https://www.correiosbrasil.org/historia-dos-correios.
5
https://www.correiosbrasil.org/historia-dos-correios.
11

Na década de 1930, os telegramas foram essenciais para a comunicação


nacional e as atividades políticas do momento. Os correios mantinham o status de
Departamento dos Correios, órgão diretamente vinculado ao Estado Brasileiro e no
ano de 1931, houve a fusão do departamento de correios e telégrafos.

Na década de 40, com investimentos criou-se o correio aéreo nacional,


obrigando as companhias áreas ao transporte de malotes postais, todavia, com o
monopólio da união.

Segundo Barros Neto (2004) na década de 60, faltaram investimentos no


setor, pois o Brasil atravessa uma crise econômica, as tarifas não eram reajustadas
e precarizou os serviços. Havia clientelismo e centralização entre funcionários e
governo. Nessa época os militares administravam diretamente os correios.

Mas foi nessa década que ocorreram duas importantes mudanças no setor:
criou-se o Ministério das Comunicações no ano de 1967 e em 1969, o Departamento
de Correios e Telégrafos passou a ser uma Estatal: Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos, pelo decreto lei 509/ de 20 de março de 69. Todavia, o caráter
empresarial da Estatal mantinha-se vinculada ao Estado.

Como Empresa Estatal, os correios tinham uma lógica empresarial e outra


pública:

Garantiu-se à empresa a manutenção de seu patrimônio como pertencendo


integralmente à União. Além disso, garantiu-se autonomia à ECT para
escolher – como na lógica empresarial – as estratégias de gestão que
deviam guiá-la para, como em uma empresa privada, buscar a eficiência e o
lucro em suas operações.6

A criação da estatal consolidou em partes a função social dos correios, pois


se tornaria agente de políticas públicas, dando início a pagamento de pensões e
aposentadorias; na distribuição de livros escolares; no transporte de doações em
casos de calamidade; em campanhas de aleitamento materno; no treinamento de
jovens carentes e em inúmeras outras situações. Firmou-se também contratos
postais com os EUA e sistemas de triagem automáticos.

Cabia a Estatal o regime de monopólio em todo o território nacional, incluindo


penalidades para aqueles que violassem essa condição, com prisão e multa.

6
TEIXEIRA, 2016, p.40.
12

Contudo, o monopólio não impediu a existência do correio paralelo por parte


de entregadores, com inúmeras denúncias. Para se ter uma ideia, esse mercado
paralelo virava caso de polícia sendo objeto de investigações, indiciamentos e
prisões de empresários do ramo. A alegação principal para as prisões e outras
penalidades era de que as empresas concorrentes causariam a falência dos
correios.

Apenas ao final da década de 70, com a lei nº 6.538/78 unificou-se a


legislação relativa aos correios e autorizou a entrega de objetos postais, exceto
cartas, cartões postais, telegramas e malotes que eram monopólio dos correios por
algumas empresas do ramo de forma subsidiaria.

Foi também nessa década que houve substituição do transporte ferroviário


pelo rodoviário e linhas especiais para transporte entre as regiões do Brasil.
Ampliou-se o número de agências e o serviço de distribuição domiciliar e para
agilizar, criou-se o CEP (código de endereçamento postal).

O marketing e os programas sociais foram ampliados e a melhoria na


padronização de serviços.

1.3. Os correios pós Constituição Federal de 1988

Nos anos 80, as multinacionais começaram a atuar no Brasil na remessa


internacional de objetos postais, por meio de autorização. Foi um período de
disputas e embates. Para se ter uma ideia, o Brasil precisou se defender da
acusação de ser contrário ao livre mercado e ameaçado de retaliações por parte dos
EUA e na União Europeia. E apesar das multas, apreensões e violações, o mercado
das empresas de remessas internacionais consolidaram sua presença no Brasil.

Nesse período serviços sociais como a entrega de tíquetes de leite e livros


didáticos contavam com a participação da ECT.

Na década de 90, o então presidente Fernando Collor de Melo com sua


política levou a abertura comercial brasileira, fato que interferiu nos serviços postais
sob influência de grupos corporativos dominantes e a novas estratégias, entre elas
13

mecanismos de gestão, investimentos em bancos de dados e índices de


produtividade (Cavalcanti, 1995).

Criou-se o SEDEX– serviço expresso, com entrega em 24 horas. Serviços


como solicitação e entrega de passaportes, entrega de certeira de motorista e
pagamentos de benefícios são exemplos de serviços que as agencias passaram a
assumir. Os correios passaram a patrocinar a natação brasileira e inaugurou
espaços culturais.

Teixeira (2016) explica que com o início do governo de Fernando Henrique


Cardoso em 1994 o setor de telecomunicações, incluindo o setor postal passou por
um programa de recuperação e ampliação com a pretensão de modernizar sua
infraestrutura e gerenciamento. A proposta era modernizar para então, a longo prazo
tornar possível a privatização e a sobrevivência de operadores postais.7

A modernização postal estava baseada no aumento da oferta de serviços,


na modernização tecnológica e na consolidação e ampliação do papel social
dos Correios como agente prestador de serviços públicos [...] com a
mecanização da triagem, informatização das agências e racionalização da
rede postal aérea noturna. Com a intensificação dos processos de
globalização, o papel dos setores postais passou a ser estratégico na
prestação de suporte às atividades econômicas.8

Concretamente ampliou-se a rede de agências, o número de unidades de


triagem e distribuição, e a logica industrial permitiu ferramentas baseadas em
modelos de produção industrial. A informatização e a terceirização de agencias
impactou consideravelmente o atendimento e a qualidade dos serviços prestados.
Trabalhadores de setores automatizados foram remanejados para outros setores
para evitar desligamentos, também se buscou padronizações, como a racionalização
do tempo e controle de qualidade dos processos operacionais.

O potencial para o mercado dos correios e sua rentabilidade era objeto de


interesse do setor privado o que levou a organizar radicalmente o setor sob a ótica
do neoliberalismo seguindo a tendencia mundial orientados pelo banco mundial e a
OCDE por meio de projeto de lei que propunha a liberalização do mercado postal
brasileiro com a abertura para empresas privadas compusesse o sistema

7
Teixeira, 2016, p.62.
8
Teixeira, 2016, p.66 - 67.
14

oferecendo serviços tradicionais, serviços financeiros e de interesse social mediante


autorização.

A ideia seria transformar os correios em uma empresa de economia mista,


como faziam alguns países da Europa, assim o governo teria a participação
majoritária e o monopólio de alguns segmentos como cartas, telegramas e malotes,
além da criação de uma agência de fiscalização e regulação do setor.

Contudo, a proposta da agência reguladora não agradou o setor, havia o


entendimento de que o monopólio continuaria com a União já que as empresas se
submeteriam ao órgão regulador e que tal subordinação reforçaria o poderio dos
Correios frente as empresas privadas, já que os Correios teriam o monopólio de
alguns serviços por um período de até dez anos. A alegação de que haveria
demissões e perda de estabilidade e que o projeto de lei era uma privatização
disfarçada também impactaram a proposta, culminando em greves dos
trabalhadores.

As divergências com o projeto da nova Lei Postal, portanto, estavam


centradas em um suposto excesso de regulação de mercado, na indefinição
da área de atuação das agências da nova empresa de Correios como
prestadora de serviços financeiros e, principalmente, na delimitação do
segmento de mercado reservado por mais dez anos.9 74

O projeto de lei sofreu muitas emendas e atravessou o governo de FHC em


discussão no senado chegando ao governo Lula em 2002 que o retirou da pauta. No
entanto, outras reestruturações aconteceriam nos governos de Lula e Dilma
Rousseff.

No entanto, na era FHC, houve alguns ajustes, como a relação da tarifa a


ordem de prioridade, assim serviços expressos passaram a ter um valor diferenciado
buscando o equilíbrio entre preço e rapidez na entrega. Também se criou agencias
com serviços bancários, o correio tradicional e de encomendas e vendas de alguns
serviços nas agências.

O impacto da globalização, as novas tecnologias de informação e


comunicação e a intensificação do comercio internacional, além da pressão do

9
Teixeira, 2016, p.74.
15

empresariado do setor motivaram a formulação de propostas visando mudanças no


setor. Com o projeto de lei proposto pelo FHC retirado de pauta a posição do
presidente Lula era de fortalecer a estatal para atuar no mercado com a aquisição de
empresas de médio porte que atuavam em segmentos específicos.

O governo Lula pretendia abrir a atuação do correio brasileiro que era restrita
ao território nacional a toda América Latina por meio de parcerias com a iniciativa
privada e serviços diretos em países estrangeiros.

Os membros do governo recomendaram que a ECT fosse reestruturada


como uma empresa pública sob a forma de sociedade anônima, com capital
exclusivamente da União (podendo ser posteriormente pulverizado e
compartilhado com estados e municípios). Com essa medida, “os institutos
da imunidade tributária e do precatório estariam preservados para [...]
garantia da universalização dos serviços, mantendo a natureza [...] de
interesse social, e afastando a possível interpretação de exploração de
atividade econômica” dos serviços postais. (BRASIL, 2009, p. 25)

Ocorre que a pressão dos sindicalistas foi decisiva, pois havia o temor da
perda da estabilidade dos funcionários da empresa, além de que os próprios
integrantes do governo alegaram a inconstitucionalidade, pois a CF/88 que prevê a
responsabilidade da União em manter o serviço postal, legitimando seu monopólio.

Entre as disputas recorreu-se ao STF que garantiu a exclusividade da ECT na


prestação dos serviços postais.

No governo de Dilma Rousseff foi criado a lei 12.490/2011 que redefiniu o


espaço de atuação da Empresa de Correios e Telégrafos do Brasil que pode atuar
em território nacional e internacional.

Com isso a organização da estatal foi alterada, com a criação de mais órgãos
e um conselho, a fim de modificar a gerência da empresa, corporizando. O primeiro
escritório aberto foi em Miami (EUA) pois 42% do tráfego internacional vinha de lá.

Com a modernização aconteceu o maior concurso do país para ingresso dos


novos funcionários. Nessa gestão teve início ouso de celular e smartfones pelos
carteiros para aprimorar a distribuição domiciliar e os correios passaram a patrocinar
o tênis e o handebol.

Não houve abertura de capital da empresa, que continua pertencendo a


União, mas garantiu-se a estatal a possibilidade de constituir subsidiárias e adquirir
16

o controle ou participação acionária em empreendimentos empresariais. Ou seja, o


mercado é aberto a concorrência privada na entrega de encomendas, mas o serviço
de correspondência é monopólio da estatal.

Atualmente o governo de Jair Bolsonaro enviou para a câmara projeto de Lei


591/21 que visa privatizar os correios. Sob a alegação de que é preciso diminuir o
tamanho do Estado, e que os correios não têm condições financeiras de melhorar a
qualidade dos serviços nem se se manter competitivo e da incapacidade da União
para fazer investimentos no setor. Seguindo os moldes da política neoliberal
pretende a quebra do monopólio e a modernização dos serviços.

1.4. Breve análise do cenário internacional.

As mudanças no cenário postal brasileiro não estiveram destoadas do cenário


internacional. Assim como no Brasil, a tendência de reformas nos serviços postais
aconteceu especialmente na segunda metade do século XX em diversos países,
especialmente na Europa. O Brasil foi pioneiro na estatização dos correios e
telégrafos, mas diferente de outros países tem sido mais conservador para
liberalização dos serviços postais aos mercados.

A abertura ao mercado teve início por pressões capitalistas, bem como pela
inovação tecnológica. Assim a década de 80 foi marcada por países modificando as
estruturas dos serviços postais e isso se intensificou após o ano de 1996, por
recomendações do Banco mundial e da OCDE 10. Seguindo as recomendações
dessas instituições, buscava-se colocar em pratica a crença de que a competição
traria melhoria na qualidade, redução de preços e avanços tecnológicos.

10
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico– OCDE, com sede em Paris, França, é uma
organização internacional composta por 35 países membros, que reúne as economias mais avançadas do
mundo, bem como alguns países emergentes como a Coreia do Sul, o Chile, o México e a Turquia. Fundada em
14 de dezembro de 1961. Por meio da OCDE, representantes dos países membros se reúnem para trocar
informações e alinhar políticas com o objetivo de potencializar seu crescimento econômico e colaborar com o
desenvolvimento de todos os demais países membros. Por meio dessa cooperação, a OCDE tornou-se uma
fonte importante de soluções para políticas públicas em um mundo globalizado. TEIXEIRA, Tadeu Gomes
(2016, p.23).
17

Em 1999, os países membros da OCDE passaram a propor medidas para


estimular e promover a competitividade do setor postal, a quebra de monopólio e a
11
privatização das estatais. a partir de então na Europa ocorreu um processo
gradual de liberalização do setor.

A Alemanha ousou na reforma do setor postal por ser hoje uma nação com
abertura total ao mercado. No ano de 1994 no esforço de privatizar as estatais, as
companhias foram transformadas em empresas de economia mista. Em 1998 abriu-
se gradualmente ao mercado, em 2000 abriu a oferta pública de ações e em 2007
abriu totalmente ao mercado. Com isso, investidores públicos se tornaram acionistas
majoritários e somente empresas com predominância de capital privado estão
presentes no mercado postal, ou seja, grandes investidores que formavam um
oligopólio.

No Reino Unido, em 2001 a empresa postal se tornou sociedades anônimas,


abriu para o mercado em 2006 , mas o operador estatal não deixou de existir. O
estado continua a ser acionista majoritário e predominante, mas a concorrência de
pequenas e grandes empresas e agencias franqueadas. A Áustria seguiu o mesmo
caminho. O estado tem participação majoritária, com a ampliação gradual de
empresas privadas no setor.

Na contramão da União Europeia a experiencia dos EUA é diferente. A United


States Postal Service (USPS) segue sendo um serviço público. Mas não é uma
estatal e sim uma agência ligada ao governo americano.

A estrutura do correio americano compreende 34 mil agencias, 321 veículos e


495 mil funcionários, essa estrutura é cinco vezes maior que no Brasil.

O governo Trump objetivou privatizá-la, pois chegou a propor uma


reorganização da operação da agência para prepará-la para uma futura privatização,
mas não obteve êxito devido à forte oposição.

Em matéria veiculada na BBC News em junho de 2021 12, a economista


Monique Morrissey explica que os correios nos Estados Unidos vêm resistindo a
privatização e muito se deve a ideologias patriotas e conservadoras. Muitos
entendem que os Correios representam um serviço patriota. Há também o temor de

11
TEIXEIRA, p. 22
12
MOTA, Camila Veras. 2021
18

que pequenos negócios possam quebrar com a sua privatização, bem como o
provável aumento de tarifas nas áreas mais remotas e prejuízos para os
trabalhadores.

Muitos pequenos negócios dependem dessa estrutura, especialmente nos


interiores. Os correios também são reconhecidos pelo serviço social, beneficiando
idosos, os mais pobres e quem não tem um computador em casa.

Para se ter uma ideia de sua relevância até mesmo a Amazon 13 se utiliza da
estrutura dos correios dos EUA (USPS) para realizar entregas nas regiões mais
remotas, por essas e outras razoes a instituição goza de prestígio e credibilidade,
sendo considerada segura e confiável. Importante ressaltar que os contratos com a
Amazon e outras empresas grandes do ramo logístico são lucrativas para a
instituição.

Todavia, os correios dos EUA enfrentam críticas e investigações sobre a


qualidade dos serviços e atrasos nas entregas. Também há críticas quanto aos
salários e benefícios dos trabalhadores, que estão acima da média do setor privado.

13
Empresa multinacional criada em 1994, de e-commerce e logística, uma das maiores e mais importantes do
mundo.
19

2. DA LEGISLAÇÃO QUE REGE OS SERVIÇOS POSTAIS

2.1 Das normas e princípios

O artigo 21, inciso X da CF, reservou a competência privativa da União, a


função relativa ao serviço postal, portanto a titularidade do referido serviço, sobre o
qual paira o prisma do monopólio ou privilégio.

Nesse sentido, o serviço postal é a materialização do direito à comunicação,


serviço social de interesse coletivo e universal, e portanto, tendo como diretriz
principal o interesse da sociedade, devendo assim, a União ser a garantidora
devendo assegurar e controlar diretamente, privilegiando o interesse social em
detrimento a interesses econômicos.

É também de competência exclusiva da União legislar sobre os serviços


postais, ou seja, os demais entes da união não podem criar normas próprias a
respeito (art. 22, V – CF/88).

Os correios se submetem ao artigo 175 da Constituição, vez que não


explora atividade econômica. Pelo mesmo motivo possuem
responsabilidade objetiva, prevista no artigo 37, parágrafo 6º do mesmo
diploma legal, além disso gozam de imunidade tributária, prevista no artigo
150, VI, a da CF e do privilégio da impenhorabilidade de bens, rendas,
serviços e o regime de precatórios. 14

Contudo, o Estado, titular dos serviços públicos, delegou a empresa estatal


(ECT), a exploração de modo especializado, com autonomia administrativa, no
esteio do interesse público, por força de lei. 15

A empresa tem a faculdade de celebrar contratos e convênios para garantir a


efetividade dos serviços de sua competência quando autorizados pelo ministério das
comunicações (art.2º parágrafo 3º da lei federal n. 6.538/78). Tais contratos
precedem de licitação. A ECT tem preferido as franquias, regidas pela lei n. 8.955/
de 1994.

14
NOHARA, 2017, p. 633-634
15
Batista, Hugo Fidelis, 2020, p.82.
20

A Empresa de Correios e Telégrafos foi criada sob o decreto-lei nº 509/ 69,


sendo integrante da administração pública indireta da União, sendo sujeita as regras
de direito público e privado.

O serviço postal brasileiro encontra-se atualmente regulado pela Lei Federal


n. 6.538, de 22.6.1978, secundada por vários atos normativos do Poder
Executivo e sem prejuízo às normas internacionais sobre a matéria. Embora
possua algumas impropriedades terminológicas, trata-se de um conjunto
normativo que foi recepcionado pela ordem constitucional instaurada pela
Carta Magna de 1988.16

De acordo com a Lei Postal Vigente, lei n. 6538/78, o serviço público pode
ser exclusivo e não exclusivo, sendo que o serviço público exclusivo está regulado
no art. 9º da referida lei - recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e
a expedição, para o exterior, de carta, cartão-postal e correspondência agrupada
(malote), principalmente; e o serviço público não exclusivo no art. 7º, §§ 2º e 3º -
remessa de dinheiro e ordem de pagamento, recebimento de tributos, prestações,
contribuições e obrigações pagáveis à vista, e remessa e entrega de encomendas.

Isso significa que, apenas o serviço de entrega de correspondência é


monopólio estatal, melhor dizendo, exclusividade da União, na entrega de
encomendas, o mercado já é aberto à concorrência privada.

Em se tratando de empresa estatal, integrante da administração pública


indireta, sujeita-se a normas de direito privado e de direito público.

Celso Bandeira de Mello explica que,

Deve-se entender que empresa pública federal é a pessoa jurídica criada


por força de autorização legal como instrumento de ação do Estado, dotada
de personalidade jurídica de Direito Privado, mas submetida a certas regras
especiais decorrentes de ser coadjuvante da ação governamental,
constituída sob quaisquer das formas admitidas em Direito e cujo capital
seja formado unicamente por recursos de pessoas de Direito Público interno
ou de pessoas de suas Administrações indiretas, com predominância
acionária residente na esfera federal. 17

Se por um lado a empresa pública atende a um interesse do estado, o


interesse coletivo e a prestação de serviços público de qualidade e acessível, por
outro descentraliza a atividade do estado, assumindo caraterísticas de empresa

16
França, Vladimir da Rocha, 2008, p.50
17
MELLO, Celso Bandeira de. 2012, p.172.
21

privada sob o ponto de vista administrativo. Ocorre, portanto a hibridez que permite
normas públicas e privadas.

Como exemplo dessa hibridez jurídica a Empresa Brasileira de Correios e


telégrafos, prestadora de serviço público em regime de exclusividade, desfruta de
imunidade tributária recíproca e paga as suas dívidas mediante precatório. A
contratação de pessoal ocorre por meio de concurso público que é próprio de
servidores da administração direta (art. 37, II da CF), mas se aplica a seus
empregados, no entanto, uma vez contratados, seguem as nomas celetistas, que é
própria do regime privado.

Por ser uma empresa pública federal que presta serviço público, apesar de
ser pessoa jurídica de direito privado, os Correios têm sobre si a aplicação
de todas as normas de direito público, tais como: a exigência de concurso
público para contratação de pessoal; a necessidade de licitação para
contratação de materiais, serviços, obras, etc.; vedação de acumulação de
cargos, empregos e funções públicas; “responsabilidade penal dos seus
empregados, que respondem também por improbidade administrativa”;
limitação da remuneração de seus empregados pelo teto constitucional
(NOHARA, 2017, p. 633-634)

Ao abarcar algumas regras publicas e outras regras privadas de forma


dinâmica, esta unidade normativa é formada por princípios e regras caracterizados
pela supremacia do interesse público sobre o interesse privado e por restrições
especiais, firmados uns e outros em função da defesa de valores especialmente
qualificados no sistema normativo. 13

Assim, os princípios da administração pública dispostos no artigo 37 da


Constituição legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
coadunam com princípios que regem os serviços públicos, previstos no art. 6,
parágrafo 1º da lei n. 8.987/95 – regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia na prestação e modicidade das tarifas.

Como empresa pública executa serviços de interesses do Estado, não


estando restrita a atividades econômicas. Nesse sentido se difere da empresa
privada, pois tem objetivos políticos, sociais e macroeconômicos, enquanto a privada
tem predomínio de interesses particulares e microeconômicos. Isso quer dizer que
as estatais, por sua natureza, atendem a interesses do Estado e como tal tem como
finalidade um serviço público, mas não lhe é vetado a atividade econômica com fim
lucrativo.
22

Tais princípios se apresentam nas atividades da ECT embora haja críticas na


literatura e na proposta enviada ao congresso (PL 591/21) quanto ao princípio da
eficiência, pois a empresa tem sido objeto de críticas quanto a sua capacidade de
modernização e competição com o mercado, mas também objeto de preocupação,
quanto a ameaça da universalização dos serviços postais e da modicidade de
tarifas.

2.1. Considerações sobre a ECT na atualidade

Algumas das informações apresentadas a seguir foram retiradas do relatório


integrado de 2020 dos Correios, que busca atender as diretrizes de reporte e
transparência de forma objetiva e de fácil compreensão, apresentando os resultados
objetivos pela empresa no exercício anual e complementadas com dados da
Agência Senado de Setembro de 2021. Essas informações atendem ao princípio da
publicidade.

Os Correios são uma empresa pública vinculada ao Ministério das


Comunicações, com capital social de R$ 3.383 milhões, integralmente constituído
pela União, regida por seu Estatuto Social e pelas normas aplicáveis (Decreto-lei de
criação nº 509/1969, Leis nºs. 6.404/1976, 6.538/1978, 12.490/2011, 13.303/2016 e
Decreto nº 8.945/2016)18.

O relatório apresenta anualmente a dimensão social e corporativista da


empresa, a missão, valores, os negócios, reestruturações, estratégias de
governança, resultados de gestão, informações orçamentárias, financeiras e
contábeis.

Por meio dessas informações a sociedade e os críticos podem conhecer a


estrutura e avaliar a situação real da empresa em aspectos mais objetivos. Por meio
dessas informações é possível observar que existe um esforço para busca da
eficiência e continuidade dos serviços prestados, bem como os desafios.

Em linhas gerais, convém destacar que a dimensão social da empresa


comporta projetos e ações, entre eles: o transporte e distribuição de medicamentos
(1500 toneladas), Programa leve leite com a distribuição de 310 mil kg para 77.500
18
Relatório integrado dos Correios de 2020.
23

alunos; 52 projetos culturais; coleta seletiva beneficiando 750 pessoas, 3.478 jovens
aprendiz e mais de 7 mil empregados com deficiências, emissão de 4 milhões de
CPF emitidos e 525 mil consultas ao Serasa so em 2020. A empresa também
realizou campanhas com temas sociais e ambientais e envio de donativos em
localidades devastadas pelas chuvas. Durante a pandemia atuou no transporte e
distribuição de amostras de vírus, medicamentos e testes clínicos entre laboratórios
e universidades (rede Vírus) e atendeu 96 mil cartinhas na Campanha do Papai Noel
dos Correios; ainda possui sistema de postagem e atendimento em braile e para
deficientes auditivos. 19

Os correios também exercem parceria com a Polícia Federal, com troca de


informações para retenção de objetos ilícitos (drogas, cédulas falsas, armas de fogo,
medicamentos proibidos, animais vivos) por meio de fiscalização e raio x.

Em relação aos negócios, a empresa possui três linhas: logística,


comunicação e atendimento.

O atendimento se dá de forma presencial ou a distância (digital) e inclui


serviços e venda de produtos além de soluções financeiras, por exemplo,
pagamento de contas. A comunicação inclui a captação e entregas de
correspondência físicas e digitais de natureza administrativa, social ou comercial e
ainda conta com um sistema de canais de interação entre os clientes e a empresa.

Sobre o relacionamento com os clientes são destacados no relatório:

I. Serviço Central de Atendimento dos Correios (SAC):


a) Telefone: cerca de 28 milhões de ligações recebidas, sendo 87 mil
ligações recebidas no atendimento 24 horas, 7 dias na semana;
b) Chat web (CAROL, a atendente virtual): 1,3 milhão de chats, com
interações 24 horas, 7 dias na semana;
c) CAC – Atendimento Especializado: suporte ao cliente com contrato para
atendimento a demandas de TI e financeiras, incluindo a oferta de soluções
para seus negócios.
II. Facebook, Instagram, Twitter: tratadas/respondidas mais de 342 mil
interações.III. Vendas à distância: prospecção de novos contratos de forma
ativa e receptiva. Foram efetivados 3.790 novos contratos.IV. Fale Conosco:
registrados 17,80 milhões de manifestações. Teve início em 2020 o
atendimento a clientes nos sites consumidor.gov.br e reclameaqui.com.br.

Ademais, os correios contam com um canal exclusivo para denúncias,


reclamações, elogios e sugestões – a ouvidoria. Consta do relatório mais de 57 mil

19
Relatório integrado dos correios, 2016, p 104 a 106.
24

reclamações no ano de 2020, número bem expressivo, porém, comparado a


quantidade de encomendas e serviços efetuados (16 milhões por dia) representa
uma pequena porcentagem.

Quanto a logística - Processo de captação e entrega de remessas nacionais e


internacionais e de prestação de serviços de logística integrada- composto por:

Encomendas: recebimento, expedição, transporte e entrega de objetos,


com ou sem valor mercantil. Inclui ainda a logística reversa, serviço de
retorno de encomenda, mediante autorização de postagem, com
possibilidade de entrega simultânea de outra encomenda no momento da
postagem ou da coleta.
Logística Integrada: oferta de solução logística adaptada às necessidades
de cada operação, integrada a uma plataforma digital para gerenciamento
completo da cadeia de valor. Inclui grandes operações customizadas, como
a distribuição dos livros didáticos do Plano Nacional do Livro Didático
(PNLD) e a distribuição das provas do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), dentre outras. Também inclui a provisão de solução de logística
integrada para suportar operações de e-commerce com demandas de
serviços de armazenagem; atendimento de pedidos; separação;
embalagem; integração com a solução de transporte/distribuição e logística
reversa.
Internacional: oferta de soluções logísticas para importação e exportação
de mensagens, impressos, documentos e bens com ou sem valor comercial.

Para atender a essa logística a empresa possui uma estrutura com


dimensões que expressam o tamanho do território brasileiro. Para se ter uma ideia,
são 95 mil funcionários, sendo a metade de carteiros e por dia, são mais de 16
milhões de mensagens e objetos postais.

Fonte: Correios- Relatório integrado 2020


25

O quadro de gestão é composto por Assembleia Geral, Conselho fiscal,


Conselho de administração e Presidência com suas secretarias. Esses cargos são
de indicações políticas. O órgão supervisor é o Ministério de Comunicações. Os
órgãos de fiscalização e controle são o TCU, CGU, SEST/ME 20.

Apesar do quantitativo de funcionários, a corregedoria recebeu, segundo


dados do relatório, 2310 denúncias de natureza disciplinar admitindo 1617 delas e
instaurando 53 processos e 78 investigações. Relativamente a fatos apurados
segundo a Lei nº 12.846/2013, a Corregedoria recebeu para juízo de admissibilidade
27 processos e concluiu 21 processos, além de ter instaurado investigação
preliminar em sete casos. Concernente aos Processos Administrativos de
Responsabilização (PAR), foram instaurados 21 processos e encaminhados oito
para julgamento.

Ressalte-se que a empresa possui código de ética e conduta que deve ser
seguido por seus funcionários.

Da leitura do relatório é possível verificar que a empresa vem adotando


medidas ou ações estratégicas que visam estabelecer o equilíbrio econômico e
financeiro da instituição e atuações estratégicas que buscam a competitividade e
prevê riscos e ações norteadoras em cumprimento a Lei de Responsabilidade das
Estatais nº 13.303/2016, no § 1º do art. 23, que prevê essa análise para no mínimo 5
anos.21

Também é possível extrair do relatório a lucratividade da empresa:

A empresa tem adotado ações com vistas a garantir a sua sustentabilidade,


o que tem contribuído para os resultados positivos no período. O resultado
recorrente apurado em 2020 foi de R$ 1.841 milhões, representando um
aumento de 138,5% em relação a 2019. O lucro líquido apurado em 2020 foi
de R$ 1.530 milhões, com acréscimo de 1.400%, em relação ao resultado
de 2019.22

É possível observar que o relatório apresenta dados estatísticos que


ressaltam a saúde financeira da instituição e um modelo de gestão que atende os
princípios da gestão publica em atendimento aos serviços públicos, embora
comporte críticas e recomendações do próprio TCU.

20
TCU- Tribunal de Contas da União; CGU- Controladoria Geral da União; Secretaria de Coordenação e
Governança das Empresas Estatais.
21
Relatório integrado dos correios, 2020 p.45
22
Relatório integrado dos correios, 2020, p.117.
26

3. PL 591/21 - DA PRIVATIZAÇÃO DA ESTATAL

3.1. A proposta

O projeto de lei (PL 591/21) de autoria do Presidente Jair Bolsonaro que


permite a privatização da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) foi
objeto de discussão na Câmara dos deputados, recebeu propostas de emendas - a
maioria rejeitada, e aprovado seguindo para discussão no Senado. Uma vez
aprovado, deverá ser sancionado pelo presidente.

Mas o que prevê o PL e quais as discussões em torno do tema? Em linhas


gerais o projeto de lei extingue e ou modifica as legislações vigentes, marco
regulatório do serviço postal, desestatiza os correios e entrega a ECT para a
iniciativa privada por meio de leilão, sendo que os Correios uma vez privatizados
continuarão detendo a exclusividade da distribuição de correspondência por um
período de 5 anos.

O projeto proposto, prevê que todos os serviços postais, inclusive aqueles em


regime de monopólio (correspondências), hoje prestados pela ECT, possam ser
explorados pela iniciativa privada para promover maior competição no setor,
aumentando os investimentos e a qualidade dos serviços prestados.

Autoriza que a ECT seja alienada, sendo denominada por Correios do Brasil
S.A.

Os princípios a serem seguidos passam a ser os de ordem econômica e das


leis relativas aos serviços postais e aos direitos do consumidor, como a competição
livre, ampla e justa; o respeito aos direitos dos consumidores; o equilíbrio das
relações entre operadores postais e usuários dos serviços; a função social do
serviço de interesse coletivo e o desenvolvimento tecnológico e industrial do setor
com previsão no artigo 170 da CF.

Extinguem-se, portanto, os benefícios tributários de que goza a estatal.


Mantem a prestação dos serviços já existentes, modernizando e garantindo a
universalização do serviço postal, e a União permanecerá legislando sobre o tema,
(art. 21 da CF) por meio órgão regulador instituindo políticas destinadas a
27

permanente melhorias do sistema. Propõe também que os serviços postais sejam


regulados pela Agência Nacional de telecomunicações – ANATEL.

O projeto inicial não previu nenhuma menção ao contingente de


trabalhadores, cerca de 95 mil pessoas.

Nas discussões no plenário foram apresentados argumentos favoráveis e


desfavoráveis ao projeto dentre os quais vantagens e desvantagens decorrentes da
privatização e 25 emendas.

3.1. Das vantagens da privatização

As considerações a seguir foram apresentadas no debate sobre a


privatização estabelecido na sessão do plenário da Câmara dos deputados e
extraídos de documentos como o parecer as emendas propostas, o texto original do
PL 591 e dados da Agência Senado.

O apelo pela privatização da ECT tem em seu escopo diferentes razões que
vão além da modernização e da possível quebra da empresa, que pelo menos por
enquanto, os dados não apontam para isso, mas foi evocada.

A justificativa de que a ECT não está a contento devido a atrasos, perdas de


objetos, preços abusivos, excesso de burocracia e precária é defendida pelos
parlamentares que aprovaram a privatização.

O que se pretende é a geração da concorrência sob a alegação de que uma


vez aberto a livre concorrência, beneficiará a população com preços diferenciados.
Alega-se que com o mercado aberto, os empreendedores utilizariam seu próprio
dinheiro para concorrer dentro de um sistema de competição, oferecendo serviços
mais eficientes, aumento de frotas, instalações e a possível de entrada de empresas
estrangeiras consolidadas dentro do país, além de beneficiar o negócio de pequenos
empreendedores.

Outra alegação é a falta de recursos orçamentários associada a uma operação


incapaz de gerar recursos próprios para cobrir orçamentos necessários, o que
justificaria sua ineficiência. De acordo com o governo federal, os Correios não têm
dinheiro suficiente para investir em sua modernização, já estão ficando defasados
28

em termos de tecnologia e, tornando-se obsoletos, serão vencidos pelas empresas


privadas que também atuam na entrega de mercadorias. Segundo o ministro das
comunicações Fábio Faria, os Correios necessitam de R$ 2,5 bilhões anuais em
investimentos para se manterem competitivos — montante do qual a estatal não
dispõe.23

Outro ponto é que atualmente a empresa tem imunidade tributária e uma vez
privatizada passará a contribuir para a União.

Argumenta-se também que existem entraves ao princípio da eficiência e da


moralidade compatível com a administração pública, pois enquanto estatal, a
empresa já apresentou irregularidades licitatórias, terceirizações ilícitas, falta de
investimentos em melhorias, indícios de corrupção, que prejudicaram a atividade fim,
além de problemas administrativos, políticos e ideológicos, que estariam livres na
iniciativa privada.

Em síntese, as principais as razões apresentadas: críticas a ineficiência e aos


operadores públicos, não rentabilidade e falta de investimentos no setor, bem como
a crença de que a abertura do monopólio traria benefícios como a competição,
melhoria na qualidade, redução de preços e avanço tecnológico, além da
necessidade de enxugar a máquina pública.

Não houve uma preocupação com o futuro dos empregados nesse discurso .

3.2. Criticas a privatização

A oposição ao PL 591 manifestou preocupação com a universalidade dos


serviços postais e defendeu o monopólio das atividades postais que se justifica para
prover as condições para sustentação do próprio sistema, que implica em custear os
serviços não comerciais da instituição, pois a estrutura dos serviços postais
compreende a materialização do direito a comunicação e esses sistemas abarcam
uma série de programas sociais.

Argumenta-se que os correios brasileiros atendem todos os municípios do


Brasil, 5570 municípios, inclusive os mais os remotos, de difícil acesso e que desses

23
Agencia senado.
29

apenas cerca de 300 dão lucro. É desse lucro que advém a sustentação de uma
estrutura que se autossustenta, não apresenta custos para união e satisfaz as
necessidades da população com preços abaixo dos praticados pelo mercado.
Salientam que o objetivo do monopólio é subsidiar os custos dos serviços não
comerciais nas áreas de baixo retorno financeiro e que uma vez privatizados, a
iniciativa privada não terá interesse em atender esses municípios, pois teriam
prejuízos, ou elevariam o custo.

Outra tese apresentada foi a de que a empresa é autossustentável e não dá


prejuízos para o governo de modo que não se pode desfazer de uma empresa
centenária a preço baixo, sob o argumento de que futuramente poderá quebrar, pois
trata-se de um patrimônio do Brasil, que goza de credibilidade perante a população
por sua confiabilidade. Nesse sentido, o papel do governo deveria ser de injetar
recursos, já que recebe dividendos, para fortalecê-la e torná-la mais competitiva nos
setores liberalizados.

Destacou que a privatização traz riscos para os empregados e que o país


atravessa uma crise econômica que se agravaria devido ao contingente de
desempregados, em consequência da privatização.

Condenou o objetivo do governo em querer lucrar com a privatização para


beneficiar-se nas eleições e destacaram as finalidades sociais da empresa como a
entrega de vacinas e de livros didáticos.

Outra preocupação apresentada pela oposição ao projeto é a de que as


empresas pequenas privadas que são parceiras dos correios serão engolidas por
gigantes logísticos e como consequência o que se verá é a formação de oligopólios.

Dentre as razoes, também foram apresentados como exemplo, países como a


Argentina e Portugal que tiveram seus sistemas postais falidos após a privatização e
os EUA que mantem o controle dos Correios defendendo a instituição e os
interesses da população.

3.3. Das emendas ao PL 591.


30

Diante das vulnerabilidades que a proposta de privatização traz para o setor


postal foram apresentadas 25 emendas, dentre elas convém destacar aquelas que
visam assegurar estabilidade provisória aos empregados e prioridade na
contratação, clausulas contratuais que garantam atendimento em áreas remotas,
participação majoritária do governo nas ações da empresa, criação de fundo de
universalização de serviços postais, impedimento a tarifação diferenciada por região,
assegurar a incorporação dos funcionários da ECT a nova empresa, limitações a
Anatel enquanto agencia reguladora.

A maioria das emendas foi rejeitada.

Ao texto original agregou-se a estabilidade de dezoito meses dos empregados


da ECT, e de igual período o plano de saúde, Plano de Demissão Voluntaria com
indenização de 1 ano de salário e programas de requalificação para os empregados.

O plano também veda o fechamento de agencias em áreas remotas pelos


próximos cinco anos e prevê a manutenção de serviços sociais em todo o país.

Firmou-se também que as regras da Anatel – agência reguladora serão


definidas em lei e limitadas, para que a livre concorrência seja a principal reguladora.
31

4. IMPACTOS DA PRIVATIZAÇÃO DOS CORREIOS PARA OS


TRABALHADORES.

4.1. Considerações iniciais

A ECT conta hoje com o quadro de 95 mil funcionários. O relatório integrado


dos Correios de 2020 traça um panorama geral , onde é possível observar a redução
do número de funcionários nos últimos três anos, totalizando 98 mil em 2020, sendo
que dados mais atualizados ( agencia senado) mostram que já houve redução para
95 mil, devido ao PDI lançado em janeiro de 2021.

Os funcionários ou empregados dos correios, apesar de admitidos via


concurso público, são contratados por regime da Consolidação das Leis de Trabalho
CLT, com termos e direitos iguais aos dos trabalhadores do setor privado. Portanto,
possuem FGTS, INSS, 13º salário, pagamento de horas extras, férias, repouso
32

semanal remunerado, adicional noturno, licença maternidade, e nas demissões sem


justa causa todas as verbas rescisórias ligadas a elas, entre outros direitos.

Uma vez privatizada, a estatal passará a iniciativa privada que manterá o


mesmo regime de contrato e inicialmente aproveitará o quadro de funcionários.
Surgem daí alguns questionamentos, pois, o quadro de empregados é grande e a
empresa passará por reestruturações que certamente implicará em redução do
quadro de pessoal e consequentemente reestruturações salariais e demissões.
Outra dúvida é sobre a estabilidade desses funcionários que entraram por meio de
concursos. Ainda se questiona as vantagens ou desvantagens dos planos de
demissões voluntárias lançados para reduzir o número de empregados.

A realidade é que os correios já vêm realizando reestruturações que afetaram


de modo considerável os empregados, sobretudo em números, inclusive
penalizando com a perda de direitos, sendo objeto de greve da categoria, a última
em 2020.

No ano de 2020 a direção da ECT impôs aos trabalhadores redução da


remuneração em quase 40% suspendendo acordo coletivos, reduzindo o vale
alimentação, adicional noturno, a licença maternidade, o tempo destinado a
amamentação, o adicional de férias entre outros direitos que foram conquistados
pela categoria sob a alegação de que a empresa tem enfrentado prejuízos. Diante
da greve negou-se a fazer acordos, levando a disputa ao TST (Tribunal Superior do
Trabalho).

Ressalte-se que benefícios como vale alimentação e refeição, cesta básica,


auxílio aos filhos especiais menores, assistência odontológica e assistência médico
hospitalar, auxílio creche, jornada de 40 horas semanais, adicional por sábado
trabalhado compõem gratificações que correspondem de 23 a 40% das
remunerações dos empregados da empresa, que em sua maioria iniciam suas
atividades na empresa com média salarial de até dois salários-mínimos. Sendo
esses benefícios objeto de luta e negociações por décadas, bem como o plano de
carreira que tem um peso importante na remuneração, pois constitui acréscimo ao
salário diante do tempo e avaliação do empregado na empresa.24

24
Teixeira, p.212
33

No julgamento da greve a Ministra Katia Arruda considerou de uma


arrogância extrema a falta de negociação da empresa que instigou a categoria ao
conflito. Para ela, a decisão do governo e da empresa representou um ataque
radical e amplo aos direitos dos trabalhadores, já que não conseguiu comprovar
prejuízos, e sob a alegação de prejuízos futuros, que não é admissível.25

Pelo contrário, os relatórios da ECT demostram lucros e crescimento das


atividades durante a pandemia, e nas negociações, advogados dos trabalhadores já
denunciavam que o objetivo de reduzir direitos se atrelava a ideia de privatização.

Entre esses “ajustamentos”, os funcionários tiveram pais e mães excluídos do


plano de saúde e passaram a contribuir com 50% no custeio, antes era 30%, houve
também adequações de Acordo Coletivo de trabalho à CLT. Com isso, o salário
desses empregados foram impactos de forma negativa para aumentar a receita da
empresa.

O próprio relatório integrado de 2020 aponta que a empresa reduziu os gastos


com pessoal em 965 milhões no ano de 2020 e não esconde as perdas salariais de
seus empregados especificando os cortes.

A realidade é que a ECT já vem colocando na conta dos empregados os


ajustes preparatórios para a privatização e reduzindo o quadro de pessoal. Inclusive
vem apresentando pacotes de PDV/ PDI nos últimos anos.

De 2005 para 2020, o número de empregados caiu de 105 mil para 98 mil.
Nesse período a receita liquida da empresa subiu de 7,6 bilhões em 2015 para 17,2
bilhões em 2020, com exceção do período que compreende os anos de 2013 a
2016, nos demais não houve prejuízos. Em 2020 por exemplo, o lucro foi de 1.530
milhões26. O plano de demissão incentivada no início de 2021 esperando a adesão
de pelo menos 8 mil empregados, mas não alcançou 5 mil.

25
Ministra Katia Arruda. Relatora na Sessão de julgamento da greve dos correios.
26
Dados da Agencia Senado. Disponível em https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/09/para-
governo-privatizacao-modernizara-correios-funcionarios-advertem-que-agencias-do-interior-serao-fechadas.
34

4.2. Da estabilidade dos empregados dos Correios

O instituto da estabilidade de que gozam os servidores públicos da


administração direta não se estende aos empregados públicos. A estabilidade foi
criada com a intenção de proteger o serviço público, atendendo ao princípio da
impessoalidade pretendendo evitar que os agentes públicos cedam aos interesses
de terceiros em detrimento a administração pública, conforme nos ensinam Marcelo
Alexandrino e Vicente Paulo:

A preocupação que justificou a criação do instituto, e sua elevação a


patamar constitucional, é possibilitar que os servidores públicos resistam a
ingerências de natureza política, ou pressões de grupos econômicos,
visando à obtenção de privilégios e favorecimentos de toda ordem, em
síntese, evitar que os servidores públicos, no exercício de suas atribuições,
sejam coagidos, de qualquer forma, a atuar em desacordo com o princípio
da impessoalidade, em evidente detrimento do interesse público.27

Todavia, convém destacar que apesar de seus empregados ingressarem por


meio de concurso público, estes não gozam de estabilidade. No entanto, para sua
dispensa é preciso que a empresa demonstre que o fato que ocasionou a demissão
corresponde à satisfação de algum interesse público, e, pois, que não é ato de
vingança, não é ato de perseguição.28

Embora haja controversas na doutrina, que entende ser necessário processo


administrativo para defesa e contraditório, o STF fixou tese a respeito:

EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT.


DEMISSÃO IMOTIVADA DE SEUS EMPREGADOS. IMPOSSIBILIDADE.
NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO DA DISPENSA. RE PARCIALEMENTE
PROVIDO. I - Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade
prevista no art. 41 da CF, salvo aqueles admitidos em período anterior ao
advento da EC nº 19/1998. Precedentes. II - Em atenção, no entanto, aos
princípios da impessoalidade e isonomia, que regem a admissão por
concurso publico, a dispensa do empregado de empresas públicas e
sociedades de economia mista que prestam serviços públicos deve ser
motivada, assegurando-se, assim, que tais princípios, observados no
momento daquela admissão, sejam também respeitados por ocasião da
dispensa. III – A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o
empregado de uma possível quebra do postulado da impessoalidade por
parte do agente estatal investido do poder de demitir. IV - Recurso
extraordinário parcialmente provido para afastar a aplicação, ao caso, do
art. 41 da CF, exigindo-se, entretanto, a motivação para legitimar a rescisão
unilateral do contrato de trabalho”. (RE 589998, ED/PI)

27
Alexandrino, 2009, p.317.
28
Ministro Edson Faccin no julgamento da RE 589998, ED/PI.
35

O entendimento dominante no TST é o mesmo, só gozam de estabilidade


servidores públicos, empregados públicos não. Inclusive estes, devem recorrer a
justiça trabalhista enquanto os servidores públicos a justiça comum, na resolução de
conflitos. O tema encontra-se consubstanciado na Súmula 390:

SUM-390 ESTABILIDADE. ART. 41 DA CF/1988. CELETISTA.


ADMINISTRAÇÃO DIRETA, AUTÁRQUICA OU FUNDACIONAL.
APLICABILIDADE. EMPREGADO DE EMPRESA PÚBLICA E SOCIEDADE
DE ECONOMIA MISTA. INAPLICÁVEL
I - O servidor público celetista da administração direta, autárquica ou
fundacional é beneficiário da estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988.
II - Ao empregado de empresa pública ou de sociedade de economia
mista, ainda que admitido mediante aprovação em concurso público,
não é garantida a estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988.29

Antes da emenda no art. 41 da CF, os empregados públicos eram


considerados estáveis após o efetivo exercício de 2 anos, após a emenda a
estabilidade limitou-se apenas aos servidores públicos, ou seja, da administração
direta.

Todavia, empresas públicas que realizam serviços essenciais, no caso os


correios, cujos empregados entraram mediante concurso público, estes são
vinculados ao serviço público prestado, e embora não se reconhece a estabilidade,
para serem dispensados existe a necessidade de motivação formal.

TST - OJ-SDI1-247 SERVIDOR PÚBLICO. CELETISTA CONCURSADO.


DESPEDIDA IMOTIVADA. EMPRESA PÚBLICA OU SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA. POSSIBILIDADE:
I - A despedida de empregados de empresa pública e de sociedade de
economia mista, mesmo admitidos por concurso público, independe de ato
motivado para sua validade;
II - A validade do ato de despedida do empregado da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) está condicionada à
motivação, por gozar a empresa do mesmo tratamento destinado à
Fazenda Pública em relação à imunidade tributária e à execução por
precatório, além das prerrogativas de foro, prazos e custas
processuais.

Portanto, não há que se falar em estabilidade dos empregados dos correios,


e diante da privatização, existe o risco de demissões vez que esses empregados
deixam de estar vinculados a estatal e passam a se vincular a outro empregador que

29
Sumula 390 /TST.
36

poderá reduzir o quadro de funcionários por questões de ordem administrativa, de


interesses privados, pela própria modernização que tende a reduzir o trabalho
manual substituindo por equipamentos (maquinários).

Porém, o PL 591 propõe que seja assegurado estabilidade provisória de


dezoito meses para esses funcionários, e após esse período o empregador poderá
seguir com dispensas. Durante essa estabilidade espera-se que os empregados
façam adesão ao plano de demissão voluntária da empresa.

4.3. Do Plano de Demissão Voluntária

O plano de demissão voluntaria ou PDV é um programa de incentivo a


demissão voluntária por parte do empregado que pode receber algumas vantagens
por se desligar espontaneamente do emprego. Isso quer dizer que o empregado
receberá uma indenização que pode ser mais vantajosa a um pedido simples de
demissão.

Essa é uma forma utilizada por empresas quando pretende reduzir o


contingente de funcionários, baixa produção e readequação do quadro de
funcionários, sem arcar com todo o ônus da justa causa. Todavia a empresa tem o
ônus de aceitar a demissão voluntaria, não podendo escolher quem gostaria de
manter em seu quadro de empregados. Para isso o plano deve ser mais vantajoso
para o empregado que pedir demissão e para a empresa, em demitir pagando todos
os direitos trabalhistas.

Após a reforma trabalhista (lei 13.467/2017) o artigo 477-B passou a prever


que ao aderir ao plano de demissão voluntária (PDV) o empregado não poderá
recorrer a justiça do trabalho para reaver direitos, desde que estes estejam
acordados na convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. Isso quer dizer que
esses direitos serão convencionados. Ou seja, a lei não prevê os critérios, eles
serão convencionados pelas partes com a participação do sindicato.
37

Art. 477-B. Plano de Demissão Voluntária ou Incentivada, para dispensa


individual, plúrima ou coletiva, previsto em convenção coletiva ou acordo
coletivo de trabalho, enseja quitação plena e irrevogável dos direitos
decorrentes da relação empregatícia, salvo disposição em contrário
estipulada entre as partes.30

O referido artigo estimula e valoriza os princípios da boa fé, fortalecendo a


relação negocial, porém, há de ser observado o acordo coletivo que aprova o plano,
não bastando a presença do sindicato na assinatura, mas também a convenção,
conforme decisão do STF:

A transação extrajudicial que importa rescisão do contrato de trabalho, em


razão de adesão voluntária do empregado a plano de dispensa incentivada,
enseja quitação ampla e irrestrita de todas as parcelas objeto do contrato de
emprego, caso essa condição tenha constado expressamente do
acordo coletivo que aprovou o plano, bem como dos demais
instrumentos celebrados com o empregado. (STF, RE-590415, relator
ministro Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 30.4.2015.)

Os Correios já vêm promovendo planos de desligamento. Em janeiro de 2020,


foi estabelecido o PDI (Plano de Desligamento Incentivado) cujos requisitos eram:
estar aposentado, estar enquadrado em cargo em extinção na empresa, ou possuir
tempo de efetivo exercício nos Correios superior a 15 anos com o objetivo de
redução de despesas com pessoal e adaptação do quadro funcional a realidade do
mercado.31

Para a Câmara dos Deputados a garantia de estabilidade por um ano e meio


com a possibilidade de adesão ao plano de plano de demissão voluntária trará
alguma garantia aos empregados. E o PL 591 prevê a indenização, equivalente aos
salários de um ano. Os demais critérios certamente serão acordados como manda a
lei.

Nesse caso, diante da possibilidade da demissão após os 18 meses de


estabilidade, os empregados deverão analisar as vantagens de adesão ou não,
sabendo que perdem por exemplo, o direito ao seguro-desemprego e o tempo que
levarão para conseguir um novo emprego ou conseguir uma recolocação no
mercado. O tempo que falta para a aposentadoria e os riscos de permanecer na
empresa, sabendo que existe o risco de cortes. Geralmente, nos planos de

30
Art. 477-B, CLT. 2017.

31
Jornal opção. Correios publica regulamento do Plano de Desligamento Incentivado. 05 de dezembro de 2020.
38

demissão voluntaria, é oferecido as verbas rescisórias, mais a indenização, que está


fixada aos salários de um ano pelo PL 591 e um plano de requalificação profissional,
que deverá ser oferecido pelo empregador.

A redução do número de empregados é tendencia quando se trata de


privatizações. Na década de 90, por exemplo, empresas privatizadas reduziram em
média de seus 40% dos empregados, segundo o economista Márcio Pochmann,
professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) relatou em entrevista
ao Uol.32

O sistema postal, já vem apresentando queda e precarização das relações de


trabalho no mundo desde a liberalização e abertura ao mercado, a partir da década
de 90.

Teixeira (2016) explica que o Brasil andou na contramão do mercado postal


transnacional, pois desde a criação da Estatal aumentou seu quadro de funcionários
contrariando uma tendencia mundial, que despenca o número desses contratos.
Contudo, a privatização tende a modificar esse quadro.

Segundo o autor o que se observa é que as constantes transformações nos


setor resulta em formação de oligopólios, redução do volume de empregos,
precarização do trabalho e flexibilização dos vínculos trabalhistas. 248

O autor menciona trabalho por turnos e escalasse jornadas parciais, contratos


atípicos, como trabalho autônomo em agência de atendimento franqueadas,
intensificação do trabalho para os trabalhadores que permaneceram nos empregos,
e a dificuldade de alguns países como a Dinamarca para reter trabalhadores no
setor postal.

Convém destacar que foram apresentados emendas ao projeto de lei 591/21


no sentido de proteger empregos e valorizar os empregos da estatal, como inclusão
d clausula que confira prioridade na contratação dos empregados da empresa
publica quando desestatizada pelos futuros concessionários, aumentar de 18 para
36 e60 meses o tempo de estabilidade dos empregados da ECT, garantias reais e
liquidas para o cumprimento de obrigações trabalhistas em caso de alienação em
caso de alienação do capital da ECT, clausula para estabelecer que os empregados

32
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/10/04/funcionarios-estatais-
privatizacao-direitos-trabalhistas-empregado-publico.
39

da ect sejam incorporados pela nova empresa assegurando direitos trabalhistas.


Tais emendas forma rejeitadas por maioria.

Por fim, conclui-se que a proposta de privatização não apresenta segurança


em relação aos trabalhadores, sendo bem provável desempregos e insegurança
jurídica quanto aos direitos trabalhistas, sendo o PDV uma alternativa aos
funcionários desde que se enquadrem nas regras, todavia, é comum que as
empresas estatais privatizadas aproveitem percentual do quadro de funcionários.
40

CONSIDERAÇOES FINAIS

Diante do cenário atual político, a privatização dos Correios é praticamente


uma realidade, aprovada na câmara dos deputados e com parecer da favorável por
parte do Senado, seguirá para votação na primeira quinzena de novembro de 2021.

É inegável que os Correios, considerado um patrimônio para o país, exerce


uma função social de relevância e tem garantido a universalização dos serviços
postais, atendendo aos princípios da administração publica e garantindo seu auto
custeio sendo alvo de mudanças especialmente nas últimas décadas diante das
transformações socioeconômicas e políticas.

Não se pode negar que a ECT passou por reorganizações, reestruturações e


realizou investimentos que ampliaram o número de agencias, de centros de
distribuição, trouxe a tecnologias de informação e automatização de processos,
garantiu o volume de entregas, seja de correspondências ou encomendas e que
compete com o mercado aberto sem gerar prejuízos nos últimos anos. Os números
indicam que é uma empresa lucrativa.

De igual modo, é imperativo afirmar que a ECT carece de mais investimentos


e menos burocratização, para ampliar a sua eficiência.

Importante lembrar que o Brasil tem dimensões continentais e que a ECT


atende a todo território nacional a custos razoáveis que nem sempre seguem a
lógica do mercado. Destarte, isso é possível pela preocupação social e pelo próprio
sistema que permite que os serviços prestados em exclusividade (monopólio)
subsidiem outros serviços postais de baixo retorno financeiro.

Por outro lado, temos o mercado que compete na entrega de encomendas,


mas clama pela ampliação da participação e pelo fim do domínio das
correspondências pela ECT. Bem como as pressões externas advindas da
globalização e do neoliberalismo.

Quanto ao futuro dos empregados dos correios, o que existe são as


incertezas, pois é próprio dos sistemas postais que se modernizaram e abriram ao
mercado ter como consequência demissões e precarização dos serviços com
flexibilização de vínculos trabalhistas e redução de salários. A privatização não trará
41

garantias de melhorias de condições no trabalho e tampouco de manutenção desses


empregos. Observa-se que esses empregados precisarão estar bem assistidos
pelos sindicatos para tomarem as melhores decisões em relação as escolhas que
farão e aos riscos que irão correr.

Destaco que esses trabalhadores enfrentaram inúmeras reformas ao longo


das décadas e precisaram se organizar para conquistar de direitos e benefícios, com
perdas significativas recentes e descontentamento com a atual política da empresa.
Faltam incentivos e inadequação do contingente de empregados, com cortes ao
longo dos últimos anos mesmo diante do aumento das atividades da estatal.

São esses mesmos empregados que se sentem ameaçados diante da


privatização, especialmente aqueles que estão em regiões mais remotas, que pela
lógica do mercado seriam as primeiras a sofrer alterações, como o fechamento de
agencias, como aconteceu na Argentina e Portugal.

Ademais, não é garantia que empresas pequenas sobreviverão diante de


gigantes logísticos e da possível formação de oligopólios que é uma tendencia
mundial no setor, como ocorreu na Alemanha.

Por fim destaco que poderão vir melhorias para os usuários, mas não há
garantia de preços competitivos. Os serviços postais são essenciais, pois movimenta
a economia como atividade meio e atividade fim. Arbitrariedades e contrariedades
farão parte desse processo, e o país pagará o preço dessa reestruturação.
42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA SENADO. Para governo privatização modernizara Correios: funcionários


advertem que as agencias do interior serão fechadas, por Ricardo Westin de
24/09/21.
Disponivel em: https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/09/para-
governo-privatizacao-modernizara-correios-funcionarios-advertem-que-agencias-do-
interior-serao-fechadas.
BOVO, Cassiano Ricardo Mertines. Os correios e a organização racional do
trabalho 1997.
CORREIOS. Relatório integrado 2020. Disponível em 11/10/2021:
https://www.correios.com.br/acesso-a-
informacao/institucional/publicacoes/processos-de-contas-anuais-prestacao-de-
contas
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de 2021. PDF.
BRASIL. Historia dos correios no Brasil. Disponível em: 10/10/2021.
https://www.correiosbrasil.org/historia-dos-correios/
BRASILIA. PL 591/21 . Dispõe sobre o marco regulatório , a organização e a
manutenção do Sistema Nacional de Serviços Postais. Redação final. Disponível
em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=8998362&ts=1633548066522&disposition=inline
BRASILIA.. Parecer às emendas de Plenário ao PL 591, de 2021. Dispõe sobre a
organização e a manutenção do Sistema nacional de Serviços Postais. Disponível
em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2052156&
filename=PRLE+1+%3D%3E+PL+591/2021
FRANÇA, Vladimir da Rocha. O regime constitucional do serviço postal e os
monopólios da Empresa Brasileira de Correios e telégrafos. Brasilia a 45 n.177.
jan/mar. 2008.
MOTA, Camila Veras. Privatização dos correios : Por que ela nunca avançou nos
EUA. 5 de agosto de 2021. BBC News Brasil. Disponível em: 08/10/2021.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57339145
MINHOTO, Antonio Celso Baeta; CARNEIRO, Adeneele Garcia. A incompatibilidade
do principio da eficiência e o modelo de monopólio postal no quadro constitucional
brasileiro contemporâneo.Rev, SIRJ, Rio de Janeiro, v.21, n 40, p. 31 – 40, agosto
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ROCHA, Luiz Alberto G. S. Serviço publico postal no Brasil: posicionamento
constitucional e legal. 11 de abril de 2020. Disponível em:
conjur.com.br/2020-abr-11/servico-publico-postal-brasil-posicionamento-
constitucional-legal.
43

TEIXEIRA, Tadeu Gomes. Os correios e as políticas governamentais: mudanças e


permanências. Salvador: EDUFBA, 2016.
TEIXEIRA, Tadeu Gomes. Os correios em transformação: reestruturação,
organização do trabalho e políticas de gestão do trabalho (1994-2011). Tese
(Doutorado em Ciências Sociais) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013.

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