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Os 7 Pecados Capitais
Os 7 Pecados Capitais
A. Boulenger
(Doutrina Católica – Manual de Instrução Religiosa – Moral)
Vocábulos
1º. Pecados capitais. 1º. O termo pecado tem, nesta lição, duplo sentido.
Significa:
b) pecado atual, quando se trata de um ato transitório, seja ele causado por
uma disposição habitual ou não. Assim muitos cometerão o pecado de orgulho,
sem ter o vício de soberba.
2º. Capitais (do latim "caput": cabeça, fonte). De acordo com a própria
etimologia da palavra, esses pecados tem tal nome:
c) porque são origem, fonte de vários outros, ainda que não sejam
necessariamente e sempre, pecados mortais.
PECADOS CAPITAIS
Há sete pecados, ou vícios, que podem ser tidos como graves, quer quanto à
sua natureza, quer quanto às suas conseqüências. Estes sete pecados capitais
são:
1) Soberba;
2) Avareza;
3) Luxúria;
4) Inveja;
5) Gula;
6) Ira;
7) Preguiça.
1. SOBERBA
I. A pureza. 6º e 9º Mandamentos
1º. Excelência da virtude da pureza. A castidade, ou pureza, consiste na
abstenção dos prazeres carnais ilícitos. Nenhuma virtude tem mais valor do que a
castidade, porque ela, melhor que as outras, é o domínio do espírito sobre a carne, da
alma sobre o corpo. Por isso, não é de estranhar que esta virtude, preceito ou lei
natural muito embora, fique sendo como que apanágio e monopólio da religião
católica. É a pura verdade afirmar que não a conheceu o mundo pagão, e que, hoje em
dia, desabrocha e viceja apenas no ambiente do Catolicismo.
2º. Objeto do 6º e 9º Mandamentos. O 6º e 9º Mandamentos da Lei de
Deus proíbem os pecados de luxúria, contrários à virtude da pureza. Única diferença
entre os dois, é que o 9º, repetindo o 6º, vai além, reforça a proibição, abarcando a
mais os maus pensamentos e maus desejos. Assim, enquanto o 6º Mandamento veda
atos, olhares e palavras ofensivas da modéstia cristã, o 9º atalha o mal na própria
fonte, e condena o simples pensamento impuro, o simples desejo desonesto: de um
lado, pois, os atos exteriores, e do outro, os atos interiores, como sendo, estes, causa
daqueles, e comparáveis à fagulha que ateia o incêndio. Na explanação desta matéria,
andaremos lembrados, de contínuo, dos prudentes avisos de Santo Afonso de Ligório e
São Francisco de Sales, concordes nisso, e ambos com São Paulo, dizendo que não é
bom, tocar em termos muito explícitos nestes assuntos, e que já se ofende a
castidade, só com o nomear a impureza.
II. O que é proibido pelo sexto Mandamento da Lei de Deus.
O 6º Mandamento da Lei de Deus proíbe:
1º. As más ações. Há certas coisas indecentes que o menino não se atreveria
a praticar à vista de seus pais ou de seus mestres, e que desonram e envergonham os
autores, quando essas coisas vêm a ser conhecidas. Ora, aquilo, ainda que fique
ignorado dos homens, não está escondido aos olhos de Deus. Logo, é pecado mortal
por natureza. Sempre. Esteja, o culpado, só, ou na companhia de outras pessoas.
Entretanto, a malícia varia segundo a qualidade destas pessoas e segundo as coisas
más que se fazem.
2º. Maus olhares. Consistem em demorar a vista, por gosto e sem
necessidade, nos objetos ou nas pessoas que podem excitar as paixões: por exemplo,
estátuas, imagens ou pessoas que não têm a devida decência.
3º. Escritos e palavras desonestas. Quer dizer, qualquer escrito (maus livros
e maus jornais), qualquer palavra (cantigas ou conversas despudoradas) que ofendem
o recato, ou abertamente, às escâncaras, ou disfarçadamente, por meio de equívocos,
ambigüidades, reticências. Nada mais prejudicial do que as más leituras. Quanto às
más conversas, afirma São Paulo (I Cor XV, 33) "que corrompem os bons costumes".
O 9º Mandamento proíbe:
1º. Os maus pensamentos. O pecado de pensamento, que os teólogos,
chamam de "deleitação morosa", consiste em se demorar, voluntariamente, na
imaginação de uma coisa ruim, sem querer mesmo chegar à prática da mesma. Tal
deleitação, ou gozo, é chamada morosa, do vocábulo latim "mora" atraso, diz Santo
Tomás, porque a razão, em lugar de repelir sem tardança, como fôra de mister, as
cogitações impuras que se apresentam, se demora nelas (immoratur), as acolhe com
agrado, e nelas se compraz livremente (por aí se vê que vai grande diferença entre
"deleitação morosa" e "sugestão má". Esta independe da vontade. É uma tentação,
nem mais nem menos). Quem se entregou à deleitação morosa tem que declarar na
confissão, a natureza específica deste pensamento; por exemplo, se tem voto de
castidade, ou se as cogitações diziam respeito a uma parenta, ou a uma pessoa
casada. É pecado mortal, quando a coisa é mesmo ruim, e o consentimento pleno. Do
contrário, é venial. E não há pecado nenhum, quando se combate e se afugenta a
representação do mal, e se reprova.
2º. Os maus desejos. O desejo é mais do que o pensamento, porque, com a
imaginação do ato mau, está a intenção e vontade de praticá-lo. Perante Deus, é a
mesmíssima coisa: querer ver, ouvir ou fazer, coisas impudicas, e ver, ouvir, ou fazer.
Agora os desejos desonestos são como os pensamentos: culpados, exatamente na
proporção em que são voluntários.
É facílimo avaliar a gravidade dos atos contra a pureza, pela meditação das
conseqüências desastradas que acarretam na alma e no corpo:
a) Na alma. Nublam, entenebrecem, e materializam, a inteligência. Cegam-na
para as coisas de Deus (I Cor II, 14). Desmoralizam e embrutecem o coração que,
então, se separa e afasta de Deus, abandona a religião, cai na impiedade.
b) No corpo. A impureza estraga a saúde, exaure as forças, traz as doenças
mais repugnantes e vergonhosas, as enfermidade mais asquerosas, e não raro, fim
prematuro. Portanto, são mortais, geralmente, os pecados de impureza, a não ser que
a irreflexão diminua esta gravidade.
b) Intemperança. "Não vos embebedeis com vinho, diz São Paulo, isto é,
fonte de devassidão: mas inebriai-vos do Espírito Santo" (Ef V, 18). Quem anda atrás
dos deleites dos festins, dá a mão às tentações da carne e da concupiscência.
c) Ócio. A preguiça é mãe de todos os vícios, e São Jerônimo afirma,
desassombrado que, se está um demônio solicitando ao mal o homem que trabalha,
estão mais de cem demônios tentando o que está desocupado.
VI. Remédios contra a impureza.
5. A GULA.
1º. Natureza. Gula é o amor desordenado ao alimento. Quando se aplica de
modo especial à bebida chama-se embriaguez, alcoolismo.
A. Considerada em geral, a gula manifesta-se de duas maneiras:
a) pelo excesso na quantidade. O guloso multiplica as refeições; come a torto e
a direito; ou então come demais, ou muito depressa, avidamente;
b) por excessiva exigência na qualidade. Peca por gula o que procura iguarias
finas, e requinta nos prazeres do paladar; e até, quem repisa, a toda hora, na
conversa, esses tópicos.
B. Embriaguez é a forma mais torpe e repugnante da gula. Com efeito, quem
cai neste vício até ficar bêbado, perde o uso da razão e resvala abaixo dos brutos.
C. Alcoolismo é a paixão dos excitantes, das bebidas fortes. O alcóolico não
chega a embebedar-se; mas, em doses exageradas e múltiplas, ingurgita o temível
veneno. Tornou-se hábito, necessidade fatal.
2º. Efeitos. A gula em geral provoca:
a) o abandono das obrigações religiosas;
b) a transgressão das leis do jejum e da abstinência;
O alcoolismo tem conseqüências ainda mais desastradas. Com efeito, o
alcoolismo não é senão embriaguez no estado crônico:
a) no indivíduo viciado por este funestíssimo hábito, aparecem as doenças mais
impiedosas (...) As faculdades intelectuais embotam-se gradualmente, e breve, a
vítima acha-se como que bestificada. No ponto de vista moral destrói o pudor e os
brios, deixando apenas a medrar os instintos da animalidade.
b) na família é fautor de anarquia. O alcóolico foge do lar; deixa no desamparo
mulher e filhos. E se, porventura ainda trabalha, gasta com o vício tudo o que vai
ganhando.
c) para a sociedade também o alcoolismo é um flagelo, um cancro. Nos países
onde grassa, queima as veias de um povo inteiro, dessora e desfibra a raça mais
profundamente do que a chacina das batalhas.
3º. Malícia.
O amor exagerado do comer e do beber não é, em si, pecado grave. Adquire,
porém, este caráter, quando levado ao ponto de menosprezar e transgredir o preceito
da penitência.
Com a embriaguez, o caso é outro. Quando acidental e involuntária,
desculpa-se; mas se for propositada, é pecado mortal. Quanto às faltas cometidas pelo
bêbado, ele é responsável no grau em que as previu: a culpabilidade não está no ato,
está na causa.
Tanto mais culpado é o alcoolismo quanto mais lamentáveis são os estragos que
produz.
4º. Remédios. Para sanar este defeito da gula são eficazes as seguinte
receitas:
a) evitar tudo o que lisonjeia demais o paladar, como as iguarias saborosas e
muito finas;
b) pensar que isto de comer e beber não é o fim da atividade humana. Existe o
alimento para a vida, não a vida para o alimento.
c) os pais devem incutir no ânimo dos filhos o amor da temperança e sobretudo
dar-lhes bons exemplos a respeito.
d) as donas de casa zelem por ter um lar confortável e atraente, que agrade às
visitas, ao esposo e aos filhos, desviando-os da freqüentação de tabernas e botequins.
6. IRA
1º. Natureza. Ira é um movimento desordenado da alma que se revolta contra
o que não lhe apraz. Muitas vezes, é o resultado do orgulho que se julga melindrado, e
quer desforçar-se. Mas é também uma paixão proveniente da índole, e que a vontade
custa a senhorear.
Nem sempre alcança, a ira, o mesmo grau de violência. Por isso distinguem-se:
a) a impaciência;
b) a raiva;
c) o arrebatamento, que se derrama em berros e desaforos;
d) o furor, que se traduz por insânias, acessos próximos da loucura;
e)a vingança, que é o desejo cultivado de prejudicar a quem nos desagradou.
Há certa cólera que não é pecado. Vem a ser, apenas, justa indignação, quando
se manifesta dentro de limites razoáveis: na hora azada, contra quem a merece, e com
intensidade prudente. Um pai de família se mostrará oportuna e eficazmente irritado
com o comportamento mau do filho, e infligirá uma correção enérgica que produza
frutos de emenda. Um superior de comunidade, no desempenho do seu cargo, castiga
publicamente uma ofensa à regra. A cólera, então, não é vício, é virtude.
Na Sagrada Escritura, temos muitos fatos destes. Moisés, ao deparar com o
bezerro de ouro, deixa-se arrebatar pelo furor da ira santa, e quebra as tábuas da Lei
(Ex XXXII, 19). Deus, muitas vezes, ira-se contra os pecadores (Sl CV, 40). Nosso
Senhor lança mão do chicote, e tange para fora, irado, os vendilhões do Templo (Mt
XXI, 12). Zanga com os Fariseus, que andavam espiando, para ver se haveria de curar,
em dia de Sábado, o enfermo com a mão ressequida (Mc III, 5). São cóleras santas
que têm justificativa no fim almejado: debelar ou fustigar o mal, e emendar os
pecadores.
2º. Efeitos. A ira gera as disputas, as quisílias, doestos e vitupérios, brados e
invectivas, rancor, ódios, assassínios e demandas.
3º. Malícia. Quando a cólera provém da índole, do gênio, é culpa venial só, a
não ser que se desmande em crises, e seja deliberada. Quando inclui o desejo
desnorteado de vingança, ofende a justiça ou a caridade, e então é pecado grave.
4º. Remédios. Para amordaçar e refrear a cólera, é preciso:
a) atalhar logo o primeiro ímpeto;
b) lembrar-se do preceito do Senhor: "Amai vossos inimigos ... fazei o bem aos
que vos odeiam" (MT V, 44);
c) meditar o exemplo do divino Mestre, Cordeiro manso e humilde de coração.
7. PREGUIÇA
1º. Natureza. Preguiça é o apego desmedido ao descanso que leva a omitir
nossas obrigações, ou a descuidá-las. O espírito e o corpo do homem que trabalha
necessitam de repouso. Mas, este não pode vir a ser regra geral, e com que o único
fruto da existência.
Distinguem-se:
a) preguiça espiritual;
b) preguiça corporal.
Aquela é falta de ânimo, de coragem no cumprimento dos deveres religiosos, na
oração. Esta é desleixo das nossas obrigações de estado.
2º. Efeitos. A preguiça faz ociosa a vida, e franqueia, a todas as tentações, os
caminhos da alma. "A preguiça é a mãe de todos os vícios". A preguiça espiritual põe
em perigo a salvação eterna, pois "cada um há de receber a própria remuneração,
conforme o próprio trabalho" (I Cor III, 8).
3º. Malícia. É pecado grave, a preguiça, quando chega até o esquecimento de
Deus e das nossas obrigações mais importantes.
4º. Remédios. Para extirpar a preguiça, reflita-se que o trabalho é lei universal
imposta pelo Criador. Os ricos não são dispensados. Existe, para eles, o grande dever
da caridade, que os manda trabalhar a fim de aliviar, mais eficazmente, a sorte dos
pobres.