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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CEDERJ – Licenciatura em História


DISCIPLINA: História da Historiografia Brasileira – 2021.1

Nome: Leonardo Dangelo


Matrícula: 16216090149
Polo: Duque de Caxias
Avaliação à Distância 1 – AD1

“A historiografia do IHGB e a construção da nação brasileira.”

As primeiras décadas do século XIX foram anos de muita agitação política em que surgiu a
necessidade de se afirmar a identidade nacional. Em meio a eventos como a Independência do
Brasil há confronto entre diferentes identidades nacionais, uma ligada mais ao império português e
outra que aspirava à outra condição. No bojo destas discussões estão as figuras de José Bonifácio
e Frei Caneca. O primeiro estava ao lado de uma ideia de nação como império – já brasileiro –
centralizado, mas de acordo com uma regeneração do Império Português. Já Caneca defendia a
nação enquanto pátria do cidadão – que ameaçava a integridade territorial.
Na primeira metade deste século, estava nos planos de vários intérpretes, a escrita da
História nacional que ganha consistência, não só com a fundação do IHGB, mas também da revista
Nitheroy na década de 1830. Esta década foi marcada por uma imensa agitação política, devido,
principalmente, à abdicação de D. Pedro I e revoltas de cunho separatista. O Estado Nacional se
consolidava pouco a pouco e, conforme Guimarães (1988), é neste bojo em que se viabiliza um
projeto de pensar a história brasileira de forma sistematizada. O IHGB insere-se no assentamento
da consolidação do Estado imperial.
A criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro não foi isolada, mas dentro de um
plano amplo de outras instituições como o Colégio Pedro II e o Arquivo Público com fins a
“consolidar uma tradição histórica no Império e a formar um consenso ao redor do projeto de Império
que era elaborado nas fileiras regressistas” (ESCOSTEGUI FILHO e SALLES, 2013, p. 72). A
ameaça à ordem imperial serviu de estímulo à criação de tais instituições, pois desejava-se, com
isto, a formação de cidadãos ilustres que guiassem o Estado sob um viés monárquico-
constitucional. A identidade nacional tão discutida anteriormente foi, sobretudo, uma identidade
monárquica. Segundo Gonçalvez (2013), uma combinação de políticos e funcionário públicos
gravitavam em torno da Corte com o objetivo de controlar a produção historiográfica e,
consequentemente, consagrar-se como elite central perante os contrários à centralização do poder
da monarquia. Uma de suas estratégias foi a construção de um discurso de que o IHGB estaria
ligado à razão universal, validando, assim aquele arranjo político.
Ao IHBG deveria ser reservado um papel centralizador com variadas funções: arquivo,
produtor de conhecimento histórico, organizador geográfico das produções brasileiras, elo entre a
produção nacional e a internacional e, finalmente, divulgador do conhecimento historiográfico do
Brasil. O IHGB transformou-se no centro articulador da memória nacional e teve ligação
fundamental nas obras tidas como “os primeiros estudos históricos” sobre o Brasil produzidas na
segunda metade do século XIX. Cumprindo as ideias de sua fundação, seus integrantes tentaram
forjar uma liga que mantivesse a integridade do Império firme, afastando as possibilidades de
separatismo com uma proposta inicial de defesa de uma matriz civilizatória excludente com base
europeia.
Dois anos após sua fundação, realiza-se um concurso para premiar o melhor trabalho sobre
o modo de se escrever a História do Brasil. O concurso se fundamenta na clara importância de
escrita de uma História nacional. O vencedor foi Carl von Martius com seu trabalho intitulado Como
se deve escrever a História do Brasil, que simboliza exatamente o papel do IHGB. Para Martius, a
constituição do homem no Brasil seria resultado da confluência de três raças: cobre/americana,
branca/caucasiana e preta/ethiopica. Apesar de considerar os negros em seu trabalho, Martius
coloca o elemento português como predominante sobre os outros, o que converge com o ideário do
IHGB.
Outro intelectual que marcou a escrita da História do Brasil, como fundação de uma nação,
foi Francisco Adolfo de Varnhagen. Diferentemente de Martius, mas ainda alinhado ao IHGB,
Varnhagen valoriza sobremaneira o elemento português da colonização, exaltando a ação
portuguesa indicando uma submissão dos demais caminhos à direção lusitana. Confirmando tal
tese, Turin (2010, p. 136) acrescenta que “De fato, para Varnhagen, o papel que o selvagem
brasileiro poderia ocupar no modelo de civilização que então se implementava era bastante restrito,
ou quase nenhum”. Varnhagen e von Martius convergem como pontos fundamentais na construção
de uma historiografia nacional. Ambos, ainda, atestam o papel civilizador como garantidor da ordem
e da unidade nacional indicando o momento de associação entre monarquia, ordem e civilização.

Referências

ESCOSTEGUY FILHO, João Carlos; SALLES, Ricardo. Aula 3: A formação de uma


consciência histórica e historiográfica no Brasil II (1838-1857). In: ______. História da Historiografia
Brasileira. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2 v., v. 1, 2013. p. 67-102.
GONÇALVES, Sérgio Campos. A Figura do Intelectual e a Razão Universal na Fundação do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Brasiliana – Journal for Brazilian Studies. v. 2, n.1, 2013,
p. 37-69.
GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma História Nacional. In: Estudos Históricos. Nº 1. Rio de
Janeiro: FGV, 1988, p. 5-27.
TURIN, Rodrigo. Entre “antigos” e “selvagens”: notas sobre os usos da comparação no
IHGB. In: Revista de História. Número Especial. São Paulo: USP, 2010, p. 131-146.

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