Você está na página 1de 1

Waking Life - seria a vida desperta um sonho lúcido?

No início do filme Waking Life, produção de 2001, um jovem procura alcançar a maçaneta
da porta do carro enquanto seu corpo flutua inadvertidamente. A seguir somos transportados
para um cotidiano de imagens realistas imprecisas.
A vida se comunica conosco através das pessoas, em encontros pontuais, fortuitos, como se
as cenas dos encontros existissem por si só, como se aquelas pessoas sempre tivessem
estado ali, naquela poltrona, naquele restaurante, um amigo que espera para um café, um
professor para uma aula... O jovem visita as cenas como se estivessem à sua espera. Todas
as pessoas lhe falam sobre o que é realidade e o existir, seja numa perspectiva biológica,
filosófica, ou social. Um casal discute se haveria vida após a morte. Muitos fazem
afirmações, inicialmente... Afirmam o que as coisas são, e lançam mão, seguros, de seu
manancial teórico, a fim de criar pisos sólidos para suas visões de mundo e dizer: sim, isto é
real! São entes em reflexão que talvez reflitam sobre o que o próprio jovem reflete sem
saber.
O filme, uma animação sobre cenas filmadas, vai tornando a realidade concreta em
diferentes graus de imprecisão, até bruxuleante.
A vida não cessa de se comunicar pelas pessoas que nos atravessam, por vezes confirma as
crenças do sujeito, por outras as desafia, ou conduz como um fio intuitivo à experiência,
como se refletisse a disposição da consciência. De qualquer forma, parece que algo quer nos
dizer alguma coisa e se vale das pessoas no caminho. A sucessão de mensagens, em algum
momento, passa a incluir para o jovem a experiência subjetiva como referência, e questionar
a lucidez de um sonho. Uma forma seria testar um interruptor, diz um sujeito numa poltrona
que se diz especialista em sonhos lúcidos: se a luz não apagar, você está sonhando!! O
jovem, então, como por brincadeira, testa o interruptor daquela sala. A luz não apaga!
Aquela realidade em que acaba de duscutir sobre sonhos é um sonho! Estaria ele então
sonhando sempre... desde quando? E todas aquelas pessoas? O jovem agora está mais
atento! E pergunta para a moça do metrô: "como é ser um personagem do sonho de
alguém?" Ela começa a refletir e responder enquanto ele questiona como um personagem de
seu sonho poderia dizer coisas que sua mente não produziria, parecendo, portanto, vir "de
fora". Saindo do metrô, um homem que passa pela rua lhe diz, ao fim de uma série de
questões: "quando você se percebe como um personagem sonhado no sonho de outra
pessoa, isso é consciência de si". Conforme o jovem se percebe num sonho, sonhando a
própria vida ou sonhado por ela, este se torna o tema dos seus interlocutores. Algo se
comunica com ele através do outro, talvez de um grande outro. E reflete seu estado de
consciência. O jovem ja se dirige ao outro como personagem de seu sonho, e fala a um
sujeito do bar que já sabe que está num sonho, mas não consegue acordar. Toda vez que
acorda, ainda se percebe no sonho. O sujeito reflete que talvez estivesse morto. Seria a
morte um sonho sem fim? Ou a própria vida seria e sempre fora um sonho? Então nunca
teria havido diferença entre vida desperta e sonho. A diferença é que ele apenas se tornara
consciente disso, desperto no sonho da vida. A própria vida seria agora um sonho lúcido?
Segundo o sujeito, haveria uma estratégia para acordar. Ele emprega. Acorda! Fica aliviado.
Sai de casa, pega no maçaneta da porta do carro, mas logo perde o contato pois seu corpo
flutua para uma altura infinita.

Você também pode gostar