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Dom Vital: A importância da

oração em Tertuliano
Tertuliano afirmou que Jesus Cristo, iluminado pelo Espírito de Deus
revelou aos discípulos, no Novo Testamento, uma nova forma de pôr-se
em relação com o Pai.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.


Tertuliano, padre da Igreja, teólogo dos séculos II e III, procedente do Norte da
África, elaborou uma obra importante, intitulada: De Oratione, composta nos anos 198-
200 e ele endereçou-a aos catecúmenos[1]. Foi um dos primeiros padres que fez um
comentário a respeito do Pai nosso. Ele pôs em destaque a absoluta novidade da oração
cristã, diante de outras orações, porque, foi ensinada por Jesus Cristo, sendo a oferenda
da nova aliança que faz de nós os perfeitos adoradores e os verdadeiros sacerdotes do
Senhor Deus Uno e Trino[2]. É importante fazer uma análise desta obra que muito
influenciou os padres da Igreja, nas suas elaborações posteriores sobre a oração do Pai
nosso.
A nova relação com o Pai
Tertuliano afirmou que Jesus Cristo, iluminado pelo Espírito de Deus revelou aos
discípulos, no Novo Testamento, uma nova forma de pôr-se em relação com o Pai. É
preciso dizer que nesta espécie o vinho novo fosse armazenado em odres novos e que o
tecido novo fosse costurado ao vestido novo (cfr. Mt 9, 16-17)[3].
A graça de Deus pela difusão da boa noticia renovou as pessoas humanas e as coisas,
contidas nas palavras do Senhor Jesus no Evangelho através da oração, visando à
eliminação na raiz de todo sinal de pecado, de divisão. Na iluminação do Espírito Santo
e na Palavra de Deus, o Nosso Senhor Jesus estabeleceu uma oração importante a qual é
percebida em três partes: em espírito, pois só Ele é todo poderoso; na palavra expressa e
na razão com a qual se alegra ao louvar a Deus pela oração dita por Jesus[4].
A oração de João Batista em vista do Messias
Tertuliano teve presente na sua obra, a oração ensinada por São João Batista, o
precursor do Messias, Jesus Cristo. Ele também ensinava aos seus discípulos maneiras
para voltar-se para Deus, em oração. No entanto, a ação de João era aludida em vista do
Salvador Jesus Cristo, para que ele crescesse e ele diminuísse (cfr. Jo 3,30), de modo
que toda a obra do precursor passasse com o mesmo espírito ao Senhor Jesus. Desta
forma não permaneceu algum traço das palavras com as quais João ensinou a rezar
porque a importância era a oração do Messias, do Salvador para toda a humanidade[5].
Compêndio do Evangelho
O padre africano afirmou que a oração do Pai nosso ensinada por Jesus Cristo é o
compêndio de todo o Evangelho, espécie de resumo, de programa de vida para toda a
pessoa que segue e ama Jesus Cristo e à sua Igreja. Através da oração, Jesus colocou a
importância à pessoa humana, o crescimento da fé, da esperança e da caridade para
Aquele que escuta e vê em toda a parte as ações das mesmas. Ele também ensinou que a
aproximação de Deus é dada pela modéstia, humildade, amor, com uma profissão de
palavras, para adorar a Deus e seja dado o respeito ao ser humano, e, este assuma o
compromisso da conversão de vida[6].
Pai que estás nos céus (cfr. Mt 6,9; Lc 11,2)
Tertuliano afirmou que o ser humano invoca a Deus e o faz pela oração. O Senhor
Jesus revelou por diversas vezes o Pai como Deus, na qual ele também prescreveu que
não se chamasse ninguém na terra de pai, a não ser Aquele que está nos céus
(cfr. Mt 22,9). O fato é que com a nomeação de Pai, nomeamos também Deus que é
uma imploração de piedade e de poder[7].
Na invocação do Pai, invoca-se também o Filho porque ele disse: “Eu e o Pai somos
um” (Jo 10,30). Tertuliano afirmou que também a Mãe Igreja é reconhecida no Pai e no
Filho, porque quando ela se encontra para rezar o Pai nosso, está em comunhão com o
Pai e com o Filho[8].
Revelação de Deus Pai
Jesus Cristo, pela oração revelou a todos o nome de Deus Pai, porque até então não
tinha sido revelado a ninguém. Com Moisés revelou-se outro nome de Deus: “Eu sou
Aquele que sou” (Ex 3,13). No entanto com a vinda do Filho ao mundo foi revelado o
nome de Deus Pai a toda a humanidade, na qual Jesus falou: “Pai, glorifica o teu nome”
e de uma forma aberta foi dito: “Eu o manifestei o teu nome aos homens” (Jo 5, 43;
12,28; 17,6)[9].
Convém que Deus seja bendito em todo o lugar e tempo para a memória devida
perseverante de seus benefícios da parte de todo o ser humano, e também porque este
necessita de bênçãos. Como não pode ser santo e santificado por si mesmo o nome de
Deus, do momento que torna santos os outros seres humanos pelo seu poder
vivificador?![10].
Seja santificado o seu nome
O ser humano faz esta súplica e pedimos que seja santificado em nós, uma vez que
nós devemos estar nele e nos outros de modo que a graça de Deus espera a nossa
adesão, porque  rezando para todos, e, também pelos nossos inimigos, obedeçamos a
este preceito, que o nome de Deus seja santificado[11].
Seja feita a sua vontade nos céus e sobre a terra
O ser humano pede pela oração para que em todos se faça a sua vontade. Todos são
chamados a fazer a vontade de Deus. Faça-se a vontade de Deus na terra da mesma
forma que se faça nos céus. Deus quer que cada ser humano caminhe secundo a sua
vontade[12]. A verdade é que segundo Tertuliano, a realização da vontade de Deus é a
salvação daqueles que ele adotou. O próprio Filho disse antes de sua partida, para que
não se fizesse a sua vontade, mas a vontade do Pai (cfr. Jo 6,38). Esta posição significou
que todas as ações do Filho eram em unidade com o Pai e nelas cumpriam-se a vontade
do Pai[13]. Desta forma, as ações que o ser humano faz e todos nós somos chamados a
realizar, visa-se a vontade de Deus.
A escolha do bem
Tertuliano era convicto que quando dizemos seja feita a sua vontade escolhemos o
bem para nós, porque não existe nenhum mal na vontade de Deus, porque é a vontade
de Deus que reina sobre todas as vontades humanas no bem, e no seu amor. Diante dos
sofrimentos que o Senhor deveria enfrentar, ele afirmou que a vontade do Pai deveria
ser feita e não a sua (cfr. Lc 22,42). O fato era que Jesus mesmo era à vontade e o poder
do Pai e desta forma se entregou de uma forma livre à vontade do Pai diante do
sofrimento para a salvação de toda a humanidade[14].
Venha o seu Reino
Na oração que é feita a Deus coloca-se o dado que seja feita a sua vontade,
realizando-se, isto é em nós[15]. Ora se Deus não reina em nós e no mundo como é
possível uma vida digna? Desta forma o reino do Senhor é sobre a vontade de Deus e a
nossa disposição. Assim nós rezamos que venha do Senhor, o seu reino, atuação dos
cristãos, alegria imensa dos anjos, pelo fato de que se passamos por dificuldades, nós
nunca deixamos de rezar com fé e com amor a oração do Pai Nosso [16].
A oração é fundamental em nossa vida, porque nós nos elevamos a Deus
agradecendo as suas maravilhas, os seus dons. Nós dizemos que Deus é Pai, que seja
santificado o seu nome, venha o seu Reino e que seja feita a sua vontade tanto na terra
como no céu. Tertuliano colocou bem alguns pontos que iluminam à nossa vida de
seguidores e seguidoras na oração do Pai nosso. Nós somos chamados a vivenciar a
oração do Pai nosso, tida como um compêndio do evangelho, segundo Tertuliano.
[1] Johannes Quasten. Patrologia, I primi due secoli (II-III). Marietti, S. Maria degli
Angeli – Assisi (PG), 1992. Pg. 536.
[2] Cfr. A. Hamman. Preghiera. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità
Cristiane, P-Z, diretto da Angelo Di Berardino.Marietti, Genova-Milano, 2008, pg.
4301.
[3] Cfr. Quinto Settimio Florente Tertulliano. La Preghiera (De Oratione).
Traduzione e note di Aldo Intagliata, Prima Traduzione. Gribaudo Editore,
Cavallermaggiore, 1992, pg. 9.
[4] Cfr. Idem, I,2, pg. 11.
[5] Cfr. Ibidem, I,3, pg. 11.
[6] Cfr. Ibidem, I, 5-6, pgs. 11-13.
[7] Cfr. Ibidem, II, 4, pg. 13.
[8] Cfr. Ibidem, II, 5-6, pg. 13.
[9] Cfr. Ibidem, III, 1, pg. 15.
[10] Cfr. Ibidem, III, 3, pg. 15.
[11] Cfr. Ibidem, III, 4, pg. 15.
[12] Cfr. Ibidem, IV, 2, pg. 17.
[13] Cfr. Ibidem, IV, 3-5, pgs. 17-19.
[14] Cfr. Ibidem, IV, 5, pg. 19.
[15] Cfr. Ibidem, V,1, pg. 19.
[16] Cfr. Ibidem, V, 1-4, pgs. 19-21. 

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