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No
momento em que o Homem encontrar em si mesmo a sua lei pessoal, esta desvinculá-
-lo-á das demais. A lei mais íntima de cada indivíduo consiste na obrigação de
encontrar em si mesmo a sua lei pessoal e realizar o seu verdadeiro centro, ou se
preferirmos, unificar-se com tudo aquilo que É.
O amor é o instrumento da unificação dos opostos. O princípio do amor consiste em
abrir-se e receber algo que até então se situava no exterior, no lado de fora. O amor
procura a unidade -deseja unificar, não separar. O amor é a chave da unificação dos
opostos porque converte o Tu em Eu e o Eu em Tu. O amor é afirmação sem
limitações nem condições. O amor quer ser uno com o universo inteiro e enquanto
não o tivermos conseguido não teremos realizado o amor. Se o amor selecciona não se
trata de verdadeiro amor, porque o amor não separa e a selecção separa. O amor tão-
pouco conhece ciúmes, porque o amor não deseja possuir mas sim inundar.
O símbolo desse amor que tudo abarca é o Amor de Deus pelo Homem. Não cabe
aqui a ideia de que Deus reparte o seu amor proporcionalmente. Menos ainda, que
surjam ciúmes por Deus amar a outros. Deus - a unidade - não estabelece distinções
entre o «Bem» e o «Mal» e por isso Ele é amor. O sol envia o seu calor a todos e não
reparte os seus raios de acordo com merecimentos. Apenas o Homem se sente
impelido a lançar pedras; que não o surpreenda, pois, o facto de sempre se apedrejar a
si mesmo. O amor não conhece fronteiras, o amor não conhece obstáculos, o amor
transforma. Amai o Mal e sereis redimidos.
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O ser humano é um doente
Um eremita estava sentado em meditação na sua gruta, quando um rato se aproximou
e começou a roer-lhe a sandália. O eremita abriu os olhos, exaltado:
Porque é que me incomodas na meditação?
Tenho fome! respondeu o rato.
Vai-te daqui, ignorante ordenou o eremita. Busco a unidade com Deus.
Como é que te atreves a incomodar-me?
E como é que pretendes encontrar a unidade com Deus se nem comigo consegues
sentir-te unido?
Todas as considerações feitas até aqui
têm como objectivo levar-nos a reconhecer que o Ser Humano é um doente, não
adoece. Esta é a grande diferença entre o conceito de doença próprio da medicina e
aquele que nós propugnamos. A medicina vê na doença uma perturbação incómoda
do «estado normal de saúde» e, portanto, não só se ocupa de tratá-la o mais
rapidamente possível como, acima de tudo, esforça-se por impedir o advento da
doença e acaba por desterrá-la. Pela nossa parte, desejamos assinalar que a doença é
mais do que um defeito
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saída. É óbvio que enquanto procurarmos causas, estas não faltarão, mas a fé no
conceito causal impede que se veja que as causas encontradas são meramente o
resultado das próprias expectativas. Na realidade também as causas (Ur-Sachen) mais
não são do que coisas (Sachen) como tantas outras. O conceito de causa apenas se
aguenta em pé - e apenas a 50% - porque em determinada altura se deixa de perguntar
pelas causas. Será possível, por exemplo, encontrar-se a causa de uma infecção em
determinados micróbios, o que conduzirá a perguntar por que razão os micróbios
provocam a infecção no caso específico. A causa poderá achar-se num
enfraquecimento do sistema imunológico, o que naturalmente suscitará de quem
indagar a pergunta quanto a qual possa ter sido a causa do enfraquecimento das
defesas do organismo. Este jogo pode prolongar-se indefinidamente uma vez que
mesmo quando, nessa demanda pelas causas, se chega ao Big-Bang, quedará sempre a
pergunta acerca do que poderá ter causado aquela explosão primordial...
Na prática, portanto, optamos sempre por parar num certo ponto e fazer de conta que
o mundo começou nesse ponto. Escondemo-nos por detrás de frases convencionais do
género «locus minoris residentiae», «factores hereditários», «debilidade orgânica», e
outros conceitos similares carregados de significado. Mas de onde é que retiramos a
justificação para elevar a estatuto de «causa» uma qualquer argola da cadeia à nossa
escolha? E uma falta de sinceridade falar-se de causa ou de terapêutica causal na
medida em que, tal como vimos, o conceito causal não permite que se apure uma só
causa.
Mais acertado seria trabalhar com o conceito causal bipolar a que nos referimos no
início das nossas considerações sobre a causalidade. Encarada por esse prisma, uma
doença determinar--se-ia a partir de duas direcções, a saber, desde o passado e vindo
também do futuro. Segundo este modelo a finalidade possuiria um determinado
quadro sintomático e a causalidade actuante (efficiens) aportaria os meios materiais e
corporais necessários Para a realização desse quadro final. Por esta óptica captar-se-ia
esse outro aspecto da doença, que se perde por completo na
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