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Trabalhadora foi
resgatada após 72 anos
escravizada pela
mesma família
A Inspeção do Trabalho vem registrando um aumento de
casos de trabalho escravo doméstico nos últimos anos. Em
2022, foram 30 vítimas em 15 unidades da federação, sendo
dez apenas na Bahia.
O caso mais emblemático foi o de uma mulher de 84 anos
resgatada de condições análogas às de escravo, em março,
após 72 anos trabalhando como empregada doméstica para
três gerações de uma mesma família no Rio de Janeiro.
Nesse período, ela cuidou da casa e de seus moradores,
todos os dias, sem receber salário, segundo a fiscalização.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho, essa é a
mais longa duração de exploração de uma pessoa em
escravidão contemporânea desde que o Brasil criou o
sistema de fiscalização para enfrentar esse crime.
Quando a trabalhadora, que é negra, passou a atuar para a
família, a Lei Áurea (1888) tinha apenas 62 anos, o
presidente era Eurico Gaspar Dutra e o Rio, a capital do país.
De acordo com a fiscalização, seus pais trabalhavam em
uma fazenda no interior do estado que pertencia à família
Mattos Maia. Aos 12 anos, ela se mudou para a residência
do casal proprietário para realizar serviços domésticos.
Quando faleceram, migrou para a casa da filha deles, onde
manteve suas atividades, incluindo o cuidado com as
crianças.
Ao ser resgatada, atuava como cuidadora da empregadora,
apesar de ambas terem idade semelhante. Ao todo, serviu
três gerações da família, uma vez que, na residência na Zona
Norte da cidade, também reside o neto dos patrões
originais. Os empregadores foram procurados época do
resgate pela coluna, mas não responderam os pedidos por
um posicionamento.
“Em razão da grande repercussão do resgate da
trabalhadora doméstica Madalena Gordiano no final de
2020 em Patos de Minas, o número de denúncias
aumentou”, afirmou o auditor fiscal Maurício Krepsky.
Chacina de Unaí
completa 19 anos sem
cumprimento de pena
dos mandantes
O 28 de janeiro foi escolhido como Dia Nacional de Combate
ao Trabalho Escravo para marcar o aniversário da Chacina
de Unaí, quando os auditores fiscais do trabalho
Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares
Lage e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de
Oliveira foram executados em uma fiscalização de rotina no
Noroeste de Minas Gerais em 2004.
Os irmãos Antério e Norberto Mânica, grandes produtores
de feijão, foram apontados como os mandantes do crime
pela Polícia Federal. Entre ida e vindas, julgamentos e
anulações, eles foram condenados. Porém, aguardam
recursos em liberdade.
O inquérito entregue pela Polícia Federal à Justiça sobre a
chacina de Unaí afirmou que a motivação do crime foi o
incômodo provocado pelas insistentes multas impostas
pelos auditores à família de fazendeiros, sendo que o
auditor-fiscal do trabalho Nelson José da Silva era o alvo
principal. Ele já havia aplicado cerca de R$ 2 milhões em
infrações a fazendas da família Mânica por descumprimento
de leis trabalhistas.
O motorista Oliveira, mesmo baleado, conseguiu fugir do
local com o carro e foi socorrido. Levado até o Hospital de
Base de Brasília, Oliveira não resistiu e faleceu. Antes de
morrer, descreveu uma emboscada: um automóvel teria
parado o carro da equipe e homens fortemente armados
teriam descido e fuzilado os fiscais. Os auditores fiscais
morreram na hora.
Trabalho escravo hoje
no Brasil
A Lei Áurea aboliu a escravidão formal em maio de 1888, o
que significou que o Estado brasileiro não mais reconhece
que alguém seja dono de outra pessoa. Persistiram,
contudo, situações que transformam pessoas em
instrumentos descartáveis de trabalho, negando a elas sua
liberdade e dignidade.
Desde a década de 1940, o Código Penal Brasileiro prevê a
punição a esse crime. A essas formas dá-se o nome de
trabalho escravo contemporâneo, escravidão
contemporânea, condições análogas às de escravo.
De acordo com o artigo 149 do Código Penal, quatro
elementos podem definir escravidão contemporânea por
aqui: trabalho forçado (que envolve cerceamento do direito
de ir e vir), servidão por dívida (um cativeiro atrelado a
dívidas, muitas vezes fraudulentas), condições degradantes
(trabalho que nega a dignidade humana, colocando em risco
a saúde e a vida) ou jornada exaustiva (levar ao trabalhador
ao completo esgotamento dado à intensidade da
exploração, também colocando em risco sua saúde e vida).
Como denunciar
Denúncias de trabalho escravo podem ser feitas de forma
sigilosa no Sistema Ipê, sistema lançado em 2020 pela
Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do
Trabalho e Emprego em parceria com a Organização
Internacional do Trabalho (OIT). Em 2022, 1.654 foram
enviadas pelo sistema. Denúncias também podem ser feitas
através do Ministério Público do Trabalho, unidades da
Polícia Federal, sindicatos de trabalhadores, escritórios da
Comissão Pastoral da Terra, entre outros locais.
Dados oficiais sobre o combate ao trabalho escravo estão
disponíveis no Radar do Trabalho Escravo da SIT.