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Mais de 50 artistas protestaram contra a violência policial em frente ao Palácio de la Moneda representando os
chilenos que perderam seus olhos e exigindo justiça
Fonte: Marucela Ramirez/ TelesurTV
Américas: uma das regiões mais perigosas do mundo para a defesa dos direitos humanos
O informe tem uma parte dedicada para as “Américas”, mas também trata da situação dos
direitos humanos em alguns países da América Latina e Caribe, como Argentina, Bolívia, Brasil,
Chile, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua,
Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Trinidade e Tobago, Uruguai e Venezuela.
Foram relatadas preocupações pelas mais variadas temáticas, a saber: direitos econômicos,
sociais e culturais; direito à saúde; direitos sexuais e reprodutivos; direitos dos povos indígenas;
liberdade de expressão e de reunião; uso excessivo da força; detenções arbitrárias e
desaparecimentos forçados; defensores dos direitos humanos; impunidade e acesso à justiça;
violência contra mulheres e meninas; direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e
intersexuais (LGBTI); direitos das pessoas refugiadas e imigrantes; e negligência no
enfrentamento da crise climática. Cada uma destas temáticas e dos países poderiam ser tratados
em uma coluna específica e certamente serão retomados em colunas futuras. Nesta
apresentaremos um panorama do que foi mencionado no informe focando em algumas das
temáticas.
Segundo o informe, a região apresenta os mais elevados índices de mortalidade e de
casos de infectados por Covid-19 no mundo e, embora vários governos da região tenham
implementado programas para enfrentar as consequências da pandemia, muitos não protegeram
os direitos econômicos, sociais e culturais das populações mais vulneráveis. Ainda de acordo com
o informe, antes mesmo da Covid-19, as Américas apresentavam as maiores taxas de
desigualdade social que qualquer região do mundo. Sendo assim, apesar da retomada do
crescimento econômico em alguns países da região durante 2021, os ganhos foram insuficientes
para reverter a recessão econômica de 2020, em que o desemprego, a diminuição de receita, o
aumento da pobreza e da desigualdade alcançaram níveis sem precedentes (CEPAL, 2021;
ANISTIA INTERNACIONAL, 2021).
Este cenário de profunda desigualdade social alimentou ou gerou mais violência e uma
série de críticas na sociedade civil. Coincidindo com a perspectiva do informe, um balanço da
Insight Crime de 2021 também apontou para o aumento acentuado de assassinatos na região,
especialmente em um contexto em que a pandemia dificultou o trabalho da polícia por conta dos
infectados ou mesmo da substituição de colegas e ampliou a atuação do crime organizado que
encontrou novas oportunidades. Costa Rica, El Salvador, Equador, Haiti, Honduras, Guatemala,
Jamaica, México, Paraguai, Peru e Venezuela registraram altíssimos índices de violência e de
taxa de homicídio da região.
Em relação às críticas da sociedade civil, segundo o informe da Anistia, os direitos à
liberdade de expressão, associação e reunião foram ameaçados em vários países da região.
Jornalistas e críticos dos governos foram intimidados, hostilizados, ameaçados, censurados,
criminalizados ou privados de acesso às informações públicas no Brasil, em Cuba, em El
Salvador, na Guatemala, no México, na Nicarágua, no Uruguai e na Venezuela.
Em fevereiro de 2021, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) concedeu
medidas cautelares a 34 funcionários do jornal digital salvadorenho El Faro que tinham sido
submetidos a hostilidades, ameaças e intimidações. Na Venezuela programas informativos foram
proibidos e na Colômbia a Fundação para a Liberdade de Imprensa registrou 402 ataques à
imprensa durante a cobertura de protestos sociais. Em julho de 2021, a CIDH recebeu denúncias
de que meios de comunicação sofreram violentos ataques por parte de policiais e apoiadores do
governo com a prisão de, pelo menos, dez jornalistas.
As manifestações populares nas ruas de vários países da região decorrentes de diversas
insatisfações sociais também foram amplamente reprimidas com uso excessivo da força. Houve
repressão de protestos em vários países, como Argentina, Chile, Colômbia, Honduras, México,
Paraguai, Porto Rico e Venezuela. No Chile, a polícia continua usando a força excessivamente e
ainda há registros de lesões oculares. Em março, En março, o Instituto Nacional de Direitos
Humanos denunciou que as investigações sobre os mais de 3.000 casos de violações de direitos
humanos cometidas durante os protestos sociais de 2019 e 2020 tinham sido paralisados. Nos
meses subsequentes, ocorreram avanços em algumas investigações. No final do ano, o
Congresso debateu vários projetos de lei para simplificar o acesso das vítimas à reparação civil e
proibir expressamente a má conduta policial, como o abuso sexual durante a reclusão e o uso de
armas de letalidade reduzida para controlar os protestos.
Segundo o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos,
durante as manifestações da greve nacional da Colômbia, em abril e maio, 46 pessoas morreram
(84 para o informe da Anistia), 1.790 ficaram feridas, 298 defensores dos direitos humanos
sofreram ataques. Entre os feridos, 103 sofreram traumatismo ocular. Ademais, houve, pelo
menos, 60 denúncias de violência sexual. No México, a polícia recorreu a detenções arbitrárias e
à violência sexual para silenciar as mulheres que protestavam contra a violência de gênero. No
Chile, as cifras da Fiscalía Nacional e do Instituto Nacional de Direitos Humanos registraram mais
de 8 mil vítimas de violência cometidas por agentes do Estado desde o início das manifestações
em 2019 (INFORME, 2021).
O uso excessivo da força policial não é restrito às manifestações. No Brasil, por exemplo,
há diversas denúncias de operações policiais com diversas mortes, como em maio de 2021
quando houve uma operação mortífera pela polícia no Rio de Janeiro que resultou na morte de 27
pessoas na comunidade de Jacarezinho (INSIGHT CRIME, 2021). Na Argentina, um integrante do
povo indígena qom foi morto durante uma operação militar pelas forças de segurança da província
do Chaco.
De acordo com o informe da Anistia, detenções arbitrárias e desaparecimentos forçados
também são motivo de preocupação na região. Casos deste tipo foram denunciados na Colômbia,
Cuba, México, Nicarágua e Venezuela. Segundo a Campanha em Defesa pela Liberdade, 3.275
pessoas foram detidas arbitrariamente durante a greve nacional na Colômbia e o Grupo de
Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados registrou que 327 pessoas estão desaparecidas.
Ainda segundo o informe, as autoridades cubanas prenderam arbitrariamente centenas de
pessoas por exercerem seu direito à liberdade de expressão e de reunião pacífica no dia 11 de
julho.
Na Nicarágua, nos meses que antecederam a reeleição do presidente Daniel Ortega em
novembro, a polícia deteve sete possíveis aspirantes candidatos à presidência e dezenas de
defensores e defensoras dos direitos humanos, jornalistas e pessoas contrárias ao governo. Na
Venezuela, de acordo com a organização de direitos humanos Foro Penal, as forças de
segurança do país detiveram arbitrariamente 44 ativistas políticos, estudantes e defensores de
direitos humanos.
Neste contexto, a Anistia Internacional considera que as Américas seguem sendo uma das
regiões mais perigosas do mundo para os defensores dos direitos humanos. Pessoas que
defendiam os direitos humanos foram assassinadas no Brasil, na Colômbia, na Guatemala, no
Haiti, em Honduras, no México, no Peru e na Venezuela. No caso da Colômbia, o dado também
foi registrado pela ONG Global Witness que qualificou o país como onde mais se registravam
ataques contra pessoas que trabalham com questões ambientais e de direitos humanos. Os
defensores dos direitos humanos também sofreram ameaças, violência, detenções arbitrárias e
violências na Bolívia, no Chile, em Cuba, no Equador, em El Salvador, na Guatemala, em
Honduras, no México e na Nicarágua.
A impunidade e o acesso à justiça continuam sendo motivo de preocupação em mais da
metade dos países da região. Segundo o informe, a independência judicial sofreu ataques
constantes no Brasil, na Bolívia, em El Salvador, na Guatemala, em Honduras, na Nicarágua, no
Paraguai e na Venezuela. No Brasil, os homicídios da vereadora Marielle Franco e de seu
motorista Anderson Gomes, de 2018, seguem sem uma resolução. De acordo com o informe e a
ONG Global Witness, Brasil está entre os países que tem o maior número de homicídios de
líderes ambientalistas e defensores do direito da terra.
Em El Salvador, por exemplo, a Assembleia Legislativa adotou uma série de medidas que
limitavam a independência do poder judicial, como a destituição dos membros da Câmara
Constitucional do Supremo Tribunal de Justiça e do Procurador-Geral da República. Na
Guatemala, membros do Judiciário que tem um papel decisivo na luta contra a impunidade em
casos de violações graves dos direitos humanos e de corrupção foram destituídos ou impedidos
de assumir seus cargos. Na Nicarágua, o presidente Daniel Ortega continuou usando o Legislativo
e o Judiciário para implementar suas táticas repressivas enquanto milhares de vítimas de
violações dos direitos humanos esperam por justiça dos delitos cometidos pelos agentes do
Estado durante o seu governo.
Referências Bibliográficas
ANISTIA INTERNACIONAL. Informe 2021/2022 Amnistia Internacional. La situación de los
derechos humanos en el mundo. Disponível em:
https://www.amnesty.org/es/wp-content/uploads/sites/4/2022/03/WEBPOL1048702022SPANISH-
1.pdf . Acesso em 2 de abril de 2022.
CEPAL - Comisión Económica para América Latina y el Caribe. Panorama Social da América
Latina. Disponível em: https://www.cepal.org/pt-br/comunicados/pobreza-extrema-regiao-sobe-86-
milhoes-2021-como-consequencia-aprofundamento-crise. Acesso em 21 de março de 2022.
INSIGHT CRIME. InSight Crime's 2021 Homicide Round-Up. Disponível em:
https://insightcrime.org/news/insight-crimes-2021-homicide-round-up/. Acesso em 2 de abril de
2022.
LAGO, Mayra Coan. Política migratória brasileira e comparada na América do Sul. São Paulo:
Centro de Estudos Migratórios (CEM), 2021.
Notas:
1: Em setembro, a Amnistia Internacional descobriu que os países desenvolvidos dispunham de
500 milhões de vacinas excedentárias, o suficiente para a vacinação completa de vários dos
países menos vacinados do mundo. O desperdício de doses inutilizadas, por terem ultrapassado a
sua data de validade, é infelizmente sintomática de um mundo sem bússola moral, um mundo que
não sabe para onde vai.