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ARGILAS

DEFINIÇÃO – ORIGEM
A argila é uma substância terrosa formada por sílica, alumina e água, sendo frequente a
presença de óxido ferroso e, por vezes, de manganés. Desfaz-se na água, formando uma pasta
untuosa, moldável e possuidora de grande plasticidade.
É uma rocha móvel constituída por partículas e, por compressão, perde a água, tornando-se
coerente. As argilas resultam da decomposição das rochas feldespáticas e podem ter origem
hidrotermal ou meteórica.

CARACTERÍSTICAS
A argila tem o aspecto de massa de terra de cor cinzenta, verde ou vermelha, que, com água,
forma uma pasta plástica moldável e que seca com o calor. Após esta secagem, a pasta
endurece e a forma é conservada, mantendo-se, mesmo depois de cozida, porosa e permeável.

Caracteriza-se pelas seguintes propriedades:

PLASTICIDADE – Propriedade de se tornar moldável após a absorção de certa quantidade


de água, formando uma pasta. A plasticidade varia consoante a natureza da argila. As argilas
muito plásticas dizem-se gordas.

CONTRACÇÃO – Esta não se dá só pela evaporação da água, mas também pelo novo
arranjo molecular resultante da cozedura. E neste caso a contracção é tanto maior quanto
mais gorda for a argila. Também não deforma os objectos se a pasta for homogénea e a
cozedura uniforme.
O coeficiente de contracção refere-se à quantidade de massa que é preciso acrescentar às
dimensões da peça para que as dimensões finais depois da cozedura resultem as pretendidas.

TIXOTROPIA – Propriedade de se comportarem como sólidas quando em repouso e como


líquidas quando agitadas (dentro de água).

PERMEABILIDADE – São impermeáveis embora tenham permeabilidade às águas


marinhas.

FLOCULAÇÃO E DESFLOCULAÇÃO – Por acção de electrólitos

APLICAÇÕES
Conforme a qualidade da matéria-prima e o tratamento a que é sujeita, assim se obtêm
objectos de pasta corada ou pasta branca, de pasta porosa ou compacta. São muitas as
aplicações das argilas nos produtos cerâmicos. Por cerâmica entende-se o produto obtido com
argila moldada a frio e endurecida pelo calor.

Assim:
O CAULINO aplica-se na indústria dos produtos refractários, no fabrico da loiça de
porcelana e de faiança fina, sanitários, etc.

As ARGILAS PLÁSTICAS são aplicadas na indústria dos produtos refractários e no fabrico


de cerâmica vulgar.

O GRÉS é aplicado no fabrico de tijolo, mosaico, loiças, tubos vidrados, sifões, etc.

A MARGA CALCÁRIA aplica-se no fabrico de cal hidraúlica e de cimento.

A MARGA ARGILOSA é aplicada na indústria de produtos cerâmicos ordinários.

APLICAÇÃO NA CERÂMICA

A palavra cerâmica indica o produto obtido com argila moldada a frio e endurecida pelo
calor. A arte de moldar também se chama cerâmica. Conforme a qualidade da matéria-prima e
o tratamento a que é sujeita, assim se obtém de pasta corada ou de pasta branca, de pasta
porosa ou compacta.

ESPÉCIES PRINCIPAIS DE BARROS CERÂMICOS


TERRACOTA – Nome que se dá à cerâmica, quando após o cozimento apresenta
porosidade evidente e a cor natural tende para o avermelhado ou amarelado.
É uma cerâmica corada, porosa e sem revestimentos.
Na forma de tijolo, é o material de construção mais difundido em todos os tempos.
Com a diversidade da cor das massas e com as aplicações plásticas, obtiveram-se efeitos
decorativos de relevância, dos tempos clássicos até ao Renascimento.

FAIANÇAS – É o tipo de cerâmica mais divulgado na Antiguidade. É de pasta corada,


porosa e com revestimento. Conforme a natureza do revestimento, podem obter-se diversos
tipos de faianças:
- engobada, se o revestimento é de natureza terrosa;
- vidrada, se o revestimento é de natureza vítrea e transparente;
- esmaltada, se o revestimento é de natureza vítrea e opaca.

GRÉS (OU ARCÓSEA) – Quando após o cozimento o material não é poroso. É


impermeável (a massa cozeu até ficar vitrificada ou polida) com coloração cinza-parda.
É uma cerâmica de pasta compacta com ou sem revestimento. Este pode ser em esmalte ou
em forma de uma leve película vítrea obtida por fusão de sal.

PORCELANA – Quando após o cozimento aparece compacta, impermeável, semi-


transparente e de cor branca. Pode ou não ser revestida. À porcelana sem revestimento
chama-se biscuit.
LOIÇA DE BARRO - Quando após o cozimento apresenta grande porosidade e a cor tende
para o branco. Pode ser ou não revestida.

O aparecimento destas famílias de cerâmica não se deu na mesma altura nem do mesmo
modo em todos os países, sendo a terracota a mais antiga e mundialmente difundida.

A CERÂMICA COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO


CIVIL
Na construção civil, os materiais de cerâmica são referidos como pétreos artificiais. Para esta
grande indústria, as cerâmicas preparam-se com produtos diversos, em pó ou em pasta, e são
endurecidas por processos físico-químicos.
Os materiais cerâmicos na construção civil dividem-se em porosos (tijoleira, tijolo, telha e
tijolos refractários) e não porosos (telha e tijolo vidrados e manilhas, mosaico e tijolo de grés
cerâmico).
Os materiais porosos têm um grande poder de absorção da água. Um tijolo vulgar absorve um
quarto do seu peso em água e um de qualidade superior absorve entre 10 a 15%. Referirei
agora alguns materiais mais utilizados:

TIJOLOS CORRENTES, que podem ser maciços (o chamado tijolo burro) e vasados. A sua
utilização faz-se em paredes de suporte e em paredes de enchimento com espessuras
variadas;

TIJOLEIRA, que pode ser utilizada em pavimentos e em fachadas;

TELHAS, que apresentam formas variadas e se destinam a cobrir edifícios. Os tipos mais
vulgarizados são: árabe (ou telhas portuguesas); marselha, que encaixam umas nas outras;
lusa ou mourisca, também de encaixe; telhas planas, de colocação semelhante à ardósia,
mas pouco usadas em Portugal;

TIJOLOS REFRÁCTARIOS, que resistem a altas temperaturas.

Na qualidade de faiança, o azulejo actual tem menos aderência do que o antigo, mas é menos
espesso e mais vitrificado. Apresenta-se liso, com relevo ou de forma prismática. Utiliza-se
em lambris interiores laváveis (cozinhas, quartos de banho, etc.) e em superfícies ou painéis
decorativos.
As louças sanitárias são feitas em semi-porcelana, sendo mais vitrificadas, mais
impermeáveis e resistentes do que as antigas. As marcas portuguesas mais conhecidas são as
de Valadares e Sacavém.

O grés, vidrado por cozedura, utiliza-se em tijolo de grés, mosaicos, tubos e sifões.

TIPOS E LOCAIS DE EXTRACÇÃO


Em Portugal, exploram-se argilas de várias idades geológicas e origens.

CAULINO – É de entre os tipos de argila o mais importante, resultante da decomposição dos


feldespatos. É uma argila pura, de cor branca, pouco plástica e não se pule com a unha.
Misturado com argilas plásticas ou gordas forma uma pasta.
É extraído de jazigos no Norte do país como o da Senhora da Hora, Viana do Castelo, Ovar,
Concelho de Soure e distrito de Viseu. Também na região de Aveiro (Vila da Feira) se explora
para a indústria da porcelana Vista Alegre.

ARGILAS PLÁSTICAS – São doces, untuosas ao tacto, gordas, de cor amarela azulada.
Riscam-se e pulem-se com a unha. Com água formam pasta muito fluida e homogénea.
Moldam-se facilmente e são refractárias.
Exploram-se em todo o país. Por exemplo, em Casal dos Ovos, na Marinha Grande, em
Venda Seca, na região de Alenquer, etc.
ARGILAS SEMÉTICAS (OU TERRAS DE PISOEIRO) – São doces, gordas, untuosas.
Têm cor amarela ou esverdeada, pulem-se com a unha. São fusíveis, absorvem gorduras e,
por conterem magnésia, formam espuma com água.

ARGILAS FIGULINAS – São barros ordinários, plásticos e fusíveis. Formam pasta com
água. Depois de cozida, a pasta é encarnada. Existem em todo o país.

OCRES – São argilas coradas. Por exemplo, o ocre vermelho tem óxido de ferro hidratado
na sua composição. Extraem-se nos distritos de Leiria e Lisboa.

LOCAL DE ESCAVAÇÃO E TRANSPORTE


O local de escavação dos barros toma o nome de “barreira”, e a exploração faz-se a céu
aberto, por vezes com a ajuda de guindastes. O transporte faz-se em cubas, cestos ou barricas.
Podem transportar-se por caminho de ferro, carroças e camionetas até às olarias e fábricas de
cerâmica, onde são aplicados.

As olarias desenvolveram-se primeiro ao longo das margens dos rios onde as barreiras
abundavam. Também era indispensável o fácil acesso a zonas arborizadas para o
fornecimento de lenha, utilizada como combustível para os fornos.

Hoje em dia, o uso de argilas e de materiais refractários no fabrico de tijolo, telhas,


canalizações em grés, isoladores eléctricos, revestimentos de fornos de fundições de vidro e
de aço, fabrico de moldes de fundição, tintas, papéis, detergentes, cimento e na metalurgia do
alumínio a partir das argilas, etc., é de longe mais importante do que na produção de peças de
olaria. No entanto, o transporte das argilas para tantos fins torna-se dispendioso e, por isso, a
maior parte das indústrias situa-se perto dos locais de extracção. Quando em determinadas
barreiras há muitos materiais estranhos misturados com a argila, a sua extracção e limpeza
podem não compensar. No entanto, para estudos e trabalhos de escultura, que serão passados
a outro material definitivo, esta qualidade responde às necessidades e torna-se mais
económica.
Para pequenos ateliers pode ser preferível que o oleiro transporte o seu próprio barro e o
purifique.
HISTÓRIA DA ARTE DA CERÂMICA

Proveniente do grego Keramiké, cerâmica designava inicialmente o trabalho de execução de


louça de barro embora o seu campo se tenha expandido, abrangendo outras técnicas e
materiais. No fabrico dos objectos cerâmicos podem ser utilizadas várias pastas e processos
de cozedura que variam entre os 700º do barro comum aos 1350º da porcelana. As técnicas
para trabalhar estes materiais admitem três variantes: o modelado (manual), o moldado
(molde) e o construído (colagem). A ornamentação das peças pode ser obtida por incisão, por
pintura ou por relevo. As cores utilizadas em cerâmica têm origem mineral para não serem
consumidas pelo calor. A cor final do mineral depende da temperatura de cozedura.
O vidrado que reveste muitos destes objectos é produzido por uma fina película de vidro que
é aplicada sobre a superfície da cerâmica antes de esta cozer. O vidrado pode ser colorido
com adição de óxidos metálicos.
Os vestígios de cerâmica contam-se entre as principais fontes de informação arqueológica
relativamente às culturas mais antigas. Desde o paleolítico que se fabricam objectos
cerâmicos, embora a grande expansão desta técnica se verifique aquando da sedentarização
humana no período Neolítico.
Na China encontram-se vestígios de objectos de cerâmica datados de 200 a. C.,
correspondendo ao período Han. Pelo menos desde o século IX, em plena Dinastia Tang, esta
civilização utiliza a porcelana com grande refinamento que exportam para a Índia, para o
Egipto, para a Mesopotâmia e para o Japão. Durante a Dinastia Ming a porcelana branca
pintada de azul conheceu uma grande divulgação. No século XVI estes objectos foram
importados em grande escala para a Europa pelos navegadores portugueses e holandeses.
A civilização egípcia, gozando de grande estabilidade e longevidade política e cultural,
desenvolveu bastante as formas de expressão artística ligadas à manufactura de cerâmica,
empregando já técnicas como o vidrado e o esmalte. Mais tarde, os gregos associaram a
pintura à louça de barro, cujo apogeu data do período clássico (século V e IV a. C.) em que os
vasos se tornam suporte para pinturas de carácter mitológico, realizadas a dourado ou
vermelho sobre fundos negros vidrados. Estes vasos foram exportados para toda a região
mediterrânica.
A cerâmica encontrou na cultura muçulmana uma posição cimeira em termos de criação
estética. Os árabes executaram peças notáveis em que utilizavam pastas com reflexos
metálicos, obtidos pela adição de silicatos de cobre ou de prata. No século XVI, a Pérsia
introduz o uso de porcelana, cuja técnica foi trazida da China. A cerâmica hispano-mourisca
influenciou fortemente a produção italiana e francesa da Idade Média, nomeadamente os
trabalhos produzidos na ilha de Palma de Maiorca que se tornaram conhecidos pela
designação de majólica. Ainda no século XVI, a cerâmica vidrada espanhola, em estilo
mudéjar, denuncia a forte influência árabe na técnica do esmalte em solução de cloisonné.
Em Itália, nos séculos XV e XVI os principais centros artísticos eram Faenza (de onde deriva
o termo português Faiança) e Urbino. Siena tornou-se famosa pelos seus azulejos pintados.
No renascimento francês teve especial relevo o centro industrial de Ruão, onde se atinge
grande perfeição na modelação e pintura de figuras de carácter naturalista. No século XVIII,
em pleno período barroco e acompanhando a pujança económica do país, surgem as
cerâmicas de Lyon. Na Alemanha torna-se famosa a porcelana de Saxe.
Em Portugal, a louça importada da China teve grande presença desde o século XVI,
substituindo a cerâmica mudéjar de influência espanhola. Em meados do século XVIII, por
iniciativa do Marquês de Pombal, a industria cerâmica e de porcelana conheceu um grande
incremento. Tornam-se particularmente notáveis os trabalhos saídos das fábricas da Vista
Alegre e do Rato (Lisboa) ou a louça das Caldas.

Sarcófagos Etruscos

Cântaro Chinês do Neolítico


Camelo em cerâmica da Dinastia Tang

Vaso da Dinastia Ming


Porcelana da Dinastia Ming

Vasos Gregos
Azulejo Árabe

Cerâmica Majólica
Azulejaria Portuguesa

CONCLUSÃO
O termo cerâmica, na origem, referia-se à produção de objectos em barro. Mais tarde
englobou outras tipologias que incluíam louça e utensílios práticos, azulejos, porcelanas ou
peças artísticas e decorativas. Desde cerca de 3000 a. C., quase todas as culturas do globo
desenvolveram esta forma de expressão artística.

BIBLIOGRAFIA
- Diciopédia 2002, © 2001 Porto Editora, Lda.
- NOBRE, Fernanda, Atelier de Artes 10/11/12, Areal Editores, Porto, 2000
- Microsoft Encarta Encyclopedia 2002, © 1993-2001 Microsoft Corporation

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