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Artigo de Dilson Batista Ferreira, Arquiteto Urbanista e Professor Dr. da FAU/UFAL (Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas), em Maceió
Além disto, uma arquitetura com vistas a ser bioclimática considera na fase de projeto:
Como se vê, o ambiente construído, quando planejado sob a ótica do bioclimatismo, pode
imprimir mais do que apenas o conforto ambiental adequado. Pode conferir desenvolvimento
tecnológico, identidade cultural e baixa entropia com poupança de recursos naturais, energéticos e
financeiros contribuindo para a mudança do atual paradigma perdulário de recursos. Tudo isto o
reforça enquanto importante instrumento de contribuição para a sustentabilidade do ambiente
construído. Nós como arquitetos aprendemos estas técnicas nas universidades, mas na prática
pequena parcela de profissionais aplica com clareza estas básicas estratégias bioclimáticas. Poucos
arquitetos sabem calcular plenamente, fazer um estudo real de carta solar, realizar medições
ambientais in loco.
Um edifício não precisa ser certificado para ser eficiente e sustentável. Basta aplicar os
conceitos básicos de uma boa arquitetura. A boa notícia é que atualmente este interesse, mais
profundo e apurado pela sustentabilidade, tem despertado uma gama de arquitetos e demais
profissionais da construção civil a estudar a sistêmica que envolve a sustentabilidade da edificação,
onde o bioclimatismo possui lugar de destaque. Muitas das entidades que trabalham com
certificação já perceberam a necessidade de revisar suas estratégias de certificação e passaram a
utilizar o conforto e a bioclimatologia como fator essencial para se chegar a um projeto sustentável.
Esse é o caso das certificações brasileiras, ou adaptadas para o Brasil (AQUA, PROCEL, CASA AZUL,
outras). O importante é que o arquiteto saiba que diferentes são as classificações climáticas, o que
particulariza e distingue o ambiente construído de local para local. Isso tudo influi no projeto e na
própria característica morfológica da arquitetura. Tudo isso reforça a necessidade do conhecimento
das variáveis climáticas e suas características por parte do projetista dos ambientes construídos.
Neste sentido o sociólogo Josué de Castro cita:
[...] As vezes, os contatos culturais vão desfigurando pouco a pouco o aspecto da habitação,
dando origem a uma mistura de traços arquitetônicos. Com o cimento armado a arquitetura vem
tendendo a uniformização pela implantação dos “Standards” universais e pela perda progressiva da
cor e da fisionomia regional dos tipos de arquitetura [...]. (CASTRO,1965, p. 87).
Esta citação de Josué de Castro demonstra, já em 1965, a falta de comprometimento de
construir-se com o clima, em privilégio de uma arquitetura “internacionalizada” incompatível com a
realidade climática dos BRICS. No Brasil, esta realidade já foi muito evidenciada nas diferentes
regiões do país. O que demonstrava o descaso ou desconhecimento do clima, bem como de suas
vantagens e desvantagens, por parte dos projetistas nacionais. Contudo, para que este panorama
seja revertido completamente, faz-se necessário o conhecimento do clima brasileiro por parte dos
arquitetos, suas subdivisões, recomendações e potencialidades, itens imprescindíveis para o
desenvolvimento de um projeto dito “sustentável”. Isso de certa forma já esta previsto na norma de
desempenho, que também já nasceu necessitando de ajustes nos seus parâmetros. Essa norma
inclusive já vem sendo debatida entre pesquisadores, visando aprimorar alguns pontos importantes
para seu pleno uso em todo o país. A gama de estratégias para a obtenção de redução do consumo
de energia e da qualidade ambiental para as edificações localizadas no país é extensa. Requerendo
do projetista conhecimento integral destas estratégias, enquanto subsídio para uma arquitetura
regional, sustentável e integrada com o meio ambiente.
O futuro sustentável só será conseguido com a redução do consumo de energia das cidades e
com a mudança da atual concepção economicista-consumista de mundo por seus habitantes. Para
isto, devemos reavaliar a dimensão espacial do processo de desenvolvimento em busca da
“ecoeficiência” das cidades, proporcionando conforto ao homem e preservação ao meio ambiente.
Neste contexto, deverá ser dada ênfase ao planejamento urbano sustentável, com especial destaque
para ambiente construído, responsável por grande parte da poluição e desperdício energético do
planeta. Neste contexto quanto mais adaptado ao clima e mais passivo energeticamente, mais
bioclimática será nossa arquitetura e urbanismo. Isso é fundamental!
Em prol de uma arquitetura bioclimática brasileira. Nosso maior expoente, o arquiteto Lelé
(João Filgueras Lima) demonstrou na prática em belos projetos o que vem ser essa arquitetura,
confortável, prática, suntuosa, regional, nacional e internacionalmente reconhecida. Reconhecer seu
valor como arquiteto genuinamente brasileiro, que entendeu nossa riqueza bioclimática e soube
utilizá-la com primor, em tempos que a sustentabilidade nem existia no dicionário, deve ser uma
obrigação de cada arquiteto brasileiro!