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@) 2012 Casaps:i Livraria e Editora Lida.

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sem autorização por escrito dos editores.

1• Edição 2012

Diretor Geral fogo Bemd Gü11tert


Publisher Mareio Coelho
Coordenadora Editorial Luciana Vaz Carneira
Diagramação Se,gio Gzesche11ik
Capa C,,rla Vogel

Coordenador de Revisão ú,a,s Torrisi Gomtdiarro


Dedico este livro à minha adorada esposa
Dados Internacionais de Calalosação na Publicação (CIP) Lílian, às avós Bina e Anita (in memoriam),
Angélica llac.qua CRB-8nOS7
aos meus irmãos Fabiano, Marcelo, Sabina
Cristo, F;lbio de
1'5icologia e triimito: n,ílcxõcs para pois. t:dllC300tt> e (futuros) e Cristina, à minha querida mãe Glória e ao
amdut<>«'> I Hbio de Oisto - São Paulo: Casa do Psicóloi,'O, 2012.

ISBN 978-65-8040-101-1
saudoso pai Fabiano de Cristo (in memoriam) .
1. Psicologia 2. Triinsito3. ~4.Compon,n1"mo5. Edu.coçio
l. Titu!ô

12-0098 COO .188.41019

fodices para catálogo sistemático:


1. Trânsito: aspectos psicológicos
2. Trânsito : educação

Impresso no Brasil
Prh,ted in Bmzil

A.< opiniões expressas neslt livro, bem como seu conteúdo, são dt responsabilidade de seus
autores, não nece>.sariamente correspondendo ao ponto de vista da editora.

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18 Psicologia e trânsito, Rellexões para pais, educadores e (futuros) condutores

Espero que esta obra seja útil para o pai que queira 1
conversar com seu ftlho sobre como se comportar no
trânsito, que seja interessante como leitura complemen- Psicologia e trânsito? Mas o
tar para professores e instrutores de trânsito, ou mesmo
para estimular o debate dos temas aqui abordados
que isso tem a ver?
durante as aulas. Ao mesmo tempo, espero poder atrair
a atenção dos jovens que ainda não dirigem, ou daqueles
que estão perto de adquirir a habilitação, contribuindo A Psicologia é uma ciência que produz conhecimen-
com sua formação cidadã. 1os sobre os comportamentos das pessoas nos diversos
Finalmente, ao amigo leitor, entrego "em mãos,. nintextos nos quais eles se manifestam: em escolas,
o produto final de vários anos de intenso trabalho e ho.~pitais, clínicas, empresas ou no... trânsito.
dedicação, com a expectativa de que este livro seja, Trânsito? Isso mesmo. A Psicologia do Trânsito
além de útil, prazeroso. nín<la é uma especialidade pouco conhecida, inclusive
Boa leitura! por grande parcela dos psicólogos, apesar de suas raí-
zes serem rela.,ü vamente antigas, na década de 1920,
1111and~ se iái~iou a aplicação de testes psicológicos pata
u seleção de pessoas e orientáção profissional na ârea
tlc transportes. Portanto, é perfeitamente compreensível
que haja certo estranhamento ao tema.
Se você adquiriu sua habilitação re~ntemente, exis-
l cm 100% de chances de você já ter encontrado, durante
esse processo, um psicólogo do trânsito para realizar a
sua avaliação psicológica ou, como se diz popular e erro-
11eam<mte, o "psicoteste"! ,Por meio dessa avaliação, os
p11ic6logos pretendem colaborar para a segurança nas
lH11i;, atcslando que os candidatos estão em condições,
u:11111,•lc momento específico, de perceber e reagir aos
20 Psicologia e trân,iro: Reflexões para pais, e ducadores e (fururos) condutores 1•11o olit~I~ e lrlnsito? Mas o que isso tem a ver? 21

estímulos do trânsito. Ressalto que ~ta é apenas umª 11•1omo ao trabalho, volto para casa à noite, chego em
das formas de atuação do psicólogo que trabalha nessa , ,1:m, saio a pé para comprar o pão" etc. Após este exer-
área. Existem outras. cido, você poderá cheg~r:) seguinte conclusão: é quase
f'.. Psicologia do Trânsito, embora pouco divulgada, impossível não se deslocar! É impossível não participar
também P-Ode ser uma importante ferramenta para con- Jo trânsito em algum momento, seja como pedestre,
tribuir para o conhecimento do homem no ambiente de condutor ou passageiro. Seria irnposs!'vcl cxislir cam~
tráfego, para melhorar a qualidade de vida nos desloca- bém uma sociedade em que não se pudesse deslocar,
mentos e, consequentemente, para diminuir a violência uma ve.z que p trânsito possibilita o desenvolvimento
motorizada que assola as cidades. das cidades, a troca de mercadorias, o intercâmbio de
Mas o que ela estuda propriamente? Os motoriscas? conhecimentos, tecnologias e cultura.
Os engarrafamentos? ~ A Psicologia do Trânsito escuda exatamente o com-
Bem, vamos por partes. Antes de responder a essas portamento das pessoas que participam do trânsito, este
questões, é fundamental tomarmos consciência do papel ~istema complexo que, apesar dos grandes avanços que
central que o trânsito exerce em nossas vidas. Sem nos vem possibilitando, também se vem mostrando
esta compreensão, não fará sentido algum pensar sobre bastante problemático. Qesse m?do, todos os envolvi-
uma psicologia dedicada a estudar o comportamento dos?º trânsito, direta ou indiretamente, são ''objetos"
no trânsito. da Psicologia do Trânsito: ].llÓtor~tas, pass.a$irb_s,
Permita-me, então, propor um exercício: imagine um pedestres, ciclistas, engenheiros de tráfego e instruto res
dia típico seu, caro leitor. Pense em todas as atividades de trânsico. ,Assim, a Psicologia do Trânsito procura
que você desempenha ao longo das 24 horas. Pense investigar os fatores que determinamos comportamen-
no quanto se desloca para chegar até elas. Pense em tos neste sistema, sob quais condições eles se manifestam,
quantos deslocamentos você realiza em um dia típico. bem como os diversos aspectos psicológicos e sociais
Pense ainda em como se dão e~ses deslocamentos: de que estão relacionados a esses comportamentos. ~ sua
carro? Moto? Ônibus? A pé? Procure pensar onde está finalidade é colaborar para a segurança e o bem-estar
o trânsito nessa sua rotina. das pessoas em seus deslocamentos. Difícil? Sim, mas
Pois bem, alguns poderão pensar: "acordo, tomo não impossível!
café, vou para o trabalho, saio para almoçar, em seguida

·,
2
Trânsito: um espaço de
convivência social

O trânsito é um grande sistema que possibilita, den-


tre outras coisas, o encontro e o convívio social entre as
pessoas. Entrçranto, esse convívio n~m sempre ôcorre
de forma satisfatória ou harmônica, o qu~não raro gera
irritação, estresse, conflitos e confus~s.
Muitos aspectos influenciam para que isso tudo
aconteça, contribuindo para que não tenhamos um deslo-
11 : camento seguro pelos centros urbanos e, desse modo, para
que tenhamos uma visão negativa do trânsito. São fatores
econômicos, sociais, culturais e ambientais da atualidade
que se expressam de diferentes formas, por meio das vias
mal planejadas e malconservadas, da sinalização precá-
ria ou de sua falta, da grande quantidade de atividades
e da exigência de rapidez na execução de nossas tarefas,
das enchentes constantes e dos índices elevados de polu,i-
ção. Daí dizemos frequentemente que o trânsito é ruim,
que o trânsito é desgastante, que o trânsito é isso ou aquilo.
for focarmos demasiadamente nesses fatores exter-
nos a nós, tendemos a nos excluir do compromisso de
Psico1ogi:i e, mln,itoi Rdlex6u I'·"" pais. educadores e (futuros) condutores Trânsito: um espaço de convivência social 2S

cidadflos por um trânsito harmônico, pois, além desses entraremos em desacordo com os demais usuários do
elementos exteriores, existe outro do qual não se pode trânsito e, consequentemente, a fúria, raiva, ansiedade
esquecer; o fator individual ou humano, que representa ou o medo se express::irão pelo nosso comportamento
a nossa parcela, a nossa contribuição para o bom ou o na via pu na calçada.
mau convívio com as pessoas no trânsito. Col:lli)reender o trânsito co mo um espaço de convi-
Vejamos o exemplo a seguir. Enquanto João está pas- vência social pode ser algo importante para nos ajudar
seando tranquilamente de carro, mostrando a cidade a minimizar ou a desfazer muitos conflitos que expe-
para sua nova namorada, José, que está em um veículo rienciamos no cotidiano. Compreendendo que cada
atrás do de João, espera o momento de acelerar e ultra- indivíduo que está na rua, assim como nós, tem a sua
passá-lo, pois está meia hora atrasado para o trabalho. n..,ecessidade, o seu próprio objetivo :!O trafegar, podere-
Carla, por sua vez, está na mesma avenida, ao lado dos mos compreender mais amplamente o ato de se deslocar.
carros de João e de José, e encontra-se bastante ansiosa, Desse modo, possivelmente estaremo7 mais preparados
com mil preocupações, porque tem de efetuar um paga- para enfrentar alguns eventos estressantes que surjam
mento no banco que já está fechando e, ainda, pegar no trâru;ito com um pouco mais de tolerância e respeito.
o filho na aula de inglês e deixá-lo na casa da avó. Já Compreender que o trânsito é um espaço de convi-
Sandra está indo a pé para a universidade, e caminha vência social significa dizer que ele não pertence só a
distraidamente sobre a faixa de pedestres que está sob nós, caro leitor, mas a todos na mesma medida; significa
o mesmo semáforo em que estão parados João, José e que os interesses individuais, no momento em que se
Carla. Dedé, o flanelinha, está no local tentando con- entrecruzam, devem ser negociados visando ao bem cole-
vencer o apressado José a deixá-lo limpar o para-brisa, tivo'. Assim como nós, os outros também estão querendo
a fim de ganhar um trocadinho. utilizar o espaço que lhes é de direito]
Pois bem, perceba, caro leitor, que o exemplo ilustra Portanto, antes de o leitor dizer qualquer coisa
o que: acontece na vida de milhares de pessoas, todos negativa sobre o trânsito, procure primeiro indagar-se
ús dJ:11i, n;1s dth1dcs. Cruzamos com muita, gente no sobre seus comportamentos, pois você pode contri-
1rfül'Ílll, rcmd111 orcs e pedestres, cada um com seus buir para q_ue este espaço seja considerado ruim. Ao
prt'Sprio:, [)cnsan1cntos, objetivos, anseios e necessidades. locomover-se, quando você se der conta de que está
Se não soubermm li<lar com esses aspect~ individuais, agindo de modo inadequado em relação aos outros
26 Pskotogl~ e t~mlto: Rdl(m'nu por~ pitls, educadores e (futuros) condutores

usu~rios, procure lembrar-se de que este é um espaço de


convivência social, de que eles também têm interesses 3
específicos diferentes e que, por isso mesmo, poderão
entrar em choque com os seus a qualquer momento. Todos somos pedestres
E quando isso acontecer, como você agirá?

A Üvre locomoção no território nacional, conforme


estabelece a Constituição Federal Brasileira, é um direi.to
fundamental de todos os cidadãos. A forma como exer-
cemos este 4ireito, no entanto, pode ser bastante diversa
e particular, sendo possível utilizarmo-nos dos vários
meios de transpo~te atualmente disponíveis: avião,
barco, carro, bicicleta, skate, patins ou os próprios pés.
Aliás, a caminhada é a forma de locomoção mais barata
e democrática que existe, mas também é a mais "frágil"
na disputa por espaço. Devido a esta fragilidade, o ato de
circular a pé deve ser garantido e preservado por todos,
cidadãos e autoridades.
Mas será que zelamos por essa forma de locomoção
e pelas pessoas que caminham? Responder de forma
categórica esta pergunta é bastante difícil; todavia,
existem algumas situações observáveis no dia a dia que
definitivamente não são de zelo.
Tenho um colega que diz que não gosta de parar
próximo à faixa por ter a convicção de que os pedestres
simplesmente não andam, mas"desfilam" vagarosamente
28 PJicologla t 1,an<110: Re0ox6u JIArn p•l1, eduadores e (fucuros) condutores Todos somos pedestre< 29

por cln, como se estivessem em uma passarela de moda, excessivamente estreitas) e·quando não as conservamos
deixando-o irritado. Por essa razão, ele não para junto em bom esrado, deixando-as esburacadas, cobertas por
à faixa, e, quando o faz, muito contrariado, fica ace- pedras e sujeira; quando empresas deixam tampas de
lerando o veículo, coagindo os transeuntes a cruzarem bueiro abertasj quando as maroriclades de nânsito não
rapidamente a via. disponibil izam sinalização ãJcquada destinada a infor-
Outra colega, quando está atrasada para um com- mar aos pedestres sobre os trechos perigosos etc.
promisso, não dá preferência aos pedestres sob hipótese Quantos de nós já não fizemos, pelo menos uma
alguma. Para ganhar tempo, ela exerce o poder que tem; vez, algumas dessas coisas no cotidiano? Quem atiraria
no caso, ela impõe sua vontade por meio da força do veí- a primeira pedra? O fato é que, em todas essas ações
culo para passar primeiro pela via. O grande problema {ou omissões), tornamos, de algum modo, o fluxo dos
é que e1a está sempre atrasada ... pedestres mais difícil e arriscado, especialmente para
"Eles que se cuidem para não serem atropelados", as crianças, os idosos e os portadores de necessidades
diz ela. especiais. Assim, contribuímos (in)diretamence para
Pois bem, esses dois casos exemplificam corno não que eles não adotem padrões de comportamento seguros
zelar pelo deslocamento a pé, uma vez que, de acordo recomendados pela legislação de trânsito; isto porque,
com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o maior frente a situações como as que foram expostas acima, os
cuida sempre do menor. Os condutores de veículos, pedestres são impelidos a atravessarem a rua correndo,
portanto, deveriam proteger os pedestres, e não se a desviarem de um obstáculo que está na calçada indo
aproveitar de sua vulnerabilidade. para a rua, a aumentarem o esforço físico para subir e
O utros casos de falta de zelo podem ser citados, por descer calçadas, a redobrarem a atenção ante as infor-
exemplo, quando donas de casa e empregadas domésticas mações conflituosas do ambiente. Consequentemente,
"' o lixo na calçada; quando
depositam de modo incorreto aumenta, n a mesma proporção, a probabilidade de
os carroceiros colocam entulho à revelia nos passeios tropeçar, escorregar, tombar e ser atropelado, todos
públicos; quando condutores estacionam em cima das considerados também acidentes de trânsito.
calçadas ou param sobre a faixa; também quando cons- Em um mundo em que os automóveis se avolumam,
truímos de modo in adequado e irresponsável nossas ni- ruas são mais alargadas - nem que seja apenas alguns
calçadas (muito inclinadas, desniveladas, muito altas, l cntfmetros- para o tráfego de veículos, privilegiando
30 Psicologia e trânsito: Reflexões para pais. educadores e (futuros) condutores

a circulação motorizada, e os espaços dos pedestres são 4


reduzidos ou sem infraestrucurn adequada, convém
lembrarmo-nos, caro leitor, <lc 4uc todos somos pedes- Falando de sexo, drogas
tres! Portanto, procure exercer o seu dever de cidadão
zelando pelonossodircilO de Ir e vira pé com segurança.
. '
e.•. transito.
"

Muitos pais já se deram conta da necessidade de


wnversar com os seus filhos sobre temas importantes,
tais como sexo e drogas, para protegê-los dos riscos
'
potenciais e das co;sequências negativas advindas
llO sexo sem camisinha, das doenças sexualmente
transmissíveis, da dependência química e do poder
Jcstrutivo das drogas (crack, cocaína, maconha etc.).
·todavia, é bastante incomum pais conversarem sobre
l'Omo se deslocar com segurança ou sobre a responsa-
bilidade de conduzir um automóvel. É oportuno reco-
11hccer que a orientação dos pais também é um fator
importante para que seus fillios se comportem de modo
l\'Speitoso às normas de circulação.
Apesar disso, trânsito também é um assunto sério e
111crece atenção de toda a sociedade, porque as conse-
1111ências de se locomover perigosamente ou de não
11hcr quais são as regras do jogo podem ser bastante
1·~1rcssantes e severas para os envolvidos, especial-
1m•111 e para a população jovem. Segundo a Organização

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