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EM DEFESA
DA ALMA
Apolítica do ensino e a
construção do professor
•••••••••••••••
Thomas S. Popkewitz _
Sobre o Autor
Thomas s. Popkewitz .é profe~sor e chefe do Dep~rtamento de ~urrí:ulo ~Instrução da
University of Wisconsm-Mad1son e professor v1s1tante da Umea Umversity, na Su , .
Seu interesse em uma sociologia política do conhecimento educacional é encontrad~cta.
Reforma educacional: uma política sociológica/poder e conhecimento em educa e!11
. b . t . J, . çao
(Artmed, 1997). Seus estudos atuais aseiam-se na~ e?~ias po ittcas .e sociais do pensa-
mento pós-moderno para explorar as mudanças terntona1s do conhecimento nos estud
educacionais, pesquisa comparativa em reforma educacional e formação do professos
(The Changing Patterns of Power), e a re1ação sócio-histórica da pesquisa educacion~~
com as práticas de governo oficiais. Recentemente, publicou Foucault's Challenge·
Discou~se, Kn~wledge and Po.wer in Educ~tion (coi:n M..~renn~n) e Criticai Theory i~
Educatzonal Dzscourse. O pro1eto de pesqmsa atual mclm mvest1gações dos padrões so-
ciais da inclusão/exclusão na União Européia e o mutante campo do poder e do conheci-
mento na pesquisa educacional contemporânea dos Estados Unidos .
CDU 37.014.5:371.13
ISBN 85-7307-717-4
LUTANDO
EM DEFESA
DA ALMA
•. / Apolítica do ensino
. ~- e a construção do professor
~ ............ .
Thomas S. Popkewitz
Tradução:
Magda França Lopes
Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição:
Maria Clara Bueno Ficher .
Doutora em Educação pela Universidade de Notmghan
Capa:
Mário Rohnelt
Preparação do original:
Iara Mel/o
Supervisão editorial:
Mônica Ballejo Canto
Projeto gráfico
Editoração eletrônica
ARTM:D
editográfica
SÃO PAULO
Rua Francisco Leitão, 146 - Pinheiros
Fone (11) 883-6160
05414-020 São Paulo, SP, Brasil
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZI L
gradecimentos
Agradecimentos
Introdu ão
................................................. .. ••. ••• •••·• ••..... ............................ V
ç .. ... ... ......... ........ ... ..... ...... .... .. ...... ...... ... 9
Construin?o uma etnografi~: oque eu entendo po;·~~~~~;·.·.·.·.·.·.:·.:::::::::::.-.·.·.·.·.:::··~ 1
O conhecimento como efeitos de poder: ·
minha sensibilidade pós-moderna .......................................................... ..... 13
1 A política do espaço da educação urbana e rural:
construindo uma etnografia crítica ............................... .............................. 17
gonstru1n
Teach. Fâr America e o privilégio das práticas de ensino .............................. 21
o uma etnografia crítica ....... ..................................................... ...... 24
O poder como algo produtivo: algumas distinções conceituais no
estudo da educação urbana e rural ................................................................... 26
A política do espaço da reforma educacional .................................................... 37
O Teach For America e a estrutura das idéias ................................................... 38
Uma nota sobre o método ............................................... .......................... ........ 39
2 A alma como a realização do ensino:
o espaço social da criança urbana e rural ................................................... 43
Formando a criança: distinções históricas no discurso do professor ................ 44
Construindo a diferença: diversidade, unidade e a criança como o "outro" ......... 48
Os "duplos": o potencial e a inteligência como ausências e presenças ............ 50
A racionalidade em relação à população e a normalização do outro ................ 53
A "alma" como a realização do ensino: classificando e
normalizando a criança ................... ....................................... .......... ................. 57
O professor como um exemplo: ausências e presenças .................................... 58
As posições múltiplas e contingentes da diferença e a
racialização da diferença ................ ·............ ·.................. ··.... 60
Rumo à racionalidade do~~~{~·~~~;· ::: ::: : ::::: : ...................................................... 62
'ticos aos psicológicos ...
. egistros e . . , ........ ··. 67
a· dos r ftss1on,tl .. · · · · · · · .. · · · · · ... .. . ..
. ·as da pedag,o~ .e o professor lpr~al da luta ......... .............. :::: .. ....... 6~
1
P
oder soberano apo d d . os reis e rainhas da mo ern1 a e nao mais desern.
dos brancos, e e. t ( Os ver a eir 1 ' t
- do poder soberano; e e e rans en o para outros f ·d
el na construça 0 .
penham Uz:1 pªP derna não é direta e clara, mas o mais comum é se
atores sociais.) A posdse mfoºsse adequadan1ente identificado, a mudança poderia
.t que se o po er . f
acred1ar o' d nesse sentido, deve ser diretamente con rontado pela iden-
ser efetuada po er, i· ·
. . - d · ' t·cas 1
que 0 proporciona1n a alguns grupos e imitam seu acesso a
t1f1caçao as pra • 1 'd d · · -
_ os comunitários, pais. O acesso dos exc u1 os a participaçao deve
outros grup d "d ,, d d
eq ualizado identificando-se e confrontan o-se os onos o po er. Menos
ser , . d , d 1· -
diretamente, a inclusão (acesso) é proporciona a atraves a rea 1zaçao e do su-
cesso escolar daqueles que anteriormente não obtinham sucesso.
O raciocínio da noção da soberania do poder é, implícita ou explicitamente,
como uma novela de mistério. Se conseguimos identificar quem perpetuou as
injustiças e como elas dominam, é possível mudar a distribuição do poder de tal
forma que todos os grupos possam participar igualmente. O argumento é uma
crença !lusór}a na teoria e na política sociais do século XX, em particular na
educaçao ap~s ~ Segu.nda Guerra. Ela enfatiza, como diz Hunter (1994) , a es-
qd~f~rdladeda ~ireita, pois supõe que o seu problema é baseado en1 princípios: a
d11cu d a -e e como _ permi·t·ir que to d os os grupos sejam incluídos nos processos
a e ucaçao. Nao questiona o d . , . ,
efeitos de pod er. mo o como esses pnnc1pios são construidos como
. Essa suposição do poder ld . - . - ,
tica e na pesquisa ed . .mo ªas discussoes de inclusão/exclusao na polt-
pro. fessores "bem-suceucac1onais
d'd · São rea l.iza d os esforços para identificar
. . . o que 0 s
1 os" fa .
sais a serem seguidas t d zem para transfonnar suas práticas em univer-
por d'o .os'dos out ros. A s discussões
"voz''. na educação estão · · - ea
sobre a capac1taçao
previamente marginalizad ing1 as ~ara o problen1a de como incluir as pessoas
Esses projetos .. as e exclu1das.
excluiu cat . pohticos de incl - - . e
clusão catee~o:icamente grupos dif usao sao unportantes em un1a sociedade qu _
cínio que gonca dos grupos na- erentes de pessoas. Porém o enfoque na ~x
organ · o respond .. ' . io-
izarn as práticas d " e a pergunta sobre os sisten1as de i ac.
e sucesso" , "capacitação"
. e "voz ,, . Ou seJª·
- - -- - - - - - - - - -- - - -- - -
LUTANDO EM DEFESA DA ALMA 13
pOPKEWITT~Z~~- - - - - - - - - - - - - - - -
nfOM.i\S s. , .
. . l da literatura pos-moderna, pois a Pesq .
. , onoina h .
. isight nao e e- l - s entre con ecnnen o e 1v1soes soe· . <:tit\
t d' . - Utsa
Esse,, "' as re açoe f t , . tais " .
s alertado para ennitiu-me o erecer es rateg1as mais · '-On.
ca tcnH~?te;·atura pós-m?derna p dagógico.4 Como declarei anteriorm Precisus
tudo, a 1 hec1mento pe . · - ente
·nvestigar o con . idéia da soc1ahzaçao, concentrando-me •ali.
para 1 . . e repensai a . , · p . naq,.·
tura perm1t1u-m . lação ao ensino e as crianças. erm1tiu-rn 411(}
ter: pe~so ser a verdad~ com ieconhecer as crianças da maneira como de~ ~ensur
;~bre o motivo de dese1armose é verdade por exen1plo, em ensinar atra~~ªrnos
- porque falamos s_obredo .qufa"nc1·a Também me permitiu perguntar comoes das
. · l' gicas a tn · . . ,. ora ·
categonas ps1co 0 b infância relaciona-se com outras ideias corn c1.
, . d fessores so re a . d f ,, , o ad
ocm1~ os pro " sabedoria do conhecm1ento. os pro essores e as escolas o
maneJO da clas,s~,
Amenca
ª como es
colas do centro da cidade e escolas rurais.
. .
do
Teach For. 't'cas discursivas sobre o ensino e as crianças na es 1
A diferentes pra t , . · · · coa
s h te estudo são praticas sociais in1portantes porque ·
nforme propon o nes , . d d' t' - . nar.
co . . situando-as em um con1unto e is inçoes e diferenciaç·
ahzam as cnanças, - . d. oes
m . a dividi-las em espaços. Os espaços sao mais 1scursivos d
que func10nam par . . - l' . " o
f . As categorias e as d1stinçoes constroen1 1m1tes que nos contam"
que istcos. a criança como habitando uma infância, sendo um aprendiz 0
como enxergar , . d . . . u
um realizador. Assim, com essa "lente" teonca, ,eu po ena investigar como a
·dade e a ruralidade representam um continuo de valores sobre o que é
urbam . d 'd. d 1
normal e 0 que não é. As normas discurs!vas a m,e .1ª.' o norma. e do não tão
normal que investigo neste estudo não sao o que e tipicamente citado como as
crenças dos professores ou sua filosofia da educação. Nem são as normas, neces-
sariamente, o que é referido publicamente como propósitos educacionais. Em
vez de normas, estão incorporadas em categorias, distinções, diferenciações e
divisões pelas quais os professores passam a "ver" e a agir com relação às crianças.
Sendo assim, não considero este livro um estudo do Teach For America,
mas um esforço para compreender como diferentes discursos da pedagogia unem-
se (uso a palavra "estrutura") para gerar princípios à participação e à ação. Para
mim, neste ponto, há um sistema de raciocínio que historicamente circula nas
escolas sobre urbanidade e ruralidade, e esse raciocínio é o "acusado" que precisa
ser investigado. Exploro as divisões e as distinções incorporadas nessa racionalidade
através das atividades e idéias práticas rotineiras sobre ensino urbano e rural. Em
certo sentid.o, este livro não começou objetivando tratar de raça nas escolas dos
~s~a~~s Um?os'. ma~ ter~inou preocup~do com a pr~d~ção de disti.nções e dife-
ç que tem 1mphcaçoes para as teorias sobre a rac1ahzação da criança.
. ~om esse objetivo, a obra é escrita para os responsáveis por refonnas educa·
ci~nais qu~ se prop~em a tratar de questões de qualidade e injustiças educacio-
nais. Tambem e escrito p f ·· te os
sist d . , . ara pro essores que procura1n investigar cnt1can1en
emas e rac1ocm10 que 0 · atra·
vés da · . rganizam o seu ensino. Tornar visíveis as regras
s quais a diferença e a d' 'd d - . , estra-
tégia práf . iversi a e sao normalizadas no ensino e uma .
ica para se abrir um . _ lt ativos
que não são articulad e~paço potencial para atos e intençoes a er~. e
os por meio do senso prático disponível. Os focos teoncos
LUTANDO EM DEPESA DA ALMA 15
18 r11 07''-''
5
~. . e de "poder fazer'.' con1 relação aos
. . d u1na at1tud . udar a n1anclfa corno os prof. Proble'"".
b1n o se a 111 d . , . essor "'~~
a111cricana. e~~ra1na destinav:~ que era consider~ a a 1nepc1a entrincheies tr;,lli
S
ociais. O pr C'ntrapunha-se '1Itirno ponto foi um legado da retór1· rad~d~
d s e co 1 Esse t . t - ca d· 11
recrllta o·a govei·narnenta · do envolv1n1en o ern questoes soei· . ct tr·
. . overno . d , ais. o ~
bur0crac1 b . corno t1ra1 o g 'dealisn10 da 1uventu e que o pais não t Pro.
so re · a um 1 · - d est
Reagan 1béll1 sintet~za~ . da Era Kennedy.e.ª _c~iaçao o Peace Cor . cniu.
grama dtande os primeiro~ dd1asl- criada con1 pnv1leg1os' estavam comprPs. Quj.
hava es . na e es , . f Otnet
n tos ·ovens, ª.maIO . balhando con1 pessoas a~ quais rcqüenteme en.
nhen pJassar dois anos .t1 ªe o que para evocar a 11nage1n do Peace C nte era
do-se a · ·1 'gio om crps
d o qualquer pnv1 e . dos de corps n1enzbers . ,os
nega f am chama , · d rr. h
crutas do TFA or d u111 estudo etnografico o ieac For Arnerica
re . , relato e 3 b - real'1
1
Este hvro e o . . de operação. As o servaçoes, entrevistas ·
1me1ro an 0 e e5
zado durante seu pr .d uanto os recrutas trabalhavarn nas salas de P •
1quisas foram e
onduz1 as enq
.
f
to para prepará-los con10 pro essores. No entanto
au1ae
. . am de tremamen . . , este
part1c1pav t a'ficas de maneira espec1a1, pois toma as categorias
!1 livro
.
us
a os dados e nogr
A . utilizou con10 um programa para me orar o ensino e
Ih que
0 Teach For menca . . . a
_ d f ssor das escolas urbanas e rurais e questiona essas idéias Ba
: formaçao o pro e . . . . , d f . . .
teor ias sociais e feministas pos-mo ernas, en ahza como os dis-
1 sean do-se nas ,1
cursos de urbanl.dade e ruralidade são . parte de um a1na . gama . ou da estrutura dos
1 discursos sobre 0 ensino, a aprendizagen1eo1naneJ? da ~nan_ç~. ?efendo que a
:1 estrutura das idéias forma uma grade que proporciona 1ntehg1b1hdade através
l das categorias, diferenciações e dis~i.nçõe~ ~~e norn1ali~am a urba~idade e a
J ruralidade da criança nas escolas. Ut~h.zo a ~de1a de urbanidade~ ruralidade ~ara
são forma?os. Meu uso dos discursos busca dirigir a atenção para a intersecção
de c~nhecime~tos múltiplos q~e governam as práticas dos professores. Alé_m dis-
so, visa a considerar como os s1sten1as de conhecimento da pedagogia funcionam
na construção do espaço chamado de ensino urbano e rural, cujas imagens funci-
! onam P.a ra qualificar ou desqualificar as crianças para a ação e a participação.
Mmha opinião é de que os sistemas da lógica da escolarização comuns são o
lugar da batalha para um ensino mais eqüitativo e uma sociedade mais justa.
Entretanto, ao se engajar nessa batalha, educadores, professores e administrado-
res têm pouquíssimo entendimento de como os sistemas concretos de idéias in-
corporadas na prática da sala de aula atuam para produzir o terreno desigual que
chamamos de educação. Embora não proporcione respostas para perguntas so-
bre as alternativas a buscar, pretendo pôr fim à maneira como "contamos a verda-
de" sobre nós mesmos como professores e sobre as crianças e, assim, abrir um
espaço potencial para alternativas .
O Teach For America passou de uma "boa idéia" a uma organização nacio-
nal em pouco tempo. Em poucos meses, a partir de 1990, construiu o Summer
Institute e selecionou 500 recrutas.
1
O TFA buscou legitimidade, concentrando-se em duas clientelas - as em-
presas e os distritos escolares. ~objetivo do escritório nacional era or~anizar sua
imagem para parecer corporativa, ao mesmo tempo em que tratava diretamente
JJ com os professores, os distritos escolares e os recrutas. Concomitantemente, o
TFA procurava construir sua legitimidade à parte da influência das agências con1
processos de certificação, isto é, as escolas de educação.
A posição do TFA em relação aos distritos escolares e um sistema de treina-
mento "em trabalho" exibe certa ironia, porque posicionou o programa como
uma fonte de recrutamento e treinamento de professores para as escolas urbanas
e rurais com índices elevados de fracasso. Como argumentarei em capítulos pos-
teriores, as relações do TFA com as escolas e os departamentos de Estado de
instrução pública incluíram mais que um arranjo de trabalho colaborativo. Esta-
vam incorporadas nas relações de trabalho as práticas discursivas da educação
através das quais as crianças de cor eram classificadas para a instrução. Desse
!~
modo, embora o Teach for America procurasse distanciar-se da organização
institucional da formação do professor, não se distanciou nem examinou as prá-
ticas discursivas que vinculavam a formação do professor e as escolas.
prestigiada com um câncer urbano adjacente que caracteriza as cidades dos Esta-
dos Unidos. A percentagem relativamente alta de pessoas de cor entre os 1nem-
bros do programa (29%) mesclou ainda mais as imagens, as agendas e a consci-
ência social, à medida que o ensino foi sendo discutido durante as oito semanas .
Entre as--eSCõl:a,s nas quais o Teach For America colocou seus membros, os
dois distritos~:urais -~ª Georgia e na Carolina do Norte situavam-se em condados
que eram tan~e negros quanto de brancos, com os sistemas escolares con-
tando com uma percentagem maior de negros. Esse desequilíbrio racial nas esco-
las, segundo o superintendente de uma delas, é o produto de um sistema escolar
privado que afasta dali os alunos brancos mais ricos. Entre os alunos que fre-
qüenta1n as escolas públicas, a maioria tem acesso à educação superior e, como
declarou um diretor, "aqueles que chegam lá são talentosos, muda1n-se daqui e
não volta1n para cá". Há também índices mais elevados de baixo aproveitamento
escolar e de abandono da escola entre os negros que entre os brancos .
Os administradores chamaram a atenção para o isolamento da comunidade,
as oportunidades limitadas para a interação social e a recreação e o baixo nloral
do professor como fatores que restringen1 a capacidade dos distritos para atrair
a
professores qualificados. Em um dos distritos, o superintendente previu que den-
tro de cinco anos poderia haver um índice de mudança de até 50º/o entre a equipe
de ensino.
Os distritos urbanoj não apresentaram menos dificuldades ao TFA. A po-
breza na metrópo , s-cassez de recursos educacionais adequados, as a1neaças
de dispensas temporárias dos professores na cidade de Nova York e a falta de
conhecimento sobre os procedimentos burocráticos foram fontes constantes de
ansiedade entre os membros do programa. Além disso, a maior parte das escolas
visitadas tinha uma alta percentage1n de crianças provenientes de fa1nílias de
baixa renda que também apresentavam notas ben1 abaixo do padrão nos testes de
conhecimento.
Nesse contexto, podemos entender o programa como u1na resposta a u1n
grande problema de falta de professores nas escolas dos Estados Unidos. Os n1en1-
bros que ensinavam ciências, matemática e línguas estrangeira proporcionarain
instrução e1n áreas que os administradores citavam como sendo resistentes ao
recrutamento.
As escolas urbanas apresentava1n problemas logísticos diferentes daqu eles
das escolas rurais. Embora a diversidade entre esses distritos seja notável, os nlem-
bros do programa eram, e1n geral, colocados en1 escolas localizadas en1 áreas den-
samente povoadas, e os distritos que visitamos neste estudo caracterizava1n-se por
populações de baixa renda e altos índices de atrito entre os professores e os alunos.
\ As classes não só eram cheias demais, 1nas também desafi adoras e1n tern1os físicos .
Dois professores iniciantes descobrira1n que sua escola urban a obrigava-os a reti-
r orKE\\'ITZ
0 \1 ·\ S s.
24 TH · ·
e e os quadros de notas quando e.
. - s de elass , . l d t an1 tr
expos1çoe 111odar o horano a terna o do an 1 ansre .
todas as , para aco - . l ' o etiv t1q,1
rar
a outra 5 classes -
,, seus a1un
os simples1nente nao
_
tln 1ain
.
umas a·Ia pr o· esc
. 01~
•
MA ETNOGRAFIA CRÍTICA
CONSTRUI Noº U
· ão do Teach For America já foi apresentada, mas resta a q .
A descnç af.
, . d orno organizar uma etnogr ia cnhca reaciona
,, .
1 . d ,
a as questõesd
uestao
teonca ec . .. ·t d "l ,, ePG-
1 0
der. conceito de teona que us ..
o e u~ concei o e ent.es ou de estrutura
lingüística qu~ existe antes, ~~s e ~odificada ,~ura~~e ~ ap~s cole~ade da~os. A
teoria, no sentido em que a utthzo, conta-nos que coisas deverao servistase
interpretadas a partir do número infinito de eventos e ações do ensino. É, portan.
to, um processo através do qual as coisas são selecionadas, relacionadas eomiti·
das do pensamento. Sendo assim, minhas idéias sobre a "teoria" não sãoum
conjunto dedutivo de proposições a serem testadas (um conceito positivistado
conhecimento), mas de distinções epistemológicas que deverão orientaroobser·
vador para o mundo empírico, cujos conceitos e descrições reais envolvemum
contí~uo interjogo entre a teoria e os eventos. Por exemplo, as categorias eai
relaçoes específicas que organizam este estudo emergiram a partir de um proce~·
so co~plexo de análise de dados e "jogo" com "ferramentas" conceituaisque
poderiam proporcionar um enfoque intelectual a esses dados empíricos.5
Parte da teoria que organizou esta etnografia pretende encarar o TFA como
um exemplo de refo d · · ·ograJ111
como , . rma e ucac1onal e educação e não considerar o P1
idéia ~epuropno caso. Embora a maior parte das p'esquisas assuma tacitament~~
m estudo de ca dadoss
coletados, a idéia deu so c?mo o contexto específico em que os ueruíllª
auto-reflexão e n - m e.aso e um proble1na teórico con1plexo, que r~Q coinº·
e
ª
por exemplo 01 . ª?t aceitação de um determinado evento cronológidco, 510do
' tmi e do cas 0 ( · · ·ai oe
ra considerar qual ver o Apêndice) . Assin1 a tarefa miei . tizHção
da pol'1t1ca
. social era o caso. des t e progran1a: de recrutainento,
' de priva
d·sctirsoi.
0
~?~~ig u, como finalmente decidi, de poder produtivo dos J •
anas que t - . colfll1
este pro s oes foram le 1ane1ra ·íi·
culdad grama deveria ser .vantadas em uma conversa sobre ad~ ·gidaãsdid)
que oco
es da ed
ucação urba
.
Hcfl etindo
.
sobre a pcsquis erLante n·or so b rc as 1n1ust1
· · ·cas, con s1·d crc1· que pos-
s ivclm~ntc estivemos fo rmuland o as perguntas crrndas. Meus es tud os Jntcriores
do cnsmo procurava m entend er a "cultura" da sala de aula que con cc itu~wn o
poder con:u um prob.l ~m a de sobera ni a Colocado de maneira simples, o conce ito
de poder sobcrJno diri ge a aten ção para "a lgo' ' de propriedade de professores e/
ou alunos e para o foto de que a propriedade pode ser redistribuíd a entre os
grupos _nas a renas sociais , daí o uso do termo soberania . A visão de soberania do
pod~r . e encontrada no conceito de escolas democráticas, que pergunt a qu em
participa (_e recebe :'voz") e qu em é excluído do processo de tomada de decisão
da educaçao: Anteriormente, usei o conceito de soberania do poder para entcn-
d~r co~o os mte.r esses d~ di~erentes grupos reprimiam outros, dirigindo sua aten-
ç~o - as vezes .d•.reta ou md1retamente - para a burocracia, o gênero, a raça e as
diferenças soc1a1s e, ao mesmo tempo , negando uma educação eqüitativa (ver,
por exemplo, Popkewitz, 1976; Popkewitz e outros, 1982).
Entretanto, como já disse na Introdução, sentia um certo desconforto com
tal interpretação. Achava que a minha narrativa estava repetindo teoricamente o
que eu e os outros te1nos dito desde a década de 70: as escolas trabalham de
maneira injusta e as diferenças existem. Os trabalhos sobre o "currículo oculto"
enfocaram os efeitos sociais, políticos e econômicos das práticas pedagógicas
(ver, por exemplo, Young, 1971, como um ícone desse período). Quando compa-
rei esses estudos com a literatura atual, as principais diferenças pareciam estar
nas políticas, e não no desenvolvimento real da questão do poder. A conversa
atual sobre as teorias neoliberais e as reintegrações conservadoras apontam para
linguagens e "contextos" políticos diferentes daqueles da década de 70. Porém,
as conclusões são as mesmas - alguns grupos usam os recursos das escolas em
benefício próprio, enquanto outros não o fazem, com um pequeno enfoque nas
práticas concretas que produzem uma sociedade desigual.
Meu desconforto aumentou com a leitura da ciência social recente e do
saber feminista , freqüentemente chamados "pós-modernos". A literatura sugere
que, embora o saber liberal, o conservador e o da esquerda tenham posições ·
ideológicas diferentes, mantêm imagens similares dos atores soberanos que atu-
am e participam.t> Judith Butler (1992), por exemplo, sugere que o modelo sobe-
rano de poder assume de maneira acrítica o local ~a luta pelo conhecimento
como dizendo respeito à emancipação e à democracia. Ela argumenta que essa
aceitação acrítica dos atores -lue reprimem/são reprimidos, muitas vezes, conso-
lida e oculta as relações de poder, ainda que tente "reestruturá-las" ..Assim, en1-
bora 0 conceito de soberania do poder seja importante para proporcionar repre-
sentação aos grupos anterionnente marginaliz~dos , não enf~c?u o_ modo com~ o
conhecimento do ensino arrola siste1nas anteriores de class1ftcaçao que func10-
nam para incapacitar, desqualificar e marginalizar as crianças (ver Popkewitz e
Brennan, 1998) . r· d
Este capítulo, portanto, aborda a minha jo_r~ada para entender a po .•hca .º
conhecimento incorporada nas práticas pedagog1cas ~º. Teach For ~menca. Mi-
nha preocupação converte a de Marx com as caractenshcas produtivas do traba-
\
26 TlfOJ\tAS S píJPKLWITZ ~
.
"
- i·f.rcn·
tes . Aqui as ct · 1· - ncia eª sabedoria de rua de un1a criança sao e 1 e .
' is mçoes e as ct·tvisoes
· - d a inteligência
· . inserc1n uma norma . r-iza\ªº
"N. de T. Ein in 1· . .·.
ri as . g. es, street-w1se int elli l , • • .. . d. · oeccS)·'
para sobreviver em um a b. gen ce sigmhca possuir as habilidades e as autu e!>
m iente urban0 f
requent enie nt e vi 0 l t' nln
LUTANDO EM DEFESA OA AL\1A 29
da cria nça , como o fato de ela ser dotada de qualidades constitutivas diferentes
dos outros. A di stin ção é vista no discurso , e não de modo aberto e categórico
(corno se certificand o de que o mesmo número de meninas e meninos tenham
aulas de matemática).
Tal norm alização é diferente das teori as da rotulação que são usadas com
maior freqü ência quando se fala sobre as linguagens da educação. As teorias da
rotulação concentram-se nos imperativos categóricos das palavras , ou seja, al gu-
mas palavras são usadas para definir as identidades das crianças enquanto elas
passam pelas escolas. Essas palavras são encaradas como definidoras das expec-
tativas e demandas feitas às crianças e à sua profecia "auto-realizadora" na de-
terminação do sucesso e do fracasso . Minha preocupação com os sistemas de '
raciocínio dão enfoque a algo diferente. Não é uma preocupação com os ·'rótu-
los" aplicados, mas com os sistemas de "raciocínio" produzidos que definem o
que está dentro ou fora das normas de competência, realização e salvação.
As normas que distinguem a inteligência da criança são parte de uma grade
de idéias através da qual o professor diferencia e separa. A grade de idéias refe-
rente à aprendizagem, à infância, ao ensino e ao currículo funciona objetivamen-
te para separar e classificar os indivíduos, criando diferenciações cada vez mais
apuradas do comportamento rotineiro (Dreyfus e Rabinow, 1983) .
Isto nos leva a um segundo ponto sobre a normalização. A classificação e a
divisão não ocorrem em um terreno igual. Os padrões discursivos geram princí-
pios que inclue1n e excluem os indivíduos da participação e da ação. As normas
incorporadas na inteligência, na aprendizagem e na "auto-estima" da criança
(termos geralmente usados em pedagogia) funcionam para desqualificar algumas
crianças que não se "ajustam" às normas da média.
O funcionamento da pedagogia como um sistema de inclusão/exclusão pode
ser considerado mais de perto através de uma suposição tacitamente assumida
dos discursos educacionais de reforma. Essa suposição, encontrada no Teach For
America, é de que há uma necessidade de programas de recrutainento e treina-
mento para professores nas escolas urbanas e rurais.7 As palavras são ostensiva-
mente colocadas na reforma escolar para significar um esforço humanitá rio con1
o objetivo de proporcionar recursos às escolas que tên1 fracassado em seus pro-
pósitos sociais e éticos.
Todavia, as palavras urbano e rural, como já declarei, incorpora1n distin-
ções e separações qu alitativamente diferentes dos propósitos humanitários pre-
tendidos. Incorporam um código no ensino americano que separa algumas esco-
. las (e crianças) de outras. Essas "outras " não são nomeadas nas distinções que
\\ organizam o ensino, mas es~ão silenciosamente pr~sen~es. Essa ~resença silenciosa
~\ocorre através de uma qualidade dual das normahzaçoes. Os discursos pedagógi-
~
cos arrolam as norn1as que existem como a média. Há uma média ou estado de
coisas normal, de acordo com o qu al as crianças devem ser entendidas e avalia-
das, mesmo as urbanas e as rurais. Estão também presentes nos discursos as
liinormas do futuro, com as qu ais podem ser obtidos progresso e melhora. As nor-
~ mas das práticas pedagógicas produzem uma figura de perfeição combinada. rumo
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
30 TlfOl\t.i\S s. rorr<FWIT7. - , .
. . combinaçao ele 1ned1as e progresso
. rogrcd1r. Ncs~n . " , ,, e o "deve ser" ( . .. · 0 !.\
à qual as crianças po?cm ~ana e rural vinculam o 1 ~ ' 1990) p,u d t1n1a
di cursos da cdu<:açao ur alização, ver Hac <mg,. . .
. . . .· desse aspecto da norm rovrcsso nos d1scu1sos do urbano e d
d l~CUSSJO ' lS com o p b d" ,) l' . o
A Vl.nculação das norm( ·ca a outros iscursos ua po tllca soci'.'1 1
1 for Ame ri q e 0 enfoq _
. • l·ga 0 programa Tcac 1mcncano
t UI a1 1
. .
con te· mporaneo.
A
. , H1sto11ca1nentc,
.
• • •
. 1
"
uc
educacional no panorama aais . e, part e. de uma tra1etona n1a1s onga .
de refon1 1a
nas escolas urbanas e r~~ , 1 XX da escola con10 um n1e10 para ''reso·
isao do secu o . . lt . :-.ti·
escolar, captando uma v ndi ões econômicas, sociais_e cu ~r~ts por meio ele
tar" as criança_s de sua_s co ~onceito de resgate con1b1nava v1soes religiosas da
0
uma intervençao pl~ne1ada.ulares sobre os efeitos da pobreza, da classe e da dis.
salvação com c?nceit~s sec t to os grupos a sere1n resgatados não são ap ).
· · - l/rac1al No en an ' d e
cnmmaçao s.oci~ · . classes médias també1n 111an am suas crianças
nas os margmahzados, pois as
Para a escola. . espaços de esco l as urb ana s e rura·s · ·r·ica qLie
l s1gn1
Colocar as crianças em d o ·
. - seJ·am administradas e resgata as. s sistemas sin~-
determmadas popu 1açoes . ·f d . · ....
.d,. d. t.
lares de 1 e1as 1s mgu em e dividem a criança . como d1 erente
, e ouha s1lenciosa- ,
mente present e, mas na 0 - referida · Essa criança
. urbana (as vezes. do centro. , da
cidade) e rural diferente está presen~e nos discurso~ do desenvolv1n1ento ~sicoló-
gico e da aprendizagem (como estilos de aprend1zage~), nas c?ncepçoes .~as
disciplinas escolares ensinadas (como ~pre~~er ~ conteu_do atraves de expen~n
cias ''práticas"), nas distinções sobre a 1ntehgenc1a das crianças e nas tecnologias
de manejo de classe. A urbanidade e a ruralidade da criança estão ta1nbém relaci-
1 onadas às políticas de bem-estar do Estado, que visam a algu1nas populações
\ carentes de recursos e acrescentam os discursos sobre os efeitos psicológicos e
1 cognitivos de ser do "centro da cidade" e "rural". Os diferentes conjuntos de
j idéias formam uma grade, que organiza o modo como se pensa e atua sobre as
1 crianças da escola como aprendizes/não-aprendizes e a con1petência dos prof~s
l sares nas salas de aula.
1
~ escola deveria agir como uma tecnologia moral, não apenas inculcando obediên-
cia, mas também buscando formar a personalidade através do incentivo à supera-
ção, na criança, na sua relação com o professor (o sentimento de emulação), através
do uso de técnicas pastorais para encorajar o autoconhecimento e aumentar o sen-
sação de identificação solidária, através do estabelecimento de vínculos entre virtu-
de, honestidade, autopunição e um prazer purificado. (Rose, 1989, p. 223)
tipo de controle. Nas escolas onde os membros ~o Teach For A1nerica trabalha-
vam, a racionalidade populacional colocava as crianças fora das nonnas quando
elas pareciam "não ter disciplina" em seus lares, quando os pais eram definidos
como não-conselheiros dos seus filhos e quando os alunos eram categorizados
como tendo um comportamento que sugeria que careciam das nonnas para apren-
der de forma adequada. Cada um dos "problemas" estatisticamente organizados
localizou a criança que não conseguia ter um bo1n aproveitamento na escola e
que psicologicamente carecia da auto-estin1a necessária para o sucesso.
como acont e_ce com as agências est a t~lis e as empresas interessadas, por exemplo,
I em tccnolog1as a laser ou na qu es tão social da pobreza. Quando Thomas Kuhn
( I 970 ) fa lou sobre ciéncia " revolucionária" e ·'normal", em certo sentido referiu-
se às di ferentes "verd ades''qu e são autorizadas (e os que desej a1n reconhecimen-
to form al) em um a ma téria. Podemos chamar isto de um conjunto de relações no
qu al as regras e os padrões de conhecimento são produzidos em uma comunida-
de discursiva .
A idéia de que o conhecimento disciplinar é socialmente produzido é impor-
tante qu ando fal a mos sobre as matérias escolares . O currículo das escolas realiza
uma alquinlia nesse conhecimento disciplinar. As relações específicas a partir
das quais os historiadores ou físicos, por exemplo, produzem conhecimento so-
frem uma mudança mág ica . Enquanto as disciplinas envolvem conjuntos de idéi-
as rivais sobre pesquisa (podemos chan1á-los de paradigmas), as matérias escola-
res tendem a tratar o conhecimento como um conteúdo inconteste e claro para as
crianças aprenderem ou com eles resolvere1n problemas. Assim, podemos dizer
que há uma alquimia da "matéria" da física que a fragmenta, por exemplo, em
categorias de ''domínio do conceito" , registros psicológicos sobre ''aprendizagen1
cooperativa em pequenos grupos" e preocupações sobre a "1notivação" e a "auto-
estima" das crianças. A ''ciência", a "maten1ática", a "composição" ou a "arte"
escolares são o conhecimento pedagógico que se adapta às expectativas relacio-
nadas ao horário escolar, às concepções sobre a infância e às convenções do ma-
gistério que transformam o conhecimento e a investigação intelectual em un1a
estratégia para controlar a "alma''.
Talvez a alquimia das matérias escolares seja necessária porque as crianças
não são cientistas ou artistas. Mas, para n1im, o importante não é isso, e sim
reconhecer · portância nos padrões de controle da educação de duas ina-
{ neiras. Em rimeiro l gar, as. complex~d~des e as cont.ingências da vid.a co~idiana
são reconsi ad como objetos da log1ca. Os conceitos e as generahzaçoes são
encarados como estruturas lógicas, não-temporais , que funcionam como bases a
partir das quais ocorre a aprendizagem. Até nles1110 os n1étodos de pesquisa são
considerados entidades lógicas que segue1n algun1as regras de 111étodo científico
que existem fora dos processos sociais, tais con10 aprender as "habilidades de
laboratório" ou as práticas de entrevista. Desse nlodo, no ensino, é possível falar
que a aprendizagem das crianças envolve compreensão e 1ná compreensão dos
conceitos como se estes fossem entidades de conhecin1ento estáveis e fixas.
'
A alquimia que faz o mundo e os eventos pareceren1 objetos d a lógica reino-
ve as ama rras sociais do conhecin1ento. O debate e a luta que produzira1n o co-
nhecimento disciplina r são encobe rtos e um sistema de idéias estável é apresen-
tado às cria ncas.
Contud~ qu a ndo observa1nos a pesquisa na linha de frente da ciência, po-
demos "ver" um conhecimento be1n diferente daquele qu e fica guardado no reli-
cá rio do currículo escolar. Ele envolve debates e lutas sobre o que deve ser es tu-
dado e con10. Além disso , a concepção do conhecimento usado pelos cientistas
pesquisad ores privilegia est ra tégias pa ra torn ar o famili a r estranho, pensar sobre
,,,,,,.;i wrr1. -------
36 n10~1AS ~ . ' . . icstócs sobre o que é tacit
-111ta• qt · · · ªtne
licciclo e 1cv.. te· diferentes, pois pnv1legian-. ntt
. . dcscon , .: bastan · . -. " · as p
11
o m1 stcnosn e o . 1 curnculo s._\O 1 ~ nhcc11ncnto ate t11es1no nas re to.
. regra:-; e o , ·icas l o co cent
assurrndo. As1 . 1·,· x·is e ca tcgoi ._ ., 1·tz 1991). es
.. ·t 1vc1s, ' '- . pop 1(C\!v ' -
rric:dadcs. ~~: s n1tivístas'' (vc1 . . cstú relacionada a que~toes de exc1 -
"pcJngog1as~y.>n· I~ fu n ç[lO da étlqu 11111a,. l·\s às crianças que sao bem-sue "dl ~ao.
u 1'l s gunc. d ,. s ·1ssoc1ac.' l
n , _· '(: fíércntc daquc d (. . A exclusão à qua n1e re iro e a con~t ~s
r , e ld·
l~tl cxcl t~s:w c~1~ unw matéria cs~ol,~t.. .·.1nça como diferente e1n relação a"oruçao
ou fracassdlTI onn~d1za ._t c11._ t, · queé
de uma ordem moral que n , :1 A alquimia das ma crias esco1are~ possibilita.
" .d do razoável e poss1vc . 1 lisciplinas escolares co1no fixas e infl ij
r cons1 era O t ., tamcnto e. as e exí
li alquimia da criança. . t d edagógicos concentre111-se nos processos Pel .
1 d cursos P ' , · d , l os
veis permite que os is f .. cassam no dom1n10 o curncu o. O conh .
. . ·cndem ou Ja
taclo. Com 0 con l1ec1n1en . o 1xa o, a alm· ec1.
t f. d
q uais as cnanças . . .
ap1 _ ,
• nao esta csgo e . _ t~ . ae0
.
q mcnto das d1sc1p mas 1 s de realizaçao, cmnpe enc1a e salvação lJ
1 defesa das norma · nia
: local de luta em ' " n contínuo de norn1as que representam algu
criança pode ser colocada em .u~ d nia
.
I linha imagm~~·a em q , · ue é pos1c10na a.
d no conhecimento das matérias escolares é, porta
, A estab1hdade arro 1a ª f · . n.
. e normaliza os siste1nas que unc1onam para incluir eex.
11to · .uma tecno .
1og1a qu
.
d. · l -
a_ o aparece como tal. E1n vez isso, as inc usoes e as exclu.
clutr as crianças, mas n . d t' - · · ·
_ • ·ca "natural" da aprend1zagen1 ou a mo ivaçao 1nd1v1dual Ao
soes parecem a 1ogt · d · l' · d · ·
mesmo t empo, O enfoq ue pastoral nas quahda . es ps1co og1cas os indivíduos
(normas de realização e relacionadas à at~to-.estt.1na~ ~esloca a .res~onsabilidade
pelo fracasso certamente mais para os pr.opnos ind1v1d:ios, pois ha pouco reco.
nhecimento do acesso diferencial aos meios de expressao do self.
Há outra dimensão para essa produção de sistemas de exclusão. As distin·
ções sociais produzidas nas disciplinas sociais legiti1nan1 algumas disposições e
sensibilidades dentro de uma série de possibilidades (ver, por exemplo, Bourdieu,
1984). Podemos pensar, por exemplo, nas "ciências do1nésticas" da virada do
século como designadas a conduzir detenninadas idéias burguesas às famílias da
classe trabalhadora. As teorias científicas sobre o manejo das finanças domésti·
cas, os ''hábitos" de saúde individuais e as idéias sobre a educação dos filhos pela
família vincularam as disciplinas sociais e as racionalidades políticas aos padrões
autocontroladores dos moradores urbanos. São criadas idéias contemporâneas
s.obre as pe~agogias centralizadas na criança que incorporatn urna visão nor~1a·
ltzada da ~nança "natural" e da "verdade". Segundo Walkerdine ( 1988), a ên!ase
n~ verbalização e na justificação nas classes construtivistas relaciona-seª deter·
mina~as co~cepções burguesas sobre os dois sexos
A medida que as ama . d . · · · aeco-
., . . nas o con11ecHnento são perdidas na alqu11111a,
nom1a que permite e impede b' . . d .gras dr
participação e .:- , as su Jehv1dades através da inscrição e re ..
açao tambem se p ·d p . ão apre11
dem nem obtém ê .t d . , ei e. arece agora que as crianças n . d d3
. x1 o ev1do a sua '' . t A . 'd d / raiida e
cnança a desqualific d .d , . ex1s enc1a". A urban1 a e ru ' 511
fora do que é sanei a, d ev1 o as d1s pos1çoes . - . t s que e51
e aos reconhec1men o ,, ,~ ai·
· · ona o como rw - · · nal · [\ ·
quim1a permite uma . zao e capacidades da "pessoa racio . .c1u1r
normalização · que nao - 1nais funciona para 1nc · lu1r/e;.;
- --- - - - - - - - --- - - - - - - - - - - - - - - -
LUTANDO EM LJEPESJ\ DJ\ J\LMA 37
- - - - - - - -- - - -- -- -
roPJ<f.WITZ
38 n-ioM.AS s. .
. d . senvolvimcnto "fazem " corn qL,.
. em e o e · 1, · .. · i .... c:nx
. b e a apren d 1zag. _ di·\,isões ps1co og1cas part1c.:ul ;· r. t:r.
. ·d ~ 1 as so r ' d· t nçoes e '"' <.: s N
fanc1a. i e'.· .. a através de is 1 f"'chada cm un1 c spac.; o de ·' in fanc:i · ,; ·. rJ~.
ac11<.tnÇ · acamo e . ,.d ct (;r
guein 05 ~. de ensar na cnanÇ , ré-adolescência ou . l ade terrível'' étrj
~a 111a1~e1.!a u:achamos. ~ue. u!n~!ialn1ente construíc..las dentro dt um e:~ se:rn
!1ª
natul11aeclc'r qquc tais class1f1caçodes s,ªaºneira seletiva, que os espaços da inUtnci:irns?r,
recon os e n , 1 XIX · au
. 1de poder Esquec. em ,
soei a · · ente rcce ntcs · Já no secu o '
r
as cnancas qu e f
; · ·
"
re.
. nções sociais relativam 1 d" s ein um esquen1a que nao tinha represc:nt·
1nve 1 erain co oca a . ,, a.
qüentavam as escoas ,, ', . . " e não ''aprendizes . . .
. da infância. Eram sa~i~s 'd aço da pedagogia relac1ona-sc ao problc
ça 0 . . . d . pollt1ca o esp . . 1· . ma
A 1111 portanc1a a t ria social e os projetos po 1t1cos do sécul
Enquanto a eo - ú
rodutivo do po d er. . atores que govcrnan1 ou sao governados_
P a atcnçao em '" . ú
XIX concentravam SL~ . de poder_ hoje considera que, um problcrn·
que chamei e con
.d ceito sobe1 ano . i ·zaça· 0 das identidades . como constitutivas . de
ª
der é a espacia 1 . .
fundamenta 1d o po . A "i.dentidades" não são mais proc..luz1das apenas
.
sistemas de 1nc
· 1usão/exclusao.
. _ s'fica mas de um sistema . recursivo · de rcconhc:-
através de uma loc~hza('~~o geog ra 94 )' A urbanidade/ruralidade da cri anca e do
. t separaçoes vvagner, 19 . .
c11nen e ,° d l'ti·ca espacializada do controle da alma. O currículo
pro f essor e parte . d essa po to t
de vista parte de urn espaço d1scurs1vo · ·
no qu al os
torna-se. a partir esse pon '. _ . · 1 .
. . d · ( ofessor e a criança) sao diferencia 1nentc constru idos
stqe1tos o ensino o pr . . . fl ·
· d. 'd ·a se atito-regularem autod1sc1phnarem e rc et1rem sobre si
como m 1v1 uos par .' .
mesmos como n1embros de uma comun1dade/soc1edade.
·'bom
. .
a1Jrovcitamento"
.
quc·
, .
l1 u.;, b'1t·1'-mo mun do d o- ensmo
· unem-se nas praticas
, · do
cotidiat~o con o rac1oc11110 pelo qual as ações do professor e das cria nças são
1 0
constru1cbs .
A conseqüência da estrutura náo é a soma das diferentes idéias inas o resul-
tado d esse quad~·o re.fe rencial empregado nas práticas concretas do ensino e1n
sa~a. d_e .aula. Al,e1~1 disso, a normalização produzida inclui e exclui - não pelo
pnv1leg10 categonco d e grupos (por exemplo, brancos versus negros ou homens
versus in~tlheres), mas pela geraçúo ele princípios pelos quais os indivíduos cons-
troem a s1 inesmos como pessoas ativas e automotivad as.
, nh1dt _1_, - ·0es Ji ponívc1s na l1tc~at 1995 · McCarthy e Cn chlo\v, 1993) " ,
tras 1 til\ ·ii· s e late, , . . . • \,.sses
.
G ore. 199 2 · Ladson-B1 ing ,.. práticas d1scurs1va s do cotidiano p
- , - -oentraran1nu 5 " - . . . or
d1. cursos alternativos ~~cs abordam a construçao dos es_paços d1scurs1vos ern
i "º os cap1tulos scgu111 .. t raci alizados da pedagogia.
, , .d os os stlJ ei os - . " t. ,, .
que fora m const_r~1 d ·r unia forte reaçao, pois a rnge a sens1bilicla.
. 1 s1çao pode pro uz1 . . d. .d 1 ..
Min 1a po- que va 1onza n1. tii·to a iniciativa 111
. 1v1 -ua e o propos1to hti ·
de nortc-amcncana , _ t- es sociais. 1\finha 1ntençao, no entanto, não é
da um rumo as ques o . , . ,
mano cm r .bTu d s do Jluminisino. Minha estratcg1a e reconhecer
ncgl igcn~.iar ,c~sa~ :i~~t~ri~~n~e~te construído e é o efeito de poder. A crença, as
que o .ra_c1oc1!110 e t' . das das formas de ''razão" existentes torn am-se o prin.
supos1 çocs nao-q ues 10na . · . · -
cq1al probl ema a ser en tel1 . dido · Essa .postura não 1n1plica
. ,. a e 11n11naçao
, . da razão
., .
mas a exploração dos sistemas particulares de 1de1as pedagog1cas e regias de
raciocínio como os efeitos de poder nas escolas.
Assim sendo, tal abordagen1 desafia o determinismo do n1un?o, relativizando
e hi storici zando suas maneiras de "contar a verdade" e o "deseJO de saber''. Ao
questionar os sistemas que controlam as subjetividades. abrin1os a possibilidade
c.k rei nserir o sujeito na história, proporcionando-lhe espaço potencial para a
articulação de atos e intenções alternativos.
Essa abordagem metodológica deixa a cargo de outros, em investigações
subseqüentes. as qu es tões da resistência e das contradições existentes nos dis-
cursos do ensino. Estou interessado no sisten1a de raciocínio através do qual é
construíd o para a criança um espaço de urbanidade/ruralidade. Deixo para ou-
t~os, em épocas posteriores, a exploração dos conceitos de resistência que se
situam.~~ssas re!ações d~ pode~. Ao n1es1no ten1po, interroga r a pedagogia como
u_ma. P1atica de controle e uma intervenção política e um ato potencial de resis-
tcnc1a.
A organização dos próximos CJ ítul 0 · d ,-
gicos concretos através dos uais . P ~ concent.ra-se nos discursos pe ag~
dera a maneira como os d' q e co.n~truido o professor urbano e rural. Cons~-
co; a incorporação da at 1scursos
- sociais esta- 0 inseri
· 'd os no rac1oc1n10
· ,, · ped ag o' ti01-
. ençao pas toral n · l · · · o
1
conhecimento experiencial d0 . ª
. ps1co og1a do ensino; a receita e
· 1·inas escolares Ao
d 1.sc1p . ensino e ' ainda , as f unçoes
- soc1a1s · · d'ls
· · da alqu11111a u
. ,. . · pensar sobre es d· . .- ~
vezes retorno a eventos e e t . ses iscursos con10 tuna estrutura, a:,
- d - ,- n revistas p t' ,
veis e ideias para urn qtiad f e: ar icu 1ares para explorar os nn~rltiplos ni-
Vi 1 ro re erenc · l (.
1 o tando a um ponto a11t .
en trada p ,
ia que nonnaliza e exclui.
cnor o Tcacl1 p d
.~ ara se considerar as cat ' . --or A111erica oferece unia porta e
mam a urbanid d / . egonas e 0 · . . · -
as estratégia d . ª e ruralidade das esco1as d E s pnnc1p1os educacionais ~
qu e 1or
· ·
rn is" s e iefonna do Tff\ v· , os stados Unidos. Por isso, emb 01 ª
para superar as ínadequações1~~~ a~, e.scolas do "centro da cida de" e "ru-
Pt aticas educacionais as id éias sobre 0
'
LUTANDO EM DEFESA DA ALMA 41
Centro da.cidade
, . e a área rural
~ enti·el açam-se com outras relativas
· ·
ao desenvolv1-
111~nto psicol~gic? "t~tn~ult_:iado" .da infância, às concepções do ensino das disci-
plinas es~o_lat es, as d1shnçoes de mteligência , às tecnologias de manejo da classe
e ª?s pos1c10na~1 ~~tos sobre resultados educacionais . A estrutura das idéias atri-
bui valores e ,dtvtsoes n~ que se refere às diferenças subjetivas das crianças. O
qu_e exploro e a prod~1çao de.s se espaço para as crianças, mas os discursos da
reforma pennanece1n inquestionáveis .
NOTAS
1. Antes do primeiro Summer Institute do Teach For America fui solicitado a fazer uma
avaliação externa do programa. O objetivo era entender sua~ práticas e seus processos
como socialização. No entanto, a noção de socialização na avaliação foi diferente das
visões convencionais. Em vez de considerar como os alunos adotam ou adaptam as
práticas existentes, ou como negociam os significados, adotamos uma visão de socia-
lização relacionada àquela de uma sociologia política do conhecimento (ver Popkewitz,
1991).
2. Muitos artigos e editoriais do The New Yorh Times, reportagens sobre os novos pro-
gramas da rede, um PBS especial e reportagens publicadas na Newsweek, US News
and World Reporte na revista Forbes deram uma interpretação um pouco romantiza-
da dos esforços do TFA quando este foi constituído e começou o primeiro treinamento
de verão.
3. Originalmente, pretendia-se que o estudo durasse três anos: dois acompanhando os
membros do programa e um escrevendo um relatório. A coleta de dados foi concluída
após o primeiro ano, mas foi concedido um segundo ano à escrita. A interpretação
contida neste livro foi enviada ao TFA para comentários.
4. Embora eu discuta os discursos da pedagogia através dos quais o ensino foi construído,
é importante fazer aqui uma distinção entre o modo como os discursos da pedagogia
construíram a "raça" e a composição racial dos membros do programa. Aproximada-
mente 29% desses membros eram pessoas de cor, incluindo aquelas que se formaram
por Instituições afro-americanas, como a Howard University, o Morehouse College e
o Spellman College.
5. Por exemplo, pode-se comparar as diferenças na organização intelectual e nos temas
deste livro com um ensaio que escrevi quando iniciei a análise dos dados para enten-
der como a teoria está relacionada com os dados empíricos; ver Popkewitz ( 1995). A
problemática do poder e do conhecimento está em ambos, mas seu desenvolvimento
essencial é diferente.
6. Uso a "literatura" singular, mas estou referindo-me a uma literatura diferente, que é
classificada em uma temática irregular, que estou chamando de "pós-moderna". Além
disso, meu interesse pela literatura pós-moderna é entender as contribuições teóricas
recentes para 0 estudo das políticas do conhecimento; não é para proclamar algo como
"pós" nenhuma outra coisa.
7. O enfoque da representação de grupo é importante porque tem havido uma exclusão
sistemática ele diferentes grupos ele pessoas nas esferas social , econômica e política.
Ao mesmo tempo, precisamos considerar os sistemas ele conhecimento que geram
princípios de participação por duas razões importantes. Em primeiro lugar, o enfoque
42 r1toM AS s. rorKEWITZ . ~
.. t . tando de alguns .s1stcn1as
.. · a crnbot t.l ra . de exclusão catcg . .
sobre quem pai t1c1p ' . , . s através dos quais os sistemas c.lc inclus·- úricos
. ler os pnnc1 p10 . . ao e ,
não ajuda a cn l cn<. g~u conformc argun1cntarci mais adiante . exclu.
s Ern scgunc1o 1u '- ' . .1 d' . 'os siste
são são gcrac.lo · . . ,111 através das inscrições ue 1spos1ções e sens·b·i· n1as
. .- cxclusao ocon e . 1 i 1d 1
de me1us.10 e · , A b'to administrativo que este cstuc.1o está intcrc ac c~
·ão E nesse am 1 . ssact 0
para c_on~ a aç · d· , como Durkheim (1938/1977) habilmente exploro ·
8. Isto nao impede a ~11u_ ~!1çaâo do questionamento através do trívio da univeu c.1uan.
do falou sobre a mt1ouuç rs1dade
medieval ·.1 · l' · ,1 ·
·f de estrutura refere-se a um scnt1uo soc10 og1co uc con1untos de ict ··
9. O uso que aço . d ,1 d elf Ess , d'f e1as
que se unem para construir ~s o~J~tos o munuo ~ os . . . e uso e t crente daquc.
le comum nas literaturas psicolog1cas na educaçao, que falam da estrutura como u
uso de _ e construção sobre - impasses para desenvolver desempenhos individua~
adequados.
10. Do ponto de vista ideológico, alguns mem~ros do prograr:ia falaram sobre as conseqü.
ências do racismo e da pobreza, embora nao houvesse unidade den~ro do grupo. Algu.
mas pessoas de cor falaram, por exemplo, sobre voltar à sua comunidade e "retribuir''
devido às vantagens que tiveram em ir para as escolas da Ivy League. Outras també~
falaram que crescer na comunidade em que ensinaram permitiu considerar melhoras
dificuldades que precisavam ser resolvidas. Outros men1bros falaram sobre o racismo
violento. Os gays e as lésbicas que eram membros do programa enfocaram as questões
de gênero, mas não houve nenhuma estrutura interpretativa das questões.
Alma como a Realizacão
do Ensino: O Espaço Sodal
da Criança Urbana e Rural
?s ~lunos precisam ~le inglês ... precisam ser capazes de escrever frases simplcs cm
mg~es ... de conduzir uma conversa sem dizer "ain't" ou "got none", ou coisas
a~sim .. . Ner:hum ??s meus al.unoAs precisa aprender espanhol, mas todos eles pre-
cisam de mais habihclacles no mgles. Urgentemente.
quais .a instrução
. . é. organizada · H a, t am b em , um reconhecimento · ·
da d1sfun-
cionJltdade
. , 1nshtuc1onal
· " da prótJria educaça- 0 , poi· s sugere que o me Ih or cenano
-·
Poss1vc
· 1 e as crianças
. passarem po r a 1·t sem serem permanentemente magoa-
das''. O. questionamento
. . _ _ do
, ensino do espanI1ol esta' 1·1gad o a uma percepçao - de
que ~ 1nst1t.uiça? nao esta tendo um funcionamento adequado com relação ao
curnculo oferecido.
Poden~os en~arar tal expressão cio propósito do ensino de várias maneiras.
Uma dela~~ considerar.º esforço do membro do TFA para confrontar as dificul-
dades cotidianas do ensino e reordenar as prioridades de forma a ter um ambien-
te de classe in_ais_ hun1ano e desafiador. Aparente e inquestionavelmente, pode-se
pe~s.ar ~as pnon?ades atuais de se ensinar inglês em vez de espanhol como uma
ev1denc1a, nessa interpretação, do confronto com as dificuldades da classe.
1
Tan1bém pode111os considerar as distinções e as categorias como não neces-
sariamente aquelas do professor, mas como conjuntos de singularidades histori-
camente construídos que geram princípios para os atos do ensino. Ou seja, as
prioridades arroladas no ensino não são apenas "crenças" pessoais, mas catego-
rias e singularidades produzidas que ordenam o que é examinado como sendo as
práticas de ensino.
Deixe-me explorar essa qualidade historicamente criada do discurso do pro-
fessor através da declaração do membro do programa sobre as "necessidades". A
interpretação das crianças cmno tendo carências associa-se a uma metáfora bio-
lógica sobre o que é natural para as crianças com normas sociais que diferencia1n
o uso de palavras como ain't e got none. A diferenciação lingüística das necessi-
dades interpreta as crianças de cor como não-normais ou anormais em relação a
algumas normas não-expressas sobre a relação da identidade com o uso da lin-
guagem.
Aqui podemos começar a entender que o discurso das necessidades que
explicam as diferenças está incorporado em detenninados discursos históricos .
Os discursos são mobilizados para crianças consideradas excluídas da inteligên-
cia normal e que de algun1a forma precisam ser resgatadas ou salvas. As "nor-
mas" dessa inteligência, se uso o exemplo acima, consideram alguns estilos de
falar como "naturais"; poré1n, o "norn1al" não é examinado ou inspecionado. As
crianças que têin a urbanidade/ruralidade passa~n a ser considerad~s como não-
naturais ou não-nonnais, pois carecem do que e natural. Na n1ane1ra de ver da
entrevistada a nonnalização das crianças por seu uso/não uso da linguagem não
é explicitada', mas está itnplícita nas diferenciações lingi.~íst~cas que as sep~ram.
A descrição das habilidades de escrita e co~v~rsaçao e, ~ortanto, mais q~t e
uma expressão de esperança e intenção das prahc~s de ens1~0. A ~ec~araçao
abarca um conjunto de normas inscritas nas cate~onas _e nas d1ferenc1açoes que
distinguem as crianças da classe de ou~r~s que ~~o estao presentes. As.n~n_nas
não aparecem como singularidades soc1a1s e poltttcas, mas como ~s sub1ehv1da-
des das crianças _ normas que situam as "necessidades" das crianças em um
contínuo de valores que estabelece a diferença.
.f6 TI tO•l;\S S. rc:>rK.E\\'rT"Z ...__
- . lês está misturada 00111 outras singularid •
'd
A .. necess• a ed • de apreudcr
• ··a ing
lar" comum·d ad e que e·onstmcm um espaço a
• sobre rcaliza~iiu. comp~tcuci :tiro de rderê11ci<1 torna-se aparente à ntcdid•
de.. " n,.., Esse qti., é d . "
. ,,cial quo siwa "cr1<1 '" .. 1 ·e .1• sin••ularidadcs atrav s as quais se deve
" l d 'ff:A cstavc cc • "
. "
que tl il1!.!lllb1<) o do ensino.
tentar rcsulver o problema
• • __ <IO.$ fl\inhus
111
crini1ças .. . Não pcn:cbia que a n1inha <>ri~em
Eu não cn cend1a a orlgc d'a ir para casa e cstudur ll'rltô quanto eu quisesse
1 ~uro onde cu po 1 d ·
(oi um ug_ar se· •. lêm sorle se ptidcrem dormir cm casa, que irâ fazer Qu.al-
5
Enquanto esses memnn ssistir it 'IV Tudo o que eles fazem quando estão em
tra coisa Ate mcs1nu a
qutr"" . · . .1 ... 0 com eles e .reccller no rosto a f umaça dos S<.'Us cigar.
cas» é ouvir seus pais gn ~'"' 1 é • d 'd
.
ros e coisas d
esse• t'1po. lNão conseguem estudar. Ea• coco a t~o.. estru1 ora ~
quanto
. ·ia pressão J>ltf.1 l')iio se aprender; lta tanta prcssl:io para nao se fazer
o Jar . . . H a nlu1 t s Jodem es ,
0
que se esptra de ,,0cê, que o 1náximo que esses garo o J perar e passar
por aqui sem sercn1 o te1npo todo inagoados.
criança co.mo "carente", mas sugerem que, com a "atenção" adequada e com o
desenvoh1 ment? das ''subjetividades" adequadas, os déficits podem ser transfor·
mados_ em quahd~des positivas. As classes são organizadas para trazer à tona
algo nao reconhecido . . - ou se·Ja ' uma capac1.dade ou um potencial . que se presume
estar dentro do mdivíd · d . , .
.
des tmam-se ostensivamente . d . uo, mas am a nao esta visível. Os n1étodos de ensino
. ."
Dessa 111 ane· ·
ira, a criança que c
ª a1u ar as crianças a "desenvolver a inteligência ·
d ,
recolocada no 0 t d d arece as norn1as "adequadas" para ter sucesso e
u ro 1a o 0 ''du l0 ,, . . . . ·
existe nas imaoens do P - a criança que te1n potencial e 1ntel1gencia
dos outros esp~ços . espaço urbano e rural que é classificado con10 diferente
O ''duplo'' transforma no t' . . . ..
potencial posicionan . rma ivamente a criança. As palavras i11te/1gencra e
. 1 a cnança em 0 Ih do e
examinado tanto en1 s
· -
posiçao como o ''outro" a ser traba
eus aspectos n ega t'ivos quanto e111 seus aspectos posi·t·ivos ·
ª
LITTANDO EM D EFESA DA ALMA 53
:\ n t'~a,
tiYid ~de •~ di'St'
~
'ad'u") e rec1ass1·r·ica d a para cnar . um propos1to ; . para o ensi- .
ne . O nonnal . · d ,
nao é 11131·~s pi·obl ema t 1za .
o; e assumido. , disso
Ale1n . essa natureza
nssunu d3 constitui t1111 esp ,,'") ço q ue nao - e, a t n·b u1'do a- criança
· ur ana; rura t . o
'b
csnJ 'O do "n 01· · l .. ' ·
r-·' . lll3 e socwlmente construído de um modo que torna impossível
P :ua a cnan
. ·a urb·l11"
" "·/ rt11··1l
, es t·'11· na 1ne' d 1a
' ou ser norma l. rr..1a t natureza nao- e; uma
et n 't' 1) '°l ) dct ..
. r- •
· · b. l ' ·
, ~ rn11n1 sta 10 og1ca e neutra da infância, mas sim uma concepção
r~l ~(t~nada a s1tuaçjo social e às indeterminações do ensino (o potencial da inte-
h~en ·1a "das ruas") .
. Por isso. en1 un1 certo nível, a discussão pode ser interpretada como a inscri-
ç~o de cl~sse _e de raça nas distinções do sucesso escolar - as crianças afro-ame-
n 3nas sao diferentes do que é norn1alizado como "sucesso" na escola. Poré1n
ess~ distinção transforn1a o problen1a en1 um problema das categorias dos atores:
e nao do 1nodo con10 tais categorias geram princípios que comandam os sujeitos
d3 ação. A detenninação das categorias perde a visão de como as distinções e as
separações produze1n-se e são produzidas no campo de relações sociais desi-
guais. Se un1 conceito fixo de inteligência fosse usado para descrever as ações do
professor, não seria possível falar sobre a inteligência ou o potencial das ruas. E1n
contraste com un1 conceito fixo de inteligência, a racionalidade prática do ensino
é contingente e fluida. O espaço ''racializado" e "classificado" da criança é produ-
zido através do amálgama de diferentes conjuntos de distinções que constroem a
"urbanidade' e a "ruralidade".
Estive explorando, até aqui, u1na estrutura de idéias através das quais as
ações do professor ton1an-se inteligíveis. Concentrei-me na maneira como as nor-
mas da diferença são discursivamente construídas por meio das normas da igual-
dade. Defendi, por exen1plo, que os binários de inteligente/néscio, branco/negro,
ainbicioso (sonhador)/ indiferente incorporam normas de padronização a partir
das quais foi construído o segundo pólo opositor da diferença. Além disso, o que
parece ser elemento negativo nas subjetividades das crianças nas escolas é reins-
crito con10 algo positivo, a ser trabalhado para resgatar a criança. Chan1ei tal
inscrição e reinscrição de um "duplo" . O "duplo" toma a ausência da razão na
criança e a refaz como uma presença positiva a ser esperada pela instrução cuida-
dosa e criteriosa. Poré1n, a presença do "duplo" sempre torna o espaço habitado
por algo que é diferente da n1édia, do normal e. da r~zão. _E~1bora pareça que essa
relação de º duplos " desafia o n~sso senso de s1_metna e lo_g1ca, a pres.e nça de tun~
inteligê ncia e de um potencial das ruas~ e ~onstru1da a partir do que e
discursivamente posicionado con10 uma ausencia.
- - - -- - - - - --- - - - - - - - - - -
~s~:__.:.T1~10
~~1.::_
s ~s~.~rc~)~r1~
<r.~
. w~1~T~z----------------------~~~~~------------
. . !' 13 J Nao - e, 1a10
. . cl,..,ssi·J·
,, 1·cndar
" as crianças con10
. membros, .....,4;1i:_:;-- ..:..
t.. •
Acho o relacionamento muito parecido com qualquer outro em uma área muito
misturada, onde a escola, a Associação de Pais e Mestres e todas as diferentes orga-
nizações que têm algum efeito sobre o modo como a escola procede são dominadas
por pais brancos da classe média alta. A escola responde mais às suas exigências.
Não creio que seja pelo fato de serem ricos. Não acho que seja pelo fato de serem
brancos. Acho que é porque eles telefonam, vêm aqui e infernizam a vida da gente
se não fazemos o que querem para seus filhos. De volta à reunião à noite na escola,
a presença era exatamente o que você esperava. Havia, na classe dos homenagea-
dos, cm sua maioria brancos e da classe média alta, muitos e muitos pais. Na minha
classe dos não-homenageados, os muito poucos que apareceram eram os pais dos
poucos garotos que estavam indo muito bem.
De certo n1odo, podemos pensar nessa declaração como evidência das dis-
tinções de classe e raça na definição da competência das crianças. Contudo, es-
sas classificações sociais e raciais seguem junto com outros conjuntos de distin-
ções que enfocam as disposições, as sensibilidades e a capacidade da criança. As
identidades resultantes são racializadas, mas em urna estruturação complexa e
indeterminada 1nais fluida e contingente do que fixa e estável. Podemos compreen-
?er tal indeter;ninação na discuss~o sobre o su.ces~? e o fracasso ~as crianças. A
inscrição de um "duplo" - os "pais brancos, ncos .v~rsus os pais de a~unos da
classe não-homenageada, cuja maioria não ~arhc1pou, - en~olve d~scur~os
assimétricos o discurso sobre o sucesso das cnanças esta relac10nado as açoes
individuais dos pais que respondem e exigem ''o que querem ... para seus filhos".
O discurso sobre 0 fracasso aparece tendo corno base _comportamentos " corret~s"
edificados sobre um raciocínio probabilístico (populac10nal) que arrola alg~1ns prin-
cípios morais/sociais universais sobre o modo como uma pessoa deve agir.
. r orKCWITZ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
56 1
r110M 's s. .. . ·ações não são redutíveis apenas ~
- , d1fe1enc1 , . 1-- d a
as distinçoes e. "1s . ão ele nonnas n1ult1p as o espaço ocupa-
No entanto, . envolvc1n a i~se1ç, clefíne as crianças que têm sucesso na
, classe mas d discursos . l - b
raça ou a . ' 'A assimetria os - classe 1néd 1a a ta e sao rancas _ ein
do pck• cnançla. qt~e em geral, pe1~tence1n ~o são. A aparente rejeição das distin-
la aque as · ,, cnanças na . .
esco .' ~ que as ··outras ' . na verdade, repos1c1ona e vincula as
P os1cao a a1g0 izar o ens1n 0 , . , .
º.oes d,e c1as·se social
.
para organ ' _ xanlinadas para organizar praticas_ as
. ·mas nao e ' . ·
Ç
. . - s sociais a outras noi , facão que definem o aproveitamento ein
d1s~in~~~a racionalidade aplicada a popud'a~"· as regras da racionalidade popular
n01m d ão-homenagea ' ' . .
··classes homenagea as / 11 . - -envolvimento dos pais proporcionam uma
volvunento/ nao .
que dispõem sobre o en , d .. _ qtte originahnente, parecem categorias
T ·d de as 1v1soes '
maior es~eci ici ª. ' . de rico e branco. . . . . .
indiferenciadas e universais , . parado nas ações 1nd1v1dua1s dos pais que
Enquanto o .norma, .:: ~~;~~~~idas", os discursos históricos relacionados à
1
1
representam as cr~anças _ obilizados e funcionam para colocar a criança ur-
.da de das crianças sao m . - . , .
capaci f d l'dade o discurso de opos1çao emprega um rac1ocm10
bana/rural ora a norma i . . d . d l .
· t a não-norn1al algo a ser caractenza o, examina o, e ass1-
popu 1ac10na 1que orn 0 . . - l' - o
ficado e definido através de categorias de partic1paçao _e re_a 1zaça~. normal
existe dentro de uma rede con1plicada de discursos que nao sao examinados, mas
tornados naturais nas imputações do que não é normal.
o raciocínio das probabilidades no agrupamento populacional de crianças
não ocorre isoladamente, mas em uma estrutura de idéias através das quais uma
··natureza" é atribuída à criança. Essa "natureza" incorpora normas de compor-
tamento, competência lingüística e habilidades que "tornam" a pessoa educada
(Fendler, 1998) . Um membro do TFA, por exemplo, descreveu as crianças da sua
classe como um grupo unificado e comparou-as co1n seu próprio irmão, que "tem
a idade desses alunos e está cerca de quatro anos à frente deles na escola. O modo
como ele age e a maneira como foi ensinado e educado é a maneira como ele
consegue relacionar-se com as coisas".
Uma série de normas posiciona os alunos de uma forma que os diferencia e
separa dos outros:
A estrutura das idéias exploradas até este ponto clasifica a criança cmno
normal ou não. Isso acontece através do arrolamento de um contínuo de valores
que situa a criança "urbana" e a "rural" em um espaço discursivo que está em
oposição ao que é ''razão" e aproveitan1ento/sucesso. Os binários, os "duplos " e
a racionalidade aplicada à população, por exen1plo, encaram as ausências de
razão como as presenças que os professores elaboran1 e cultivam. Contudo, a
inteligência e o potencial das crianças não são de algun1a habilidade " natural", e
sim aspectos da vida que deveria1n tornar-se visív~is e cultivados para resgatar a
crianca nas escolas do 1neio ~·ural e do centro da cidade.
 nonnatividade tornou o local da batalha con10 aquele do resgate e do
cuidado da criança. O que c01neçou co1no re.sponsabilidade cív.i~a foi transfor-
mado e 111 uin poder pastoral para resgatar a criança. _A responsab1h~a·d·e moral do
ensino é orientar "a alrna" - crenças internas, sentm1entos e sens1b1hdades que
geran1 as ações. Utn meinbro do TFA descreve nos seguintes tennos a mudança
na relação entre professor e aluno:
Minhas expectativas eram que (rindo) - oh, eu me acho um idiota - minhas expec-
tativas eram de que eu viria para cá e apenas ensinaria; e meus alunos ficariam tão
impressionados por ter este maravilhoso e sábio professor, que simplesmente se
embeberiam em todo esse saber e que eu jamais teria problemas. Iriam todos me
respeitar, porque eu estava do lado deles, e porque eles respeitavam alguém que
sabia o que era ensinar. Isso mudou. Minhas expectativas agora são que eu pelo
menos seja capaz de mantê-los vivos, de evitar que sintam aversão à educação ...
chegando ao ponto de achar que não podem fazer nada.
O PROFESSOR COMO
UM EXEMPLO: AUSÊNCIAS E PRESENÇAS
d , Nos exemplos anteriores d . .. . . d pJica-
a a população desl ' po en1os 1dentrf1car corno a rac1onahda eª a
cat · oca-se de u1n · , · ara u!11
eg_o~ia de identidades . ª
categoria de 1nanejo burocrat1co P TI;\ 4>.
_ - . 1 11
d as crianças que ian1 dà escola;
·1 penas . .
o discurso g
erou
ficaçoes nao ci~ e; en 1bros do TFA a qu1nran1 a sensação d os
traves dos quais os 111
•
. , . ,. . d . e auto
pnnc1p1os a '" ~ . d correntes do propno ato e ensinar. ·
. f - compctenc1a e . d " d
satts açao e , t sões na ''racionahda e os membros do TFA
Mais uma vez, 11a en ·c.1 , . d 1 . que
.t s interpretações. A I e1a e exernp o, assun como a icléi d
aponta~n para mdu~la arece razoável - os professores devem dar esperan a e
Potencial antes e a, P
_ , 1
. d ·
. lentora do ensino. Mas quan o st 1uamos as ideias n
. , Ça e
expressao a cu tura 1ec , 1 . . , a es.
·t·
trutura par icu 1a1. das idéias atraves da qua raciocinan1os
d. . - e construunos
. . _ 0 pro.
fessor urbano e rural racional, en1ergen1 al~un1as tstinçoes e d1v1soes. Nesse
momen to , Precisan1os voltar a un1 te1na continuo . - neste
,. estudo:
· 1 a "razão" do en-
· da aprendizagetn da infância e da rea 11zaçao e soc1a mente construída em
sino. e; 1d r ·b·ru d
um terreno onde há uma distribu.içã? d~s~gu.a. a e igi t .1 .ª. ~ para a pa.rticipa-
' •
din1e11SiLo <lc g~r1 cro lltl <.:0111p•11:ução ~ntre cria11ças aJro-u1neric.:t111as e latinas, rt\US
co111 a ce>i1clu sno O(>Osta Ele situou <1s 111111J1eres afro-a1ucricar1as C(>JJl<> '*náo n1uis
p<>ssui~ms d~ Sl~<l;~ habili?<1clcs de m•it>S" e relacionou tal ··caréocia" ãs "garotas que
est.ii<.> l!l'U\1 1das e •1 • tlcsistc11c1a ~ln esc.:ola "fa zc11do" u11l clisct1rso pc>lltict.l par[ ict1lar
11
,
I~
suas idc~1tidade.s,
n.1inha estratégia é interrogar as práticas de normalizaçào que
difcrcn.ciain~ e ~l~tn~uc;n ~s ,?iferenças; deixo a cargo de outros a discussão dos
111ccan1s1nos de res1stcnc1a . As regras da razão e da inteligibilidade na escola
forma1n un~a ca1nada de narinas não examinadas sobre a qual outros debates,
mais consc1ente1nentc acessíveis, são colocados. É através dessas regras e pa-
drões que o poder é desenvolvido e a resistência inscrita, e eles têm permanecido
inalterados, apesar dos constantes esforços de refonna que são o enfoque deste
estudo.
NOTAS
A Autodisciplina da Criança
"autodisciplin~ d ,,
ton, .:ando-as. ··auto111otivadas",
. ,, . a as e possuído d r •
. gcl11 positiva . ras e uma ·'auto-
1tn3 'l l
L
. . , .
oncentrou-se no objetivo instru1nental de as cr~ en.sin~ da historia. A estratégia
e - ~ b. l . t, . d . . ianças aprenderem "hist, ., " A
·nstruçao era so te a us una a dtscnminação soe·1 1e a representacao- ona .
1 • ·d d
tndicionalrnente on11tI as o currículo escolar O t d f .
ª de
: . pessoas
' · , .· .· , . · es u o 01 dos ind10s ma ·
de uma h1sto11a esc1 ita por un11nd10 pueblo A liçã 0 . d . , . ias e
- d · · r · , · parecia e m1c10 enforcar a
produçao e IllJUS iças, isto e, a destruição da civiliza - '. . ' . . _
sofrida pelos índios pueblos na escola. çao maia eª d1scnmmaçao
, Estava inserida
. . na discussão sobre a história dos n at.1vos americanos · uma
parabola sobre. a cnança·dque carece de n1otivação e de auto- es t.1ma. 0 t erreno
Para. o enten d.unento . rap1 ainente. se deslocava para a manei·ra corno as cnancas
·
pod1~m e devian1 hdar consigo 111esn1as. O resumo que 0 membro do TFA fez ,da
aula inverteu o enfoque de estudos sociais para a atenção pastoral:
Espero que eles perce?am o_ que ~á dentro deles e, quem sabe, dêem um passo à
fre1~tc e percebam que isso nao esta certo. As pessoas deveriam ser tratadas pelo seu
carater. Espero que alguns venham a aplicar isso de uma forma mais ampla.
Sou,m.uito pró,digo nos prêmios. Trago-lhes balas, chocolates, deixo-os irem embora
no ultimo P~nodo. Deixo que desenhem ou façam qualquer coisa que gostem de
fazer. Ou deixo ~ue assistam a um filme ou algo assim. Porque não posso obrigá-los
a fazer suas atnbuiçõ
. es, mas posso recompensar aqueles que as fazem. E, mesmo
~queles que dizem que não se importam depois de algum tempo começam a se
importar. '
[Se] você não estiver comprometido, [e] não tiver aquela paixão, terá problemas no
manejo da classe ... Se estiver comprometido em realmente ensinar e tiver essa
paixão, os garotos sentirão isso. E isso faz uma grande diferença. Porque eles po-
dem dizer quando alguém está na classe e não se importa.
O reg1s· t ro d a ps1co
· lo g·a
1 produz nonnas
. de redenção, voltando
" sua
· atenção
f
para "a alma" da criança. o objetivo do ensino er.a dar aos alunos muito re orç?
positivo''. o reforço incorporava uma visão parhc~tla.r ~ue conectava o entendi-
mento sobre o automanejo da criança que é autod1sciphnada.
~76~~Tl~l~O~~l~A:s~s:·~r~o~rt~<E~·\:Vl~T~Z~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~---
. , . , , ompo rtamentaJ . Isto s:gn!fi:a c ~z~ .. ex~t2_-- ,.l">
·I lma1s ut1 1c ac . ·. ·- · ~
nei ra mais sunples . potq ~e r:"leu s gã.rctos . ., ~,
I!"' . ••-
Para mitn , a abo1c agcn . d
· n tazcr a ma - · · ·· ~ ..,
te 0 que eles prcc1sa1 . , • d 0 e po r que. Isto nao tun ~1or.a co;;i e'. es. ~ . .
xpl1 caçoes e co m f d d rl , - J
captam as longas e. 1. zcr e 0 que e stão azen o e erra .... o. E co::-.G5.'
. b . atamente o qu e a . ~ . -
precisam sa e1 ex , . - e devessem es tar emca. . .xo .
suas mãos estivessem la cm c11na
. - do multiculturalis1no, t razid a para o Te.ach For
At ' 111esn10 u1na d iscussa 0 b·1 ·d d ·al d
e . d lidar com a responsa t 1 a e soei o ensirw. é
America co1no uma n ~neira _e olóoico o multiculturalismo foi entendidn co~o
1
Ae ho que el es precisam de mais pessoas no corpo docente com uma base de Ps:~{r
· l rai · · •·
· Grande parte do que foi dito no contexto do mu 1ucu tu ism o tem rnpi:ca-
1ogia. - . l d . l d ..
ções psicológicas e, muitas vezes, as questo_~ toram re_ eva as s1mp e.smente e\1do
a uma ausência desse conhecimento espec1hco no recmto.
. ..
discursos.
•
a nle ·
. ,3 t!
manejo de classe t- . . ça e constnuda. As ide ias de auto-esun.
es ao inseridas em . . ~
duz un1a criança que e'
,
r·
con inada p
un1a estrutura que sepa ra , distingue e P
· f' · ·a
e transforn1ada em objeto das , ?r agir ora do nonnal e do racional. ·~ ~ nan~re
se espera que "patrulh ,, praticas do professor assim como u1n su1e1to qt
. _ e seus - · · · ' · 1-
posiçao de autodisci·p1 · A propr_ios hm1tes através da aprendiz3gen1 e da líl
- ina. s quest d .. · pt"'-
çao e auto-retificação qtte f' t oes e poder volta1n-se para u1na auto- 1ns
a e a1n ta n t 0 0 f · · ·o a
pro essor qu a nto a c riança. Po r l=>~ ··
psicologia da criança náo é u1n discurso sing 1 .
J1las está presente en1 t1111a estrutura. u ar e particular sobre a auto-estima ,
Dentro desse espaço, o n1áximo que as c ·
se parecidas con1 a pessoa nonnal. Assii nanfças poder:i e~p~rar é tornaren1-
- n, os pro essores d1sc1phnam suas atitu-
des e c1noçoes para que aprenda1n a renunciar a , ·
nais a elas atribuídas con10 psicológicas e p;ssov~nas características populacio-
a1s.
. Historica1nente,
_ ,, " . as
. tecnologias
_ do. "conhecer a si mesmo" , at os d e ,, au t o _
r~a ltzaç~o. , a n1ax1~1zaçao do potencial humano", ajuste emocional e eficiên-
cia c?gn1hva fora1!1 al_inhadas com os objetivos sociais e o planejamento estatal
no seculo XX. Foi a isto que Foucault chamou de "governamentalidade"*. Os
caminhos da salvação na escola n1oderna estão superando o "atraso" desenvol-
vendo o "potencial", substituindo o que está "faltando" na criança e c~nstruindo
a "auto-estima" - tecnologias da atenção pastoral para o gerenciamento e o
autogerenciamento. Essa relação do planejamento estatal com a atenção pastoral
da criança é agora parte do próprio ensino, ou seja, as suposições tácitas através
das quais a prática é organizada.
Havia programas escolares que alinhavam os objetivos sociais com a alma
da criança, vistos como proporcionando práticas de ajuda para apagar as limita-
ções "cognitivas" da criança através da extinção dos déficits psicológicos que
impedem seu bom desempenho. Esses programas especiais, dois dos quais serão
discutidos em seguida, assumiram racionalidades estatais para dispor as aborda-
gens de resolução de problemas ao ensino em classe e remediar as dificuldades
que as crianças enfrentam nas escolas. Funcionavam como classes "extras" n_as
quais as crianças de uma escola eram identificadas como carentes de ajuda. As
vezes, a ajuda tinha um enfoque de "conteúdo", como aprender a ler. Porém, tal
enfoque explícito em um sujeito da escola era associa.d~ - e, em ge.ra~, ~ncluído -
aos discursos da ajuda, que incorporavam uma rev1sao d~s s~b~ehv1dad~s da
criança. O objetivo dos progran1as especiais é ~ resg~t~ p~1colog1co da criança
através da reconstrução de suas capacidades e d1spos1çoes internas. .
O Project Attainment e 0 Crusade são exemplos ~e c01no explorar a con~b1-
nação de planejamento estatal, os discursos de resoluçao de probl.emas do ensino
e o arrolamento da atenção pastoral.1 Esses programa~ foram. !ns~alados para
· d · t. e a descobrir expenenc1as de apren-
a1u ar as crianças a desenvolver auto-es ima . . , .
dizagem importantes para obter sucesso. Todavia, os discursos pedagog1c?.s c~n-
cretos norinaliza1n a criança em um espaço diferente daquele da p~ssdoa ~ac10-
" · alizam a transfonnaçao a criança
na l . Os programas são tecnologias que norn1
no "outro", enquanto produze1n u1n self interior autocontrolado.
· ª
- - -- - - - -- - - - - -- - - - - -- - - - -- - -- - - -
---
80 THOl\1AS s. roPKEWITZ ---
Acho que a coisa mais importante é aprender con10 conviver com as outras pessoas.
Quer dizer, acho que é isso que a educação pode nos ensinar; é o que a literatura,
em especial as ciências sociais, todas essas coisas, cnfirn ... a gente espera que a
aprendizagem possa nos levar a compreender, e se conseguinnos entender alguém,
sabe, não creio que possamos ser seus inimigos ou ter ódio dele.
'* N . de T A s t ·
. res artes liberais da A t . . .
- - - - - --- - - - - - --- - - - ---- - n igüidade: gramá tica , retórica e dialética .
- - - --- - - - - - - - - -- - - - - - - - -
- - - - - - - - - -- - - - - -
os alunos querem orientações explícitas 0 n ,
• - umcro da página 0 . , f
tido para que possam sa b er exatamente onde cnc t ~ _ • ~ctr<J gtZJ <1 a ~çr
1
esqueça. Eles não lêem seus livros didáticos qu~~d~\~~~~)~c natJ cst1vcr cm nr..:w1t.r1,
Meus alunos fizeram comentários racistas, mas não deixei que falassem nígger na
classe. Eles constantemente se referiam um ao outro como nigger, mas eu não per-
mitia essas coisas. Eu nunca havia sequer ouvido comentários racistas cm un:ia classe.
Como falamos sobre os chineses hoje ... Eles comentaram que todos os ch.mes~s se
pareciam e cozinhavam realmente muito bem. Estávamos simplesmente discutindo
ISSO.
.
Embora o "diálogo" fosse retoncamente der·mi"do corno forma de promover
. _
um processo analítico de valor neutro, tinha
· ·t f
mui as un ções de normalizacao. .J
---
*N· de-T:N-· - - -
. ---
· tgger significa negro, mas com uma cono
- - - -- - - - - - - - - -
.
tação peJ· orat1va.
- - - - - - - - - -- - - -
- - - -- - - - -
' (.' 1'(1rl<l·:Wl'1'7. ------
8~ TI tOl\1.'\s
• ·"' ·
GOVERNAMENTALIDAD _
ESPAÇOS SOCIAIS DA E~U~TEN_ÇAO PASTORAL E
AÇAO URBANA E RURAL
N~ste ponto, convém obse . , . :<-
to d.a discussão de Foucault (19rvar os pnnc1p1os da atenção pastoral no ~ontc 1
fal~i sobre ela como um 10 79 ) sobre a governamentalidade. No Capitulo '
do md·ivi'duo. No século XIX
e entre ,o .go verno d o Estado 1noderno e o autogo· vernº
. ,
1 1
~e~~:rte d~ g~vernar. As táÚ~~staticas do Estado foram trazidas à vida cotid .;;;1
nça institucional rac1· Ide reforma do Estado envolviain não a pen .. .11
ona mas t b, - e un •
' am e1n uma individualizaçao
.
co1001
t:>
·zação dos problemas sociais através tli·~ uin a serie . , . ,u(;
1
est t ', . r • •
NOTAS
Eu tenho o jogo /eopardy, que os meninos jogam. Ele contém perguntas triviais sobre
conhecimentos gerais. Faço com que tenten1 se interessar pela leitura e pelos jornais.
Eles podem alcançar 25 pontos. Têm um minuto para responder todas as perguntas e
adoram as perguntas de respostas rápidas. Temos de tornar as tarefas claras e preci-
sas. Por exemplo, temos as regras da lição de casa escritas por toda a classe.
e um procedimento natu-·
rais em sua organ1zaçao o pensame~to e da J?rática, mas a ordem das aulas
não é natural ~em ~1era~1ente proce~imental. E parte ?e uma lógica e de uma
,,raz ão" do ensino 111stonca1nente
d . .
derivados,
. .
que emergiram nos primeiros anos
deste século para a ministrar e superv1s1onar os professores pela organização
acional do seu trabalho.
r Ironicamente, a aula sobre as aulas não tinha criança ou infância visível,
pois a criança estava presente apenas como um objeto indiferenciado. O conheci-
mento baseado em receitas e os discursos "práticos" tornam as normas da crian-
ça menos importantes que as de procedimentos, que foram universalmente apli-
cadas no bom ensino. Todavia, essa não-presença da criança no discurso da peda-
gogia era uma quimera. As técnicas do planejamento de aula habitam um espaço
juntamente com outros sistemas de idéias sobre as habilidades internas das crian-
ças-as regras do planejamento das aulas e dos recursos visuais habitam o espaço
onde existem outros sistemas de idéias e chocam-se com outras idéias sobre o
tipo de criança que poderia ter ou não êxito na escola e, portanto, sobre quem
poderia ser "salvo".
Pnrati~as pedagógicas. Ein u1n nível pode-se pensar nos termos urbano e rural
in·as dtsc - das refonnas do ensino
. ussoes ' como expressan do preocupa~cões sobre as
Justiças sociais e econômicas e o racisn10 que existe dentro das. escolas.
rur 1No entanta, acontece algo estranho com a mscnçao · · - da cnança urbana_ e
a na ped . . - u é sobre as questoes
soe' · agog1a. Einerge1n dois tipos de afirn1açoes. m .
1a1s qu d .. - d· em respeito aos
to111 .e evem ser tratadas no ensino. Essas ahrmaçoes iz . ,
Prom1s , . _ · 0 tais corno tornar
sos publicas que devem receber atençao no ensm '
.. .· . t • · rcspc1. t.t11. a. u.i 1·v·.._.1.s 1·,l" ·idc e corrigir as desigualdades sociais
1
as c las~cs impor dll :s. ·- . . .
L •
~que voe~ tem de fazer cm tudo o .que e~sina é fra~mentar a informação cm peda-
cinhos muito pequenos. Se for ensinar numeros pnmos, tem que dividir estes nú-
meros e estes números ... 1l1do o que estes garotos fazem precisa ser reduzido a
coisas muito simples ... [e] precisam enfatizar esses termos simples antes ele sabe-
rem o que estão fazendo.
·t· a ou um pa rao . . 1-
parcce dcscn 1v, _ d " :1 i·eparo" possui norn1as que organizam e class ·
. , · A 11 0 ,ao e e es p · " . _ . 1-
bcm normattva. .<! cri·anças As d1scussoes de aprendizagem hab·
Td d 111ternas e1as · . . · •-
fi cam as ha?1 1 csª tarnento e "lapsos" , vistas ac11na, incorporam nor-
lidade~ se1~t1111entos d_e ~e~~~~nac betn-sucedida/n1al-sucedida. As distinções per-
mas nao-tala~as fsol bd1~ as s~rvirain para definir e separar a s sensações de com-
manecera1n nao- a a as, 111
etência e de realização pessoal do professor. - " " .
P r·
A recon 1guraçao '
- das expectativas e dos padroes para salvar podena ser
'" . b d
.d con1o uina resposta às ansiedades que os 1nen1 ros o programa
compreen d 1 a · f · t t ' · b' ·
sentirain ern relação à sua capacidade para ensinar e 1c1en en1e n e e a insta ihda-
de, uma das inarcas registradas das. escolas. urbanas (Br~cker11off, 1991) . A no-
ção de despreparo, por exen1 plo,A foi. recursiv~mente t~az~d~ de volt~ como u~a
nonna para classificar a competencia e tan1be1n os pnnc1p1os atraves dos quais
os inembros do progra1na poderiam avaliar o se~ s~cesso com.? profes~ores.
Todavia, as nonnas de realização, competencia e salvaçao da cnança per-
passa1n as do professor. No final do seu primeiro ~en1estre de e~sino, um membro
do programa - que poderia estar falando por muitos deles - disse:
Penso, por um lado, que deve ter prejudicado, no início, porque eu estava muito
aflito para cobrir uma certa quantidade de material e achava-me incapaz de fazê-lo.
Pensava que conhecia o tema muito bem. Devia ser capaz de fazê-lo e tinha de fazê-
lo. Porém, cheguei a um ponto em que tive de entender que é mais importante que
eles gostem do que estão fazendo e não sejam inibidos pelo que estão fazendo, do
que cobrir um, dois, três, quatro [tópicos] em uma semana.
oens
: : mais onentadds , pai
. a o grupo. - . O bo1n ensino era encarado como o uso de
diversos metodos e a 1nstruçao orientada para a "atividade".
Em uma situação diferente, u1n adn1inistrador ~ . de escola comentou que um
membro do ~rog:a111a,. que g~nho~1 un1 pren110 por seu ensino de biologia, era
ewmplar devido a sua 1nstruçao ativa. E1n sua classe, os alunos aprendiam vários
mecanis1nos de reprodução de plantas definidos no livro didático estudando ve-
getais e frutas con1prados no n1ercaclo local. Un1 professor de língua estrangeira
de outra escola foi elogiado por n1anter u1n alto envolvimento e uma instrução
em pequeno grupo, co1n muitas atividades. Isto incluiu a construção da maquete
de uma cidade e a 1narcação dos prédios residenciais, comerciais e públicos da
comunidade na língua estudada. Prestou-se pouca atenção ao conteúdo da aula.
Prestou-se atenção ao processo e aos procedi1nentos c01no determinantes do su-
cesso e da c01npetência do professor.
O enfoque no processo e na atividade con10 "conhecimento prátic~" funde
os discursos acadê1nicos e ad1ninistrativos no ensino. Essa fusão dos discursos
está evidente na idéia de que o ensino precisa responder.ª "estil.~s de aprenc~~z~
gem" · O pro b1ema d a ed u caçá o d o professor era proporc10nar dif eren tes esti dte-
gias de ensino para que as crianças pudessem aprender a ser competentes ..
. . . . b. s·1110 e 0 n1ulticultura1tsmo
f · A ·l iteratura da ps1colog1a educac1ona
.
1 so te
· f o en terionnente d1scu . t1c . 1os
e01trazida
• - aos , discursos da psicologia, . os quais. orain 1 · aneducac10nal . e1ass1·t..ica os
1 e açao a atencáo pastoral da criança. A psico ogia
' 111 ·11
1
,, . 10 · 1- endentes - ana l'it.ico s ,
esti os ·de aprenclizage1n" das crianças con
aut · 110 incuepdependentes do cam po -
01~otivados e capaciclade de trabalhar sozin - ~ 1 ·ofessor. Assim,
ou .seia ' nao-anahticas
- ,. dependentes o con e, d t xto e guiadas pe o pi. quando apren-
o ulti . , ,, . d penho me 101 ' 11 . 1.
mo grupo inclui pessoas que te1n un1 esem . lt rais "interac1ona s
dein en1 grupos. cooperativos ou que te1n ,, d·t· . tes estilos
1 eien . cu usti·tttivistas encon-
ou co . , , l d ns1no con
. municativos" (Nieto 1992). Nos inetoc os e~ . . t. ções entre ''apren-
ttados . ' ,. ·ío feitas e1is in )
._ nas refonnas escolares conten1poraneas, Se ·t , ··os" (dependentes ·
d izes ' d· . au ton a11 · l'
En1b construídos" (inclepcndentes) e "apren izes ' d' tomizar e supers1111P t-
ora s , · r· - IJode1n 1co
e reconheça que tais class1 icaçoes
l
s ror1<E\VITZ ti
02 THO~l:\S . . . .. . .
1 . , .· ue Josiciona1n hngu1sttcamente as . 1
.d
. . troduz1 os
b1na1 ws q 1 't, . d
(' rendizes auton anos, ependentes d . Ças d·
crian l
.. r sao 111 tos dP d. o cain íls \
11ca , espaços op 05 . lógico sobre a apren tzage1n como ·11Po) .
escolaE:_ cemconhecimento. ps1~eº os discursos da psicologia e do cuidcadrnpo inctn \
"!)s t re1nse1 . 'd a op 1.-
d. nte/dependen e Os princípios de se h ar co1n os "estilos d astorai
pe1~ le1·scussões da diferença:
nas e
1111a O lugar a ser regulamentado são as ct·e ªPrendi.
. itar a a ' · . isp · .
zaoctn" são reg~ ~1~~1 d '.) e as habilidades da criança.
1 Osiçoes
in~rnas, a sens1b .h .ª ~ sele campo independentes/dependentes tamb, .
1
Todavia, as distmdço~ istra a criança. Einbora não seja visível nas d.en! hdani
com o pro fessor que 'f a nun
- 0 é historica1nente ino b'l' t iza d o para aqueles queist1ncõ
_ , es,
o sistema de.cl.as_s1 icaçano diferentes do nonnal- o espaço habitado pel sao elas.
sificado.se d.ividido~bco~os e rurais. Os discursos são transfonnados em ºp ~ro~es.
ela criança u1 a1 b d nnc1pi
sor e P . . d sempenhos dos inem ros o programa. Aqui, na lite ·
ara Julgai os e . "d'f t ,, ratura
os P . . ,, ssificações das cnanças como t eren es unem 0 prát'
"academ1ca , as c1a . . - d ico eo
, . ,, ez de separá-los. As d1sttnçoes entre can1po ependente e 1. d
·•teonco em v . - . n e.
' tre estilos de interação e con1un1caçao entre as cnanças funcion
penden te e en . b . b arn
simultaneamente como conhecunento so re as crianças e so re como agir corn
elas nas salas de aula. . A.
Nos exemplos, podemos reconhecer que as linguagens academ1cas sobre as
tecnolooias do ensino não são irrelevantes ne1n não práticas, inas habitam 0 es-
paço qu~ produz a urbanidade e a ruralidade da criança. Através do ensino/apren-
dizagem "ativos" e dos "estilos de aprendizagen1", o professor e a criança estão
ligados - e integram - à "prática da sabedoria'', do conhecimento de receita edo
cuidado pastoral da pedagogia - parte da rede que "cria" o professor. O efe[to
final das diferentes idéias é obscurecer as norn1atividades que internalizam e
encerram a criança.
criança rcsgatacla
' e' e cer. l" e
a outro conjunto d e cnanças · "
nonnais" a - alo50
~ ,, adrão" e "essencia e , 1 d , .
que e P . d iJrofessor urbano e rura pro uz un1a ordem nloral E
o espaço 1
_ soc1a s o"o· bmn" mas ta111bem , seu opos t o. A s tecnologias "· ,sta.
estabelece nao .
apena ' .
d 51·gnain a criança con10 n1en1 . . b ro d e uma população Prat1- .
cas" do pro fessor e . e • • • • CUJos
atributos e traços individuais podem ser avaliados e c?rng1dos segundo padrões
. os Esse processo converte uma n1assa de crianças em uma colecão d
normat 1v . . d d h. · ~ e
padrões comportan1entais, nonnas de ~ene a e, 1g1ene. pe_ssoal'. conduta
interpessoal, padrões de fala. Dessa ?'1aneu~, os traços . . mo.ra1s sao atribuídos às
crianças, porén1 a orde1n inoral não diz respeito apenas a cnança, mas tambémà
subjetividades dos professores. As preocupações com o procedimento obscure~
cem as regras e os padrões inscritos cuja conseqüência é disciplinar o professor
que, por sua vez, in1agina e rei1nagina a criança. As normalizações estão tã~
profund~m~~te .incorporadas nas rotinas e na sabedoria prática do ensino, que se
tornam inv1s1ve1s.
quimia, Matérias
Escolares Imaginárias
e Domínio do Espaço
·" Neste capítulo, exploro a alquimia das inatérias escolares para considerar
:' um pouco 1nais a estrutura que constrói a criança "urbana" e "rural". Por alqui- \
; mia, quero indicar u1n processo através do qual os campos disciplinares da mate-
' mática, da literatura, da arte e das ciências são transfonnados em matérias esco-
lares. Na minha opinião, essa alquinlia envolve uma inistura de práticas regula-
doras e de instrução que ocorre1n e1n três níveis - primeiro, no conteúdo do
currículo, que enfatiza a transnlissão de "frag1nentos" (bits) de informação; se-
gundo, na ênfase e1n detern1inados recursos textuais e, terceiro, na ligação do
·'-
conhecimento co1n as subjetividades através de testes e de sua preparação. A
alquimia está incorporada nos testes elaborados pelo professor por ordein dos ,
distritos e dos Estados que organizan1 o mundo para o self · Fundainentado. na 1
d'
. iscussão do Capítulo ' 1 afinno que os sistemas de rac1ocinio · , ·
sob1·e o ensino \
meorporam regras inedievais' a respeito de Deus na sal a de au la secular e refletem ,\
uma propensão taxionô1nica para o ensino das inatérias escolares. f _
p , 1 ,, ltado para ragmen
t ,, .ara inuitos leitores, essa ênfase en1 um curnc~ ~ ~o ' t- relacionadas
aos 'livros didáticos e testes não parecerá "nova"· Tais ideia~ esl ª~desde a déca-
d d
conceitos do ,,curnculo
, oculto" relatacl o en1 es tudos de curncu
f
oque nos cap1tu-
,
loa e 70 · No entanto n1eu interesse e, d1·rcren te. Da' ines1na onna incorporada na
s anter·10 . ' , · scolares coino d
est res, encaro a alquin1ia das n1atcnas e i·zam as ações 0
ens·
rutura dos d.1scursos que organ1zan1,
. 1 eren cia1n
d.f
' .e nonna
. d 111i atérias esco1aies
.
ino e d · ,. · d alqu1111ia as , dos
não ~ as crianças. Por isso a in1portanc1a ª . t ''oficial" atraves
°
. esta ap ,
hvro '
ct· ends no fato de apresentar un1 e
onhec11nen
. . ancorage111 °
d conhe-
s rdáticos e do currículo escolar, n1as de rei111ag1nai a
. . orKr:wrrz
J06 rtlOl\1:\~ s. r . , . - ~
-- ,, b. -tos" lógicos, h1erarqu1cos e nao-ternp .
}ll dos o JC ·, orais A .
.· ento como aquc ' . d atérias escolares assoc1an1-se a outras pr• . · lern
e1111 . 1131 s as 111 . .c.I d atica .
' SO os textos 1on '.
A
.
dis. . . guhr a produt1v1 a ·e e a con1petencia das . s d1s.
., . nJhza1 e rc ' , t t· b, cnan .
Cl 1rsivas pat ct nou t , . 'ls escolares e, portan o, am em urna alq . . Ças.
· · das ma en"
A alqu11111a '
. · · d · u1rn1
.t.. . 1é criada para cl1stnbu1r es1gualmente a elig'b· . a du
criança. Umd. 01·dem _
art1, icia ~A :- I ·r·
- _ 'lS escolas elo TFn sao c ass1 1cadas corno e
i ilidade
· · çao e a açao ' ontend
para a par~ic1pa das nonnas não-expressas. o
crianças diferentes
"Q ,, El . . pis .
Um aluno respon deu: uatro . a corrigiu o aluno. Depois, retirou duas das
cinco caixas de lápis e disse: "Muito be1n, aqui há cinco caixas. Se eu tirar duas
quantas ficarão?" Em coro, as crianças responderam: "Três". A professora repe~
tiu a resposta e escreveu-a no quadro: "Então, cinco menos dois são três". De-
pois, disse: "Vamos tentar novamente" .
A aula de aritinética tinha mais a ver com a disciplina e a autodisciplina das
crianças do que co1n a disciplina forn1al da matemática. Quando as coisas eram
organizadas de un1a maneira regular, o 1nesmo acontecia com as expressões e os
movimentos corporais das crianças. Elas aprenderam a organizar os comporta-
mentos, a postura, as reações, o 1nodo de sentar. Os princípios da instrução dizi-
am respeito ao que deveria1n saber e con10 "exibir" o sucesso.
Essa incorporação de normas que unem mente e corpo é repetida em uma
prática rotineira nas escolas fundainentais e médias: o ensino da ortografia. Em
algu~as escolas servidas pelo TFA, a ortografia era uma preocupação central do
~u~·iculo. Esse ensino seguia um padrão que se concentrava. nas pala~ras ~orno
coisas" discretas cuja aprendizagem tinha uma rotina e um ntual particulaies. O
Padrão era pré-te~te/prática/pós-teste. Essas rotinas e rituais foram encontrado~
em uma e1asse da sexta série, na qual a professora saudava seusªlunos ' declarando.
M· r· y, d·zer a palavra
uito bem, vamos fazer nossos testes de ortogra ia. ou 1
e depois
A , ero um é
uina frase
· e depois . repetir - falem durante o teste. num
. a palavra. Nao
hedge. ,.· TI1C hedge around the house needs to be cu t·.~ . ~ Hedge ·
~N
~~~,de l Hcd11e .. . ..
1 { de T ('.>signiltca cerca-viva.
· A cerca-viva ao redor da casa precisa ser cortada.
LlJfANoo
~ EM DEPESA DA
. ALMA 109
, . ·eqüenten1en t e " cnava " suas próprias. 1 -
elli 1i . au as - con
li''ro. eu acho bo1n que e 1es sa1ban1". Em seu . centrando-se em " .
. que · . d b . ensino es . co1-
síl~ ·oino calcular JUtos, esco nr o volume 1 ' sas coisas incl ,
.,f'ls e . . e e um cT d u1am
r,11c quando essa professora parecia rejeitar a 0 d
l •
rno . ,. .
! tn ro e tirar méd.
r enaçao d· t· ias.
~,1e 5 dos livros d1claticos, seu ensino ainda sanei Is tnta do conhec·-
cnto . " d. onava o conh . I
111 . tmiáo de ''coisas e a apren 1zage1n coino 0 pr ec1mento como
11·11e - .. . acesso de e
Ll1 'd. tintas para questoes 11111tas. ncontrar respos-
tas is d
Neste ponto, po en1os pensar no currículo fragn t d
. d
· ento analisa a no
e ap1tu, lo 4 co1no diferentes 1en d
a o e na r .
ece1ta de co-
nhecu11 . . . aestruturad ·d ,. .
·da Eles podena1n ser 1111ag1nados como construído b e 1 e1as d1s-
cutt · , . d d - s so re um det · d
elo prag1nattco a e ucaçao. Tal explicação iria conce t ermma o
1110d d . n rar-se no probl
do
manejo e do contro 1e as cnanças como uma preocupacã ema
. ., o suprema da educa
. Um argtm1ento que, nnntas vezes, aparecia e111 entrevistas -
ca 0 · , d . com os membros
d'0 programa e que estava111 _ tentan
- . o ensinar a alunos que não quenam . estar ali·.
que freqü~nt~1ne!1te nao estao ah e, em un1 nível diferente, um currículo que te~
uma influencia tenue nas escolas em que trabalhain. Além disso embora 0 . _
; . d d - . ' s PI o
nunciamentos retoncos a e ucaçao incorporem o utilitarismo_ os alunos de-
rem aprender agora p~ra sere~ capa~es de conseguir um emprego melhor ou
adquirir algun1a inob1hdade social 1nais tarde-, o sentido do futuro é percebido
como tendo pouca importância na vida cotidiana dos alunos. Por isso, são neces-
sários ajustes e acomodações ao programa: o currículo de "fragmentos" é um
deles. Usando desse argu1nento, o currículo fragmentado pareceria uma resposta
lógica para as questões do n1anej o de classe que são dominantes nos discursos da
escola contemporânea.
No entanto, procurei não 1ne concentrar na intenção dos atores na escola
ou nas relações si tu acionais do ensino; e1n vez disso, n1inha preocupação é como
otema da atenção é trazido à tona pelas regras da "razão" em vigor. O enfoque
são os discursos concretos do manejo, da pedagogia e da psicologia i?corp?rando
uma "razão" socialmente construída para a prática. Nos espaços discursivos d?
"urbano'' e do "rural" essa construção situa as crianças em um espaço de oposi-
- - usando uma expressão
çao ' de discussões antenores,· ·
as crianças que ''não
_ esta-
vam lá". Por isso a problemática do currículo frag111entado envolve nao a~enas
um · ' t b , m a construçao de
.ª epistemologia do conhecimento da escola, inas 111 e
hmit es su b.Jehvos ·1·d. d
ª sse
.
sentido
d
· sobre a con1petência e as hab1 1 a es. e N . ' , . emos
po
Pens 1. , · d - e de rac10cm10.
ª no curnculo fragn1entado co1no un1 s1ste1na e aça 0
· t't
O s es f orços para 1ns · a 1·11 tegraç1o
1 u 1r . ' '. do
. .currículo assimilan1
. · d não somente
· l _
normas para dirigir 0 inodo como cada d1sc1phna deve sei cn.sma a , mas JU ga
mentos normativos sobre a criança que deve enfrentar a matéria escolar. Esse_se-
gundo tipo de normatividade é visível cm declaraçõe~ que sugerem ~uc 0 conteud~
''nã l . f , .1,, , · As declarações antenormente n1enc1onadas, sobre
o c lega ac1 as cnanças. . , . ,, distinção entre mate-
"ranger" os dentes ao falar sobre o ''modo matcmat tco eª , .· •
. . d conceirões sobre as matei tas esco 1a1 es.
má t1ca/ciências e inglês, sào n1a1s 0 que "! f . · do que "mera-
Os discursos sobre as matérias escolares re cnat~l-se mais· ~ ,
~, . pot"\m códigos morais que nao ape-
mente" à competéncia cognitiva. E as tncor '. ·c1 as de que formas certos
nas ct t · - ·oibidos ou permiti os, m
e erm1na1n que atos sao pt . . ativos A maneira como as crianças
comportamentos tê1n valores positivos ou ncg" . • · " etrm,, em uníssono são
1
Passan1 os inateriais, levantam suas mãos para Ja abr.c .r~pd l.cs As práticas peda-
, ·
l)raticas disciplinares que trazem a, t ona'.,s suas su 1et1v1 ac ·
JJ 2 T H Oi\f •\ S S. PO l'lff.\V ITZ
o
.
livro funciona tanto como u1n monumento ao que d
fl ,. .
f .
eve ser eito na escola -
ciência - quanto con10 um re exo de uma sene de problemas
que surgem quando
um professor d epara-se c~m a 1unos que ~arecem das habilidades para ter um de-
sempenho que se supun a ser de um n1~el "adequado". Do ponto de vista do
discurso, o problema era que os alunos nao possuíam as habilidades n , ·
· d· d ,.
para ler o hvro 1 ahco.· ecessanas
Mais u1na vez, podemos entender a produção de uma subjetividade do cor-
po e da mente como se estivessem ligados. A dificuldade da infância era assinala-
da pelos corpos de crianças que não conseguiam "manter sua atenção" e precisa-
vam aprender a "relaxar".
A alquimia descrita no livro didático representa algo além de uma faceta do
currículo oculto que mascara tendências ou estereótipos. Em vez disso, a alqui-
mia faz parte de uma estrutura de idéias que, no âmbito do discurso, situa as
crianças dentro ou fora de um conjunto de categorias supostan1ente universais,
delimitando a realização aceitável e razoável.
Ocasionalmente, o livro didático revelava a sua importância, possibilitando
outras "leituras". O relacionamento prevalecente entre conhecimento, poder e
ética é contestado através de uma leitura do livro didático. Em um exemplo, um
membro do programa usou uma aula sobre a chegada do navio Mayfz.owe: p~ra
discutir as implicações das doenças e dos conflitos que devastaram n1u1tos 1nd10s
que encontraram colonizadores e comerciantes. Essa conversa preparou os alu-
nos para examinar algumas imagens do Dia da Ação de Graças que aparecem nos
livros didáticos e descreve1n pessoas pacificamente sentadas juntas. O meinbro
do programa comentou o seguinte sobre essa conversa:
. , .
No m1c10 d . . ditar que alouma coisa na-
eles ficaram chocados e nunca po enam acre . . fc- . ados Eu
' - 0 ucomaism01m .. .
que~e livro pudesse estar errada. Mas agora,e.stao um ~ Dia de Ação de Graças, e
0
havia planejado que fizessem panfletos satincos sobre ·d d fi'caram tão arreba-
1 · · · , l" mas na ve1 a e
e es poderiam ter feito toda a "coisa am1gav~ ' fl dos peregrinos trazendo
tados por este pensamento que fizeram muitos pan etos outro Feliz Dia de
aguardente para os índios e não o "Oh , nos, a mamas tanto um aoA
·
mente muito aberta,
- de Graças". Isso foi' lindo .. . Q uero d·1zer' eles tem a
Aç~o
muito receptiva.
])4 TH O M AS S. PO PKEWlTZ
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
-----------~~~~~---------------.::L~u~rA~N~o~o::._:c~M~D~E~·r~E~SA~D~A~A~L~M~A~-1~1~5
Regulamentando o Conhecimento e 0 Indivíduo
u
1 b d " .
es e pro uz um propos1to e
Os ine1n ros . º1 prbogran1a quena1n" realmente assegurar que os alunos
sOubessem o matena d co erto . . por um teste. Dessa inanei·ra , pod enam
.b sa er como
responder adequa amente as perguntas destinadas a trazer a' tona 0 t .
· Q f 1d · · ma ena1
aprendido. uase ao _ina o pnme1ro ano, um me1nbro do programa projetou
mudanças em seu. ensino para o s,e~undo ano. A mudança mais importante, se-
gundo ele, envolvia ter u1n reper~ono pro~to de materiais preparados para 0 en-
sino. Planos de aula e testes escritos relacionavam o currículo à competência e à
realização do professor.
Eu diria ... estar preparado e cobrir o currículo, pois este é o meu primeiro ano
ensinando estes cursos; juntar os planos de aula e preparar os testes; todas essas
coisas. No próximo ano, eu terei as habilidades deste ano, mas tenho de prepará-las
neste. Acho que essa seria minha maior ênfase neste exato momento.
Vocês farão um teste amanhã às 8 horas. Sejam pontuais ... Haverá 62 questões; não
são de múltipla escola. Teremos de trabalhar os problemas como se fôssemos matemá-
ticos de verdade ... Agora, vocês têm de trabalhar sozinhos. Queremos que se prepa-
re~ para o teste. Reservem um tempo para estudar .. . O teste é baseado nas ques!ões
revistas que queremos que saibam. Portanto, estudem bastante. ~sem esse penado
para se preparar. Não hesitem em fazer perguntas. Não quero que Joguem cartas.
exceto en~ cas?s raros, : 01110 ªexploração de Tate (1997) da teoria da raça crítica
e a invest1gaçao de Go1e (1998) .da governainentalidade.
En~. segundo lugar, as. qualidades raciai.s, é.~nicas e de gênero da educação
são frequ~nte1nent,e.assun11das co1no categon~s fixas, e não como sendo produzi-
das atraves da pohttca do espaço da pedagogia. No início deste estudo declarei
que, qu~ndo fora1n exan1ina~~s ~s d.iscursos concretos entre membros d~ progra-
ma de d1ferent~s gru~os ra~ia1s, etn1cos e de gênero, foi visto que discursos simi-
lares sobre ensino, ps1colog1a e inanejo de classe fora1n desenvolvidos co1no siste-
mas de norn1alização. Isto sugere que não basta olhar quem está falando em
termos das.di~ti~ções ideol~gicas e da~ diferenças raciais de quem fala, sem q ues-
1
ticipação. A n1etrópole, e1n 1nuitos países europ~us, p~r exemplo,, é i:nuito mais
u1n enclave dos ricos, pois os pobres e as rninonas estao nos ~~~urb1os .. A dife-
rença é importante, porque requer que tenhamos urna e~pec1f1c1dade histórica
para nossos métodos de pesquisa. Embora possamos considerar que a pedagogia
seja uma estratégia de governar e envolva, u.ma polít!~ª do e~paço ?e conhe~i-
1nento educacional, os discursos e as estrateg1as espec1ftcos da tnclusao/exclusao
são en1piricamente diferentes de lugar para lugar e de época para época.
Ein terceiro lugar, as distinções do ensino e da formação do professor discuti-
das neste estudo têm uma fluidez e contingência particulares, e não significados
essenciais. Podemos descobrir que expressões como "aprender é fazer", "manejar
a classe" e falar das crianças corno possuindo "inteligência" e "potencial" circulam
como expressões de ensino nas escolas norte-americanas. Porém, embora muitos
professores possam falar sobre "coisas" similares, tais expressões não se sustentam
fora da estrutura em que são empregadas e, por isso, habitam e recebem definição
dentro dos espaços sociais construídos na educação (ver, por exemplo, Popkewitz
e outros, 1982). No caso deste estudo, a importância e as implicações das palavras
empregadas estão na estrutura historicamente formada para intemalizar e fechar a
criança como algo que é urbano e rural e, por isso, diferente.
Em quarto lugar, o impulso aparentemente natural para resgatar e salvar o
professor e a criança nas reformas atuais não é natural; é o efeito de poder, que
precisa ser tratado como problemático. Regulamentar não é mais disciplinar as
pessoas em um tempo e um espaço organizado, embora os fechamentos e as
internações ocorram em uma "sociedade de controle" (Deleuze, 1992). Na socie-
dade de controle, os indivíduos vivem em uma corporação de formas sociais em
eterna mudança, na qual a subjetividade é construída através de índices de troca
flutuantes e mercados determinados pelas moedas-padrão. De certa maneira, as
indeterminações que Deleuze discute como índices de troca flutuantes têm con-
seqüências particulares na construção da urbanidade e da ruralidade da criança.
Há uma racialização que não é produzida por ser negro ou rico, mas é pragmati-
camente construída através das indeterminações que tomam a criança como sub-
jetivamente diferente do normal. Tais construções, no entanto, estão inseridas na
razão da pedagogia que constrói o sujeito da administração do professor. O do-
mínio da alma anula as divisões arbitrárias entre o social 0 educacional e o
pessoal. Os princípios de inclusão/exclusão são inseridos no :'ser" e não na cate-
goria da pessoa. "E~.vez de defini.r o indivíduo pelo trabalho para'o qual é desi~
nado, encaram a atividade produtiva como o local de desenvolvimento das habi-
lidades da pessoa" (Donzelot, 1991, p. 252).
A PROBLEMÁTICA DA INCLUSÃO/EXCLUSÃO
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
134 THOMAS S. POPI<EWITZ
1991; Walkerdine, 1988; Weis e Fine, 1993) . No entanto, este es~udo dt e~strói
outros em seu exame da estrutura das idéias através d as quais o protessor ~o estão
. t d · ~ · a salvaçao
os obJe os o ensino e o inodo como a realização, a c01npetenc1a e . -suutLt·
inscritas nessa estrutura. Alé1n disso, embora eu seja sensível às questoes·~craçáo
rais de raça, classe e gênero creio que tal sensibilidade requer uma codns• ualilica
. . • ' if"' e esq e
dos sistemas de 1ustapos1ção do conhecimento dominante que qual ica , portJn·
· d ' /d - · · t
os 1n iv1 uos para a açao e a participação. O foco central deste r abalho e,
- - - - - - - -- - - -
- - - - - -
-----------
LUTANDO EM
---- DEFESA DA ALMA 139
os efeitos de poder, pois se desenvolve a partir d . .
to, . 'd p · a rac1onahdade d . .
. mente 1nsen a. or isso, concentro-me na p l't' d o ensino h1sto-
rica . d b' . oi ica o conhecim t
rando e diferenc1an o as su 1etividades para entender as , . en o, compa-
io das quais as dilerenças são produzidas. estrateg1as concretas por
Jlle , .
para alguns, a estrategia que usei para entend f .
recer baseada no conceito de um mundo determ· e_r tos e eit~s de poder pode
Pa mis a que nao tem ação
resistência- em outras pa1avras, u1n mundo anti-humanista M . f' .. nem
,· · t d d - · ais requentemente
as anahses neomarx1s as a e ucaçao declaram que não 11 , - d '
,·
não e 1dentt 1ca
·t· d · - . ª açao quan o o agente
. ,.o como
. _ cond iça.o a
uma _ priori de investi' gaçao,
- ou porque pala-
vras como reszstenc1a, açao e contradzçao que se baseiam em - · .
· b - ' uma 1og1ca marxis-
ta-hegeliana so re o progresso, nao são mencionadas.
Eu diria, e1n co~traposição ~ e~se ponto de vista, que observar a presença de
alguns t~rmo ~ ext~,aid_os,, de trad1çoes m~r~istas como uma única definição de
1
"human1~mo ou ~çao produz uma ~1:ª interpretação (um solipsismo) e um
reconhecimento equivocado da problemat1ca do estudo. Este estudo, como a maior
parte das atuais teorias sociais e educacionais, supõe que vivemos em um mundo
socialmente construído, onde a razão é fundamental para a mudança social e,
assim, mantém o enfoque humanístico do iluminismo. Porém, a estratégia
metodológica deste estudo é mudar a problemática pela qual o humanismo é
expresso - considerar as formas de raciocínio através das quais construímos "a
pessoa razoável" como um efeito de poder que obscurece a construção humana
dos nossos mundos social e pessoal. Essa estratégia reconhece que as idéias são
antes práticas materiais do que epiferiômenos para um mundo "real" .3 A escrita
deste livro, então, reintroduz uma espécie de humanismo no estudo da educação.
No entanto, esse humanismo não requer a definição de um sujeito a priori. Em
vez disso , é tornando o raciocínio suscetível à crítica que a ação pode ser
reintroduzida. Tal ação consiste em desalojar os princípios de organização que
permitem e impedem a ação. , .
Desse modo, este estudo "pôs de lado" várias interpretações e pratica~ c~n
vencionais de contestação nas escolas para se concentrar n.a estrutura de ideias
que internalizam e fecham a produção da educação. Ao realizar ess~ t.arefa, re~o
nheci que há "motivos" potencialmente diferent~s no ~un~o cotidiano, assun
como a possibilidade de contradizer as práticas discursivas. Nest~ t,~abal.ho, ~o
ent anto, procurei entender como as 1'd eias,. f uncion
· a111 para constnur
. motivos e
" , . d cara criança urbana e rura1.
propos1tos" enquanto os professores agem para e u
abe~
eia, realização e salvação. Esses sistemas de exclusão não são
porados nas prüticas de educac;ão e reforma que comparam J:/1 ª incor.
1 5
1
hierarquizam e separam no âmbito das subjetividades. ' erenciani,
Minha preocupação com a estrutura das idéias relaciona-se à
Foucault (1980) de que inverte111os a crença tradicional de que con~~g.estão de
. ·
poder e de f 1n1111os o po d er como incorpora
· d o na maneira· pela qual acimento e·
5
produzen1 conheci111ento e utilizan1-no para intervir nas questões soei . Pessoas
Aqui pode1nos retornar à nossa discussão anterior sobre 0 conh~s:
·
con10 receitas e a " pratica
, · d a sa b e d ona · " . A pro d uçao
- d e raciocínio
· instrucimento
não é "1neramente" un1 processo de empregar detern1inadas normas e obJ.;t~ntal
ou re1nover poss1·b·l 1 1·d a d es cn' t.1cas. p or exemp}o, o conceito . do conhecimIVOs'
.
c01no receitas esta, l.1gad o a d esempen h os e d iscursos
. so b re a educação que aento ._
1nila1n n1uitas maneiras de definir "razão" e a "pessoa razoável". A estruturas~i
idéias é u1na tec.no~ogia no.rn1ativa. o. "ra:iocínio" do professor envolve um pro~
cesso de apropriaçao seletiva, relocahzaçao e reenfoque que reorganiza os obje-
tos da própria educação.
Nesse sentido, podemos entender a intenção e o propósito como inseridos
nas práticas discursivas da educação através do elo da realização, da competên-
cia e da salvação. A produção do professor envolve o raciocínio extraído de vários
discursos. Alguns são o uso da racionalidade aplicada à população como uma
base para as racionalidades políticas e os discursos pedagógicos; da psicologia como
um meio de unir as habilidades religiosas e administrativas do professor e dos
discursos sobre a infância que posicionam as crianças como precisando de "salva-
ção" (ver, por exemplo, Baker, 1998) . Essa estrutura é imperfeita e, às vezes, vaga.
É pragmaticamente constituída dentro de várias possibilidades históricas. No en-
tanto, forma uma trajetória histórica que une um raciocínio "autorizado" que es-
trutura, molda e adapta as 1naneiras possíveis de percebermos a realidade.
As práticas discursivas da educação são mais do que mera transmissão de
idéias; constituíram os princípios das realidades. Os discursos não são apenas
estratégias comunicativas, mas também práticas culturais e políticas. Além disso,
procurei entender como as práticas discursivas de ensino organizam e dividem
o mundo e o self nesse mundo. Elas estabelecem uma ordem moral que coloca
as crianças em espaços sociais diferenciados que funcionam para interná-Ias e
fechá-las .
0
São precisamente os sistemas de dizer a "verdade" e de "raciocinar" sobre
"nosso" mundo e "nós mes1nos" que os políticos e os pesquisadores consider~.
01
mais difícil de questionar. Se podemos usar uma palavra con1un1 extraída do eis-
curso educacional, as "realizações" mais i1nportantes da educação po?en:ibs~~
· 1naneiras
pro.d u.z1~ · poi·1hca1nente
· · ·
sancionadas de organizar, d1stingwr, · d1stn ui
e disc1phnar transgressões pela regulamentação da "alma". - do
Esse últiino ponto é importante. Os princípios discursivos da formaçao1ais
professor e do ensino proporcionam poucos instrumentos analíticos com os.qtt · ri-
" pensar" s1~temattcamente
. . sobre a produção de poder, conhec1111en . °
t e subJe
' tic'l''e a
dades. As discussões sobre as crenças dos professores, a sabedoria da pra '
---------------------------------~LlrrANDo
EM DEFESA D
• ,·,d " -'Jl ,,- " d os professo.
. 1portancict a rc exllo
AA LMA 141
tn .. 1 . . , ,
cqtretanto, en1 gei...t • ct.t1cce1n das ferra
t es mantêm
. um forte tema d .
v . .1 e mentas siste ,. e redençao
cas. com as quais en rcntar o problen1a d . mat1cas analíticas . ·
. d
De1xo a cargo e outros considerar a a circulaçã d
'. 0 o poder. ' e 111stóri-
. t' . l ~ . . ' s inane1ras pel .
regras alterna ivas poc e sei considerado Ha' . as quais um conJ.unto d
.. - ( E l l . uma 1iteratura e
sobre educaçao ver ng une , 1994; Ladson-s·ir crescente e importante
e sobre filosofia e sociologia do conhecimento tG•.~gs & Tate, 1995; Wynters, 1992 )
!995) e fen1inisn10 (Butler, 1993), que dirige a n~s:~y~t~99~; Shapiro, 1997; Young,
conhecitnento sobre o sujeito e as diferenças Ess . nçao para novas formas de
111
Políticas sobre a representação e a produção de d.fª eratu ra responde às questões
1 erenças 1evantadas nest t d
·
Entretanto, ao d izer que existe essa literatura e' . e es u o.
1 · t d'
não há re ac1onan1en o ireto entre crítica e reconst - /d , importante reconhecer . que
(Muller, no pre1o ) . Ca d a un1a requer discursos substancialment ruçao dif esenvolv1rnento
t
· d· - . e eren es e opera
so~ diferentes con 1ço~s. que pern11t~1:1 e impedem sua ação. '~ssirn corno 0 pla-
ne1a~ento deve_ ser. prah~~ e estrateg1co, a crítica só é coerente quando realiza
uma 1nterrogaça~ s1stemattca desses campos constitutivos" (Muller, no prelo) .
Os diferentes registros nos discursos críticos, interpretativos e estratégicos não
devem ser misturados. En1bora os discursos críticos e estratégicos "vivam" de
maneiras complementares e inantenham "tensões" que produzem algumas justa-
posições, os dois discursos tê1n regras de envolvimento diferentes, que não de-
vem ser misturadas.
Os realizadores de reformas e os pesquisadores "naturalizaram" de tal modo
o projeto do trabalho intelectual, que nos parece apenas "lugar comum" reconhe-
cer os autores das refonnas e das pesquisas como os responsáveis ~ela r:iudança
social. Com muita freqüência, deixa1nos de reconhecer que estão mse~1das n~s
sas estratégias de redenção relações de poder historicamente co~struid as. N,ao
h,a progresso global inerente . no traba li10 de pesqui·sa e nos . pesquisadores.
. . Alem
tT
disso em uma ocasião na qual há tanta autoridade invest.1da no discurso cien 1 •-
, . . . . estreitamento dos processos
coe na espec1ahzação prof1ss1onal, bein com~ um te de uma van-
democráticos, é perigoso privilegiar os pesquisadores como par
5
guarda na produção de 1nudança. t que têm de fazer. Quem
O papel de um pesquisa · dorna- 0 é dizer . aos ou ros 0
. sse direito? Ao examinar · o
dá aos pesquisadores na qualidade de intelectua~sd, ed que fazer, é importante
"d.1Ie1to"
. do intelectual ' de dizer
. ao res tante da _soc1e a ei·amas 0 . lect ua1s
que os mte .
] b . pro1nessas, m · 1·unçoes e prog·os efeitos podemos agoia .
em rar todas as profecias, ,
rem conseguido formular nos dois· u, It'1111os seculd1os,. CUJvontade política · d
os ou tros ·
observar. O trabalho dos pesquisadores não é mo ~r a, das análises realizadas n.o
Emvez disso é importante que ca da 111 · telectual' ah aves '
e é postulado como auto-ev1- f
seu Proprio, '
can1po questione 1ncessan · . temente o qu
descentralize a man.ei ·ra como . a-e
dent ' t · das pessoas, . aminem regias
e, perturbe os hábitos n1en ais , familiar e aceito, ex . f especí-
~e~ e pensam as coisas, questione111 o qtt_ieaeção (em que realiza u~11.a ta/:aªqual ele
instituições e baseado nessa reproble111a iz_ d u1na vontade poht1ca
fiica corno intelectual)
' participe da 1·ound · açao e
_ ) (Foucault, 198S, P·
265) ·
t em u '
rn papel a desen1penhar con1o cida ao
142 THOMAS S. POPl<EWITZ
· l1nente. aque
Fina ' 1es que pergun tare111 "S e a razao
- e, o efeito d ~
que sisteinas de razao - a l ternattvos
· devem ser co Jocados no Iuga e dPoder, então
descrita? ' respondo que deve1nos prin1eiro problen1atizar 0 nossor ªestrutura
1
' - , conhe ·
to e a nossa razão, que a reconstruçao e um problen1a pragmático cirnen.
·
situacional e conhngente1nen " d a açao
t e, at raves - e que a teoria pod que emer
. ge,
- d ·
apontar os "erros", mas nao po e proporcionar respostas para a pr , t' e a1uda ra
resposta no entanto, não significa que o intelectual reside fora da pol~t.1ca. Essa
' , E tca ou do
mundo da ação. Na verdade, e o oposto. spero ter mostrado neste estud
todo trabalho intelectual é inerente1nente político pelo modo como constr'? que
, d. , . d . - o1 seus
objetos de estudo. A1e1n isso, e um meio e intervençao política destruir
5
noções de razão que internam e cercam os alunos. Tal desestabilização dora .ª
cínio abre potencialmente a possibilidade de diferentes modos de pensar, "en~~~~
gar" e agir, enquanto luta,mos coletiva1nente para tornar o ensino uma instituição
1nais justa e eqüitativa. E aqui que se pode voltar à idéia da resistência, mas de
maneiras diferentes daquelas apresentadas na literatura crítica. Ao assinalares-
sas instabilidades, poden1os transferir potencialmente o peso das normas regula-
doras contra elas mesmas.
NOTAS
NOTA
Yearbook p 233-267 . ·
T ' · · · h d imphcat1ons
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Routledge. · ndon
ndice
A Ceticismo, 32
Classe, socioeconôn1ica, 10, 53, 55-56, 61-
Autoconhecimento, 82
Ação, 139 63, 67,84, 94-95, 133, 138
Alma, 33_37 43-65, 67-68, 85, 87, 102, 116, Clifford, ]., 143
1
Discriminação racial 20 23 30 55
• ' t ,
T V
Tabachnick, R., 20, 143 Vigilância, 115
Tate, W, 40, 125 Voz, 12,25
Tecnologia social, 31
Teste e avaliação, 114-118, 132-134 w
Wagner, P., 38, 131
u Walkerdine, V., 36, 84, 138
Urbanidade/ruralidade Wehlage, G., 20
construção da, 38, 53, 67, 125 Weis, L., 138
da criança, 11, 13, 26, 30, 43, 45, 51, Wynters, S., 141
62, 67-68, 75-76, 79, 103, 128,
131 V
da escola, 18, 40 Young, R., 25, 141
ISBN 85-7307-717- 4
.U.JL178