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UMA INTRODUÇÃO ÀS LEIS DA CASHRUT

Através da história do Povo Judeu, o cumprimento das leis da Cashrut


tem sido um atributo inconfundível da identidade judaica. Quando um
judeu volta ao Judaísmo – quando inicia sua jornada espiritual e
abraça a Torá – o mandamento que ele mais provavelmente adota é a
obediência às leis alimentares judaicas. Talvez, mais do que qualquer
outra mitzvá da Torá, as leis da Cashrut enfatizam que o Judaísmo é
muito mais do que uma “religião”, no sentido convencional.
Essas leis nos ensinam que a Santidade não está confinada à sinagoga
e a alguns momentos especiais fora da vida cotidiana. Elas nos
ensinam que a vida, em sua totalidade, é um empenho sagrado e que
até mesmo uma atividade aparentemente mundana como o comer é
governada por leis Divinas.
A palavra hebraica “casher” significa “apta”. As leis da Cashrut
definem que alimentos são aptos para o consumo por um judeu. D’us
as ordenou aos Filhos de Israel no deserto do Sinai. Os fundamentos
dessas leis podem ser encontrados em Levítico e Deuteronômio, na
Torá Escrita. D’us ensinou os detalhes e particularidades a Moshé.
Esses ensinamentos foram transmitidos oralmente de uma geração a
outra, até que finalmente foram escritos na Mishná e no Talmud.
As leis da Cashrut são muitas e envolvem muitos detalhes. Algumas
são alvo de muita discussão entre as autoridades em Halachá (a Lei
Judaica). Alguns rabinos, inclusive alguns antigos Rabinos Chefes de
Israel, são um pouco mais lenientes acerca de algumas dessas leis,
enquanto outros são extremamente rígidos. Quando surgem perguntas
ou dúvidas sobre as questões da Cashrut, é importante consultar uma
autoridade rabínica competente e versada no assunto.
Este artigo não pretende ser um tratado sobre essas leis, mas sim,
uma introdução básica ao assunto.
LEIS BÁSICAS DA CASHRUT
Segundo a Lei Judaica, carne, leite e ovos de certas espécies de
animais são permitidos para consumo, enquanto outros são
estritamente proibidos. Um animal terrestre é casher se ele rumina e
tem o casco fendido. Essas duas características são imprescindíveis.
São exemplo de animais terrestres casher a vaca, o carneiro, o cabrito
e o veado. E de animais que não são casher o porco, o cachorro, o
gato, o camelo, o cavalo e o coelho. Quanto às aves, a Torá relaciona
24 espécies não casher – basicamente todos os pássaros predatórios e
necrófagos. São exemplo de pássaros casher a galinha, o peru, o pato e
o pombo.
Uma criatura marítima é casher somente se tem barbatanas e
escamas. Exemplos de peixes casher são o salmão, a truta, a carpa e o
arenque. Já os não casher são a lagosta, o camarão, o caranguejo, o
tubarão, os crustáceos e todos os mamíferos aquáticos. Todos os
répteis, anfíbios, vermes e insetos não são casher. Há quatro tipos de
gafanhotos que são casher, mas como há uma incerteza em sua
identificação, quase todas as comunidades judaicas proíbem o
consumo de qualquer tipo de gafanhoto.
As frutas, os legumes e os grãos são, em geral, sempre casher.
Contudo, é imprescindível saber se não contêm insetos. O vinho e o
suco de uva ou qualquer coisa que seja feita com os mesmos – como
vinagre de vinho e conhaque – precisam da certificação casher.
O Talmud (Avodá Zará 29b, 35a-35b) proíbe o judeu de comer queijo
que não foi produzido sob supervisão rabínica. Apesar de haver muitas
razões para essa proibição, a maioria das autoridades argumentam
que a proibição foi feita em virtude do uso de coalho – que é
tradicionalmente derivado do revestimento do estômago do bezerro -,
usado na produção de queijo. Portanto, para ser considerado casher, o
queijo precisa ser produzido sob os auspícios de uma agência
certificadora de Cashrut.
Conhecer os animais que são casher e os que não o são é apenas o
primeiro passo no cumprimento das leis de Cashrut. Há inúmeras leis
que determinam como o animal deve ser abatido e que partes do
mesmo podem ser consumidas. Os mamíferos e pássaros casher são
abatidos mediante um processo especial, a Shechitá, pelo qual a
garganta do animal é cortada, rápida e com precisão, e de forma
relativamente indolor, com uma faca especial, muito afiada e
perfeitamente lisa, chamada chalaf. Se o animal não é abatido
propriamente segundo a Lei Judaica, sua carne se torna não casher. E
mais, a carne de um animal que morre ou é abatido por outro meio
que não a Shechitá tampouco é casher. Também é estritamente
proibido comer carne removida de um animal enquanto ele ainda vive.
Essa lei também se aplica a não judeus. É uma das Sete Leis
Universais de Noé, que D’us espera que todos os seres humanos
cumpram. É importante observar que os peixes casher não necessitam
de Shechitá. Contudo, antes de comê-los, é preciso ter certeza
absoluta de que estão mortos.
Um aspecto muito importante das Leis de Cashrut diz respeito ao
sangue do animal abatido. A Torá proíbe, terminantemente, o consumo
do sangue de animais e aves. Dentro de 72 horas após o abate, todo o
sangue extraído é drenado da carne por meio de um processo especial
de imersão e salgamento. Apesar de ser permitido comer os ovos das
espécies casher, estes devem ser cuidadosamente examinados para
garantir que não têm mancha de sangue.
Outra importante e bem conhecida lei de Cashrut é a proibição de se
combinar carne e leite. Não podemos cozinhar, comer ou aproveitar, de
nenhuma maneira, a combinação carne e leite ou qualquer produto
derivado de leite. Segundo a Torá, um produto lácteo é qualquer
alimento que contenha leite de um animal casher. (O leite de um
animal não casher, como o camelo ou o porco, não é casher e não pode
ser consumido, de qualquer maneira). O leite de soja, de amêndoa e
de arroz não são produtos lácteos e, portanto, podem ser consumidos
juntamente com a carne.
Muitos pensam, erroneamente, que as leis de Cashrut,
particularmente a proibição de misturar leite com carne, não se aplica
às aves, como galinha. Errado. É terminantemente proibido misturar
carne de aves com leite ou outro produto lácteo. Deve-se guardar um
intervalo entre a ingestão de qualquer tipo de carne ou ave e um
produto lácteo – em geral, seis horas. Por outro lado, após consumir
qualquer tipo de laticínio – por exemplo, tomar leite ou sorvete – basta
comer ou beber qualquer outra coisa para “limpar a boca” de qualquer
resíduo de comida, antes de comer carne. No entanto, segundo o
Zohar, após consumir um produto lácteo, deve-se esperar uma hora
inteira antes de comer carne. Algumas comunidades têm o costume de
esperar meia hora, apenas. Esse breve intervalo antes de ingerir carne
se aplica à maioria dos produtos lácteos, como leite, sorvetes e queijos
macios. Se o queijo for do tipo duro ou de sabor muito forte, tipo suíço
ou parmesão, o costume é esperar pelas seis horas completas antes de
comer carne.
Há muitos alimentos que a Torá não considera nem carne nem
laticínio. Estes caem em uma categoria chamada de Parve, e podem
ser comidos com carne ou com leite. As frutas, ovos, peixes, legumes e
grãos são Parve. Os peixes são considerados Parve, pois a Torá não
considera significativa a pequena quantidade de sangue que possuem.
Por isso eles não requerem a prática da Shechitá. Os ovos também são
Parve, ainda que se originem de um animal. É interessante observar
que o mel, apesar de ser produzido pela abelha, que não é um
animalcasher, é considerado um alimento casher e Parve. Isto porque
a Torá não considera o mel um produto animal.
LEIS ADICIONAIS DA CASHRUT
O Talmud ensina esta regra prática: o que vem de um animal casher é
casher, e o que vem de um animal não casher não é casher. Portanto,
apenas o leite e os ovos de um animal cashersão casher. E o leite que
se compra no supermercado, é casher? As leis de Cashrut estipulam
que um judeu cumpridor da Torá deve presenciar o processo da
ordenha do início ao fim para assegurar que somente foi usado leite de
animais casher. Por essa definição, somente o leite que é produzido
sob inspeção rabínica é casher. No entanto, em certos países
ocidentais, é ilegal a comercialização de leite de animais não casher.
Por isso, algumas autoridades Haláchicas permitem que se use leite
comum e produtos lácteos casher que usam leite comum (como o
sorvete Häagen Dazs), pois confiam na inspeção do governo como
garantia suficiente. Isso é especialmente válido nos Estados Unidos.
Essa questão é muito controversa e vai muito além do escopo deste
artigo. Muitas comunidades judaicas da Diásporaaceitam essa
concessão, enquanto outras se opõem radicalmente.
Outra questão da Cashrut relaciona-se ao pão e produtos de
panificação. Segundo as leis da Torá, é permitido comer pão comprado
em uma padaria. No entanto, é preciso certificar-se que nenhum
ingrediente não casher foi utilizado em sua fabricação.Muitas
comunidades judaicas são rigorosas a esse respeito e só consumem
pãoe produtos de panificação feitos em padaria que cumpra as leis da
Cashrut. É importante observar que essa preocupação também se
aplica a outros produtos industrializados; sempre é possível que um
alimento comprado no supermercado contenha ingredientes não
casher. Por isso, muitosjudeus somente compram produtos cuja
produção foi supervisionada por uma organização certificadora de
Cashrut.
Concluímos aqui nossa breve introdução às leis da Cashrut. Queremos
enfatizar que há muitas outras leis que não foram contempladas neste
artigo. Para estudá-las, particularmente as que tratam dos pratos e
dos utensílios da cozinha, recomendamos que se consulte um rabino
competente ou uma autoridade em Cashrut.
RAZÃO PARA AS LEIS DE CASHRUT
No terceiro livro da Torá, Levítico, na porção de Shemini, lemos sobre
as leis dietéticas do Judaísmo. A Torá nos ordena “... separar entre o
impuro e o puro, e entre o animal que é para comer e o animal que não
se deve comer” (Levítico, 11:47).
Como vimos acima, há certos animais que temos permissão de comer
e outros cujo consumo nos é terminantemente proibido. As diferenças
entre os animais casher e não casher levantam dúvidas que desafiam
até os maiores comentaristas da Torá. Por exemplo, por que a vaca é
um animal casher e o porco não? Bem, um tem casco fendido e
rumina; o outro tem casco fendido, mas não rumina. Mas, e daí? Por
que é pecado consumir a carne de um animal que não rumina? Da
mesma forma, por que o golfinho não é casher e o salmão é? O salmão
tem escamas e o golfinho, não. Repetindo: e daí? Qual o pecado de
comer uma espécie de peixe que não possui escamas?
Perguntas semelhantes podem ser feitas acerca de qualquer outra lei
da Torá. Mas a questão dos alimentos casher e não casher chama
especialmente a atenção em virtude da importância dessas leis em
nossa vida diária. O que podemos ou não comer ocupa muito de nosso
tempo, interesse e atenção.
Comentaristas da Torá, rabinos e pensadores têm tentado resolver os
enigmas levantados pelas leis da Cashrut. Alguns alegam que comer
animais não casher faz mal à saúde. O porco é um exemplo disso. A
carne de porco vem infestada de vermes, às vezes, e se não for bem
cozida pode causar uma terrível doença, a triquinose, causada por
parasitas. Esse argumento vem sendo usado repetidamente para
dissuadir os judeus de comerem carne de porco. No entanto, se essa
fosse a razão para a proibição, em vez de proibir, a Torá poderia dar
um conselho melhor: cozer a carne por várias horas antes de comê-la.
Outros alegam que a Torá proíbe o consumo do porco porque o animal
era usado para fins de idolatria. Já outros alegam o contrário: que o
porco nem se prestava à idolatria, portanto também não serve para o
consumo. Esses argumentos não têm muita base, porque muitos
animais, inclusive os que são casher, também foram usados para
idolatria e também há animais casher que não prestam para a
idolatria.
Como vimos acima, há sinais que determinam se um animal é casher –
casco fendido e que ruminam, barbatanas e escamas – mas não parece
haver explicação clara para que o consumo de certos animais seja
permitido e o de outros, não. E tentar justificar as razões para os
mandamentos da Torá como sendo próprios para o benefício físico
parece leviandade. Isso não significa, no entanto, que tais justificativas
sejam necessariamente infundadas e pode-se argumentar que, de
modo geral, comer carne de vaca é mais saudável e seguro do que de
porco. Também é verdade que a Torá nunca nos ordenaria fazer algo
que claramente fosse nocivo ao nosso organismo. Como nos ensina o
Midrash: “Nada maligno provém das Alturas” (Genesis Rabá 51:3). Em
outras palavras, D’us jamais nos ordenaria fazer algo que nos
causasse dano físico. Contudo, é um exagero deixar tudo por conta
disso e buscar apenas o benefício físico de cada mandamento. O
Maharal de Praga, Sábio e Cabalista famoso por ter concebido o
Golem, criticava duramente as explicações médicas para os
Mandamentos, perguntando se seria concebível que a Torá se
resumisse a artigos de uma revista médica (Tiferet Israel 8).
Quando discutimos as leis da Cashrut ou, até mesmo, qualquer outra
lei do judaísmo, devemos lembrar-nos que a Torá é uma obra de
autoria Divina. Na maioria dos casos, o conteúdo de um livro é mais
importante do que quem o escreveu. Um livro brilhante escrito por um
autor desconhecido tem mais valor do que um trabalho inexpressivo
escrito por um autor de renome. Mas quando o autor é D’us, Todo
Poderoso, Ser Perfeito, é evidente que Seu trabalho também é perfeito.
Foi Ele quem escolheu o que incluir e o que não incluir na Torá. Ele
não apenas é o Rei do Universo e o Juiz Final, mas também o
Legislador Supremo. O conteúdo da Torá não foi escolha de um ser
humano caprichoso, mas de um Ser Onisciente, Onipotente e Eterno.
Nossos Sábios ensinam, pois, que a Torá é a Vontade e Sabedoria
Divinas, que D’us compartilhou com o homem quando Se revelou ao
Povo Judeu no Monte Sinai.
Como a Torá é produto da Vontade e Sabedoria Divinas, é eterna e
infinita, assim como seu Autor. É incrível que nós, seres humanos
limitados, possamos compreender parte da mesma. E a razão para isso
ser possível é porque D’us “revestiu” a Torá com “vestimentas
racionais” – ou seja, Ele permitiu que os mandamentos da Torá
fossem, até certo ponto, compreensíveis ao homem.
Os 613 mandamentos da Torá se dividem em três categorias gerais. Os
primeiros são os Mishpatim (Julgamentos) – os chamados
mandamentos racionais. Entre os Mishpatim estão as proibições
contra assassinato e roubo. A segunda categoria de mandamentos são
os Edut (Testemunhos), que celebram as obras e maravilhas Divinas.
Entre estes estão a guarda do Shabat (que testemunha o fato de que
D’us criou o Universo) e Pessach (que celebra o Êxodo do Egito). Por
fim, a terceira classe de mandamentos são os Chukim (Decretos),
popularmente conhecidos como os mandamentos não racionais –
aqueles cujos motivos não são tão óbvios. O mandamento que
simboliza os Chukim é o ritual da Pará Adumá – a vaca vermelha.
A QUE CLASSE DE MANDAMENTOS PERTENCEM AS LEIS DA
CASHRUT?
Algumas pessoas bem-intencionadas, na tentativa de influenciar
outros judeus a seguirem as leis da Cashrut, classificam-nas de
Mishpatim – leis racionais. De fato, podemos encontrar uma infinidade
de razões para que a pessoa coma apenas comida casher. No entanto,
o problema com esses argumentos é que todos podem ser refutados.
Por exemplo, como vimos acima, a Shechitá é uma forma relativamente
indolor e menos cruel de abater um animal. Por isso, quem se
preocupa com o sofrimento dos animais somente deveria comer carne
casher. O problema é que alguém que realmente se preocupa com os
animais não come carne animal. A lei da Torá não vai contra essa
opção, tendo havido, mesmo, grandes rabinos que se abstinham de
comer carne.
Outro argumento para que se guarde a Cashrut é que, como dissemos
acima, comer porco e mariscos pode fazer mal à saúde. Mas o mesmo
se pode aplicar a comer açúcar e gorduras em demasia – e a Torá não
os proíbe.
Quem estuda a Cabalá sabe que há razões místicas em prol da
alimentação casher. Por exemplo, uma das razões para não se comer
carne e leite juntos é o fato de que a carne significa a morte de um
animal, que é simbolizada pela Sefirá de Guevurá (severidade), ao
passo que o leite, que é um símbolo de vida e crescimento, representa
a Sefirá de Chessed (bondade), e não devemos misturar as duas. Mas,
por quê? Não faria sentido temperar a severidade com alguma
bondade, como muitos fazem durante o Kidush da noite de 6a feira,
quando colocam um pouco de água (que, como o leite, representa
Chessed) no copo de vinho (que também representa Guevurá)?
Outro argumento místico oferecido para promover as leis da Cashrut é
que quando comemos a carne de um animal, nossa alma é
influenciada por sua natureza. Nachmânides, grande Sábio e Cabalista
do século 12, assinala que “os pássaros e muitos dos mamíferos
proibidos pela Torá são predadores, ao passo que os permitidos não o
são: somos instruídos a não comê-los, para não absorver essas
qualidades malignas”. Segundo esse ponto de vista, a Cashrut é
“nutrição espiritual”: assim como há alimentos que são bons para o
corpo e outros que são nocivos, há alimentos que afetam nossa alma
positivamente e outros, negativamente. Na verdade, os animais casher
são, em geral, menos agressivos que os não casher. Seria esta a razão
para a vaca e ocarneiro serem casher enquanto o leão e a cobra não?
Talvez. Mas, cabe a pergunta: não ser agressivo é sempre uma virtude?
Está claro que para cada argumento promovendo as leis da Cashrut
há um contra-argumento.A tentativa de defender as leis da Cashrut
apenas por meio de motivos racionais prova ser futilidade.
Interessante, no entanto, é o fato de que as leis da Cashrut com
frequência são o fator decisivo da identidade judaica de uma pessoa.
Através da História, e particularmente durante a Inquisição, muitos
judeus tinham que escolher entre comer porco ou arder na fogueira.
Muitos optaram pela fogueira. Preferiram morrer a comer porco,
porque para eles isso era um teste para seu Judaísmo. Ao forçar os
judeus a violar um mandamento da Cashrut, os Inquisidores não
apenas tentavam fazer com que eles violassem um decreto da Torá –
queriam forçá-los a renunciar à sua fé. Muitos preferiram a fogueira
porque para eles comer porco não era diferente do que se curvar
perante ídolos. Era o mesmo que renegar a sua identidade judaica.
Devemos, então, fazer a seguinte pergunta: Quais as razões para que
os judeus sacrifiquem seu conforto e até sua vida guardando as leis da
Cashrut? Seriam razões de saúde? Seriam razões espirituais? Seriam
questões relacionadas às Sefirot? Essa mesma pergunta pode ser feita
acerca de praticamente todos os mandamentos da Torá: mesmo se
argumentarmos que quem guarda a Torá e os mandamentos terá
sucesso nos negócios, na vida conjugal, nos relacionamentos pessoais
– ainda assim, esse sucesso merece que se dê a vida por ele? A
resposta é ‘não’. Quando nos aproximamos da Torá, não podemos
considerar vantagens pessoais.
Por que, então, guardamos as leis da Cashrut? Pela mesma razão que
guardamos todos os demais mandamentos da Torá: porque D’us nos
disse que assim o fizéssemos. Ao cumprir a Vontade Divina,
conectamo-nos com D’us. Essa é a razão para sermos casher. Todas as
demais razões, sejam físicas ou espirituais, são secundárias.

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