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EISSN 1676-5133 doi:10.3900/fpj.4.2.107.p
Guilherme Gomes Côrtes (CREF 000965-G/RJ) Vernon Furtado da Silva, PhD (CREF 005475-G/RJ)
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Prof. Titular do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade
Universidade Castelo Branco/RJ Humana da Universidade Castelo Branco/RJ
Universidade Estácio de Sá vfs@castelobranco.br
Fundação Estadual do Norte Fluminense (FENORTE)
Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos dos Goytacazes
Rua Dr. Siqueira nº 294 apt. 704. Parque Tamandaré,
CEP: 28030-131, Campos dos Goytacazes – RJ.
guilhermecortes@uol.com.br
CÔRTES, G.G.; SILVA, V.F. Manutenção da força muscular e da autonomia, em mulheres idosas, conquistadas em trabalho prévio
de adaptação neural. Fitness & Performance Journal, v. 4, n. 2, p. 107-116, 2005
RESUMO: Com base no fato de que o processo de envelhecimento é acompanhado por muitas alterações orgânicas e, dentre es-
tas, a sarcopenia que, devido a fatores biológicos, leva o idoso à perda de força muscular e autonomia funcional, esta pesquisa tem
como objetivo tratar da manutenção da força muscular e autonomia em idosos, para a execução das atividades diárias. Realizou-se
um trabalho contra resistência (12 semanas), com ganhos significativos (p<0,05) nos testes de: 1 RM, Levantar da Posição Sentado
(LPS), Levantar da Posição Decúbito Ventral (LPDV), Caminhar 10 metros (C10m) em um grupo de 30 mulheres idosas (68 ± 6 anos).
Na décima segunda semana, esse grupo foi dividido em dois subgrupos (16 e 14 sujeitos), denominados Grupo Manutenção (GM),
que fez treinamento reduzido de uma sessão por semana, durante 8 semanas, e Grupo Controle (GC), que não fez o treinamento.
Após a oitava semana de treinamento reduzido (GM) e destreino (GC), o GC apresentou perdas significativas (p<0,05) nos testes
de 1 RM em todos os exercícios, ao contrário do GM. Todavia, nos testes de autonomia funcional, os dois grupos (GM e GC) man-
tiveram os tempos conquistados nas 12 semanas de treinamento, indicando que a autonomia funcional pode ser mantida com ati-
vidades do cotidiano. Em conclusão, o treinamento de força muscular, além de melhorar diversas funções biológicas, mostra que os
ganhos poderão ser mantidos por 8 semanas com trabalho reduzido e a autonomia é mantida pelo mesmo tempo no destreino.
Palavras-chaves: Envelhecimento, adaptação neural, Treinamento contra resistência, manutenção de força e autonomia.
Muscular strength and autonomy maintenance in senior women, con- El mantenimiento de fuerza muscular y autonomía en las mayores
quered in previous work of neural adaptation mujeres, conquistó en el trabajo anterior de adaptación neural
Aging is followed by many biological changes, such as sarcopenia, which leeds to Basado en el hecho de que la vejez viene acompañada de muchas alteraciones
muscular strength and functional autonomy loss. The aim of this study is to observe orgânicas y, entre estas la sarcopenia que debito a factores biológicos, lleva al
gains in muscular strentgh and in autonomy with a diary resistance program of anciano a la perdida de la fuerza muscular y la vez de la autonomía funcional. Esta
12 weeks. Thirty elderly women with ages between 62 and 68 years performed investigación tiene como objetivo tratar del mantenimiento de la fuerza muscular y
the following exercises: 1RM, getting up from a seated position (GUSP), getting autonomía en las actividades diarias, después de un trabajo de contra resistencia (12
up from a belly down position (GUBDP) and a10-meter walk (W10m). In the semanas) con ganâncias significativas (p<0,05) en pruebas de: 1 RM, levantarse desde
last week, this group was divided in 2 (16 and 14 subjects). The Mainteinance la posición sentada (LPS), levantarse desde la posición decúbito abdominal (LPDV),
Group (MG) trained once a week for 8 weeks and the Control Group (CP) had caminar 10 metros (C10 m) em un grupo de 30 mujeres ancianas (68 ± 6 años).
no training at all. After eight weeks, the CG showed significant loss (P< 0.05) in En la duodécima semana ese mismo grupo fue dividido en dos (16 y 14 sujetos) y
all exercises, compared to the MG. However, both groups kept their times in the llamados: Grupo Mantenimiento (GM), siendo el que hizo el entrenamiento reducido
functional autonomy tests acquired in these 12 weeks of training. In conclusion, una vez a la semana por un periodo de 8 semanas y Grupo Control (GC), que no hizo
muscular strenght gains are still kept even when training is reduced and autonomy el entrenamiento. Después de la octava semana de entrenamiento reducido (GM) y
can still be seen when that is no training at all. desentrenamiento (GC), el GC presentó perdidas significativas (p<0,05) en las pruebas
de 1 RM en todos los ejercicios, en contraposición del GM. Todavía, en las pruebas
de autonomía funcional, los grupos (GM y GC) mantuvieron los tiempos conquistados
en las 12 semanas de entrenamiento; lo que demuestra que la autonomía funcional
puede ser mantenida con actividades del cotidiano. Concluyese que el entrenamiento
de fuerza muscular, además de mejorar diversas funciones biológicas, demuestra que
las ganancias podrán mantenerse por 8 semanas con trabajo reducido y La autonomía
se mantiene por el mismo tiempo en El desentrenamiento.
Keywords: Aging, neural adaptation, workout against resistance, maintenance Palabras clave: vejez, adaptación neurológica, entrenamiento contra resist-
of strength and autonomy. encia, mantenimiento de fuerza y autonomía.
INTRODUÇÃO
Decisivamente, indivíduos acima dos 60 anos perdem muito de nos homens, entretanto, não foi associada de forma significativa
sua capacidade funcional, devido à perda da massa muscular à mudança de força, indicando outras formas de contribuição
(sarcopenia), em particular, das fibras tipo II (ROSENBERG, 1997, para essas perdas, como neurais e metabólicas.
citado por MARCELL, 2003). Essas fibras são substituídas por
Pesquisadores propuseram mecanismos de perda ou redução de
gordura e tecido conjuntivo e, desse modo, esta perda seletiva
força e potência relacionados à idade e ao “destreino”, tais como:
favorecerá a diminuição de força e potência. O acúmulo de
1- alterações músculo-esqueléticas; 2- acúmulo de doenças crô-
doenças, assim como o uso de medicamentos, produzem efeitos
nicas; 3- medicamentos; 4- redução das secreções hormonais;
colaterais que também reduzem as capacidades funcionais. As
5- atrofia por desuso; 6- alterações no sistema nervoso (FLECK e
reduções hormonais podem, por exemplo, favorecer o acúmulo
KRAEMER, 1999; ENOKA, 2000; OLIVEIRA e FURTADO, 2002;
de gordura corporal, pois induzem à diminuição das atividades
WILMORE e COSTILL, 2002).
diárias do idoso, com conseqüente desuso dos seus músculos,
aumentando ainda mais os problemas relacionados à força e O aumento da força muscular foi associado, durante muito tempo,
potência. Nesse caso, as mulheres são mais afetadas, pois, os ao aumento e tamanho da fibra muscular (hipertrofia), o que não
declínios funcionais já podem ser percebidos de forma mais acen- é de todo errado, pois músculos grandes possuem mais força que
tuada no período da menopausa, que começa aproximadamente os menores. Entretanto, nem sempre os ganhos de força são de-
aos 50 anos de idade (CRAIG, 2002). É importante ressaltar que correntes dessa característica pois, hoje, se sabe que os primeiros
o treinamento não impede o envelhecimento biológico e a perda ganhos de força são adaptações neurais ao movimento e à força
de força, entretanto, é possível minimizar essa perda e seu impacto produzida. Essas adaptações podem ser mecanismos excitatórios
no cotidiano de uma pessoa idosa (FLECK e KRAEMER, 1999; ou inibitórios de natureza protetora (ENOKA, 2000; WILMORE e
ENOKA, 2000; FRONTERA, HUGHES, FIELDING, FIATARONE, COSTILL, 2002). Enoka (2000) afirma que “é possível obter um
EVANS e ROUBENOFF, 2000; WILMORE e COSTILL, 2002). visto aumento de força sem a adaptação no músculo, mas não sem uma
que, em estudos com homens, com idade média de 70 anos, adaptação no sistema nervoso”. Fiatarone et al (1990); Matsudo
os efeitos da sarcopenia e da perda de força muscular foram et al (2000) e Hãkkinen et al (2001), entre outros, confirmam em
reduzidos, significativamente, com treinamento de força (TRAPE, seus estudos os ganhos iniciais de força pela adaptação neural.
WILLIAMSON e GODARD, 2002; TRAPE, 2003).
Raso, Matsudo e Matsudo (2001) e Hakkinen e Komi (1983,
As mudanças longitudinais na força muscular diferem entre os citado por FLECK e KRAMER, 1999) ratificam a tese desses
gêneros para determinados grupamentos musculares, como flexo- pesquisadores e acrescentam que também as perdas por “des-
res e extensores do cotovelo, com uma perda de 2% por década treino” são por adaptação neural, indicando a necessidade de
para as mulheres e 12% para os homens (HUGHES, FRONTERA, um trabalho constante, a fim de que sejam mantidos os ganhos
WOOD, EVANS et al, 2001). Essa diferença se deve à distribuição neurais. Nos estudos de Raso, Matsudo e Matsudo (2001),
diferente nos músculos do braço, menor nas mulheres que nos ho- foram demonstrados os efeitos negativos com a paralisação do
mens; conseqüentemente, “elas” possuem menos potencial para treinamento em mulheres idosas saudáveis, num programa de
perder força nesse grupamento muscular do que “eles”. Todavia, exercícios com peso livre e a constatação de perda significativa
essas perdas no quadríceps se equivalem, com uma média de de força, principalmente, na 8ª semana de paralisação induzida.
14% e 16%, por década, para extensores e flexores do joelho, Essa perda, geralmente, é seletiva e acontece principalmente em
respectivamente. Nesse estudo, a massa muscular diminuiu mais fibras do tipo II, tanto em homens como em mulheres (MARCELL,
Tabela 6 - Resultado da força máxima do GM (n = 16) e GC (n = 14) 1RM teste pós-destreino e final
Extensão perna (%) Supino (%) Leg press(%)
Grupo
pré/pós pós/final pré/pós pós/final pré/pós pós/final
GM 41,60 5,20 15,00 -0,50 44,60 9,30
34,90 12,80 42,00
GC
-17,60 -8,90 -13,80
Bíceps (%) Flexão perna (%) Tríceps (%)
Grupo
pré/pós pós/final pré/pós pós/final pré/pós pós/final
GM 16,10 1,90 28,00 0,80 16,00 -0,90
GC 9,60 -8,00 23,30 -12,80 12,30 -8,10
Tabela 10 - Teste t para observações pareadas o que de certa forma não era esperado, visto que outras pesquisas,
GRUPO Teste LPS LPDV C10m tais como a desenvolvida por Geraldes (2000), na qual o supino
reto teve correlação significativa com o teste de levantar da posição
T (calculado)* 2,65 5,04 7,23
GTF decúbito dorsal, e a de Kwon, Oldaker, Schrager, Talbot et al. (2001),
T (tabela) 2,04 2,04 2,04 relacionando a força no extensor do joelho com a caminhada, con-
T (calculado)* 1,98 4,06 5,27 trariam os achados quanto à significância desta pesquisa.
GM
T (tabela) 2,13 2,13 2,13
Esses achados devem ser vistos com cautela, enquanto não for
T (calculado)* 1,77 2,95 4,95
GC possível oferecer respostas definitivas, pois podem ter decorrido
T (tabela) 2,16 2,16 2,16 do fato de que a maioria dos sujeitos envolvidos na pesquisa
já eram ativos e, portanto, preservaram a sua autonomia e,
A tabela 11 mostra a correlação da força desenvolvida no leg dessa forma, os ganhos de força nos exercícios descritos não
press e extensão de pernas com o teste LPS e o teste t para o coe- correlacionaram significativamente com os tempos dos testes de
ficiente de correlação. Observou-se uma tendência de correlação autonomia. Trabalhos adicionais serão necessários antes de um
negativa da força muscular dos exercícios leg press e extensão entendimento completo dessa questão.
de pernas com o tempo de execução do teste LPS, contudo essa
correlação apresentouse pouco significativa. Discussão dos resultados dos testes de autonomia
no GTF
A tabela 12 mostra a correlação da força desenvolvida na ex-
tensão de pernas, supino, leg press e tríceps com o teste LPDV Ao longo do processo de envelhecimento, as mulheres são particular-
e o teste t para o coeficiente de correlação. Observou-se uma mente mais suscetíveis à inaptidão, por terem uma reserva inicial de
tendência de correlação negativa da força muscular dos exercícios massa muscular menor em relação aos homens, devido, principalmen-
leg press e extensão de pernas e supino com o tempo de execu- te, aos hormônios anabólicos (FIATORONE, 2002). Nesse contexto,
ção do teste LPDV, mas não para o tríceps que, contrariando as existe uma associação com a perda de força muscular, de autonomia e
expectativas, apresentou uma correlação positiva. Em nenhuma de independência inconteste, o que leva as idosas a perdas funcionais
variável houve significância para a correlação. importantes, como velocidade de caminhada, capacidade de subir
escadas, de levantar-se de uma cadeirae de recuperação do equilíbrio
A tabela 13 mostra a correlação da força desenvolvida na exten- após um tropeço, as quais deverão ser retardadas com exercícios
são de pernas, leg press e flexão de pernas com o teste C10m vigorosos, como sugerido por Frontera et al. (2000).
e o teste t para o coeficiente de correlação. Observou-se uma
tendência de correlação negativa da força muscular dos exercícios Caminhadas e exercícios aeróbicos são uma boa opção, todavia
extensão de pernas, leg press e flexão de pernas com o tempo a capacidade de exercício físico e a autonomia do idoso não
de execução do teste C10m, sem significância para a correlação serão mantidas somente com essas atividades. Em certos casos,
entre essas variáveis e o tempo de execução do teste. essas atividades são até desaconselháveis, como, por exemplo,
no caso de pessoas com risco acentuado de quedas; essas
Discussão da correlação da força desenvolvida necessitam de um trabalho de força, a fim de sobrecarregar os
nos exercícios com os tempos dos testes de au- músculos e evitar a sarcopenia. (FIATORONE, 2002).
tonomia no GTF
O efeito do treinamento de força em indivíduos com idades va-
Analisando os dados plotados nas tabelas 11, 12 e 13, é possível riando entre 70 e 84 anos foi fortemente associado à prevenção
inferir que existe uma tendência de correlação negativa dos ganhos de de quedas, à melhora da mobilidade e da execução de tarefas
força com os menores tempos nos testes de autonomia. Todavia, essa diárias. Assim, os idosos se tornam mais ativos e independentes
correlação não se mostrou significativa para nenhum dos exercícios, (STEPHENSON, 2002; BRAUNSTEIN, 2003 e RINGSBERG et al,
Tabela 11 - Correlação força X LPS
Leg press Extensão
Pre X Pre Pos X Pos Pre X Pre Pos X Pos
Correlação 0,2739 -0,2385 0,3359 -0,2415
Operação matemática 0,0750 0,0569 0,1128 0,0583
Teste T (calculado) 1,5067 1,2993 1,8871 1,3171
Teste T (tabela) 2,0500 2,0500 2,0500 2,0500