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APOSTILA DE KUNG-FU

Gustavo Rodrigues Rosato


KUNG-FU

“Kung-fu: Trabalho duro em tempo integral para adquirir habilidade.


Um pintor pode saber kung-fu, ou o açougueiro, que corta a carne todo dia
com tanta habilidade que sua faca nunca toca os ossos.”
“Aprenda a forma, mas busque o que não tem forma. Ouça o que não
tem som. Aprenda tudo e, então, esqueça tudo. Aprenda o caminho e,
então, encontre o seu próprio.”
“O músico pode saber kung-fu. O poeta, que pinta quadros com
palavras e faz chorar imperadores, isso também é kung-fu.”
“Mas não de nome a ele, meu amigo, porque ele é como a água.
Nada é mais mole do que a água. No entanto, ela pode dominar uma rocha.
Ela não luta. Ela flui ao redor do seu adversário.”
“Sem forma, sem nome o verdadeiro mestre reside no seu interior.
Apenas você pode libertá-lo.”
-O Reino Proibido

“Antes as lágrimas da derrota, do que a vergonha de não ter lutado.”


-Mr. Huang Yu Sheng
ZHONG-WU-DAO

Zhong-Wu-Dao
“Caminho da Arte Marcial Chinesa”. É o resumo do conhecimento do Grão
Mestre Lin-Jon-Yuen, fundado em 1970 na cidade de Taiwan. Devido ao
seu vasto conhecimento que aponta a formação profissional de atletas e seu
plano completo de organização, foi considerado como o protocolo
idealizado para a divulgação do kung-fu em Formosa. O programa básico
de Jon-Wu-Dao tem como objetivo levar seu praticante a desenvolver
habilidades tanto para o estilo Norte quanto para o Sul de kung-fu. O
programa serve como triagem para futura especialização do atleta. O estilo
Jon-Wu-Dao analisa a diferença individual de seus praticantes, sua
estrutura física, sua vocação técnica, sua personalidade bem como seu
perfil psíquico, ajuda a cada um buscar seu melhor desenvolvimento.

1° Estágio (Chi-Bu-Chuan): Treinamento básico

Bases: Shuai-Chiao:
 Pin-bu  Tso-dê
 Ma-bu  Ro-Tso-dê
 Kon-bu  Nei-pei-pa
 Pu-bu  Wai-pei-pa
 Tien-bu  Ying-yang-pei-pa
Socos:  Tui-la
 Chien-chuen San-Ta (Tec. Luta):
 Tso-chuen  Yu-pei-si
 Pon-chuen  Huan-bu
Chutes:  Jin-bu
 Tan-Tuei  Tuei-bu
 Chien-ti  Chien-hua-bu
 Nei-kua-Tuei  Ro-Hua-bu
 Wai-kua-Tuei  Yi-bu
Apêndice 1° estágio:

 Bu = base fechados protegendo as costelas.


 Chuen = Punho ou soco Peso do corpo 70% a frete.
 Chien = para frente  Passos de Luta:
 Tso = para o lado  Chien-hua-bu = Passo para
 Ro = para trás frente trocando a base.

 Dê = queda  Ro-hua-bu = Passo para trás

 Pei-pa = pegada no braço trocando a base.

 Tuei = perna  Jin-bu = Passo para frete

 Yu-pei-si: Pernas flexionadas,  Tuei-bu = Passo para trás

abertas na largura do ombro,  Yi-bu = passo para o lado


com um pé à frente – Mãos na  Huan-bu = Troca de base
altura do nariz com os cotovelos  Tui-la = Empurrar e puxar
 Yin-Yang = opostos
Faixa Cinza Descrição
Quantao Xibuquan Punho de Treinamento de Bases
Movimentos Básicos - Pinbu - Base inicial
- Mabu - Base do cavalo
- Gongbu - Base do arco
- Pubu - Base de abaixar
- Dingbu - Base em “T”
Membros Superiores - Qianquan - Soco para frente
- Cequan - Soco lateral
- Qianponquan - Soco para frente com as costas da mão
- Neikua - Defesa para dentro com antebraço

(Qianquan - Qianquan) (Deslocamento Gongbu+ qianquan)


Membros Inferiores - Qianti - Chute com ponta do pé
Shuaijiao - La/tui - Puxar e empurrar (com qianquan,
(3 variações) cequan e neikua)
- Qiangunfan - Rolamento de frente
Armas Gun Bastão
- Kai - Batida de cima para baixo em gongbu
- Tiao - Batida de baixo para cime em gongbu
- Ji - Batidas laterais em xubu
- Shangjia - Defesa horizontal para cima em gongbu
- Xiaya - Defesa horizontal para baixo em gongbu
- Ko (zuo, you) - Defesa lateral em xubu (E/D)
Qigong - -
Aplicações 4 -
Defesa Pessoal - -
Sanshou - Yubeici (Zhongbu) - Postura de luta (base centralizada)
- Jinbu - Passo para frente
- Tuibu - Passo para trás
- Yibu - Passo para os lados
- Huabu (F/T) - Passo trocando pernas
- Huanbu - Trocar lado de base, no lugar.

2S (S-S) Criar combinação de 2 socos


Faixa Amarela Descrição
Quantao Wubuquan Punho das Cinco Bases
Movimentos Básicos - Dulibu - Base de uma perna só
Membros Superiores - Gou (defesa) - Garça usada para soltar
- Qianzhang - Batida de palma para frente

Membros Inferiores - Kuatui (nei, wai) - Chute circular (para dentro e para fora)
Shuaijiao - Cede (qian, hou) - Queda lateral (simples e virando 180º)
- Beiba - Pegar braços (para dentro, para fora, dentro e
(nei, wai, yinyang) fora)
- Tuila - Quebra de equilíbrio, derrubando
Armas Gun Bastão
- Po - “Separar” cima e baixo
- Jiao - Giro de ponta de bastão para desarme
- Liao - Movimento circular vertical
- Sao - “Varrer” horizontal em gongbu
- Den - Batida curta com ponta de bastão

Qigong - Hunyuanchuang - “Abraçar a árvore”, respiração de baixo para


cima
Aplicações 4 -
Defesa Pessoal - Cabeça - Defesa e contrataque contra golpe lateral
- Tronco cabeça
- Defesa e contrataque contra golpe lateral
tronco
Sanshou - Uso de Kuatui - Demonstrar uso de chutes kuatui

2S1C Criar combinação de 2 socos e 1 chute


Faixa verde Descrição
Quantao Zhongyiquan Punho da Lealdade e Justiça
Movimentos Básicos - Xubu - Base vazia (“do gato”)
- Xiebu - Base de pernas cruzadas
Membros Superiores - Chuquan - Soco com punho na vertical
- Fang (nei, wai, shang, - Defesas com mão (dentro, fora, cima,
xia) baixo)

(Cequan- Cequan) (Deslocamento em mabu+cequan)


(Qian-Ce-Qianquan) (Deslocamento em gongbu+qianquan,
mabu+cequan e gongbu+qianquan)
Membros Inferiores - Jietui - Chute “pisando”
- Qiandan - Chute com sola do pé
Shuaijiao - La/Tui (4 variações) - Puxar e empurrar (com os 4 “fang”)
- Xiegunfan - Rolamento diagonal
Armas Gun Bastão
- Cuo (qian, hou) - Estocada (frente gongbu e trás xiebu)
- Duo - Bater com bastão horizontal, gongbu
- Pi - “Machado” em mabu
- Yun - “Nuvem”, virando gongbu
- Wuhua (ce) - Giro pelas laterais do corpo
Qigong - 1ª Respiração - Respiração abdominal, solta boca
- 2ª Respiração - Respiração abdominal, solta nariz
Aplicações 4 -
Defesa Pessoal - -
Sanshou - Uso das defesas - Demonstrar uso de movimentos de
- Uso de Qiandan defesa
- Demonstrar uso do chute qiandan

3S (S-S-S)
Criar combinação de 3 socos
Faixa Azul Descrição
Quantao Xiaobaji Pequeno “Oito direções”
Movimentos Básicos - Zuobanbu - Base de “sentar em um prato”, serpente
Membros Superiores - Na - Garra de xiaobaji
- Qianbifang (nei,wai) - Defesa com antebraço (dentro e fora)

Membros Inferiores - Kuatui Xiaya - Chute circular que desce vertical (dentro e
(nei,wai) fora)
Shuaijiao - Duoba (gou, kua, hua) - Escapar (garça em bairo, antebraço em cima
- Niushuai Qianzhaobu e empurrar)
(3 variações) - Derrubar cruzando passo (simples,
avançando perna de trás, trazendo perto do
chão)
Armas Gun Bastão
- Wuhua (qian, hou, - Giro (frente do corpo, atrás do corpo, acima
shangxia) de cabeça/costas curvadas)

* Quantao 32 de Bastão
*Quantao de Bastão
Qigong - Jingji Duli - “Galo dourado em uma perna só”
- Shengxin (braços) - Condicionamento de antebraços
Aplicações 5 -
Defesa Pessoal - Cabeça - Defesa e contrataque contra batida
- Orelha descendo cabeça
- Defesa e contrataque contra pegada e batida
lateral em orelha
Sanshou - Esquivas (cabeça, - Esquivas de boxe (sair só cabeça, esquiva
pêndulo, diagonal, “L”) de corpo em “U”, avanço diagonal de passos,
esquiva de perna da frente em “L”)

Esquiva + 2S Criar combinação de esquiva e 2 socos


Esquiva +2S1C Criar combinação de esquiva, 2 socos e 1
chute
Faixa Vermelha Descrição
Quantao Chuji Changquan Punho Longo Inicial
Movimentos Básicos - Qixingbu - Base “Sete estrelas”, louva-a-deus
Membros Superiores - Qianpiquan - Batida para frente de “martelo”
Membros Inferiores - Tantui - Chute baixo com ponta de pé
- Taitui (qian, ce, hou) - Chute perna sobe vertical (frente, lado e
virando de costas)
Shuaijiao - Niushuai Cemaibu - Derrubar puxando primeiro para um lado
(4 variações) (vai e volta mesma perna, vai uma perna e
- Goutuishuai volta outra)
- Derrubar com “perna em gancho”
Armas Dao Facão
- Pao (2 variações) - Segurar (simples e atrás)
- Pei (2 variações) - Carregar (frente o corpo e esticado ao lado)
- Chan (3 variações) - Esconder (horizontal, vertical, atrás da
- Pon perna)
- Ko (E/D) - Defesa em neikua
- Yun - Defesa lateral simples
- Shang (duo, jia) - “Nuvem”, mudando gongbu
- Xia (pi, li) - Defesa horizontal (frente e acima de
- Huodai (E/D) cabeça)
- Cekua - Defesa baixa em xiebu (horizontal e
vertical)
- “Desfiar”, puxando xubu
- Giro a partir de ponta de facão
Qigong - Shengxin (canelas) - Condicionamento de canelas
Aplicações 5 -
Defesa Pessoal - Chave de pescoço - Saída de chave de pescoço (por queixo,
(3 variações) jogando para trás, quebrando)
Sanshou - Uso de Taitui - Demonstrar uso dos chutes taitui

2C1S Criar combinação de 2 chutes e 1 soco


Faixa Roxa Descrição
Quantao Shibasou Dezoito Anciãos
Movimentos Básicos -Zhuhanbu - Base ajoelhada
Membros Superiores - Ponquan (ce, cenei, - Soco com costas de mão (lado, fora para
cewai) dentro e dentro para fora)
Membros Inferiores - Cedan - Chute lateral com sola do pé
- Houdan - Chute com sola do pé, girando 360°
Shuaijiao - Qiande - Queda de frente
- Naba (jin, cion, yao) - Pegar roupa (manga, gola, cintura)
- Pieshuai (3 variações) - Derrubar apoiando mão em perna
(simples, entrando perna, puxando)
Armas Dao Facão
- Chantou/Kounao - Giro de facão ao redor do corpo, anti-
- Qiantui (pin, li) horário/horário
- Qiancuo (zheng, fan) - Empurrar (dulibu baixo, gongbu frente)
- Pan - Corte diagonal (descendo, subindo)
- Tiao - Desarmar com punho
- Den - Desarmar com braço
- Zhan (zheng, fan, suan) - Batida curta para frente
- Sao - Corte lateral (fora, voltando, após
- Mo chantou)
- Chantou e corta joelhos
- Batída seca lateral
Qigong - Kuanden Qigong falta
Aplicações 5 -
Defesa Pessoal - Chave de cintura - Defesa contra entradas em cintura
(4 variações) (bloqueio, falta
Sanshou - Uso de Cedan - Demonstrar o uso do chute cedan
- Uso de Houdan - Demonstrar o uso do chute houtan

2S2C Criar combinações de 2 socos e 2 chutes


Faixa Marrom Descrição
Quantao Yingchui Bater forte
Movimentos Básicos - Guibu - Base ajoelhado lateral
- Banmabu - Base “meia mabu”
Membros Superiores - Kuafang (shang, xia) - Defesa com antebraço (cima, baixo
abrindo)
Membros Inferiores - Chantui - Chute “pisando” com lateral de pé
- Lianhuan Kuatui - Waikuatui, neikuatui, houwaikuatui
Shuaijiao - Hougunfan - Rolamento de costas
- Paodan Tuishuai - Pegar uma perna (empurrar, pé de
(4 variações) apoio, ombro e giro)
- Paosuan Tuishuai - Pegar duas pernas (simples)
(1 variação)
Armas Dao Facão
- Liao - Giro amplo, baixo para cima
- Lumpi - Liao, trocando mãos
- Wanhua (liao, jian) - Giro de facão com movimento de pulso
(baixo para cima, cima para baixo)

* Quantao de Facão * Quantao 32 de Facão


Qigong - Daoli Qigong - Qigong de cabeça
Aplicações 5 -
Defesa Pessoal - Chão - Saída de pessoa por cima contra o chão
(2 variações de cabeça, (soco, estrangulamento, pernas presas)
pescoço)
Sanshou - Beizhoufang - Defesa recolhendo o braço para abafar
golpe

3C Criar combinações de 3 chutes


3C2S Criar combinações de 3 chutes e 2 socos
Faixa Preta Descrição
Quantao Yiquan Punho da Transformação
Movimentos Básicos - Pubulumpai - Giro de braços, virando pubu
- Lianbuquan - Punho de Ligação de Bases
Membros Superiores - Paiquan (qian, ce) - Soco plano horizontal (frente, lateral)
- Liaoquan (qian, ce, hou) - Soco subindo (frente, lado, para trás)
- Kouquan - “Cascudo”
- Bianquan - Soco longo em abdômem
Membros Inferiores - Ceti - Chute lateral com “faca” de pé
- Paiti (nei, wai, tiao) - Chute amplo com giro (dentro, fora,
salto)
Shuaijiao - Chantuishuai - Derrubar usando perna (2 variações de
(2 variações de li, fora para dentro, 2 variações de dentro
2 variações de wai) para fora)
Armas Qiang Lança
- La/Na/Cha - Defesa fora, defesa dentro, estocada
- Liao - Lança sobe, formando xubu
- Pei - Batida de base da lança
- Po - “Separar”, altura de cabeça
- Xue - Giro de ponta para desarme

Qigong - Huyuanyi Qigong falta


Aplicações 6 -
Defesa Pessoal - Garrafa - Defesa contra golpe de garrafa quebrada
(2 variações cabeça, (falta
abdomem)
Sanshou - Cituifang - Defesa de chute com canela
- Uso de Paiti - Demonstrar o uso de chutes paiti
- Esquiva (S/C)+2 catq. - Demonstrar uso de esquiva contra socos
- Defesa (S/C)+shuaijiao ou chutes e 2 contrataques
- Demonstrar defesa contra socos ou
chutes e aplicar técnica de shuaijiao

3C2S Criar combinação de 3 chutes e 2 socos


Faixa Preta p/Branca Descrição
(I)
Quantao Chuji Changquan Punho Longo Inicial
Movimentos Básicos - Qiangunfan (salto) - Rolamento para frente (com salto)
- Hougunfang (salto) - Rolamento para trás (com salto)
Membros Superiores - Gouquan (nei, xie, wai, - Soco em gancho (dentro, diagonal, fora,
shang, xia) para cima, para baixo)
- Denquan - Soco curto no abdômem
Membros Inferiores - Saotui (qian, hou, - Rasteira (frente, trás, frente e trás)
lianhuan)
Shuaijiao - Tiaotuishuai (datui) - Pegar chute de ponta ( perna de trás em
(4 variações) pé de apoio, perna da frente em pé de
apoio, bate calcanhar, jietui)
Armas Qiang Lança
- Ya - Perfurar cabeça, braços dobrados
- Pi - Perfurar cabeça, braços esticados
- Ya (salto) - Como ya, saltando pernas para trás
- Liao (ajoelhado) - Giro 180° e perfurar para cima
- Pan - Como liao, mas usando uma mão

Qigong - Paidagong (I) - Condicionamento de costelas


Aplicações 3 -
Defesa Pessoal - Punhal - Defesa contra punhal (cabeça pela
(2 variações de cabeça, esquerda, cabeça pela direita, estocada
abdomem) abdômem)
Sanshou - Uso de Gouquan - Demonstrar o uso de socos gouquan
- Uso de Saotui - Demonstrar o uso de rasteiras
- Esquiva (S/C)+3catq. - Demonstrar uso de esquiva e 3
- Defesa (S/C)+Gouquan contrataques
- Defesa (S/C)+Saotui - Demonstrar uso de defesa e usar
gouquan
4C2S - Demonstrar uso de defesa e usasr
rasteiras

Criar combinação de 4 chutes e 2 socos


Faixa Preta p/ Branca Descrição
(II)
Quantao Nanquan Punho do Sul
Movimentos Básicos - Xiegunfan (salto) - Rolamento diagonal (com salto)
- Cesoufan - “Estrela”
Membros Superiores - Piquan (ce, nei, wai) - Batida de “martelo” (lado, dentro e fora)
Membros Inferiores - Feitui (qian, dan, - “Chute voador” (impulso de uma perna,
lianhuan, ce) impulso de duas pernas, com giro e
lateral)
Shuaijiao - Kouyaoshuai
(2 variações)
- Koujianshuai
(1 variação)

Armas Qiang
- Sao
- Lumpi
- Pian
- Yun

* Quantao de Lança
Qigong - Paidagong (II)
Aplicações 5
Defesa Pessoal - Bastão curto (cabeça,
costelas, abdômem)
Sanshou -
Faixa Preta p/ Amarela Descrição
(I)
Quantao Zuojiquan
Movimentos Básicos - Yuyuete
- Yuegunfna
Membros Superiores - Zhang (pi, san, pei, tiao,
chuan, tui, kan, den, liao,
yin, pai, cha, kai, dao, dun,
yun)
Membros Inferiores - Shuenfengtui (qian, hou)
- Denbu
- Zhoubu
Shuaijiao - Soushengshuai
(3 variações)
Armas Jian
- Pao (pin, li)
- Jiao
- Pai
- Tuo
- Xiaya
- Cuojie (3 variações)

Qigong - Womenkan Qigong


Aplicações 5
Defesa Pessoal - Bastão longo (cabeça,
tronco, pernas)
Sanshou -
Faixa Preta p/ Amarela Descrição
(II)
Quantao Jingzhongquan
Movimentos Básicos - Liyudaten
- Wulongjiaojiu
Membros Superiores - Zhiben Zhuofa (nei, wai,
shang, xia, kai, ya)
- Zhiben Jiefa (nei, wai,
shang, xia)

Membros Inferiores - Xuanfeitui (qian, ce, cha,


shuenzhang)
- Jientui

Shuaijiao - Qinnashuai
(4 variações)
Armas Jian
- Kua
- Zi
- Dan (2 variações)
- Pi
- Liao (2 espadas)
- Zhan (2 espadas)
Qigong - Patajinkangong
Aplicações -
Defesa Pessoal - 2 atacantes
(frente-frente, livre/chave
de pescoço, chave de
braço)
Sanshou - Uso de cotoveladas
Faixa Preta p/ Vermelha) Descrição
Quantao Tantui Duanlian
Movimentos Básicos - Zhua (hu, ying)
Membros Superiores - Zhiben Cifa (denci, paici)
Membros Inferiores - Shuoji (chave e alavanca)
(4 variações)
Shuaijiao Jian
- Sao (2 espadas)
- Mo (2 espadas)
- Chan (2 espadas)
- Wanhua (jian, liao) (2
espadas)

* Quantao de Espada
Armas [Qigong]
Qigong -
Aplicações - 3 atacantes (frente-frente-
frente, livre-chave de
pescoço, frente-trás-trás,
chave de braço)
Defesa Pessoal - Uso de joelhadas
Sanshou Tantui Duanlian
Cultura e Ética Marcial Chinesa (Material Didático)
Federação Mineira de Kung Fu Kuoshu
Programa do Primeiro Grau do Zhong Wudao
Contribuição: Professor Guilherme Amaral Luz

Faixa Cinza
1 Boas vindas!

Você que escolheu estudar e praticar artes marciais chinesas ou “kung fu”, seja
muito bem vindo! A Federação mineira espera que você encontre neste caminho
tudo o que ele tem a oferecer para o seu bem-estar e para a sua realização como
pessoa.
Para que este caminho seja completo, este material buscará apresentar alguns
elementos importantes da história e da cultura das artes marciais. Aproveite!
Com ele, a sua prática nas aulas e os treinos ficarão muito mais claros. Com o
tempo e o seu amadurecimento, você descobrirá a riqueza de um mundo
fascinante.

2 Jingli!

A forma mais tradicional de saudação entre os praticantes de artes marciais


chinesas é o jingli (pronuncia-se algo como djin-li, como o som do “j” na
palavra “jeans”). Seu professor lhe ensinará o gesto e como posicionar
corretamente as mãos, os dedos, o corpo e as diversas ocasiões de uso. Mas é
importante compreender o que isto significa.
O jingli é um gesto que fazemos uns aos outros, demonstrando respeito. Ele
mostra que somos pessoas educadas e que cultivamos um coração sincero. Ele
também demonstra que reconhecemos no outro alguém que tem valores e que
merece a nossa consideração.
É muito difícil afirmar com certeza quando surgiu esta saudação e qual era o seu
sentido original. Há muitas histórias a respeito e algumas são muito
interessantes. Cada uma delas do seu modo ensina muita coisa importante para o
aprendiz de artes marciais.
Conforme uma delas, o gesto simula um ideograma (caractere da escrita chinesa)
referente à palavra ming. Além de ter sido uma importante dinastia da China
Imperial, ming significa “iluminação” e o ideograma seria formado pela
associação de duas imagens: a do sol e a da lua. Ainda segundo esta versão, o
gesto pode ter sido difundido por monges budistas do Templo Shaolin, destruído
na guerra civil que colocou fim à Dinastia Ming.
Conforme outras versões, o gesto simboliza a ideia da complementariedade dos
opostos, que é um dos princípios mais importantes da filosofia tradicional
chinesa. Se você reparar bem, no seu uniforme mesmo deve ter algum símbolo
parecido com este aqui:

Este símbolo se remete ao taiji (ou Tai Chi). Há muitos e muitos séculos, os
antigos chineses começaram a entender que o taiji era a origem de todas as
demais coisas existentes no universo. Ele é uma unidade composta por suas
energias opostas e complementares: o yang e o yin. Para frente, você aprenderá
muito mais sobre estas formas de energia. Por hora, basta perceber que a mão
aberta e a mão fechada, o sol e a lua, a noite e o dia são maneiras de simbolizar
esta ideia, que é muito importante em toda a cultura oriental, não somente nas
artes marciais.
Outra forma de compreender a saudação jingli é como expressão ritual da
educação marcial em cada um dos dedos da mão esquerda (a aberta). É muito
difundido no “kung fu” que o polegar curvado indica humildade e educação
moral. Os outros quatro dedos significariam as habilidades que o artista marcial
deve desenvolver: educação física, educação intelectual (mental), educação
comunitária (ética) e educação artística (técnica).
Em síntese, estas diversas histórias ensinam que a saudação jingli é: um modo
educado de reconhecer o valor do outro; demonstra uma busca sincera por
iluminação; expressa a unidade essencial de todas as coisas do universo;
demonstra a consciência de que o artista marcial busca desenvolvimento
integral, abrangendo a moral, o físico, a mente, a ética e a técnica.

3 O Daochang e a meditação inicial

Se você conhece algum praticante de artes marciais japonesas (karatê, judô,


aikidô e outras), já deve ter ouvido falar na palavra Dojo. O que talvez você
ainda não saiba é que esta palavra vem do Chinês: daochang (pronuncia-se algo
como dao-tsan). Dao quer dizer “caminho” e chang é um “lugar de
aprendizagem”. Portanto, literalmente, o seu local de treino ou de prática do
“kung fu” pode ser traduzido como “lugar de aprendizagem do caminho”.

O caminho (Dao) tem um sentido fortemente espiritual na cultura chinesa e,


especialmente, para os seguidores do Budismo e do Taoísmo. Sendo assim, um
“lugar para aprendizado do caminho” tem uma conotação sagrada para os
chineses. Por isso, para entrarmos neste espaço, precisamos estar devidamente
preparados e purificados.

E você não precisa ser budista ou taoísta para agir assim. Praticar arte marcial
chinesa não exige nenhum tipo de crença religiosa específica. O principal é
compreender que, no daochang, deve-se prestar reverência à sabedoria dos
mestres e aos antepassados (é comum, inclusive, fixar retratos dos mestres nas
paredes e/ou armar altares para os antepassados no daochang). Afinal, é deles
que advêm os conhecimentos e ensinamentos que iremos apreender na busca
pelo nosso caminho de aperfeiçoamento integral: físico, ético, mental e técnico.

A preparação para entrar e sair do daochang deve envolver, portanto, uma


atitude de reverência e respeito. Isso deve ser demonstrado no comportamento e
seguindo um ritual cujos detalhes são ensinados pelo seu professor: fazer a
saudação Jingli antes de pisar dentro ou fora do daochang, mesmo quando ele
está vazio; pedir sempre autorização ao professor para entrar ou deixar o
daochang; manter-se concentrado e com atitude marcial durante todo o período
dentro do daochang; não dispersar, não ficar de brincadeira nem “fazer
baderna”; ter pontualidade; alinhar-se de maneira ordenada e sem confusão;
seguir à risca todas as regras da academia...

Outro momento importante de preparação para estar no daochang e fundamental


para a sequência da aula ou do treinamento é a meditação inicial. Seu objetivo é
acalmar a respiração e, com ela, os ânimos; é estabelecer um estado mental que
separe as angústias e preocupações do dia-a-dia daquilo que se vai desenvolver
como atividade de treino no dia. Que fique, assim, de fora do daochang os
sentimentos desordenados, violentos e agitados e dentro aqueles de serenidade,
foco e entusiasmo.

4. Em chinês...

Não é necessário que você saiba a língua chinesa para praticar o “kung fu”, mas
é importante e muito interessante reconhecer, aos poucos, os ideogramas de
alguns termos mais utilizados no dia-a-dia das aulas. Não se preocupe em
decorá-los! A cultura chinesa é muito rica e sua forma de escrita pode nos
aproximar um pouquinho dela.

Jingli : 敬礼
Daochang : 道场
Faixa Amarela

1. Kung Fu ou “artes marciais chinesas”?

Antes de começar, parabéns por ter dado o primeiro passo no seu caminho de
formação. Nesta unidade, você encontrará material para entender um pouco mais
sobre as artes marciais chinesas, sua história, suas classificações e variantes.
Mas, primeiro, vale perguntar: “o que significa ‘kung fu’ (gong fu)? É este o
nome da “luta” que eu pratico?”

Kung fu não é um nome errado para o aprendizado que você vem tendo de
Zhong Wudao. Entretanto, é um nome muito genérico, pois abarca muitas artes
marciais diferentes entre si. Sua popularização é recente e se deu fora da China,
principalmente em países de língua inglesa. Uma boa tradução para o termo
seria “mérito conquistado com grande esforço”. Sem dúvida, este significado é
importante para o estudante de artes marciais, mas diz ainda muito pouco sobre
o conjunto das artes marciais chinesas.

Na China, antes da popularização do termo kung fu, outros nomes vinham sendo
pensados para o conjunto das artes marciais e pelo menos dois deles são muito
utilizados até hoje: wushu e guoshu (kuoshu). Mais à frente, estudaremos mais a
respeito deles. Por hora, é importante apresentá-los somente como duas formas
praticamente sinônimas nomear as artes marciais chinesas em geral. Wushu,
literalmente, significa “arte marcial” e guoshu, “arte nacional”. Zhong Wudao
também é uma expressão bastante genérica, podendo ser traduzida como
“caminho marcial chinês”.

Mas todas estas expressões genéricas abarcam centenas de escolas, estilos e


artes. Abarcam um conjunto tão variado de práticas e ensinamentos que é muitas
vezes difícil reconhecer as conexões entre eles. No caso do Zhong Wudao, ele
busca abranger, em um mesmo sistema, o entendimento do essencial de algumas
escolas diferentes, investigando os seus fundamentos.

2. A variedade nas artes marciais chinesas


O esquema acima, utilizado pelo Mestre Sheng e seus discípulos em sua antiga
academia em Uberlândia, permite visualizar uma estruturação técnica das artes
marciais chinesas ao menos como elas são hoje em dia. Há outras formas
possíveis de compreender esta estruturação, mas ficaremos, ao menos por hora,
com este esquema em mente.

2.1. Qigong:

Nesta fase do aprendizado, você já começará a praticar o qigong (também


poderá ver escrito como qi-kon, chi kung e outras maneiras). Por hora, são
aquelas respirações que o seu professor já lhe ensinou e, que aos poucos, irão
envolver uma enorme variedade de exercícios diferentes. Você deve se lembrar
da palavrinha gong ou kung, que está presente em kung fu. Seu significado é
“trabalho”, “esforço” ou “cultivo”. Outras palavras em português que também
ajudam a entender o gong são “diligência”, “persistência”, “tolerância”...

O qigong é, portanto, um conjunto de exercícios para o cultivo do qi,


objetivando o fortalecimento não só dos músculos, mas de todo o nosso corpo e
da nossa mente. Quando estudarmos melhor as relações entre as artes marciais e
a medicina chinesa, você aprenderá mais sobre o qi. Em geral, é a energia vital
que todo organismo possui, mas que pode ser aumentada ou perdida conforme
seja cultivada ou não. É dela que vem, conforme o pensamento chinês
tradicional, toda a origem dos nossos movimentos físicos ou mentais. Por isso,
seja para a nossa saúde ou para as artes marciais, o qigong é tão necessário.

2.2. Taolu:

Taolu é uma palavra relativamente moderna para dizer forma ou rotina de


exercícios de artes marciais. Outras expressões mais antigas, como quantao ou
quanjiao, também podem ser utilizadas. Tratam-se de esquemas didáticos que
buscam conservar as técnicas de uma determinada escola ou estilo. O xibuquan
ou o zhongyiquan, por exemplo, são taolu ou quantao (pronuncia-se semelhante
a “tchuen-tao”).

No esquema acima, as artes desenvolvidas por meio de taolu estão divididas


entre aquelas que usam o punho (ou apenas o próprio corpo do lutador) e
aquelas que usam armas (como extensões artificiais do corpo do lutador). As
artes que usam armas estão divididas em armas curtas, longas, articulares,
projéteis e especiais. Você terá oportunidade de treinar várias destas armas ao
longo da sua formação em Zhong Wudao.

As que usam punho, por sua vez, dividem-se em internas (neijia) ou externas
(waijia). As externas estão também divididas entre basicamente escolas norte
(changquan) e sul (nanquan). As relações entre o interno e o externo serão
vistas mais à frente na sua formação, mas o Zhong Wudao tem um foco mais
externo do que interno. Quanto à divisão norte e sul, ele abrange as duas no
conjunto dos quantao básicos. O Zhongyiquan, por exemplo, tem raiz em escola
sul, enquanto o Wubuquan, em escola norte. As diferenças entre elas você
aprenderá na própria prática, com o auxílio do seu professor.

2.3. Shuaijiao:

Embora não esteja presente no esquema acima, o Shuaijiao é considerado das


mais antigas artes marciais da China. Sua origem é provavelmente mongol e é
possível que artes orientais mais modernas, como o Judô e o Jiu-jitsu, sejam
provenientes daí. Há presença de movimentos e aplicações de Shuaijiao em
taolu de diversas escolas e estilos. Ele envolve basicamente técnicas de agarrar,
puxar, derrubar e arremessar o oponente, como você já vem aprendendo na sua
formação em Zhong Wudao.

2.4. Boxe chinês (sanda, sanshou...):

Uma tendência bastante recente no estudo das artes marciais chinesas a partir da
segunda metade do século XX foi o surgimento de estilos, escolas e professores
que reduziram o papel das formas ou das rotinas fixas (quantao ou taolu) para o
aprendizado das técnicas. Sob a alegação mais comum de que as formas
estariam cheias de técnicas sem muita aplicação, estes estilos passaram a
focalizar treinamentos mais diretamente de combate, com um número mais
reduzido e “limpo” de técnicas. No Zhong Wudao, busca-se também um preparo
básico em boxe chinês, porém, em conexão com as técnicas e as suas aplicações,
presentes no formato “tradicional” dos taolu.

2.5. Alguns exemplos de escolas e estilos de arte marcial chinesa conforme o esquema
técnico apresentado:

Taijiquan ou Tai Chi Chuan – arte marcial classificada como interna (neijia).
Embora várias escolas e estilos de Taijiquan também utilizem armas, é
basicamente uma arte marcial de “punho” (quan).

Bajiquan – é um estilo sul de arte marcial com características internas e


externas. É dele as origens do zhongyiquan, taolu que você estuda neste estágio
do Zhong Wudao.

Chaquan - é um estilo norte de arte marcial externa. É dele as origens do


wubuquan, taolu que você estudará no próximo estágio do Zhong Wudao.

Wing Chun (Ving Tsun...) – é um estilo sul de arte marcial externa muito famoso
no ocidente graças a ter sido o estilo do Mestre Yip Man, professor de Bruce
Lee. Mais tarde, Bruce Lee desenvolveria o seu próprio estilo ou concepção de
“kung fu”, já bastante próximo da ideia de boxe chinês: o Jeet Kune Do.

Sugestão de pesquisa: Que tal agora você mesmo descobrir


mais sobre o variado universo das artes marciais chinesas?
Provavelmente, você conhece artistas de cinema como
Jackie Chan, Jet Li e Donnie Yen. Procure informações
sobre eles e sobre as escolas e estilos de Kung Fu que eles
dominam. Busque informações sobre as características dos
seus estilos e tente enquadrá-los no esquema técnico
esboçado aqui. Depois, assista os filmes (respeitando a
classificação etária) e observe como eles se movimentam.
Mãos à obra, bom estudo e boa diversão!

3. Gênese Histórica das Artes Marciais Chinesas:

Vigora muitas vezes entre as pessoas uma ideia de que o “kung fu” é uma arte
muito antiga, “milenar”, cuja tradição se mantêm preservada até hoje. Em torno
disso, mitos e lendas vem sendo construídos e divulgados em livros, filmes,
websites e mesmo em escolas e academias de artes marciais.

Um dos mitos mais difundidos diz respeito à origem no Templo Shaolin, por
volta do século VI, a partir dos ensinamentos do monge indiano Bodhidharma,
que trazia o Budismo para a China. Mas há outros mitos e teses que apontam
origens ainda mais remotas. No entanto, há muito pouco indício concreto de
algo sistematicamente capaz de ser considerado próximo ao que entendemos
com “kung fu” antes do século XVI, durante a Dinastia Ming. A grande maior
parte das escolas e estilos de artes marciais existentes hoje tem origem
documentada do século XIX em diante.
Modos de lutar provavelmente existem desde que os primeiros hominídeos
passaram a habitar o planeta terra. Formas de lutar e caçar com armas, desde que
conseguiram evoluir para a manipulação de objetos. Técnicas de combate são
tão antigas e têm origens tão remotas quanto a guerra. Mas as artes marciais
chinesas não são somente métodos de lutas. São a sistematização e teorização
destes métodos a partir de categorias próprias da cultura. A cultura está e sempre
esteve em transformação, gerando continuamente novos significados para a arte
marcial. O que se tem ainda hoje é um processo vivo de origens de novas e
renovadas artes, escolas e estilos de “kung fu”. Mais à frente na sua formação,
você será convidado a conhecer melhor a história do Zhong Wudao e dos estilos
e escolas que ele trouxe para dentro de si.

4. Em chinês...

“kung fu” : 功夫
Faixa Verde
1. Tradição e modernidade:

Mais uma etapa superada! Bem vindo ao estudo da faixa verde. Neste estágio
você aprenderá muito sobre estilos norte de arte marcial chinesa e também sobre
o chamado wushu moderno. Mas o que é isto? O que está implícito quando
afirma que uma escola de “kung fu” é tradicional ou moderna? Wushu ou
Kuoshu? Isto possibilitará entender como as artes marciais chinesas tem
evoluído no mundo atual e as suas conexões, sempre renovadas, com tradições
muito antigas.

2. Wushu e Kuoshu:

No início da unidade anterior, você se recorda que tratamos, como quase


sinônimas, as palavras wushu e guoshu (kuoshu), significando “arte marcial” e
“arte nacional”, respectivamente. Pois bem, apesar de serem quase sinônimas
elas são palavras que foram adotadas em diferentes momentos da história da
China no século XX e por partidos políticos rivais.

2.1. O Wuyi e a Associação Jingwu

Desde o início do século XX, no final da Dinastia Qing e início da história


republicana da China, houve um primeiro grande projeto de “modernização”
cultural do país. Nesta época, na cidade de Shanghai, um centro cosmopolita de
atividade comercial e trânsito internacional intenso, era criada a Associação
Jingwu (Chin Woo). Nela, juntamente com diversas práticas esportivas e lúdicas
do ocidente, desenvolveram-se atividades educacionais envolvendo artes
marciais.
O ensino de artes marciais – na época referidas pela palavra wuyi – na
Associação Jingwu modificou bastante as formas que o seu conhecimento vinha
sendo transmitido. Até então, não era como hoje. Não havia academias nas quais
qualquer interessado poderia se matricular. Antes, as aulas eram restritas a
membros de uma mesma família ou clã. Foi a Jingwu que abriu de certa maneira
o ensino das artes marciais a qualquer interessado, inclusive mulheres, até então
afastadas desta prática. Ela também modernizou o programa técnico a ser
ensinado, criou sistemas de classificação e estimulou a escrita e a publicação de
livros e manuais para a facilitação do aprendizado.

2.2. Kuoshu

O sucesso da Associação Jingwu acabou promovendo as artes marciais. Na


época, a China estava passando por um processo histórico de muita agitação
política e conflitos bélicos. Por volta dos anos 1930, o Partido Nacionalista
dominava o governo. Ele incentivou a promoção das artes marciais em moldes
semelhantes ao da Associação Jingwu. Foi quando surgiu a expressão guoshu ou
kuoshu, “arte nacional”. Também é desta época a criação da Academia Central
de Artes Nacionais, com sede em Nanquim e com seções espalhadas pelo país.

Um dos princípios do kuoshu é ainda muito presente no Zhong Wudao:


“observar e praticar todos os estilos de artes marciais”. Isto quer dizer que o
objetivo do ensino das artes marciais era formar um artista eclético, não
especializado, abrangendo técnicas tanto de punho quanto de armas, tanto norte
quanto sul, tanto artes internas como externas. Havia preocupação com o estudo
amplo do conjunto das artes marciais e com a aplicabilidade das suas técnicas
em combate.

2.3. Wushu

Quando o Partido Comunista Chinês chega ao poder em meados do século


passado, o ensino das artes marciais já era uma política bem estabelecida de
governo. Assim permaneceu. Na época da Guerra Fria, o esporte era um meio
importante de demonstração da superioridade ideológica. As competições, como
as Olimpíadas, eram momentos para as nações e seus blocos demonstrarem para
o mundo a sua grandeza. As artes marciais foram adaptadas pelo governo chinês
para poderem cumprir este papel de divulgação da nova China que surgia.

Uma das transformações foi de nomenclatura. Guoshu, termo muito associado


ao partido nacionalista e ao seu projeto, foi transformado em wushu. Na verdade,
guoshu era uma provável simplificação de Zhongguo wushu (“artes marciais
chinesas”). A nova nomenclatura, neste sentido, apenas teria simplificado de
outra forma.

O princípio básico alteraria muito mais do que simplesmente a nomenclatura das


artes marciais. O ecletismo do kuoshu seria substituído pela busca de
padronização de formas e pela especialização dos atletas. A padronização servia
para a montagem de rotinas que fossem capazes de impressionar o público pela
sua beleza plástica e fornecer parâmetros de julgamento em competições. Neste
sentido, a aplicabilidade das técnicas presentes no taolu poderia ficar em
segundo plano. Enquanto isso, a especialização de atletas visava tornar os seus
rendimentos cada vez mais altos em suas especialidades, aumentando as suas
chances em competições. Disso derivou, por exemplo, a separação entre luta e
formas presente nas escolas mais modernas de boxe chinês, sanda ou sanshou.

Em matéria de estilos, a padronização das formas com vistas à exibição e a


competições gerou um estilo híbrido de wushu a partir, sobretudo, de escolas
norte, o chamado Changquan, inspirado principalmente no shaolinquan e no
huaquan. As artes internas também receberam impacto do wushu. Com o
objetivo de fomentar práticas ligadas à saúde, o governo chinês promoveu a
formação, para uso escolar, de uma rotina curta simplificada de 24 movimentos
a partir da forma longa de 103 movimentos do Taijiquan da família Yang.

3. Competições:

Como vimos, as artes marciais têm sido reformadas e praticadas com vistas a
competições. No entanto, você deve ter notado, desde quando estudava a
saudação jingli e o daochang, que este está longe de ser o sentido único da
prática e do estudo das artes marciais. Daí, cabe perguntar: é mesmo importante
participar de competições? O praticante de “kung fu” é um atleta? Meu “kung
fu” é melhor quanto mais medalhas e troféus eu conseguir com ele?

Se pensarmos as artes marciais como caminho de desenvolvimento integral,


envolvendo o físico, a técnica, a mente e a ética, as competições não devem ser o
foco. Mas isto não quer dizer que elas não tenham valor algum. Pelo contrário,
elas são oportunidades muito boas de crescimento.

Por meio das competições você pode investigar melhor os seus pontos fortes e
fracos, buscando a superação dos seus limites e o desenvolvimento dos seus
potenciais; você pode realizar intercâmbios com outros atletas, outras academias
e outros estilos/escolas de artes marciais chinesas; você pode fortalecer laços de
amizade e de cooperação com os seus colegas de treino na sua academia e muito
mais. Principalmente, você terá uma chance ímpar de aprender a lidar com
situações de vitória e de derrota, de alegria e frustração dentro de um ambiente
de respeito e de valorização do empenho, não só do desempenho.

Portanto, as competições podem ser muito boas se oferecerem supervisão e


segurança adequadas e forem conduzidas não só com espírito esportivo, mas
também ética marcial. Para um artista marcial, a vitória está muito mais em dar
um passo a diante em seu desenvolvimento integral do que em conseguir algo
que ele possa ter sem qualquer esforço. Nos campeonatos, a vitória mais
valorizada deve ser sempre aquela do reconhecimento de que cada um fez o seu
melhor, aceitando os seus desafios com empenho e determinação.

4. Tradição ou modernidade?

Algumas pessoas gostam de afirmar que o seu estilo de arte marcial é melhor
porque é mais fiel à tradição. Outros gostam de dizer que o seu estilo é melhor
porque enfatiza a luta real e não fica preso às formas do passado. Outros gostam
de dizer que seu estilo é melhor porque é mais bonito, introduzindo acrobacias e
movimentos aparentemente muito difíceis que não aparecem em escolas mais
antigas. Outros gostam de dizer que a sua escola é melhor porque é mais antiga e
por aí vai...

Tudo isto, sejamos francos, é bobagem. Não existe um estilo melhor do que o
outro. Além disso, mesmo os estilos que apelam para origens muito remotas
passaram por transformações profundas e, de alguma forma, na sua prática atual,
dialogam com a modernidade. Por outro lado, toda arte marcial chinesa, por
mais que se renove, o faz com referência à tradição, interpretando o legado de
escolas mais antigas. A grande riqueza das artes marciais talvez esteja em sua
capacidade de renovação a partir de uma enorme fonte de técnicas, ensinamentos
e doutrinas mais antigos ou menos antigos preservada pelos mestres,
professores, escolas, associações e federações hoje espalhados pelo mundo
inteiro, não só na China.

Ninguém vive no passado, mas ninguém existe desligado do passado. O passado


das artes marciais as fez ser do jeito que elas são e o presente continua o
trabalho. Se nos preocupamos com o futuro e com o que elas devem se tornar,
devemos preservar todo o legado possível das gerações anteriores. Lembre-se do
que afirmou certa vez Confúcio, grande filósofo dos chineses: “Eu não transmito
nem crio nada por mim mesmo. Eu coloco a minha confiança e o meu amor nos
antigos”. Por outro lado, o mesmo Confúcio afirma: “Apenas o mais sábio e o
mais estúpido nunca mudam”.

5. Em chinês...

wushu: 武术

kuoshu: 国术
Faixa Azul
1. Conhecendo o Zhong Wudao:

Se você chegou até aqui, parabéns, é sinal que tem gostado de praticar “kung fu”
e que tem evoluído nas aulas e treinamentos. O objetivo, agora, é conhecer um
pouco mais a respeito do sistema de aprendizagem e de treinamento que você
vem seguindo, os estilos que ele abrange e as suas particularidades dentro da
enorme variedade que a família das artes marciais chinesas abriga.
Na unidade anterior, você viu que o projeto do kuoshu, muito inspirado na
modernização do wuyi promovida pela Associação Jingwu, foi transformado
pelo projeto do wushu após a mudança de regime político na China, em meados
do século XX, quando o Partido Comunista chega ao poder. Desde aquela época,
os partidários do Partido Nacionalista passaram a se estabelecer na ilha de
Taiwan (ou Formosa) ou naquele país que hoje se reconhece como República
Democrática da China. Assim, em Taiwan, o projeto do Kuoshu não perdeu
tanta força a partir da segunda metade do século XX, época em que será
desenvolvido o Zhong Wudao.

2. Mestre Lin Zhong Yuan (1929 - ...) – mestre do Zhong Wudao:

Lin Zhong Yuan ingressou no exército da República da China no início dos anos
40, época tumultuada da guerra civil, que opôs o Partido Comunista e o Partido
Republicano, então no poder. Também por volta desta época, iniciou seus
treinamentos em artes marciais, recebendo instrução sobre alguns estilos na
Associação Jingwu. No exército Nacionalista, deu sequência ao seu treinamento
de artes marciais, seguindo o modelo do kuoshu.

No final dos anos 50, ele estava em Taiwan, sob o comando do Partido
Nacionalista, quando o dirigente da República Popular da China, sob comando
do Partido Comunista, Mao Zedong, ordena um ataque às ilhas. No contexto do
ataque, ele é ferido e acaba se aposentando como militar. A partir dos anos 60,
dedica-se especialmente ao ensino e torna-se diretor de escola (correspondente
ao nível médio, no Brasil) no norte de Taiwan. Foi no contexto escolar que ele
começou a desenvolver o seu projeto de artes marciais: o Zhong Wudao.

Além da Associação Jingwu e do Kuoshu, Lin Zhong Yuan teve influências de


fora da China para a consolidação da sua filosofia própria de “educação
marcial”. Dentre as mais importantes, está a do Budô japonês e coreano, da qual
se destacam os mestres Jigoro Kano, Gichin Funakoshi e Morihei Ueshiba,
respectivamente no Jodô, no Karatê e no Aikidô. O Mestre Lin vê o Budô
(Wudao é uma tradução literal para o chinês da palavra Budô, em japonês,
significando “caminho marcial”) como propagação superficial de um legado
chinês a ser recuperado como patrimônio e identidade da própria China.

Outra influência importante foi a da moderna “educação física” ocidental, que


afirmava uma relação entre a saúde física e moral dos indivíduos e a saúde
“física e moral” do “corpo” da Nação. Esta foi uma doutrina globalmente
difundida no período das duas grandes guerras, tendo impacto, inclusive, no
Brasil, onde, por exemplo, o futebol começa a se estabelecer como símbolo da
identidade nacional. Na China Nacionalista, um de seus grandes difusores era
um professor da Universidade de Nanquim, Cheng Deng Ke.

Lin Zhong Yuan assimilou, assim, um conjunto de saberes e doutrinas que


apontavam tanto para a busca de uma milenar tradição chinesa, aparentemente
ofuscada pelos conflitos e dificuldades internas do país; quanto para a busca de
modernização das artes marciais em diálogo com o Ocidente e com o Japão
“modernos”.

3. Mestre Huang Yu Sheng – o legado do Zhong Wudao no Brasil:

Mestre Huang Yu Sheng nasceu em 1960, em Taiwan, e iniciou seus


treinamentos em artes marciais com 8 anos. Seu primeiro mestre foi Mr. Liu
Chan Lin, herdeiro do estilo Yuejiaquan. Em 1973, iniciou seus treinamentos
com o mestre Gao Dao Shen, expoente maior do estilo Changquan Tanglang
(Louva-a-Deus do Punho Longo), variante norte de Louva Deus desenvolvido
em Taiwan. Antes de começar a estudar o Zhong Wudao com o Mestre Lin
Zhong Yuan, a partir de 1976, o jovem Sheng ainda teve, como professores,
outros dois mestres: o monge budista Mr. Chen Yon Lon, e o Mr. Wu San Chu,
com os quais aprendeu sobre shaolin, changquan e sanshou.

Em 1979, seguindo a família, Huang Yu Sheng vem para o Brasil. Aos 19 anos,
dos quais 11 dedicados ao estudo de diversos estilos de “kung fu”, ele teria que
encontrar o seu próprio caminho em um país diferente, com outra língua e
distante de seus mestres. Assim, ainda jovem, depois de já adaptado ao país,
organizou seus primeiros grupos de alunos e começou a ensinar a eles a partir do
modelo de Zhong Wudao, do Mestre Lin Zhong Yuan. Ao sistema do Zhong
Wudao, introduziu também conhecimentos das outras escolas e estilos que
conhecia, estabelecendo um currículo eclético e para conhecimento geral das
artes marciais chinesas, o que é coerente com o Zhong Wudao e tem raízes em
projetos tais como o Kuoshu e o da Associação Jingwu.

Já no Brasil, Mr. Sheng continuou a sua formação em Taijiquan, iniciada ainda


em Taiwan com o próprio Mr. Lin Zhong Yuan. Em terras brasileiras, ele
recebeu ensinamentos dos mestres Wu Mu Xiong e Zhao De Ming. Formado em
medicina, em 1989, especializou-se em Ortopedia, Traumatologia e Medicina
Esportiva, dirigida para as Artes Marciais.

4. O Centro de Estudo de Arte Marcial Chinesa e o Currículo de Zhong Wudao


do Mr. Sheng:

O Centro de Estudo de Arte Marcial Chinesa (CEAMC) foi criado pelo Mr.
Sheng em 1987. Seu programa técnico seguia a inspiração do Zhong Wudao e
era, portanto, dividido em três etapas: Terra (etapa básica), Homem (etapa de
Zhong Wudao) e Céu (etapa de especialização). Mais à frente você estudará um
pouco melhor os significados da tríade Terra-Homem-Céu na filosofia chinesa.

Mr. Sheng entendia a “etapa básica” como momento de “aprendizagem


multidirecional” ou, se quisermos, eclética (como no projeto do Kuoshu),
desenvolvendo fundamentos e técnicas dentro de uma visão ampla das artes
marciais chinesas. Na etapa básica, o praticante descobriria o seu “perfil” para
futuro direcionamento técnico (especialização). Na intermediária, aprofundaria o
conhecimento teórico das artes marciais e a sua aplicação em luta. Na etapa
superior, de especialização, focalizaria o seu desenvolvimento individual dentro
do perfil anteriormente desenvolvido.

Foram idealizados currículos específicos para o primeiro e o segundo grau do


Zhong Wudao, ou seja, para as etapas “básica” e “intermediária”. Em 1990,
formava a primeira turma de primeiro grau de Zhong Wudao em Uberlândia.
Alguns dos discípulos desta primeira turma e de gerações subsequentes
tornaram-se professores na academia de Mr. Sheng, a Wushukuan. Por mais de
10 anos, a Wushukuan funcionou, difundindo as artes marciais chinesas na
cidade. Na academia, havia aprendizado não somente do Zhong Wudao, mas
também de outras práticas, artes e estilos mais específicos, como o Taijiquan, o
Tanglangquan e o Shuaijiao, por exemplo.

Com maior foco profissional na medicina, o Mr. Sheng não tem assumido
turmas de alunos novos e iniciantes e aulas em escolas ou academias. A
iniciação e o ensino de Zhong Wudao em Uberlândia vem sendo feito por
discípulos diretos ou indiretos de Mr. Sheng na cidade. A Federação Mineira de
Kung Fu Kuo Shu possui aval do Mr. Sheng para dar continuidade ao seu
legado, contando com a sua supervisão e acompanhamento.

Com vistas a preservar o legado do Zhong Wudao no Brasil e na cidade, a


FMKSKS fez um estudo profundo dos currículos do primeiro e segundo graus
do CEAMC e da Academia Wushukuan, compatibilizando as versões alteradas
ao longo do tempo e reapresentando-os de maneira coerente e eficaz. É este
currículo que você estuda. Ele é oficial e seguido pelos professores, instrutores e
monitores federados. Seu objetivo é o mesmo presente nos ideais do Mestre Lin
Zhong Yuen e do Mestre Huang Yu Sheng: propiciar um conhecimento amplo
dos fundamentos de diversas escolas e estilos de arte marcial a fim de dar
condições a um sólido e contínuo desenvolvimento técnico, físico, mental e ético
no interior da filosofia das artes marciais chinesas.

5. Os estilos presentes no Zhong Wudao e a sua variedade na unidade:

O Zhong Wudao, desde o princípio, previa o conhecimento amplo de diversas


escolas e estilos, focalizando uma formação eclética. O currículo do CEAMC,
no conjunto dos seus Taolu básicos, permite visualizar esta diversidade. Cada
um dos quantao dispostos no currículo oficial de Zhong Wudao da FMKSKS
tem suas origens em estilos distintos, conforme as descrições abaixo, resultantes
das pesquisas de Fabrício Pinto Monteiro, cujos textos são aqui reproduzidos
com o aval de seu autor:

5.1. Xibuquan

Xi (exercitar), bu (base), quan (punho). “Irmão mais novo” de Xiaobaji, foi


criado unindo movimentos básicos de mudanças de base e socos diretos com
uma sequência de avanço e recuo retirada do quantao mais antigo. Mestre Sheng
desenvolveu-o em 1996 e era, naquela época, ensinado como um complemento
ao Xiaobaji, no primeiro estágio do programa de Zhong Wudao. Mais tarde, esta
forma foi colocada como parte do segundo estágio, sendo Xibuquan deixado
como ensinamento central aos alunos ingressantes na escola pelas dificuldades
destes em assimilar o Xiaobaji no início do aprendizado.
5.2. Zhongyiquan
Zhongyi (lealdade), quan (punho). Foi criado em 1985 pelo Mestre Liu Yun
Qiao e sua equipe do Comitê de Materiais Didáticos da Federação Internacional
de Guoshu, Taiwan. Seu objetivo era servir como um conjunto técnico
padronizado para as escolas de guoshu filiadas, sendo divulgado através de
cursos, vídeos e apostilas explicativas. Zhongyiquan foi compilado a partir,
principalmente, de técnicas de Bajiquan, especialidade de Mestre Liu. Suas
características centrais são as bases fechadas (originárias do Bajiquan), entradas
bruscas e encaixes de cintura para a geração de força dos golpes. De forma
correlata ao Tantui, com o tempo foi adotada por diversas escolas diferentes,
originárias do guoshu. No Brasil, foi difundido através de cursos pelo Mestre Li
Wing Kay, que auxiliou na preparação de seu material didático. Foi adotado por
Zhong Wudao de Mestre Sheng como uma forma extra a partir de 1996, após
curso dado por Mestre Li em Uberlândia.
5.3. Wubuquan
Wu (cinco), bu (base), quan (punho). É uma das formas mais difundidas
atualmente para o início do treinamento do wushu moderno com crianças. O
Wubuquan tem origem atribuída à escola Chaquan tendo, daí, sido adotado por
Shaolinquan e, por fim, por diversas escolas de wushu. Seu nome refere-se às
cinco posturas principais a serem treinadas durante sua execução: gongbu,
mabu, xiebu, pubu e xubu. Assim como Chuji Changquan, chegou ao currículo
de Zhong Wudao em 1997, após curso dado por Mestre Wang Hsiao Po.
5.4. Xiaobaji
Xiao (pequeno), ba (oito), ji (direções/extremidades). Criado em 1977 por
Mestre Sheng e Mestre Lin Zhong Yuan em Taiwan (após aproximadamente três
meses de trabalho), com o objetivo principal de desenvolver a força de soco
utilizando o giro de cintura e a agilidade de movimentação. Tornou-se o
primeiro quantao ensinado no Zhong Wudao de Mestre Sheng, substituindo a
posição de Tantui. O Xiaobaji, por sua vez, seria mais tarde substituído, como
técnica introdutória, por Xibuquan. É dividido em 4 partes, que correspondem às
suas diferentes movimentações, de dificuldade progressiva.
5.5. Tantui
Tan (elástico), Tui (perna). A origem de Tantui não é muito certa;
tradicionalmente é atribuída à etnia Hui, de chineses muçulmanos, mas em
época também não determinada. A forma tornou-se extremamente divulgada em
diferentes escolas, embora o estilo completo não. Isso provavelmente ocorreu
devido ao sucesso da Associação Jingwu, cujo responsável pela montagem do
programa básico, Zhao Lian He, era mestre do estilo e acrescentou a forma
Tantui ao currículo. Em Zhong Wudao, Tantui foi colocado como forma de
introdução para os estilos do norte; a versão utilizada vem da Associação
Jingwu, através de Lin Zhong Yuan, mas em adaptação mais modernizada, com
movimentos mais fluídos e circulares. Mestre Sheng conhece sete versões
diferentes da forma. Há várias versões em Tantui em 10 seguimentos, em 12
seguimentos e, mais recentemente, em 4 seguimentos, conforme a padronização
compartilhada na segunda metade da década de 1990 por Mestre Sheng e Mestre
Li Wing Kay e sua linhagem de Garra de Águia.
5.6. Shibasou
Shiba (dezoito) sou (anciãos). É uma forma muito divulgada dentro de vários
estilos de tanglangquan (Louva-a-Deus) e, assim, possui diversas variações. Seu
nome é uma homenagem aos dezoito mestres cujas técnicas entraram na
composição do Louva-a-Deus. A versão utilizada em Zhong Wudao de Mestre
Sheng provém da escola Chang Tanglang, de Gao Dao Shen, com quem estudou
entre 1973 e 1978. Esta escola de Louva-a-Deus originou-se em Taiwan e não
foi originalmente criada como um “estilo” específico. Mestre Gao Dao Shen
pretendia registrá-la simplesmente como “Tanglang Men” (Escola Louva-a-
Deus), mas já havia um registro com este nome na Federação de Guoshu de
Taiwan. O programa de Chang Tanglang é uma união de Qixing Tanglang (Sete
Estrelas), Meihua Tanglang (Flor de Ameixa) e técnicas de luta de Shaolin do
Norte.
5.7. Yingchui
Ying (duro, forte), chui (bater). É uma forma que pertence ao estilo Tantui,
sendo atualmente mais divulgada pela Associação Jingwu. Não faz parte das
formas básicas da Associação, mas foi muito provavelmente trazida por Zhao
Lianhe para ser trabalhada de modo complementar àquelas. É possível notar o
parentesco de Yingchui com a forma Tantui, mas, muito mais claramente, com o
Gongliquan (em Zhong Wudao, esta última é chamada Beigongliquan). Assim
como o Tantui, Yingchui chegou ao programa de Mestre Sheng proveniente da
Associação Jingwu.
5.8. Yiquan
Yi (mutação), quan (punho). Na pesquisa, não foi identificado o estilo de origem
desta forma nem a sua função original. Existe uma escola denominada Yiquan,
porém o seu Yi significa “pensamento” e não possui relação com este quantao
utilizado no Zhong Wudao do Mestre Huang Yu Sheng. Segundo o material do
CEAMC, esta forma “junta a força do tigre com a suavidade da garça,
simbolizando a harmonia das duas forças opostas do universo, yin e yang. Ele
tem como característica a penetração rápida e deslocamento ágil de ataque e
defesa. É um quantao de grande valor de combate”. Como você verá mais à
frente na sua formação, a filosofia relativa ao conceito de mutação (Yi) e da
harmonia do yin e do yang é das mais antigas e fundamentais para a
compreensão do conjunto da “ciência” tradicional chinesa, com enorme impacto
no saber médico oriental e nas artes marciais.
5.9. Chuji Changquan
Chuji (elementar), chang (longo), quan (punho). Quantao moderno criado em
uma segunda “geração” de padronizações do wushu, na década de 60. Possui
características que já o distanciam das primeiras formas padronizadas de
Changquan (Primeira, Segunda e 32), como movimentos com ligações mais
fluídas e uso de giros do corpo como alavanca, embora mantenha bases bem
definidas em todas as suas técnicas, sem corridas ou acrobacias, como seria nos
quantao modernos posteriores. Existem duas versões desta forma, uma mais
longa e outra resumida, que se utiliza apenas de sua primeira e a quarta partes;
esta é a versão menor. Foi adotada por Zhong Wudao de Mestre Sheng a partir
de 1997, após curso dado por Mestre Wang Hsiao Po em Uberlândia,
substituindo a partir daí os Changquan Primeiro e Segundo como formas do 7°
Estágio.

5.10. Nanquan
Nan (sul), quan (punho). Essa forma foi colocada no programa de Zhong Wudao
de Mestre Sheng como uma introdução às técnicas e treinamentos dos estilos sul
de “kung fu”. Sua origem estilística mais específica não foi identificada na
pesquisa. Segundo João Borges, estudioso de Hung Gar Kuen e graduado em
Zhong Wudao, a forma parece ser uma adaptação mais simples de uma outra
bem conhecida em estilo cantonês: o Seung Ying Kuen. Vários movimentos
existem nas duas formas, como a subida dos ganchos duplos seguido de abertura
dos cotovelos, os passos diagonais em mabu após a subida em pinbu, as entradas
em bêbado, os avanços em liauquan etc. Aparentemente, a versão Zhong Wudao
é mais “genérica”, mais recente, feita a partir da forma Hung Gar para a
utilização em outras escolas, como aconteceu, por exemplo, com o Tantui.
5.11. Zuojiquan
Zuo (construir), ji (fundamentos), quan (punho). Há poucas informações
históricas sobre esta forma. Há relatos de que pode ter sido criada pelo Mestre
Jiao Han Sheng, que uniu elementos de escolas do norte e do sul como
treinamento básico, tendo em vista o desenvolvimento posterior do praticante.
Zuojiquan é claramente uma montagem didática, contando com fragmentos de
movimentos de animais, como tigre, serpente, garça e leopardo. Alterna socos e
chutes em movimentos amplos e curtos.
5.12. Jingzhongquan (Qingnianquan)
Jing (essência, perfeição), zhong (lealdade), quan (punho). Qingnian
(juventude), quan (punho). Forma de luta combinada, conhecida mais
comumente pelo nome Qingnianquan, embora referida como Jingzhongquan no
Zhong Wudao. Aparentemente se trata de uma compilação mais moderna na
década de 1950, pelo governo chinês, como parte do projeto do Wushu, a partir
de uma sequência para treinamento militar. Qingnianquan, portanto, teria
origem semelhante das formas modernas 1, 2 e 32 de Changquan (esta última
presente como forma “extra” no currículo de Zhong Wudao do Mestre Sheng).
Como as formas de Wushu moderno da primeira geração dos anos 50, possui
aplicações muito úteis e uma movimentação de vai-e-vem como esquiva e
contra-ataque.
5.13. Tantui Duanlian
Tan (elástico), tui (perna), duanlian (exercitar). Inserida no programa de Zhong
Wudao de Mestre Sheng a partir da Associação Jingwu, juntamente com Tantui,
Yingchui e Beigongliquan, embora seja realizada em uma versão distinta da
atual pela Associação (a “Jie Tantui”). Trata-se de uma luta combinada de
Tantui, adaptada para a realização em dupla. Possui uma técnica agressiva, de
entradas que visam cortar o ataque do adversário em uma trajetória reta, com
muita utilidade e simplicidade.
Não se preocupe em decorar todas estas informações sobre cada forma.
Paulatinamente, daqui em diante, a cada estágio, procure conhecer a história e a
origem das formas que você vem aprendendo. Elas dizem muita coisa a respeito
da diversidade que encontrará no Zhong Wudao. Além disso, há muitas técnicas
de armas, de Shuaijao e de Sanshou, por exemplo, que são treinadas em
separado no currículo, além dos qigong e outros exercícios provenientes de
escolas internas e externas, de estilo norte ou sul.

6. Em chinês...

Zhong Wudao: 中武道


Xibuquan: 习步拳
Zhongyiquan: 忠义拳
Wubuquan: 五步拳
Xiaobaji: 小八极
Tantui: 弹腿
Shibasou: 十八螋
Yingchui: 硬捶
Yiquan: 易拳
Chuji Changquan: 初级长拳
Nanquan: 南拳
Zuojiquan: 做基拳
Jingzhongquan (Qingnianquan):

精忠拳(青年拳)

Tantui Duanliang: 弹腿锻炼


Faixa Vermelha
1. Compreendendo o Wude:

Na etapa anterior, você aprendeu sobre a história do Zhong Wudao, as trajetórias


de seus mestres em Taiwan e no Brasil, suas influências mais gerais e a
variedade de técnicas, escolas e estilos que comporta. Mas o Zhong Wudao, tal
como concebido pelo Mestre Lin Zhong Yuan é mais do que um currículo.
Temos dito que ele é um caminho (dao, 道): uma forma de ser que busca o
desenvolvimento integral da pessoa na direção de uma vida virtuosa. Uma
palavra importante sintetiza a vida virtuosa buscada pelo praticante de Zhong
Wudao: wude, ou “ética marcial”.

A compreensão do “lugar do combate” como analogia da condição existencial


do homem (quando não de todo o universo) é muito enfatizada em diversas
escolas filosóficas orientais que fundamentaram as artes marciais. É um erro
considerar o budismo ou o taoísmo religiões que valorizam a agressividade ou a
violência como caminhos de iluminação. Também é equivocado pensar a ética
confucionista como favorável ao militarismo. Muito pelo contrário! Tratam-se
de doutrinas que valorizam o desenvolvimento de espíritos benevolentes,
pacíficos, compassivos, generosos, gentis, amorosos...

Uma luta, um combate, não coloca o sujeito apenas diante de um desafio de


superação do outro. Uma luta é sempre um encontro com as nossas fragilidades
e fraquezas. Diante de um adversário, um guerreiro vê-se no limite entre a vida e
a morte. Ele se expõe à possibilidade da dor, do sofrimento, do medo, do
ferimento. Ele se vê suscetível às suas próprias limitações físicas, psíquicas e
mentais. Há alterações físicas em seu organismo: a pulsação, a respiração e a
circulação alteram-se, são geradas tensões em seus músculos, os mais diversos
pensamentos acometem-lhe a mente. Porém, o guerreiro vê-se também potente e
poderoso diante do adversário, capaz de gerar as mesmas dores, sofrimentos,
humilhações e danos aos quais se expõe. O combate expõe as contradições
extremas do espírito humano, entre a força que nos mantém vivos e a fragilidade
que nos encaminha para a morte.

Conhecer a si mesmo e as adversidades da vida é o centro do caminho que leva


ao desenvolvimento da “ética marcial”. Encontrar o “correto” (zheng) em meio à
fragilidade da vida e às pulsões destrutivas que todos possuímos é o seu
objetivo. Sair de seus próprios interesses mesquinhos ou covardes e colocar-se
na “dinâmica do universo” (algo muito enfatizado principalmente no taoísmo e
no Confucionismo) é encontrar tal “correção”.

Nas palavras do mestre Lin Zhong Yuan, traduzidas pelo professor Tai Sheng
Xiu: “O coração humano parece ter ódio e tendência a encarar as coisas com
raiva nos olhos, o que é causado por não conseguir encontrar o correto. A
natureza humana não possui desejo que seja indomável; não há contenda que
não seja uma derrota. O “não eu” é um “não inimigo”. O homem parece capaz
de conhecer a si mesmo e também de conhecer seu inimigo, de conhecer Céu e
Terra e de conhecer o fim, as palavras e ações que seguramente levam ao que é
correto”.

O “não eu” é um “não inimigo”. Isto quer dizer, dentre outras coisas que nossas
derrotas são muitas vezes infringidas pelo nosso próprio ego, pouco capaz de
dominar os desejos que pulsam de si, a ira, as paixões que nos desviam da nossa
própria natureza. Conhecer (por meio da investigação dos princípios de todas as
coisas, gewu) tudo aquilo que leva ao correto é a finalidade última do wudao na
concepção de Lin Zhong Yuan. É o mais essencial do que ele nomeia como
wude.

Wude não é um conjunto de regras, portanto. Não são comandos morais a serem
gravados na mente e perseguidos. É a construção de um refinamento,
tradicionalmente denominado, no pensamento confucionista, de xiushen
(“cultivo ou cuidado de si”), base ou raiz de todos aqueles que buscam
desenvolver o seu potencial inato de perfeição humana (mingde) para tornar-se
sábio (zhizhe), verdadeiramente bom (renzhe), um homem superior (junzi). No
wudao, o “cultivo de si” envolve práticas corporais, atitudes anímicas,
desenvolvimento de formas adequadas de falar etc.
Um diagrama (ver imagem abaixo) elaborado pelo mestre Lin Zhong Yuan
resume visualmente a sua wude. Não é um diagrama simples de interpretar, mas
seus sentidos mais gerais podem ser descritos. No centro, há um coração do qual
brotam três ramificações gerando o ideograma homem, “ren” (人). No centro do
coração, lê-se a palavra “sinceridade”, das quais “brotam” as expressões
“conhecimento inato”, “capacidade inata” e “ação inata”. Esta representação
sugere algo bastante difundido na ética confucionista: a ideia de que a partir de
um coração sincero, os potenciais naturais do sábio se manifestam naturalmente,
tudo dependendo, portanto, de um cultivo do coração e da mente conforme as
sementes das virtudes. Em torno do ideograma homem, três noções compõem o
resto do centro do diagrama, as “virtudes iminentes”, que deveriam brotar de um
“coração sincero”: “sabedoria” (zhi), “benevolência” (ren) e “coragem” (yong).
Fora do centro, como expressões ou resultados sociais do cultivo do coração,
encontram-se representadas as “doze regras principais” (shier shouze: Fidelidade
e coragem; Piedade filial; Benevolência e amor; Confiança e justiça; Paz e
harmonia; Cerimônia e integridade moral; Obediência; Frugalidade e trabalho
duro; Limpeza e organização; Ajuda aos outros; Conhecimento; Perseverança.)
[nota 206. Não tenho fácil aqui cada uma em chinês, eu teria que pegar o texto
original e procurar a pronúncia de cada uma de novo no dicionário...], os “quatro
laços sociais” (“decoro”, li; “justiça”, yi; “integridade”, lian e “honra”, chi) e as
“oito virtudes” (“amor filial”, xiao; “amor fraterno”, di; “lealdade”, zhong;
“confiança”, xin; “polidez/civilidade”, li; “justiça”, yi; “integridade”, lian;
humildade, zhi).

2. Os “cinco aspectos marciais” (wuwu):

Na divisão realizada por Mestre Lin Zhong Yuen de seu wudao, a “ética
marcial”, wude, articula-se a outros quatro aspectos a serem enfatizados: “estudo
ou filosofia marcial”, wuxue; “realização ou mérito marcial”, wugong; “técnica
marcial”, wuji, e “arte marcial”, wuyi. Utilizando um modelo dos cinco
elementos, o qual estudaremos em unidade mais para frente, cada um destes
aspectos liga-se a um elemento: wude à terra, wuxue ao metal, wugong à
madeira, wuji à água e wuyi ao fogo. A analogia elementar serve para enfatizar a
unidade constituída entre estes cinco aspectos, que estão unidos de tal forma que
se complementam, equilibram-se e harmonizam-se em um processo cíclico
constante de transformações e retorno. Já falamos bastante da “ética marcial”,
passaremos agora para os demais quatro aspectos.

2.1. Wuxue – Estudo ou Filosofia Marcial

Trata-se do estudo de vários conceitos, ciências e técnicas ligados às artes


marciais chinesas e essenciais ao praticante. Entre elas: a história de wudao, seus
conceitos centrais, suas obras clássicas, princípios de educação física, de
psicologia, de medicina e de filosofia.

Também inclui resumos do ensinamento sobre o Zhong Wudao em frases,


preceitos e símbolos, além de todo o conhecimento sobre a indumentária, os
valores simbólicos dos objetos e signos que compõem a academia.

Estudo para símbolo do


Zhong Wudao, material da
Academia Wushukuan, de
Mestre Sheng. Sugestão de
pesquisa: busque
informações e tente
interpretar este símbolo.

2.2. Wugong – Realização ou Mérito Marcial

A perseverança na prática, desenvolvendo o vigor, o entusiasmo, a resistência e


a vitalidade formam a base do wugong. Envolve tudo que diz respeito ao
treinamento, seus espaços e sua preparação, além dos exercícios que buscam
fortalecer o praticante nos âmbitos externo e interno (estudaremos as relações
entre interno e externo mais à frente).
O wugong exige a realização das técnicas marciais com uso das forças dura,
mole e viva; o fortalecimento muscular; aumento da capacidade
cardiorrespiratória por meio de atividades aeróbicas etc. Exige práticas de
fortalecimento interno com ba duanjin, yinjinjing, qigong, formas variadas de
meditação e de exercícios de respiração. Todo o preparo físico e mental
necessário ao melhor desempenho técnico e desenvolvimento da saúde está
envolvido no wugong.

2.3. Wuji – Técnica Marcial

É tudo aquilo que se refere ao conteúdo técnico da arte marcial. É o “currículo”


que você desenvolve, por exemplo, em sua academia, dividido em formas,
técnicas básicas, armas, shuaijiao, sanshou etc. Na unidade anterior,
descrevemos em linhas gerais o conteúdo técnico do Zhong Wudao de Mestre
Sheng e, na prática, você o tem aprendido e praticado.

2.4. Wuyi – Arte Marcial

Esta parte envolve a atuação social do Zhong Wudao: suas formas de


organização (como em associações e federações, por exemplo), os intercâmbios
e as trocas de experiência com outras artes marciais, a organização de exibições
e de competições. Sobre as competições, volta-se a um ponto tratado em unidade
anterior. Para o Mestre Lin Zhong Yuan, o seu propósito não é um mero “culto
ao vencedor”, destacando as habilidades puramente atléticas de competidores
especializados. Seu sentido é a promoção da “cultura” (wen) e para o encontro
coletivo com o “caminho” (Dao). Mais importante, neste sentido, do que a
competição é a ideia de cooperação, de elevação conjunta. Nas palavras do
mestre, o objetivo é “mostrar a barbárie da civilização e a cultura do wudao para
despertar a consciência nacional e incentivar a luta do povo, prevenindo-o da
guerra”.

3. Em chinês...

Wude: 武德
Wuxue: 武学
Wugong: 武功
Wuji: 武技
Wuyi: 武艺
Faixa Roxa
1. Compreendendo melhor as “energias”

Na medida em que você vem estudando a respeito do Zhong Wudao, várias


vezes já se deparou com o conceito de qi. Vale recapitular seu significado mais
geral: “é a energia vital que todo organismo possui, mas que pode ser aumentada
ou perdida conforme seja cultivada ou não. É dela que vem, conforme o
pensamento chinês tradicional, toda a origem dos nossos movimentos físicos ou
mentais”. Lembrou?

As origens históricas do conceito de qi são incertas. Uma das suas fontes


literárias mais importantes é o Neijing (“Clássico Interno” ou “O Livro do
Imperador Amarelo”), atribuído a Huang Di, conhecido como o Imperador
Amarelo. A história de Huang Di é bastante lendária. Ele teria reinado (não
simplesmente vivido...) por cerca de 100 anos numa época bastante remota,
coisa de 26 séculos antes do início da Era Cristã no Ocidente. Acredita-se, no
entanto, que o Neijing não seja mais antigo do que os escritos de Confúcio, Mozi
e de Lao Zi, por exemplo, tendo sido composto durante a primeira Dinastia Han.

Zou Yan, que viveu no século III a.C. fundou uma escola filosófica nomeada
como “naturalismo” ou “filosofia do yin/yang”. Esta escola, juntamente ao
Moismo, o Daoismo, o Confucionismo, o Legalismo e outras, formavam aquelas
que são conhecidas como as “Cem Escolas de Pensamento” (zhuzi baijia), que
floresceram entre os séculos VI e III a.C. entre os períodos da “Primavera e
Outono” e dos “Estados Guerreiros”. Com o passar do tempo, ela foi sendo
assimilada por correntes do taoísmo e do confucionismo. No interior deste ramo
do pensamento chinês, o Neijing popularizou-se de tal modo que, em conjunto
com o “Clássico das Mutações” (Yijing ou I Ching), acaba por fornecer os
elementos mais básicos que fundamentam a astrologia chinesa, a acupuntura, o
feng shui e todas as suas derivações, inclusive nas artes marciais.

2. O sanbao e os meridianos de circulação energética

Segundo teorias taoístas do naturalismo, há três formas de energia: jing, qi e


shen, no conjunto denominadas sanbao, “três jóias”. A primeira é uma energia
essencial, existente de maneira inata em todo organismo e que dá origem à vida.
Em nosso corpo, ela se concentra principalmente no chamado xia (baixo)
dantian. A segunda forma de energia é o qi, uma espécie de “respiração” (como
aparece nos escritos de Confúcio) ou “vapor” (como aparece nos escritos de
Mozi) que preenche e nutre a vida e circula no universo, sendo capaz de ser
cultivada e movimentada pela intenção (como aparece na metafísica da era Song
e acaba sendo assimilado no neo-confucionismo, Daoxue). Em nosso corpo, ela
se concentra, sobretudo, no zhong (médio) dantian. Por último, a energia shen
seria o “espírito” que governa as demais formas de energia, localizando-se na
região do shang (alto) dantian.

A saúde do organismo, conforme a Medicina Tradicional Chinesa (para não


dizer oriental), consiste em cultivar a energia vital que todos possuímos de modo
a aumentar o qi circulante em cada parte de nosso corpo. A doença, nesta
concepção, é entendida como uma falha na circulação do qi, que deixa de passar
por alguns lugares, interferindo nas funções dos nossos órgãos e tecidos.

Esta circulação não é aleatória. Dá-se por meio de percursos denominados


meridianos. São vários meridianos em nosso corpo, cada qual relacionado com
órgãos e funções específicas. Cada meridiano, por sua vez, é formado por
diversos pontos – alguns deles possuem dezenas de pontos – com importância
para o funcionamento saudável do organismo. O conhecimento destes pontos é
fundamental para a terapia por acupuntura ou por tui na (massoterapia), por
exemplo.

Na imagem acima, você tem o exemplo de um dos meridianos que existem em


nosso corpo: trata-se do Dumai, relacionado ao sistema nervoso e de polaridade
yang. Pelo caractere 下 (xia) está representada a área do xia dantian, onde se
concentra a nossa fonte principal de energia vital. Pelo caractere 中 (zhong),
representa-se a região do zhong dantian, de energia qi. Pelo caractere 上
(shang), mostra-se a região do shang dantian, de energia shen. Note também que
há um eixo central no corpo, ligando o centro de cada dantian entre dois pontos
extemos: o huiyin e o baihui. Manter o bom alinhamento deste eixo é um dos
princípios básicos de várias artes marciais internas, como o taijiquan.
É importante ter em vista que, na medicina tradicional chinesa, não há
autonomia ou separação entre o que a medicina moderna entende como o físico,
de um lado, e o mental, o emocional ou o psíquico, do outro. Assim, nossos
estados emocionais e nossos pensamentos interferem na dinâmica da circulação
energética e vice-versa. Quando aprendemos a manipular a circulação energética
por meio de meditação, visualizações ou mentalizações, associando ao domínio
de diversos tipos de respiração, isto também traz efeitos sobre o nosso estado
físico e/ou emocional. Este pressuposto está na base dos exercícios de qigong,
por exemplo, com enorme presença nas artes marciais.

3. A mutação, yi, os bagua (“oito trigramas”) e a teoria do yin/yang

Em um trecho bastante poético dos Analectos, encontra-se escrito: “Afirmou o


mestre, sentado às margens de um riacho: ele flui assim continuamente, sem
parar, de noite e de dia”. Esta imagem ilustra bem o conceito de Yi, “mutação”,
tão central na visão de universo dos chineses. Para compreendê-lo, é necessário
esclarecer um dos livros provavelmente mais antigos que se conhecem na
humanidade: o Yijing.

A origem do texto é incerta, mas muito antiga, possivelmente anterior à Dinastia


Zhou (séculos XII a III a.C.). Atribui-se a autoria de suas versões mais remotas,
na mitologia chinesa, a Fu Xi, espécie de herói civilizador a ter estabelecido as
primeiras leis e os conhecimentos básicos da vida prática, incluindo o primeiro
sistema de escrita e a domesticação de animais, por exemplo. O nome Yijing
teria sido dado, no entanto, mais tarde, por volta do século VI a.C. por Confúcio
em suas edições dos “clássicos” antigos. No Ocidente, o livro recebeu pelo
menos duas importantes traduções: no final do século XIX (James Legge, para o
inglês, em 1882) e início do XX (Richard Wilhelm, para o alemão, em 1923).

O livro é, ao mesmo tempo, um oráculo e um livro de sabedoria, apresentando-


se como um tratado das visões cosmológicas (sobre a origem do universo e os
seus fundamentos) dos “primitivos” chineses. Tal cosmologia baseia-se na
compreensão da dinâmica da “mutação” (yi, 易), que flui invariável e
constantemente no universo e incide sobre todos os seres. Os modos e estágios
da “mutação” seriam visíveis por meio dos chamados bagua, os “oito trigramas”
(figura 1), conforme passaram a ser denominados desde a tradução de Legge
para o inglês. Os gua, em número de oito, seriam conjuntos formados pela
combinação de três linhas contínuas ou fracionadas, representativas do yang e do
yin, respectivamente (Figura 2). Os oito trigramas, ba gua, combinam-se entre si
de modo a formar 64 hexagramas, que, seguidos de comentários (atribuídos a
antigos sábios de diferentes momentos históricos, como Zhou Wen Wang e o
seu filho, Duque de Zhou), compõem o cerne do Yi Jing.
Fig. 1 – Os oito trigramas, bagua. Cada
linha do ba gua representa uma das três
dimensões do Dao (道) na perspectiva do
pensamento chinês tradicional: terra,
homem e céu. Nesta imagem, cada
trigrama apresenta uma tradução para o
inglês: terra, montanha, água, vento,
trovão, fogo, lago e céu.

Fig. 2 – Taiji ou o Yin (陰) e o Yang (陽) representados por linhas

Volvemos ao riacho que flui incessantemente, dia e noite. Esta imagem é uma
boa metáfora da mutação constante do universo e de todas as coisas que se
encontram em interação dentro dele. Dia e noite são momentos opostos de uma
passagem circular do tempo. Mas dia e noite não existem um sem o outro e
transforma-se um no outro na medida em que o tempo passa. Há determinados
instantes, como o crepúsculo e a aurora, por exemplo, em que dia e noite
praticamente não se distinguem. Enquanto um nasce, o outro morre para, depois,
renascer pouco a pouco, quase imperceptivelmente.

Dia e noite são como o yang e o yin, energias opostas e complementares, que se
sucedem na passagem circular do tempo, provocando alterações no fluir de todas
as coisas animadas. Em nosso corpo, a energia, qi, também flui conforme a
dinâmica circular do yang e do yin. Alguns dos nossos meridianos são de
energia yang e outros são yin. Em determinadas horas do dia ou estações do ano,
pontos energéticos de nosso organismo têm suas funções aumentadas,
diminuídas ou transformadas. Nós estamos também em mutação constante e
circular, conforme a dinâmica do taiji ou fluir contínuo do yang e do yin.
Lembra-se do símbolo do taiji lá da primeira faixa? O que o Yijing busca
compreender é esta dinâmica de transformação e continuidade do universo,
tirando dela lições para a vida e orientação prática. Daí também o seu uso
oracular.

Os chineses atribuem às polaridades yang e yin características próprias, tais


como: a dureza do yang versus a flexibilidade do yin; a clareza do yang versus a
obscuridade do yin; a racionalidade do yang versus a intuição do yin; o
masculino do yang versus o feminino do yin; a expiração do yang versus a
inspiração do yin etc. A origem de tudo a partir do seu oposto é um pressuposto
filosófico muito presente na técnica das artes marciais tanto “internas” quanto
“externas”. Compreender, por exemplo, que a origem da força de um soco está
menos na contração muscular excessiva do que em uma transformação que passa
do firme para o flexível e do flexível ao firme, envolvendo inspiração e
expiração em seus momentos corretos, é uma forma de compreender a dinâmica
da mutação.

O entendimento da fluência das energias é uma passagem importante entre um


nível mais inicial e rudimentar de prática de arte marcial para outro mais elevado
e consciente. Educar o corpo e a mente para isto é necessário para passar do uso
da força bruta para o desenvolvimento de uma arte apoiada no cultivo e na
transmissão intencional do qi.

4 A teoria dos “cinco elementos” (wuxing)

A teoria dos “cinco elementos” é outra tese da filosofia “naturalista”, do sábio


Zou Yan, que, compatibilizada à filosofia da mutação e da dialética do yin/yang,
fundamenta a Medicina Tradicional Chinesa e tem grande importância nas artes
marciais. Esta teoria é de caráter analógico, mais do que de “lógica causal”. Ela
permite articular as cinco direções (norte, sul, leste, oeste e centro), cinco cores
(verde/azul, vermelho, amarelo, branco e preto), dez órgãos do corpo humano
divididos em cinco pares, as cinco estações do ano (incluindo entre elas a
“Canícula”) e cinco emoções (raiva, alegria, preocupação, tristeza e medo) a
cinco elementos: fogo, terra, metal, água e madeira.

Uma vez realizadas as correspondências (por exemplo: madeira / leste / verde /


fígado / vesícula biliar / primavera / raiva ou metal / oeste / pulmão / intestino
grosso / outono / tristeza), o “médico” pode realizar diagnósticos e propor
tratamentos seguindo um esquema do seguinte tipo: madeira alimenta fogo, fogo
produz terra pelas cinzas, terra (solo) produz metal, metal sob o calor vira
líquido ou água, água nutre madeira; madeira suga os nutrientes da terra, a terra
absorve a água, a água apaga o fogo, o fogo derrete o metal, metal corta a
madeira. Assim, por exemplo, o “médico” pode entender que metal corta
madeira, logo, pode estimular o funcionamento do pulmão e do intestino grosso,
relacionado ao elemento metal, para combater a emoção de raiva, relacionado à
madeira.

Note-se que se trata de um sistema analógico bastante fundado na empiria mais


do que em um modelo de explicação causal, como já dissemos. Note-se também
o caráter cíclico das relações entre os elementos em suas relações de produção,
destruição, extinção e “respeito” (no exemplo, ficamos apenas com as relações
de produção e de destruição). Tais relações respeitam uma dinâmica cíclica de
mutações, conforme o padrão da dialética do yin e do yang.

Vários qigong presentes nas artes marciais e outros exercícios são inspirados na
teoria dos cinco elementos e a própria movimentação em certas direções têm o
objetivo de estimular determinados órgãos, emoções e efeitos físico-mentais
específicos. O que exploramos aqui, tanto em relação à compreensão das
energias e da mutação quanto em relação à teoria dos cinco elementos é apenas a
pontinha de um conhecimento muito abrangente. Há muito mais a conhecer e
você deve continuar pesquisando a respeito. Como sugestão, leia o Yijing e seus
textos introdutórios. Ele está disponível on-line, em português, no portal UOL,
com a tradução brasileira da edição de Carl Yung e Richard William. Preste
atenção no quanto o livro é sugestivo de imagens e o quanto elas são ilustrativas
de conceitos filosóficos profundos.

O “kung fu” também é cheio de imagens semelhantes, inspiradas muitas vezes


na dinâmica das estações do ano, nos elementos da natureza, nos acidentes
geográficos, nas flores, nas árvores e nos animais; em suma, nos elementos que,
em mutação constante, estão presentes no universo. Assim, a arte marcial
também é uma chave de compreensão dos princípios que regem o “céu e a terra”
e, entre eles, o homem. Por isso, como vimos na unidade anterior, Lin Zhong
Yuan entende que o wudao pode nos permitir uma compreensão do que é
correto, saindo de nosso ego e nos colocando em harmonia com o que os
chineses chamam de Dao, princípio inescrutável, intangível, misterioso, que,
desde a origem de tudo, abrange todo o ser.

5 O “interno” (nei) e o “externo” (wai) em artes marciais

Se, na dinâmica do yang e do yin, entende-se que a origem de um estado está


sempre no fluir de um estado oposto, é “fácil” concluir que a divisão entre artes
marciais internas e externas é um tanto quanto artificial e pode levar a mal-
entendidos. Se eu imagino, por exemplo, que o Taijiquan é uma arte que
focaliza somente o “interno”, isto é tão estranho quanto imaginar que um ser
humano possa sobreviver apenas inspirando ar e nunca expirando.

Interno, em artes marciais, é o processo de cultivo, entendimento e


direcionamento das energias que circulam pelo nosso organismo. Externo é o
processo que exprime a circulação da energia de maneira visual e física nos
nossos músculos e movimentos corporais. O que acontece, nas chamadas artes
marciais “externas”, é que se começa a partir do processo externo na direção de
compreender ou desenvolver o interno; enquanto as artes “internas” fazem o
caminho contrário. Mais importante do que definir, portanto, se o Zhong Wudao
é uma arte interna ou externa é compreender que ele envolve as duas coisas.
Sem a dimensão interna, suas formas são apenas cascas que encobrem força
bruta; enquanto, sem as suas dimensões externas, não passa de uma abstração
sem sentido.

6 Em chinês...

Qi : 气

Yin : 阴
Yang : 阳

TAN-LAN-CHUAN

Tan-Lan-Chuan
O famoso estilo “louva-a-deus” que imita os movimentos deste
magnífico inseto tem como característica usar as mãos em forma de pinças
e os braços como foices. Foi criado no século XVII – XVIII pelo Mestre
Wang-Lang que fundou a escola Chi-Sin Tan-Lan-Chuan na dinastia Qing
da China. Ele desenvolveu os movimentos próprios baseado na sua
observação da luta entre os insetos “Louva-a-Deus” e absorveu as melhores
técnicas de oito famosos escolas na sua geração. Apesar de sua origem na
região norte da China ele pode ser considerado como estilo “intermediário”
de kung-fu, devido á dominância paralela de movimentos de pernas com os
das mãos.

1° Tao-Lu: Chi-bu-chuen
Shu-bu → Ma-bu → Tien-bu → Du-li-bu → Xie-bu → Chi-Shin-bu → Kon-bu →
Kou-bu → Pu-bu →Zu-huan-bu → Tso-pan-bu → Tan-pu-bu → Zon-bu → Pa-ma-bu
→ San-chi-bu → Shu-bu → Volta tudo do outro lado.

Tan-Lien (Educativo)
 Kon-bu-pou-tsa
 Kon-bu-pou-tsuei
 Ma-bu-pou-tsuei
 Kon-bu-kou-lou-tsai
 Ma-bu-pi-tsuei
 Kon-bu-pon-tsuei
 Kon-bu-tsou-tsuei
 Kon-bu-chien-tsuei
 Kon-bu-chien-tsuei
 Kon-bu-fan-tso-tsuei
 Ma-bu-ro-lan-tsuei

2° Tao-Lu: Lien-tso-chien
 Pou-tsa → Kon-bu-pou-tsuei → Kou-lou-tsai → Ma-bu-pou-tsuei → Tiao-so →
Pi-tsuei → Pie-tsuei → Chien-tsuei → Pon-tsuei → Tsou-tsuei → Tan-pien →
Ro-lan-tsuei → Fan-tso →Lu-lu → Volta tudo ao contrario.

3° Tao-Lu: Ti-Sou-Chuan

Jin-Pon-Tsu-Lu (Educativo)
 Iata-Pon-Tsuei
 Lien-Huan-San-Tsuei
 Chuan-Tsuei-Iata
 Chuan-Pie-Tsuei
 Tsou-Piê-Pon-Tsuei
 Pi-Tsa-Ton-Tuei
 Tsu-Tzu-Ton-Tuei
 Pon-Tsuei-Pimen-Tuei
 Kou-Lou-Tsai-Tiao-Tso
 Xuan-Fon-Jei-Tuei

Tan-Lan-Tiao-Tso (Educativo)
 (Nei-San-Sou)
1ºKou-Lan-Tsa-Chan
2º Kou-Chiao-Tsa-Chan
3° Fan-Kou-Fon-Kou
 (Wan-Jan-So)
4°Kou-Lou-Tsai
5ºFon-Kou-Chi-Tsan
6ºFon-Lan-Kou
 (San-Xia-San-So)
7ºKou-Lan-Sou
8ºJiau-Jia-Tsa-Chan
9ºJiau-Lan

4° Tao-Lu: Shi-Pa-Sao
5º Tao-Lu: Tuo-Kan
6° Tao-Lu: Tsa-Tsuei
7° Tao-Lu: Mei-Hua-Lu
8° Tao-Lu: Pan-Pun

SHUAI-CHIAO

Literalmente “Shuai-Chiao” significa derrubar com os chifres, que simbolizam


as lutas dos alces, há também traduções que dizem varrer com os pés, que simbolizam
o ciscar das galinhas, este estilo de Kung-Fu contêm técnicas de arremesso, captura e
domínio do oponente. Ele se diferencia das demais artes marciais de arremesso com
suas diversificadas técnicas altamente eficazes nas lutas de média e curta distância. O
Shuai-Chiao é capaz de provocar queda rápida no oponente sem entrar em contato com
sua roupa, ou como nas outras artes o “kimono”. O treinamento de quedas é também
uma das principais características do Shuai-Chiao visando a real proteção na queda
direta para qualquer tipo de terreno. É o estilo de luta mais antigo da história do Kung-
Fu. Atualmente o Shuai-Chiao é adotado pelas Polícias da China, Tailândia, Vietnã e
demais países asiáticos. Ele é bastante difundido como esporte e tem
competições organizadas na China, nos Estados Unidos e em outros países, inclusive no
Brasil.
O curriculum básico de Shuai-Chiao da Academia Charles Carvalho conta com
10 técnicas básicas e para cada técnica 2 variações totalizando 30 técnicas, que
abrangem o domínio de torções de pulso, cotovelos, ombros, técnicas de contato com a
roupa Talin ou Dalin, além de pegadas nas pernas.

TAI-CHI-CHUAN

“caminho para uma vida saudável”, é uma arte milenar chinesa que através de
seus exercícios físicos e dos respiratórios, visa o bem estar do corpo e da mente. Por ser
simples e fáceis de aprender, os seus movimentos podem ser praticados em qualquer
lugar, qualquer hora e por qualquer pessoa sem limite de idade, sexo ou problema físico.
Apesar de Tai-Chi-Chuan representar o estilo “interno” da arte marcial chinesa, hoje é
praticado no mundo todo como um exercício preventivo e terapêutico com seu resultado
comprovado. O Tai-Chi-Chuan ativa a energia vital “chi” fazendo-a circular pelo corpo
todo melhorando os males (insônia, tensão muscular, etc.) gerados por stress, reduzindo
a ansiedade, aumentando o nível de concentração que gera melhor produtividade, por
este motivo o estilo é comumente adotado como exercício ideal por empresas em todo o
mundo.

Técnicas Gerais

Postura de Luta:
 Yu-pei-si: Pernas flexionadas, abertas na largura do ombro, com um pé à frente
– Mãos na altura do nariz com os cotovelos fechados protegendo as costelas.
Peso do corpo 70% a frete.
 Passos de Luta:
 Chien-hua-bu = Passo para frente.
 Ro-hua-bu = Passo para trás
 Jin-bu = Passo para frete trocando de base
 Tuei-bu = Passo para trás trocando base
 Yi-bu = passo para o lado
 Huan-bu = Troca de base
OBS: Tomar muito cuidado ao deslocar a base em uma luta para não cruza - lá.
Chutes: Socos:
 Tan-tuei  Chien-chuen
 Chien-ti  Tso-chuen
 Nei-kua-tuei  Chien-pon-chuen
 Wai-kua-tuei  Tso-pon-chuen
 Chien-tai-tuei  Tso-wai-pon-chuen
 Tso-tai-tuei  Nei-kou-chen
 Ro-tai-tuei  San-kou-chuen
 Chien-tan Defesas
 Tso-tan  San-fan
 Ro-tan  Xia-fan
 Djie-tuei  Nei-fan
 Tsan-tuei  Wai-fan
 Lien-huan-kuan-tuei  San-kua-fan
 Tso-tsi  Xia-kua-fan
 Nei-pai-ti  Nei-kua-fan
 Wai-pai-ti  Pei-tso-fan
 Tiao-pai-ti

Seqüências de Luta:

1.Esquiva Yi-bu 1.Esquiva Yi-bu


2.Chien-chuen 2x 2.Chien-tân
3.Chien-tan 3.Chien-chuen 2x

1.Esquiva Yi-bu 1.Esquiva Yi-bu


2.Chien-chuen 2x 2.Tso-tân
3.Tso-tân 3.Chien-chuen 2x

1.Esquiva Yi-bu 1.Esquiva Yi-bu


2.Chien-chuen 2x 2.Nei-pai-ti
3.Nei-pai-ti 3.Chien-chuen 2x
1.Nei-fan
2.Pon-chuen 1. Chien-chuen 2x
2. San-kou-chuen
1.Nei-kua-fan
2.Pon-chuen 1.Chien-chuen
2.Nei-kou-chuen
1.Chien-ti (P/F) 3.Nei-pai-ti
2.Nei-pai-ti (P/T)
1.Chien-chuen
1.Chien-ti (P/F) 2.San-kou-chuen
2.Nei-pai-ti (P/F) 3.Nei-pai-ti

1.Chien-chuen
2.Nei-kou-chuen
1.Chien-ti (P/T) 3.Chien-tân
2.Nei-pai-ti (P/T)
1.Chien-chuen
1.Chien-chuen 2.San-kou-chuen
2.Nei-Kou-chuen 3.Chien-tân

1.Chien-chuen
2.Nei-kou-chuen
1.Chien-chuen 3.Tsô-tan
2.San-kou-chuen
1.Chien-chuen
1. Chien-chuen 2x 2.San-kou-chuen
2. Nei-Kou-chuen 3.Tsô-tan

Princípios básicos de luta:

1. Cálculo de distância: Sempre mantenha uma distância favorável ao seu biótipo,


pessoas altas devem manter a distância de seu oponente, pois seus golpes têm maior
alcance, pessoas baixas devem entrar rapidamente na área do adversário, golpeá-lo e
sair rapidamente evitando o contra ataque.
2. Sair da linha de ataque: Sempre que o oponente se movimentar para atacar, você deve
esquivar para a lateral e imediatamente iniciar o contra ataque. Ter cuidado com
oponentes mais experientes, eles podem perceber a técnica e montar uma armadinha.
3. O peso: Manter sempre o peso do corpo para frente, pois assim, será mais difícil
derrubá-lo, você poderá resistir melhor aos ataques do adversário evitando recuar e terá
mais velocidade e força para contra atacar.
4. Distância e ataque: Para cada distância se tem um tipo de técnica, a) Longa, usar
chutes; b) média, usar socos; c) curta, usar joelhos, cotovelos e shuai-chiao.
5. Ritmo: Para entrar um golpe use o ritmo ao seu favor: a) deve-se perceber o ritmo do
seu adversário, isso é fácil de ser percebido com pessoas que pulam muito na luta; b)
usar os passos laterais para quebra o ritmo; c) quebrado o ritmo ou quando o oponente
estiver com o centro de peso para trás, deve-se entrar o ataque.

Treinamento de Kung-fu
O treinamento de kung-fu trabalha com três importantes partes, o corpo, o espírito e
a alma.

1. Aula:

Para que uma aula de kung-fu tenha um bom andamento é extremamente necessária
à obediência a hierarquia e a disciplina durante os exercícios.
Em ordem hierárquica primeiramente temos o Mestre, dele provem todo o
conhecimento sobre as técnicas e a filosofia da academia, em seguida o professor, a
principal função de um professor e controlar a aula dando assistência aos monitores e
passando todo o conhecimento que foi passado a ele pelo Mestre com a máxima
fidelidade, os monitores são muito importantes principalmente quando se tem muitos
alunos em uma aula, pois eles irão repassar as técnicas aos alunos e ajudar no
desenvolvimento e disciplina da aula.

2. O Monitor:

É responsabilidade do monitor o inicio e o termino da aula.


O inicio da aula é dividido em três partes, o aquecimento das articulações que é feito
com movimento circulares começando do pé até a cabeça, em seguida deve ser feito o
aquecimento dos músculos, nesta parte o monitor pode usar vários tipos de exercícios, a
terceira parte é o alongamento que também pode ser feito de diversas formas como irei
detalhar em seguida.
A primeira forma que irei citar para o aquecimento dos músculos é utilizar a corrida,
que deve ser feita durante um tempo mínimo de quinze minutos, contendo vários
exercícios.
a) correr e socar: esse exercício envolve o aprimoramento da coordenação motora,
enquanto os alunos correm devem manter as mãos protegendo o corpo na altura do
queixo e obedecendo a contagem do monitor deve socar primeiro com a mão esquerda,
depois com a direita e com as duas, um número mínimo de dez vezes.
b) correr e fazer flexão: esse exercício consiste em desenvolver a força nos braços
do aluno, enquanto o aluno corre, obedecendo a contagem do monitor, deve descer ao
chão e fazer um numero mínimo de dez flexões e rapidamente voltar a correr repetindo
esse exercício em intervalos curtos um numero mínimo de cinco vezes.
c) correr e fazer abdominais: semelhante a “correr e fazer flexões” só que fazendo
abdominais. Esse dois exercícios devem ser aplicados de preferência juntos para que o
aluno trabalhe tanto os braços quanto o abdômen.
d) correr e saltar: enquanto os alunos correm em fila, o monitor deve utilizar um
bastão paralelo ao chão e correr na direção oposto aos alunos fazendo que eles tenham
que saltar ao se aproximar do bastão, que deve começar em uma altura baixa e ir
aumentando gradativamente de acordo com a capacidade dos alunos.
e) correr e saltitar: após um tempo de corrida para que todos os músculos sejam
aquecidos o monitor deve instruir os alunos para que saltitem lateralmente, tanto para o
lado direito quanto o lado para o lado esquerdo, sempre lembrando que a mão deve ficar
na altura do queixo e os cotovelos para dentro protegendo o tórax.
f) correr de costas: após saltitar lateralmente o monitor deve instruir os alunos a
correm de costas, tomando o cuidado de sempre olhar sobre o ombro para traz.
g) correr e pular carniça: o monitor deve instruir o primeiro da fila a abaixar
apoiando os braços na perna e colocando o queixo no peito, o restante da fila apóia as
mãos nas costas de quem está abaixado e o pula abrindo as pernas.

3. O professor
O professor deve olhar uma aula de kung-fu como um general olha para seu
exército, enquanto o monitor faz os exercícios acompanhando os alunos o professor tem
a responsabilidade de olhar cada aluno e cada movimento, instruindo os alunos a
fazerem de maneira correta.
O professor tem como obrigação sempre prestar contas ao mestre, pois a
responsabilidade de transmitir os ensinamentos do mestre de maneira correta é
inteiramente sua. A ligação entre os alunos e o mestre é feita pelo professor, que deve
ensinar sem modificações aquilo que é ensinado pelo mestre.
O professor tem obrigação de treinar junto aos seus monitores, auxiliando-os a
sempre executar as técnicas e os movimentos de maneira correta. O crescimento
técnico dos monitores é responsabilidade do professor.

Prof. Gustavo Rodrigues Rosato

Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia 2018


Graduação em Filosofia (licenciatura e bacharelado) pela Universidade Federal de
Uberlândia UFU 2013
Professor de Kung Fu na Academia OKA DOJO desde 2017
Professor de Kung FU na Academia CGP/CEU de 2014 a 2020
Professor de Kung Fu na Academia Charles Carvalho de Janeiro de 2011 a 2017
Professor de Kung Fu na Academia Wu Shu Kuan de 2006 a 2010
Graduando em Jon-Wu-Dao
Graduando em Tai-Chi-Chuan
Graduando em Shuai-Chiao
Graduando em Tan-Lan-Chuen (Louva-a-Deus)
Praticante de Kung-Fu Jon-Wu-Dao desde 2003
Discípulo direto do Mestre Huang Yu Sheng desde 2006

Grande experiência em técnicas de luta, tendo participado dos seguintes campeonatos:


3° Lugar Kuo-Shu Light 65kg/70Kg - Campeonato Brasileiro de Kung-Fu 2004
3° Lugar Kuo-Shu Light 65Kg/70Kg - Campeonato da Academia Wu Shu Kuan 2004
1° Lugar Kuo-Shu 65Kg/70Kg - Campeonato da Academia Wu Shu Kuan 2005
1° Lugar Shuai-Chiao 65Kg/70Kg - Campeonato da Academia Wu Shu Kuan 2005
1° Lugar Kuo-Shu 65Kg/70Kg - Campeonato da Academia Wu Shu Kuan 2006
1° Lugar Shuai-Chiao 65Kg/70Kg - Campeonato da Academia Wu Shu Kuan 2006
3° Lugar Kuo-Shu 65Kg/70Kg - Campeonato Brasileiro de Kung-Fu 2006
1° Lugar Kuo-Shu 65Kg/70Kg - Campeonato da Academia Wu Shu Kuan 2007
1° Lugar Shuai-Chiao 65Kg/70Kg - Campeonato da Academia Wu Shu Kuan 2007
1° Lugar Bastão Curto 65Kg/70Kg - Campeonato da Academia Wu Shu Kuan 2007
3° Lugar Kuo-Shu 70Kg/75Kg - Copa São Paulo 2008
2° Lugar Shuai-Chiao 70Kg/75Kg - Copa São Paulo 2008
3° Lugar Shuai-Chiao 70Kg/75Kg - Campeonato Brasileiro de Kung-Fu 2008
1° Lugar Shuai-Chiao 85Kg/90Kg – Campeonato Inter-Estados de Kung-Fu 2011
1° Lugar Shuai-Chiao 88Kg/93Kg – Campeonato Brasileiro de Kung-Fu 2012
1° Lugar Shuai-Chiao 88Kg/93Kg – Campeonato Brasileiro de Kung-Fu 2013
2° Lugar Shuai Jiao Até 100 Kg – Campeonato Mundial Shuai Jiao World Cup 2017
1° Lugar Shuai Jiao 88Kg/ 93KG - Campeonato Sul Americano de Kung Fu 2018
1° Lugar Shuai Jiao até 100 Kg – Copa Liu He Quan de Kung Fu 2018
1° Lugar Shuai Jiao até 100 KG – III Copa Filhos do Tigre 2018

Técnico representante dos atletas da Federação Mineira de Kung Fu nos campeonatos


de 2013 até 2020
Professor técnico da Academia Wu Shu Kuan na Copa São Paulo de 2008
Professor técnico da Academia Wu Shu Kuan no Campeonato Brasileiro de 2008
Professor técnico da Academia Charles Carvalho no Campeonato Brasileiro e Inter-
Estados de 2011
Professor técnico da Academia Charles Carvalho na I Copa Mineira de Kung-Fu
Professor técnico da Academia Charles Carvalho no Campeonato Brasileiro e Inter-
Estados de 2012
Professor representante do estado de Minas Gerais no Campeonato Brasileiro e Inter-
Estados de 2012
PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO MINEIRA DE KUNG FU KUO SHU

Cursos de Armas: Bastão Longo, Bastão Curto, Lança, Facão, Espada, Nunchako, San-
Xie-Kun (bastão de três segmentos), Corrente.
Curso de Autodefesa em Jon-Wu-Dao (Promovido por Mr.Huang Yu Sheng)
Curso de Autodefesa em Wyng Tjun (Promovido por Dai-Sifu Hans-Jurgen Remmel)
Curso de Shuai-Chiao Avançado (Promovido por Mr.Huang Yu Sheng)
Curso de Tec. de Luta Avançado (Promovido por Mr.Huang Yu Sheng)

Filosofia do Kung-fu
Quatro princípios básicos:
 Lealdade
 Fidelidade
 Dignidade
 Palavra

Juramento do Kung-fu
1o - Eu me comprometo a treinar o corpo e o espírito para a paz;

2o - Eu me comprometo a reverenciar nossos ancestrais e a respeitar mestres,


professores e colegas;

3o - Eu me comprometo a não ser falso e a seguir o caminho da verdade;

4o - Eu me comprometo a persistir no aperfeiçoamento físico, mental e espiritual; moral.

5o - Eu me comprometo a ser paciente e humilde, galgando um a um os degraus do


conhecimento;

6o - Eu me comprometo a contribuir para que esse meio não ofereça abrigo aos maus
intencionados;

7o - Eu me comprometo a respeitar as demais filosofias e artes marciais;

8o - Eu me comprometo a zelar pelo respeito devido ao kung-fu;

9o - Eu me comprometo a ser o exemplo vivo da filosofia e da ética dos mestres.

Textos de Lin Zhong Yuan

Fonte: http://www.caminhomarcialchines.blogspot.com.br/

Contribuição: Prof. Fabricio Monteiro

Uma das definições do Caminho Marcial Chinês, de Lin Zhong Yuan


“’Guo Shu’ [國術] é o resumo das artes marciais chinesas e ‘Zhong Wu Dao’
[中武道] é o nome formal para Guo Shu. Shao Lin [少林], Xing Yi [形意], Tai Ji
[太極], Wu Xing [五行], Ba Gua [八卦] etc. são os sobrenomes de Zhong Wu Dao;
TaeKwonDo, Aikido, Caratê, Judô etc. são parentes de Zhong Wu Dao.”

BIBLIOGRAFIA:

LIN, Z. 为国武呐喊!替国术开道! [Wei Guo Wu Na Han! Ti Kuo Shu Kai


Dao!]. Chinese Kuo Shu Quartely. p. 24-42. Taipei: Research Institute of Kuo Shu of
China Academy. n°1, vol. 1, jul. 1984. p. 31.

Uma das ideias do Caminho Marcial Chinês, de Lin Zhong Yuan

“As pessoas podem expandir o Dao [道 – “Caminho”], ele pode ser transmitido pelos
homens. Ultimamente os chineses começaram a abandonar o Grande Dao e pegar outros
caminhos mais fáceis. O ideal tradicional de salvar a humanidade e salvar o país, esse
espírito, essa força, foram substituídos pelos negócios, pela economia e pela
industrialização. Todas as coisas são submetidas à rapidez e aos resultados, mas àquela
dedicação e trabalho que necessitam de cultivo para o sucesso as pessoas dão as costas,
dizendo ser coisa de velhos, não econômicas e que não servem à realidade. O
pensamento de negócios confundiu as ideias e os valores; muita gente adora o dinheiro,
a matéria, o poder e a política, e isso causa a transformação de nossa sociedade em uma
mercadoria indefinida [sem identidade]. Todas as pessoas possuem esse egocentrismo,
mas onde está Zhong Dao [中道 – “Caminho do Meio”]? Qual é o valor de nossa
cultura? Quando conflitos de valores surgem, as pessoas pensam apenas em seus
próprios interesses. Nossa sociedade está entrando em uma época de mercenários. (...)
Precisamos realizar essas mudanças. Um homem santo não tem propriedades, somente
os tesouros da Benevolência e Justiça. Benevolência e Justiça é a essência de Zhong
Dao e da Virtude da Luta das artes marciais chinesas. A Virtude da Luta das artes
marciais é parecida com a espada espiritual das cruzadas. Chamamos isso a ideia de
Zhong Wu Dao, pois ele representa a Justiça e a Benevolência.”

BIBLIOGRAFIA:

LIN, Z. 为国武呐喊!替国术开道! [Wei Guo Wu Na Han! Ti Kuo Shu Kai


Dao!]. Chinese Kuo Shu Quartely. p. 24-42. Taipei: Research Institute of Kuo Shu of
China Academy. n°1, vol. 1, jul. 1984. p.25-26.

Sobre os nomes Guo Shu (Kuoshu), Wu Shu e Zhong Wu Dao, por Lin
Zhong Yuan
“Lao zi disse: ‘o Dao que pode ser pronunciado não é o Dao absoluto, o Nome que pode
ser pronunciado não é o Nome Verdadeiro’. Para divulga-se esse Grande Dao, é preciso
de Zhong Dao; para transmitir esse é preciso primeiro nomeá-lo [especificá-lo]
corretamente e o fazemos como ‘Artes Marciais Chinesas’. Para que esse nome seja
conhecido no mundo, é preciso fixá-lo corretamente. O nome de Guo Shu [國術 –‘Arte
Nacional’] foi dado originalmente no décimo sétimo ano da República da China [por
volta de 1929]; naquela época, o governo, o exército e os povos precisaram receber os
ensinamentos de Guo Shu, que era muito importante para o país. Resumindo: o primeiro
nome oficial foi Guo Shu: Guo refere-se à China e Shu refere-se à Wu Shu [武術 –
‘Arte Marcial’]. Para ser exigente na definição desse nome, essa palavra Guo significa
China, chinês e Shu significa Wen e Wu e pode também ser ‘Artes Marciais Nacionais’
[Guo Jia Wu Shu - 國家武術] pode também, ser ‘Técnica Internacional’ [Guo Ji Ji Shu
-國際技術]. Mas ao usar a palavra Shu, permanece um clima muito pesado; falta o
sabor do Dao e o gosto da Arte. Por isso essas três palavras, Zhong Wu Dao, precisam
ser respeitadas.”

BIBLIOGRAFIA:

LIN, Z. 为国武呐喊!替国术开道! [Wei Guo Wu Na Han! Ti Kuo Shu Kai


Dao!]. Chinese Kuo Shu Quartely. p. 24-42. Taipei: Research Institute of Kuo Shu of
China Academy. n°1, vol. 1, jul. 1984. p. 26.

Necessidade do desenvolvimento físico, intelectual, moral e social pelas


Artes Marciais, de Lin Zhong Yuan

“Por isso, ‘a mente inteligente de um astronauta’ ainda precisa ter ‘a habilidade física de
um bárbaro’ e também ‘o coração de um religioso’, a capacidade de iluminação, de
transformar o ódio em comédia! Encorajar em mim mesmo ‘o caráter natural e os
exercícios de habilidade marcial’ e também enfatizar ‘o desenvolvimento do poder da
nação’ e o fortalecimento do ‘apurar corpo e mente’. A habilidade em permanecer de pé
e sobrepor-se e a habilidade na ‘seleção natural’ e ‘evolução’ para não ser eliminado;
capacidade em desenvolver compaixão, sabedoria e ‘proteção dos mais fracos’.”

BIBLIOGRAFIA:
LIN, Z. 中武道與繩武門 [Zhong Wu Dao Yu Sheng Wu Men]. Zhong Li, 2006.
(manuscrito)

Sobre a educação na sociedade atual, de Lin Zhong Yuan

“Há pessoas que ficam rindo [desprezando] da educação dos povos. Agora ‘a loja de
aprendizagem elevou-se à fábrica de aprendizagem’ [nossa educação, de conhecimento,
transformou-se em comércio]. Evoluiu como formadora de intelectuais e fábrica de
qualidade inferior, em grandes volumes, de produção em atacado; só leva em conta a
elevação da quantidade, faltando o esforço pela qualidade. As avaliações educacionais,
como provas, testes e concursos são tipos de controle de qualidade. Fazendo os alunos
dedicarem-se e se esforçarem na melhoria do corpo, da personalidade e de sua
qualidade, três elementos ficarão unidos, crescendo equilibrados. O resultado da fábrica
é em função do funcionamento da economia; a fábrica de aprendizagem só requer
qualificação, mas não dão atenção ao corpo de nossos alunos e a suas personalidades.
Vamos pensar: nossa segunda geração tem uma cabeça inteligente e um corpo fraco, ou
o corpo funciona bem e a cabeça não, ou ainda ‘o cérebro é cheio e o estômago também,
mas o coração é preto e a mão apimentada’ [sem virtudes, bandidos]. Isso é fracasso de
nossa educação? Não, nós estamos ignorando os treinamentos. É erro das escolas? Não,
a sociedade e os valores familiares estão confusos.”

BIBLIOGRAFIA:

LIN, Z. 为国武呐喊!替国术开道! [Wei Guo Wu Na Han! Ti Kuo Shu Kai


Dao!]. Chinese Kuo Shu Quartely. p. 24-42. Taipei: Research Institute of Kuo Shu of
China Academy. n°1, vol. 1, jul. 1984. p. 27.

Utilidades das Artes Marciais, por Lin Zhong Yuan

“Cada estilo de arte marcial [Wu Shu -武術] possui um portão de entrada. Há todo tipo
de movimentação nas artes marciais, e também objetivos (ganhar a vida, defesa, manter
a saúde), mas a última fronteira deve ser unificada: a essência da vida na elevação
humana ‘desenvolvimento de corpo e mente’. O desenvolvimento da vitalidade da
cultura inserido na alegria da civilização! (...) A história passada possui diversos tipos
de guerras, todos tendo o sentido humano natural da ‘contradição pessoal interna’,
sendo esse inimigo interno [do ‘eu’ de cada um] estando em uma ‘guerra civil’, sendo,
assim, iniciada uma guerra ‘intrapessoal’!

BIBLIOGRAFIA:

LIN, Z. 中武道與繩武門 [Zhong Wu Dao Yu Sheng Wu Men]. Zhong Li, 2006.


(manuscrito)

Definição e função de Wude (Ética Marcial), por Lin Zhong Yuan

“Definição: Utilizar a oportunidade do refinamento de Wu Dao para a cultura, mudar o


corpo físico e o temperamento do corpo-mente [Shenxin -身心]; Usar “buscar o homem
honesto, levantar o homem covarde, fraco pelo forte, saber pela ação...”; Dessa forma,
oferecer ajuda, promover a justiça, agindo como um homem nobre; Promover o fim das
extravagâncias [coisas desnecessárias] no grupo; Por “domínio das atitudes do coração”,
estendendo até “restauração das atitudes do coração”; Estimular nos compatriotas a
alma nacional (Conhecimento inato), assim como o espírito nacional (Habilidade inata);
Reviver o caminho da nação chinesa.
Função: Promover a conexão entre as afirmações individuais e do próprio grupo; De
acordo com o comportamento particular individual, a ação individual deve ser
verdadeiramente pura; Romper o presente, limpar a sujeita; A qualquer momento, fazer
a mais alta justiça; Fazer manifestar o feminino; Dedicar-se ao coletivo [Dawo -大我] e
sacrificar-se como indivíduo [Xiaowo -小我]; Iluminar [revelar] às massas e iluminar a
si mesmo.”

BIBLIOGRAFIA:

LIN, Z. 为国武呐喊!替国术开道! [Wei Guo Wu Na Han! Ti Kuo Shu Kai


Dao!]. Chinese Kuo Shu Quartely. p. 24-42. Taipei: Research Institute of Kuo Shu of
China Academy. n°1, vol. 1, jul. 1984. p. 39.

Relações entre Wude (Ética Marcial) e Dao (道), por Lin Zhong Yuan

“Wude significa ser modelo do Caminho [‘shidao’ - 師道]: Wudao significa ser uma
pessoa do Dao [Caminho], Wude significa ser um modelo de virtude; Modelo estrito da
antiga norma do Dao; Estudo cuidadoso da grandiosa norma do Dao; Modelo da
tradição através do ‘Dao como meio’ [‘meidao’- 媒道]; Dao como preocupação; Dao
como satisfação; Dao como ação propagadora; Dao como auto sacrifício.”

BIBLIOGRAFIA:

LIN, Z. 为国武呐喊!替国术开道! [Wei Guo Wu Na Han! Ti Kuo Shu Kai


Dao!]. Chinese Kuo Shu Quartely. p. 24-42. Taipei: Research Institute of Kuo Shu of
China Academy. n°1, vol. 1, jul. 1984. p. 40.

Sobre o coração e a capacidade humana, por Lin Zhong Yuan

“O coração humano parece ter ódio e tendência a encarar as coisas com raiva nos olhos,
o que é causado por não conseguir encontrar o que é correto. A natureza humana não
possui desejo que seja indominável; não há contenda que não seja uma derrota. O ‘não
eu’ é um ‘não inimigo’ [‘wu wo ze wu di’ - 無我則無敵]. O homem parece capaz de
conhecer a si mesmo e também de conhecer seu inimigo, de conhecer Céu e Terra e de
conhecer o fim, as palavras ações que seguramente levam ao que é correto.”

BIBLIOGRAFIA:
LIN, Z. 为国武呐喊!替国术开道! [Wei Guo Wu Na Han! Ti Kuo Shu Kai
Dao!]. Chinese Kuo Shu Quartely. p. 24-42. Taipei: Research Institute of Kuo Shu of
China Academy. n°1, vol. 1, jul. 1984. p. 40.

Pequeno Universo, Grande Universo e contradições humanas, por Lin


Zhong Yuan

“Todos ‘sentem-se envoltos em uma rede’, afetados como que por um barbante que os
envolvem, mas isso não é nada além de um ‘casulo feito por si mesmos’! (...) ‘A palavra
‘confusão’ [迷, mi] possui dez traços, a palavra ‘despertar’ [悟, wu] também possui dez
traços’; as pessoas estão sempre no meio do caminho entre a confusão e o despertar. A
vida ocorre como por uma ‘jornada’ ou ‘peça de teatro’, tecida em um arco-íris de um
sonho à noite! Chan [“Zen”] possui exatamente o sabor desse ‘despertar da confusão’.
Chan [“Zen”] permite uma visão completa do Grande Universo. O coração de todos é
afetado pelo Universo, parecendo isto uma ‘grande contradição existencial’. Cada
fenômeno entre o Céu e a Terra faz parte da vida de todos. Tudo em conflito mútuo,
sendo também cada indivíduo uma ‘pequena contradição’ em sua existência. É possível
que o que se chama ‘cultura natural da habilidade marcial [Wuyi, 武艺] – caminho
marcial [Wudao, 武道] natural da humanidade’ seja um jogo contraditório de ‘lança
controlando o escudo, escudo controlando lança’ [Mao ze dun, dun ze
mao, 矛则盾,盾则矛]?”

[OBS: Há um jogo de palavras nessa última expressão: a palavra traduzida aqui como
“contradição” é Maodun (矛盾), ou literalmente “lança-escudo”. Lin Zhong Yuan
utiliza-se do sentido filosófico do termo “contradição”, ao mesmo tempo em que
mantém uma imagem militar concreta entre lança e escudo em conflitos que se alternam
sem ser possível a identificação de quem conduz ou é conduzido, ou qual é o início ou o
fim do conflito.]

BIBLIOGRAFIA:

LIN, Z. 中武道與繩武門 [Zhong Wu Dao Yu Sheng Wu Men]. Zhong Li, 2006.


(manuscrito)

Escritos do Mestre Huang Yu Sheng

1. Princípios de Kung-Fu

1.1 Terminologia Básica

Arte – Segundo concepção histórica, é a “plasmação estética das idéias intangíveis no


mundo sensível”; é a capacidade que tem o homem de dominar a matéria, por em pratica uma
idéia.
Marcial – Palavra derivada de “Marte”.
Marte é um Deus da guerra no panteão romano, é irmão de Minerva, Deusa da Sabedoria.
“Marte” simboliza a guerra interior, é todo caminho guerreiro que leva o homem a reunificação
final de nível esotérico (interno) e exotérico (externo).
Arte Marcial – Arte mística que leva o homem em busca do reencontro com sigo mesmo,
uma unificação interna-externa, sobretudo, físico-mental; é a arte de luta interior que procura
uma verdadeira paz final, uma harmonia entre o mundo interior (espírito) e exterior (material)
que vive, uma real integração mental-fisica.
Kung-Fu – Literalmente significa “habilidade” ou “tempo de dedicação”. Foi
erroneamente definido no tempo passado quando imigrantes chineses chegaram à América do
Norte para construção ferroviária; nos conflitos ocasionais com habitantes locais, demonstrações
sempre sua “habilidade” surpreendente de luta. Devido dificuldade lingüística, houve tradução
direta de “habilidade desenvolvida por tempo de pratica” (kung-Fu) no lugar da palavra “Arte
Marcial”. Hoje, muitas vezes, é sinônimo de estilos tradicionais da Arte Marcial chinesa.
Wu Shu – É a tradução correta da palavra “Arte Marcial”. Atualmente ele representa um
conjunto de modalidades de arte marcial da China continental ao qual recebe adaptações
modernas e padronização com objetivo de melhor divulgar e facilitar a competição internacional.
Kuo Shu – Literalmente significa “Arte Nacional”, é o nome da arte marcial chinesa
definido pela organização da china democrática, Taiwan, ou Ilha de Formosa.

1.2 Etiqueta (forma de conduta) de um artista marcial.

Existe uma diferença cultural que influencia o modo de vida que domina no mundo
oriental e no ocidental. Os ocidentais, de uma maneira geral, são materialistas e individualistas,
dão importância para viver no momento presente. Enquanto os orientais acham que a vida
espiritual é igual ou superior a vida material, acreditam em vida futura e crêem que sua qualidade
depende do nível espiritual alcançado na vida presente. Essa divergência conceitual de vida é
induzida por suas próprias religiões. A arte marcial como um produto sócio-cultural, sua
diferença conceitual por ocidentais e orientais sofre também sua intensa influencia pelo modo de
vida que os homens adotam, de modo que o povo oriental valoriza mais o desenvolvimento físico
juntamente com o desenvolvimento mental e o aprimoramento espiritual, diferentemente dos
costumes ocidentais que desenvolvem a parte física separadamente da parte mental espiritual.
Do mesmo modo, semelhante às outras culturas antigas, a cultura milenar chinesa, está
internamente ligada a sua religião a qual estabeleceu a ligação do homem à família, a sociedade,
a natureza e ao universo.
Na filosofia Zuista Budista, o homem é a unidade intermediária entre o céu e a terra.
Sendo o céu uma representação da sociedade espiritual superior, deus, e a criação do universo. A
terra nesta religião representa a sociedade espiritual inferior, a natureza e a sociedade humana.
Dentro desse esquema apresentado, crêem que, cada unidade da natureza tem seu santo
governador, assim, de gerações para gerações, transmitem uma visão do mundo como divino
espiritual, expressando respeito ao outro ser na natureza, respeitando montanhas, nuvens, pedras,
arvores, lugares divinos; aqueles que os ocidentais consideram lugares comuns ou concretos
(materiais).
A arte marcial chinesa durante sua longa evolução também foi bastante influenciada por
religiões. Muitas escolas surgiram ou fortaleceram dentro de entidades religiosas (Os templos).
As escolas de linhagens Shao Lin, por exemplo, surgem no templo budista, enquanto escolas de
Tai Chi e Pa Kua surgem no templo Taoísta. Independentemente de sua ligação religiosa, para
essas escolas existe uma consideração comum que trata a arte marcial como um caminho de
aprimoramento mental – espiritual alem de fortalecimento físico. Os praticantes buscam
perfeição máxima em todo sentido com objetivo de obter a melhor interação com a natureza e o
universo. Assim, um mestre não é apenas um assessor técnico de arte paralelamente é um guia
espiritual, um iluminador do caminho para buscar a harmonia interior, de paz verdadeira.
Sendo por essa razão o lugar para o estudo “Dao” ou, “lugar para a busca de iluminação”,
o local onde o homem recebe conhecimento para aprimoramento físico-mental e espiritual,
absorve o termo de origem budista: Dao Tsan (Japonês; Dojo) o qual é considerado como
sagrado pro um santo protetor que flui energia positiva nele.
A crença do Santo protetor estabelece o respeito do homem ao espaço, porem numa
sociedade moderna, especialmente, do mundo ocidental, desconsiderando o aspecto religioso, o
respeito deve dirigir a tradição, ao conhecimento e ao espírito marcial (energia positiva) que a
arte marcial representa.
Considerar o Dao Tsan (Dojo) um local sagrado é respeitá-lo com humildade, sinceridade
e gratidão; essa deve ser a exigência espiritual básica de um praticante de Kung-Fu. Assim, ao
entrar no Dao Tsan devemos fazê-lo com o corpo e a mente mais limpa possível. Sentimentos de
hostis (rancorosos) e negativos do mundo exterior deverão ser deixados para traz. Uma boa
maneira de demonstrar isso é mantendo você e seu uniforme tão limpo e tão arrumado quanto
possível. Um uniforme sujo e rasgado ao mesmo tempo significa corrompimento (impureza) e
poluição, e também um insulto ao santo protetor e por extensão, ao mestre e a todo o Dao Tsan.
Ter respeito ao Dao Tsan é também manter ele mais limpo e organizado o quanto
possível. A limpeza é o símbolo de pureza, é manter energia positiva em circulação. Sujeira e
desorganização geram negatividade de energia e impede a iluminação do santo protetor.
Para os orientais, o cumprimento é um ato físico e espiritual. É através dele que
transmitimos os sentimentos de respeito e gratidão ao outro. Na arte marcial chinesa, a cerimônia
de cumprimento transmite ainda os princípios filosóficos da arte, portanto deve ser praticado
com calma, com clareza, com bastante sinceridade e humildade.
A arte marcial chinesa no tempo passado era transmitida de geração para geração, de pai
para filho. Esse sistema contribuiu para formação da hierarquia no Kung-Fu, um sistema familiar
onde o mestre é o líder da família, os alunos que seguem seu conhecimento assumem irmandade
em ordem cronológica de seu inicio de aprendizagem. O cumprimento deve sempre se dirigir de
irmão mais novo para os mais antigos, de aluno para mestre. Ao cumprimentar um mestre não é
só transmitir respeito à sua pessoa, mas, principalmente, à raiz de sabedoria e à tradição que
representa. Ao cumprimentar um irmão é o sentimento de irmandade que assume da alegria pela
amizade que encontra. Por isso, na escola de Kung-Fu não deve existir a humilhação ou o
conflito, mas sim o amor pelo irmão colega e a ajuda mutua em busca de crescimento comum.

2. Técnicas e estilos de Kung-Fu


2.1 Chin Na – A técnica de captura chinesa

A palavra Chin Na, pode ser traduzida como “capturar” (Chin) e “controlar” (Na).
Partindo desta definição entende-se que, o maior propósito do Chin na é interceptar uma ação
agressiva, capturando e torcendo ou pressionando pontos sensíveis no corpo do oponente,
neutralizando-o temporariamente ou definitivamente.
Existem técnicas avançadas de Chin Na que se aplicadas por um conhecedor, podem
causar desde paralisia ou inconsciência momentânea até a mutilação.
A localização de algumas cavidades ou pontos são mantidos em segredo pela maioria dos
estilos, por motivos óbvios.
São quatro as variações técnicas do Chin Na, sendo que a maioria dos estilos, podem ter
suas peculiaridades ou combinações destas técnicas, porém, como o mesmo resultado. As quatro
variações se apresentam de modo mais detalhado abaixo.

2.1.1 Fen Gin – Divisão dos músculos

É separado em três aplicações técnicas: torção, agarramento e presão. Os dois últimos são
classificados por si só como Chuan Jin “agarra o músculo”.
Nas técnicas de agarrar e pressionar, as aplicações partem de um mesmo principio, mas
primeiro é necessário que se entenda as funções do músculo, se a sua função é estender ou
retrair. Um bom exemplo é o “bíceps” e o “tríceps”; um músculo é responsável em retrair o
braço e o outro de estendê-lo.
Quando quaisquer destes músculos são agarrados e pressionados em zonas sensíveis, eles
são forçados a uma posição incomoda causando dor ou paralisia local, em virtude da agitação
dos nervos.
Esse tipo de técnica não exige uma precisão extrema em sua aplicação, porque busca
atacar uma área sensível geral.
Por essa razão, as características de agarrar e pressionar da divisão de músculos, são às
vezes consideradas como “pressão baixa”.
São sete zonas comuns para este tipo de aplicação.
Estes alvos não são cavidades, e sim, “zonas sensíveis”, que estão relacionadas aos
nervos que passam ao redor. Essas zonas são fáceis de serem machucadas ou paralisadas, que são
constituídas por: mãos, braços, ombros, pescoço, tórax, cintura e perna.

2.1.2 Tsuo Gu – Deslocamento de ossos

Consiste em colocar bastante tensão nas juntas a fim de deslocá-las, causando total
deslocamento.
Com o deslocamento, o artista marcial criou duas situações que pode levá-lo ao controle
total de seu oponente. Primeira: o artista marcial interronpe o ponto inicial do movimento do
corpo, pois se uma junta se desloca, a locomoção ou ataque por parte do mesmo estará
invariavelmente comprometida. Segunda: com a aplicação deste tipo de técnica, os ligamentos e
músculos que circundam esta junta serão seriamente avariados, causando muita dor.

2.1.3 Pei Chi Tuan Mai – Interrupção de respiração ou pulso

È necessário um profundo conhecimento do sistema nervoso e dos meridianos para obter


sucesso com essa técnica.
Usando a força adequada para romper os nervos causando uma contração muscular que
apertando os pulmões com tal força que a pessoa será rendida pela dor e pela falta de
oxigenação. As localizações dos músculos envolvidos no uso do Chin Na estão no plexo solar,
no ombro, na lateral do peito e na lateral da cintura.
Interromper o pulso, o praticante ataca e a veia jugular a artéria carótida, em ambos os
lados do pescoço, comprimindo-se. Isso interrompe a circulação de sangue ao cérebro, e em
poucos segundos a pessoa alvo perderá os sentidos. Um verdadeiro conhecedor desta técnica tem
que conhecer também técnicas de tuei-na (digito pressura), para reavivar seu oponente quando
necessário isso porque, as artérias quando atacadas permaneceriam fechadas por tempo suficiente
para causar a morte.

2.1.4 Tien Hsueh – Pressão nas cavidades

Baseia-se em ataques nas cavidades com socos, agarramentos, tapas, etc. Causam
paralisia local, dor aguda e até a morte.
Existem 108 cavidades popularmente usadas no Chin Na, 72 são usadas para causar
paralisia local ou inconsciência, enquanto 36 são fatais.
As cavidades que causam paralisia local estão localizadas nos meridianos que controlam
as áreas não vitais. As cavidades fatais se encontram nos meridianos conectados aos órgãos
internos. São meridianos absolutamente vitais para a circulação do Chi.
No caso do estilo da serpente que tem como característica a rapidez aliada a suavidade,
aplica-se o Chin Na envolvendo o oponente, de forma que , ele tenha a sua postura, equilíbrio e
movimentação comprometidas.

3. Chuan Chuen

3.1 Movimentos rápidos e ágeis.

Os movimentos de Chan Chuen exigem rapidez, agilidade e força (como “queda de


estrela”). Essa exigência não está somente nos movimentos grosseiros de braços (socos), mas
também nos movimentos delicados de extremidade (rotação e balanço de punho, forma da palma
e dos dedos) todos devem ser “limpos” e nítidos, sem movimentos residuais. Para preencher a tal
exigência é necessário em primeiro lugar relaxar o ombro e alinhar o cotovelo, deixando as
articulações livres durante o exercício para desenvolver a força gerada pela aceleração do
movimento.
Chuan Chuen exige harmonia de movimentos, na mudança continua de amplitude de
Chuen Tao existe distribuição lógica de “repouso” e “movimento” seguido o principio do “Yin”
e “Yan”. Repousa como uma “virgem” movimenta como um coelho solto, os movimentos
partidos de uma postura estática devem ser espontâneos e rápidos como uma flecha lançada. Os
movimentos rápidos e “limpos” de uma seqüência de Chuen Tao têm o objetivo de destacar a
estabilidade da postura em repouso; por essa razão a velocidade continuamente rápida desde o
inicio até o fim do Chuen Tao indica a falta de compreensão artística e baixa qualidade técnica
do atleta.

3.2 Olhar rápido e penetrante

“O olho é a janela da alma”, ele indica o estado espiritual do atleta. A visão do Chan
Chuen exige a rapidez do relâmpago e a força do olhar penetrante de uma águia. Os olhos não se
movimentam independentes, eles acompanham a rotação do pescoço que seque os movimentos
ágeis e rápidos dos braços. O olhar transmite ainda a intenção de ataque ou defesa. Por exemplo,
ao avançar para atacar a visão fica ao adversário imaginário tendo que transmitir um olhar de
tigre atacando sua caça. Ao girar o corpo para defender ou atacar o adversário, que está atrás, em
primeiro lugar, tem que virar o pescoço e dar uma rápida olhada transmitindo antecipadamente o
sentido do movimento. O olhar no repouso também é muito importante, quando se está em uma
postura de estática deve-se manter o olhar de vigilante olhando fixamente para frente ou no
sentido que se aguarda o ataque do adversário imaginário.

3.3 Corpo ágil

A exigência corporal de Chuan Chuen apontam o peito, as costa, a cintura, o abdômen e


nádega como cinco locais importantes. Geralmente, os movimentos para a postura de repouso,
exigem a jogada do peito para frente, coluna ereta e quadril encaixado (abdômen e nádega
contraídos, cóccix na postura vertical). Por outro lado, a mudança da postura durante o exercício
exige participação corporal completa trabalhando como uma unidade. O sincronismo muscular e
esquelético é o que dá definição no movimento durante o exercício.
A agilidade do movimento depende da flexibilidade da cintura. Chan Chuen exige que o
movimento da cintura seja como o rastro de uma cobra, flexível, ágil e paralelamente forte.

3.4 Passo forte

Os passos de Chan Chuen exigem leveza, rapidez e firmeza. Ao destacar um passo para o
outro é como se na planta do pé existi-se uma mola, fazendo com que o movimento fique leve e
rápido. Enquanto se define uma postura, é como colocar uma planta no chão, firme e estável,
evitando o levantamento do calcanhar. A firmeza da postura contribui na estabilidade necessária
para os movimentos do tronco e do braço.
Como conseguir “colar” o pé no chão?
O antigo Mestre da escola Shao Lin, ensina a seus discípulos que ao pisar no chão deve-
se tentar agarrar o chão com os dedos do pé.

3.5 Espírito cheio e saturado

A exigência espiritual do Chan Chuen está na sua “ira”. A “ira” significa o estado do
espírito guerreiro, como se realmente estive-se em um campo de batalha lutando contra inúmeros
adversários em troca da sobrevivência própria. A expressão espiritual de “coragem” e seu sentido
guerreiro demonstrando no Chuen Tao serve como critério para avaliar a compreensão da arte.
Essa “ira” não é expressa na face, mas sim dentro do Chuen Tao, através do movimento corporal,
de alteração de velocidade e de ritimo e da postura de repouso no momento preciso.

3.6 Chi – Afundando no Dan Tien

A respiração é o fator determinante na durabilidade dos movimentos seqüenciais e no


desenvolvimento da força explosiva, em outras palavras, é a alma de qualidade técnica e na
rapidez dos movimentos, a maior carga de exercícios proporcionais uma necessidade de maior
oxigenação biológica generalizada. Chi afundando em Dan Tien é um método de concentração
energética na parte baixa do abdômen e significa uma capacidade de dominar a respiração do
tipo abdominal com o objetivo de evitar que a energia vital “Chi” flutue no nível do tórax,
causando uma sensação de esvaziamento interior, perda do controle da respiração (taquipneia) e
a insuficiência de oxigênio biológica (tontura, náusea, palidez e sensação de fraqueza nas
extremidades), resultando na falta de resistência e de força na seqüência do movimento, alem de
impossibilitar que o equilíbrio seja mantido, e que a postura seja mantida. Existem varias formas
de manipulação energética no Chan Chuen as quais estão intimamente relacionadas com os tipos
de movimento ou as mudanças de postura, porém de uma maneira grosseira, ainda seguem o
principio de “Chi afundando no Dan Tien”. Essa exigência respiratória, porém, deve ser natural,
sem causar tensões desnecessárias.

3.7 Força Livre


Chan Chuen é uma modalidade de Wu Shu que exige bastante agilidade e rapidez. A
velocidade dos movimentos depende do sincronismo das três maiores articulações de cada
membro, os quais movem três segmentos acionais.

Segmentos m.m.s.s Articulação m.m.i.i Segmento


Braço Ombro Raiz Quadril Coxa
Antebraço Cotovelo Intermediário Joelho Perna
Mão Extremidade Extremidade Tornozelo pé

Todos os movimentos iniciados pela raiz de cada membro têm que atravessar obstáculos
de articulação intermediaria até atingir sua extremidade, esse mecanismo quando é executado
com maior natureza e maior liberdade resultará em uma maior velocidade de ações, e
consequentemente, maior força explosiva, isso muitas vezes é comparado com movimentos da
lança ou do chicote. Chan Chuen exige o que é chamado de “força livre”, para que possa atingir
sua máxima potencia de ação.
A força máxima produzida em um soco exige participação de todos os segmentos
acionais, assim do para a mão, o importante é trabalhar com unidade de ação. Os movimentos
quadrados, duros e sem vitalidade não estão relacionados com a intensidade da força aplicada,
mas sim com o grau de liberdade articulada durante o exercício.

3.8 Treinamento puro

O treinamento de Chan Chuen se divide em dois sentidos:


a) Condicionamento físico: esse treinamento inclui exercícios de força, velocidade,
resistência, agilidade e Chi Kon
b) Condicionamento técnico: inclue todas as técnicas executadas para ataque e para
defesa, nem sempre de mão vazia e também pode ser aplicada com armas tradicionais usadas na
arte.
O grau de “pureza” do treinamento em Chan Chuen indica o estado de perfeição física e
mental que o praticante possui. O termo “pureza” se traduz por uma exigência máxima de
qualidade, para atingi-lo é necessário, um treinamento forçado seguindo sempre um padrão
técnico, o qual depende não só de técnicas diferente, mas também do nível de compreensão do
artista marcial sobre a arte praticada.
“Kung-Fu é um teste de paciência e perseverança”.
A paciência e a perseverança são imprescindíveis para o espírito de quem busca a
perfeição máxima da arte, essas são forças interiores que o atleta deve possuir para vencer seu
limite técnico e físico.

3.9 Técnicas precisas

De uma forma grosseira, Chan Chuen é estruturado por quatro grupos técnicos principais:
soco, chute, shuai chiao (derrubar) e chin na (controle com chave). Cada um deles tem seu
conteúdo técnico com exigências próprias. Por exemplo, os chutes de Chan Chuen, de acordo
com as características de cada movimento, são divididos em três subgrupos:
 Tipo flexo-extensão: Ten, Tsuai, Tan, Dien.
 Tipo balanceado: Pai, Kua.
 Tipo rotatório
Observa-se:
“Ten” - chuta-se com a ponta do pé para cima, com a planta voltada para frente e a força
concentrada no calcâneo.
“Tsuai” – chuta-se com a ponta do pé para cima, com a planta voltada para frente e a
força concentrada no centro da planta do pé.
“Pai” – chuta-se com o membro inferior estendido com uma trajetória circular
horizontalmente.
“Kua” – chuta-se com o membro inferior estendido com uma trajetória circular
verticalmente.

3.10 Geral
Os Mestres antigos geralmente comparavam as exigências técnicas de Chan Chuen com
acontecimentos ou objetos da natureza a fim de transmitir uma melhor compreensão da arte. As
exigências mais comuns estão dispostas em doze itens.
1- Move como uma onda marítima.
2- Repousa como uma montanha.
3- Salta com a agilidade do macaco.
4- Pousa com a leveza de um pássaro.
5- Equilibra-se em um único pé como um galo.
6- Fica em pé como um pinheiro
7- Gira como uma roda.
8- Flexível como um arco.
9- Leve como uma folha flutuante.
10- Pesado como a queda de um ferro.
11- Lenta como o vôo da águia.
12- Rápida como o vento.

Entrevista com Mr. Huang Yu Sheng – Autor desconhecido – Junho de 2006

O aluno e o Mestre

Entro em seu consultório. Vê-se com nitidez na decoração a saudade e o respeito pela
terra natal distante: estatuetas de deuses chineses; quadros que mostram a beleza natural dessa
terra; dragões de porcelana e, nas paredes belos ideogramas da China. Vou conversar com o Dr.
Huang Yu Sheng, chinês e mestre de kung fu, que veio morar no Brasil quanto tinha dezoito
anos de idade.
Sua figura serena sempre desperta a curiosidade de seus alunos na academia de kung fu
de que é dono em Uberlândia. Eu não fui exceção. O ambiente oriental de seu consultório
deixou-me mais a vontade, era como se eu tivesse em sua academia, onde treino esta arte
marcial. Entretanto, ao lembrar que eu ia falar com um mestre que pratica kung fu a mais de 35
anos um frio passou pela minha barriga e me senti um discípulo imaturo pronto a entrevistar o
maior dos mestres, uma figura mítica – como acontece nos filmes de arte marcial chinesa, onde o
respeito e a admiração dos alunos pelo mestre ficam claramente expostos.
Terminada a consulta com seu último paciente, pediu-me para entrar em sua sala. Era por
volta das sete e meia da noite. Com gestos breves e sorrisos discretos, sentou-se e pediu para eu
fazer o mesmo, a fim de iniciarmos nossa conversa.
Nascido na China de Formosa, Taiwan, como ele próprio diz, recebeu uma educação
familiar que só lhe mostrou os lados bons da vida. Certa vez, quando tinha oito anos de idade,
um colega de escola foi punido severamente por tirar notas baixas. Todos riram, inclusive o
pequeno Sheng. Esse ato não agradou o colega, que pediu a ele para conversarem no final da
aula. Foi então que a vida mostrou seus lados mais duros ao pequeno chinês: o colega o agrediu
fisicamente, pois este era muito mais forte, e Sheng teve sua primeira grande decepção. Daquele
dia em diante, decidiu que iria se fortalecer para que aquilo nunca mais acontecesse. Nascia um
campeão.
Depois de muito procurar, foi aceito como discípulo por um mestre de kung fu, irmão de
uma aluna de artes plásticas de sua mãe. Além de mestre ele era médico de medicina chinessa e
acupuntura, o que inspirou posteriormente a carreira de Sheng. No primeiro encontro recebeu os
quatro princípios da vida que o guiam até os dias de hoje: lealdade, fidelidade, aperfeiçoamento
máximo de si e retidão. Sem o apoio dos pais, juntava dinheiro durante dois meses para poder
treinar um, pois não tinha condições financeira de pagar todos os meses.
Seu semblante adquiriu um tom profundo quando relembrou um acidente que mudou
completamente seu padrão de vida, que era excelente. Estaca com onze anos de idade. De uma
hora para outra perderam tudo quando sua casa foi incendiada junto com todas as economias da
família. Foram acolhidos por um amigo de seu pai e com muito trabalho se reergueram.
Levantaram-se como a ave fênix se ergue das cinzas nas quais haviam caído.
O Dr. Huang Yu Sheng falava sem rédeas na língua, os acontecimentos passados que
descrevia pareciam ainda vivos em sua memória.
Os anos passavam e o jovem Sheng se amadurecia como artista marcial. Depois de mudar
de cidade algumas vezes e ter outros mestres, entre eles um monge shaolin e um general da
China, treinou muitos anos e conseguiu elevar uma academia modesta onde treinava campeões.
Venceram diversos campeonatos consecutivos durante anos. Sempre a praticar cada vez mais,
Sheng sentia que o segundo lugar era um monstro que o perseguia e de quem corria com todas as
forças, e isso era um estímulo para buscar a auto-superação e a vitória.
Quando chegou ao Brasil, com dezoito anos e terminado o segundo grau, perdeu sua mãe
em um atropelamento. Foi um choque muito grande, e além de tudo precisava encarar os
vestibulares. Não sabia nada de português. Entretanto, como o kung fu lhe havia ensinado e
dado como princípio a auto-superação constante, superou a morte da mãe e estudou durante
quase seis anos para finalmente passar no vestibular para o curso de medicina, para
posteriormente direcionar-se à ortopedia. Hoje ele é um profissional respeitado em sua área de
atuação, é palestrante, desenvolveu liderança e estratégia empresarial, e tudo, segundo ele,
seguindo a sua maior inspiração: o kung fu. Diz que podia ter encontrado mil desculpas para não
alcançar as metas que objetivou aqui no Brasil, mas como os seres humanos são iguais em todos
os lugares ele poderia se superar e conseguir o que queria.
Hoje ele luta para preencher um vazio que sente em relação ao kung fu no Brasil.
Confessa que o maior valor desta arte marcial é a formação humana, contudo que isso no Brasil
não é muito valorizado, pois os brasileiros têm uma tendência natural de não seguir regras. Ele se
entristece quando vê alunos que não valorizam o que fazem e que vão à sua academia apenas
para fazer alguma atividade qualquer sem interesse. Porém não perde a esperança de que esse
local seja, além de uma academia de kung fu, um ponto de encontro para pessoas boas em busca
de crescimento pessoal e conhecimento humano.
Terminamos nosso bate-papo e ele me cumprimentou claramente. Sentia-me um
discípulo inspirado. Dirigi-me à porta e o cumprimentei outra vez. Existem ideais e exemplos a
serem seguidos na vida que nos levam ao cominho do bem. Huang Yu Sheng preza por eles.

DICIONÁRIO DE KUNG-FU

Números Básicos: de 1 a 10
Caracter
Pinyin
chinês
1 一 yī

2 二 èr

3 三 sān

4 四 sì

5 五 wǔ

6 六 liù

7 七 qī

8 八 bā

9 九 jiǔ

10 十 shí

Expressões básicas em mandarim

你好
Nǐ hǎo
Olá

早安
Zǎo ān
Bom dia

你好吗

Nǐ hǎo ma
Tudo bem?

谢谢

Xièxiè
Obrigado
BASES:
MA-BU

KON-BU

PU-BU
TIEN-BU

SHI-BU
DU-LI-BU

“O esforço é penoso, mas é também precioso, mais


precioso do que a obra que resulta dele, porque graças a
ele, tiramos de nós mais do que tínhamos, elevando-nos
acima de nós mesmos”
- Henri Bergson-
QUADRO DE TREINAMENTO FÍSICO (original da wu shu kuan)
Estágio 1° 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º
Flexões
Normal 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Aberta 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fechada 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Punho 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Mergulho 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Dedo 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Peixe 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Verticcal 2 4 6 8 10 12 14
Bases
Ma-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30” 4’ 4’30” 5’
Kon-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30” 4’ 4’30” 5’
Pu-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30” 4’ 4’30” 5’
Tien-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30” 4’ 4’30”
Shi-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30” 4’ 4’30”
Du-Li-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30” 4’ 4’30”
Xie-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30” 4’
Tzo-Pan-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30” 4’
Chi-Sin-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30” 4’
Zu-Ran-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30”
Kuei-Bu 30” 1’ 1’30” 2’ 2’30” 3’ 3’30”
Deslocamento
Ma-Bu/Kon-Bu 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Kon-Bu/Pu-Bu 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Pu-Bu/Tien-Bu 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Abdominais
Normal 30 35 40 45 50 60 70 80 90 100
Vertical 30 35 40 45 50 60 70 80 90 100
Horizontal 30 35 40 45 50 60 70 80 90 100
Bicicleta 30 35 40 45 50 60 70 80 90 100

“O verdadeiro guerreiro é aquele que vence por si próprio”


QUADRO DE TREINAMENTO FÍSICO

Faixa/Estágio 1° 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11° 12° 13°


Flexões
Normal 10 15 15 20 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Aberta 10 15 15 20 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Fechada 5 5 5 10 10 10 15 15 20 20 25 25 30
Punho 1 2 2 3 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Mergulho 10 15 15 20 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Dedo 5 5 10 10 10 15 15 20 20 25 25 30
Peixe 5 5 10 10 10 15 15 20 20 25 25 30
Verticcal 1 2 3 4 5 6 7 8
Bases
Ma-Bu 1’ 1’ 1’ 1’ 1’ 1’30” 1’30” 2’ 2’ 2’30” 2’30” 3’ 3’
Kon-Bu 1’ 1’ 1’ 1’ 1’ 1’30” 1’30” 2’ 2’ 2’30” 2’30” 3’ 3’
Pu-Bu 1’ 1’ 1’ 1’ 1’ 1’30” 1’30” 2’ 2’ 2’30” 2’30” 3’ 3’
Tien-Bu 30” 30” 30” 30” 1’ 1’ 1’30” 1’30” 2’ 2’ 2’30” 2’30”
Shi-Bu 30” 30” 30” 30” 1’ 1’ 1’30” 1’30” 2’ 2’ 2’30” 2’30”
Du-Li-Bu 30” 30” 30” 30” 1’ 1’ 1’30” 1’30” 2’ 2’ 2’30” 2’30”
Xie-Bu 30” 30” 30” 1’ 1’ 1’30” 1’30” 2’ 2’ 2’30”
Deslocamento
Ma-Bu/Kon-Bu 5 5 10 10 15 15 20 20 25 25 30 35 40
Kon-Bu/Pu-Bu 5 5 10 10 15 15 20 20 25 25 30 35 40
Pu-Bu/Tien-Bu 5 5 10 10 15 15 20 20 25 25 30 35 40
Abdominais
Normal 30 30 35 35 40 40 45 45 50 50 60 70 80
Vertical 30 30 35 35 40 40 45 45 50 50 60 70 80
Horizontal 30 30 35 35 40 40 45 45 50 50 60 70 80
Bicicleta 30 30 35 35 40 40 45 45 50 50 60 70 80
“O verdadeiro guerreiro é aquele que vence por si próprio” – Ms. Sheng
“O esforço é penoso, mas é também precioso, mais precioso do que a obra que resulta
dele, porque graças a ele, tiramos de nós mais do que tínhamos, elevando-nos acima de
nós mesmos” - Henri Bergson

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