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UNIVERSIDADE FEDERAL DE
PERNAMBUCO – UFPE, na pessoa de seu
magnífico reitor, indicando como endereço para
citações e intimações da ré a Av. Prof. Moraes Rego,
1235 - Cidade Universitária, Recife - PE - CEP: 50670-
901 e
UNIÃO FEDERAL, q u e d e v e r á s e r c i t a d a n a f o r m a
do artigo 35, inciso IV, da Lei Complementar n.º
73/93, com endereço na Rua do Riachuelo n.º 105, sala
1, Boa Vista, Recife/PE, pelos motivos que passa a
expor.
I. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
É preciso ir além.
2
MELO, Mônica de Melo. A proteção constitucional da pessoa portadora de deficiência, in Revista de
Direitos Difusos, ano I, vol 4, 2000, p. 479.
2
E para que as pessoas com deficiência possam
exercer o direito à educação em sua plenitude é indispensável
que as instituições de ensino (escolas, cursos técnicos e
profissionalizantes, Universidades, etc.), sobretudo as
patrocinadas pelo Poder Público, se adaptem às diversas
situações, devendo-se implementar, na prática, as previsões
contidas nos diplomas mencionados, tais como as determinações
contidas no art. 2º, parágrafo único, I, da Lei 7.853/89, e no
art. 59, III, da Lei 9.394/96.
Impõe-se, dessa forma, empreender-se
medidas visando adequar métodos e estratégias de ensino, num
binômio direito à educação-inclusão, direcionadas àqueles
que, seja por deficiência física ou mental, necessitam de uma
aprendizagem diferenciada, objetivando, sobretudo, o
desenvolvimento de suas reais potencialidades voltadas a uma
digna e plena convivência em sociedade.
Nesse sentido, não se espera mais que pessoas
com deficiência procurem se integrar à sociedade, mas que
todos os ambientes, sobretudo o educacional, estejam
devidamente preparados para receber quaisquer cidadãos, que
possuam ou não algum tipo de deficiência.
Contudo, o Colégio de Aplicação da UFPE
insiste em permanecer na contramão da história. É o que
sobressai dos autos no Inquérito Civil nº 1.26.000.002262/2006-
41, instaurado no âmbito da Procuradoria da República neste
Estado, o qual deu origem a presente ação, em que se vislumbra
que a ré deixou de implantar o sistema de educação especial.
Assim, diante da inércia da ré em buscar
efetivamente implantar o sistema de educação especial –
previsto, ressalte-se, desde o ano de 1989 na legislação pátria –
têm-se caracterizadas irreparáveis lesões ao direito
fundamental à educação das pessoas com deficiência.
A presente ação, portanto, tem por escopo
último, exatamente, o de compelir o Poder Público a
implementar a política de inclusão destas pessoas no sistema
3
público de ensino, com a oferta de atendimento educacional
especializado aos educandos com deficiência.
II - DAS PROVAS
3
autos no anexo
4
i n s t r u m e n t o s a v a li a t i v o s d if e r e n c ia d o s e m r e l a ç ã o a o s a p l i c a d o s c o m o s
o u t r o s a l u n o s ; q u e n o c o n s e l h o d e c la s s e p r o m o c i o n a l f o i in d i c a d o p a r a
r e t e n ç ã o e m m a t e m á t ic a , r a t i f i c a d a p e l a p r o f e s s o r a d e e d u c a ç ã o f ís i c a ,
devido a não alcançar a técnica de xadrez e damas, e pela professora de
a r t e s , e m t é c n ic a d e m o i s a c o e e n c a ú s t i c a , r e s s a l t a n d o - s e q u e a p r o f e s s o r a
d e e d u c a ç ã o f í s ic a , d u r a n t e o a n o l e t i v o , e x p r e s s o u , e m d i v e r s a s o c a s i õ e s ,
a t o s d e a n i m o s id a d e e m r e l a ç ã o a o a lu n o , e q u e o c o l é g i o s e c o m p r o m e t e u a
r e a l i z a r u m a e s p é c ie d e t e r m o d e a j u s t a m e n t o d e c o n d u t a c o m a p r o f e s s o r a
e m d e c o r r ê n c i a d o s a t o s p o r e l a p r a t i c a d o s ; q u e , e m 1 8 d e m a io , f o i
r e q u e r i d o a o c o l é g i o u m c o n s e l h o d e c l a s s e e x t r a o r d i n á r i o , h a v e n d o s id o
r e a l i z a d o a p e n a s e m 1 2 d e j u n h o , e t e n d o p u b li c a d o s e u r e s u l t a d o e m 1 4 d e
j u n h o , n ã o h a ve n d o m o d if ic a ç ã o q u a n t o a o r e s u l t a d o d e r e t e n ç ã o ; q u e n e s s e
n o v o c o n s e lh o d e c l a s s e c o n vo c a d o s u r g i r a m n o v o s f a t o s q u e e m b a s a r a m a
r e p r o v a ç ã o d o a lu n o , f a t o s e s s e s q u e n ã o c o n s t a v a m n o s p a r e c e r e s f in a i s d e
h i s t ó r ia e de português; que, no parecer do conselho de classe
e x t r a o r d i n á r i o , f o i m e n c i o n a d o q u e o a l u n o P a u lo S c h o r h a v ia s i d o a p r o v a d o
no ano l e t iv o anterior com r e s t r iç õ e s , embora as ú n ic a s r e s t r iç õ e s
constantes nos pareceres do mencionado conselho se fundamentem no
c o m p o r t a m e n t o d o a l u n o ; q u e , e m r e la ç ã o à f r e q u ê n c i a e a t r a s o s d o a l u n o , o
s e r v iç o d e o r i e n t a ç ã o e d u c a c io n a l d o c o l é g i o t i n h a c o n h e c i m e n t o d e q u e o s
m e s m o s e r a m o c a s io n a i s e m r a z ã o d a m u d a n ç a d e m e d i c a ç ã o e d o s a j u s t e s
d a s d o s a g e n s ; q u e o a lu n o , d e s d e o c o m e ç o d o a n o l e t i v o d e 2 0 0 6 , n ã o
comparece às aulas em razão de haver sido injustiçado, sentimento que
d e s e n c a d e o u u m a d e p r e s s ã o n o a lu n o ; q u e , n o d i a 1 6 d e j u n h o d e 2 0 0 6 ,
p r o t o c o l o u u m r e q u e r i m e n t o j u n t o a o d ir e t o r d o c e n t r o d e e d u c a ç ã o d a
U F P E , p e d i n d o a r e a n á l i s e d o r e s u lt a d o d e r e t e n ç ã o d e P a u l o S c h o r , c ó p i a
d a s a t a s d o s c o n s e l h o s d e c la s s e , a p u r a ç ã o d a s f a l h a s a d m i n i s t r a t i va s d o
c o l é g i o e m r e l a ç ã o a o a c o m p a n h a m e n t o e s p e c ia l d o a l u n o , n ã o h a ve n d o
obtido resposta do diretor até a presente data”.
5
Temos então que adolescente portador de DDA-H
foi reprovado em ano letivo no Colégio de Aplicação, não em
face de sua inaptidão para progredir academicamente, mas sim
em face da omissão da escola consistente em não proporcionar
meios adequados de avaliação do aluno.
“ . . . in f o r m a d o s d e q u e o a lu n o P a u l o e n t r o u p a r a o C o l é g i o d e A p l i c a ç ã o d a
Universidade Federal de Pernambuco, por meio de concurso p ú b li c o ,
obtendo a classificação de 13° lugar no concurso de admissão para a 5ª
s é r ie d o E n s i n o F u n d a m e n t a l p a r a o a n o d e 2 0 0 4 n a r e f e r i d a i n s t i t u i ç ã o
f e d e r a l d e e n s in o .
U m a v e z t e n d o P a u l o i n g r e s s a d o n o C o l é g io d e A p l i c a ç ã o
da UF P E , seus genitores compareceram ao S e r v iç o de Orientação
E d u c a c i o n a l d a q u e la i n s t i t u i ç ã o , t e n d o s i d o a t e n d i d o s p e l a p s i c ó lo g a , S r a .
E l in e N a s c i m e n t o e p e la o r i e n t a d o r a e d u c a c i o n a l, S r a . E d i t e Li m a , q u a n d o
i n f o r m a r a m q u e o a l u n o P a u lo é p o r t a d o r d e T D A H — T r a n s t o r n o d e D é f i c i t
d e A t e n ç ã o e H i p e r a t iv i d a d e . T a m b é m i n f o r m a r a m q u e o a lu n o t e m s id o
acompanhado por renomados p r o f i s s io n a i s de saúde por conta dessa
d e f i c iê n c i a .
I V - D E N OS S A S U S T E N T A Ç Ã O P E L A P R O G R E S S Ã O D O A L U N O P A U L O
M E L C OP D E C A S T R O S H O R P A R A A 7 ª S É R I E D O E NS I NO F UN D A M E N T A L
II
Como se sabe, o Transtorno de Déficit de Atenção
Hiperatividade, também conhecido pela sigla (TDAH) é definido pela
m e d i c in a c o m o s e n d o u m a d e s o r d e m d o d é f i c i t d e a t e n ç ã o q u e p o d e a f e t a r
c r ia n ç a s , a d o l e s c e n t e s e a t é m e s m o a d u l t o s , o s q u a is p o d e m a p r e s e n t a r
“dificuldades em prestar atenção, em concentrar-se, em ficar parado etc.
Isto é, as pessoas com TDAH podem se apresentar muito d is t r a í d a s
( d e s a t e n t a s ) , a g i t a d a s , p o r v e z e s , a t i v a s , h i p e r a t i v a s e i m p u l s i va s . U m a
p e s s o a c o m T D A H , p o d e t e r d i f ic u ld a d e e m p r e s t a r a t e n ç ã o à s in f o r m a ç õ e s
q u e s ã o d i t a s ; d i f i c u l d a d e e m s e g u i r r e g r a s o u i n s t r u ç õ e s , n ã o t e r m in a r o
que começou; pode ser “desorganizada”; pode e v i t a r a t i vi d a d e q u e e x i g e
esforço mental continuado; perder coisas importantes; d i s t r a ir - s e
f a c il m e n t e com coisa sem importância para o momento; esquecer
c o m p r o m i s s o s e t a r e f a s ; a p r e s e n t a r m a io r d i f i c u l d a d e d e r e la c i o n a m e n t o
etc.
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S a b e n d o d i s s o , d e ve r ia , a p s i c ó lo g a d a I n s t i t u i ç ã o , f a z e r
u m t r a b a l h o j u n t o a o c o r p o d o c e n t e , e x p li c a n d o s o b r e o T D A H e d a n d o
orientações aos professores do aluno Paulo Melcop a respeito de como o
T D A H p o d e s e m a n if e s t a r / i n f l u e n c i a r a p e s s o a q u e t e m e s s e “ t r a n s t o r n o ” , a
f im d e q u e o s p r o f e s s o r e s d o j o v e m P a u lo p u d e s s e m m e lh o r c o n d u z ir o
processo de aprendizado do aluno em sala de aula. Esta, ao não tendo feito
o seu dever, acabou por negligenciar o ensino do aluno.
O r e s u lt a d o d e s s a falta d e o r ie n t a ç ã o / c a p a c i t a ç ã o dos
professores para li d a r com a d i ve r s i d a d e humana e suas variações
comportamentais/atitudinais e com características decorrentes de
d e f i c iê n c i a n ã o p o d e r i a t e r d a d o e m p i o r e s c a m in h o s . O p r e j u í z o , p o r t a n t o ,
f ic o u patente e colocou o jovem aluno em situação de humilhação,
c o n s t r a n g i m e n t o , p r e s s ã o p s ic o l ó g i c a , f r u s t r a ç ã o e , o b v ia m e n t e , d e p e r d a
a c a d ê m i c a , j á q u e o a l u n o f o i im p e d i d o d e p r o s s e g u i r e m s e u s e s t u d o s n a 7 ª
s é r ie d o c u r s o , ju n t o c o m s e u s c o le g a s d o a n o l e t iv o a n t e r i o r , a 6 ª s é r i e .
E p o r q u e o a lu n o f o i l e v a d o à t ã o g r a n d e d e g r a d a ç ã o ?
S i m p le s m e n t e , porque é portador de TDAH e seus
professores não receberam formação para ensinar a todos, mas a alguns
a l u n o s q u e c h a m a m d e “ n o r m a is ” e q u e o s p r o f e s s o r e s p e n s a m e t r a t a m
c o m o a lu n o s h o m o g ê n e o s .
Ora, como é sabido, TDAH interfere diretamente no
c o m p o r t a m e n t o d o in d i v íd u o , c o l o c a n d o e s t e , m u i t a s v e z e s , e m d e s t a q u e
p e r a n t e o s d e m a is . É s a b i d o q u e o s a l u n o s , c o m o q u a lq u e r o u t r a p e s s o a ,
não são iguais entre si, que a homogeneidade de uma classe de aula é
falácia, na qual só acreditam os menos avisados e os professores mal
q u a li f i c a d o s para o ensino que respeite as diferenças, a d iv e r s id a d e
humana, a heterogeneidade dos alunos. Portanto, o aluno Paulo não deixa
de ser normal pelo fato de ter TDAH, mas é diferente de cada um de seus
c o l e g a s , p o r q u e c a d a u m d e s e u s c o le g a s é d i f e r e n t e d e l e , vi s t o q u e t o d o s
são pessoas humanas. Entretanto, Paulo tem TDAH e, portanto, merece
tratamento, consoante sua necessidade educacional específica, o que inclui
ser a v a l ia d o desigualmente, de modo a ser igualado em condições,
oportunidades e qualidade de ensino.
Entretanto, o comportamento apresentado pelo aluno
P a u lo , d i f e r in d o d o c o m p o r t a m e n t o e s p e r a d o p o r a q u e l e s q u e a c r e d i t a m
n u m a h o m o g e n e id a d e d o s a l u n o s , n ã o p o d e , d e m a n e i r a a l g u m a , b a li z a r
n e n h u m t i p o d e d i f e r e n c i a ç ã o q u e o e x c lu a o u l h e r e s t r i n j a o d i r e i t o de
educar-se na escola e na série que deve estar, 7ª série.
...............................
R e t e r o a lu n o P a u l o n a s é r i e e s c o l a r q u e j á c u r s o u é ,
p o r t a n t o , n o m í n i m o , a t o e x p l íc it o d e d i s c r im i n a ç ã o q u e o e x c lu i d o c o n ví v i o
e m s a l a d e a u l a c o m o s d e m a is a l u n o s d e 7 ª s é r i e , vi s t o q u e lh e f a z c e s s a r o
7
direito à progressão e s c o la r , bem como r e s t r in g e - lh e o d ir e it o
c o n s t i t u c io n a l d e p r o g r e d i r p a r a s é r i e s p o s t e r i o r e s , d e m o d o a a lc a n ç a r , n o
f u t u r o , o s n ív e i s m a i s e le v a d o s d o e n s i n o s u p e r i o r e d a s c iê n c i a s .
N ã o t e n d o , c o n t u d o , e n s i n a d o a t u r m a t o d a , d e ix a n d o o
a l u n o P a u lo d e f o r a , o C o lé g i o d e A p l ic a ç ã o o d if e r e n c io u , e x c l u i u - o , t e n d o o
f e i t o p o r d i s c r i m i n a ç ã o , b a s e a d a e m s u a d e f ic i ê n c i a . O c o lé g i o p o u s o u c o m o
e x c lu d e n t e e n ã o c o m o e s c o l a i n c l u s i v a .
Q u a lq u e r a lu n o d e e d u c a ç ã o i n c l u s i v a , n a g r a d u a ç ã o d e
p e d a g o g ia , h o j e , s a b e q u e u m a e s c o l a i n c l u s i v a é f l e x í ve l e m s e u c u r r íc u l o ,
n a m e t o d o l o g ia d e e n s in o q u e u s a e , p r i n c i p a l m e n t e , n o m o d e l o d e a va l i a ç ã o
d e q u e f a z u s o o p r o f e s s o r q u e p r e t e n d e a a p r e n d i z a g e m d o a lu n o e n ã o
apenas, sua “prova de que sabe e se comporta como esperado”.
Pelo ocorrido com o jovem aluno Paulo, sua reprovação,
percebe-se que o Colégio em tela não é inclusivo, que seu currículo e
s i s t e m a d e a v a l ia ç ã o n ã o s ã o f l e x í v e i s , n ã o r e s p e it a m a s in t e li g ê n c i a s
m ú lt ip l a s , é a r c a i c o e p r o p i c i a a e x c l u s ã o b a s e a d a e m d e f i c i ê n c ia .
..................................
8
e n x a d r is t a , i s s o n ã o s e r vi r i a p a r a r e s t r i n g ir o j o v e m a l u n o d e p r o g r e d i r
a c a d e m i c a m e n t e p a r a a s é r i e p o s t e r io r , o u d e f a z e r - l h e c e s s a r o d i r e i t o à
e d u c a ç ã o , o q u e o c o r r e u , a in d a q u e e s s e n ã o t e n h a s i d o p r e v i s t o p e la
professora.
............................
P a s m e - s e , c o n t u d o , e m 2 0 0 6 , é e s s a p o s t u r a d e e l im i n a ç ã o
d o a l u n o q u e t o m a o C o l é g i o d e A p l ic a ç ã o . A o r e p r o v a r o a l u n o c o m T D A H , o
C o n s e lh o de Cl a s s e confirma tal ato d is c r i m i n a t ó r i o , mesmo que
i n d iv i d u a l m e n t e m u i t o s d o s p r o f e s s o r e s t e n h a m a p r o v a d o o a lu n o e m s u a s
r e s p e c t i v a s m a t é r i a s , e a o s e v e r i f i c a r q u e d e p o is d e m a is d e m ê s d e a u l a s ,
t a n t o o C o o r d e n a d o r d o C o l é g io , q u a n t o o D i r e t o r d a r e f e r i d a e s c o l a n ã o
t e r e m p r o m o vi d o a s o l u ç ã o d o c o n f l it o q u e i m p e d e o a lu n o d e e x e r c e r s e u
d i r e i t o à e d u c a ç ã o , c o m q u a l id a d e , c o m i g u a l d a d e d e o p o r t u n i d a d e , c o m
dignidade e r e s p e it o às suas necessidades especiais de pessoa com
d e f i c iê n c i a ( p e s s o a c o m T D A H ) .
..................................
L o g o , o i m p e d i m e n t o d e q u e e s t á s e n d o ví t i m a o a l u n o
P a u lo , a l é m d e c o n s t i t u i r d i s c r im i n a ç ã o b a s e a d a e m s u a d e f i c i ê n c ia ( s e u
c o m p o r t a m e n t o é t i d o p e lo s p r o f e s s o r e s c o m o m o t i v o d e r e t ê - l o n a 6 ª s é r i e )
vem minando sua auto-estima e seu auto-controle, acarretando a adoção,
p a r a d e f e s a d e s u a i n t e g r i d a d e , d e u m a p o s t u r a a p á t ic a e i n d i f e r e n t e p a r a
com a escola, claramente estampada na sua recusa a voltar para os bancos
e s c o l a r e s , c a s o n ã o s e j a p a r a a 7 ª s é r i e , o n d e e s t ã o s e u s c o le g a s e o n d e e l e
deveria estar.
O r a , n e n h u m d a n o s o f r e r á a e s c o l a , c a s o ve n h a a u t o r i z a r
o a lu n o a f r e q ü e n t a r a 7 ª s é r ie d e s e u c u r s o , j u n t o d e s e u s c o l e g a s d o a n o
l e t i v o a n t e r i o r , e n q u a n t o a e s c o la b u s c a s e a d e q u a r p a r a r e s p o n d e r à s
n e c e s s id a d e s p e d a g ó g ic a s d o a l u n o , p o r e x e m p lo , o f e r e c e n d o a o s s e u s
p r o f e s s o r e s , c u r s o d e c a p a c it a ç ã o e m e d u c a ç ã o in c lu s iv a , e d u c a ç ã o q u e
p r o m o va o r e s p e it o à d i v e r s i d a d e h u m a n a d e n t r o d a s a l a d e a u l a e n a e s c o l a
como um todo.
N e n h u m d a n o s o f r e r á a e s c o la , p e l o c o n t r á r i o , t e r á a
o p o r t u n i d a d e d e r e v e r s u a s e s t r a t é g i a s e d u c a c i o n a i s e d e a v a l ia ç ã o q u e ,
c o m o f i c a p a t e n t e n o c a s o e m t e la , e x c lu i p o r c o n t a d e d e f ic i ê n c i a , d e u m a
d i s c r i m i n a ç ã o b a s e a d a e m d e f i c i ê n c ia , o T D A H .
M a s , p o r q u e a e s c o l a n ã o r e v ê s u a p o s i ç ã o , e vi t a n d o c o m
que o aluno continue a perder aula e ficar sem os conteúdos da sétima
s é r ie , o n d e d e v e e s t a r ? S o f r e r á a e s c o l a s e r e c o n h e c e r o d ir e it o d o a l u n o à
u m a e d u c a ç ã o in c l u s iv a , o u s o f r e r á o a l u n o c o m u m a p o s iç ã o e x c l u d e n t e d a
escola?
9
Certamente será o aluno que sofrerá os erros de seus
p r o f e s s o r e s . C o m e f e i t o , e l e já e s t á s o f r e n d o a c a d ê m ic a e p s ic o l o g ic a m e n t e .
A c a d ê m ic a , porque vem estando fora da escola, portanto perdendo
c o n t e ú d o s e s c o l a r e s d a 7 ª s é r i e , u m a v e z q u e n ã o s e s e n t e b e m , e m ir p a r a
o C o l é g io q u e o i n j u s t i ç o u e frustrou-lhe o desejo de estudar com seus
c o l e g a s . P s i c o lo g i c a m e n t e , s u a p e r d a é n o t ó r i a , q u a n d o , m e s m o g o s t a n d o d e
aprender, ir as aulas, estudar e estar com seus colegas, o jovem aluno Paulo
r e c u s a - s e ir p a r a e s c o la , a l e g a n d o s e n t i r - s e in j u s t iç a d o e d i s c r im in a d o p o r
seus professores que o reprovaram de ano, apesar de seu desempenho.
......................................
C o m o s e p o d e a v a li a r , o T D A H t e m u m g r a n d e i m p a c t o n a
vida da criança ou adolescente, p r in c i p a l m e n t e quando os professores
d e s s a s p e s s o a s , i g n o r a n d o o e x p o s t o , o u m e s m o d is c r i m i n a n d o p o r e s s e s
a s p e c t o s , e x c l u e m o a l u n o , a r g u m e n t a n d o q u e “ f o i p o r q u e o a lu n o n ã o
atingiu o esperado; não tem as condições dos colegas; que o aluno não se
esforçou ou apenas que está fazendo isso, repetindo o aluno de ano, porque
s e r á m e lh o r p a r a e l e ” .
D o q u e s e d e p r e e n d e , s e e x p l i c i t a e r e s s a l t a a q u i, p a r a
e f e i t o d e g a r a n t i r o d i r e i t o d o a lu n o P a u l o d e e s t u d a r n a 7 ª s é r i e d o e n s i n o
fundamental, é uma de suas característica, qual seja, a de ele ter TDAH.
E n t r e t a n t o , o P a u lo é u m g a r o t o í n t e g r o , i n t e li g e n t e p o li d o e g e n t i l e t u d o
m a i s q u e c o m p õ e m o s e u t o d o d e p e s s o a h u m a n a . L o g o t e n d o d e s e r v is t o
c o m o u m t o d o e n ã o u n i c a m e n t e c o m o a s u b s t a n t i v a ç ã o d e u m a ú n ic a d e
suas idiossincrasias, o TDAH.
I s s o é i m p o r t a n t e s e r d e i x a d o p a t e n t e , u m a ve z q u e u m
desavisado pode inferir que o aluno Paulo não é "normal" e que, por não o
ser, deveria estar em uma escola especial ou algo assim.
De fato, era assim que p e n s a va m os educadores do
p a s s a d o , o s q u a is n ã o vi a m n a p e s s o a h u m a n a s u a d i v e r s i d a d e , m a s q u e r i a m
q u e e l a f o s s e “ n o r m a l ” , is t o é h o m o g ê n e a , u m a m á lg a m a d e a l u n o s s e m
personalidade, desejo próprio, sem crítica, sem espontaneidade, enfim, que
fossem reprodutores verborrágicos dos conteúdos que o professor vomitava
do alto do seu pretenso saber.
Para essa estirpe de professor, os alunos eram meros
c ig a r r o s , o s q u a i s e r a m f u m a d o s e d e s c a r t a d o s , o b o m e r a e lo g i a d o , o
" r u im " e r a r e je it a d o .
O c o r r e q u e o s a l u n o s n ã o s ã o c ig a r r o s ; n ã o p o d e m s e r
r e je it a d o s e , e m p a r t i c u l a r , o a l u n o e m t e l a n ã o é " r u im " e n e m p o d e s e r
descartado.
E m o u t r a s p a l a v r a s , o s c o n t e u d is t a s , p r o f e s s o r e s f i lh o t e s
d e m o d e l o s a u t o r it á r i o s d e e d u c a ç ã o p a r a o q u a l o a l u n o , o u r e s p o n d i a à
m a n e ir a d o p r o f e s s o r o u s e r i a r e p r o v a d o , a in d a e s t ã o e n t r e n ó s , e s u a s
1
a t i t u d e s p e r m e i a m n o s s a s e s c o l a s . E x e m p lo d is s o é r e p r o v a r u m a l u n o ,
baseado em sua d e f ic i ê n c i a ou em comportamento que desagrade aos
d e f e n s o r e s d o m o d e lo e d u c a c i o n a l, a c i m a d e s c r i t o , e q u e , n u m a f i g u r a d e
l i n g u a g e m , p o d e m s e r d e f in i d o s c o m o a q u e le s f u m a n t e s , c u j o h á b i t o é t ã o
a n t i g o q u e o c i g a r r o já l h e i m p r e g n o u a p e le , p e n e t r o u - l h e n o s p u l m õ e s ,
contaminou-lhe o sangue, enfumaçou-lhe o cérebro, turvou-lhe o
e n t e n d im e n t o e d e i x o u - lh e c o m a m a r c a d o h á b it o n a s m ã o s , n a s r o u p a s , n a
alma. E isso não só fez mal àqueles fumantes (os professores), mas,
c o n t i n u a f a z e n d o a o s q u e , c o m e l e s t ê m c o n t a t o , a q u e m , d e l e s s e a p r o x im e ,
ou, por eles passe.
.....................................
1
- n a s r e u n i õ e s d e p a is e p r o f e s s o r e s , a p ó s a s a íd a d e t o d o s , o p r o f .
Honorato pedia para conversar com seu marido para afirmar que ele
n ã o s a b i a c r ia r o f il h o ;
- o p r o f . H o n o r a t o l i g o u a f ir m a n d o q u e R o n a ld t e r i a p r o v o c a d o u m
i n c ê n d i o n o c o l é g io , a o q u e s e u m a r id o s e d i r i g i u a o e s t a b e l e c im e n t o
e constatou que o fogo teria sido em uma cadeira e em um fio, e que
Ronald teria agido a mando de colegas, que impuseram tal ato como
c o n d i ç ã o p a r a m a n u t e n ç ã o d e a m i z a d e q u e t e r i a m c o m R o n a ld ;
- o p r o f . H o n o r a t o li g o u r e c l a m a n d o q u e R o n a l d t e r i a r a b is c a d o o
b a n h e i r o d o c o l é g i o , a o q u e o m a r i d o d a d e p o e n t e s e d i r ig i u a o
e s t a b e l e c i m e n t o e v e r i f i c o u q u e o b a n h e ir o j á e r a b a s t a n t e s u j o e
r a b is c a d o a n t e s d e e v e n t u a l a t i t u d e d e R o n a l d , p e lo q u e n ã o i r i a
atender o pleito do prof. Honorato no sentido de pagar uma pintura;
- o prof. Honorato ligou para a depoente para reclamar que fora das
i n s t a l a ç õ e s d o c o l é g io , R o n a ld t e r ia j o g a d o u m a p e d r a e m u m ô n ib u s ,
c a u s a n d o p r e j u í z o d e R $ 7 0 0 , 0 0 , a o q u e s e u m a r i d o s o l ic i t o u a o
p r o f e s s o r q u e i n f o r m a s s e o n o m e d a e m p r e s a d e ô n i b u s p a r a q u e e le
pudesse tratar d ir e t a m e n t e com ela, informação negada p e lo
professor sob o argumento de que a reclamação teria chegado à
e s c o l a e q u e R o n a l d e r a a l u n o d a e s c o la ;
q u e o c o l é g io s e m p r e s o u b e d a c o n d i ç ã o d e R o n a ld , m a s m e s m o a s s i m v i v i a
p e d in d o n o v o s la u d o s , o s q u a i s i n c lu s i v e s e r i a m im p r e s c i n d í v e i s p a r a a
p r o m o ç ã o d e R o n a l d à 8 . ª s é r i e ; t a i s l a u d o s e r a m f o r n e c i d o s p e l a f a m íl i a ;
q u e R o n a l d f o i p r o m o v i d o p a r a a 8 . ª s é r ie ; q u e a d e p o e n t e r e s o lv e u t i r a r
Ronald do c o lé g i o , pois as constantes reclamações que recebia da
i n s t i t u i ç ã o , p o r m e i o d e H o n o r a t o e d a p s i c ó l o g a d o c o l é g io , s r a . E l i n e
Neves Braga Nascimento, tornaram inviável a permanência; que entende
como banais as reclamações, como p. ex. que R o n a ld não estava
a c o m p a n h a n d o a s a u l a s , n ã o f a z i a o s t r a b a l h o s d ir e it o e t c , a s q u a i s s e r i a m
c o r r i q u e i r a s ; q u e e m u m a d a s r e u n i õ e s , f o i e x i g id a a p r e s e n ç a d e a m b o s o s
p a is , s e n d o q u e a p ó s r e f e r i d a r e u n iã o f o i a b o r d a d a p o r b a r r a q u e i r o q u e
a f i r m o u q u e t o d o d i a , à s 1 0 d a m a n h ã , e m h o r á r i o d e a u la , R o n a l d e s t a v a
e m s u a b a r r a c a d e c o m é r c i o a s s i s t i n d o t e le vi s ã o , e s p e c i f i c a m e n t e D ig i m o n ;
q u e r e c l a m o u d o c o l é g i o s o b r e t a l f a t o , a o q u e lh e f o i r e s p o n d i d o q u e
aquele colégio era tipo faculdade; que discorda da atitude do colégio, pois
s e u f il h o e r a m e n o r d e i d a d e ; q u e n e s s a r e u n i ã o c o m a p r e s e n ç a d a
depoente e de seu marido, receberam a reclamação de que Ronald teria
e n t r a d o ( i n va d id o ) i n d e v i d a m e n t e i n s t i t u t o d e e d u c a ç ã o d i v e r s o p a r a b e b e r
á g u a , v i s t o q u e n o c o l é g i o e s t a v a f a l t a n d o ; q u e a p u r o u q u e a “ in v a s ã o ” n ã o
t e r ia s i d o a p e n a s d e R o n a l d , m a s d e g r a n d e p a r t e d o s a lu n o s d a e s c o l a ; q u e
recentemente recebeu uma ligação do prof. Honorato, o qual perguntou se a
depoente estaria lendo jornais, nos quais constava uma mãe de aluno que
t e r ia a p a r e c i d o n a vi d a d e l e p a r a i n f e r n i z á - lo e q u e a g o r a i r ia p r e ju d i c a r a
1
d e p o e n t e , v is t o q u e t e r i a c it a d o o n o m e d e s e u f i l h o R o n a l d n a i m p r e n s a ,
s e n d o p o s s ív e l a i n d a q u e r e f e r i d a m u l h e r v i e s s e a o f e r e c e r d i n h e i r o a
depoente para prejudicá-lo”.
1
casos extremos podem ser encaminhados a instituições
especiais.
No caso concreto, o CAp não está tratando
adequadamente alunos portadores de deficiência capazes de se
integrarem ao sistema regular de ensino.
TERCEIRO, a afirmativa de que o CAp não
conta com alunos portadores de deficiência pode derivar de
dois motivos; 1) o CAp conta com tais alunos, mas não se
preparou para reconhecê-los, e por isso os trata de modo
indiferenciado, ou 2) o CAp não conta com tais alunos pois
torna impossível a permanência dos que ingressam na
instituição, como é o caso de Paulo e Ronald acima referidos.
QUARTO, quanto à pretendida divergência
política ou acadêmica a respeito da conveniência de uma
educação específica para portadores de deficiência é questão
superada, pois sempre haverá alguém que discorde de qualquer
verdade científica e não deve o administrador público se
preocupar com tal pretensa divergência quando há lei expressa
determinando sua conduta, como a que obriga a implantação da
educação especial. Ademais, a simples existência de tal lei
refuta o argumento da inexistência de consenso político, pois
como todo texto legal, o que determina a educação especial é
fruto de tal consenso.
4
MARINONI, Luiz Guilherme. O direito à tutela jurisdicional efetiva na perspectiva da teoria dos
direitos fundamentais. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 378, 20 jul. 2004. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5281>. Acesso em: 27 dez. 2005.
1
fundamentais aqueles previstos no Título II da CF/88, Dos
Direitos e Garantias Fundamentais .
Sob este aspecto, não há dúvida de que o
direito à educação é um direito fundamental, mormente em
razão de sua expressa previsão no art. 6º da Carta Republicana:
“são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia,
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição”.
Por sua vez, a fundamentalidade material
parte da premissa de que os direitos fundamentais repercutem
sobre a estrutura do Estado e da sociedade, sendo
imprescindível, portanto, a análise do seu conteúdo.
Também sob este prisma, a fundamentalidade
do direito à educação é inconteste. Vejamos.
A Constituição da República Federativa do
Brasil enuncia, em seu art. 205, que a educação é um direito de
todos e dever do Estado e da família e será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Do preceito constitucional em tela, infere-se
que a educação possibilita o pleno desenvolvimento da
personalidade humana, viabilizando, inclusive, o acesso ao
mercado de trabalho, e é um requisito indispensável à
concreção da própria cidadania. Por seu intermédio, o
indivíduo compreende o alcance de suas liberdades, a forma de
exercício de seus direitos e a importância de seus deveres,
permitindo a sua integração em uma democracia participativa. 5
Por outro lado, a efetividade do direito à
educação é um dos instrumentos necessários à construção de
uma sociedade livre, justa e solidária; à garantia do
desenvolvimento nacional; à erradicação da pobreza e da
5
GARCIA, Emerson. O direito à educação e suas perspectivas de efetividade. Jus Navigandi, Teresina, a.
8, n. 480, 30 out. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5847>. Acesso em:
08 nov. 2005.
1
marginalização, com a redução das desigualdades sociais e
regionais; e à promoção do bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação (art. 3º, CF/ 88).
A educação, assim, não obstante considerada
um direito social, é imprescindível à salvaguarda de direitos
relacionados à própria liberdade e dignidade do ser humano,
integrando o que a doutrina denomina de mínimo existencial.
Neste sentido, como leciona Ricardo Lobo
Torres, os direitos à alimentação, saúde e educação, embora
não sejam originariamente fundamentais, adquirem o status
daqueles no que concerne à parcela mínima sem a qual o
homem não sobrevive (grifos nossos). 6
O direito à educação, pois, é um dos
indicadores do conteúdo normativo eficaz da dignidade da
pessoa humana, o que, associado ao fato de que está
intrinsecamente relacionado aos princípios fundamentais da
República Federativa do Brasil, torna indubitável a sua
essencialidade.
Lei 7.853/89
6
Os direitos humanos e a tributação – Imunidades e Isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 129,
apud Ana Paula de Barcellos, Normatividade dos princípios e o princípio da dignidade da pessoa humana
na Constituição de 1988. Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, n. 221, 2000, p.
181.
1
Art. 2º - Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar
às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício
de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à
educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência
social, ao amparo à infância e à maternidade, e de
outros que, decorrentes da Constituição e das leis,
propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.
Parágrafo único. Para o fim estabelecido no caput
deste artigo, os órgãos e entidades da administração
direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua
competência e finalidade, aos assuntos objetos esta
Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a
viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes
medidas:
I - na área da educação:
a) a inclusão, no sistema educacional, da Educação
Especial como modalidade educativa que abranja a
educação precoce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus, a
supletiva, a habilitação e reabilitação profissionais,
com currículos, etapas e exigências de diplomação
próprios;
b) a inserção, no referido sistema educacional, das
escolas especiais, privadas e públicas;
c) a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação
Especial em estabelecimento público de ensino;
[...]
e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos
benefícios conferidos aos demais educandos, inclusive
material escolar, merenda escolar e bolsas de estudo;
f) a matrícula compulsória em cursos regulares de
estabelecimentos públicos e particulares de pessoas
portadoras de deficiência capazes de se integrarem no
sistema regular de ensino.
1
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade
de cada um;
[...]
Art. 58 - Entende-se por educação especial, para os
efeitos desta Lei, a modalidade de educação
escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos portadores de
necessidades especiais.
§ 1º. Haverá, quando necessário, serviços de apoio
especializado, na escola regular, para atender às
peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º. O atendimento educacional será feito em classes,
escolas ou serviços especializados, sempre que, em
função das condições específicas dos alunos, não for
possível a sua integração nas classes comuns de ensino
regular.
§ 3º. A oferta de educação especial, dever
constitucional do Estado, tem início na faixa etária de
zero a seis anos, durante a educação infantil.
Art. 59 - Os sistemas de ensino assegurarão aos
educandos com necessidades especiais:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos
e organização específicos, para atender às suas
necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não
puderem atingir o nível exigido para a conclusão do
ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e
aceleração para concluir em menor tempo o programa
escolar para os superdotados;
III - professores com especialização adequada em
nível médio ou superior, para atendimento
especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração desses educandos nas
classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive
condições adequadas para os que não revelarem
capacidade de inserção no trabalho competitivo,
mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem
como para aqueles que apresentam uma habilidade
superior nas áreas artística, intelectual ou
psicomotora. (grifos nossos).
1
Dos enunciados antes transcritos, verifica-se,
desde logo, que o direito à educação especial já está
devidamente delineado pela legislação pátria, havendo, apenas,
a necessidade de serem adotadas medidas especiais visando à
sua efetiva implantação, quais sejam:
1
n ecess i dades edu caci on ai s nã o l h es possi bi l i t a
a l can çar o ní v el de conh eci m ento exi gi do par a a
con cl us ão do en si no fun dam en tal , r es pei ta da a
l egi s l açã o exi s ten te e de a cor do com o re gi me nto e
o pr ojet o pe dagógi co da escol a ; 7
2
inexigibilidade de uma prestação positiva verifica-se
apenas quanto ao acesso à rede regular de ensino.
Não, porém, quanto à obrigação maior de atendimento
educacional especializado, que não é condicional e,
pois, subsiste íntegra. Em outras palavras: o portador
de deficiência terá sempre acesso à educação especial,
que, se não puder ser prestada pela rede regular de
ensino, deverá ser prestada em qualquer escola
disponível, ainda que privada, às expensas do Estado”
(grifos nossos). 9
9
BARROSO, Luis Roberto. O Direito Constitucional e a efetividade de suas normas. Renovar: São
Paulo, 2003, p. 152/153.
10
BARROSO, Luis Roberto, op. cit., p. 105.
2
atrás, não cabendo às instituições de ensino a análise
discricionária de sua efetivação.
Assim, descumpridas as normas que assegurem
a concretização de direitos fundamentais – cuja observância
independe, ressalte-se, de qualquer medida de intervenção
legislativa, porquanto derivar do próprio texto constitucional –,
caberá ao Poder Judiciário exigir a sua efetiva aplicação.
Desta forma, a determinação judicial que
imponha ao Poder Público o cumprimento desse dever não
encerra suposta ingerência do Judiciário na esfera da
Administração, uma vez que se trata de atividade vinculada,
cuja observância, como exposto, tem sido solenemente ignorada
pelo Poder Público.
Destarte, a Constituição Federal consagra o
direito à educação e a norma infraconstitucional o explicita,
cabendo ao Judiciário torná-lo realidade, ainda que, para isso,
resulte na obrigação de fazer, com repercussão na esfera
orçamentária, como já decidiu o Superior Tribunal de Justiça,
mutatis mutandi , no que tange à obrigatoriedade da
implementação do direito constitucional à creche para menores
de até seis anos:
2
5- Um país cujo preâmbulo constitucional promete a
disseminação das desigualdades e a proteção à
dignidade humana, alçadas ao mesmo patamar da
defesa da Federação e da República, não pode relegar
o direito à educação das crianças a um plano diverso
daquele que o coloca, como uma das mais belas e justas
garantias constitucionais.
6- Afastada a tese descabida da discricionariedade, a
única dúvida que se poderia suscitar resvalaria na
natureza da norma ora sob enfoque, se programática ou
definidora de direitos. Muito embora a matéria seja,
somente nesse particular, constitucional, porém sem
importância revela-se essa categorização, tendo em
vista a explicitude do ECA, inequívoca se revela a
normatividade suficiente à promessa constitucional, a
ensejar a acionabilidade do direito consagrado no
preceito educacional.
7- As meras diretrizes traçadas pelas políticas públicas
não são ainda direitos senão promessas de lege
ferenda, encartando-se na esfera insindicável pelo
Poder Judiciário, qual a da oportunidade de sua
implementação.
8- Diversa é a hipótese segundo a qual a
Constituição Federal consagra um direito e a
norma infraconstitucional o explicita, impondo-se
ao judiciário torná-lo realidade, ainda que para
isso, resulte obrigação de fazer, com repercussão
na esfera orçamentária.
9- Ressoa evidente que toda imposição
jurisdicional à Fazenda Pública implica em
dispêndio e atuar, sem que isso infrinja a
harmonia dos poderes, porquanto no regime
democrático e no estado de direito o Estado
soberano submete-se à própria justiça que
instituiu. Afastada, assim, a ingerência entre os
poderes, o judiciário, alegado o malferimento da
lei, nada mais fez do que cumpri-la ao determinar
a realização prática da promessa constitucional.
10- O direito do menor à freqüência em creche, insta o
Estado a desincumbir-se do mesmo através da sua rede
própria. Deveras, colocar um menor na fila de espera e
atender a outros, é o mesmo que tentar legalizar a
mais violenta afronta ao princípio da isonomia, pilar
2
não só da sociedade democrática anunciada pela Carta
Magna, mercê de ferir de morte a cláusula de defesa da
dignidade humana.
11- O Estado não tem o dever de inserir a criança numa
escola particular, porquanto as relações privadas
subsumem-se a burocracias sequer previstas na
Constituição. O que o Estado soberano promete por si
ou por seus delegatários é cumprir o dever de
educação mediante o oferecimento de creche para
crianças de zero a seis anos. Visando ao cumprimento
de seus desígnios, o Estado tem domínio iminente
sobre bens, podendo valer-se da propriedade privada,
etc. O que não ressoa lícito é repassar o seu encargo
para o particular, quer incluindo o menor numa 'fila de
espera', quer sugerindo uma medida que tangencia a
legalidade, porquanto a inserção numa creche
particular somente poderia ser realizada sob o pálio da
licitação ou delegação legalizada, acaso a entidade
fosse uma longa manu do Estado ou anuísse,
voluntariamente, fazer-lhe as vezes.
12- Recurso especial provido.
(REsp 575.280/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, Rel.
p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 02.09.2004, DJ 25.10.2004 p. 228). (grifos
nossos).
2
b) oferecimento de terminalidade específica
para aqueles que não puderem atingir o
nível exigido para a conclusão do ensino
fundamental, em razão de suas deficiências
física ou mental;
2
c) implementação de programa escolar
direcionado aos superdotados, com tempo
de duração diferenciada;
Requer, outrossim:
3
a) a citação das rés para integrarem a relação
jurídica processual, facultando-lhes
oportunidade para resposta;