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Superior Tribunal de Justiça

EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 480.284 - SP (2002/0163394-5)

RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN


EMBARGANTE : FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADOR : CARLA PEDROZA DE ANDRADE E OUTRO(S)
EMBARGADO : ARTHUR LUNDGREN TECIDOS S/A CASAS
PERNAMBUCANAS
ADVOGADO : ANA LÚCIA MENDES FERREIRA E OUTRO(S)
RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Trata-se de


Embargos de Declaração opostos contra decisão que deu provimento ao Recurso
Especial, para afastar a incidência do ICM sobre os encargos financeiros na venda a
prazo realizada por meio de empresa financeira, ainda que correspondam a desconto
no preço à vista (desconto-crediário) – fls. 149-151.
A embargante afirma que a norma apontada como violada pela empresa
recorrente não foi debatida na decisão agravada. Além disso, defende que a
contribuinte não procedeu ao devido cotejo analítico ao fundamentar seu apelo em
suposta divergência jurisprudencial.
Pleiteia o acolhimento dos Embargos, "com efeitos infringentes para que
não se conheça do recurso especial" (fl. 155).
Não houve impugnação (consoante certidão de fl. 156, verso).
É o relatório.

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EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 480.284 - SP (2002/0163394-5)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Não havendo


nenhuma das hipóteses do art. 535 do CPC e tendo em vista o Princípio da
Fungibilidade Recursal, recebo os presentes Embargos como Agravo Regimental e
passo à sua análise.
O Agravo Regimental não merece prosperar, pois a ausência de fato
novo capaz de alterar os fundamentos da decisão ora agravada torna incólume o
entendimento nela firmado. Portanto não há falar em reparo na decisão, pelo que
reafirmo o seu teor
Trata-se de Recurso Especial interposto, com fundamento no art. 105,
III, "a" e "c", da Constituição da República, contra acórdão assim ementado (fl. 75):

EXECUÇÃO FISCAL - Auto de Infração - Executada autuada


porque excluiu da base de cálculo do imposto as parcelas relativas ao
"desconto crediário", em operações de vendas de mercadorias através de
planos promocionais - Violação do art. 27, I e seu § 1º, do Regulamento do
ICM - Dec. Nº 17.717/81 - Exclusão que depende da efetivação de contratos de
financiamentos dos tipos Cartão Preferencial e Cartão Rotativo - Conduta da
executada que não caracteriza desconto, mas sim redução ilegítima da base de
cálculo do tributo - Recurso improvido.

A recorrente, além de apontar dissídio jurisprudencial, sustenta que


houve violação do art. 2º, inciso I, do Decreto-lei 406/1968, "haja vista que incluiu na
base de cálculo do ICM, não somente o valor de saída das mercadorias, mas também o
valor pago a título de acréscimos financeiros" (fl. 83).
A questão travada no presente Recurso Especial refere-se à incidência do
ICMS sobre o chamado "desconto-crediário".
A expressão diz respeito a determinada prática mercantil em que uma
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mercadoria é oferecida ao adquirente por um mesmo preço, à vista ou financiado. Na
hipótese de o cliente optar por financiar a compra, o vendedor dá um desconto no
preço à vista. No entanto, apesar do desconto, o adquirente da mercadoria não paga
menos, pois um montante idêntico é cobrado a título de custo do financiamento. Nessa
operação, a instituição financeira é empresa pertencente ao mesmo grupo da
vendedora.
Para maior clareza, transcrevo trecho do voto-condutor (fl. 78):

(...) Assim, a sistemática adotada pela Embargante conduzia a


situação de, para a mesma mercadoria, na mesma data, para o mesmo cliente,
na mesma quantidade, enfim, em idênticas circunstâncias, serem lançados, nos
documentos fiscais, dois valores diferentes para as bases de cálculo em
operações de venda de uma mesma mercadoria: - um era o preço à vista, caso a
compra ocorresse contra o pagamento integral em dinheiro ou cheque; outro
era o mesmo preço à vista deduzido o chamado desconto crediário, caso a
compra ocorresse contra pagamento através de abertura de crediário - junto à
PEFISA.

As Turmas desta Seção se posicionaram pela não-incidência do ICMS


sobre a parcela do financiamento relativa ao chamado "desconto-crediário":

RECURSO ESPECIAL - ALÍNEAS "A" E "C" - TRIBUTÁRIO


- ICMS - DESCONTO-CREDIÁRIO - EXCLUSÃO DA BASE DE
CÁLCULO DO IMPOSTO ESTADUAL - POSSIBILIDADE - ITERATIVOS
PRECEDENTES.
É firme a orientação deste Sodalício, ao contrário do que restou
consignado no v. acórdão combatido, no sentido de que o desconto-crediário,
consistente nos encargos financeiros abatidos do preço da mercadoria e
destinados a outra empresa do mesmo grupo da pessoa jurídica contribuinte do
ICMS, não integra a base de cálculo da exação. Precedentes: AGA 461.733/SP,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJU 14.06.2004; AGREsp 472.557/SP,
Rel. Min. Luiz Fux, DJU 19.05.2003, e AGA 314.741/SP, Rel. Min. Eliana
Calmon, DJ 12.02.01.
Recurso especial provido, para excluir da base de cálculo do
ICMS os valores referentes ao denominado desconto-crediário. (REsp
201.938/SP, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, SEGUNDA TURMA,
julgado em 02.09.2004, DJ 13.12.2004 p. 273).

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO


DE INSTRUMENTO. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE
DISSÍDIO NOTÓRIO. PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA N. 284/STF.
DESCONTO-CREDIÁRIO. NÃO-INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO DO
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ICMS.
1. Não cabe a esta Corte Superior de Justiça intervir em matéria
de competência do STF, tampouco para prequestionar questão constitucional,
sob pena de violar a rígida distribuição de competência recursal disposta na Lei
Maior.
2. Recurso especial interposto com fulcro apenas na alínea "a"
do inciso III do art. 105 da Constituição Federal, não havendo, portanto, por
que se falar em dissídio notório em face da ausência da demonstração analítica
da suposta divergência jurisprudencial existente.
3. A apreciação da questão federal impugnada pela via especial
depende do seu efetivo exame e julgamento pelo Tribunal a quo.
4. É firme o entendimento desta Corte de que as razões de
recurso devem trazer, além dos motivos para a reforma do julgado, a
demonstração inequívoca do modo pelo qual o acórdão teria violado os
dispositivos apontados, o que não foi observado no caso. Súmula n. 284/STF.
5. O STJ firmou a orientação de que o desconto-crediário não
integra a base de cálculo do ICMS.
6. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag
461.733/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA
TURMA, julgado em 11.05.2004, DJ 14.06.2004 p. 194).

TRIBUTÁRIO. ICMS. BASE DE CÁLCULO.


FINANCIAMENTO. ENCARGOS FINANCEIROS ABATIDOS EM
FORMA DE DESCONTO. SÚMULA 237/STJ. PRECEDENTES.
1. É cediço que a base de cálculo do ICMS é o valor da
operação relativa à "circulação da mercadoria".
2. O financiamento para a operação de circulação escapa à essa
exação, posto subsumir-se à outra; o IOF.
3. "Nas operações com cartão de crédito, os encargos relativos
aos financiamento não são considerados no cálculo do ICMS" (Súmula n.º
237/STJ).
4. O "desconto crediário" equivale aos encargos financeiros que,
em razão de serem devidos à empresa do mesmo grupo, são abatidos do preço
da mercadoria, motivo pelo qual não integram a base de cálculo do ICMS.
5. Precedentes.
6. Agravo Regimental improvido.
(AgRg no REsp 472.557/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 06.05.2003, DJ 19.05.2003 p. 139)

A matéria controversa já é pacífica nesta Corte e se consolidou com o


julgamento dos EREsp 168.283/SP, em que estão envolvidas as mesmas partes (rel.
Ministro Herman Benjamin, j. 10.10.2007, DJ 15.9.2008).
Ausente a comprovação da necessidade de retificação a ser promovida na
decisão agravada, proferida com fundamentos suficientes e em consonância com

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entendimento pacífico deste Tribunal, não há prover o Agravo Regimental que contra
ela se insurge.
Por tudo isso, nego provimento ao Agravo Regimental.
É como voto.

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