Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Caicó – RN
2022
IALESSY KEWEN SARAIVA SANTIAGO
Caicó – RN
2022
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
RN/UF/BCZM CDU 51
Aprovada em:___/____/2022
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Maroni Lopes
Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
_______________________________________________________
Prof. Me. José Melinho de Lima Neto
Membro Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
_______________________________________________________
Prof. Esp. Jonimar Pereira de Araújo
Membro Externo
Escola Estadual Professor Antônio Aladim de Araújo - EEAA
_______________________________________________________
Suplente interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Dedico este trabalho de conclusão à minha avó
materna, Zilda Saraiva de Oliveira (in memoriam),
que sempre foi a minha maior incentivadora.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por Ele permitir minha chegada até aqui e por sempre me
guiar durante toda a vida; também agradeço a Virgem Maria, mãe de Jesus, minha Santa de
devoção, por me auxiliar durante todo o curso.
Minha gratidão a toda minha família, em especial aos meus pais Sales Santiago e Edinete
Saraiva, que sempre me apoiaram incondicionalmente desde o início da minha jornada acadêmica.
Agradeço também a Mayara Silva e aos meus irmãos José Iaconny, Iarley Kaiky, Wesley
Saraiva e Luan Saraiva por todo apoio. Vocês são minha base!
Também expresso minha gratidão a todos os meus amigos de infância e dos tempos de
escola que sempre torceram por mim, aos meus colegas de faculdade: Jordana, Andressa,
Douglas, Murilo, Marcilio, Rayane, Wagner, Weverton e todos os demais colegas das turmas
de 2017.1 e 2018.1, todos vocês foram fundamentais para a minha conclusão do curso. Agradeço
ao grande amigo Luiz Fernando, que sempre se dispôs a ajudar aos alunos da minha turma, tirando
dúvidas dos conteúdos durante os primeiros anos de curso.
Sou grato a todos os professores do curso de matemática, que durante todos os anos de
curso contribuíram com maestria para minha formação, especialmente à minha orientadora Maroni
Lopes, por todos os ensinamentos e por toda a paciência.
Meu muito obrigado a todos que contribuíram direta e indiretamente para minha conclusão
do curso de licenciatura em matemática. Deus abençoe a todos!
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
A educação está inserida em qualquer sociedade desenvolvida, essa relação é tão próxima
que um termo é praticamente sinônimo do outro. Partindo desta premissa, vemos que com a
evolução da humanidade, os sistemas de ensino e aprendizagem foram se transformando, mudando
formas e conceitos. A escola como espaço formal da educação não pode ficar fora das mudanças.
Atualmente, as modificações não acontecem apenas nas áreas de conhecimento, mas também na
forma de transmitir e reger o saber. As metodologias implementadas em sala de aula estão variando
cada vez mais, de modo que parte significativa dos professores testam meios inovadores
objetivando chamar a atenção dos alunos, que hoje, século XXI, estão acostumados com
smartphones, tablets, notebooks, de última geração, e assim ter meios tão fáceis e atrativos para a
busca do conhecimento. Uma das formas que geram grandes debates na atualidade e é considerado
por muitos um meio de deixar as aulas atrativas é a interdisciplinaridade, que traz em sua essência
a mescla de disciplinas, levando para a sala de aula a aplicabilidade de uma área de conhecimento
na outra e vice-versa.
Desde o início do curso de licenciatura em matemática, o pesquisador deste trabalho se
preocupava com suas futuras aulas, sempre pensando até qual ponto o ensino tradicional pode ser
uma escolha acertada para se dar uma boa aula. O mesmo tinha em mente que mostrar as
aplicabilidades da matemática no mundo e no cotidiano poderiam servir como um imã,
possibilitando ao alunado ter mais concentração em suas aulas posteriormente. Um certo dia, na
aula da disciplina de Estágio Supervisionado de Matemática II, começou um debate sobre como
deixar as aulas de matemática mais prazerosas, em meio a tal debate, o pesquisador lembrou da
interdisciplinaridade, e quando foi defender seu ponto de vista, usou como argumento que a
matemática estava em todos os lugares, como na geografia, no uso de escalas nos mapas
cartográficos, o plano cartesiano no estudo de coordenadas geográficas, e que nesses exemplos,
essa ideia poderia chamar a atenção de um estudante que se identifica com a área de humanas e
rejeita antecipadamente qualquer conteúdo matemático, atraindo uma pessoa que geralmente é
desmotivada com as aulas de matemática. A partir desse dia, o tema do trabalho de conclusão de
curso do pesquisador estava sendo delineado.
Grande parte dos alunos do ensino básico têm uma visão errônea da matemática, vendo essa
ciência apenas como algo fixado, cheio de regras e o estudo de diversos assuntos dessa disciplina
10
sem sentido para sua vida e assim, perdem o interesse pelas aulas. “Diante disso, surge a
importância de se integrar a Matemática a diversas outras áreas de conhecimento e,
consequentemente, ao entendimento do conceito de interdisciplinaridade dentro do plano de estudo
das escolas” (PASSOS, 2021, p. 8)
Desse modo, ao ter a possibilidade de escrever um texto de conclusão de curso na
Licenciatura em Matemática, este entendeu a relevância de pesquisar sobre a interdisciplinaridade
na sala de aula de matemática. Para tanto, se fez necessário a realização de uma revisão de literatura
tendo como perspectiva compreender o que já estava sendo publicado na literatura nacional e
internacional. Assim, foi realizada uma busca em bancos de Teses e Dissertações, portais de
periódicos, entre outros.
Dentre os textos encontrados, temos: Hilton Japiassu (1976); Ivani Fazenda (1979), (1994),
(1998); Juares Thiesen (2008), Fabrício Pantano, Letícia Rinque e Douglas do Nascimento (2017),
Maria da Silva e Iolanda de Santana (2020).
De acordo com o exposto, este trabalho tem como pergunta de pesquisa o seguinte
questionamento: Como docentes e futuros docentes de matemática compreendem a
interdisciplinaridade, e quais possíveis limitações e possibilidades de seu uso em sala de aula da
educação básica?
Desse modo, para responder a essa pergunta de pesquisa traçamos os seguintes objetivos:
Objetivo Geral
Compreender algumas das potencialidades, e possíveis limitações apontadas por docentes
e futuros docentes de matemática no uso da interdisciplinaridade em suas salas de aula.
Objetivos específicos
Analisar, por meio do diálogo com professores, se a interdisciplinaridade está sendo
desenvolvida nas aulas de matemática na educação básica;
Realizar um questionário sobre a compreensão de interdisciplinaridade que tem os
professores de matemática do ensino básico;
Realizar um questionário sobre a compreensão de interdisciplinaridade que tem os
futuros professores.
11
Nesse sentido, para a realização do nosso estudo, buscamos nos apoiar em publicações
sobre interdisciplinaridade, entre estas: Interdisciplinaridade e Patologia do Saber-1976,
Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa-1994, Integração e Interdisciplinaridade no
Ensino Brasileiro-1979, Didática e Interdisciplinaridade- 1998, A Interdisciplinaridade como
Movimento de Articulação no Processo de Ensino-Aprendizagem-2008, Interdisciplinaridade em
Educação Matemática Direcionada ao Ensino Médio: Uma Alternativa Eficiente no Ensino
Aprendizado-2017, Interdisciplinaridade nas Práticas Docentes de Professoras da Educação Básica
- 2020.
É indiscutível que a interdisciplinaridade é um tema reconhecido entre os pesquisadores,
educadores das mais diferentes áreas, inclusive entre matemáticos renomados. Mas, e na prática,
será que essa metodologia é utilizada nas salas de aula? Esses e outros questionamentos nos
mobilizaram a estudar de modo mais aprofundado sobre a referida temática.
De modo geral, este trabalho aborda a interdisciplinaridade na educação, focando no ensino
de matemática. Traz a origem desse conceito como movimento, as definições dessa temática do
ponto de vista de autores distintos, uma pesquisa qualitativa com os professores de matemática da
rede pública e alunos do curso de licenciatura em matemática do Centro de Ensino Superior do
Seridó – CERES, Campus Caicó-RN, o qual buscou entender a realidade das salas de aulas de
matemática no que se refere a interdisciplinaridade.
Para melhor situar o leitor deste trabalho, o pesquisador do mesmo decidiu organizá-lo em
cinco capítulos, sendo eles: o primeiro capítulo, que trata da introdução, onde é revelado o que
motivou o título deste trabalho, e consta a pergunta da pesquisa, os objetivos gerais e específicos.
No segundo capítulo abordamos os argumentos teóricos que norteiam nosso estudo, o qual fazemos
um apanhado histórico sobre a interdisciplinaridade, desde o surgimento como movimento, a
chegada desse conceito ao Brasil, as definições desse tema sob o ponto de vista de autores
renomados e o que diz os documentos oficiais da educação brasileira a respeito da
interdisciplinaridade. No que se refere ao terceiro capítulo, optamos uma descrição detalhada do
modo como a pesquisa foi desenvolvida, assim, trazemos uma explicação como se deu os
questionários e público que respondeu. O quarto capítulo relata os dados construídos com a
pesquisa, detalhando e analisando as respostas dadas aos questionários. O quinto e último capítulo
são as considerações finais e as conclusões do trabalho.
12
Já nos anos de 1990, é a tentativa de construção de uma nova epistemologia, que se refere a própria
interdisciplinaridade, isto é, uma definição da teoria da interdisciplinaridade. (FAZENDA, 1994).
Segundo Juares Thiesen (2008), a interdisciplinaridade é geralmente abordada em dois
grandes enfoques principais: epistemológico e pedagógico. O primeiro aborda um conceito teórico
e de entendimento do comportamento humano através da filosofia e da sociologia com uma visão
mais ampla de ligação entre as ciências. A segunda foca nos elos e nas ligações entre as disciplinas
acadêmicas e entre as áreas de conhecimento estudadas nas escolas do ensino básico e
universidades. (THIESEN, 2008).
O conceito de interdisciplinaridade é bem mais abordado no campo das ciências humanas
do que em qualquer outra área de conhecimento, Juares Thiesen (2008) explica o porquê:
nas ciências, nas pesquisas, com relação ao modelo de organização de ensino universitário e
demais.
A também brasileira Ivani Fazenda, foi quem mais desenvolveu trabalhos, que temos
conhecimento, voltados para essa temática com maior objetividade na educação, detalhando do
engatinhar ao andar desse movimento no Brasil. Ela é a mais requerida pesquisadora quando se
trata de interdisciplinaridade na educação, e terá notado espaço durante esse trabalho. Sobre a
chegada da interdisciplinaridade ao Brasil, Fazenda (1994, p. 26) afirma que:
Nas palavras de Ivani Fazenda, observa-se como o conceito abordado foi tratado no Brasil
sem calma e planejamento adequado, como algo feito aos trancos e barrancos, e influenciando o
sistema educacional brasileiro já nas primeiras décadas que aqui chegou. A interdisciplinaridade
na educação brasileira será tratada de forma mais detalhada a partir da subseção 2.3 desse trabalho.
Em linhas gerais, a interdisciplinaridade surge no século XX em âmbitos científico e
educacional quase que ao mesmo tempo, como movimento restaurador de saberes que em tese já
foram unificados e que hoje são fragmentados. As correntes interdisciplinares englobam um grande
espaço filosófico, pois se trata de conhecimento como um todo, das ciências a educação.
2.2 As diferentes maneiras que alguns autores dessa temática definem a Interdisciplinaridade
É comum vermos nas áreas filosóficas, diferentes definições para um mesmo conceito, isso
também acontece com a interdisciplinaridade. Essa temática abrange todas as partes do saber, seja
na parte pedagógica ou científica, dificultando assim uma definição fixa com conceito formal bem
definido. Como citado anteriormente, nessa subseção veremos os diferentes pontos de vista sobre
o que é interdisciplinaridade partindo de autores diferentes.
Primeiramente, antes de definir o que é interdisciplinaridade, é importante ter claro o que é
disciplina. Ao lembrar dessa palavra, costumeiramente vem no pensamento as divisões existentes
15
nas escolas de ensino tradicional, noção parecida como a que define Hilton Japiassu. O mesmo
afirma que disciplinaridade “Significa a exploração científica especializada de determinado
domínio homogêneo de estudo, isto é, o conjunto sistemático e organizado de conhecimentos que
apresentam características próprias nos planos do ensino, da formação, dos métodos e das
matérias.” (JAPIASSU, 1976, p. 72)
Tendo a definição de disciplinaridade e a noção do que é disciplina, podemos ver as
diferentes óticas do que se trata a interdisciplinaridade pelo referencial de grandes autores desse
tema.
Ivani Fazenda frisa que a interdisciplinaridade tem inúmeras definições, mas em todas tem
um mesmo princípio e mesmas características. “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela
intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior
de um mesmo projeto de pesquisa”. (FAZENDA, 1979, p.51).
O francês Edgar Morin, durante grande parte de sua vida produziu muitos trabalhos sobre
a transdisciplinaridade, conceito próximo do abordado neste trabalho. Ele enxergava a
interdisciplinaridade como uma tentativa de reconstrução de conceitos abrangentes a várias áreas
que são esmagados pelas disciplinas (MORIN, 1994). Esse mesmo autor ainda via na
interdisciplinaridade um poder de ligação pequeno, do que seria o ideal em relação as áreas do
conhecimento, para ele:
a interdisciplinaridade controla tanto as disciplinas como a ONU controla as nações. Cada
disciplina pretende primeiro fazer reconhecer sua soberania territorial, e, à custa de
algumas magras trocas, as fronteiras confirmam-se em vez de se desmoronar. Portanto, é
preciso ir além, e aqui aparece o termo "transdisciplinaridade”. (MORIN, 1994, p. 135).
Para Morin (1994) a fragmentação do conhecimento é tão maléfica que é preciso ser um
pouco mais radical em relação as ligações entre as disciplinas, radicalidade essa baseada na
transdisciplinaridade. Já o argentino Héctor Leis (2005, p. 9) afirma que: “A interdisciplinaridade
pode ser definida como um ponto de cruzamento entre atividades (disciplinares e interdisciplinares)
com lógicas diferentes.”
Na ótica de Moacir Gadotti (2004), a interdisciplinaridade visa garantir a construção de um
conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. (apud THIESEN, 2008,
p.97).
Para Hilton Japiassu (1976, p.74) “a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade
das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um
16
projeto especifico de pesquisa”. Para este autor a interdisciplinaridade é um caminho de mão dupla,
onde acontece uma reciprocidade para que todas as disciplinas envolvidas ganhem com essa
relação. O mesmo afirma que um projeto interdisciplinar
pode ser caracterizado como o nível em que a colaboração entre as diversas disciplinas ou
entre os setores heterogêneos de uma mesma ciência conduz a interações propriamente
ditas. Isto é, a uma certa reciprocidade nos intercâmbios, de tal forma que, no final do
processo interativo, cada disciplina saia enriquecida. Podemos dizer que nós
reconhecemos diante de um empreendimento interdisciplinar todas as vezes em que ele
conseguir incorporar os resultados de várias especialidades, que tomar de empréstimo a
outras disciplinas certos instrumentos e técnicas metodológicos, fazendo uso dos
esquemas conceituais e das análises que se encontram nos diversos ramos do saber, a fim
de fazê-los integrarem e convergirem, depois de terem sido comparados e julgados.
(JAPIASSU, 1976, p.75)
É muito comum, ver em pesquisas sobre interdisciplinaridade termos semelhantes que leva
a quem pesquisa pensar, pelo menos em primeiro momento, que se trata de sinônimos ou de
conceitos semelhantes, são elas: Multidisciplinaridade, Pluridisciplinaridade e
Transdisciplinaridade. Hilton Japiassu (1976) explica que embora essas palavras pareçam ter o
mesmo significado e sentido de interdisciplinaridade, apresentam comportamentos diferentes entre
as disciplinas.
Devemos afastar como inadequado o termo "multidisciplinar", pois só evoca uma simples
justaposição, num trabalho determinado, dos recursos de várias disciplinas, sem implicar
necessariamente um trabalho de equipe e coordenado. Quando nos situamos no nível do
simples multidisciplinar, a solução de um problema só exige informações tomadas de
empréstimo a duas ou mais especialidades ou setores de conhecimento, sem que as
disciplinas levadas a contribuírem por aquela que as utiliza sejam modificadas ou
enriquecidas. Em outros termos, a démarche multidisciplinar consiste em estudar um
objeto sob diferentes ângulos, mas sem que tenha necessariamente havido um acordo
prévio sobre os métodos a seguir ou sobre os conceitos a serem utilizados. (JAPIASSU,
1976, p. 72 e 73)
é tanta que já não existiria fragmentações, formando um único corpo, quebrando assim a ideia de
disciplina. Piaget é apontado como primeiro mentor desse tema.
É importante esclarecer que assim como a interdisciplinaridade, esses três conceitos citados
variam de um autor para outro, não tendo definições fixas, apresentando noções do que realmente
se trata. Vale ressaltar que como esse trabalho tem como objetivo a interdisciplinaridade na
educação matemática, o pesquisador introduziu esse trio de definições a nível de informação, se
baseando no ponto de vista de Hilton Japiassu (1976).
Analisando todas essas definições citadas do que é interdisciplinaridade, podemos ver que
esse termo é um conceito amplo, sem definição fixa, e que é algo em desenvolvimento. Ivani
Fazenda (1994) esclarece isso quando afirma que “é impossível a construção de uma única,
absoluta e geral teoria da interdisciplinaridade, mas é necessária a busca ou desvelamento do
percurso teórico pessoal de cada pesquisador que se aventurou a tratar as questões desse tema”
(FAZENDA, 1994, p. 13). A autora ainda deixa claro que é fundamental se apegar aos pontos
convergentes que os principais pesquisadores refletem acerca da interdisciplinaridade. A escritora
portuguesa Olga Pombo (2003, p.7), vai além, e afirma que “a tarefa de procurar definições finais
para a interdisciplinaridade não seria algo propriamente interdisciplinar, senão disciplinar.” (apud
THIESEN, 2008, p. 91). O objetivo de abordar nessa subseção as diferentes maneiras de entender
a interdisciplinaridade foi esclarecer para os leitores deste trabalho que, mais do que uma definição
exata, o mais importante é ter a noção de que a interdisciplinaridade se trata de uma relação
reciproca entre as disciplinas, com foco organizado, e objetivo bem definido, onde ambos os lados
lucram com o conhecimento e o progresso obtido, onde o conhecimento é abordado de forma
globalizante, e ainda mostrar a tamanha amplitude desse tema.
Essa subseção aborda o que diz os documentos oficiais da educação brasileira sobre a
interdisciplinaridade. De início iremos tratar o que fala a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) sobre a interdisciplinaridade, em seguida, abordaremos o que propõe os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) da área de matemática dos anos finais do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio.
18
Fica evidente o quão importante é a decisão dos professores no sentido de organização entre
as disciplinas, ou seja, a união e diálogo entre o corpo docente escolar é fundamental para um
projeto ou uma aula interdisciplinar.
Na área de matemática, mais precisamente na parte que trata dos anos finais do ensino
fundamental, a BNCC destaca que conteúdos como Juros e porcentagem, podem levar aos alunos
as noções de conceitos básicos de economia como a inflação, aplicações financeiras, e outras ideias
que são de fundamental importância para a vida financeira de cada um. Dentro desse contexto de
matemática financeira, o documento citado afirma que:
Apesar de não detalhar como seria o tal projeto interdisciplinar, é de suma importância um
documento como a BNCC trazer esse tipo de incentivo de projeto interdisciplinar aos professores
de matemática. No exemplo dado pelo documento é levado em consideração a disciplina de
história, mas, deixa em aberto a ideia de projetos dessa natureza, serem desenvolvidos com as
demais disciplinas, é onde entra o poder de decisão dos professores e o planejamento.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), são diretrizes criadas no fim da década de
1990 para orientar um caminho para uma educação de qualidade, apesar de não ter força de lei
19
como a BNCC. Pelo fato de o curso de licenciatura em Matemática dar aptidão ao graduado para
ensinar do 6° ano do Ensino Fundamental até a 3° série do Ensino Médio, iremos ver o que dizem
sobre interdisciplinaridade os Parâmetros de Matemática do terceiro e quarto ciclo que são
referentes ao ensino fundamental dois e em seguida os PCNs de matemática do ensino médio.
Assim, como na BNCC, o termo “interdisciplinaridade” não aparece no texto dos ciclos três
e quatro dos PCNs de matemática, mas esse aborda essa temática de maneira mais profunda do que
o documento anteriormente citado. Iremos ver algumas sugestões feitas por esse documento com
relação a trabalhos interdisciplinares.
Os cuidados com o meio ambiente têm sido bastante trabalhados nas escolas do ensino
básico nas últimas décadas, devido a problemas graves como a poluição das águas e do ar que
agravam o efeito estufa. Devido a essa preocupação, os PCNs de matemática do fundamental dois
propõe que os professores de matemática façam trabalhos interdisciplinares pois esse assunto é
bastante abrangente.
O estudo detalhado das grandes questões do Meio Ambiente poluição, desmatamento,
limites para uso dos recursos naturais, sustentabilidade, desperdício, camada de ozônio
pressupõe que o aluno tenha construído determinados conceitos matemáticos (áreas,
volumes, proporcionalidade etc.) e procedimentos (coleta, organização, interpretação de
dados estatísticos, formulação de hipóteses, realização de cálculos, modelização, prática
da argumentação etc.). (BRASIL, 1998a, p.31).
Esses ciclos ainda abordam como pode ser trabalhado com relação a matemática temas
como cultura e saúde. Isso pode influenciar os professores de matemática a elaborar projetos
interdisciplinares também nesses campos já que assim como o meio ambiente, são conteúdos
amplos que englobam várias áreas.
Os conteúdos do bloco Tratamento da Informação podem ser explorados em projetos mais
amplos, de natureza interdisciplinar, que integrem conteúdos de outras áreas do currículo,
como a História e a Geografia, além da Matemática e os temas como Saúde e Meio
Ambiente. O tema Trabalho e Consumo, por exemplo, é um bom eixo para articular um
desses projetos, uma vez que esse assunto é de grande interesse dos alunos, principalmente
os de quarto ciclo, que começam a tomar algumas decisões em relação ao seu
encaminhamento profissional. (BRASIL, 1998a, p.138)
uma maior ligação entre as noções matemáticas e as demais áreas do conhecimento. É destacado
que uma das finalidades do ensino de matemática é “estabelecer conexões entre diferentes temas
matemáticos e entre esses temas e o conhecimento de outras áreas do currículo”. (BRASIL, 1998b,
p. 42)
Os PCNs sugerem uma interdisciplinaridade também no sentido de interligar os conceitos
matemáticos a vida cotidiana, ou seja, que a interdisciplinaridade é um importante fator
contribuinte na conexão do conhecimento adquirido pelos alunos durante essa etapa da vida escolar
com suas próprias vivencias fora da escola, ou seja, uma maior aproximação dos conteúdos
estudados com a realidade, o que possivelmente ajuda a atrair a atenção dos alunos nas aulas.
Esses escritos também trazem exemplos de aplicações matemáticas em outras áreas, como
forma de prática interdisciplinar, como no estudo de funções que tem aplicabilidade na geografia,
física e economia.
Cabe, portanto, ao ensino de Matemática garantir que o aluno adquira certa flexibilidade
para lidar com o conceito de função em situações diversas e, nesse sentido, através de uma
variedade de situações problema de Matemática e de outras áreas, o aluno pode ser
incentivado a buscar a solução, ajustando seus conhecimentos sobre funções para construir
um modelo para interpretação e investigação em Matemática. (BRASIL,1998b, p. 44)
É importante notar nessas sugestões o grau de importância que esses documentos expressam
com relação a um ensino interdisciplinar, chegando ao ponto de criticar o ensino tradicional
totalmente fragmentado, “Será preciso, além disso, procurar suprir a carência de propostas
interdisciplinares para o aprendizado, que tem contribuído para uma educação científica
excessivamente compartimentada, especialmente no Ensino Médio” (BRASIL, 1998b, p. 48).
21
Este trabalho traz uma pesquisa qualitativa, onde o autor analisa os dados obtidos e faz suas
interpretações e compreensões. A pesquisa foi dividida em duas partes: a primeira trata de uma
conversa com alguns professores que lecionam matemática em escolas públicas estaduais e
municipais de cidades da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, e a segunda parte com alunos do
curso de licenciatura em matemática do Centro de Ensino Superior do Seridó em Caicó-RN
(CERES /Caicó – RN).
A primeira parte da pesquisa foi idealizada para ser desenvolvida com professores do
ensino fundamental e ensino médio que atuam nas diversas áreas do ensino básico, desde que a
maioria fosse professores de matemática, com o objeto de compreender se a interdisciplinaridade
chega as salas de aula de todas as disciplinas, entretanto, uma pesquisa feita dessa forma desviaria
o foco da educação matemática e olharia de maneira geral para a educação básica, englobando
assim um contexto muito amplo e diverso, pois como visto nas seções anteriores desse trabalho, a
interdisciplinaridade abrange muitos aspectos.
A pesquisa foi realizada com 30 professores, sendo 13 de matemática, mas pelo motivo
citado, o pesquisador desse trabalho resolveu fazer a análise dos dados apenas com os professores
da área de matemática. Os docentes que tiveram os dados analisados, atuam nas redes estaduais
da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, e nas redes municipais das seguintes cidades: Brejo do
Cruz-PB, São Bento-PB, Caicó-RN, Natal-RN, Jucurutu-RN e Alto Santo-CE.
A pesquisa busca saber os principais contribuições e dificuldades de uma abordagem
interdisciplinar nas aulas de matemática, e como os atuais profissionais de matemática na educação
básica a enxergam de modo a facilitar o ensino em certos momentos, quais vantagens e
desvantagens, enfim, entender a visão atual de quem vive na realidade das salas de aulas de
matemática das escolas públicas.
Depois das explicações esclarecidas com relação à pesquisa no parágrafo anterior, os
critérios que o pesquisador usou para escolher os professores que iriam ser analisados foram os
seguintes:
a) Lecionar matemática na rede pública de ensino;
b) Trabalhar no Ensino Fundamental, anos finais ou Ensino Médio;
c) Ser licenciado ou estar licenciando matemática.
22
Além desses critérios, o pesquisador buscou professores que eram de seu conhecimento
pessoal para facilitar no recolhimento das respostas.
A primeira parte da pesquisa foi feita através de um formulário do Google1 entre os meses
de fevereiro e maio de 2022, contendo seis perguntas abertas. Os nomes dos professores
entrevistados não serão citados nesse trabalho para assegurar a privacidade de cada um.
Como citado anteriormente, a segunda parte da pesquisa foi feita com alunos do curso de
licenciatura em matemática do Centro de Ensino Superior do Seridó-CERES/Caicó. O pesquisador
deste trabalho, é aluno do referido curso, e sempre debateu com seus colegas maneiras de levar às
salas, aulas mais prazerosas e atrativas, manifestou-se, então, a curiosidade sobre o que eles (alunos
do curso), achavam da interdisciplinaridade. Desse ponto, surgiu a ideia de elaborar uma pesquisa
com esses, afim de saber de forma detalhada o que cada um pensa sobre aulas interdisciplinares,
sobre experiências com o tema além de claro, projeções para o futuro. A segunda parte da pesquisa
foi feita com 26 alunos do curso de Licenciatura em Matemática do CERES/Caicó. O pré-requisito
para responder esse estudo eram:
a) Ter pelo menos 6 semestres de vivência no referido curso;
b) Está matriculado no curso no semestre 2022.1
1
Serviço gratuito que cria formulários online.
23
Esta seção apresenta os dados obtidos durante toda a pesquisa, análise, interpretação, e
compreensões dos mesmos. Descrevemos cada uma das perguntas dos questionários, tendo em
seguida as respostas que nos foram dadas, e logo após a tabulação, elaboração de gráficos, fazemos
uma breve análise do que foi apresentado. Começando com a primeira parte da pesquisa, realizada
com os docentes que estão atuando no momento.
A primeira pergunta foi relacionada ao debate do tema do nosso estudo entre os docentes,
assim:
a) “O (A) senhor(a) tem discutido com seus colegas sobre interdisciplinaridade?”
O sim foi unanime nas respostas, mostrando que realmente o tema é bastante abordado nas
escolas atualmente, pelo menos no que se refere ao debate sobre esse assunto, revelando que essa
temática não ficou presa apenas nos livros de pesquisadores desse segmento. Alguns professores
foram além do sim, um afirmou que é um tema recorrente, outro disse: “em boa parte dos
planejamentos discutimos a respeito de atividades que envolvam várias disciplinas.”
A segunda pergunta foi referente a formação dos docentes que estão atualmente em sala
de aula, foi questionado:
b) “Interdisciplinaridade foi um tema debatido em sua graduação? Se sim, de que
modo?”
Não
39% 46%
Superficialmente
Muitas Vezes
15%
O terceiro questionamento foi voltado para a situação atual, onde foi perguntado:
Vale destacar que apenas um professor respondeu não, os demais afirmaram que sim ou
as vezes, conforme ressaltamos no gráfico 02 a seguir.
É importante destacar o alto índice (92%) de professores que responderam que já
desenvolveram aulas interdisciplinares, mostrando que além dos debates entre os docentes, a
interdisciplinaridade está sendo aplicada nas salas de aulas de matemática das escolas públicas.
25
8%
8%
Sim
As vezes
Nunca
84%
Essas respostas chamaram a atenção do pesquisador desse trabalho pelo fato dos
entrevistados destacarem relações interdisciplinares da matemática com disciplinas da área das
ciências humanas, quebrando um preceito existente em grande parte da sociedade de que exatas
e humanas não se misturam. Essa prerrogativa cai por terra através da interdisciplinaridade , e
ainda mostra que por meio de projetos ou aulas interdisciplinares é possível atrair alunos que
alto se intitulam “de humanas” a ser atraídos pela matemática.
A quarta indagação foi referente a estrutura das escolas públicas (estrutura física e
materiais didáticos), e a relação entre os componentes do corpo docente. Foi perguntado:
d) O senhor(a) acha que a escola pública onde trabalha tem estrutura suficiente e diálogo
entre os docentes de forma a possibilitar algum tipo de trabalho interdisciplinar?
A respeito da estrutura, a concordância foi quase unânime que as escolas têm sim estrutura
suficiente, apenas um professor falou em meio termo, “mais ou menos”. Esse resultado positivo
26
A questão do diálogo é muito oportuna, tendo em vista que a relação entre os professores
é fundamental para colocar em prática qualquer projeto, pois é necessário planejar. Um outro
professor ainda ressaltou a questão da falta de aparelhos tecnológicos nas escolas públicas que
possibilitaria ainda uma melhor interação entre as disciplinas.
Na quinta pergunta foi abordado a interdisciplinaridade como meio de motivação dos
alunos nas aulas de matemática. Como citado anteriormente, um dos motivos que levou o
pesquisador a escolher o tema desse trabalho.
A pergunta em questão foi:
Todos os professores responderam que sim, que esse pode ser um caminho para deixar as
aulas de matemática mais atrativas. Destacamos as seguintes respostas:
Sim. Chega a chamar mais a atenção dos alunos, pois é algo que os
mesmos não estão tão acostumados a praticar. Além disso, os mesmos
podem se sentir até mais desafiados.
Sim. É notório a satisfação dos alunos diante de aulas interdisciplinares,
são mais participativos e apresentam melhor aprendizagem. (Falas dos
Docentes entrevistados)
Outro professor citou que fez aulas de resolução de questões interdisciplinares, visando
à preparação de alunos do ensino médio para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), o
que é mais uma ideia de aplicação da interdisciplinaridade na educação básica.
27
A sexta e última pergunta dessa primeira parte da pesquisa, teve grande relevância em
nosso estudo, pois, com ela se pode perceber a visão dos professores com relação as dificuldades
de se aplicar um projeto ou aula interdisciplinar. Foi perguntado aos professores:
Pelo fato de se tratar das possíveis barreiras que podem impossibilitar os professores de fazerem
aulas interdisciplinares, o pesquisador resolveu listar todas as respostas. Sendo estas destacadas
a seguir:
1) Formação continuada.
2) A não familiarização com outras áreas que não seja a de sua
formação.
3) Encontrar parcerias dispostas a colaborar.
4) A maior dificuldade é exatamente outro colega de trabalho
concordar com a aula, pois dificilmente querem interdisciplinar com
Matemática.
5) Ambiente de trabalho e falta de formação.
6) O planejamento, pois acontece por área e, na maioria das vezes, não
temos contato para conversar e planejarmos de forma mais coerente.
7) A falta de formação continuada e principalmente a falta de incentivo
público na formação dos docentes.
8) O comodismo e o medo de criar metodologias novas para dentro da
sala de aula.
9) Horários para a elaboração do projeto, a falta de comprometimento
dos alunos e a falta dos recursos didáticos.
10) Os próprios professores. Muitos tem a cabeça voltada só para sua
própria disciplina.
28
Como pode ser visto, a maior dificuldade citada pelos professores é o planejamento entre
os colegas das diferentes áreas, os motivos que justificam a falta desse planejamento são vários,
entre eles: a falta de diálogo entre os docentes; como já foi relatado nas respostas da quarta
pergunta, a disponibilidade de cada um, pois a maioria dos professores trabalham em mais de
uma escola, e até mesmo o medo de tomar a iniciativa para inovar em suas aulas. Esse temor ou
rejeição de alguns professores é relatado por FAZENDA (1998): “existe um preconceito em
aderir à interdisciplinaridade. Ela quase sempre é tida como uma aventura, ou um diletantismo, e
aderir a ela parece ser rejeitar a especialização.” (FAZENDA, 1998, p. 91)
A falta de formação continuada é outro ponto bastante citado, isso pode ser justificado
pelo fato de aproximadamente 46% dos professores entrevistados nunca terem participado de
um simples debate sobre interdisciplinaridade em suas graduações, dificultando os cenários de
discussão sobre a interdisciplinaridade na educação depois de formados.
Neste subtópico será descrito os resultados da parte dois da pesquisa, na qual foi
realizada com os alunos do curso de Licenciatura em Matemática do CERES/Caicó. Essa parte
do estudo buscou entender como enxerga os futuros docentes a respeito da interdisciplinaridade,
a experiência, vivências que eles têm com o tema enquanto alunos do ensino básico e também
na graduação. A descrição dos dados e análise dos mesmos serão feitas da mesma forma que na
primeira parte.
29
As respostas foram as mais diversas. Por ser uma pergunta que proporciona respostas tão
abrangentes, o pesquisador decidiu descrever cada uma delas, as quais são apresentadas a seguir:
Essencial.
Como pode ser observado, grande parte dos entrevistados deu sua definição do que se
tratava interdisciplinaridade na educação, citando a junção de duas ou mais disciplinas com um
objetivo comum. Pode se perceber que quase todos apresentaram noções relevantes do que trata a
interdisciplinaridade na educação, algumas falas aparecem em concordância com os pesquisadores
que adotamos em nosso referencial teórico. Alguns entrevistados foram além do que estava sendo
perguntado, e destacaram a interdisciplinaridade como um importante meio para o
desenvolvimento do ensino e aprendizagem, os quais argumentaram a respeito das aplicações
matemáticas no cotidiano e nas demais disciplinas, o que consideramos de grande relevância, pois,
por ser uma área que compõe as disciplinas da base , a matemática está inserida praticamente em
todos os segmentos do conhecimento, tornando um pouco mais fácil para os professores de
matemática encontrar temas transversais para a aplicação da interdisciplinaridade com as demais
disciplinas.
A segunda pergunta foi relacionada ao ensino básico de cada um dos discentes do curso de
matemática. Foi perguntado:
b) Durante o ensino básico, você teve alguma aula no formato interdisciplinar? Se sim,
ocorriam com que frequência? E quais as contribuições que as aulas interdisciplinares
trazem para a aprendizagem dos alunos?
Dos 26 entrevistados, 15 responderam que nunca tiveram, 5 que não lembram, 4 que
chegaram a ter, mas de forma rara e apenas 2 afirmaram que as aulas interdisciplinares ocorriam
com maior frequência. O que pode ser observado no gráfico a seguir:
32
19%
Nunca
8% Poucas
Várias
58%
15% Não Lembra se teve
Ao compararmos os dados que essas respostas nos fornecem com os das respostas da
terceira pergunta da primeira parte da pesquisa, a qual foi realizada com os professores em
exercício, estes ressaltam que desenvolveram alguma aula interdisciplinar. Enquanto os discentes,
futuros professores, o correspondente a 58%, responderam que nunca participaram de aulas
interdisciplinares durante o ensino básico.
Em relação a segunda parte dessa pergunta, as respostas foram bem diversificadas, seguem
as que compreendemos aproximarem-se dos objetivos do nosso estudo:
Enxergar que cada disciplina não está separada uma da outra, e todos
poderiam trabalhar em conjunto, com um determinado conteúdo.
c) Você gostaria que tivesse acontecido mais aulas interdisciplinares durante sua vida
escolar?
A grande maioria, o correspondente a 22 alunos, afirmou que sim, dois afirmaram que
foi debatido de maneira superficial, e dois citaram que não lembravam se ocorreu tal debate
durante suas vidas acadêmicas na área da licenciatura em matemática. O que pode ser
observado no gráfico a seguir.
34
8%
8%
Sim
Sim, superficialmente
Não lembra
84%
A discussão de ideias pode vir a trazer o surgimento de inovações, nas quais podem ser
encontrados possibilidades na busca por melhorarias no processo de ensino e aprendizagem. Uma
das compreensões que tivemos ao interpretar o que nos foi respondido diz respeito a um paralelo
entre o que foi ressaltado pelos docentes em exercício, e os futuros docentes. Observa -se que
54% dos professores que estão atualmente em sala de aula responderam que participaram de
pelo menos um debate sobre interdisciplinaridade na educação durante sua graduação, a
porcentagem de alunos do curso de matemática do CERES/Caicó que disseram ter participado
de debates durante sua formação foi de 93%, há a possibilidade que os discentes tenham
vivenciado experiências com atividades envolvendo a interdisciplinaridade ao longo do curso.
A quinta pergunta novamente aborda a formação dos futuros professores, dessa vez é
relacionada a questão prática. Foi perguntado:
e) Você teve alguma aula interdisciplinar no curso de licenciatura em Matemática?
O gráfico cinco (05) destaca as respostas dos entrevistados:
35
4%
8%
Não
Sim
50%
Não Lembra
38% Mais ou menos
Ao analisar as respostas, percebe-se que não ouve unanimidade, apesar de uma vantagem
considerável para o “não” em relação ao “sim”. Esses são dados que nos apontam algumas
possibilidades, visto que, os entrevistados são discentes de diferentes turmas, ou seja, um aluno
que ingressou no curso em 2014 pode ter tido experiências diferentes com esse tema do que um
que ingressou em 2019, à exemplo. O segundo fator que pode ser o motivo principal dessa
discordância de dados é a maneira que cada aluno enxerga interdisciplinaridade, isso é nítido nas
conclusões das respostas dessa questão, dos 38% que afirmaram ter participado de aulas
interdisciplinares durante o curso, grande parte afirmou ter acontecido nas disciplinas
pedagógicas onde foram citadas Psicologia da Educação, Estágio Supervisionado e a disciplina
de Didática, onde o professor ministrante de cada disciplina proporcionou uma aula
interdisciplinar unicamente com seus próprios conhecimentos em áreas distintas. Já os 50% que
afirmou negativamente, pode ter uma visão que para acontecer aulas interdisciplinares é
importante ter a presença de professores das áreas envolvidas na temática a ser discutida.
A sexta pergunta foi feita a respeito das vantagens do uso da interdisciplinaridade como
metodologia facilitadora na educação. Foi indagado:
f) Em sua opinião quais as vantagens desse tipo de aula?”
36
Mais uma vez, por se tratar de uma indagação que aborda um grande campo de visão, o
pesquisador desse trabalho decidiu descrever as 26 respostas que nos foi dada, as quais são
destacadas a seguir.
Esse tipo de aula possui muitas vantagens, como por exemplo: melhor
processo de assimilação, por parte dos alunos, do conteúdo; maior
engajamento/participação dos estudantes; uma maior diversidade de
conhecimento; maior atenção nas aulas por parte dos alunos.
Muito boas, pois iriam apresentar muitos benefícios como por exemplo
a história dos números em matemática.
O aluno pode ter uma visão diferente sobre aquilo que irá aprender
durante a aula.
Como pode ser observado, as opiniões são diversas, várias vantagens citadas pelos
discentes do curso de matemática, mas de forma geral a interdisciplinaridade é vista e
38
Dos 26 alunos entrevistados, 12 responderam que as aulas interdisciplinares não têm nenhuma
desvantagem, os outros 14 citaram que teria sim dificuldades e desvantagens nas aulas no formato
interdisciplinar. Sendo estas:
A única desvantagem que vejo é que como o tempo de aula é curto para
ministrar o conteúdo, esse tempo ficará mais reduzido.
Não diria desvantagem, mas sim dificuldade. Pois há assuntos que não
cabem em todas as áreas.
Como pode ser visto, a maior desvantagem citada pelos entrevistados refere-se as
dificuldades no planejamento de aulas interdisciplinares, como pontuado também pelos atuais
docentes na primeira parte da pesquisa. Outro ponto ressaltado se refere ao tempo, visto que em
virtude da sua carga de horas sobra pouco tempo para planejar com outros colegas, fazer pesquisa,
realizar estudos coletivos, o que vem a dificultar o desenvolvimento de aulas dessa natureza.
A oitava pergunta foi intencionada a perspectiva para o futuro, foi indagado:
15%
Sim
12%
Claro ou com certeza
Possívelmente ou Provavelmente
73%
Esses dados nos mostram que provavelmente a interdisciplinaridade estará cada vez mais
presente nas aulas de matemática. Alguns alunos argumentaram em suas respostas o que os
motivariam a planejar aulas interdisciplinares. Segue as respostas que mais chamaram a atenção
do pesquisador:
Com certeza, pois como cada aluno possui um interesse maior em
diferentes disciplinas, esse tipo de aula se torna essencial para uma
melhor atenção dos mesmos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O reforço do estudo aplicado entra de forma positiva na vida dos alunos, pois eles
desenvolvem um meio de sempre praticar as matérias em horários opostos ao estudo em
si, dessa forma retiram as principais dúvidas e elaboram um método novo na sua própria
pratica assim setor na mais simples estudar algo complexo. (PATANO; RINQUE;
NASCIMENTO, 2017 p.49)
É importante também ressaltar ainda a falta de vontade de inovar de alguns docentes, que
pode ser explicada por uma série de motivos: desestímulo financeiro e profissional, medo da
inovação, e até mesmo o engesso do sistema educacional que apesar de propor em seus documentos
oficiais metodologias novas como a interdisciplinaridade, muitas vezes na realidade não permite
essa inovação devido as exigências de cumprimento de conteúdos.
Para uma aula interdisciplinar na educação básica acontecer é ideal que se tenha a presença
de professores das diferentes disciplinas participantes, pois quando um professor de matemática
usa uma aplicação dessa ciência em outra, como exemplo em sua aula, não é um elo de mão dupla,
e sim apenas uma aplicação da matemática no cotidiano, o que não se caracteriza uma aula
interdisciplinar. Os professores de matemática que são licenciados em outra disciplina e lecionam
essas duas matérias na mesma escola, podem expor uma aula interdisciplinar sozinhos, esse tem
uma maior facilidade para propor aulas interdisciplinares pois o planejamento é facilitado, mas
esses casos são raros. Os demais professores que ensinam exclusivamente matemática, para
planejar aulas interdisciplinares tem que estar abertos ao diálogo antes de mais nada, ter em mente
temas transversais entre a matemática e as outras disciplinas, pois as aulas não podem ser escassas
de conteúdo matemático, e um objetivo claro e bem definido já antes do planejamento com
professor da outra disciplina, pois isso minimiza o tempo do planejamento. Durante o
planejamento é escolhido o formato da aula, matérias, recursos didáticos e até mesmo o ambiente
que pode ser ou não a própria sala de aula.
Por fim, através das respostas dos docentes que estão lecionando e dos discentes do curso
de licenciatura em matemática, podemos concluir que essa temática está sendo abordada
atualmente nas escolas públicas e também é um tema debatido entre os futuros professores de
matemática, vimos que para eles a interdisciplinaridade é uma metodologia inovadora, que é
compreendida de diversas formas e que pode ser um fator facilitador do ensino-aprendizagem.
Através dos questionários notamos ainda as principais dificuldades relatadas e a importância do
diálogo entre os docentes para que possam acontecer aulas interdisciplinares.
45
6 REFERÊNCIAS
LEIS, Héctor Ricardo, Sobre o conceito de interdisciplinaridade. Docplayer, Sine Loco. 2005.
Disponível em: https://docplayer.com.br/97528-Sobre-o-conceito-de-interdisciplinaridade-hector-
ricardo-leis.html Acesso em: 31/05/2022
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 82ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
SAVIANI, Dermeval, Pedagogia histórico critica. 11ª ed. Campinas: Autores Associados, 2012.
SILVA, Maria de Fatima Gomes da; SANTANA, Iolanda Mendonça de, Interdisciplinaridade
nas práticas docentes de professoras da educação básica. Periodicos, Sine Loco. 2020.
Disponível em:
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ImagensEduc/article/view/51145/751375150504. Acesso
em: 01/05/2022.
46
7 APÊNDICES
O senhor(a) acha que a escola pública onde trabalha tem estrutura suficiente e diálogo entre os
docentes de forma a possibilitar algum tipo de trabalho interdisciplinar?
O senhor(a) defende que aulas Interdisciplinares podem proporcionar uma boa dinâmica nas
escolas, e com isso ajudar a atrair a atenção dos alunos?
Na sua opinião, quais as maiores dificuldades que um professor pode enfrentar ao criar aulas
interdisciplinares?
48
Durante o ensino básico, você teve alguma aula no formato interdisciplinar? Se sim, ocorriam
com que frequência? E quais as contribuições que as aulas interdisciplinares trazem para a
aprendizagem dos alunos?
Você gostaria que tivesse acontecido mais aulas interdisciplinares durante sua vida escolar?
No curso de Licenciatura em matemática do qual você é aluno, em alguma aula já foi debatido
sobre interdisciplinaridade?