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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E APLICADAS - DCEA


CURSO DE MATEMÁTICA – LICENCIATURA

IALESSY KEWEN SARAIVA SANTIAGO

INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE MATEMÁTICA DA EDUCAÇÃO


BÁSICA

Caicó – RN
2022
IALESSY KEWEN SARAIVA SANTIAGO

INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE MATEMÁTICA DA EDUCAÇÃO


BÁSICA

Trabalho de conclusão de curso apresentado a


Licenciatura em Matemática do Departamento de
Ciências Exatas e Aplicadas, DCEA, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, campus de
Caicó, RN.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Maroni Lopes.

Caicó – RN
2022
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Santiago, Ialessy Kewen Saraiva.


Interdisciplinaridade nas aulas de matemática da educação
básica / Ialessy Kewen Saraiva Santiago. - 2022.
48f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande


do Norte, Centro de Ensino Superior do Seridó/CERES,
Licenciatura em Matemática, Caicó-RN, 2022.
Orientadora: Dra. Maria Maroni Lopes.

1. Interdisciplinaridade - Monografia. 2. Aulas de matemática


interdisciplinares - Monografia. 3. Professores de Matemática -
Monografia. I. Lopes, Maria Maroni. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 51

Elaborado por Raimundo Muniz de Oliveira - CRB-15/429


IALESSY KEWEN SARAIVA SANTIAGO

INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE MATEMÁTICA DA EDUCAÇÃO


BÁSICA

Aprovada em:___/____/2022

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Maroni Lopes
Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

_______________________________________________________
Prof. Me. José Melinho de Lima Neto
Membro Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

_______________________________________________________
Prof. Esp. Jonimar Pereira de Araújo
Membro Externo
Escola Estadual Professor Antônio Aladim de Araújo - EEAA

_______________________________________________________
Suplente interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Dedico este trabalho de conclusão à minha avó
materna, Zilda Saraiva de Oliveira (in memoriam),
que sempre foi a minha maior incentivadora.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por Ele permitir minha chegada até aqui e por sempre me
guiar durante toda a vida; também agradeço a Virgem Maria, mãe de Jesus, minha Santa de
devoção, por me auxiliar durante todo o curso.
Minha gratidão a toda minha família, em especial aos meus pais Sales Santiago e Edinete
Saraiva, que sempre me apoiaram incondicionalmente desde o início da minha jornada acadêmica.
Agradeço também a Mayara Silva e aos meus irmãos José Iaconny, Iarley Kaiky, Wesley
Saraiva e Luan Saraiva por todo apoio. Vocês são minha base!
Também expresso minha gratidão a todos os meus amigos de infância e dos tempos de
escola que sempre torceram por mim, aos meus colegas de faculdade: Jordana, Andressa,
Douglas, Murilo, Marcilio, Rayane, Wagner, Weverton e todos os demais colegas das turmas
de 2017.1 e 2018.1, todos vocês foram fundamentais para a minha conclusão do curso. Agradeço
ao grande amigo Luiz Fernando, que sempre se dispôs a ajudar aos alunos da minha turma, tirando
dúvidas dos conteúdos durante os primeiros anos de curso.
Sou grato a todos os professores do curso de matemática, que durante todos os anos de
curso contribuíram com maestria para minha formação, especialmente à minha orientadora Maroni
Lopes, por todos os ensinamentos e por toda a paciência.
Meu muito obrigado a todos que contribuíram direta e indiretamente para minha conclusão
do curso de licenciatura em matemática. Deus abençoe a todos!
RESUMO

A interdisciplinaridade é um conceito que busca a intersecção de conteúdos de duas ou mais


disciplinas. Este trabalho busca analisar se a interdisciplinaridade está chegando as salas de aulas
de matemática das escolas públicas e como os professores e futuros professores de matemática
enxergam essa temática. Portanto, temos o seguinte questionamento como pergunta de pesquisa:
como docentes e futuros docentes de matemática compreendem a interdisciplinaridade, e quais
possíveis limitações e possibilidades de seu uso em sala de aula da educação básica? Entre os
objetivos específicos desse estudo temos a aplicação de dois questionários, um com os professores
de matemática que lecionam em escolas públicas de algumas cidades dos estados do Rio Grande
do Norte, Paraíba e Ceará. E um segundo questionário com os alunos do Curso de Licenciatura em
Matemática do Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Caicó. Para o embasamento teórico
foi feita uma revisão de literatura onde destacamos os seguintes autores: Hilton Japiassu (1976),
Ivani Fazenda (1979), (1994), (1998); Juares Thiesen (2008), Fabrício Pantano, Letícia Rinque e
Douglas do Nascimento (2017), Maria da Silva e Iolanda de Santana (2020). Através das respostas
dos docentes e dos alunos do curso de matemática do CERES, podemos concluir que a
interdisciplinaridade pode ser um meio importante de atrair alunos que geralmente são
desinteressados pela disciplina de matemática, sendo um tema em alta entre os docentes e futuros
docentes mas que os mesmos sentem dificuldade em propor esse tipo de aula por alguns motivos,
entre eles a aceitação dos outros profissionais para o trabalho em conjunto e a dificuldade de
planejar aulas nesse formato.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Aulas de matemática interdisciplinares. Professores de


Matemática.
ABSTRACT
Interdisciplinarity is a concept that seeks the intersection of content from two or more disciplines.
This work seeks to analyze whether interdisciplinarity is reaching public school mathematics
classrooms and how teachers and future mathematics teachers see this issue. Therefore, we have
the following question as a research question: how do teachers and future teachers of mathematics
understand interdisciplinarity, and what are possible limitations and possibilities of its use in the
basic education classroom? Among the specific objectives of this study we have the application of
two questionnaires, one with mathematics teachers who teach in public schools in some cities in
the states of Rio Grande do Norte, Paraíba and Ceará. And a second questionnaire with the students
of the Degree in Mathematics of the Higher Education Center of Seridó – CERES/Caicó. For the
theoretical basis, a literature review was carried out, highlighting the following authors: Hilton
Japiassu (1976), Ivani Fazenda (1979), (1994), (1998); Juares Thiesen (2008), Fabrício Pantano,
Letícia Rinque and Douglas do Nascimento (2017), Maria da Silva and Iolanda de Santana (2020).
Through the responses of teachers and students of the mathematics course at CERES, we can
conclude that interdisciplinarity can be an important means of attracting students who are generally
disinterested in the discipline of mathematics, being a hot topic among professors and future
professors but who they find it difficult to propose this type of class for some reasons, including
the acceptance of other professionals to work together and the difficulty of planning classes in this
format.

Keywords: Interdisciplinarity. Interdisciplinary math classes. Mathematics Teachers.


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: A Temática Interdiciplinaridade Debatida na Graduação..............…………………..23


Gráfico 2: Professores Que Desenvolveram Aulas Interdisciplinares...........................................25
Gráfico 3: Alunos Que Tiveram ou Não Aulas Interdisciplinares no Ensino Básico....................32
Gráfico 4: Debates Sobre Interdisciplinaridade no Curso de Licenciatura em Matemática do
CERES/Caicó…………………………………………………………………………………….34
Gráfico 5: Alunos Que Tiveram Aulas Interdisciplinares Durante o Curso de Licenciatura em
Matemática do CERES/Caicó……………………………………………………………………35
Gráfico 6: Futuros Docentes Que Pretendem Planejar Aulas Interdisciplinares Quando Estiverem
Lecionando ……………………………………………………………………………………...40
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................9
2 ARGUMENTOS TEÓRICOS: INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE
MATEMÁTICA .........................................................................................................................................12
2.1 Contexto Histórico: o Surgimento do conceito de Interdisciplinaridade e sua chegada ao
Brasil ...........................................................................................................................................................12
2.2 As diferentes maneiras que alguns autores dessa temática definem a Interdisciplinaridade...14
2.3 O que diz os Documentos Oficiais Nacionais sobre a Interdisciplinaridade na Educação? E no
Ensino de Matemática?........................................................................................................................17
3 METODOLOGIA: A INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS PELA ÓTICA DE
PROFESSORES E FUTUROS DOCENTES DE MATEMÁTICA ......................................................21
4 CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES SOBRE A INTERDISCIPLINARIDADE:
COMPREENSÕES E INTERPRETAÇÕES...........................................................................................23
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................42
6 REFERÊNCIAS .............................................................................................................................45
7 APÊNDICES ...................................................................................................................................47
9

1 INTRODUÇÃO

A educação está inserida em qualquer sociedade desenvolvida, essa relação é tão próxima
que um termo é praticamente sinônimo do outro. Partindo desta premissa, vemos que com a
evolução da humanidade, os sistemas de ensino e aprendizagem foram se transformando, mudando
formas e conceitos. A escola como espaço formal da educação não pode ficar fora das mudanças.
Atualmente, as modificações não acontecem apenas nas áreas de conhecimento, mas também na
forma de transmitir e reger o saber. As metodologias implementadas em sala de aula estão variando
cada vez mais, de modo que parte significativa dos professores testam meios inovadores
objetivando chamar a atenção dos alunos, que hoje, século XXI, estão acostumados com
smartphones, tablets, notebooks, de última geração, e assim ter meios tão fáceis e atrativos para a
busca do conhecimento. Uma das formas que geram grandes debates na atualidade e é considerado
por muitos um meio de deixar as aulas atrativas é a interdisciplinaridade, que traz em sua essência
a mescla de disciplinas, levando para a sala de aula a aplicabilidade de uma área de conhecimento
na outra e vice-versa.
Desde o início do curso de licenciatura em matemática, o pesquisador deste trabalho se
preocupava com suas futuras aulas, sempre pensando até qual ponto o ensino tradicional pode ser
uma escolha acertada para se dar uma boa aula. O mesmo tinha em mente que mostrar as
aplicabilidades da matemática no mundo e no cotidiano poderiam servir como um imã,
possibilitando ao alunado ter mais concentração em suas aulas posteriormente. Um certo dia, na
aula da disciplina de Estágio Supervisionado de Matemática II, começou um debate sobre como
deixar as aulas de matemática mais prazerosas, em meio a tal debate, o pesquisador lembrou da
interdisciplinaridade, e quando foi defender seu ponto de vista, usou como argumento que a
matemática estava em todos os lugares, como na geografia, no uso de escalas nos mapas
cartográficos, o plano cartesiano no estudo de coordenadas geográficas, e que nesses exemplos,
essa ideia poderia chamar a atenção de um estudante que se identifica com a área de humanas e
rejeita antecipadamente qualquer conteúdo matemático, atraindo uma pessoa que geralmente é
desmotivada com as aulas de matemática. A partir desse dia, o tema do trabalho de conclusão de
curso do pesquisador estava sendo delineado.
Grande parte dos alunos do ensino básico têm uma visão errônea da matemática, vendo essa
ciência apenas como algo fixado, cheio de regras e o estudo de diversos assuntos dessa disciplina
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sem sentido para sua vida e assim, perdem o interesse pelas aulas. “Diante disso, surge a
importância de se integrar a Matemática a diversas outras áreas de conhecimento e,
consequentemente, ao entendimento do conceito de interdisciplinaridade dentro do plano de estudo
das escolas” (PASSOS, 2021, p. 8)
Desse modo, ao ter a possibilidade de escrever um texto de conclusão de curso na
Licenciatura em Matemática, este entendeu a relevância de pesquisar sobre a interdisciplinaridade
na sala de aula de matemática. Para tanto, se fez necessário a realização de uma revisão de literatura
tendo como perspectiva compreender o que já estava sendo publicado na literatura nacional e
internacional. Assim, foi realizada uma busca em bancos de Teses e Dissertações, portais de
periódicos, entre outros.
Dentre os textos encontrados, temos: Hilton Japiassu (1976); Ivani Fazenda (1979), (1994),
(1998); Juares Thiesen (2008), Fabrício Pantano, Letícia Rinque e Douglas do Nascimento (2017),
Maria da Silva e Iolanda de Santana (2020).
De acordo com o exposto, este trabalho tem como pergunta de pesquisa o seguinte
questionamento: Como docentes e futuros docentes de matemática compreendem a
interdisciplinaridade, e quais possíveis limitações e possibilidades de seu uso em sala de aula da
educação básica?
Desse modo, para responder a essa pergunta de pesquisa traçamos os seguintes objetivos:

Objetivo Geral
Compreender algumas das potencialidades, e possíveis limitações apontadas por docentes
e futuros docentes de matemática no uso da interdisciplinaridade em suas salas de aula.

Objetivos específicos
 Analisar, por meio do diálogo com professores, se a interdisciplinaridade está sendo
desenvolvida nas aulas de matemática na educação básica;
 Realizar um questionário sobre a compreensão de interdisciplinaridade que tem os
professores de matemática do ensino básico;
 Realizar um questionário sobre a compreensão de interdisciplinaridade que tem os
futuros professores.
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Nesse sentido, para a realização do nosso estudo, buscamos nos apoiar em publicações
sobre interdisciplinaridade, entre estas: Interdisciplinaridade e Patologia do Saber-1976,
Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa-1994, Integração e Interdisciplinaridade no
Ensino Brasileiro-1979, Didática e Interdisciplinaridade- 1998, A Interdisciplinaridade como
Movimento de Articulação no Processo de Ensino-Aprendizagem-2008, Interdisciplinaridade em
Educação Matemática Direcionada ao Ensino Médio: Uma Alternativa Eficiente no Ensino
Aprendizado-2017, Interdisciplinaridade nas Práticas Docentes de Professoras da Educação Básica
- 2020.
É indiscutível que a interdisciplinaridade é um tema reconhecido entre os pesquisadores,
educadores das mais diferentes áreas, inclusive entre matemáticos renomados. Mas, e na prática,
será que essa metodologia é utilizada nas salas de aula? Esses e outros questionamentos nos
mobilizaram a estudar de modo mais aprofundado sobre a referida temática.
De modo geral, este trabalho aborda a interdisciplinaridade na educação, focando no ensino
de matemática. Traz a origem desse conceito como movimento, as definições dessa temática do
ponto de vista de autores distintos, uma pesquisa qualitativa com os professores de matemática da
rede pública e alunos do curso de licenciatura em matemática do Centro de Ensino Superior do
Seridó – CERES, Campus Caicó-RN, o qual buscou entender a realidade das salas de aulas de
matemática no que se refere a interdisciplinaridade.
Para melhor situar o leitor deste trabalho, o pesquisador do mesmo decidiu organizá-lo em
cinco capítulos, sendo eles: o primeiro capítulo, que trata da introdução, onde é revelado o que
motivou o título deste trabalho, e consta a pergunta da pesquisa, os objetivos gerais e específicos.
No segundo capítulo abordamos os argumentos teóricos que norteiam nosso estudo, o qual fazemos
um apanhado histórico sobre a interdisciplinaridade, desde o surgimento como movimento, a
chegada desse conceito ao Brasil, as definições desse tema sob o ponto de vista de autores
renomados e o que diz os documentos oficiais da educação brasileira a respeito da
interdisciplinaridade. No que se refere ao terceiro capítulo, optamos uma descrição detalhada do
modo como a pesquisa foi desenvolvida, assim, trazemos uma explicação como se deu os
questionários e público que respondeu. O quarto capítulo relata os dados construídos com a
pesquisa, detalhando e analisando as respostas dadas aos questionários. O quinto e último capítulo
são as considerações finais e as conclusões do trabalho.
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2 ARGUMENTOS TEÓRICOS: INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE


MATEMÁTICA
Esta seção foi dividida em três partes, a primeira aborda o surgimento da
interdisciplinaridade como movimento, seu desenvolvimento epistemológico e pedagógico e a sua
chegada ao ambiente educacional no Brasil. A segunda subseção trata das diferentes visões que
autores dessa temática trazem sobre a definição de interdisciplinaridade e por último, a terceira
subseção apresenta o que diz os documentos oficiais da educação brasileira sobre a
interdisciplinaridade.

2.1 Contexto Histórico: o Surgimento do conceito de Interdisciplinaridade e sua chegada ao


Brasil

A discussão sobre interdisciplinaridade não é recente, a academia tem ao longo de anos


debatido sobre o seu conceito e aplicação, no âmbito científico e educacional. Esse termo tem sido
abordado cada vez mais nas últimas décadas nesses segmentos. Compreender que essa temática
não caiu de paraquedas na educação, saber como foi o surgimento desta e compreender sua
abrangência dentro e fora do ensino é essencial para a aplicação, e entendimento do seu conceito
de forma metodológica nas aulas, em específico nas aulas das disciplinas de matemática.
A interdisciplinaridade surgiu no continente europeu por volta da década de 1960, mais
precisamente nos territórios da Itália e da Espanha, depois de movimentos estudantis protestarem
contra a falta de sintonia entre as disciplinas nos currículos universitários e escolares. “A
interdisciplinaridade aparece inicialmente como tentativa de elucidação, através de professores que
buscavam o rompimento a uma educação por migalhas” (FAZENDA, 1994, p 19). Essa ideia surge
através de uma necessidade, o combate a falta de união e fragmentação das áreas de conhecimento,
e na busca por mais aproximação entre as disciplinas, principalmente as ciências humanas e a
educação.
A pesquisadora Ivani Fazenda (1994) apresenta em seu texto as conclusões dos
pesquisadores a respeito da interdisciplinaridade nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Segundo
Fazenda (1994), podemos dividir os avanços da interdisciplinaridade em três períodos, nas três
décadas citadas. O primeiro período, nos anos de 1970 seria a construção epistemológica, ou seja,
a busca de uma explicação filosófica. O segundo, nos anos de 1980, seria a explicitação dessa
epistemologia, ou seja, a explicação das contradições e explicitação de um método interdisciplinar.
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Já nos anos de 1990, é a tentativa de construção de uma nova epistemologia, que se refere a própria
interdisciplinaridade, isto é, uma definição da teoria da interdisciplinaridade. (FAZENDA, 1994).
Segundo Juares Thiesen (2008), a interdisciplinaridade é geralmente abordada em dois
grandes enfoques principais: epistemológico e pedagógico. O primeiro aborda um conceito teórico
e de entendimento do comportamento humano através da filosofia e da sociologia com uma visão
mais ampla de ligação entre as ciências. A segunda foca nos elos e nas ligações entre as disciplinas
acadêmicas e entre as áreas de conhecimento estudadas nas escolas do ensino básico e
universidades. (THIESEN, 2008).
O conceito de interdisciplinaridade é bem mais abordado no campo das ciências humanas
do que em qualquer outra área de conhecimento, Juares Thiesen (2008) explica o porquê:

A tradição marxista resolveu, em parte, o problema, colocando a historicidade como


fundamento das ciências. Marx afirmava que só existia uma ciência: a História. Assim ele
resolvia a questão da fragmentação. A totalidade não seria alcançada, como queriam os
neo-positivistas, através da interdisciplinaridade, mas através de um referencial comum
que é a história. Desde então, o conceito de interdisciplinaridade vem se desenvolvendo
também nas Ciências da educação. (THIESEN, 2008, p. 89)

A busca para resolver a fragmentação promovida pelas ideias positivistas, encontrou na


interdisciplinaridade soluções. “No ideário positivista, a fragmentação representava uma questão
essencial para o próprio progresso científico. Com a interdisciplinaridade tratou-se de entender
melhor a relação entre o todo e as partes”. (THIESEN, 2008, p. 89).
A chegada do conceito de Interdisciplinaridade ao Brasil aconteceu através do “estudo da
obra de Georges Gusdorf e, posteriormente de Piaget. O primeiro autor influenciou o pensamento
de Hilton Japiassu no campo da Epistemologia e Ivani Fazenda no campo da Educação”.
(THIESEN, 2008, p. 90). A referida obra de Gusdorf foi um grande trampolim para a disseminação
de ideias interdisciplinares, ele apresentou nos anos de 1960 na Unesco, um projeto interdisciplinar
voltado para as ciências humanas, onde buscava uma unificação desse segmento, sendo ele um dos
pioneiros do movimento interdisciplinar.
Hilton Japiassu foi o primeiro brasileiro a produzir um material significativo sobre o tema
aqui abordado, um livro intitulado Interdisciplinaridade e a Patologia do Saber no ano de 1976,
onde criticou o que chamou de “saber em migalhas produzido por uma inteligência esfacelada”.
Nessa obra, Japiassu abordou amplamente a temática de interdisciplinaridade, em uma forma geral,
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nas ciências, nas pesquisas, com relação ao modelo de organização de ensino universitário e
demais.
A também brasileira Ivani Fazenda, foi quem mais desenvolveu trabalhos, que temos
conhecimento, voltados para essa temática com maior objetividade na educação, detalhando do
engatinhar ao andar desse movimento no Brasil. Ela é a mais requerida pesquisadora quando se
trata de interdisciplinaridade na educação, e terá notado espaço durante esse trabalho. Sobre a
chegada da interdisciplinaridade ao Brasil, Fazenda (1994, p. 26) afirma que:

Dois aspectos são fundamentais a serem considerados: o primeiro é o modismo que o


vocábulo desencadeou, passou a ser palavra de ordem a ser empreendida na educação,
aprioristicamente, sem atentar-se para os princípios, muito menos para as dificuldades de
sua realização. Impensadamente tornou-se a semente e o produto das reformas
educacionais empreendidas entre 1968 e 1971 (nos três graus de ensino). O segundo
aspecto é o avanço que a reflexão sobre interdisciplinaridade passou a ter a partir dos
estudos desenvolvidos a partir da década de 1970 por brasileiros. (FAZENDA, 1994, p.
26)

Nas palavras de Ivani Fazenda, observa-se como o conceito abordado foi tratado no Brasil
sem calma e planejamento adequado, como algo feito aos trancos e barrancos, e influenciando o
sistema educacional brasileiro já nas primeiras décadas que aqui chegou. A interdisciplinaridade
na educação brasileira será tratada de forma mais detalhada a partir da subseção 2.3 desse trabalho.
Em linhas gerais, a interdisciplinaridade surge no século XX em âmbitos científico e
educacional quase que ao mesmo tempo, como movimento restaurador de saberes que em tese já
foram unificados e que hoje são fragmentados. As correntes interdisciplinares englobam um grande
espaço filosófico, pois se trata de conhecimento como um todo, das ciências a educação.

2.2 As diferentes maneiras que alguns autores dessa temática definem a Interdisciplinaridade

É comum vermos nas áreas filosóficas, diferentes definições para um mesmo conceito, isso
também acontece com a interdisciplinaridade. Essa temática abrange todas as partes do saber, seja
na parte pedagógica ou científica, dificultando assim uma definição fixa com conceito formal bem
definido. Como citado anteriormente, nessa subseção veremos os diferentes pontos de vista sobre
o que é interdisciplinaridade partindo de autores diferentes.
Primeiramente, antes de definir o que é interdisciplinaridade, é importante ter claro o que é
disciplina. Ao lembrar dessa palavra, costumeiramente vem no pensamento as divisões existentes
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nas escolas de ensino tradicional, noção parecida como a que define Hilton Japiassu. O mesmo
afirma que disciplinaridade “Significa a exploração científica especializada de determinado
domínio homogêneo de estudo, isto é, o conjunto sistemático e organizado de conhecimentos que
apresentam características próprias nos planos do ensino, da formação, dos métodos e das
matérias.” (JAPIASSU, 1976, p. 72)
Tendo a definição de disciplinaridade e a noção do que é disciplina, podemos ver as
diferentes óticas do que se trata a interdisciplinaridade pelo referencial de grandes autores desse
tema.
Ivani Fazenda frisa que a interdisciplinaridade tem inúmeras definições, mas em todas tem
um mesmo princípio e mesmas características. “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela
intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior
de um mesmo projeto de pesquisa”. (FAZENDA, 1979, p.51).
O francês Edgar Morin, durante grande parte de sua vida produziu muitos trabalhos sobre
a transdisciplinaridade, conceito próximo do abordado neste trabalho. Ele enxergava a
interdisciplinaridade como uma tentativa de reconstrução de conceitos abrangentes a várias áreas
que são esmagados pelas disciplinas (MORIN, 1994). Esse mesmo autor ainda via na
interdisciplinaridade um poder de ligação pequeno, do que seria o ideal em relação as áreas do
conhecimento, para ele:
a interdisciplinaridade controla tanto as disciplinas como a ONU controla as nações. Cada
disciplina pretende primeiro fazer reconhecer sua soberania territorial, e, à custa de
algumas magras trocas, as fronteiras confirmam-se em vez de se desmoronar. Portanto, é
preciso ir além, e aqui aparece o termo "transdisciplinaridade”. (MORIN, 1994, p. 135).

Para Morin (1994) a fragmentação do conhecimento é tão maléfica que é preciso ser um
pouco mais radical em relação as ligações entre as disciplinas, radicalidade essa baseada na
transdisciplinaridade. Já o argentino Héctor Leis (2005, p. 9) afirma que: “A interdisciplinaridade
pode ser definida como um ponto de cruzamento entre atividades (disciplinares e interdisciplinares)
com lógicas diferentes.”
Na ótica de Moacir Gadotti (2004), a interdisciplinaridade visa garantir a construção de um
conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. (apud THIESEN, 2008,
p.97).
Para Hilton Japiassu (1976, p.74) “a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade
das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um
16

projeto especifico de pesquisa”. Para este autor a interdisciplinaridade é um caminho de mão dupla,
onde acontece uma reciprocidade para que todas as disciplinas envolvidas ganhem com essa
relação. O mesmo afirma que um projeto interdisciplinar

pode ser caracterizado como o nível em que a colaboração entre as diversas disciplinas ou
entre os setores heterogêneos de uma mesma ciência conduz a interações propriamente
ditas. Isto é, a uma certa reciprocidade nos intercâmbios, de tal forma que, no final do
processo interativo, cada disciplina saia enriquecida. Podemos dizer que nós
reconhecemos diante de um empreendimento interdisciplinar todas as vezes em que ele
conseguir incorporar os resultados de várias especialidades, que tomar de empréstimo a
outras disciplinas certos instrumentos e técnicas metodológicos, fazendo uso dos
esquemas conceituais e das análises que se encontram nos diversos ramos do saber, a fim
de fazê-los integrarem e convergirem, depois de terem sido comparados e julgados.
(JAPIASSU, 1976, p.75)

É muito comum, ver em pesquisas sobre interdisciplinaridade termos semelhantes que leva
a quem pesquisa pensar, pelo menos em primeiro momento, que se trata de sinônimos ou de
conceitos semelhantes, são elas: Multidisciplinaridade, Pluridisciplinaridade e
Transdisciplinaridade. Hilton Japiassu (1976) explica que embora essas palavras pareçam ter o
mesmo significado e sentido de interdisciplinaridade, apresentam comportamentos diferentes entre
as disciplinas.
Devemos afastar como inadequado o termo "multidisciplinar", pois só evoca uma simples
justaposição, num trabalho determinado, dos recursos de várias disciplinas, sem implicar
necessariamente um trabalho de equipe e coordenado. Quando nos situamos no nível do
simples multidisciplinar, a solução de um problema só exige informações tomadas de
empréstimo a duas ou mais especialidades ou setores de conhecimento, sem que as
disciplinas levadas a contribuírem por aquela que as utiliza sejam modificadas ou
enriquecidas. Em outros termos, a démarche multidisciplinar consiste em estudar um
objeto sob diferentes ângulos, mas sem que tenha necessariamente havido um acordo
prévio sobre os métodos a seguir ou sobre os conceitos a serem utilizados. (JAPIASSU,
1976, p. 72 e 73)

Na multidisciplinaridade acontece um trabalho entre representantes de diferentes áreas, mas


cada um faz sua parte sem conexões entre eles e sem a necessidade de um planejamento prévio
entre as partes. Pode-se afirmar que na escola tradicional é uma aplicação da multidisciplinaridade
pois tem um currículo multidisciplinar. Na pluridisciplinaridade acontece algo parecido, também
segundo Japiassu (1976), nessa modalidade ocorre um agrupamento proposital sem interação entre
as disciplinas, mostrando apenas a relação já existente entre elas. Já a Transdisciplinaridade é um
tipo de evolução desses três conceitos citados. Nesse segmento, a interação entre as diferentes áreas
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é tanta que já não existiria fragmentações, formando um único corpo, quebrando assim a ideia de
disciplina. Piaget é apontado como primeiro mentor desse tema.
É importante esclarecer que assim como a interdisciplinaridade, esses três conceitos citados
variam de um autor para outro, não tendo definições fixas, apresentando noções do que realmente
se trata. Vale ressaltar que como esse trabalho tem como objetivo a interdisciplinaridade na
educação matemática, o pesquisador introduziu esse trio de definições a nível de informação, se
baseando no ponto de vista de Hilton Japiassu (1976).
Analisando todas essas definições citadas do que é interdisciplinaridade, podemos ver que
esse termo é um conceito amplo, sem definição fixa, e que é algo em desenvolvimento. Ivani
Fazenda (1994) esclarece isso quando afirma que “é impossível a construção de uma única,
absoluta e geral teoria da interdisciplinaridade, mas é necessária a busca ou desvelamento do
percurso teórico pessoal de cada pesquisador que se aventurou a tratar as questões desse tema”
(FAZENDA, 1994, p. 13). A autora ainda deixa claro que é fundamental se apegar aos pontos
convergentes que os principais pesquisadores refletem acerca da interdisciplinaridade. A escritora
portuguesa Olga Pombo (2003, p.7), vai além, e afirma que “a tarefa de procurar definições finais
para a interdisciplinaridade não seria algo propriamente interdisciplinar, senão disciplinar.” (apud
THIESEN, 2008, p. 91). O objetivo de abordar nessa subseção as diferentes maneiras de entender
a interdisciplinaridade foi esclarecer para os leitores deste trabalho que, mais do que uma definição
exata, o mais importante é ter a noção de que a interdisciplinaridade se trata de uma relação
reciproca entre as disciplinas, com foco organizado, e objetivo bem definido, onde ambos os lados
lucram com o conhecimento e o progresso obtido, onde o conhecimento é abordado de forma
globalizante, e ainda mostrar a tamanha amplitude desse tema.

2.3 O que diz os Documentos Oficiais Nacionais sobre a Interdisciplinaridade na Educação?


E no Ensino de Matemática?

Essa subseção aborda o que diz os documentos oficiais da educação brasileira sobre a
interdisciplinaridade. De início iremos tratar o que fala a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) sobre a interdisciplinaridade, em seguida, abordaremos o que propõe os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) da área de matemática dos anos finais do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio.
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A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento que norteia a educação


brasileira, sendo assegurada pela Lei nº 9.394 - LDB (Lei de Diretrizes e Bases Da Educação
Nacional). A BNCC tem por objetivo garantir o direito da aprendizagem, foi homologada em 20
de dezembro de 2017. Na BNCC o termo “interdisciplinaridade” não se faz presente, mesmo assim,
a Base aborda questões de sentido interdisciplinar. Nela é levantada a importância das decisões das
partes que integram uma escola, professores, as famílias dos alunos, a localização da mesma e
outras. Entre essas decisões cabe a comunidade escolar

decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e


fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais
dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem.
(BRASIL, 2017, p.16)

Fica evidente o quão importante é a decisão dos professores no sentido de organização entre
as disciplinas, ou seja, a união e diálogo entre o corpo docente escolar é fundamental para um
projeto ou uma aula interdisciplinar.
Na área de matemática, mais precisamente na parte que trata dos anos finais do ensino
fundamental, a BNCC destaca que conteúdos como Juros e porcentagem, podem levar aos alunos
as noções de conceitos básicos de economia como a inflação, aplicações financeiras, e outras ideias
que são de fundamental importância para a vida financeira de cada um. Dentro desse contexto de
matemática financeira, o documento citado afirma que:

Essa unidade temática favorece um estudo interdisciplinar envolvendo as dimensões


culturais, sociais, políticas e psicológicas, além da econômica, sobre as questões do
consumo, trabalho e dinheiro. É possível, por exemplo, desenvolver um projeto com a
História, visando ao estudo do dinheiro e sua função na sociedade, da relação entre
dinheiro e tempo, dos impostos em sociedades diversas, do consumo em diferentes
momentos históricos, incluindo estratégias atuais de marketing. (BRASIL,2017, p.265)

Apesar de não detalhar como seria o tal projeto interdisciplinar, é de suma importância um
documento como a BNCC trazer esse tipo de incentivo de projeto interdisciplinar aos professores
de matemática. No exemplo dado pelo documento é levado em consideração a disciplina de
história, mas, deixa em aberto a ideia de projetos dessa natureza, serem desenvolvidos com as
demais disciplinas, é onde entra o poder de decisão dos professores e o planejamento.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), são diretrizes criadas no fim da década de
1990 para orientar um caminho para uma educação de qualidade, apesar de não ter força de lei
19

como a BNCC. Pelo fato de o curso de licenciatura em Matemática dar aptidão ao graduado para
ensinar do 6° ano do Ensino Fundamental até a 3° série do Ensino Médio, iremos ver o que dizem
sobre interdisciplinaridade os Parâmetros de Matemática do terceiro e quarto ciclo que são
referentes ao ensino fundamental dois e em seguida os PCNs de matemática do ensino médio.
Assim, como na BNCC, o termo “interdisciplinaridade” não aparece no texto dos ciclos três
e quatro dos PCNs de matemática, mas esse aborda essa temática de maneira mais profunda do que
o documento anteriormente citado. Iremos ver algumas sugestões feitas por esse documento com
relação a trabalhos interdisciplinares.
Os cuidados com o meio ambiente têm sido bastante trabalhados nas escolas do ensino
básico nas últimas décadas, devido a problemas graves como a poluição das águas e do ar que
agravam o efeito estufa. Devido a essa preocupação, os PCNs de matemática do fundamental dois
propõe que os professores de matemática façam trabalhos interdisciplinares pois esse assunto é
bastante abrangente.
O estudo detalhado das grandes questões do Meio Ambiente poluição, desmatamento,
limites para uso dos recursos naturais, sustentabilidade, desperdício, camada de ozônio
pressupõe que o aluno tenha construído determinados conceitos matemáticos (áreas,
volumes, proporcionalidade etc.) e procedimentos (coleta, organização, interpretação de
dados estatísticos, formulação de hipóteses, realização de cálculos, modelização, prática
da argumentação etc.). (BRASIL, 1998a, p.31).

Esses ciclos ainda abordam como pode ser trabalhado com relação a matemática temas
como cultura e saúde. Isso pode influenciar os professores de matemática a elaborar projetos
interdisciplinares também nesses campos já que assim como o meio ambiente, são conteúdos
amplos que englobam várias áreas.
Os conteúdos do bloco Tratamento da Informação podem ser explorados em projetos mais
amplos, de natureza interdisciplinar, que integrem conteúdos de outras áreas do currículo,
como a História e a Geografia, além da Matemática e os temas como Saúde e Meio
Ambiente. O tema Trabalho e Consumo, por exemplo, é um bom eixo para articular um
desses projetos, uma vez que esse assunto é de grande interesse dos alunos, principalmente
os de quarto ciclo, que começam a tomar algumas decisões em relação ao seu
encaminhamento profissional. (BRASIL, 1998a, p.138)

Nos Parâmetros do Ensino Médio, a área de matemática é abordada na terceira parte,


juntamente com as Ciências da Natureza. Nos PCNs de matemática do ensino médio o termo
“interdisciplinaridade” aparece três vezes ao longo do texto. Nesse documento, esse assunto é bem
mais abordado do que nos demais documentos citados nessa subseção, levando seus leitores a
perceber que existe uma maior preocupação para que durante o Ensino Médio os estudantes vejam
20

uma maior ligação entre as noções matemáticas e as demais áreas do conhecimento. É destacado
que uma das finalidades do ensino de matemática é “estabelecer conexões entre diferentes temas
matemáticos e entre esses temas e o conhecimento de outras áreas do currículo”. (BRASIL, 1998b,
p. 42)
Os PCNs sugerem uma interdisciplinaridade também no sentido de interligar os conceitos
matemáticos a vida cotidiana, ou seja, que a interdisciplinaridade é um importante fator
contribuinte na conexão do conhecimento adquirido pelos alunos durante essa etapa da vida escolar
com suas próprias vivencias fora da escola, ou seja, uma maior aproximação dos conteúdos
estudados com a realidade, o que possivelmente ajuda a atrair a atenção dos alunos nas aulas.

O critério central é o da contextualização e da interdisciplinaridade, ou seja, é o potencial


de um tema permitir conexões entre diversos conceitos matemáticos e entre diferentes
formas de pensamento matemático, ou, ainda, a relevância cultural do tema, tanto no que
diz respeito às suas aplicações dentro ou fora da Matemática, como à sua importância
histórica no desenvolvimento da própria ciência. (BRASIL,1998b, p. 43)

Esses escritos também trazem exemplos de aplicações matemáticas em outras áreas, como
forma de prática interdisciplinar, como no estudo de funções que tem aplicabilidade na geografia,
física e economia.
Cabe, portanto, ao ensino de Matemática garantir que o aluno adquira certa flexibilidade
para lidar com o conceito de função em situações diversas e, nesse sentido, através de uma
variedade de situações problema de Matemática e de outras áreas, o aluno pode ser
incentivado a buscar a solução, ajustando seus conhecimentos sobre funções para construir
um modelo para interpretação e investigação em Matemática. (BRASIL,1998b, p. 44)

É importante notar nessas sugestões o grau de importância que esses documentos expressam
com relação a um ensino interdisciplinar, chegando ao ponto de criticar o ensino tradicional
totalmente fragmentado, “Será preciso, além disso, procurar suprir a carência de propostas
interdisciplinares para o aprendizado, que tem contribuído para uma educação científica
excessivamente compartimentada, especialmente no Ensino Médio” (BRASIL, 1998b, p. 48).
21

3 METODOLOGIA: A INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS PELA ÓTICA DE


PROFESSORES E FUTUROS DOCENTES DE MATEMÁTICA

Este trabalho traz uma pesquisa qualitativa, onde o autor analisa os dados obtidos e faz suas
interpretações e compreensões. A pesquisa foi dividida em duas partes: a primeira trata de uma
conversa com alguns professores que lecionam matemática em escolas públicas estaduais e
municipais de cidades da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, e a segunda parte com alunos do
curso de licenciatura em matemática do Centro de Ensino Superior do Seridó em Caicó-RN
(CERES /Caicó – RN).
A primeira parte da pesquisa foi idealizada para ser desenvolvida com professores do
ensino fundamental e ensino médio que atuam nas diversas áreas do ensino básico, desde que a
maioria fosse professores de matemática, com o objeto de compreender se a interdisciplinaridade
chega as salas de aula de todas as disciplinas, entretanto, uma pesquisa feita dessa forma desviaria
o foco da educação matemática e olharia de maneira geral para a educação básica, englobando
assim um contexto muito amplo e diverso, pois como visto nas seções anteriores desse trabalho, a
interdisciplinaridade abrange muitos aspectos.
A pesquisa foi realizada com 30 professores, sendo 13 de matemática, mas pelo motivo
citado, o pesquisador desse trabalho resolveu fazer a análise dos dados apenas com os professores
da área de matemática. Os docentes que tiveram os dados analisados, atuam nas redes estaduais
da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, e nas redes municipais das seguintes cidades: Brejo do
Cruz-PB, São Bento-PB, Caicó-RN, Natal-RN, Jucurutu-RN e Alto Santo-CE.
A pesquisa busca saber os principais contribuições e dificuldades de uma abordagem
interdisciplinar nas aulas de matemática, e como os atuais profissionais de matemática na educação
básica a enxergam de modo a facilitar o ensino em certos momentos, quais vantagens e
desvantagens, enfim, entender a visão atual de quem vive na realidade das salas de aulas de
matemática das escolas públicas.
Depois das explicações esclarecidas com relação à pesquisa no parágrafo anterior, os
critérios que o pesquisador usou para escolher os professores que iriam ser analisados foram os
seguintes:
a) Lecionar matemática na rede pública de ensino;
b) Trabalhar no Ensino Fundamental, anos finais ou Ensino Médio;
c) Ser licenciado ou estar licenciando matemática.
22

Além desses critérios, o pesquisador buscou professores que eram de seu conhecimento
pessoal para facilitar no recolhimento das respostas.
A primeira parte da pesquisa foi feita através de um formulário do Google1 entre os meses
de fevereiro e maio de 2022, contendo seis perguntas abertas. Os nomes dos professores
entrevistados não serão citados nesse trabalho para assegurar a privacidade de cada um.
Como citado anteriormente, a segunda parte da pesquisa foi feita com alunos do curso de
licenciatura em matemática do Centro de Ensino Superior do Seridó-CERES/Caicó. O pesquisador
deste trabalho, é aluno do referido curso, e sempre debateu com seus colegas maneiras de levar às
salas, aulas mais prazerosas e atrativas, manifestou-se, então, a curiosidade sobre o que eles (alunos
do curso), achavam da interdisciplinaridade. Desse ponto, surgiu a ideia de elaborar uma pesquisa
com esses, afim de saber de forma detalhada o que cada um pensa sobre aulas interdisciplinares,
sobre experiências com o tema além de claro, projeções para o futuro. A segunda parte da pesquisa
foi feita com 26 alunos do curso de Licenciatura em Matemática do CERES/Caicó. O pré-requisito
para responder esse estudo eram:
a) Ter pelo menos 6 semestres de vivência no referido curso;
b) Está matriculado no curso no semestre 2022.1

Igualmente a primeira, a segunda parte da pesquisa foi feita através de um formulário do


Google, contendo oito perguntas abertas. As respostas foram recolhidas entre os meses de março e
maio de 2022. Os alunos entrevistados ingressaram no curso entre os anos de 2014 e 2019, o que
possibilitou recolher respostas e visões diferentes sobre o tema em estudo. Também a exemplo da
primeira parte, os alunos não terão seus nomes divulgados para assegurar a privacidade de todos.
Ao final de toda a pesquisa, pôde ser colhidas as compreensões dos atuais docentes, a
formação de cada um a respeito do tema e as dificuldades na aplicação. Da mesma maneira,
também pôde ser percebida a expectativa dos futuros professores de matemática com relação a
interdisciplinaridade e se a temática em questão foi abordada em sua formação. Dessa forma, pode
ser comparado as visões dos profissionais de hoje com a ótica dos futuros professores, a evolução
ou não desse tema nas formações e outras comparações.

1
Serviço gratuito que cria formulários online.
23

4 CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES SOBRE A INTERDISCIPLINARIDADE:


COMPREENSÕES E INTERPRETAÇÕES

Esta seção apresenta os dados obtidos durante toda a pesquisa, análise, interpretação, e
compreensões dos mesmos. Descrevemos cada uma das perguntas dos questionários, tendo em
seguida as respostas que nos foram dadas, e logo após a tabulação, elaboração de gráficos, fazemos
uma breve análise do que foi apresentado. Começando com a primeira parte da pesquisa, realizada
com os docentes que estão atuando no momento.
A primeira pergunta foi relacionada ao debate do tema do nosso estudo entre os docentes,
assim:
a) “O (A) senhor(a) tem discutido com seus colegas sobre interdisciplinaridade?”
O sim foi unanime nas respostas, mostrando que realmente o tema é bastante abordado nas
escolas atualmente, pelo menos no que se refere ao debate sobre esse assunto, revelando que essa
temática não ficou presa apenas nos livros de pesquisadores desse segmento. Alguns professores
foram além do sim, um afirmou que é um tema recorrente, outro disse: “em boa parte dos
planejamentos discutimos a respeito de atividades que envolvam várias disciplinas.”
A segunda pergunta foi referente a formação dos docentes que estão atualmente em sala
de aula, foi questionado:
b) “Interdisciplinaridade foi um tema debatido em sua graduação? Se sim, de que
modo?”

Gráfico 01 - A Temática Interdiciplinaridade Debatida na


Graduação

Não
39% 46%
Superficialmente
Muitas Vezes
15%

Fonte: Dados elaborados pelo pesquisador por meio do Google Forms.


24

Dos 13 entrevistados, seis afirmaram que a interdisciplinaridade nunca foi debatida na


graduação, sete afirmaram que sim. Dos que disseram sim, dois relataram que foi de forma
superficial e os outros cinco detalharam que essa temática foi abordada nas disciplinas
pedagógicas.
Os destaques dessas respostas são que alguns professores chegaram a ver a
interdisciplinaridade de maneira aplicada na graduação e pós-graduação, com aplicações da
matemática em outras áreas e projetos interdisciplinares. Em destaque algumas respostas:

Utilizou -se na física e biologia na aplicação de funções! Principalmente


no Mestrado. São várias as possibilidades de aplicação no campo do
ensino da Matemática. Trabalhamos projetos interdisciplinares com as
demais disciplinas da área de ciências da natureza, química, física e
Biologia.

Outra resposta que chamou a atenção do pesquisador foi a que se segue:

A importância de trabalhar as disciplinas de forma coletiva na escola,


essa maneira de ver a interdisciplinaridade vai além da interação entre
as áreas pois leva em conta que a escola é um ambiente social e coletivo.

O terceiro questionamento foi voltado para a situação atual, onde foi perguntado:

c) Desenvolveu ou vem desenvolvendo atividades para a sala de aula de formar


interdisciplinar?

Vale destacar que apenas um professor respondeu não, os demais afirmaram que sim ou
as vezes, conforme ressaltamos no gráfico 02 a seguir.
É importante destacar o alto índice (92%) de professores que responderam que já
desenvolveram aulas interdisciplinares, mostrando que além dos debates entre os docentes, a
interdisciplinaridade está sendo aplicada nas salas de aulas de matemática das escolas públicas.
25

Gráfico 02 - Professores que desenvolveram aulas


Interdisciplinares

8%
8%
Sim
As vezes
Nunca
84%

Fonte: Dados elaborados pelo pesquisador por meio do Google Forms.

Duas respostas se destacaram em especial:

sim, boa parte das atividades envolvendo a disciplina de história.


sim, nas disciplinas de história e geografia.

Essas respostas chamaram a atenção do pesquisador desse trabalho pelo fato dos
entrevistados destacarem relações interdisciplinares da matemática com disciplinas da área das
ciências humanas, quebrando um preceito existente em grande parte da sociedade de que exatas
e humanas não se misturam. Essa prerrogativa cai por terra através da interdisciplinaridade , e
ainda mostra que por meio de projetos ou aulas interdisciplinares é possível atrair alunos que
alto se intitulam “de humanas” a ser atraídos pela matemática.
A quarta indagação foi referente a estrutura das escolas públicas (estrutura física e
materiais didáticos), e a relação entre os componentes do corpo docente. Foi perguntado:

d) O senhor(a) acha que a escola pública onde trabalha tem estrutura suficiente e diálogo
entre os docentes de forma a possibilitar algum tipo de trabalho interdisciplinar?

A respeito da estrutura, a concordância foi quase unânime que as escolas têm sim estrutura
suficiente, apenas um professor falou em meio termo, “mais ou menos”. Esse resultado positivo
26

já era esperado pelo pesquisador pois há muitas maneiras de trabalhar a interdisciplinaridade, no


ambiente físico das escolas e a sala de aula é um desses meios. O que foi ressaltado pelos
professores que responderam essa pergunta foi a segunda parte dela, no que diz respeito ao
diálogo entre os professores, houve os seguintes comentários:

O mais importante da escola não é a estrutura física, mas sim a união


da equipe de profissionais.
Estrutura sim, mas falta mais diálogo entre os docentes e mais apoio da
escola também.

A questão do diálogo é muito oportuna, tendo em vista que a relação entre os professores
é fundamental para colocar em prática qualquer projeto, pois é necessário planejar. Um outro
professor ainda ressaltou a questão da falta de aparelhos tecnológicos nas escolas públicas que
possibilitaria ainda uma melhor interação entre as disciplinas.
Na quinta pergunta foi abordado a interdisciplinaridade como meio de motivação dos
alunos nas aulas de matemática. Como citado anteriormente, um dos motivos que levou o
pesquisador a escolher o tema desse trabalho.
A pergunta em questão foi:

e) O senhor(a) defende que aulas Interdisciplinares podem proporcionar uma boa


dinâmica nas escolas, e com isso ajudar a atrair a atenção dos alunos?

Todos os professores responderam que sim, que esse pode ser um caminho para deixar as
aulas de matemática mais atrativas. Destacamos as seguintes respostas:

Sim. Chega a chamar mais a atenção dos alunos, pois é algo que os
mesmos não estão tão acostumados a praticar. Além disso, os mesmos
podem se sentir até mais desafiados.
Sim. É notório a satisfação dos alunos diante de aulas interdisciplinares,
são mais participativos e apresentam melhor aprendizagem. (Falas dos
Docentes entrevistados)

Outro professor citou que fez aulas de resolução de questões interdisciplinares, visando
à preparação de alunos do ensino médio para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), o
que é mais uma ideia de aplicação da interdisciplinaridade na educação básica.
27

A sexta e última pergunta dessa primeira parte da pesquisa, teve grande relevância em
nosso estudo, pois, com ela se pode perceber a visão dos professores com relação as dificuldades
de se aplicar um projeto ou aula interdisciplinar. Foi perguntado aos professores:

f) Na sua opinião, quais as maiores dificuldades que um professor pode enfrentar ao


criar aulas interdisciplinares?

Pelo fato de se tratar das possíveis barreiras que podem impossibilitar os professores de fazerem
aulas interdisciplinares, o pesquisador resolveu listar todas as respostas. Sendo estas destacadas
a seguir:

1) Formação continuada.
2) A não familiarização com outras áreas que não seja a de sua
formação.
3) Encontrar parcerias dispostas a colaborar.
4) A maior dificuldade é exatamente outro colega de trabalho
concordar com a aula, pois dificilmente querem interdisciplinar com
Matemática.
5) Ambiente de trabalho e falta de formação.
6) O planejamento, pois acontece por área e, na maioria das vezes, não
temos contato para conversar e planejarmos de forma mais coerente.
7) A falta de formação continuada e principalmente a falta de incentivo
público na formação dos docentes.
8) O comodismo e o medo de criar metodologias novas para dentro da
sala de aula.
9) Horários para a elaboração do projeto, a falta de comprometimento
dos alunos e a falta dos recursos didáticos.
10) Os próprios professores. Muitos tem a cabeça voltada só para sua
própria disciplina.
28

11) Apropriação de conhecimentos referentes a outras disciplinas e falta


de formações continuadas adequadas que promovam o incentivo à
essa prática.
12) Às vezes os professores não querem sentar-se para planejar. E tem a
incompatibilidade de horários.
13) Um planejamento coletivo sistemático, e compatibilizar os horários
dos professores para esse planejamento coletivo. (Compreensão dos
docentes entrevistados)

Como pode ser visto, a maior dificuldade citada pelos professores é o planejamento entre
os colegas das diferentes áreas, os motivos que justificam a falta desse planejamento são vários,
entre eles: a falta de diálogo entre os docentes; como já foi relatado nas respostas da quarta
pergunta, a disponibilidade de cada um, pois a maioria dos professores trabalham em mais de
uma escola, e até mesmo o medo de tomar a iniciativa para inovar em suas aulas. Esse temor ou
rejeição de alguns professores é relatado por FAZENDA (1998): “existe um preconceito em
aderir à interdisciplinaridade. Ela quase sempre é tida como uma aventura, ou um diletantismo, e
aderir a ela parece ser rejeitar a especialização.” (FAZENDA, 1998, p. 91)
A falta de formação continuada é outro ponto bastante citado, isso pode ser justificado
pelo fato de aproximadamente 46% dos professores entrevistados nunca terem participado de
um simples debate sobre interdisciplinaridade em suas graduações, dificultando os cenários de
discussão sobre a interdisciplinaridade na educação depois de formados.

Entrevista com futuros professores, alunos da Licenciatura em Matemática do


CERES/Caicó – RN

Neste subtópico será descrito os resultados da parte dois da pesquisa, na qual foi
realizada com os alunos do curso de Licenciatura em Matemática do CERES/Caicó. Essa parte
do estudo buscou entender como enxerga os futuros docentes a respeito da interdisciplinaridade,
a experiência, vivências que eles têm com o tema enquanto alunos do ensino básico e também
na graduação. A descrição dos dados e análise dos mesmos serão feitas da mesma forma que na
primeira parte.
29

A primeira pergunta foi em relação à maneira que cada um entende a


interdisciplinaridade. Foi perguntado:

a) Como você compreende a interdisciplinaridade na educação básica?

As respostas foram as mais diversas. Por ser uma pergunta que proporciona respostas tão
abrangentes, o pesquisador decidiu descrever cada uma delas, as quais são apresentadas a seguir:

Um processo necessário e uma ferramenta importante no processo de


aprendizado.

Quando você consegue relacionar o conteúdo de uma disciplina em outras


diferentes.

Uma forma de trabalhar diversas disciplinas que envolvem um


determinado assunto em uma determinada aula.

Duas ou mais disciplinas, trabalhando em conjunto.

Uma maneira de relacionar disciplinas e ver o conhecimento com outra


perspectiva.

A interdisciplinaridade na educação básica pode ser entendida como uma


forma de aprimorar o processo de ensino e aprendizagem, seja da
matemática, seja de qualquer outra área do conhecimento. Ela possibilita
uma ligação, uma relação, uma junção das diferentes áreas do
conhecimento em um sentido de completude, ou seja, cada área contribui
com sua singularidade para o conhecimento como um todo, seja na
Matemática, na Filosofia, na História, na Física, na Química, no
Português, na Biologia.

Uma aula em que um determinado assunto é mostrado para a turma em


que envolva duas ou mais disciplinas distintas que eles possuem no ensino
básico.

Compreendo que é importante para o melhor desenvolvimento de


conteúdos que envolve várias linhas de raciocínio. Exemplo disso podemos
citar a matemática, que está envolvida quase que por completo com a
física.

Essencial para um bom aprendizado.


30

Ensinar a matemática por conhecimentos da vivência do aluno e de temas


variados.

Relacionar duas ou mais disciplinas.


Em uma escola já presenciei e acho superinteressante.

Bastante importante, através dela os alunos aprendem noções que


determinados conteúdos têm aplicabilidades em várias áreas, não só na
área ministrada.

É uma prática onde educadores mesclam conteúdos diferentes e também


de áreas ou disciplinas diferentes a fim de possibilitar uma melhor
aprendizagem.

Compreendo como algo que estabelece relações entre as disciplinas.

Uma estratégia muito boa para o ensinamento dos jovens


.
Fundamental, principalmente para mostrar como as disciplinas se
completam e como elas dependem umas das outras quanto aos seus
conteúdos.

Uma maneira dinâmica e interativa de repassar os conteúdos e dar


significado para eles, tendo em vista que, na maioria das vezes os
estudantes não percebem que os assuntos estudados em determinada
disciplina, estão presente em diversas áreas.

Como a interpretação de conteúdos sob visões diversas, sejam elas dos


aspectos social, matemático, histórico, biológico, entre outros.

A interdisciplinaridade é a combinação da matemática com outras áreas


de ensino, como uma forma de contextualizar o conteúdo matemático com
situações mais próximas da realidade.

Uma forma de facilitar o conhecimento e a utilização do mesmo em


diversas áreas. Uma nova forma de unir os demais temas assim tratados
na educação básica.

É uma ferramenta de ensino que facilita ao aluno compreender o assunto


com mais facilidade, gerando assim um aproveitamento maior das aulas.

Algo muito importante, pois ajuda o aluno a compreender que o conteúdo


ministrado em sala realmente está presente em nosso cotidiano de diversas
maneiras e situações.

Como uma forma de fazer com que os alunos consigam relacionar um


mesmo assunto com várias disciplinas.
31

Essencial.

Compreendo como a reunião de diferentes disciplinas da grade da


educação básica no ensino de algum conteúdo. Como por exemplo, no
ensino do conteúdo matemático de estatística, envolver as disciplinas de
geografia, história, biologia, sociologia para a exemplificação e situações
problema envolvendo estatística. (Compreensões dos futuros docentes)

Como pode ser observado, grande parte dos entrevistados deu sua definição do que se
tratava interdisciplinaridade na educação, citando a junção de duas ou mais disciplinas com um
objetivo comum. Pode se perceber que quase todos apresentaram noções relevantes do que trata a
interdisciplinaridade na educação, algumas falas aparecem em concordância com os pesquisadores
que adotamos em nosso referencial teórico. Alguns entrevistados foram além do que estava sendo
perguntado, e destacaram a interdisciplinaridade como um importante meio para o
desenvolvimento do ensino e aprendizagem, os quais argumentaram a respeito das aplicações
matemáticas no cotidiano e nas demais disciplinas, o que consideramos de grande relevância, pois,
por ser uma área que compõe as disciplinas da base , a matemática está inserida praticamente em
todos os segmentos do conhecimento, tornando um pouco mais fácil para os professores de
matemática encontrar temas transversais para a aplicação da interdisciplinaridade com as demais
disciplinas.
A segunda pergunta foi relacionada ao ensino básico de cada um dos discentes do curso de
matemática. Foi perguntado:
b) Durante o ensino básico, você teve alguma aula no formato interdisciplinar? Se sim,
ocorriam com que frequência? E quais as contribuições que as aulas interdisciplinares
trazem para a aprendizagem dos alunos?

Dos 26 entrevistados, 15 responderam que nunca tiveram, 5 que não lembram, 4 que
chegaram a ter, mas de forma rara e apenas 2 afirmaram que as aulas interdisciplinares ocorriam
com maior frequência. O que pode ser observado no gráfico a seguir:
32

Gráfico 03 - Alunos Que Tiveram ou Não Aulas


Interdisciplinares no Ensino Básico

19%
Nunca

8% Poucas
Várias
58%
15% Não Lembra se teve

Fonte: Dados elaborados pelo pesquisador por meio do Google Forms.

Ao compararmos os dados que essas respostas nos fornecem com os das respostas da
terceira pergunta da primeira parte da pesquisa, a qual foi realizada com os professores em
exercício, estes ressaltam que desenvolveram alguma aula interdisciplinar. Enquanto os discentes,
futuros professores, o correspondente a 58%, responderam que nunca participaram de aulas
interdisciplinares durante o ensino básico.
Em relação a segunda parte dessa pergunta, as respostas foram bem diversificadas, seguem
as que compreendemos aproximarem-se dos objetivos do nosso estudo:

Acredito que a interdisciplinaridade facilita o ensino e a aprendizagem de


todas as disciplinas, tendo em vista que no nosso cotidiano as disciplinas
estão ligadas, por exemplo, não conseguimos saber qual o melhor trajeto
para chegar em um determinado local sem a Matemática e a geografia, em
especial.

Enxergar que cada disciplina não está separada uma da outra, e todos
poderiam trabalhar em conjunto, com um determinado conteúdo.

As aulas interdisciplinares podem trazer muitos benefícios para os


discentes já que a partir delas os alunos podem associar conteúdos que
para eles, somente aquele conteúdo isolado poderia não ter sentido algum.
33

Uma das contribuições é outra forma de ensinar o conteúdo, e caso algum


aluno não entendeu da forma que um professor ensinou então ele vai ter a
oportunidade de aprender de outra maneira.

As aulas eram muito interessantes, principalmente quando professores de


outras disciplinas "invadiam" a aula, ajudou a perceber como um conceito
não é rígido, há diversas possibilidades e caminhos no conhecimento.
(Compreensões dos futuros docentes)

Assim como a segunda pergunta, o terceiro questionamento também foi relacionado ao


ensino básico dos alunos. Foi questionado:

c) Você gostaria que tivesse acontecido mais aulas interdisciplinares durante sua vida
escolar?

Em um universo de 26 entrevistados, a quase unanimidade respondeu que gostaria de ter


tido a oportunidade de participar de mais aulas interdisciplinares, apenas um entrevistado
afirmou que foi satisfatório o que aconteceu no ensino básico. A justificativa das pessoas que
afirmaram o desejo de ter tido mais aulas no formato interdisciplinar foram que as aulas seriam
mais interessantes, o conteúdo matemático seria visto na prática e que esse tipo de aula
possibilitaria o melhor desenvolvimento do raciocínio lógico.
A quarta indagação foi relacionado a formação dos licenciandos, foi perguntado aos
mesmos:
d) No curso de Licenciatura em matemática do qual você é aluno, em alguma aula já foi
debatido sobre interdisciplinaridade?”.

A grande maioria, o correspondente a 22 alunos, afirmou que sim, dois afirmaram que
foi debatido de maneira superficial, e dois citaram que não lembravam se ocorreu tal debate
durante suas vidas acadêmicas na área da licenciatura em matemática. O que pode ser
observado no gráfico a seguir.
34

Gráfico 04 - Debates Sobre Interdisciplinaridade no Curso de


Licenciatura em Matemática do CERES/Caicó

8%
8%

Sim
Sim, superficialmente
Não lembra

84%

Fonte: Dados elaborados pelo pesquisador por meio do Google Forms.

A discussão de ideias pode vir a trazer o surgimento de inovações, nas quais podem ser
encontrados possibilidades na busca por melhorarias no processo de ensino e aprendizagem. Uma
das compreensões que tivemos ao interpretar o que nos foi respondido diz respeito a um paralelo
entre o que foi ressaltado pelos docentes em exercício, e os futuros docentes. Observa -se que
54% dos professores que estão atualmente em sala de aula responderam que participaram de
pelo menos um debate sobre interdisciplinaridade na educação durante sua graduação, a
porcentagem de alunos do curso de matemática do CERES/Caicó que disseram ter participado
de debates durante sua formação foi de 93%, há a possibilidade que os discentes tenham
vivenciado experiências com atividades envolvendo a interdisciplinaridade ao longo do curso.
A quinta pergunta novamente aborda a formação dos futuros professores, dessa vez é
relacionada a questão prática. Foi perguntado:
e) Você teve alguma aula interdisciplinar no curso de licenciatura em Matemática?
O gráfico cinco (05) destaca as respostas dos entrevistados:
35

Gráfico 05 - Alunos Que Tiveram Aulas Interdisciplinares


Durante o Curso de Licenciatura em Matemática do
CERES/Caicó

4%
8%

Não
Sim
50%
Não Lembra
38% Mais ou menos

Fonte: Dados elaborados pelo pesquisador por meio do Google Forms.

Ao analisar as respostas, percebe-se que não ouve unanimidade, apesar de uma vantagem
considerável para o “não” em relação ao “sim”. Esses são dados que nos apontam algumas
possibilidades, visto que, os entrevistados são discentes de diferentes turmas, ou seja, um aluno
que ingressou no curso em 2014 pode ter tido experiências diferentes com esse tema do que um
que ingressou em 2019, à exemplo. O segundo fator que pode ser o motivo principal dessa
discordância de dados é a maneira que cada aluno enxerga interdisciplinaridade, isso é nítido nas
conclusões das respostas dessa questão, dos 38% que afirmaram ter participado de aulas
interdisciplinares durante o curso, grande parte afirmou ter acontecido nas disciplinas
pedagógicas onde foram citadas Psicologia da Educação, Estágio Supervisionado e a disciplina
de Didática, onde o professor ministrante de cada disciplina proporcionou uma aula
interdisciplinar unicamente com seus próprios conhecimentos em áreas distintas. Já os 50% que
afirmou negativamente, pode ter uma visão que para acontecer aulas interdisciplinares é
importante ter a presença de professores das áreas envolvidas na temática a ser discutida.
A sexta pergunta foi feita a respeito das vantagens do uso da interdisciplinaridade como
metodologia facilitadora na educação. Foi indagado:
f) Em sua opinião quais as vantagens desse tipo de aula?”
36

Mais uma vez, por se tratar de uma indagação que aborda um grande campo de visão, o
pesquisador desse trabalho decidiu descrever as 26 respostas que nos foi dada, as quais são
destacadas a seguir.

Os alunos passam a enxerga a disciplina com outros olhos.

Acredito que interdisciplinaridade contribui bastante para o


desenvolvimento acadêmico e facilitando assim a aplicabilidade dos
conteúdos ensinados.

Um melhor entendimento do conceito faz com que possamos praticar em


sala de aula como docentes.

Vivemos em sociedade, tudo é sistematizado, então as disciplinas não


deviam ser vistas como conjuntos disjuntos, cada disciplina tem suas
particularidades, isso é fato, mas saber interligar as mesmas é
vantajoso, melhorando a performance da aprendizagem e da mediação
do conhecimento, suas abordagens.

Muitas vantagens. É preciso introduzir esse tipo de prática na formação


do professor, isso pode colaborar para que ocorra na educação básica.

Esse tipo de aula possui muitas vantagens, como por exemplo: melhor
processo de assimilação, por parte dos alunos, do conteúdo; maior
engajamento/participação dos estudantes; uma maior diversidade de
conhecimento; maior atenção nas aulas por parte dos alunos.

Essas são algumas vantagens proporcionadas pela aula


interdisciplinar: conhecimento mútuo, dependendo do conteúdo;
Trabalho em equipe; Planejamento com dois ou mais professores.

A principal vantagem é facilitar o aprendizado. Além disso, conseguimos


relacionar melhor o conteúdo visto em sala com o nosso cotidiano.

O aluno compreender o conteúdo de outra forma.

Melhor qualidade na aprendizagem, participação ativa, revisão de


conceitos e a possibilidade de várias abordagens sobre um conteúdo,
fazendo com que o aluno aprenda de várias formas.

Aprendizagem mais significativa, trazer relações no que o estudante está


vendo nas diferentes disciplinas, fazer os alunos serem mais críticos.

As vantagens é que podemos dar exemplos do assunto trabalhado com o


auxílio de outra disciplina, facilitando o aprendizado do aluno.
37

Primeiramente a maior e mais rápida fixação do conteúdo, melhora no


desenvolvimento do raciocínio de visualizar o conteúdo em diferentes
aplicações.

Ampliar as possibilidades do uso da matemática.

O professor consegue mudar a maneira como os alunos enxergam o


conteúdo já que consegue envolver uma outra disciplina nele.

Relacionar conceitos vistos na teoria sendo usados em outros âmbitos


educacionais.

Uma das principais vantagens é que o estudante consegue ter um maior


envolvimento com o que está sendo transmitido, bem como, uma maior
relevância da importância de aprender determinado conteúdo.

A disponibilidade de uma aprendizagem significativa, isto é, ao abordar


diferentes pontos de vista sobre um determinado assunto vai fazer com
o aluno fixe o conteúdo, pois ao ser questionado irá fazer relações e
chegará a uma resposta.

Muito boas, pois iriam apresentar muitos benefícios como por exemplo
a história dos números em matemática.

Creio que gera curiosidade um pouco mais de interesse no aluno.

Somam-se saberes! Tornando a aprendizagem mais significativa e


menos robótica.

O aluno pode ter uma visão diferente sobre aquilo que irá aprender
durante a aula.

A maior vantagem seria um bom rendimento, ou melhor, aprendizado.


Mais conhecimento, além do mais, algumas escolas exigem que
professores de matemática sejam polivalentes em algumas disciplinas
como física e química.

Ajuda o aluno a visualizar o conteúdo abordado de diferentes formas e


com diferentes visões.

São cativantes, estimulantes e ajudam na formação crítica e social.


(Compreensões dos futuros docentes).

Como pode ser observado, as opiniões são diversas, várias vantagens citadas pelos
discentes do curso de matemática, mas de forma geral a interdisciplinaridade é vista e
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compreendida por eles como um método facilitador da aprendizagem, no qual os estudantes


podem aprender através de diferentes óticas, situações e aspectos além de visualizarem
aplicações do conteúdo matemático em questão, fazendo ter um maior sentido aprend er aquela
determinada temática da matemática.
A sétima pergunta tratou das desvantagens que esse tipo de aula traz, foi perguntado:
g) Em sua opinião, tem desvantagens? Se sim, quais?

Dos 26 alunos entrevistados, 12 responderam que as aulas interdisciplinares não têm nenhuma
desvantagem, os outros 14 citaram que teria sim dificuldades e desvantagens nas aulas no formato
interdisciplinar. Sendo estas:

A dificuldade de inserir no cotidiano por necessitar que o professor


estude e planeje com mais cuidado, dada a jornada dupla ou tripla que
a maioria enfrenta.

Sim. Promove ao discente um senso de pensamento mais concreto, pois


a partir deste momento eles não veem mais a disciplina individualizada.
Acredito que a maior desvantagem advém da formação do professor e
do seu planejamento. Para trabalhar a interdisciplinaridade, o docente
precisa ter um bom preparo.

A única desvantagem que vejo é que como o tempo de aula é curto para
ministrar o conteúdo, esse tempo ficará mais reduzido.

Não diria desvantagem, mas sim dificuldade. Pois há assuntos que não
cabem em todas as áreas.

As desvantagens se remetem não a forma do ensino, mas sim seu


planejamento e execução, uma vez que, a falta de tempo de planejamento
e de horários compatíveis entre os educadores, bem como, uma falta de
preparo dos mesmos, podem ser empecilhos para colocar em prática.

Sim, se os professores não planejarem corretamente, essa aula


interdisciplinar pode não ocorrer como eles planejavam, prejudicando
o aprendizado dos alunos.

Pode correr desvantagens se a aula fugir muito dos conteúdos


matemáticos.
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Sim, em relação ao tempo para montar uma aula assim, se depender de


outro professor de outra disciplina se torna ainda mais trabalhoso a
conversa.
Creio que uma desvantagem seja o pouco tempo que o professor da
educação básica possui para planejar e implementar uma atividade
interdisciplinar.

Sim. Não há tempo suficiente para planejamento coletivo.

Sim. Acredito na hora do planejamento com os professores das


disciplinas, onde pode ocorrer pensamento diversos; o despreparo no
planejamento; tempo para um bom planejamento.

A abordagem do assunto é importante, porém a repetição do mesmo


deixa cansativo.

O professor terá que disponibilizar mais tempo no seu planejamento,


mas isso não considero como desvantagens e sim uma pequena
dificuldade que talvez possa existir.
(Compreensões dos futuros docentes)

Como pode ser visto, a maior desvantagem citada pelos entrevistados refere-se as
dificuldades no planejamento de aulas interdisciplinares, como pontuado também pelos atuais
docentes na primeira parte da pesquisa. Outro ponto ressaltado se refere ao tempo, visto que em
virtude da sua carga de horas sobra pouco tempo para planejar com outros colegas, fazer pesquisa,
realizar estudos coletivos, o que vem a dificultar o desenvolvimento de aulas dessa natureza.
A oitava pergunta foi intencionada a perspectiva para o futuro, foi indagado:

h) Quando formado e lecionando matemática, pretende planejar aulas interdisciplinares?”

A afirmação positiva foi unânime, mas com intensidades diferentes. Dos 26


entrevistados, 19 responderam sim, 3 responderam claro ou com certeza e 4 responderam que
se possível ou provavelmente. Veja o gráfico 6:
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Gráfico 06 - Futuros Docentes Que Pretendem Planejar


Aulas Interdisciplinares Quando Estiverem Lecionando

15%

Sim
12%
Claro ou com certeza
Possívelmente ou Provavelmente
73%

Fonte: Dados elaborados pelo pesquisador por meio do Google Forms.

Esses dados nos mostram que provavelmente a interdisciplinaridade estará cada vez mais
presente nas aulas de matemática. Alguns alunos argumentaram em suas respostas o que os
motivariam a planejar aulas interdisciplinares. Segue as respostas que mais chamaram a atenção
do pesquisador:
Com certeza, pois como cada aluno possui um interesse maior em
diferentes disciplinas, esse tipo de aula se torna essencial para uma
melhor atenção dos mesmos.

Claro! Ora, matemática financeira, têm uma aspectos geográficos


envolvidos, a geometria, é perceptível na arte, moda, função, posso
relacionar a biologia, química, física.... Enfim, são vastas as
possibilidades.

Sim, em determinados conteúdos, acredito que inserir aulas nesse


formato será bastante benéfico para a aprendizagem dos estudantes.

Dependendo da demanda, acredito que sim. Porque depende muito da


sua carga horária; do número de alunos em sala de aula; do tempo que
você vai se dedicar a isso; e entre outros fatores.
(Compreensões dos futuros docentes)

A educação deve estar em constante mudança, seguido os preceitos sociais, culturais e


históricos, dentro dessa perspectiva, entendemos ser relevante que ao longo do curso de
licenciatura em matemática seja ofertado uma formação de modo interdisciplinar, o qual os
diferentes componentes curriculares busquem tecer um diálogo, e promover atividades que
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contemple a interdisciplinaridade, de modo a possibilitar que o futuro docente quando passe a


atuar em sala de aula, em sua prática, busque as melhores estratégias de desenvolver o processo
de ensino e aprendizagem. Assim, concordamos com SILVA e SANTANA (2020, p. 68) quando
estas afirmam que “uma prática interdisciplinar vai além do simples contato entre as disciplinas,
exigindo a interação entre os objetos que estabelecem uma reciprocidade entre os saberes e um
equilíbrio de forças nas relações instituídas”, desse modo, utilizar aplicações matemáticas em
outras ciências é um meio que pode vir a facilitar a prática interdisciplinar, desde que não seja
focado apenas na aplicação matemática, mas também o conteúdo da disciplina aliada.
A matemática tem aplicações em variados campos dos conhecimentos, o que possibilita o
profissional licenciado na área a produzir aulas ou projetos interdisciplinares diversos. Como
afirmam PANTANO; RINQUE E NASCIMENTO (2017, p. 47), a interdisciplinaridade “é uma
proposta de ligação entre o conhecimento da ciência e de outros meios e a multiplicidade do mundo
vivido, para visar à superação da divisão entre teoria e a prática”, ou seja, utilizar as diversas
aplicações matemáticas nas outras disciplinas pode ser um meio que diminua a crença de grande
parte dos alunos que a matemática é apenas uma ciência engessada, cheia de regras que não tem
utilidades, mostrando assim a matemática na prática e no cotidiano de cada aluno.
42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscar a interdisciplinaridade como meio de deixar as aulas atrativas é uma forma de


atualização do ensino e que isso não significa o abandono total do tradicionalismo que tem sua
fundamental importância ainda nos dias de hoje. Como afirma FAZENDA (1998, p. 89): “O que
se pretende, portanto, não é propor a superação de um ensino organizado por disciplinas, mas a
criação de condições de ensinar em função das relações dinâmicas entre as diferentes disciplinas,
aliando-se aos problemas da sociedade.” Mostrar aos alunos a importância do conteúdo estudado
e suas aplicações nas demais áreas e no cotidiano é um fator que serve para chamar a atenção dos
estudantes do ensino básico.

O reforço do estudo aplicado entra de forma positiva na vida dos alunos, pois eles
desenvolvem um meio de sempre praticar as matérias em horários opostos ao estudo em
si, dessa forma retiram as principais dúvidas e elaboram um método novo na sua própria
pratica assim setor na mais simples estudar algo complexo. (PATANO; RINQUE;
NASCIMENTO, 2017 p.49)

Observando todas as opiniões e respostas dos questionários, podemos ver que a


interdisciplinaridade é uma metodologia que está cada vez mais presente nas escolas públicas. Essa
evolução mostra que esse conceito está ganhando espaço por ser algo inovador que pode quebrar
um pouco o grande tradicionalismo existente. Para que essa evolução se intensifique, é necessário
que os professores do ensino básico tenham experiências interdisciplinares já na graduação. Nesse
aspecto foi nítido o avanço dessa temática neste campo ao compararmos as respostas dos
professores que estão atuando com os docentes em formação, mas mesmo com esse avanço é
preciso um pouco mais, principalmente na questão prática. Um alto índice de alunos que estão na
graduação responderam ao questionário dizendo que não viram nenhuma aula interdisciplinar até
então em sua formação, isso é um fato que pode ser mudado.

Há ainda muitos obstáculos a serem vencidos para a vivência da interdisciplinaridade no


âmbito das práticas docentes, os quais têm a ver com a formação inicial, pois os
professores e as professoras não são preparados nas universidades para trabalhar de modo
interdisciplinar e com a ausência de espaços e tempos nas instituições destinados à
reflexão para a implantação de práticas interdisciplinares que promovam a inovação.
(SILVA; SANTANA, 2020, p. 67)
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É na formação que os docentes começam a moldar as metodologias que usarão quando


estiverem lecionando, por isso trabalhar a interdisciplinaridade na graduação é tão importante.
Patano; Rinque; Nascimento (2017), explicam os motivos que fazem a interdisciplinaridade ser
pouco trabalhada nas graduações:

A questão de interdisciplinaridade, dentro da formação de professores para o Ensino


Médio acontece de forma tardia, pois muitas vezes encontrem-se obstáculos ou
complicações no desenvolvimento de planos de caráter interdisciplinar devido ao fato da
sua formação ser dentro de uma visão positivista e fragmentada do conhecimento.
(PATANO; RINQUE; NASCIMENTO, 2017 p.49)

Como relatado pelos entrevistados a maior dificuldade em propor aulas interdisciplinares


está no planejamento, que é dificultado pela falta de diálogo entre os professores, pouco tempo que
os mesmos tem para marcar planejamento por causa das jornadas de trabalho longas, como afirma
SAVIANI (2012):

Pela qual passam os nossos professores: condições de trabalho precárias e salários


precários. Isso se reflete na formação dos professores, que também resulta precária, sendo
agravada porque são obrigados a ter uma sobrecarga de aulas, o que, em consequência,
traz dificuldades para a teoria, como estou tentando mostrar. Em tais condições, fica difícil
para esses professores assimilar as propostas teóricas e procurar implementá-las na sua
prática. (SAVIANI, 2012, p. 98).

É importante também ressaltar ainda a falta de vontade de inovar de alguns docentes, que
pode ser explicada por uma série de motivos: desestímulo financeiro e profissional, medo da
inovação, e até mesmo o engesso do sistema educacional que apesar de propor em seus documentos
oficiais metodologias novas como a interdisciplinaridade, muitas vezes na realidade não permite
essa inovação devido as exigências de cumprimento de conteúdos.

A vivência de práticas interdisciplinares na Educação Básica não depende apenas de um


simples ato de vontade de seus interlocutores, mas, sobretudo, de mudanças profundas nas
relações de poder, as quais são responsáveis pela elaboração de currículos que, embora
apontem para a importância da interdisciplinaridade, não conseguem captar a
complexidade dos problemas/objetos sociais que exigem currículos interdisciplinares e
que permitam, a professores e estudantes, a construção de aprendizagens significativas em
que a educação escolar seja uma dimensão do todo social e não uma simples réplica de
saberes ultrapassados que não têm nenhum ou que têm pouco significado no processo de
transformação social.(SILVA; SANTANA, 2020, p. 66)
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Para uma aula interdisciplinar na educação básica acontecer é ideal que se tenha a presença
de professores das diferentes disciplinas participantes, pois quando um professor de matemática
usa uma aplicação dessa ciência em outra, como exemplo em sua aula, não é um elo de mão dupla,
e sim apenas uma aplicação da matemática no cotidiano, o que não se caracteriza uma aula
interdisciplinar. Os professores de matemática que são licenciados em outra disciplina e lecionam
essas duas matérias na mesma escola, podem expor uma aula interdisciplinar sozinhos, esse tem
uma maior facilidade para propor aulas interdisciplinares pois o planejamento é facilitado, mas
esses casos são raros. Os demais professores que ensinam exclusivamente matemática, para
planejar aulas interdisciplinares tem que estar abertos ao diálogo antes de mais nada, ter em mente
temas transversais entre a matemática e as outras disciplinas, pois as aulas não podem ser escassas
de conteúdo matemático, e um objetivo claro e bem definido já antes do planejamento com
professor da outra disciplina, pois isso minimiza o tempo do planejamento. Durante o
planejamento é escolhido o formato da aula, matérias, recursos didáticos e até mesmo o ambiente
que pode ser ou não a própria sala de aula.
Por fim, através das respostas dos docentes que estão lecionando e dos discentes do curso
de licenciatura em matemática, podemos concluir que essa temática está sendo abordada
atualmente nas escolas públicas e também é um tema debatido entre os futuros professores de
matemática, vimos que para eles a interdisciplinaridade é uma metodologia inovadora, que é
compreendida de diversas formas e que pode ser um fator facilitador do ensino-aprendizagem.
Através dos questionários notamos ainda as principais dificuldades relatadas e a importância do
diálogo entre os docentes para que possam acontecer aulas interdisciplinares.
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6 REFERÊNCIAS

BRASIL. (1998a). Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática Terceiro e Quarto


Ciclos do Ensino Fundamental Matemática. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/matematica.pdf. Acesso em: 05/02/2022.

BRASIL. (1998b). Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio. Disponível em:


http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf Acesso em: 05/02/2022

BRASIL. (2017). Base Nacional Comum Curricular. Disponível em:


http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 05/02/2022.

FAZENDA, Ivani, Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro. 6ª ed. São Paulo:


Loyola, 1979.

FAZENDA, Ivani, Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 12ª ed. Campinas:


Papirus, 1994.

FAZENDA, Ivani. Didática e interdisciplinaridade. 13ª ed. Campinas: Papirus, 1998.


JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e a patologia do saber. 1ª ed. Rio de Janeiro: Imago,
1976.

LEIS, Héctor Ricardo, Sobre o conceito de interdisciplinaridade. Docplayer, Sine Loco. 2005.
Disponível em: https://docplayer.com.br/97528-Sobre-o-conceito-de-interdisciplinaridade-hector-
ricardo-leis.html Acesso em: 31/05/2022

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 82ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

PASSOS, Ana Paula; NICOT, Yuri Expósito, Interdisciplinaridade na matemática através da


aprendizagem significativa. Docplayer, Sine Loco. 2021. Disponível em:
http://docplayer.com.br/215859485-Interdisciplinaridade-na-matematica-atraves-da-
aprendizagem-significativa.html. Acesso: 21/04/2022

PATANO, Fabrício; RINQUE, Caroline Lemos; NASCIMENTO, Douglas Pereira do,


Interdisciplinaridade em educação matemática direcionada ao ensino médio: uma
alternativa eficiente no ensino aprendizado. Repositório FAEMA, Sine Loco. 2017. Disponível
em: https://repositorio.faema.edu.br/bitstream/123456789/1745/1/PANTANO%20et%20al..pdf.
Acesso em 06/05/2022.

SAVIANI, Dermeval, Pedagogia histórico critica. 11ª ed. Campinas: Autores Associados, 2012.

SILVA, Maria de Fatima Gomes da; SANTANA, Iolanda Mendonça de, Interdisciplinaridade
nas práticas docentes de professoras da educação básica. Periodicos, Sine Loco. 2020.
Disponível em:
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ImagensEduc/article/view/51145/751375150504. Acesso
em: 01/05/2022.
46

THIESEN, Juares, A interdisciplinaridade como um movimento de articulação no processo de


ensino-aprendizagem. Scielo Brasil, Sine Loco. 2008. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/swDcnzst9SVpJvpx6tGYmFr/. Acesso em: 15/02/2022
47

7 APÊNDICES

APÊNDICE A – MODELO DE QUESTIONÁRIO APLICADO COM OS PROFESSORES DE


MATEMÁTICA QUE LECIONAM EM ESCOLAS PÚBLICAS
Prezado(a) professor(a), sou Ialessy, licenciando do curso de Matemática do CERES, Caicó –
RN. Estou fazendo uma pesquisa sobre interdisciplinaridade nas aulas. Gostaria de contar com
sua colaboração para responder o questionário.

O senhor(a) atua como professor de qual disciplina?

O senhor(a) tem discutido com seus colegas sobre interdisciplinaridade?

Interdisciplinaridade foi um tema debatido em sua graduação? Se sim, de que modo?

Desenvolveu ou vem desenvolvendo atividades para a sala de aula de forma interdisciplinar?

O senhor(a) acha que a escola pública onde trabalha tem estrutura suficiente e diálogo entre os
docentes de forma a possibilitar algum tipo de trabalho interdisciplinar?

O senhor(a) defende que aulas Interdisciplinares podem proporcionar uma boa dinâmica nas
escolas, e com isso ajudar a atrair a atenção dos alunos?

Na sua opinião, quais as maiores dificuldades que um professor pode enfrentar ao criar aulas
interdisciplinares?
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APÊNDICE B – MODELO DE QUESTIONÁRIO APLICADO COM OS ALUNOS DO


CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA DO CENTRO DE ENSINO SUPERIOR
DO SERIDÓ – CERES\CAICÓ
Prezado(a) aluno(a) do curso de matemática do Ceres, Caicó-RN, sou Ialessy, licenciando deste
mesmo curso. Estou fazendo uma pesquisa sobre interdisciplinaridade das aulas. Gostaria de
contar com sua colaboração para responder o questionário.

Como você compreende a interdisciplinaridade na educação básica?

Durante o ensino básico, você teve alguma aula no formato interdisciplinar? Se sim, ocorriam
com que frequência? E quais as contribuições que as aulas interdisciplinares trazem para a
aprendizagem dos alunos?

Você gostaria que tivesse acontecido mais aulas interdisciplinares durante sua vida escolar?

No curso de Licenciatura em matemática do qual você é aluno, em alguma aula já foi debatido
sobre interdisciplinaridade?

Você teve alguma aula interdisciplinar no curso de licenciatura em Matemática?

Em sua opinião quais as vantagens desse tipo de aula?

Em sua opinião, tem desvantagens? Se sim, quais?

Quando formado e lecionando matemática, pretende planejar aulas interdisciplinares?

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