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Estudo de Caso
Motivo da Consulta:
A mãe de A procurou o Serviço de Psicologia da Universidade Federal da
Bahia devido a uma solicitação da APAE, em busca de uma avaliação
neuropsicológica para investigar aspectos que pudessem contribuir com a
melhor definição do diagnóstico de sua filha. As dificuldades de interação social
e o baixo repertório de habilidades sociais apresentados por A são as principais
queixas da mãe. Esta relata que as dificuldades da filha foram percebidas
desde os primeiros anos de vida.
Procedimentos de Avaliação:
A avaliação foi realizada em sete sessões com duração de 50 minutos. Os
instrumentos aplicados tiveram como objetivo avaliar comportamentos atípicos
e traços autísticos na adolescente. Foram utilizados os seguintes testes: a
Escala de Comportamento Atípico (Aberrant Behaviour Checklist – ABC), a
escala de Avaliação de Traços Autísticos (ATA), a CARS (Childhood Autism
Rating Scale) e o Inventário dos Comportamentos de Crianças e Adolescentes
entre 6 e 18 anos (Child Behavior Checklist – CBCL), bem como observações
no contexto clínico. A hipótese inicial foi: transtorno do espectro autista.
História Clínica:
A gestação não foi planejada. A mãe engravidou aos trinta e quatro anos,
mesmo utilizando o DIL como método contraceptivo. Ela relata que teve ovário
policístico na infância. Ela diz ainda que apresentou vários problemas durante a
gravidez, como catapora, complicações renais e infecção urinária. O parto foi
cesáreo, porém prematuro, devido às dificuldades na saúde da mãe. A situação
foi agravada devido a uma reação alérgica que ela apresentou a um
medicamento ministrado no soro durante a cirurgia cesárea.
A chorou ao nascer e apresentou uma vermelhidão incomum na pele, sendo,
mais tarde, diagnosticada com psoríase. Nasceu pesando 2,800 kg e medindo
49 cm. Foi amamentada até os onze meses. Segundo a mãe, a menina
começou a balbuciar por volta de um ano e meio, mas só falou a primeira
palavra aos seis anos de idade. Foi aos seis anos também que ela apresentou
o controle do esfíncter anal e, aos sete, do esfíncter vesical. A mãe afirma que
atualmente A tem um repertório fonológico completo, possuindo uma boa
dicção e pronúncia.
Sobre a interação social, a mãe diz que A só começou a interagir com outras
crianças aos catorze anos, mas prefere brincar sozinha. Em relação aos
comportamentos emocionais da criança, a mãe relata que não consegue
identificar os sentimentos da filha somente pelas expressões faciais, mas
afirma que ela é bem centrada.
A mãe conta que aos treze anos, A foi diagnosticada com Síndrome de Turner.
Além disso, ela afirma que a saúde da menina é bastante frágil. Segundo ela, A
possui baixa imunidade, já teve diversas infecções, gripa e apresenta dores de
cabeça com frequência. Ela diz ainda que a filha toma Neuroleptil 04, 8 gotas, à
noite, para dormir e faz reposição hormonal devido à Síndrome de Turner.
História Escolar:
A ingressou em uma escola regular aos sete anos e, segundo a mãe, a
adaptação foi muito difícil. Atualmente, ela frequenta uma escola pública
regular nas terças, quintas e sextas-feiras pela manhã e, nas segundas e
quartas-feiras à tarde, frequenta a APAE. A reconhece as letras do alfabeto, os
numerais, as formas geométricas, além de saber ler e escrever algumas
palavras. Apesar disso, a mãe conta que ela frequenta a escola apenas como
forma de estimular a interação social com outras crianças. Ainda segundo a
mãe, a professora afirma que A dá menos trabalho do que os outros alunos,
mas relata que a adolescente não possui muita interação com os colegas.
História Familiar:
A família é constituída por cinco pessoas: A, a mãe, o pai, uma irmã de vinte
anos e um irmão de nove. O pai tem cinquenta anos e é apicultor. Passa
grande parte da semana na zona rural devido ao trabalho. A mãe tem quarenta
e nove anos e é dona de casa. É a principal cuidadora de A. Segundo ela, o
ambiente familiar é tranquilo. Ela diz que A tem um bom relacionamento com
os irmãos, apesar de afirmar, também, que estes sentem um pouco de ciúmes
da menina, devido à atenção especial que ela recebe. Ela conta que seu
relacionamento com A é ótimo e que elas são muito companheiras, uma vez
que passam grande parte do dia juntas. A mãe afirma que o relacionamento da
menina com o pai é bom, no entanto, este possui mais firmeza ao lidar com ela,
não cedendo a todas as suas vontades. De maneira geral, a mãe afirma que a
família possui uma relação bastante harmoniosa. Ela relata ainda que na
família há casos de parentes com esquizofrenia, autismo e Síndrome de
Turner.
Aspectos Emocionais:
Na ausência da mãe, A fala pouco e raramente inicia uma conversa. Possui
pouca expressão facial, às vezes fixa o olhar no vazio, prefere brincar sozinha
e demonstra pouca reação social aos outros, porém, não rejeita o contato físico
através do abraço.
A mãe relata, entretanto, que no ambiente familiar, A é bastante afetiva, que a
abraça e beija em vários momentos durante o dia de maneira espontânea. Diz
ainda que a filha é bastante ativa em casa, conversa muito, principalmente com
a mãe.
Aspectos Comportamentais:
Para a mãe, A é bastante ativa em casa, conversa muito, ajuda nos afazeres
domésticos e brinca sozinha ou com os irmãos. Ainda segundo a mãe, A é uma
criança obediente, cumpre as regras e quase nunca faz birra. Durante as
sessões, no entanto, a adolescente apresenta resistência para responder o que
lhe é questionado e, de maneira geral, responde com frases curtas e objetivas,
além de raramente iniciar um diálogo. Mantêm-se fixada sempre no mesmo
brinquedo, e permanece com a cabeça baixa durante a brincadeira. Realiza
com dificuldade as tarefas propostas e apresenta comportamentos
estereotipados e repetitivos.
Brincadeiras:
A mãe relata que A começou a brincar com outras crianças aos catorze anos,
mas prefere brincar sozinha. Ela afirma que, mais recentemente, a filha está
aderindo às brincadeiras tecnológicas, como jogos no celular e videogame.
Resultados da Avaliação Neuropsicológica