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Relatório Multiprofissional em Avaliação Neuropsicológica


1. Identificação
Nome: Helena Froes da Silva
Idade: 6 anos e 1 mês Data de Nascimento: 07/08/2017
Escolaridade: Pré II – Ensino Infantil
Data da avaliação: Julho e Agosto de 2023
Solicitante: Colégio São João Batista
Informante/ Responsáveis: Tatiane (genitora)
Examinador(es): Psicóloga Esp. em Neuropsicologia Vívian R. Lima – CRP 07/24068
Pedagoga Esp em psicopedagogia Caroline Bisol

2. Objetivo da avaliação
A avaliação neuropsicológica procura, entre outros objetivos, apresentar o desenvolvimento das funções
cognitivas, sendo sensível para detectar aquelas que estão preservadas ou deficitárias, por meio das relações entre
cérebro e comportamento. Os resultados expostos ao longo do laudo, são baseados e mensurados de forma quantitativa e
qualitativa de acordo com a faixa etária e/ou nível de escolaridade do examinando. Assim sendo, as informações decorrentes
do laudo neuropsicológico, permitem, por meio do raciocínio clínico do examinador, compreender e elucidar as queixas
apresentadas, bem como torna possível o plano de tratamento e intervenção condizente ao caso, principalmente no que se
refere aos domínios relacionados as queixas atuais.
Essa avaliação por tanto, foi baseada principalmente, em técnicas de entrevista, observação clínica, testes e
instrumentos psicológicos, psicopedagógicos bem como, em tarefas neuropsicológicas, utilizando ainda de entrevistas
com os informantes.

3. Motivo do encaminhamento
Helena esta em acompanhamento com neurologista devido a baixo controle de impulsos. Segundo a mãe Helen
é uma criança bastante emotiva que vem apresentando dificuldades para conter os impulsos, principalmente em momentos
de frustração. Além disso, vem apresentando dificuldades de aprendizagem, demonstrando baixa motivação para o
processo, embora apresente facilidade na comunicação, expressando um vocabulário acima do esperado para sua
faixa etária (sic.Tatiane).

4. Métodos e técnicas de avaliação complementares


- Entrevista (genitora e equipe escolar)
- Figuras Complexas de Rey – Oliveira, M. S., & Rigonei, M. S (2014). Figuras complexas de Rey: teste de cópia e de reprodução de memória
de figuras geométricas complexas. Adaptação Brasileira (2ª ed.). São Paulo: Pearson Clinical Brasil.
- WISC-IV – Wechsler, D. (2016). Escala Wechsler de inteligência para crianças - WISC-IV (4ª ed.) (M. L. Duprat, Trad.). São Paulo: Casa do
Psicólogo.
- Figura Complexa de Rey - Oliveira, Margareth da Silva e Rigoni, Maisa dos Santos. Figuras Complexas de Rey: teste de cópia e De
reprodução de memória de figuras geométricas complexas. Casa do Psciólogo, 2010.
- RAVLT – De Paula, Jonas Jardim e Malloy-Diniz, Leandro Fernandes. Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey (RAVLT). 1 edição,
Vetor Editora, 2018.
- BPA-2 – Rueda, F. J. M. (2022). BPA-2: bateria psicológica para avaliação da atenção - 2 (1ª ed.). São Paulo: Vetor Editora.
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- NEUPSILIN-Inf- Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve Infantil: NEUPSILIN-Inf – Manual. Salles, J. F., Fonseca, R. P., Parente, M. A.,
Cruz-Rodrigues, C., Mello, C. B., Barbosa, T., & Miranda, M. C. (no prelo). São Paulo:Editora Vetor.
- DNOI - Discurso Narrativo Oral Infantil. Em: Fonseca RP, Prando ML, Zimmermann N. Avaliação de linguagem e funções
executivas em crianças. São Paulo: Memnon; 2016. p. 106-138
- Teste Hayling – Siqueira, LS. Teste Hayling Infantil: aplicação, registro, pontuação e dados normativos. Em: Fonseca RP.
ML, Zimmermann N. Avaliação de linguagem e funções executivas em crianças. São Paulo: Memnon; 2016. p. 66-87.

5. Descrição da demanda
5.1 Relato da genitora
Helena é a filha mais nova do casal, que já tinham Heloisa de 4 anos de idade. A gestação de Helena foi precedida
por uma perda gestacional e foi muito desejada e planejada. A gravidez transcorreu sem problemas até o nascimento por
cesárea, sem complicações.
Helena recebeu aleitamento materno exclusivo por seis meses e não há relatos de atrasos em seu desenvolvimento.
Desde uma idade precoce, tem demonstrado características de comportamento distintos e notáveis (sic. Tatiane). Demonstra
maturidade em seu vocabulário e habilidades motoras. Ela lida bem com tarefas motoras e parece gostar delas.
Segundo a genitora, nota que Helena apresenta contato visual não persistente, além de dificuldades na interação social e no
compartilhamento atencional. Seu interesse pela aprendizagem é seletivo, focando apenas em assuntos que lhe
despertam interesse pessoal.
Sua mãe descreve sua personalidade como braba e explosiva, comparando-a consigo mesma. Helena parece desafiar
a autoridade materna por meio de confrontos verbais, mas adota um comportamento mais obediente em relação ao pai e com
outras figuras de autoridade. Sua expressão emocional é intensa e exagerada, e ela é percebida como alguém que
frequentemente se opõe às situações. Seu comportamento agressivo é evidente desde tenra idade, quando batia na irmã
mais velha e até mesmo na cachorrinha da família, quando ficava brava. Nesses momentos, sua reação ao castigo é dramática,
envolvendo gritos e escândalos. Sua mãe observa que atualmente, Helena vem apresentando o grito ao invés de bater, nos
momentos de raiva.
Várias intervenções médicas e terapêuticas têm sido parte da jornada de Helena. Ela passou por
acompanhamento com otorrinolaringologista e fonoaudióloga devido a rinites alérgicas recorrentes, que afetaram
sua qualidade auditiva. Embora não tenha sido identificada perda auditiva, há alterações na qualidade do som que ela
percebe. A participação em sessões de psicoterapia e observações específicas relacionadas aos pais, como: O pai a vê como
agitada e incapaz de ficar quieta, enquanto a mãe parece exercer uma pressão em relação ao desempenho da criança, revelou
sugestões de possível TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) por parte de um psicólogo, levando
a um encaminhamento para um neurologista.
No contexto escolar, Helena apresenta um comportamento agitado e perfeccionista. Segundo a genitora, parece
que Helena frustra-se ao se comparar com o desempenho dos colegas. A mãe, que também é professora, observa que, durante
a "hora do conto", Helena se torna mais inibida. Seu comportamento na escola e ao brincar também oferecem insights sobre
suas preferências e desafios. Em relação ao brincar é notavelmente influenciado por dispositivos eletrônicos, como o celular,
e por atividades como a dança. Ela demonstra pouca disposição para brincadeiras tradicionais.
Em resumo, o perfil de Helena é marcado por características comportamentais distintas, incluindo
dificuldades na interação social, irritabilidade e baixa motivação para os processos de aprendizagem. Intervenções
médicas e terapêuticas têm sido parte de sua jornada, com uma possível hipótese de TDAH sendo considerada. A gravidez e
o desenvolvimento inicial de Helena ocorreram dentro do esperado, enquanto seu histórico familiar adiciona uma dimensão
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adicional para entender seu perfil, incluindo um diagnóstico de TDAH por parte da mãe e a presença de bipolaridade na
família materna.
5.2 Relato escolar
Em contato com a escola, Solange, relata que Helena enfrenta desafios de concentração, perdendo o foco com
facilidade. Ela também tem dificuldade em lembrar as instruções dadas e muitas vezes requer explicações individuais
e apoio para entender e concluir as tarefas. Em várias ocasiões, ela se posiciona próxima à mesa da professora para
minimizar a distração e concluir as atividades, embora isso ainda demande um grande esforço. A organização é outra área
que exige atenção, pois Helena precisa constantemente de ajuda para iniciar e concluir tarefas, pois tende a esquecer-
se delas sem o suporte. Além disso, há relatos de que ela tem demonstrado ansiedade nas últimas semanas, manifestada por
comportamentos como morder os lápis. Apesar de suas dificuldades, Helena é descrita como uma criança criativa, que
gosta de compartilhar ideias, mas tem dificuldade em seguir as instruções e concretizar essas ideias.
No aspecto social, Helena demonstra uma boa capacidade de interação e facilidade em fazer trocas com seus
colegas. No entanto, ela tem um comportamento que inclui facilidade em se frustrar, o que pode afetar seu bem-estar
emocional.
No que diz respeito à aprendizagem, Helena enfrenta desafios significativos. Ela não reconhece as vogais de seu
próprio nome e luta para automatizar os sons das letras. Seu desempenho escolar apresenta muitos atrasos em relação
aos colegas e sinais claros de transtornos de aprendizagem. A combinação de dificuldades de atenção e problemas de
aprendizado a coloca em situação de sofrimento. Identifica-se que Helena necessita constantemente de afirmação e
confirmação de sua capacidade, o que pode ser associado a uma baixa autoestima.

6. Descrição dos resultados


6.1 Inteligência
Na avaliação da inteligência, referida como preditiva de uma ampla variedade de desfechos ao longo do
desenvolvimento, foi utilizada a Escala Wechsler de Inteligência para Crianças - 4ª Edição (WISC-IV), a qual tem por
finalidade avaliar a habilidade mental geral, incluindo raciocínio, planejamento, resolução de problemas, pensamento
abstrato e compreensão de ideias complexa. Os resultados apresentados neste momento indicam:

*Descrições quantitativas dos escores de QI do WISC IV: 130 e acima (Muito superior) - 120-129 (Superior) - 110-119 (Média Superior) - 90-109 (Média) - 80-89 (Média Inferior) - 70-79 (Limítrofe) - 69 e abaixo (Extremamente Baixo).

Subtestes Ponto Pontuação


O que avalia Classificação
compostos Composto esperada
Semelhanças;
QICV Vocabulário; Raciocínio verbal e formação de 97 90 - 109 Média
Índice de Compreensão; conceitos.
Informação;
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Compreensão Raciocínio com


Verbal palavras.

Cubos;
QIOP Conceitos Aspectos perceptivos em relação ao
Índice de figurativos; espaço, direção e adequação espacial,
Raciocínio medida de raciocínio não-verbal, 92 90 - 109 Média
Organização
matricial; raciocínio fluido, atenção para
Perceptual Completar detalhes e integração viso-motora
figuras;
QIMO Dígitos;
Habilidades do examinando de
Índice de Memória Sequência de 88 Média Inferior
sustentar atenção, concentração e 90 - 109
números e letras;
Operacional exercer controle mental.
Aritmética.
QIVP
Código; É um indicador da velocidade com a
índice de Procurar qual a criança pode processar 71 90 - 109 Limítrofe
Velocidade de símbolos; mentalmente uma informação,
Processamento Cancelamento. simples ou rotineira, sem errar.

QI TOTAL 85 90 - 109 Média Inferior

6.2 Atenção e Funções executivas


Na avaliação da atenção, função cognitiva ou cerebral que usamos para selecionar os estímulos que chegam
simultaneamente ao cérebro, tanto externos (cheiros, sons, imagens...) quanto internos (pensamentos, emoções...), úteis
para realizar uma atividade mental ou motora, sendo um conjunto completo de processos que varia em dificuldade e nos
permite realizar adequadamente o resto das funções cognitivas. E na avaliação das funções executivas referidas a um
conjunto de processos cognitivos e metacognitivos, que permitem ao indivíduo exercer controle e regular tanto seu
comportamento frente às exigências e demandas ambientais quanto todo o processo de informação e que possibilitam o
engajamento de comportamentos adaptativos, auto-organizados e direcionados a metas, os resultados de Helena podem
ser mais bem compreendidos por meio da tabela abaixo:
Escore Escore
Instrumento Interpretação
alcançado Esperado
Semelhanças (WISC IV) 9 9 – 11 Dentro do esperado
Raciocínio matricial (WISC IV) 8 9 – 11 Abaixo do esperado
Código (WISC IV) 4 9 – 11 Abaixo do esperado
Sequência de Números e Letras (WISC IV) 9 9 – 11 Dentro do esperado
Procurar Símbolos (WISC IV) 6 9 – 11 Abaixo do esperado
Atenção Concentrada (BPA) 25 50 Abaixo do esperado
Atenção Dividida (BPA) 25 50 Abaixo do esperado
Atenção Alternada (BPA) 25 50 Abaixo do esperado
Parte A Tempo (THI) 1,32 +-1,5 Abaixo do esperado
Parte A erros (THI) 0,08 +-1,5 Dentro do esperado
Parte B Tempo (THI) 0,41 +-1,5 Dentro do esperado
Parte B Erros (THI) 0,40 +-1,5 Dentro do esperado
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6.3 Linguagem
Na avaliação da linguagem sistema de comunicação simbólico e complexo, caracterizada por um sistema de
princípios e regras que permitem que as pessoas codifiquem o significado em um símbolo e vice e versa. Apresentado
através das línguas, a linguagem não é apenas importante para a comunicação com outras pessoas, mas para estruturar
nossos pensamentos internos, assim como é crucial para o sucesso acadêmico, Helena obteve:
Escore Escore
Instrumento Interpretação
Alcançado Esperado
Vocabulário (WISC IV) 7 9 – 11 Abaixo do esperado
Compreensão (WISC IV) 12 9 – 11 Acima do esperado
Conceitos Figurativos (WISC IV) 10 9 – 11 Dentro do esperado
Informações essenciais (DNOI) 0,15 +-1,5 Dentro do esperado
Informações presentes (DNOI) -0,33 +-1,5 Dentro do esperado
Compreensão (DNOI) 0,17 +-1,5 Dentro do esperado

6.4 Funções visuoespaciais e visuoconstrutivas


São habilidades que envolvem a ativação, retenção e /ou manipulação de representações mentais, relacionadas
com a memória operacional e com o sistema cognitivo responsável pela retenção temporária e pelo processamento da
informação durante a realização de atividades cognitivas complexas.
Escore Escore
Instrumento Interpretação
Alcançado Esperado
Cubos (WISC IV) 8 9 – 11 Dentro do esperado
Figuras complexas de Rey – A (cópia) < 10 50 Abaixo do esperado

6.5 Memória
A fim de corroborar com os resultados encontrados e responder as queixas relacionadas ao esquecimento de
instruções, a avaliação da memória foi realizada por meio de:
Escore Escore
Instrumento Interpretação
Alcançado Esperado
Figuras complexas de Rey – A (reprodução) 50 50 Dentro do esperado
Dígitos (WISC IV) 7 9 – 11 Abaixo do esperado
Evocação imediata (RAVLT) 5-25 25 – 50 Abaixo do esperado
Evocação tardia (RAVLT) 5 – 25 25 – 50 Abaixo do esperado
Reconhecimento (RAVLT) 25-50 25 – 50 Dentro do esperado
Índice de aprendizagem (RAVLT) 25-50 25-50 Dentro do esperado
Indice de retenção (RAVLT) <5 25 – 50 Abaixo do esperado
Indice de interferência – proativa (RAVLT) 50 – 75 25 – 50 Acima do esperado
Indice de interferência – retroativa (RAVLT) 75 25 – 50 Acima do esperado
Reconto integral (DNOI) 0,52 +-1,5 Dentro do esperado
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7. Síntese dos resultados


7.1Contexto da avaliação

Helena entrou tranquilamente na sala demonstrando interesse e curiosidade para com as atividades.
Comunicativa, contou sobre sua escola e sobre seus familiares, envolvendo seus interesses. Realizou um bom contato
visual, além de demonstrar qualidade na interação social. Comunica-se bem, é uma menina desenvolta, que gosta de
conversar. Porém em alguns momentos percebe-se que não consegue organizar suas ideias e verbaliza informações soltas
e sem sentido. Apesar de apresentar vocabulário satisfatório para a faixa etária, nas tarefas de linguagem, as quais
envolviam conhecimento semântico e de abstração, Helena apresentou prejuízos. Também foi observado algumas trocas
sutis de fonemas em sua oralidade. Durante as atividades apresentou-se atenta e motivada, no entanto, buscou
ativamente por feedback da avaliadora. Nas tarefas que demandavam maior esforço mental Helena apresentou maior
resistência, saindo do lugar e movimentando-se pela sala. Às vezes, em orientações mais complexas foi observado que
Helena perde o foco e a demanda precisa ser retomada, explicando-a novamente. Apresentou maiores facilidades nas
tarefas verbais, em comparação as tarefas visuais.
Ao que corresponde as funções executivas, nesse momento, identificou-se que em tarefas que exigiam
velocidade de processamento, Helena apresenta desempenho abaixo do esperado em velocidade de processamento. Isso
significa que Helena apresenta prejuízos na capacidade de processar informações e realizar tarefas mentais com
maior rapidez. Ter uma velocidade de processamento abaixo do esperado pode estar relacionado a diversos fatores, como
baixa eficiência nas funções executivas do cérebro, atraso no desenvolvimento de habilidades cognitivas específicas,
correspondendo ainda a dificuldades na resolução de problemas, rastreio visuoespacial e concentração visual. Foram
identificados ainda nesse momento prejuízos em memória operacional e controle inibitório, reforçando a hipótese de
sobrecarga para um melhor desempenho acadêmico, assim como reforço para um humor mais ansioso.
Nas atividades que envolvem a captação da atenção, demonstrou boa desenvoltura na compreensão,
concordância oral e sequência lógica. Porém, consegue compreender melhor orientações de menor complexidade, e
desta forma se organiza melhor. Muitas vezes ela solicitava a repetição das informações ou ordens por diversas
vezes. Revelou significativa dispersão em variados momentos, buscando fugas às dificuldades, mexendo em objetos ou
puxando assuntos aleatórios.
Em tarefas de memória de curto e longo prazo, tanto verbal (lista de palavras) e tarefas visuais (figuras
complexas), Helena apresentou dificuldades. Em memória visual, identifica-se que prejuízos devido a dificuldade
inicial de planejamento e visuo construção, o que o prejudicou posteriormente na evocação da informação vista. Já
na lista de palavras, ou seja, memória auditiva verbal, identifica-se que relembra as informações por meio da repetição
quando se está avaliando memória de curto prazo, contudo na parte da evocação tardia, apresentou desempenho abaixo do
esperado, inferindo dificuldades na retenção e evocação das informações, apresentando ainda intrusões na evocação,
relacionadas a questões atencionais e em controle inibitório.
Em relação ao processo de alfabetização e letramento, percebe-se que Helena apresenta muitas falhas, e
acredita-se que se devem à dificuldade de manter a concentração e atenção. Em relação ao seu nível de escrita,
encontra-se na transição da fase pré-silábica para a silábica. A fase pré-silábica é o primeiro passo da criança rumo à
alfabetização, na qual ela ainda não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada. Já na fase silábica a criança
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começa a atribuir valor sonoro para as sílabas, transformando-as em uma, duas ou mais letras para um som. Comete erros
básicos de troca, falta ou inclusão de fonemas nas palavras. Por vezes, incluiu letras que não condizem com a estrutura
gramatical da palavra ou frase. Omite o som de vogais e consoantes, construindo palavras sem sentido.
O processo do raciocínio lógico está em desenvolvimento. A partir das provas operatórias, foi possível
perceber que Helena está no processo de conservação do número, pois tem dificuldade para compreender as quantidades e
justificar as suas respostas na resolução da atividade, demonstrando conduta intermediária tem noção de identidade,
reversibilidade e compreensão. Na atividade de seriação de elementos da mesma classe (bastonetes), não consegue
estabelecer critérios de organização, pois não entende o sentido da atividade e inicia uma brincadeira, desta forma precisa
de intervenção externa para realizar a atividade, revelando uma conduta intermediária do conceito de seriação, pois precisou
comparar os tamanhos dos elementos diversas vezes para organizá-los do menor para o maior e não conseguiu finalizar a
atividade. Reconhece as formas geométricas básicas, mas apresentou defasagem no conceito de seriação, classificação,
agrupamento e quantificação (habilidades básicas do pensamento matemático). Teve dificuldade para agrupar elementos a
partir de atributos semelhantes.
A fim de compreender sua motivação para os processos de aprendizagem, uma vez que apresenta resistência
e fadiga, testes projetivos foram utilizados com a criança e revelaram nesse momento vínculo positivo entre professor-
aluno, pois Helena colocou-se como protagonista de seu desenho, bem como sua professora. Contudo em análise
qualitativa, identifica-se que a grafia do corpo humano ainda está em desenvolvimento. A composição do desenho
como um todo, é pobre em detalhes: o esquema corporal é representado por linhas sem continuidade, incompleto e a
harmonização de objetos é simplória, neste caso a criatividade pode ser melhor explorada, o que corresponde ao relato
escolar onde referem-se a criatividade oral, porém na execução apresenta dificuldades para expressar suas ideias. Também
tem dificuldade em deter-se aos detalhes do desenho e ao capricho com a apresentação do mesmo. As linhas não
possuem continuidade. Suas habilidades motoras artísticas podem ser aprimoradas.
Percebe-se que o desempenho de Helena melhora, quando há repetição das informações que lhe são
fornecidas.Com base nos testes aplicados, é possível perceber dificuldades e defasagens nas habilidades acadêmicas e
comportamentais, principalmente nos fatores psíquicos, emocionais e cognitivos. Percebe-se que Helena encontra-se em
um nível abaixo esperado para sua idade escolar, principalmente no seu processo de ensino-aprendizagem. Sua falta
de atenção, concentração e dificuldade na leitura e escrita a impedem de avançar em algumas etapas do seu
desenvolvimento. Contudo, apresenta aptidão na aprendizagem por meio da repetição oral e visual. Também apresenta
grande potencial em relação a sua criatividade, tem facilidade em se comunicar, entender demandas simples e breves,
porém precisa de orientação para colocar seus pensamentos em prática e escritos.
Em suma, neste momento, tomados os dados em conjunto, identifica-se que as dificuldades atuais não
correspondem a fatores intelectivos, visto apresentar desempenho dentro do esperado para a faixa etária, no entanto,
compreende-se que as dificuldades acadêmicas de Helena parecem relacionar-se a uma disfunção executiva, ocasionada
por uma baixa habilidade atencional, corroborados por prejuízos na memória operacional e na velocidade do
processamento. Funções cognitivas de extrema importância para o processo de aprendizagem. Um rebaixamento na
memória operacional e que ao longo da avaliação pode ser comprovado, juntamente com os relatos escolares e da
família, indicam, que embora Helena apresente vinculação com a aprendizagem, ela se sente pouco estimulada
quando na escrita e na matemática, demonstrando maior resistência em atividades mais complexas e estruturadas
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e que exijam mais de si. A fim de compreender tais dificuldades, é necessário compreender quanto a memória operacional,
esta em prejuízo no caso de Helena. A memória operacional, é um importante indicador das habilidades acadêmicas e
pode ser definida como um conjunto de processos que nos permite armazenar e manipular informações temporárias e
realizar tarefas cognitivas complexas como a compreensão da linguagem, a leitura, a aprendizagem ou o raciocínio, é uma
parte essencial da tomada de decisões e do correto funcionamento das funções executivas, impactando nas demais
habilidades, tais como, controle inibitório, planejamento e flexibilidade cognitiva. Por isso, quando é alterada, como no
caso de Helena, causa síndromes disexecutivas e vários transtornos da aprendizagem. Estes prejuízos, quando
relacionados a habilidade de planejamento, ocasionam déficits na capacidade de planejamento, impactando na
iniciação de uma tarefa ou planejar mentalmente um projeto e podem resultar no cansaço e sobrecarga ao tentar
dividir uma tarefa em partes mais pequenas e razoáveis, assim como resultam em dificuldades para entender uma
ideia ou objetivo até o final.

8. Conclusões
Nesse momento em detrimento do ano escolar, faixa etária e falta de intervenções assertivas, não foi possível a
conclusão de resultados correspondente a Transtorno Específico de Aprendizagem, no entanto os sinais ao longo de seu
desenvolvimento, assim como resultados atuais, mostram riscos significativos para o mesmo. Contudo, uma vez que nesse
momento, foi identificado prejuízos atencionais, em memória de trabalho e controle inibitório, tais dificuldades
reforçam e impactam significativamente o desempenho nas habilidades de leitura e escrita, bem como compreensão
e interpretação textual. Assim sendo, com base nessas informações, pode-se inferir que Helena apresenta sinais
compatíveis com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, no entanto, visto o seu potencial cognitivo
significativo e sinais claros de um humor ansioso, torna-se imprescindível, o acompanhamento multiprofissional nesse
momento, a fim de acompanhamento e elucidação do caso para definição diagnóstica.

9. Sugestões, orientações e encaminhamentos:


Diante das informações apresentadas sobre Helena, uma equipe multiprofissional pode desempenhar um papel
fundamental para auxiliá-lo em seu desenvolvimento acadêmico e emocional. Dada a complexidade das dificuldades
identificadas, é recomendável uma abordagem colaborativa, envolvendo profissionais de diferentes áreas, como
psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e professores especializados, entre outros, que possam trabalhar juntos em
um plano individualizado para atender às necessidades específicas de Helena. Assim sendo é sugerido:
• Acompanhamento semanal com Psicólogo/Neuropsicólogo: O psicólogo pode auxiliar na compreensão das
dificuldades emocionais e de comportamento de Helena, bem como na identificação de estratégias para lidar com
a resistência, a fadiga e a desmotivação durante as atividades. Além disso, pode fornecer suporte emocional e
trabalhar no fortalecimento da autoestima e da confiança da menina, assim como poderá atuar por meio de técnicas
específicas o manejo de habilidades que encontram-se em prejuízo, como a atenção, memória operacional e o
controle inibitório.
• Acompanhamento com Psicopedagogo/Professor especializado: Levando em consideração a persistência de
duas dificuldades, principalmente as relacionadas a atenção e memória, anteriores ainda ao processo de leitura e
escrita, o profissional da psicopedagogia poderá atuar no desenvolvimento de estratégias de ensino-aprendizagem
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específicas, a fim de que sejam estimuladas a consciência fonológica, a compreensão de instruções complexas e
a associação entre som e escrita. Além disso, o profissional pode fornecer apoio individualizado, utilizar recursos
visuais e concretos, e promover a repetição e a prática regular de habilidades acadêmicas.
• Acompanhamento com Fonoaudiólogo: O fonoaudiólogo pode colaborar no aprimoramento da linguagem oral
e escrita de Helena,, focando no desenvolvimento da consciência fonológica e na correção das trocas e
dificuldades na atribuição do som às letras. Também pode trabalhar em exercícios para o desenvolvimento da
alfabetização.
• Pais e familiares: A participação ativa dos pais e familiares é crucial no suporte a Helena. Eles podem se envolver
nas atividades propostas, reforçar o aprendizado em casa e manter uma comunicação constante com a equipe
multiprofissional para acompanhar o progresso e fornecer informações adicionais sobre o desenvolvimento de
Helena.

A colaboração desses profissionais em uma equipe multiprofissional permitirá que Helena, receba um suporte
abrangente e integrado, levando em consideração suas dificuldades específicas. Acreditamos que com o acompanhamento
adequado, estratégias personalizadas e um ambiente de apoio, Helena terá melhores condições para superar seus
desafios acadêmicos, desenvolver habilidades executivas e alcançar um progresso significativo em seu desenvolvimento
educacional e emocional.

10. Dicas e orientações a pais:

Os pais desempenham um papel importante na criação do ambiente de estudo, por tanto, estejam disponíveis para
ajudar a criança com suas dúvidas e dificuldades, proporcionem um clima de apoio e incentivo, e estejam envolvidos nas
atividades escolares.

• Criar um ambiente propício para os estudos é fundamental para promover a concentração, o foco e o
aprendizado, portanto, escolha um local tranquilo, que seja calmo e livre de distrações, como televisão,
videogames ou ruídos excessivos. Pode ser um escritório, um quarto ou uma área da casa que possa ser dedicada
exclusivamente aos estudos. Evite ter muitos brinquedos, jogos ou objetos chamativos próximos à área de
estudo. Mantenha o celular, tablets e outros dispositivos eletrônicos fora do alcance ou em modo silencioso
para evitar interrupções.
• Mantenha o espaço de estudo limpo, organizado e arrumado. Isso ajuda a reduzir a desordem visual e
proporciona uma sensação de calma e concentração. Certifique-se junto da criança, por meio de um checklist, de
que todos os materiais necessários, como livros, cadernos, lápis e canetas, estejam facilmente acessíveis.
• Decore o ambiente de estudo de forma agradável e estimulante. Coloque quadros com imagens inspiradoras,
murais com informações escolares úteis, cartazes com regras gramaticais ou fórmulas matemáticas, horários e
quadro de rotina. Isso pode despertar o interesse da criança e tornar o ambiente mais acolhedor.
• Horários e rotinas: Estabeleça horários regulares de estudo e crie uma rotina diária. Isso ajuda a criança a se
acostumar com a ideia de que determinado período do dia é reservado para o estudo. Utilize lembretes visuais,
como um quadro de horários, para ajudar Helena a lembrar das atividades planejadas. Além disso, a rotina
proporciona uma sensação de segurança e previsibilidade.
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• Crie um sistema de incentivo e recompensas para motivar a criança a se dedicar aos estudos. Pode ser algo
simples, como adesivos, estrelas ou pequenas recompensas após completar determinadas tarefas ou alcançar metas
de aprendizado.

Estimulando a atenção e motivação:

• Divida as atividades em etapas menores e mais gerenciáveis. Isso ajudará Helena a se concentrar em uma única
tarefa de cada vez, evitando que se sinta sobrecarregado. Estabeleça metas realistas e recompense-o quando ele
completar cada etapa.
• Ofereça a Helena recursos táteis, como uma bola antiestresse ou um objeto texturizado, para segurar ou manipular
durante as atividades que exigem concentração. Isso pode ajudá-lo a canalizar sua energia e melhorar a
focalização.
• Faça pausas regulares durante as atividades prolongadas para permitir que Helena descanse e se recupere. Essas
pausas podem ser usadas para realizar breves atividades físicas, como alongamentos ou caminhadas curtas, que
ajudam a liberar energia acumulada e a melhorar a concentração posteriormente. Nesses casos, a técnica
pomodoro parece auxiliar, reforçando o tempo de concentração, a segurança, previsibilidade, noção de tempo e a
metacognição.
• Técnicas de direcionamento de atenção: Utilize estratégias de direcionamento de atenção, como apontar
visualmente para informações importantes, usar recursos visuais destacados ou fornecer dicas visuais para
destacar aspectos relevantes das tarefas. Isso pode ajudar Helena a focalizar sua atenção nas informações-chave e
a evitar distrações.

Lembre-se de que cada criança é única, e o que funciona para uma pode não funcionar da mesma maneira para
outra. É importante adaptar as estratégias às necessidades individuais de Helena e estar aberto a experimentar diferentes
abordagens até encontrar as mais eficazes para ela. Caxias do Sul, 22 de Setembro de 2023.

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Autorizo a divulgação dos dados descritos nesta avaliação.

**A avaliação realizada é situacional, devendo ser considerada a sua natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada. Os resultados aqui apresentados são de conteúdo
sigiloso e devem ser utilizados a fim de auxiliar na compreensão do caso para elaboração de plano de atendimento adequado, não prestando-se para fins judiciais.
Visando a proteção do avaliado(a), desaconselha-se o uso deste documento por profissionais não atuantes na área da Psicologia, Psiquiatria, Neurologia ou outras áreas da
saúde e/ou educação envolvidos no manejo do caso. O uso que deste material venha a ser feito é de inteira responsabilidade do solicitante. Documento emitido com base
nas Resoluções CFP 009/2018 e CFP 006/2019 e no Código de Ética Profissional do Psicólogo aprovado pela Resolução CFP 10/2005. *Os dados mencionados a respeito da
história clínica do paciente foram coletados com o informante indicado neste documento. Assim, os fatos descritos são uma seleção das memórias e percepções do informante
incluso neste processo de avaliação neuropsicológica. *Os achados apresentados nessa avaliação devem ser acompanhados longitudinalmente, na medida em que são
representativos do momento em que foram realizados, isto é, se referem ao desempenho neuropsicológico do paciente no momento presente. Modificações nos escores podem
ocorrer de forma súbita ou progressivamente, de acordo com o quadro clínico apresentado (podendo ser válidos por um período aproximado de seis meses). *Este laudo
possui 10 páginas todas estas rubricadas pelo examinador.

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