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NOME: MANASSÉS SERRA MOREIRA

MATRÍCULA: 316387
POLO SALVADOR

Importância da Cultura Mesopotâmica na Literatura do Primeiro Testamento.

A história de Israel é cercada de pressuposições históricas advindas da tradição oral,


perpassando pelo âmbito religioso, por vezes confirmadas ou não pela arqueologia, algumas
vezes aparentemente contraditórias, outras vezes encontrada em artefatos achados de outras
civilizações e que, como um quebra-cabeça, monta todo o cenário para os estudiosos,
pesquisadores e religiosos escreverem suas próprias versões da realidade.

Entretanto, muito há no antigo Oriente Próximo em seus achados arqueológicos, que


nos dá uma direção norteadora histórica melhor de Israel, como se fosse um vizinho falando
arqueologicamente do outro vizinho “misterioso”. Israel sempre foi um terra desejada pelas
maiores potências imperiais e isso se deve ao fato de sua estratégica posição geográfica
comercial, já que unia o continente africano ao asiático. Subjugar Israel era sobretudo uma
conquista territorial de grandes proporções políticas e econômicas, desta forma, foi tomada
pelos Assírios, Babilônicos, Persas, Gregos e posteriormente os Romanos. Com a
descentralização do local cúltico, sem rei e unidade territorial, os israelitas na tentativa de
manter a identidade, produziram grande material no exílio babilônico, mas não sem influência
e adaptações culturais mesopotâmicas.

Por conta de tantos domínios de outros povos, a terra israelita se tornou um


“caldeirão” de influências culturais de todos os tipos, sobretudo na arte literária, e é arte
porque os escribas, além de serem extremamente habilidosos em dar sentido cronológico a
histórias memoriais vindas da tradição oral, também registravam os textos pelas mãos do
artesão em tabuinhas de metal, madeira e cerâmica, herdado da cultura mesopotâmica, e não
apenas isto, adaptava as histórias dos povos dominadores à sua forma de crença com interesse
monoteísta, dando uma diretiva religiosa documental para todo povo.

Mas não era todos que tinha acesso à produção e leitura textual. Considerando que a
maioria do povo de Israel era de origem agrária, o desenvolvimento intelectual e a produção
de conhecimento, como dito anteriormente, estava a cargo dos escribas e sacerdotes nos
templos e palácios, onde os registros oficiais dos acontecimentos do rei eram produzidos. Aos
que tinham domínio da leitura e escrita, eram considerados como profetas, visto que estas
habilidades eram inacessíveis ao povo.

Como todo povo dominado, a enculturação se torna parte de seu cotidiano, mexendo
com suas estruturas sociais, econômicas, políticas e, também religiosas. Sob esta influência, a
mesopotâmia ofereceu matéria-prima suficiente para adaptações literárias que antes
julgávamos serem histórias originais e exclusivas dos textos bíblicos, até que em 1872, o
jovem pesquisador George Smith pela primeira vez divulga a tradução de uma versão caldeia
do dilúvio escrito no achado arqueológico da Epopeia de Gilgamesh. Três anos depois são
oferecidas pelo mesmo pesquisador a tradução da versão, também caldeia, da história da
criação.

A arte literária surge do meio de sociedades com características peculiares, a


escrituração sofre todo tipo de influência social do meio em que os autores estão inseridos e
produzindo. Entre os séculos V e XIX, acreditou-se por exemplo, que os textos de Gênesis 1-
11 fossem histórias originais, no sentido da inspiração divina “pura”, entretanto, após a
elucidação da tabuinha mesopotâmica da Epopeia de Gilgamesh, notou-se uma
“constrangedora influência humana” nos escritos sob inspiração de um texto mais antigo que
o bíblico.

Como já foi observado, nota-se que a construção literária do Primeiro Testamento teve
forte influência cultural em sua estrutura, dando subsídios para organização e classificação
dos gêneros literários ainda em época exílica, favorecendo a catalogação, autorização e
posterior canonização, perpetuando a fé de todo povo. Ademais, apesar da influência cultural
mesopotâmica nos textos bíblicos e a notória assimilação e adaptação pelos escribas, as
estruturas para o âmbito da fé, ficam intactas, uma vez que os textos apontam para um único
Deus e o fenômeno religioso é assegurado a partir das experiências particulares.

Por todos esses aspectos, é importante elucidar aos que se esmeram em aprofundar os
textos bíblicos, e ao contrário do que possa pensar o fundamentalismo religioso, o estudo das
Escrituras deve abarcar uma grande gama de textos extra bíblicos levando-se em conta
contextos históricos, culturais, sociais, políticos e econômicos que os circundam, a fim de que
o conhecimento seja ainda mais ampliado e apurado.

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