IN ÚSTRIA

INVESTIMENTO NA INDÚSTRIA

AMBIENTE DE NEGÓCIOS
LIMITA CRESCIMENTO
A falta de infraestruturas, elevada burocracia, a confiança na justiça,
registo de imóveis e acesso ao crédito afastam os investidores daquele
que é um dos sectores primordiais para a diversificação económica.

BUROCRACIA TRAVA EMPREENDEDORISMO

Duas em cada três

indústrias registadas
nunca iniciaram actividade
São mais de 5.900 empresas ‘fantasma’
25 de
25 de MMar
Ma
Março
arrço
a ço de
de 20
2
202
2022
02
0 22 que nunca chegaram a abrir. Os problemas
Esstta
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Est
Esta
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do
ta revista
EXP
EX
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evi
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NS
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ÃO n.º
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nºº 667
n 66
in
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teg
eg
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67 ee n
67
667 não
antte
ante
ão po
não ppode
od
dee
são muitos, as soluções são poucas.
sse
ser
err ve
e vendi
nd
n dida
di
vendida da separadamente
sse
sep
ep
eparadam
ara
a
arrradda
dam
am
a meen
n
ntte
 SUMÁRIO
06 MAIS DE 60% DAS INDÚSTRIAS
REGISTADAS EM ANGOLA NÃO
FUNCIONAM
28 O OBJECTIVO DA INDÚSTRIA
TRANSFORMADORA É VALER
9% DO PIB EM 2025

14 AMBIENTE DE NEGÓCIOS
LIMITA INVESTIMENTOS
NA INDÚSTRIA
30 AS OPORTUNIDADES
DE DESENVOLVIMENTO
DA AGROINDÚSTRIA

24 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
E CERVEJA LIDERAM
AS EXPORTAÇÕES
40 NÃO SE CRIA UMA
INDÚSTRIA FORTE SEM
UMA BOA ARTICULAÇÃO
INTERSECTORIAL E

26 INDÚSTRIA RECEBEU 44%

DO TOTAL DO CRÉDITO
DISPONIBILIZADO DO PRODESI
INFRAESTRUTURAS
AGROINDÚSTRIA

DIRECTOR
João Armando
joao.armando@expansao.co.ao
SUPERVISOR DESK
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(Secretária de Redacção)
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EDITORIAL
Mudar o Ambiente
de Negócios
MOTORISTA
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PROJECTO GRÁFICO
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PROPRIEDADE JOÃO ARMANDO
Inversão, SA
Director
REGISTO
MCS-520/B2009
TIRAGEM
15.000 Exemplares DEFINITIVAMENTE, há que melhorar o ambiente de negó-
IMPRESSÃO
UINIMATER Indústria Gráfica, Lda cios para desenvolver a indústria. As condições de acesso ao
DEPARTAMENTO COMERCIAL espaço de implantação das fábricas, a burocracia no licen-
Alide Hussen
(+244) 941 114 883
alide.hussen@novavaga.co.ao
ciamento, a relação com as administrações locais, a agressi-
Rosa Loureiro
(+244) 945 089 059
vidade da AGT e das instituições de fiscalização, a dificulda-
rosa.loureiro@novavaga.co.ao de na legalização dos terrenos e de outros imóveis, a morosi-
CONTACTO COMERCIAL
comercial@novavaga.co.ao dade da Justiça, a dificuldade de acesso a insumos e maté-
ASSINATURAS DIGITAIS ria-prima, e a carência de pessoal especializado, são alguns
(+244) 921 358 582
DISTRIBUIÇÃO
dos factores apontados pelos industriais como inibidores
Vaspe, SA do desenvolvimento do sector. E também da dificuldade na
CONTACTOS
(+244) 937 581 904 captação de investimento interno e externo.
(+244) 921 303 903
assinaturas@vaspe.co.ao Sem grande solução a curto prazo para os problemas estru-
NOVA VAGA, SA
Rua Fernão de Sousa, condomínio turais, há que estabelecer uma relação de proximidade com os
Bengo, bloco B, escritório nº 01
Bairro Vila Alice – Luanda empresários, possivelmente ouvi-los e procurar soluções
CONTACTOS
Telef.: (+244) 222 332 819
conjuntas, exigir às diversas instituições do Estado que te-
nham uma postura colaborante, explicar às diversas entida-
des a importância do desenvolvimento Industrial do País. Al-
guns passos têm de ser dados rapidamente quando olhamos
para o facto de apenas uma em cada três empresas industriais
registadas estar a trabalhar, e cerca de 90% destas estar a pro-
duzir abaixo da sua capacidade instalada.
Neste II Fórum Indústria é exactamente isso que procura-
mos. Tentar perceber o que cada um pensa face aos passos e
projectos que devem ser dados a curto e médio prazo, dando
voz às instituições e aos empresários. ■

25 MARÇO 2022 ■ 03
 BALANÇO | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022
DADOS DA INDÚSTRIALIZAÇÃO DO PAÍS

Mais de 60% das indústrias regi

em Angola não iniciaram activi
De acordo com o Anuário das Estatísticas das Empresas do Instituto Nacional de Estatísticas (INE),
que avalia a série entre 2017-2019, até final de 2019, o País tinha 9.181 unidades Indústriais registadas,
das quais 5.914, aguardavam início de actividade e 3.018 estavam em actividade.

MARTINS CHAMBASSUCO O Estado tem estado a desfazer-ser de empresas da Zona Económica Especial

AS INDÚSTRIAS ‘FANTASMAS’ REPRE-

SENTAVAM 64,4% do total das unidades re-
gistadas em 2019, ou seja, ainda estavam à es-
pera do início de actividade. Contas feitas pelo
Expansão, com base nos dados do INE de
2019, revelam que naquele ano estavam regis-
tadas 9.181 empresas Indústriais em todo o
pais, mas apenas cerca de 33%, 3.018 unida-
des, estavam activas, ao passo que 169 suspen-
deram a sua actividade e 80 foram dissolvidas.
Assim, 5.914 ainda aguardavam pelo início da
actividade. Quanto à distribuição geográfica,
Luanda com quase 1.500 indústrias, mais de
80% do total das indústrias registadas, é a pro-
víncia que lidera o mapa da indústria do País,
seguindo-se a província de Benguela com 287
unidades, e a Huíla vem na terceira posição
com 215. O Cuando Cubango e Lunda Sul são
as últimas regiões em termos de representa-
ção Indústrial, apesar do seu potencial.
Tratam-se apenas de indústrias que ac-
tuam fora do sector da extracção de petró-
leo, mercadoria com maior peso nas expor-
tações angolanas. Em termos de dimensões,
91,2% do total das empresas Indústriais são
micro e pequenas empresas, enquanto as
médias com 224 unidades representaram,
em finais de 2019, 7,4% e as grandes indús-
trias representaram apenas 1,4%, com um
total de 41 unidades distribuídas pelo país.
As estatísticas do INE indicam que em An-
gola predominam as indústrias alimentares, O sector dos materiais de construção,
bebidas e tabacos, com cerca de 42%, seguin- onde os Indústriais continuam pessimistas,
do-se a madeira com 24%, metalurgia com Predominam ainda é o mais afectado pela crise económi-
20%, enquanto os têxteis representam ape- as indústrias ca e financeira que o País atravessa. Este
nas 2% do tipo de indústrias angolanas. Cabe continua a ser o sector em que o Estado tem
aqui acrescentar que duas unidades de têx- alimentares, bebidas mais “atrasados” por regularizar e muitas
teis do País, apesar do processo de privatiza- e tabacos (42%), empresas estão a morrer”, admite uma fon-
ção porque que passaram, não estão ainda a seguindo-se te do sector, defendendo que é fundamental
produzir, encarando-se mesmo a possibili- a madeira (24%) a adopção de medidas que assegurem o bom
dade de virem a ser descontinuadas, ou seja, desempenho deste sector que fornece os
passarem por um processo de dissolução. materiais à indústria da construção, como o

06 ■ 25 MARÇO 2022
stadas QUANTO VALE A INDÚSTRIA NO PIB ANGOLANO | Peso da indústria no PIB, %
Fonte: INE

dade 5,1
5,7
6,8 6,6
6,1
5,3
4,7 4,8 4,8
4,5 4,4
4,0 4,2
3,7 3,9
3,6 3,4 3,5

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Fonte: INE Fonte: INE

COMO ESTAVAM AS ONDE ESTÃO AS EMPRESAS

INDÚSTRIAS EM ANGOLA INDÚSTRIAIS NO PAÍS | Localização
EM 2019 | Mais de 60% das das índustriais
indústrias registadas em Angola
são fantasmas Luanda 1.491

Aguardam Benguela 287

início 5.914
Huíla 215
Activas 3.018
Cabinda 186

Actividade Huambo 135

suspensa 169
Cuanza Sul 93
Dissolvidas 80
Namibe 76

Malanje 68

aumento da despesa pública, embora as Lunda Norte 58

obras do PIIM estejam a dar alguns resulta-
dos, mas continuam os constrangimentos Uige 47
resultantes da falta de financiamentos, pou-
42
FOTO: D.R.

cas encomendas e burocracia do Estado. Bengo

Luis Diogo, director-geral da Fabrime-

tal, olha para o sector como um todo e refe- Cuanza Norte 43
re que “o mercado internacional tem um
Zaire 33
efeito muito significativo no que acontece
com a Indústria nacional, na medida em Moxico 29
que apesar de produzirmos localmente
ainda temos necessidades de importar al- Bié 21
gumas matérias-primas, e ou, subsidiárias
para o processo produtivo”. E lembra que Cunene 20
“no momento actual assistimos a uma las-
timável Guerra na Europa que irá a muito Cuando Cubango 15
curto prazo acarretar efeitos negativos na
Lunda Sul 14
indústria interna, pelo efeito do aumento
dos preços. A Produção Interna vai fiar >>

25 MARÇO 2022 ■ 07
 BALANÇO | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022

>> mais cara, logo os preços tenderão a subir, Fonte: INE

o que irá dificultar ainda mais o controlo
da inflação”, admite. DIMENSÃO DAS INDÚSTRIAS EM 2018… | Tipo de empresa
Olhando para a crise na construção e ou-
tras indústrias, especialistas confirmam o Micro
estado enfraquecido e desigual do tecido 63% 1.805
empresarial, em particular da indústria
que, pela sua configuração e falta de robus- Pequenas
tez, não é susceptível de gerar crescimento TOTAL 28% 810
económico suficientemente diversificado
e sustentado. No entanto apelam para que 2.873 Médias
Empresas
haja mais investimento privado para re- 08% 219
lançar a indústria transformadora do País.
Acreditam mesmo que tirando muitas
Grandes
empresas estão a sobreviver porque estão no
País ao abrigo das linhas de crédito governo a
01% 39
governo. Reconhecem também que há mui-
tas indústrias que estão a operar no verme-
lho com a falta de insumos e bens intermé- … E EM 2019 | Tipo de empresa
dios. Mesmo com as dificuldades financei-
ras, o País deverá preparar um parque Indús- Micro
63% 1.914

Pequenas
TOTAL 28% 839
Especialistas
confirmam o estado
3.018 Médias
Empresas
08% 224
enfraquecido
e desigual do tecido Grandes
empresarial nacional 01% 41

Fonte: INE
trial para competir a nível internacional e Especi
aumentar a produtividade das mesmas.
TIPOS DE INDÚSTRIAS PREDOMINANTES EM ANGOLA, % O ambiente de negócios em Angola ainda
Indústria de bebidas e tabaco domina o tecido empresarial angolano
está muito inquinado com corrupção, buro-
cracia e tráfico de influências e tudo afecta as
empresas e começam a aparecer as empresas
do primeiro grau e do terceiro, sobretudo para
aquelas indústrias que dependem das divisas.
O comércio consegue sobreviver com mais fa-

24% ■ Madeira, mobiliário, papel e cartão

cilidade por não depender tanto de divisas.
“O ambiente de negócios deve ser melho-

42%
■ Metalúrgicas
rado de forma significativa, de forma a ser
■ Mineração e Construção
apelativo ao investimento externo e tam-
■ Químicas e farmacêuticas
bém ao reinvestimento interno. Temos
■ Téxteis, vestuário e calçado

20%
uma nova lei de investimento mas ainda
■ Outras
existem diplomas por aprovar relacionadas
■ Reciclagem
com a Lei. O País tem hoje uma oportunida-
■ Alimentares, bebidas e tabaco
de única para se tornar mais competitivo e
com isso tornar-se um grande player a nível
regional.”, explica Luís Diogo.

0% 1%
2%
2% 9% ◆ APOSTA NOS PÓLOS INDÚSTRIAIS
Especialistas acreditam que a proble-
mática da indústria angolana passa pelo >>

08 ■ 25 MARÇO 2022

O MAPA DOS INCENTIVOS FISCAIS PARA
OS INVESTIDORES PRIVADOS EM ANGOLA
ZONA A ZONA
Províncias de Luanda,
Namibe, os municípios-
-sede das províncias de
Benguela, Huíla e o mu-
nicípio do Lobito.
SISA
Redução da taxa de 50% a 65%, por
um período de até 2 anos;
IMPOSTO INDÚSTRIAL
Redução da taxa de 50% a 60%,
por período de 3 anos;
Taxa de liquidação provisória do
imposto Indústrial sobre as ven-
das do I semestre;
Redução da taxa de 50% a 60%;
IAC
Redução da taxa de 25% a
50% do imposto que incide
sobre distribuição de lucros e
de dividendos, por um perío-
do de 3 anos.
alistas dizem que o caminho deve passar pela criação de pólos Indústriais para captar investimentos
B ZONA
Províncias do Bié, Bengo,
Cabinda, Cuanza-Norte,
Cuanza-Sul, Huambo, Ma-
lanje, Namibe, Uíge e res-
tantes municípios das Pro-
víncias de Benguela e Huíla
SISA
Redução da taxa de 65% a 75%,
por um período de 3 anos;
IPU
Redução da taxa de 25% a 50%,
por um período de 2 a 4 anos;
IMPOSTO INDÚSTRIAL
Redução da taxa de 60% a 70%,
por período entre 3 a 6 anos;
Taxa de liquidação provisória;
Redução da taxa de 60% a 70%;
IAC
Redução da taxa de 50% a 60%
do imposto sobre distribuição e
lucros e de dividendos, a 60%
do imposto sobre distribuição
por um período de 3 a 6 anos;
Fonte: INE
C Indústriais, mas
Províncias do Cuando-
-Cubango, Cunene, Lun-
da-Norte, Lunda-Sul, Mo-
xico, Zaire.
SISA
Redução da taxa de 75% a 80%,
por um período de 4 anos;
IPU
Redução da taxa de 50% a 75%,
por um período de 4 a 6 anos;
IMPOSTO INDÚSTRIAL
Redução da taxa de 70% a 80%,
por período entre 6 a 8 anos;
Taxa de liquidação provisória do
imposto Indústrial sobre as ven-
das do 1º semestre;
Redução da taxa de 70% a 80%;
IAC
Redução da taxa de 60%a 70%
do imposto sobre distribuição
de lucros e de dividendos, por
um período de 6 a 8 anos.
O País tem
definidos 20 pólos
de desenvolvimento
apenas dois estão em
funcionamento pleno
investimento privado, mas com a apos-
ta nos pólos de desenvolvimento Indús-
trial infra-estruturados e com incenti-
vos fiscais e financeiros para cada zona.
Mas a deterioração das finanças pú-
blicas, provocada pela crise financeira
que levou a um tombo do PIB angolano,
contribuiu para a não concretização do
programa de reestruturação dos pólos
Indústriais. A alternativa tem sido a
aposta no desenvolvimento dos pólos
com maior procura, envolvendo alguns
investidores privados para a sua cons-
trução e gestão.
Ou seja, não tendo capacidade para ga-
rantir a infraestruturação dos pólos, que
em termos práticos significa a capacidade
de garantir agua, luz, saneamento básico,
comunicações e segurança às empresas
que lá se vão instalar, tem procurado par-
ceiros privados que tenham capacidade
FOTO: CÉSAR MAGALHÃES
25 MARÇO 2022 ■ 09
 BALANÇO | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022

O sucessivo adiamento da diversificação económica prejudica o país

torna-se muito
difícil vender a ideia
a futuros investidores,
principalmente
estrangeiros

>> de investimento para terminar esta tare-

fa, dando em troca a possibilidade de geri-
rem posteriormente o pólo Indústrial.
O País tem definidos 20 pólos de desen-
volvimento Indústriais, apenas dois estão
em funcionamento pleno, o de Luanda
com mais de 350 empresas e o da Catum-
bela, na província de Benguela, que até o
ano passado contava com 90 unidades
empresárias de várias dimensões. Mesmo
para estes dois casos, o Ministério da In-
dústria e Comércio (MINDCOM), no Pla-
no de Desenvolvimento Indústrial Ango-
la 2021-2025 indica que ambos os pólos
carecem ainda de investimentos signifi-
cativos para a melhoria das infra-estru-
turas internas, sobretudo a rede viária,
electricidade e água, recolha e tratamen-
to de resíduos sólidos.
As dificuldades de se dinamizar os
pólos Indústriais também estendem ao
programa dos Parques Indústriais Ru-
rais. Lançado em 2015, este programa
visava a promoção da indústria rural a
nível nacional através do fomento de
microempresas, mas questões finan-
ceiras ofuscaram o programa que se
aventava ambicioso para os angolanos.
O MINDCOM refere que estão em fun-
FOTO: LÍDIA ONDE
cionamento três parques localizados em
Cacuso (Malanje), Tomboco (Zaire) e
Canjala (Benguela), enquanto outros
três estão em construção em Quibaxe
(Bengo), Kalenga (Huambo) e Maquela
do Zombo (Uige) e existem mais quatro
para lançar em quatro províncias. plementação do quarto Plano de Des-
Mas com as condições que possuem envolvimento Indústrial (PDI 2022)
actualmente, torna-se muito difícil ven- Esperava-se mais do depois de quase fracassados os três an-
der a ideia a futuros investidores, prin- programa dos Parques teriores. A grande questão é saber se
cipalmente estrangeiros que já tenham este dinheiro já foi disponibilizado.
expansão internacional e conheçam as Indústriais Rurais, Na verdade, do total deste valor, cer-
condições oferecidas em outros países. ofuscado pelas ca de 71% espera-se que resulte das
dificuldades despesas de investimento público, sen-
◆ O DINHEIRO DO PLANO INDÚSTRIAL financeiras do país do o remanescente relativo a despesas
Até 2025, o governo vai investir 61,3 mil de apoio ao desenvolvimento. Para já é
milhões Kz no desenvolvimento e im- um plano ambicioso, mas as questões >>

10 ■ 25 MARÇO 2022
Quanto mais crescemos,
mais razões tem para
investir connosco.
Sanlam, a maior seguradora de África, com mais de 100 anos de experiência, tornou-se na maior
provedora de serviços financeiros não bancários do continente Africano.

Com um amplo leque de seguros, operações ao redor do mundo e uma vasta carteira de clientes no
mercado Angolano, a Sanlam é a seguradora em que se confia para a melhor protecção no dia-a-dia.
NOVOS CLIENTES

CONFIANÇA DOS INVESTIDORES

 BALANÇO | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022

>> financeiras poderão inviabilizar o pro- Luanda é a província onde estão instaladas mais unidades Indústriais
grama, tendo em conta as dificuldades
financeiras do País e a retracção dos in-
vestimentos privados.
O projecto enquadra-se na estratégia
do Governo de criar infra-estruturas

FOTO: LÍDIA ONDE

para a implementação de projectos In-
dústriais com a participação privada,
considerando, desta forma, o novo mo-
delo de desenvolvimento Indústrial em
Angola, Fica para trás a exclusiva ini-

Acesso a energia eléctrica regular é das principais condicionantes do País ciativa pública, assumindo o Estado, di-
recta ou indirectamente, a responsabi-
lidade pela sua concepção, ou seja, no
plano, a primazia passará pelas parce-
rias público-privadas.
As infra-estruturas deixam de ser pú-
blicas, como aconteceu até 2014, quando
entrou em operação a Zona Económica
Especial Luanda-Bengo, uma zona que se
espera venha a tornar-se em zona franca
para atrair mais investimento privado.
Fontes ligadas ao plano acreditam que
o novo paradigma de gestão das infra-
-estruturas, é o resultado da deteriora-
ção das finanças públicas provocada
pela queda dos preços do petróleo, o que

O Estado criou
a ZEE em 2009,
mas até hoje
os resultados
estão aquém
do desejado

condicionou todo o programa de desen-

volvimento Indústrial em Angola.
Contudo, em 2009 o Estado desen-
volveu a ZEE Luanda-Bengo e até ago-
ra os resultados estão aquém do deseja-
do, quanto ao desenvolvimento do sec-
tor Indústrial do País com uma infra-
-estrutura moderna para atender as
necessidades do mercado interno e
criar o excedente para a exportação.
A ZEE é uma mega-estrutura com 170
FOTO: LÍDIA ONDE

fábricas, na sua maioria ociosas e outras

em processo de liquidação e que fazem
parte do programa de privatizações em
curso no País. Esta realidade lança novos
desafios à gestão do espaço. ■

12 ■ 25 MARÇO 2022
 AMBIENTE DE NEGÓCIOS | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022
ÍNDÚSTRIA É A MAIS PENALIZADA
O ambiente de negócios em Angola ainda é um dos piores do mundo, com muitos constrangimentos aos investidores

Ambiente de negócios limita

investimentos na indústria
Apesar de o país estar a subir nos últimos anos em alguns índices internacionais que medem
o pulso às economias e às democracias, Angola continua a ter enormes dificuldades em
convencer os investidores estrangeiros a vir para o país. Há ainda muito caminho por fazer.

JOAQUIM JOSÉ REIS Ainda assim, as reformas operadas

A FALTA DE INFRAESTRUTURAS,
A ELEVADA BUROCRACIA,
o acesso à justiça e a baixa
produtividade são factores que
contribuem para que o ambiente de
negócios em Angola seja ainda hoje
um dos piores do mundo, o que
acaba por afastar os investidores do
país, sobretudo ao nível da indústria.
em Angola nos últimos anos fizeram o
Falta infraestruturas País dar um salto em índices
de base, como internacionais que medem o pulso ao
fornecimento regular ambiente de negócios, e até começaram
de energia, água a dar ligeiros frutos em termos de
captação de investimento estrangeiro
potável, saneamento fora do sector petrolífero, mas a
básico, diz Estote pandemia veio refrear essa tendência.
Para se ter uma ideia, entre 2012 e
2016 entraram no país 1.498 milhões >>

14 ■ 25 MARÇO 2022
 Fonte: Transparência Internacional; 180 países; Pontos 0-10 até 2011; 0-100 a partir de 2012

MELHORIAS NO ÍNDICE DE PERCEPÇÃO DA CORRUPÇÃO…

■ Índice corrupção - Classificação 136

29,0

19,0

162

-167
1,9

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Fonte: Banco Mundial; Distância até à Fronteira , sendo que a fronteira, o melhor, é 100;
183 países até 2012, 185 em 2013 e 189 entre 2014 e 2016 e 190 países a partir de 2017

… E NO DOING BUSINESS - AMBIENTE DE NEGÓCIOS…

■ Pontos DFT - Classificação

41,3
37,8 38,4
FOTO: LÍDIA ONDE

168

177

182

N.d
*2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

… POUCO SE REFLETEM NO INVESTIMENTO DIRECTO

ESTRANGEIRO EM ANGOLA | Milhões USD
16.388 - Peso do não petrolífero, %
15.830 8,6 ■ Não petrolífero ■ Petrolífero
14.367 14.118 7,9

10.780
5,4
7.453
6.888
5.967 6.197
3,3 3,9
4.550
2,1
1,6 2,6
0,9
1,8
486 227 347 282 241 648 641 113 261
155
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 III Trim. 2021

25 MARÇO 2022 ■ 15
 AMBIENTE DE NEGÓCIOS | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022

A falta de infraestruturas de base como fornecimento regular de energia eléctrica, água potável,

Desde 2012 entraram

no país 105.941 mil
milhões USD em IDE
em Angola, mas
apenas 3% foram para
sector não petrolífero

>> USD em investimento estrangeiro fora

do sector petrolífero, enquanto entre
2017 e o III trimestre de 2021 (o último
disponível no site do BNA) entraram
1.643 milhões. Destaque para os anos
de 2018 e 2019, em que foram captados
mais de 600 milhões USD em cada um.
Ainda assim, contas feitas, desde 2012
entraram no país 105.941 mil milhões
USD em investimento estrangeiro em
Angola, mas apenas 3% desse valor,
3.402 mil milhões USD, foram para o
sector não petrolífero.
Para os especialistas, há várias
questões que contribuem para
Angola ter dificuldades em tornar-
-se apetecível para o investimento
estrangeiro. O factor risco é um
dos principais problemas, admite
o economista António Estote.“Os
investidores procuram mercados
que rentabilizam melhor os seus investimento directo estrangeiro procurar outras paragens
recursos, considerando um nível na indústria não petrolífera é entre os nossos vizinhos.
de risco associado a este mercado. condicionado pelo mau ambiente António Estote continua com a
Por isso, os países encontram-se de negócios do País. “A primeira, a sua análise: “Quanto à terceira, as
numa permanente concorrência falta de infraestruturas de base taxas de juros reais elevadas devido
mundial para captação de como fornecimento regular de à necessidade de cobertura dos
recursos, através da atracção do energia eléctrica, água potável, índices de inflação. A quarta, a
investimento estrangeiro”, diz. saneamento básico. A segunda, a criação de monopólios
E acrescenta: “os investidores no burocracia na atribuição dos administrativos no processo de
processo de tomada da decisão direitos de propriedade, na qual é importação e exportação, na qual
final de investimento analisam de caracterizada por 6 procedimentos dos agentes registados como
forma isolada e combinada um e um tempo médio de 190 dias”. importador e exportador, apenas 34
conjunto de factores, que vão As dificuldades na legalização de
desde a criação de empresas, terrenos e imóveis são dos
licenciamento, fornecimento de principais entraves a que os
electricidade e água, registo de empresários possam ter acesso ao
propriedade, concessão de crédito, crédito, uma vez que não A legalização de
protecção aos investidores conseguem transformar estes terrenos e imóveis
minoritários, impostos, resolução activos em garantias efectivas para
de conflitos, entre outros”. os seus investimentos. É também continua a prejudicar
um dos principais motivos para o a obtenção de
◆ INFRAESTRUTURAS afastamento de investidores garantias para
E BUROCRACIA internacionais, que mesmo depois financiamentos
Por isso, o economista enumera de terem os seus projectos
cinco factores para justificar que o aprovados, acabam por ir embora e

16 ■ 25 MARÇO 2022
saneamento básico é um obstáculo assinalado pelos economistas

FOTO: ARQUIVO | EXPANSÃO

Apenas 34 agentes possuem o estatuto de Operadores Económicos Autorizados possuem o estatuto de Operadores
Económicos Autorizados, que
beneficiam de tratamento célere e
prioritário no processo de importação,
exportação e trânsito aduaneiro de
mercadorias. Quinta e última, a
“complexidade do sistema tributário e
a ausência de protecção efectiva e
celeridade na resolução dos conflitos
entre empresas”, adianta o economista.
A pouca credibilidade da justiça,
assente numa imagem de morosidade e
parcialidade, também é um factor que é
frequentemente referenciado nos
estudos sobre o ambiente de negócios
no País. Ao que se junta a relação com
as instituições do Estado, de que é
exemplo a AGT, que por sistema
assumem um posição de arrogância
perante os empresários, tratando-os
FOTO: LÍDIA ONDE

como potenciais marginais.

Luís Diogo, PCE da Fabrimetal, refere
que “A relação Estado/Empresas (sector
privado), pretende-se que seja salutar. As
empresas são aquelas que geram >>

25 MARÇO 2022 ■ 17
 AMBIENTE DE NEGÓCIOS | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022

>> emprego e, com isso, rendimento Taxas de desemprego indicam que o país carece de investimento que crie empregos
para o País. A actuação das
autoridades deve ser diferente
da que existe hoje”.
As “inspecções” de sexta-feira,
as dificuldades no tratamento de
qualquer documento nas
administrações municipais, as
ameaças dos representantes da
AGT, a complicação na
contestação de decisões oficiais,
são factores frequentemente
referenciados pelos empresários.

◆ VOCAÇÃO INDÚSTRIAL
O investigador da Universidade
Agostinho Neto, Fernandes
Wanda, aponta o dedo à falta de

FOTO: ADJALI PAULO

infraestruturas, mas também da
existência de uma banca
direccionada para o fomento
Indústrial. “Alguém já se
perguntou quantos projectos
Indústriais o Banco de Comércio e
Indústria (BCI) financiou desde a Empresários assinalam a insuficiência de mão-de-obra qualificada no País
sua criação? Eu gostaria de ter
uma resposta. Depois vem a
máquina burocrática. Sabe
quantos procedimentos existem
para abrir uma padaria, por
exemplo? Inúmeros…”, refere.
Os números do desemprego
(32,9% no final de 2021) são
indicador de que o país carece de
investimento que crie empregos,
sobretudo na área da indústria
transformadora, permitindo
juntar o ‘útil ao agradável’: criar
emprego e produzir bens
nacionais para diminuir as

FOTO: CÉSAR MAGALHÃES

importações. “Hoje existem tantos
quadros formados em várias áreas
(incluindo engenharias) sem
emprego. Basta ver que
anualmente criam-se mais
empresas ligadas ao comércio do
que à indústria transformadora.
Quando uma fábrica, através das
interligações sectoriais cria qualificada no País que, associada
emprego a montante e a jusante a uma inexplicável demora na
cria-se outras de fornecedores e de Os números do aprovação de vistos de trabalho
distribuidores”, admite Wanda. desemprego (32,9%) para expatriados, coloca as
Para quem está todos os dias no organizações numa posição muito
terreno a tentar desenvolver um
são um indicador de difícil”, reforça Luís Diogo.
projecto Indústrial, a questão da que o país carece de Todos estão de acordo
mão-de-obra disponível é também investimento que crie que a rentabilidade é um
um problema. “Temos um grave emprego formal critério decisivo para escolha
problema que é a ainda de um investimento Indústrial,
insuficiência de mão-de-obra sendo que esta depende >>

18 ■ 25 MARÇO 2022
 AMBIENTE DE NEGÓCIOS | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022

>> muito da qualidade dos O acesso a crédito ainda é muito difícil, como mostram os dados do PRODESI
trabalhadores. E neste aspecto
existem na área das profissões
técnicas um grande déficit de bons
profissionais, apesar dos níveis de
desemprego, o que também quer dizer
que a estratégia de formação dos
nossos jovens está desadequada
às necessidades das empresas.

◆ FUTURO
Quanto à ‘solução milagrosa’ para
inverter o quadro, Fernandes Wanda e
António Estote partilham ideia sobre
quais devem ser as apostas. “Deve-se
em primeiro lugar elaborar uma
estratégia consentânea para melhoria
do ambiente de negócios, baseada na
realidade angolana, identificar os
principais intervenientes e determinar

FOTO: CÉSAR MAGALHÃES

objectivos específicos, mensuráveis e
realísticos para cada uma delas.
Portanto, trabalhar de forma
inteligente e árdua”, admite Estote.
Já Fernandes Wanda aponta
baterias à criação de infraestruturas:
“Tem de haver uma aposta séria na
criação de infraestruturas, quer seja
com fundos privados ou públicos ou
uma mistura), depois tratar de atrair
investidores nacionais e ou
estrangeiros que possam se
estabelecer nesses espaços”.
Num país onde o acesso a crédito
ainda é muito difícil, veja-se o caso do
PRODESI, em que os bancos
preferiram pagar multas em vez de
libertar financiamentos, escudando-se
na salvaguarda do dinheiro dos seus
clientes, e onde a cultura de poupança
(quem consegue poupar) praticamente
não existe, é, por isso, necessário
procurar captar a poupança externa.
Mas, para isso, é necessário criar as
condições para que os investidores
estrangeiros olhem para Angola com
outros olhos. E algumas dessas
condições até foram criadas durante o
programa de Financiamento Ampliado
do Fundo Monetário Internacional
(FMI) em Angola entre 2019 e 2021.
No final de Fevereiro, o economista
residente do FMI em Angola, Marcos
Souto, destacou na Grande Entrevista
do Expansão que as reformas
estruturais que têm sido feitas, não
apenas em relação às finanças
públicas – mais transparência,
melhores processos, mais
planeamento e projecções – tinham
como objectivo também melhorar o
ambiente de negócios, para permitir
atrair investimento.
“Isso é uma coisa importante, se não
há poupança interna para alavancar o
crescimento, é necessário criar
condições para atrair a poupança
externa”, adiantou. E como fazer para
se atrair essa poupança externa? “Faz-
-se com estabilização
macroeconómica, com as reformas
estruturais, de forma a que os
investidores que estão fora de Angola
sintam que vale a pena investir aqui.
Haverá sempre risco, incerteza, como
em qualquer lugar do mundo, mas
conseguem projectar de uma forma
Veja-se o caso do
PRODESI, em que
vários bancos
preferiram pagar
multas em vez de
libertar créditos
que torna cada vez mais atractivo
investir em Angola. E aí não trazem só
o dinheiro, trazem o know how, são
empresas com experiência. Tudo isso
cria um ambiente mais virtuoso. É
importante que os investidores não
tragam só dinheiro”, acrescentou.
A todos estes problemas junta-se uma
postura das entidades oficiais que se
centra fundamentalmente na aprovação
dos projectos e muito pouco na
implantação. Ou seja, o processo de
aprovação é muito simples, melhora-se
as condições para que os empresários
tenham acesso aos serviços nesta fase,
mas depois a implantação fica quase
exclusivamente a cargo dos investidores.
E neste particular, as dificuldades
começam quando os empresários
percebem que não há abastecimento
de água e luz regular, que os sistemas
de internet não funcionam, que não
conseguem legalizar o património,
que são necessários dezenas de papéis
para começar a trabalhar. Por isso
temos uma taxa de desistência das
empresas superior a 50% entre o
período que medeia a aprovação e a
entrada em funcionamento. E que
66% das empresas Indústriais
registadas estejam paradas. ■

20 ■ 25 MARÇO 2022
Um Banco
com muito passado
e muito futuro.
O BFA está tão à frente no seu tempo, que os anos passam e parece que está cada vez mais novo.
 EXPORTAÇÕES | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022
DADOS DO III TRIMESTRE 2021 DOS DADOS DO PRODESI

Materiais de construção e cerveja

lideram as exportações
Estes são os dados mais recentes das exportações no âmbito do programa PRODESI,
que reflectem uma parte importante das vendas no estrangeiro de produtos feitos
em Angola. Os mercados dos países vizinhos ganham uma importância crescente.

MARTINS CHAMBASSUCO Fora do sector petrolífero, a indústria de bebidas é das mais fortes do País

ANGOLA EXPORTOU NO ÂMBITO

DO PROGRAMA PRODESI, ENTRE
JANEIRO E OUTUBRO DO ANO
PASSADO, quase 570 mil toneladas
de clínquer e outros produtos de
construção, totalizando 14,8
milhões USD, indicam as
estatísticas da Administração Geral
Tributária (AGT), com base nos
dados do PRODESI.
De acordo com a AGT, o top 10
das exportações é liderado pelo
clínquer, seguido da cerveja. As
exportações de fraldas caíram para
a quarta posição em termos de
valor e quantidade, enquanto as
embalagens de vidro ascenderam à
terceira categoria dos mais
exportados. O clínquer, cervejas e
embalagens de vidros lideram o
top do feito em Angola.
Os dados da AGT indicam que a
indústria cervejeira vendeu o
equivalente a 11 milhões USD,
enquanto as fraldas renderam
apenas 5,6 milhões USD.
Os sumos e refrigerantes já
entraram para o top 10 e os
Indústriais da Associação das
Indústrias de Bebidas de Angola
(AIBA) acreditam que as
exportações poderão aumentar, favorável ao negócio das bebidas
mas a burocracia aduaneira em Angola. Ainda segundo esta
continua a criar dificuldades para As exportações fonte, a crise no sector da
quem quer avançar para os de fraldas caíram indústria das bebidas já arrastou
mercados vizinhos. para o desemprego, nos últimos
Uma fonte do Expansão diz que para a quarta posição quatro anos, mais de oito mil
apesar da crise que afectou o em termos de valor empregos. Recentemente
sector e provocou alguns e quantidade “estalou” a crise dos ordenados em
despedimentos, os Indústriais exportada atraso na SODIBA, empresa que
estão mais animados e acreditam tem como marca mais importante
que a conjuntura económica já é a cerveja Luandina.

24 ■ 25 MARÇO 2022

Há que destacar as exportações de algumas cate-
gorias de produtos Indústriais que estão fora deste
programa. De acordo com os dados da AGT, para o
ano de 2021 as exportações da categoria de Máqui-
nas e Aparelhos foi de 85,3 milhões de USD, um
crescimento de 4,4% face ao ano de 2020, e Veícu-
FORA DO ÂMBITO DO PRODESI
los e outros meios de transporte exportou 15,6 mi-
lhões USD, um decréscimo de 54%.
Destacar também as exportações de Produtos
Químicos, 5,2 milhões USD, uma quebra de 39,1%,
Materiais Têxteis, 5,1 milhões USD (+ 8,5%) e Plásti-
cos e Borrachas, 4,3 milhões USD (+ 43,2%). Estes
números mostram que a indústria sediada em An-
gola começa a exportar, embora tenha ainda um va-
lor ainda residual no total das exportações do País,
que se fixaram em 2021 nos 31.961 milhões de USD.
Deste global, cerca de 94% são petróleo e gás.

Entre Janeiro e Outubro do ano

passado, as exportações de
Analistas entendem matérias-primas e mercadorias
que este é o momento diversas totalizaram os 55,6
certo para aliviar milhões USD e o pico das
a carga fiscal sobre exportações foi atingido em
Setembro, quando as vendas
as exportações ao exterior atingiram os
quase 9 milhões USD.
A Suave destaca-se nas
exportações de fraldas e outros
“Neste momento estamos a produtos de higiene produzidos
exportar para Portugal, RD Congo, em Angola. Ainda no âmbito do
Congo (Brazzaville), PRODESI, entre as mercadorias
Namíbia e Camarões. Queremos mais exportadas está também o
atingir mais mercados, mas varão de aço, óleo alimentar de
queremos que o Estado crie girassol, farinha de milho,
incentivos para o sector das óleo alimentar de soja,
bebidas, por ser o segundo maior medicamentos e vidros diversos.
empregador, depois da Analistas entendem que é o
construção”, refere a fonte. momento certo para aliviar a carga
Já os principais destinos das fiscal sobre as exportações, mas
exportações de fraldas e clínquer também é a grande oportunidade
FOTO: ARQUIVO | EXPANSÃO

foram a RD Congo e o Congo dos empresários angolanos

(Brazzaville). Ainda fazem parte aproveitarem e apostar no mercado
da lista dos mais exportados o congolês por causa do número de
açúcar, guardanapos e detergentes consumidores que devem rondar
produzidos em Angola. os cerca de 200 milhões. ■

ÂMBITO DO PRODESI
PRODUTOS MIL TONELADAS MILHÕES USD
Clinquer 569,96 14,76
Cerveja 19,11 11,00
Embalagem de vidro 11,21 5,56
Fraldas descartaveis 5,15 5,02
Sumos e refrigerantes 8,80 3,07
Cimentos Portland 21,46 2,62
Acúcar 2,80 2,19
Cimento Cola e argamassa 101,85 1,40
Guardanapos e papel higiénico 3,40 0,98
Detergentes 2,63 0,79

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CATOCA prevê produzir
6 milhões de quilates em 2022
A
Sociedade Mineira de Catoca, maior empre-
sa mineradora de Angola, responsável por
mais de 80% da produção de diamantes
deste País Africano, prevê colocar no mer-
cado internacional, em 2022, mais de 6 milhões de
quilates de diamantes. Esta produção representa um
crescimento de 8% comparativamente ao ano passa-
do, porém, Catoca prevê uma redução na sua factura-
ção na ordem dos 6%, provocada pelo comportamen-
to do mercado, uma vez que em 2021 o quilate de dia-
mante esteve a ser comercializado ao preço médio de
111,6 dólares, enquanto, para 2022, devido a tendên-
cia de aumento da oferta, estima-se que venha a ser
comercializado ao preço de 110 dólares.
Benedito Paulo Manuel, Presidente do Conselho de
Gerência da Sociedade Mineira de Catoca, sublinhou
que, apesar de antever-se uma redução do preço mé-
dio do diamante no mercado internacional, em conse-
quência de uma provável maior oferta de diamantes
no mercado, em relação ao ano passado, “as nossas
expectativas para 2022 são boas, pelo que acredita-
mos que ao chegarmos ao final do ano, teremos obti-
do resultados financeiros acima dos previstos” disse.
O contexto de pandemia da Covid-19 trouxe gran-
des desafios à economia mundial, sobretudo aos paí-
ses que têm grande de dependência de outros merca-
dos, em termos de matéria-prima e equipamentos es-
senciais à sua actividade. Em Angola, sobretudo à So-
ciedade Mineira de Catoca, a pandemia veio demons-
trar o quão importante é que as cadeias de abasteci-
mento estejam mais próximas dos grandes centros de
consumo, e no caso do subsector dos diamantes, con-
siderando o potencial de Angola, “acreditamos que
existe uma grande oportunidade para os clusters da
cadeia de produção de diamantes, desde os fornece-
dores de serviços especializados aos fornecedores de
equipamentos de grande porte”.
Segundo Benedito Paulo Manuel, existe mercado
para os players deste subsector, um mercado com
grande tendência de expansão em função de outros
projectos mineiros que estão a surgir e que surgirão
nos próximos anos. No caso de Catoca, aquando de
compras de serviços ou produtos, a preferência man-
tém-se para empresas que estejam em Angola, pelas
razões que acreditamos serem compreensíveis, con-
siderando que os custos tendem a ser economica-
mente mais viáveis, o atendimento das necessidades
tende a ser de maior qualidade e, não menos impor-
tante, trata-se de uma organização que oxigena a
economia nacional, gerando empregos, impostos e
gerando conhecimento aos nacionais.
ORGULHAMO-NOS DE CONTRIBUIRMOS ACTIVA-
MENTE PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÓMI-
CO E SOCIAL DE ANGOLA, IMPACTANDO SOBRE
A VIDA DE MILHARES DE PESSOAS AO REDOR DE
NOSSOS PROJECTOS
Com 27 anos de existência, a Sociedade Mineira de
Catocaemprega hoje, directa e indirectamente,
mais de 5 mil pessoas, garantindo renda para essas
mais de cinco mil famílias, tornando-se, deste
modo, o maior agente económico privado do Leste
de Angola, região que congrega as províncias da
Lunda Sul, Lunda Norte e Moxico. Actualmente, a
empresa afigura-se como grande contribuinte à
economia do País, posicionando-se como uma das
principais fontes de divisas para Angola. Para man-
PUBLIREPORTAGEM
ter a sua actividade, mais de 100 empresas, entre
pequenas, médias e grandes, prestam serviço à So-
ciedade Mineira de Catoca satisfazendo as suasne-
cessidades de bens e serviços.
Além do impacto positivo decorrente das boas
práticas na realização da sua actividade, a Socieda-
de Mineira de Catoca está fortemente comprometi-
da com o desenvolvimento das comunidades que
residem ao redor da sua mina, prova disso é que os
seus 27 anos de existência confundem-se com uma
história de 27 anos de responsabilidade social, com
acções na área da educação, saúde, combate à
fome e à pobreza, fomento ao empreendedorismo,
juventude e desportos, facto que a tornou o maior
parceiro privado do governo no Leste de Angola.
“Orgulha-nos o facto de sermos o maior produtor
de diamantes em Angola, mas orgulha-nos muito mais
o facto de estarmos a transformar recursos naturais
em riqueza para o País, impactando positivamente so-
bre a vida de milhares de pessoas com as oportunida-
des geradas como resultado da nossa actividade e dos
nossos programas sociais” Benedito Paulo Manuel.
Como forma de contribuir ainda mais para o des-
envolvimento das comunidades, ao nível da região
acima mencionada, a Sociedade Mineira de Catoca
criou recentemente quatro programas sociais es-
tratégicos, nomeadamente, Catoca Aluno, Catoca
Jovem Empreendedor, Catoca Académico e Cato-
ca Mulher Rural. Estes programas estão a impactar
positivamente nas pessoas, criando-lhes novas
perspectivas de vida. Programa Estudante Catoca:
é um programa concebido para apoiar jovens estu-
dantes a continuarem os seus estudos, nos níveis
de licenciatura, mestrado e doutoramento, dentro
e fora do País, de modo que possam efectivamente
terminar com sucesso as suas formações e contri-
buírem para o desenvolvimento económico e so-
cial do País. Em suma, constitui uma bolsa parcial,
um contributo financeiro para apoio no pagamen-
to das despesas com a formação. Está previsto be-
neficiar 260 jovens estudantes.
Programa Aluno Catoca: é um programa que tem
como objectivo contribuir na erradicação da eva-
são escolar, criando condições para que as crianças
estejam a frequentar o ensino concluam com resul-
tados satisfatórios. Esse programa numa primeira
fase consubstanciar-se-á no apoio directo a cen-
tros de acolhimento, apoiando os estudantes com
as condições para os estudos, alojamento e alimen-
tação. Prevê beneficiar mais de 1.500 crianças.
Crédito à Mulher Rural Catoca: é um programa
que se afigura igualmente como uma oportunidade
de a mulher rural formalizar a sua actividade, pas-
sando a beneficiar de todos os incentivos inerentes
aos diferentes programas de fomento à agricultura,
bem como os bancos e demais organizações. Além
do microcrédito, esse programa contempla um
conjunto de cursos de capacitação em matérias
voltadas para a produtividade agrícola, o empreen-
dedorismo e educação financeira. Beneficiará
1.600 mulheres. Jovem Empreendedor Catoca: é
um pacote de financiamento destinado a apoiar jo-
vens com iniciativas empreendedoras, bem como
suscitar o interesse nos demais, de modo a influen-
ciar a criação do autoemprego através de iniciati-
vas geradoras de renda, contribuindo na criação de
produtos e serviços essenciais ao mercado, bem
como no aumento dos níveis de empregabilidade
ao nível das províncias da Lunda Sul, Lunda Norte e
Moxico. Anualmente beneficiará um total de 60 jo-
vens empreendedores.
SOBRE A SOCIEDADE MINEIRA DE CATOCA:
Localizada na Província da Lunda Sul, a Sociedade Mineira de
Catoca é a quarta maior mina do mundo, explorada a céu aber-
to, responsável por mais de 80% da produção de diamantes do
País. Hoje, com 27 anos de existência, Catoca é a empresa que
mais gera empregos no sector privado do Leste de Angola,
com mais de 5.000 empregos directos e indirectos, um núme-
ro que poderá subir com o início de exploração em outros pro-
jectos, previsto para os próximos anos. A empresa é liderada
por Bendito Paulo Manuel, cidadão de nacionalidade angola-
na, PhD em Gestão Tecnológica, Mestrado em Geotecnia, em
Madrid, Graduação em Administração de Empresas, AIEC, Bra-
sil, licenciatura em Engenharia Civil, no ISECK – Ucrânia, Mes-
tre em Estruturas Metálicas na AEEUK – KHARKOV, Mestre em
Engenharia de Cimentações no CEDEX – Madrid e Mestre em
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 PDIA 2025 | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022
PLANO DE DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIAL DE ANGOLA

A contribuição da indústria transformadora no PIB deverá atingir os 9% até 2025, segundo o Plano de Desenvolvimento Indústrial (PDIA)

O objectivo da indústria
transformadora é valer
9% do PIB em 2025
Para a concretização dos objectivos de desenvolvimento do País, a indústria transformadora
tem de assumir um papel mais relevante na criação de riqueza, uma vez que hoje vale
apenas 7% do PIB. A média de contribuição em África anda pelos 11,5%.
28 ■ 25 MARÇO 2022
 HERMENEGILDO FERREIRA
CLASSIFICAÇÃO POR ACTIVIDADE
A CONTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA TRANS-
FORMADORA PARA O PIB NACIONAL ain- O âmbito da indústria transformadora em Angola corresponde às activi-
da está abaixo da média africana. Em Angola é dades económicas da secção C da Classificação das Actividades Econó-
cerca de 7%, a média no continente é de 11,5%, micas (CAE) – Rev. 21, que compreendem a produção de bens de consu-
na África subsariana é de 10,3% e na África do mo, de bens intermédios e de investimento.
Sul é de 13,8%. Na verdade, a indústria no País
desenvolveu-se desde 2002 a reboque de ou- 10 Indústrias
Alimentares 19 Fabricação de Coque,
Produtos Petrolíferos
Refinados e de
excepto Máquinas
e Equipamentos
tros sectores, como a construção, energia e
águas ou telecomunicações, sem uma estra-
tégia global, e só no ano passado foi apresen-
11 Indústria
das Bebidas
Aglomerados de
Combustíveis 27 Fabricação
Equipamento
Eléctrico
de

tado um documento onde se compilavam as

ideias do que deveria ser o desenvolvimento
12 Indústria
do Tabaco 20 Fabricação
de Produtos
Químicos e de 28 Fabricação
de Máquinas e
do sector como um todo.
O Plano de Desenvolvimento Indústrial
13 Fabricação
de Têxteis
Fibras Sintéticas
ou Artificiais,
excepto Produtos
Equipamentos,
não especificadas

de Angola (PDIA) tem como objectivos o

crescimento sustentado do peso da indús- 14 Indústria
do Vestuário
Farmacêuticos
29 Fabricação de
Veículos Automóveis,

tria transformadora no PIB, passando de um

15 Indústrias
do Couro
21 Fabricação
de Produtos
Farmacêuticos
Reboques e
Semi-Reboques e
Componentes para
valor de base de 6,6% em 2017, para mais de
e dos Produtos de Base e de Veículos Automóveis
9% em 2025, uma diminuição das importa- do Couro Preparações
ções de produtos Indústriais em proporção
ao PIB Indústrial de 144% em 2017, para me- 16 Indústria da
Farmacêuticas
30 Fabricação
de Outro

nos de 130% em 2025, e um crescimento dos

Madeira, ex.
Mobiliário;
Cortiça e Obras
22 Fabricação
de Artigos
de Borracha
Equipamento
de Transporte
empregos resultantes de novos investimen-
tos na indústria transformadora, “valor que
de Cestaria
e de Espartaria
e de Matérias
Plásticas 31 Fabricação
de Mobiliário
e de Colchões
não é possível quantificar pelo facto de as es-
tatísticas disponíveis não serem completa-
mente seguras”, lê-se no documento.
17 Fabricação
de Pasta,
de Papel,
23 Fabricação de Outros
Produtos Minerais
não Metálicos 32 Indústrias
Transformadoras,
A lógica do programa está assente em qua- de Cartão não especificadas
tro eixos: alteração e adaptação do quadro le-
e seus Artigos
24 Indústrias
Metalúrgicas
33 Reparação,
gal, capital humano qualificado e ajustado às
necessidades, infraestruturas atractivas e
18 Impressão e
Reprodução
de Base Manutenção
e Instalação

funcionais e tecido empresarial dinâmico e

de Suportes
Gravados 25 Fabricação de
Produtos Metálicos,
de Máquinas
e Equipamentos
competitivo. Se relativamente aos primeiros
FOTO: LÍDIA ONDE

a maior responsabilidade recai sobre o Esta-

do, é ele que produz leis e constrói as políticas
de formação, sobre os outros dois, essa res-
ponsabilidade é dividida com o empresaria-
do privado. No que se refere às infraestrutu-
ras, o Estado tem de garantir o acesso aos ser-
viços básicos, o que infelizmente não está a
acontecer na maioria dos pólos Indústriais
instalados, sendo que, no último, a responsa-
bilidade do Estado esgota-se na criação de
condições atractivas para que grupos em-
presariais sólidos se instalem no País.
O PDIA tem de ser implantado em articula-
ção com outros ministérios, nomeadamente
com os transportes, a agricultura, energia e
águas e economia. Isso é fundamental, por
exemplo, quando se projecta a malha de pólos
Indústriais a construir. A este propósito, refi-
ra-se que nesta altura estão a funcionar os pó-
los da ZEE e de Viana em Luanda, da Catum-
bela e Canjala (pólo rural) em Benguela), Ca-
cuso em Malange, Tomboco no Zaire e Fútila
em Cabinda. Mas no plano prevê-se a cons-
trução de mais 25, divididos por prioridades,
mas que parece ser um valor exagerado.
Até porque a lógica do desenvolvimento
da indústria com este formato tem muito a
No que se refere às
infraestruturas, o
Estado tem de
garantir o acesso aos
serviços básicos, o que
não está a acontecer
ver com debilidades que o País tem relativa-
mente à garantia das condições básicas de
funcionamento às indústrias, esperando-
-se também que estas evoluam e que possa
ser possível colocar uma fábrica em qual-
quer município sem que as questões do
abastecimento de energia e águas, teleco-
municações, acessibilidades ou tratamento
de resíduos sólidos se coloquem. Também é
necessário que as localidades onde se pre-
tenda instalar a indústria, tenham planos
directores de desenvolvimento.
Talvez a maior fragilidade deste plano seja
a verba necessária para o aplicar, um investi-
mento de 120 milhões USD, alocado directa-
mente ao sector da indústria, independente-
mente de outros investimentos que terão de
ser feitos por outros sectores da economia
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 AGROINDÚSTRIA | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022
SEGURANÇA ALIMENTAR
O desenvolvimento das agroindústrias vai permitir que as mais valias da produção alimentar fiquem no País

FOTO: CÉSAR MAGALHÃES

Existem oportunidades
para investimentos na
agroindústria
Este é um sector estratégico para o País e, recentemente, o Estado libertou
mais uma garantia soberana para a agroindústria. Existem oportunidades
de investimento e vontade política para apoiar estes projectos.
maioria dos países, onde estes
JOÃO ARMANDO
projectos estão mais perto da
Há uma concentração produção, normalmente em
A AGROINDÚSTRIA É UM das agroindústrias em pequenas cidades/vilas do
CAMINHO NATURAL PARA O interior. São, por norma, pólos de
DESENVOLVIMENTO do País.
Luanda e Benguela, desenvolvimento desses pequenos
Hoje já existem algumas por estarem perto aglomerados populacionais.
indústrias alimentares a funcionar dos portos onde chega No nosso País, as agroindústrias
no País, que por condições de a matéria-prima continuam a desenvolver-se
acesso aos produtos básicos estão preferencialmente à volta das
junto às grandes cidades, grandes cidades de Luanda e
fenómeno que não se verifica na Benguela (onde se inclui o Lobito), >>

25 MARÇO 2022 ■ 31
 AGROINDÚSTRIA | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022
>> porque um percentual
elevado da matéria-prima, na
verdade, acaba por chegar via
porto, em contentor.
Ou seja, a lógica mantém-se
e não é por acaso que as maiores
empresas de lacticínios, de
processados de carne, de massas,
de sumos, por exemplo, estão
nesta faixa territorial.
Alguns projectos já com alguma
dimensão começam a desenvolver-
-se nas províncias que, pelas suas
características, mas também pela
tradição e cultura, vão
abastecendo os mercados locais,
embora tenham dificuldades em
conseguir uma posição de
destaque no maior mercado de
consumo que é Luanda. Cuanza
Sul, Huambo e Lubango são três
províncias onde isto acontece.
Cabe acrescentar que a distância
entre as cidades e os custos de
deslocação de matéria-prima e
produto acabado no País ainda é
muito elevado. As condições das
estradas, a falta de empresas
logísticas com custos e condições
de entrega competitivas, as
“exigências” da Polícia Nacional, a
impossibilidade de acesso regular
à energia e água, as oscilações nas
As acessibilidades aos locais de produção continua a ser um grande problema
32 ■ 25 MARÇO 2022
PÔR A FUNCIONAR UMA AGROINDÚSTRIA
Como toda a empresa Indústrial, o sector alimentar precisa de um local de
instalação e cumprimento de alguns pontos básicos, que devem ser segui-
dos e incorporados na sua rotina, para que sucesso seja atingido. São eles:
■ Definição do tipo de tecnologia a rantir que há abastecimento re- ■ Determinação de regras e políti-
ser usada; gular de água e luz, saneamento cas internas;
básico e acesso às redes de tele-
■ Determinação dos equipamentos comunicações) ; ■ Contratação de colaboradores;
que serão adquiridos, bem como
a compra de máquinas e outros ■ Planeamento e distribuição de ■ Garantia de recebimento ou pro-
acessórios; equipamentos pelo espaço; dução de matéria-prima;
■ Escolha da sede onde as opera- ■ Definição de procedimentos ado- ■ Abastecimento de insumos se-
ções serão realizadas (para a tados e métodos técnicos aplica- cundários.
nossa realidade é necessário ga- dos na produção;
Também é importante destacar a importância dos processos de manuten-
ção para que a agroindústria funcione perfeitamente. Equipamentos, insu-
mos agrícolas e instalações em geral necessitam de bastante atenção, uma
vez que as paralisações devido a falhas podem custar muito dinheiro.
comunicações, a burocracia, são
factores que oneram em demasia
A agroindústria as agroindústrias que estão fora
tem basicamente dessa faixa territorial
Luanda/Benguela. Isso limita o
três fileiras agrícolas seu crescimento para os mercados
de suporte - os grãos, próximos e algumas vezes,
as frutas e legumes inviabiliza a sua actividade.
e a produção animal Neste sentido, houve uma
estratégia de criação de pólos
Indústriais, onde parte destes
problemas podiam ser
ultrapassados. Mas, na prática, não
tem sido assim. Ainda
recentemente o Expansão
publicou uma reportagem sobre o
pólo Indústrial da Caála, uma zona
onde a agroindústria podia ter um
papel relevante, mas hoje ainda
não está feita a infra-estruturação
do espaço, o que, na prática,
significa que uma unidade que ali
se instale não tem acesso imediato
a luz, água potável e internet.
◆ EMPRESAS
De uma forma genérica e simples a
agroindústria tem três grandes
fileiras – a que vem dos grãos, a
que está ligada às frutas e legumes
FOTO: CÉSAR MAGALHÃES
e a que tem como base a produção
animal (onde se acrescentam os
lacticínios e os ovos). Juntam-se
depois duas áreas importantes, o
sector das rações e a produção de
energia (etanol a partir da cana de
açúcar ou biocombustíveis, através >>
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25 MARÇO 2022 ■ 33
 AGOINDÚSTRIA | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022
>> do girassol, por exemplo).
Podemos acrescentar nesta área a
produção de sal ionizado, embora
não tenha propriamente uma
intervenção Indústrial.
Se olharmos para o nosso País, as
moagens de grãos, a transformação
de polpas (tomate e algumas
frutas), os transformados de carne,
lacticínios (queijo e manteiga) e a
produção de batatas fritas fazem
quase o pleno da nossa
agroindústria. Sendo que para cada
um deles existem condições e
particularidades únicas.
No que se refere à moagem de
grãos, estamos a falar da produção
de farinhas, fundamentalmente a
partir de milho e mandioca, por ser
um produto tradicional para o
consumo humano, desenvolveram-
-se um pouco por todo o território,
de diferentes dimensões, sendo que
o mais importante centro Indústrial
está sediado em Benguela e é da
propriedade do grupo Carrinho.
Mas é importante dizer que, no
início dos anos 1990, o País tinha
uma capacidade de moagem
instalada que praticamente
garantia as suas necessidades,
sendo que depois esta tendência se
inverteu, tendo existido nos
últimos anos com a recuperação de
várias moagens (infelizmente
muitas continuam a trabalhar a
menos 20/30% da sua capacidade),
sendo que a componente preço tem
uma relação muito próxima com a
dimensão de produção, e a unidade
da Carrinho, já referenciada acima,
não dá grandes possibilidades à
concorrência. Posição que sai
solidificada pelo facto de
ser a gestora da Reserva
Estratégia Alimentar.
A produção
agropecuária
e a agroindústria
caminham muitas
vezes de
braço dado
34 ■ 25 MARÇO 2022
AGRONEGÓCIO
Quando olhamos para o sector
alimentar, existe também uma
série de indústrias que estão à
sua volta e que são rentáveis e
apetecíveis, destacando-se a
produção de energia, funda-
mentalmente etanol, através da
cana-de-açucar, como está a fa-
zer a Biocom. A produção de
biocombustíveis através da se-
mente de girassol, como será
um projecto já aprovado entre a
ENI e a Sonangol, ou o desenvol-
vimento do cultivo do algodão
para a indústria têxtil, que tam-
bém já se iniciou nas províncias
do Cuanza Norte e Malange.
Mas pode também acrescen-
tar-se os curtumes, produção de
couro para roupa e calçado por
via das peles dos animais (bovi-
nos essencialmente), ou os pro-
jectos para a indústria farma-
cêutica, através do cultivo de in-
gredientes específicos. E tam-
bém, toda a actividade econó-
mica que está ligada à produção
florestal, que não fazendo parte
desta área, é normalmente feita
pelos mesmos produtores.
Aldeia Nova, Fazenda Aurora, Fazenda Santo Antónioe fazenda 26 são bons exemplos
Já temos
instaladas no País
cinco indústrias
de dimensão no
sector dos cozidos e
fumados de carne
A indústria assume uma posição
importante na estabilização da
produção agroalimentar uma vez
que garante escoamento em
momentos de crise de procura,
valoriza a produção que apesar de
estar boa em termos de
características não tem condições
para seguir para os mercados, e
também porque evita uma maior
oscilação de preços.
Hoje, no nosso País,
a produção agropecuária e a
agroindústria caminham muitas
vezes de braço dado, de que são
bons exemplos a Aldeia Nova, a
Fazenda Aurora, a Fazenda Santo
António ou a Fazenda 26, embora
se diga que a Aldeia Nova passa
hoje por alguns problemas
financeiros, que têm também a ver
com a definição dos seus “novos” >>
FOTO: ARQUIVO | EXPANSÃO
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 AGROINDÚSTRIA | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022
Os projectos agroIndústrias a funcionar no País fecham todo o circuito, da produção à comercialização
>> donos. Esta referência não ficava
completa sem dar destaque à
Agrolíder, que é maior
empresa angolana deste sector
instalada em Angola, já com
marcas firmadas no mercado.
Para as organizações
referenciadas acima, que
apostam em ter todo o circuito
produtivo, a área Indústrial é
fundamentalmente composta por
A guerra da Ucrânia veio lançar novos desafios à indústria de moagem de grãos
36 ■ 25 MARÇO 2022
FOTO: ARQUIVO | EXPANSÃO
unidades de ração animal,
moagens, produção de polpas, no
A agroindústria caso particular da fazenda Santo
desenvolve-se António que também tem
capacidade de abate de animais, os
sobretudo com transformados de carne, e da
pequenos e médios Aldeia Nova, que desenvolveu
projectos de dimensão condições para a produção de
regional lacticínios e ovos.
◆ OPORTUNIDADES
Cabe aqui acrescentar que já temos
instaladas no País cinco indústrias
de dimensão no sector dos
transformados de carne, cozidos e
fumados, mas que trabalham quase
exclusivamente com carcaças
congeladas importadas, sendo por
isso um desafio para os pecuaristas
produzirem a preços competitivos.
Porque neste caso particular não se
coloca a o problema da quantidade
FOTO: ARQUIVO | EXPANSÃO
disponível, mas objectivamente o
preço de venda às indústrias,
sendo que a diferença entre as
importações e a produção nacional
é ainda muito grande.
Mas as oportunidades hoje
estendem-se a todos os sectores da
agroindústria porque ainda >>
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 AGROINDÚSTRIA | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022

>> estamos no início. No que se refere A captação de investimento externo é nesta fase fundamental para a agroindústria
a produtos de 2.ª e 3.ª geração já
existem alguns projectos, mas de
pouca dimensão. Sobre os produtos
de 4.º geração ainda estamos muito
longe. Aliás, refira-se que apesar da
capacidade de frio instalada em
Angola, cerca de 300.000
toneladas, está mal dividida pelo
território é certo, não há uma
indústria de alimentos congelados
no País, que de acordo com as
estatísticas dos países mais
evoluídos, vale cerca do consumo
total de alimentos.
Estas áreas mais elaboradas da
transformação alimentar, mas
também mais geradoras de valor
acrescentado para o País, só serão
desenvolvidas em parceria com as
empresas internacionais, eles têm
mais conhecimento, tecnologia e
capacidade de investimento, o que
ainda se torna quase impossível
captar tendo em conta o ambiente
de negócios e as condições que
são oferecidas.
O ambiente de procura de
produtos alimentares no mundo

FOTO: ARQUIVO | EXPANSÃO

que resulta da crise na Ucrânia
pode ser um importante
catalisador para investimentos
agroIndústriais. O País não pode
limitar-se a “alugar” terras a
investidores estrangeiros, sem
retirar daí as mais-valias da
transformação no território
nacional. Com alguma dimensão
nesta área, aparecem depois as
oportunidades para o sector das
embalagens, ainda muito débil em
Angola, por exemplo temos apenas
uma fábrica de latas para produtos
alimentares situada em Benguela,
que está parada nesta altura à
espera de um processo de
privatização que não está
“totalmente” decidido.
É importante dizer que para
desenvolver este sector não são
precisos apenas mega-projectos,
até porque são mais difíceis de
gerir e colocam outros problemas
ao mercado, pelo que o caminho
deve ser a implantação de
pequenas indústrias de sucesso, e
embora não se possa associar
directamente à agroindústria, é o
exemplo da unidade de fabrico de
pasta de caranguejo no Namibe,
que já agrega uma unidade de
produção de embalagens metálicas.
Se olharmos para a nossa
capacidade de produção agrícola e
pecuária, será quase obrigatório
que se desenvolvam nas
localidades de menor dimensão,
A capacidade de frio
instalada em Angola é
de cerca de 300.000
toneladas, que irá
apoiar a indústria
agroalimentar
junto às áreas de produção,
unidades simples de lavagem e
selecção de frutas e legumes,
unidades de transformação de
legumes e frutas em polpas, mas
também de concentrados,
enlatados, alimentos liofilizados, e
mesmo, de alimentos congelados.
Um caminho que trará
também riqueza aos
produtores, agricultores e
pecuaristas, o que contribuirá para
o desenvolvimento deste sector.
Ou seja, a indústria pode ser o
toque para o desenvolvimento da
produção e segurança alimentar.
As oportunidades existem, tem
agora o Estado de resolver todos
os problemas que estão à volta da
sua implantação e
desenvolvimento. ■

38 ■ 25 MARÇO 2022
 OPINIÃO | ESPECIAL INDUSTRIA 2022
DESAFIO PARA O PAÍS

Não se cria uma indústria forte sem uma boa

articulação intersectorial e infraestruturas
FERNANDES WANDA ANGOLA ESTÁ NUMA ARMADILHA JÁ QUE POR UM LADO TEM UMA ALTA TAXA DE INFLAÇÃO, DEVIDO À FRACA
Docente e investigador da UAN
OFERTA INTERNA, E POR OUTRO LADO TEMOS O BNA A ADOPTAR MEDIDAS RESTRITIVAS PARA COMBATER
ESSA MESMA INFLAÇÃO. ENTÃO, COMO SAIR DESTA ARMADILHA?

APESAR DO DISCURSO POLÍTICO O desafio de Angola passa por disponibilizar pólos de desenvolvimento industrial infraestruturados
INDICAR UMA ATENÇÃO PARA O
DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL,
o facto é que nesses 20 anos de paz a
indústria transformadora tem
contribuído em média menos de 5% para
o PIB (cf. Contas Nacionais). A evidência
empírica indica que o baixo valor
acrescentado da indústria
transformadora em Angola se traduz
depois nas fracas taxas de crescimento
que o País tem observado. Afinal, como
temos insistido neste espaço, a taxa de
crescimento da produção na indústria
transformadora está intimamente ligada
À taxa de crescimento económico
(Kaldor 1989). Se assim for, por que
razão este não é o caso de Angola?
Ora bem, o Prof Mike Best no seu livro
How Growth Really Happens defende que
não existem milagres económicos. O que
realmente existem são governantes que
perceberam que para haver crescimento,
tem que haver produção. Este em nosso
entender parece ser o problema de Angola,
já que só assim se explica a ausência de
infraestruturas produtivas, como por
exemplo pólos de desenvolvimento
industrial devidamente infraestruturados,
e um mecanismo de financiamento do
fomento da actividade industrial.
Não faz sentido a governação apelar
para a vinda de investidores estrangeiros
ou mesmo, diríamos nós, reformar o
sistema de educação ou de justiça sem
que o País disponha de um pólo industrial
devidamente infraestruturado,
atendendo à impossibilidade de o desafio da governação em Angola passa
disponibilizar utilidades como água e luz
em todo o território nacional
Baixo valor por disponibilizar um pólo de
desenvolvimento industrial devidamente
simultaneamente. A experiência tem acrescentado da infraestruturado, colocar em
mostrado que estas reformas, apesar de indústria em Angola funcionamento, tirar lições e replicar
necessárias, se fazem ao longo da
caminhada e como tal não podem ser
traduz-se depois nas essa experiência em outras partes do País.
Para além da ausência de
encaradas como condição sine qua non fracas taxas de infraestruturas, é igualmente notável
para o arranque do processo de crescimento económico uma certa desarticulação sectorial que
industrialização em Angola. Assim sendo, passamos a explicar. A reabilitação da

40 ■ 25 MARÇO 2022
 A indústria transformadora tem contribuído em média menos de 5% para o PIB
A produção
de aço deveria
estar a dinamizar
a produção
de equipamentos
agrícolas

indústria têxtil ficou orçada em 1,2 mil

milhões de dólares norte-americanos
financiado pelo Japão. A recuperação da
Nova Textang II levou seis anos, e como
tal podemos dizer que caso houvesse
uma melhor articulação sectorial,
talvez, no momento de arranque
dessa unidade fabril Angola
poderia ter alguma produção de algodão
e evitar a importação desta matéria-
-prima como ainda acontece.
A produção de aço deveria estar a
dinamizar a produção de equipamentos
agrícolas, o que poderia contribuir (em

FOTO: LÍDIA ONDE

combinação com outras iniciativas) para
a dinamização deste sector. Se tivermos
em conta que grande parte da pressão
inflacionista que hoje se verifica em
Angola advém do aumento de preços dos
produtos da classe de “Alimentação e
Bebidas não Alcoólicas”, podemos ver oferta interna, por outro lado temos o explicamos a lógica política do Aviso
que essa sinergia é desejável. Outro BNA a adoptar medidas restritivas para N.º10/2020 do BNA que promove a
exemplo é o caso da exportação da combater essa mesma inflação, quando concessão de crédito ao sector real da
madeira. Segundo uma publicação para aumentar a oferta a evidência economia. Essa iniciativa do banco
recente, a exportação de 120 mil metros empírica mostra que seriam necessárias central tem o potencial de reduzir a
cúbicos de madeira serrada poderá medidas expansivas. Então, como sair dependência que o sector bancário hoje
render 72 milhões USD neste ano. desta armadilha? tem nos negócios com o Governo
Todavia, o País importou entre 2019 e Acreditamos que uma solução central. Caso ela seja bem
FOTO: LÍDIA ONDE

2021 móveis de madeira num valor
médio de 31.159.638 USD. Temos aqui
uma oportunidade para se dar um valor
acrescentado a esta matéria-prima.
O Indicador de Clima Económico do
I.N.E. tem mostrado que os agentes
económicos ligados ao sector da
indústria transformadora não têm sido
capazes de atingir as suas metas de
produção devido às dificuldades
financeiras. Um país não pode desejar ter
um sector industrial forte, quando o
sistema bancário cobra taxas de juros
muito altas. Angola está neste momento
numa armadilha já que por um lado tem
uma alta taxa de inflação, devido à fraca
sustentável num período pós-covid só
será possível caso haja um pacto entre
o sector bancário, empresários e a
governação. Num outro texto,
Um país não pode
desejar ter um sector
industrial forte, quando
o sistema bancário
cobra taxas de juros
muito altas
implementada vai ajudar as empresas a
fazerem o fluxo de divisas para o país,
produzindo para substituir as
importações e exportando o excedente.
Porém, tal só será possível caso haja
para o sector industrial pólos
industriais devidamente
infraestruturados e no sector agrícola,
acesso a perímetros irrigados, não
dependendo das cargas pluviométricas
e claro, ligações rodoviárias, quiçá
ferroviárias, entre os principais centros
de produção, transformação e consumo.
Enfim, não se pode desejar ter uma
indústria forte sem infraestruturas e
uma boa coordenação intersectorial. ■

25 MARÇO 2022 ■ 41
 PRODESI | ESPECIAL INDÚSTRIA 2022
TOTAL DE 340 MIL MILHÕES KZ
Indústria recebeu 44% do total do
crédito disponibilizado no PRODESI
O financiamento desembolsado para a indústria transformadora
e alimentar atingiu 148,2 mil milhões Kz, cerca de 44% do total
de crédito desembolsado para o sector produtivo.
MARTINS CHAMBASSUCO
CONTAS FEITAS, COM BASE NOS DA-
DOS DOS INDICADORES DO PRODESI
sobre o acesso ao crédito e os projectos
aprovados, indicam que só para a indús-
tria transformadora foram desembolsa-
dos 88,1 mil milhões Kz, enquanto a in-
dústria alimentar ficou com uma fatia de
60,0 mil milhões Kz.
Os indicadores do acesso ao crédito
apontam que até ao início desta semana, a
banca comercial desembolsou 340 mil mi-
lhões Kz, o equivalente a 37,2% do total do
montante aprovado em quatro anos da im-
plementação do programa. Para a indústria
transformadora, a banca comercial, tendo
em conta os mecanismos de financiamen-
to, aprovou 240,1 mil milhões Kz, dos quais
disponibilizou 88,1 mil milhões, faltando
ainda desembolsar 152,5 mil milhões.
Já para a indústria alimentar, o consórcio
de bancos que aderiu ao PRODESI aprovou
um montante de 94,5 mil milhões Kz, dos
quais foram desembolsados 60,0 mil mi-
lhões, enquanto os restantes 34,5 mil mi-
lhões ainda estão ainda por entregar.
Os números mostram a importância que
a indústria tem neste programa, clara-
mente acima da agricultura, comércio ou
pescas, sendo que grande parte dos pro-
jectos são pequenas e médias unidades,
dentro de uma lógica de crescimento mais
adequada à nossa realidade.
◆ OS NÚMEROS DO PRODESI
Dezasseis bancos fazem parte do programa
e já desembolsaram 340 mil milhões Kz
para 753 projectos em vários sectores de ac-
tividade. Até ao fecho desta edição, 307 pro-
jectos estavam à espera de financiamento.
Mais de 90% destes projectos foram aprova-
dos ao abrigo do aviso 10 do BNA. No top 3
dos bancos que mais participaram no pro-
42 ■ 25 MARÇO 2022
A indústria transformadora é o destino preferido dos financiamentos
grama, o BancoBIC lidera os financiamen-
tos. Desde o lançamento do programa, o
BancoB IC já desembolsou 70,0 mil milhões
Kz dos 163,1 mil milhões aprovados.
O Banco de Desenvolvimento de Angola
(BDA), lançado pelo Estado para o finan-
ciamento do sector produtivo, em quatro
anos aprovou 195,1 mil milhões Kz e de-
sembolsou apenas 41,4 mil milhões, o que
o coloca na segunda posição dos bancos
que mais concederam crédito à economia.
No top 3 o Standard Bank Angola foi o
único que desembolsou todo o valor apro-
vado. Em quatro anos, o Standard aprovou
e disponibilizou 41,3 mil milhões Kz.
Quanto às linhas de financiamento, o
aviso 10 do Banco Nacional de Angola é o
O banco Bic é a
instituição mais activa
no PRODESI e já
desembolsou 70,0 mil
milhões Kz, de 163,1
mil milhões aprovados
FOTO: CÉSAR MAGALHÃES
mecanismo de crédito que mais disponibi-
lizou dinheiro para financiar a economia.
Em quatro anos disponibilizou 284,5 mil
milhões Kz, 83,7 dos 340 mil milhões Kz já
disponibilizados pelos bancos.
As linhas de financiamento contratadas
pelo Estado para a compra da produção
nacional e os insumos e apoio directo ao
sector produtivo desembolsaram 33,1 mil
milhões Kz, enquanto o Programa de
Apoio ao Crédito (PAC), com 12,5 mil mi-
lhões, é o ‘parente pobre’ nos financia-
mentos ao sector produtivo.
Os empresários de diferentes sectores
continuam a enfrentar dificuldades para ter
acesso ao crédito através do PAC. Queixam-
-se do excesso de burocracia, situação que li-
mita o acesso ao crédito de muitas empresas,
sobretudo no sector produtivo.
Isto levou a que o Ministério da Econo-
mia e Planeamento tenha anunciado, na
semana passada, a reestruturação do PAC.
Segundo uma fonte do Expansão ligada ao
processo, a reestruturação terá como ob-
jectivo flexibilizar esta linha de financia-
mento e assegurar as garantias das empre-
sas. Ou seja, passa a ser o Estado, através
das suas instituições, nomeadamente o
INAPEM, a emitir as garantias que são
exigidas pela banca comercial. ■
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