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Disponibilização: Sunshine
Tradução: Azalea
Revisão Inicial: Helena
Revisão Final: G. C. Rezendiz
Leitura Final: Cayla Black
Formatação: Azalea Bufonni
SINOPSE
Mia Lauren é uma solteira de 21 anos que trabalha em uma loja de arte de
West Hollywood e sonha em um dia se tornar uma estilista. Quando surge uma
oferta inesperada para trabalhar no Enthrall, o principal clube de fetiche de L.A.
para os ricos, Mia aceita. É um salário além de sua imaginação.
O que Mia não pode saber é que o arrojado diretor de Enthrall, Cameron
Cole, de 34 anos, que também é psiquiatra do clube, atraiu Mia para salvar seu
melhor amigo e paciente Richard de sua obsessão pela busca de emoções fortes.
Cameron magistralmente cria cenários sensuais para garantir a colisão de
Richard e Mia, esperando que o amor o salve.
A tradução foi efetuada pelo grupo Sunshine Books, fãs e admiradores da autora,
de modo a proporcionar ao leitores e também admiradores o acesso à obra,
incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem
previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os aos
admiradores, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto.
Levamos como objetivo sério, o incentivo para seus admiradores adquirirem as
obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser
no idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores
desconhecidos no Brasil.
A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, o
grupo Sunshine poderá, sem aviso prévio e quando entender que necessário,
suspender o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização, daqueles que
forem lançados por editoras brasileiras.
Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se
destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar nas
redes sociais bem como tornar público o trabalho de tradução do grupo, sem que
exista uma prévia autorização expressa do mesmo. O leitor e usuário, ao acessar
o livro disponibilizado responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo
o grupo Sunshine de qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em eventual
delito cometido por aquele que, por ato ou omissão, tentar ou concretamente
utilizar a presente obra literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos
termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998.
“A dor é a raiz do conhecimento.”
Eu precisava disso.
Do outro lado daquela longa mesa de madeira escura estavam sentadas três
belas mulheres, nem todas impressionadas com as respostas que eu dei até
agora. Eu estava estragando essa entrevista.
A mulher à direita tinha sotaque escocês e estava na casa dos quarenta. Ela
usava um terno Chanel caro e óculos de grife pelos quais espiou para mandar uma
mensagem em seu BlackBerry. A deslumbrante mulher de cabelos negros do outro
lado, com sua bela aparência de modelo e couro preto da cabeça aos pés, contradizia
1 O macarrão é feito de trigo, sal, água e água alcalina (kansui). A base do caldo é uma mistura de carnes,
algas e vegetais. A carne tende a ser frango ou porco, mas pode existir diferenças regionais. Mas nesse caso a
mocinha fala de um macarrão Ramen instantâneo.
o traje conservador de sua colega. Pelo menos a entrevistadora de cabelos negros
foi gentil o suficiente para me lançar um sorriso ocasional.
— Foi ótimo! — Ela me disse, seu decote fazendo uma dança feliz enquanto
ela balançava pelo corredor.
— Por que você quer trabalhar aqui? — Disse a Sra. BlackBerry obcecada.
Corei em resposta aos seus olhares fixos. Eu poderia jurar que elas viram
através de mim, me deixando murcha a cada falha em entregar as respostas que
pareciam querer.
— Charlotte, — eu disse.
— Não.
— Vinte e um.
A senhora Scarlet parecia tensa. — O que você sabe sobre o que fazemos aqui?
— S e M, — eu disse.
A Senhora Scarlet estava me dando uma amostra de como ela fazia seu
cliente se sentir.
— Prazer e dor, — disse a Sra. BlackBerry — O que sua mãe acha de você
trabalhar aqui?
— Sinto muito por ouvir isso. — Ela pousou o celular na mesa. — Sua
madrasta sabe que você está aqui?
— O que Tara disse a você exatamente? — Ela ajeitou minha gola, que deve
ter ficado para cima o tempo todo.
Ela gesticulou para minha saia. — Você tem linhas da calcinha na sua saia.
— Eu sou de Charlotte.
Eu me perguntei como todas elas acabaram aqui. O que as levou a esse estilo
de vida, escolha de couro preto e só Deus sabe o que em masmorras escuras e
sexualmente carregadas. O tipo que elas aparentemente tinham aqui no nível
mais baixo. Havia algo tão perverso em toda essa coisa de punição e prazer, e fiquei
fascinada com o que realmente aconteceu.
Depois que saímos por outra porta, voltando por onde eu vim, fomos em
direção ao elevador. Lotte apertou o botão de descer para chamar o elevador. Em
seu pescoço brilhou o maior diamante que eu já vi.
— Eu era farmacêutica.
Lotte queimou um olhar através de mim. — Eu não faço isso por dinheiro.
— Seu olhar vagou para o outro elevador. Aquele logo atrás da mesa da
secretária. — Eu sou uma curandeira.
— Sim.
— Hum…
Seguiu-se um constrangimento.
Este copo de Sauvignon Blanc não fez nada para acalmar minha
decepção. Raiva de mim mesma por desperdiçar uma oportunidade tão grande não
diminuía. A ideia de que eu não tinha me preparado adequadamente e permitido
que a chance de ganhar algum dinheiro de verdade escorregasse pelos meus dedos
trouxe ondas de arrependimento.
Tara tinha me decepcionado da pior maneira e eu tentei entender por que ela
queria me sabotar. Ela namorou Bailey, minha melhor amiga, por mais de um ano
e eu sempre gostei dela, muitas vezes saindo com elas nos fins de semana e nunca
me sentindo como uma terceira roda. Nenhuma vez Tara mostrou qualquer sinal
de ciúme, embora Bailey e eu tivéssemos uma longa história de amizade, tendo
crescido juntas em Charlotte. O relacionamento de Tara e Bailey estava um pouco
tenso ultimamente, mas isso não tinha nada a ver comigo. Tara estava ameaçando
voar para a Austrália para se juntar ao irmão que morava lá. Eu odiava ver quanto
estresse isso causava a Bailey, embora tudo que ela quisesse era que Tara fosse
feliz.
O ciúme de Tara estava aparecendo pela primeira vez? Eu tinha ido para a
entrevista despreparada, parecendo excessivamente inocente, todos os cachos
loiros presos e olhos de farol
Tara sabia o quanto eu precisava desse dinheiro, o quão importante era para
mim colocar minha vida de volta nos trilhos e me aliviar do afogamento. Minha
madrasta, Lorraine, tinha mais contas médicas se acumulando e eu prometi cuidar
dela. Tirar um pouco do estresse que ela estava sofrendo. Ainda assim, Lorraine
estava em remissão agora devido a toda aquela quimioterapia e essa foi uma
oração respondida. Tendo me acolhido depois que meu pai morreu, Lorraine me
salvou da vida nas ruas e agora era minha vez de salvá-la.
Aquele último olhar que a Srta. Lotte me deu ainda era assombrado, e vindo
de uma dominatrix só fez piorar as coisas. Aqueles olhares de desaprovação das
outras duas mulheres alcançaram o efeito desejado, fazendo-me sentir
insignificante. Mais perturbador ainda, minhas respostas banais não permitiram
que elas vissem minha personalidade otimista, minha atitude positiva de viver e
minha capacidade de abordar tudo com um coração e mente abertos. Eu parecia
uma colegial assustada. Eu estraguei tudo.
O vinho tinha um gosto amargo. Tendo optado pela garrafa mais barata, sofri
agora as consequências de beber o branco excessivamente fermentado; um som
agudo persistiu. Ainda assim, sua promessa de anestesiar essa dor no meu peito
me manteve bebendo.
E imaginar que passei horas pensando se me sentia pronta para trabalhar
em um clube de fetiche. Eu me auto explorei com resultados surpreendentes e
cheguei a um acordo com a ideia de um lugar como o Enthrall. Eu me assegurei de
que simplesmente estaria trabalhando como secretária deles. Não que isso
importasse agora.
Eu dei outro gole e estalei meus lábios para suavizar o sabor forte atacando
minha língua.
Bailey tinha vindo até mim para meu socorro mais uma vez.
Ela emprestou todos os seus vestidos pretos até que eu pudesse sair e
comprar os meus. Preto é o código de vestimenta da Enthrall.
Minha mesa tinha um design simples, com seu elegante painel frontal de
vidro perfeito para exibir minhas novas botas. O computador de tela plana era fácil
de navegar e Lotte me deu o diário da Enthrall, no qual eu marcaria todas as
consultas.
Eu já sentia falta dos meus amigos da loja de arte e prometi a eles que
manteria contato, assim como fizera com meus amigos do Cheesecake que
tornavam aquelas longas noites de garçonete ainda mais suportáveis. Eu disse a
eles que meu novo trabalho era como anfitriã em uma boate, sem ter certeza do
que eles pensariam de mim se eu contasse a verdade. Eu ainda precisava contar
para Lorraine.
fundada em 1858 por Rowland Hussey Macy. A maior dessas lojas fica em Nova Iorque, ocupando um quarteirão
inteiro, e é apelidada de a maior loja do mundo.
funcionários que também funcionava como spa. Isso me lembrou de um daqueles
lugares sofisticados onde você gasta uma fortuna para ser mimada no seu
aniversário, com seu perfume celestial de sândalo e a cabeça de Buda apoiada em
uma cachoeira elegante empurrada contra a parede oposta. Um banco de madeira
ficava de frente para a equipe que precisava zen-out5. Havia até uma jacuzzi e uma
sauna lá; o bebedouro de água gelada com limão deu um toque agradável. Fiquei
tonta de empolgação quando Lotte me convidou para usar as instalações.
— Oi. — Ele acenou para mim e se dirigiu para a porta dos funcionários.
Eu voei do meu assento e abri meu caminho entre ele e a porta. — Sinto
muito, senhor, mas isso é apenas pessoal, — disse eu, orgulhosa da autoridade em
minha voz.
Ele olhou para mim com seu rosto nobre e inteligente. O tipo que sugere boa
criação, como se seus pais fossem impressionantes. Como se ele tivesse saído da
5
Um local onde a pessoa pode ficar enquanto estiver precisando relaxar, ficar fora por um
tempo.
capa de uma revista de iates, todo bronzeado e privilegiado. Sim, lindo, era isso, e
robusto ao mesmo tempo. Uma combinação hipnótica.
Irritada com sua arrogância, corri para minha mesa e apertei o botão de
pânico.
Nada.
— Você o conhece? — Meu olhar se moveu por cima do ombro dela e pousou
no jovem que havia entrado.
Ah Merda.
Ele se fixou em mim com uma intensidade ofuscante, seus olhos azuis meia-
noite queimando através de mim. Traços cinzelados tão bem usados em um rosto
orgulhoso. Uma confiança nervosa. Ele usava óculos de aro redondo, tendo tirado
suas lentes de contato, e aquela sombra de barba de cinco horas que eu não tinha
percebido quando ele apareceu pela primeira vez com ar de não mexa
comigo. Mesmo assim, ele se vestia como mauricinho, sua camisa branca aberta
no colarinho e sua jaqueta preta agora removida.
Lotte gesticulou em sua direção. — Mia, este é Richard Booth. Seu novo
chefe. — Ela se virou. — Mestre Richard, tenho o prazer de apresentá-lo à sua
nova secretária, a Sra. Lauren.
— Mia é bem treinada, — disse Lotte. — Veja, nem mesmo nós podemos
entrar. — Ela fez uma piada.
— Temos a aprovação do diretor, — disse Lotte — ele quer que você saiba
que isso não é negociável.
Ele cedeu com um aceno de cabeça. — Srta. Lauren, gosto do meu café
branco6 com um açúcar. Meu escritório, cinco minutos.
— Mostre aquele seu doce sorriso, — disse Lotte. — Ele está prestes a voltar.
Um pouco desconcertada por ele não saber sobre a minha contratação, passei
por Lotte e fui para a cozinha.
Inalei o aroma fresco dos melhores grãos de café. Eles também eram caros,
com base no preço do pacote. Refletindo sobre como o cheiro era sempre melhor do
que o gosto, adicionei leite da caixa que encontrei na geladeira de aço inoxidável,
peguei um sachê de adoçante e um sachê de açúcar branco e saí. Parando diante
da porta de Richard, roubei um momento para levantar minha guarda,
preparando-me para fingir indiferença. Richard era um pouco assustador.
6
O nome café branco não tem nada a ver com a cor do café. A palavra realmente significa "sem"
e "nada acrescentou" no processo de torra. O café regular é normalmente feita com grãos torrados e
açúcar, mas café branco é feito com apenas a margarina - sem ou com açúcar, dando-lhe uma tonalidade
mais clara.
Ele estava ao telefone e gesticulou onde eu poderia colocar sua caneca,
apontando para uma base de copos prateada em sua mesa. Com cuidado para não
derramar nada, coloquei-o na base de copos e dei um passo para trás. Richard
exalava intensidade mesmo quando não estava olhando para você. Fiquei feliz em
sair de lá.
Ele vasculhou uma pasta bege aberta em sua mesa. — Eu tenho o arquivo
dele aqui, — disse ele ao interlocutor. — O que aconteceu?
Este deve ser o escritório mais chique que eu já estive, com suas paredes de
painéis de madeira e uma estante ainda mais escura. Em vez de livros, ele
abrigava vários ornamentos: um Buda na prateleira mais baixa seguindo o tema
do vestiário, um iate à vela descansando na prateleira mais alta, e logo abaixo
dela, enfiado dentro de outra alcova, estava um enroscado um polegar
medieval. Isso realmente chocou com o Buda.
Rasguei o sachê e derramei cristais brancos em seu café, mexendo com a vara
de madeira antes de jogá-la na lixeira embaixo de sua mesa.
Richard deu outro gole. — Melhor. — Seu olhar baixou. — Boas botas.
— Eu gosto delas.
Essa era a dica de gentileza que eu precisava ver do homem para quem eu
estaria trabalhando e foi bom ter um vislumbre de sua consideração.
— Ela fez.
— Todos os dias você chegará meia hora antes de mim. Verifique meus e-
mails e diga quais são urgentes. Não responda em meu nome. Nunca. — Ele se
inclinou para frente. — Em primeiro lugar, vamos revisar os compromissos do
dia. Nem todos estão reservados para Enthrall. — Ele acenou. — Podemos
repassar isso mais tarde.
— Oh.
Ele se inclinou para trás e aquele olhar gelado demorou um pouco demais em
mim.
Senti uma vibração em meu plexo solar, uma sensação estranha que não
consegui identificar.
Avancei e tirei a chave de sua mão e seu toque fez meus dedos
formigarem. Ele puxou a mão de volta.
— Faça nossos clientes felizes, — disse ele. — Isso é tudo que pedimos de
você. Seja educada. Paciente. Gentil.
— Desculpe?
Lotte havia explicado que os clientes ficavam desconfortáveis com seus nomes
sendo armazenados em qualquer tipo de banco de dados, portanto, todos os
compromissos eram escritos a lápis e apagados pela secretária quando o cliente se
apresentava. Fiquei imaginando como eles faziam o acompanhamento para fins de
cobrança e impostos, mas não ia mencionar isso, caso ela entregasse esse aspecto
da administração de Enthrall para mim. Ficar aqui na recepção, transferir uma
ligação ocasional, digitar uma carta estranha para Richard, bem como dar as boas-
vindas aos convidados, era uma sensação agradável. Depois de tentar manter dois
empregos, fiquei grata pela folga. E só isso pelo incrível salário de setenta e cinco
mil dólares por ano mostrou que eu havia caído de pé pela primeira vez.
— Não, mas obrigado, — disse ele. — Você deve ser a nova secretária de
Enthrall? A Senhora Lotte me disse que uma nova garota estaria aqui quando eu
entrasse.
O relógio de parede provou que ele estava de fato na hora certa. Mesmo
assim, ele aceitou essa acusação e baixou a cabeça de vergonha.
— Vejo que você conheceu nossa nova secretária. — Ela se virou para
mim. — Abra o portão, por favor, Sra. Lauren.
Aliviada que a severidade de Lotte não foi dirigida a mim, retirei minha chave
bem escondida da segunda gaveta. Eu a coloquei na fechadura do portão dourado
cruzado. Tudo girou suavemente. Com o aceno de Lotte, eu abri e chamei o
elevador com um toque de um botão. As portas se abriram e Monsieur Trourville
e Lotte entraram.
Richard tinha ficado fora do meu caminho, quase não me dando trabalho para
fazer, e eu realmente consegui encontrar na sala de café com Lotte, Scarlet e a ex-
Sra. BlackBerry, agora conhecida como Lady Penny. Embora Penny só trabalhasse
parte do tempo na Enthrall, aparentemente.
Tive o prazer de fazer café para elas todas as manhãs e garantir que elas
tivessem tudo de que precisavam, anotando recados para elas, fazendo visitas aos
correios, lavanderia e até mesmo pegando algum item de mercearia ocasional.
O destaque do meu dia foi comer meu almoço nos fundos do clube, no jardim
privado com vista para o lago de carpas. Assistir aqueles peixes laranja e
prateados nadando teve um efeito calmante, e eu me perguntei por que ninguém
mais aproveitou esta configuração.
Eu me perguntei que coisas terríveis poderiam ter acontecido com ele para
torná-lo assim. Por fora ele parecia tão calmo, tão normal.
Ele se demorou diante da minha mesa. — Você foi gentil comigo quando nos
conhecemos. Eu quero te agradecer por isso.
Ele baixou o olhar. — Se você realmente usá-los, verei você ganhar um bônus.
Onde eu esperava vê-la satisfeita por Monsieur Trourville ter chegado cedo,
em vez disso ela parecia irritada. Seu olhar mudou para a caixa. Eu a agarrei no
meu peito.
— Você pode ficar com ele, — disse Lotte, apontando o chicote para
Trourville. — Você está esperando clemência por isso?
— Srta. Lauren, vamos abrir seu presente juntas, — ela disse severamente.
Ainda dava tempo para continuar minha pesquisa sobre o tipo de coisas que
eles faziam aqui. Abri o navegador, digitei S&M e desapareci no ciberespaço...
Eu não conseguia entender por que alguém iria querer ser amarrado e
amordaçado daquele jeito. Sem mencionar onde eles estavam empurrando aqueles
brinquedos sexuais. E que diabos era aquela expressão em seus
rostos? Benção? Não entendia.
Um ping do elevador.
Peguei o mouse e minimizei o navegador, fingindo estar ocupada.
— Alguma ligação?
— Sem ligações. Monsieur Trourville acabou de chegar. Lotte está com ele.
— Eu olhei de volta para o portão.
A maneira como ele disse meu nome causou um arrepio e achei difícil olhar
para ele. Não depois da viagem que minha imaginação acabara de fazer com ele
naquela sala de dor. Seu olhar estreito travou no meu.
— Sim. Não abri ainda, — eu disse o óbvio. — Lotte quer que eu espere por
ela. — Eu engoli em seco. — Senhora Lotte.
— Ah.
O medo de ele pegar minha pesquisa na internet com um clique fez minhas
bochechas queimarem. Inclinando-me contra o balcão da cozinha, enterrei meu
rosto em minhas mãos. Eu só podia imaginar o quão inútil eu seria se ele
realmente me tocasse lá embaixo. Tentando me concentrar em outra coisa,
trabalhei em fazer o café de Richard, adicionando açúcar e leite à sua bebida e
caminhando para o escritório enquanto tentava acalmar meu coração ainda
disparado.
Coloquei uma caneca de café quente em sua mesa. Tudo nela estava
perfeitamente organizado. Até os lápis foram alinhados e separados com precisão,
assim como a coleção de canetas de luxo. Seu computador, iMac, parecia caro com
seu design elegante e o elegante mouse arqueado à sua frente.
— Ouvi dizer que você gosta do tanque de carpas? — Disse ele, jogando sua
mochila no sofá de couro. Pela sua expressão imperturbável, parecia que ele não
tinha percebido minha navegação na web. Ou o efeito que ele teve sobre mim.
— Hum, não.
De volta à minha mesa, fiquei grata pela distância entre minha estação de
trabalho e seu escritório. Ele definiu meu plano de fundo para a imagem de um
jardim japonês com um lago de carpas. A visão da foto reconfortante fez meus
ombros relaxarem e me fez sorrir por ele ter tido tempo para fazer isso por
mim. Talvez ele gostasse de mim afinal. Eu me assegurei de ter removido todas as
evidências de minha exibição muito antes de Richard ter a chance de vê-las. Eu
não tinha me preocupado com nada.
O telefone tocou. — Você pode entrar aqui, por favor, Mia, — a voz do Richard
saiu do viva-voz.
Infeliz por deixar minha busca inacabada, pulei da cadeira e peguei meu bloco
de notas e caneta.
— Certo.
Richard pousou a mão no presente. — Espero que você não se importe. Achei
melhor devolver isto.
— Por quê?
— Não tem nada a ver com qual é a sua função. — Ele se recostou. — Vou
explicar isso a Monsieur Trouville. — Richard apertou os lábios em um obrigado
isso é tudo.
— Eu posso adivinhar.
— Claro, — disse Richard, oferecendo sua caneca meio vazia para ser
enchida.
— Um bônus.
— Ele saberá, — Penny se sentou ao lado dela. — Ele vai olhar para as
pupilas dela.
A porta se abriu.
Seu olhar castanho pousou em mim com um escrutínio enervante. Havia algo
sensualmente atraente nele também. Perigoso. Como se soubesse de seu efeito e
pudesse aumentá-lo apenas para se divertir.
Penny e Scarlet se levantaram e eu segui seu exemplo.
— Você deve ser Mia, — ele disse, seu tom baixo, sua voz culta.
Um arrepio de excitação subiu pela minha espinha. Do tipo que não tem o
direito de acontecer, do tipo que ameaça me envergonhar.
Ah não.
Ele deu um aceno de aprovação e sua atenção caiu sobre as bolas de Vênus.
Eu corei descontroladamente com a maneira como ele falou com ela. Penny
apenas se sentou e girou seu anel de ouro rosa.
— Está indo muito bem, obrigada. — Desejei ter concordado com um café
para que pudesse olhar para uma caneca em vez de ter que segurar seu olhar
feroz. Eu me perguntei se era possível ficar sem corar. Este dia estava se
transformando em uma provação de proporções épicas.
— Obrigada. — Eu disse.
Lambendo meus lábios secos, tentei não segurar seu olhar. Era severo. Como
se a qualquer minuto ele me repreendesse por algo que eu fiz de errado.
— Fico feliz em ouvir isso, — disse ele. — O que ele acha de sua nova
secretária? — Seus lábios se curvaram em um sorriso.
Algo vibrou dentro do meu peito e tentei suprimir outro rubor ameaçador.
— Ele é... mandão. — Scarlet puxou a cadeira para trás e foi encher o café.
A voz de Cameron se elevou sobre a dele. — Porque eu sei o que você precisa
e você precisa disso.
Eu me encolhi, odiando ouvir tanta tensão entre duas pessoas que deveriam
ser amigas e sentir pena da pobre pessoa de quem estavam falando.
— Não tome nenhuma decisão até que tenhamos uma sessão, entendeu?
— Disse Cameron.
— Proteja ela. Isso é o que você faz de melhor, — o tom de Cameron soou
reconfortante.
— Pelo amor de Deus, — disse Richard. — Ela nem sabe o que são as bolas
de Vênus.
Ah não…
Meu gemido preencheu o espaço ao meu redor. Eu puxei para frente, com o
coração disparado. Ameaçava sair do meu peito e me deixar inconsciente.
Ah Merda.
Uma onda de pânico me atingiu. — Eu sinto muito. Vou pagar por isso.
Ele estreitou o olhar enquanto olhava a parte de trás do meu carro. Incapaz
de parar minhas lágrimas, meu peito dolorido ameaçou estourar e eu suguei um
soluço.
— Você está machucada? — Ele disse.
— Sim.
Embora eu não tivesse ideia de que tipo de carro poderia ser, seu veículo
parecia ainda mais caro de perto. Eu desviei meu olhar dele como se o carro
pudesse ganhar vida e me castigar. Com a mão trêmula, peguei minha bolsa e
procurei minha carteira.
— Este realmente foi um dia horrível para você, — disse ele. — Não foi?
— Você não pode estar em choque, — disse ele. — Foi um solavanco. A oficina
vai acabar com isso em menos de uma hora.
Isso já era ruim o suficiente, mas minha mente disparou e eu lamentei com o
pensamento de que poderia ser uma mulher com filhos.
— Studio City.
— Você não pode dirigir neste estado. Deixe-me te levar para casa.
— Bem, pelo menos deixe-me pagar um pouco de chá para acalmar seus
nervos. — Ele apontou para o Café do outro lado da rua.
Ele entrou em seu Porsche e estacionou ao lado do meu. Meu Mini parecia
minúsculo ao lado de seu carro. Embora eu insistisse que isso não era necessário,
secretamente precisando chegar em casa e chorar em particular, Cameron não
aceitaria um não como resposta. Em poucos minutos ele me levou pela calçada e
abriu a porta do café para mim. Ele pediu dois chás Earl Greys e encontrou uma
mesa perto da janela.
Eu mordi meu lábio; minha maneira de trazer esse castigo mais rápido. Eu
odiava a tensão de esperar por isso.
— Por favor, não morda o lábio. — Ele soltou um longo suspiro. — É uma
distração.
Foi difícil desviar meu olhar dele. Seus traços eram marcantes e, pelos
olhares que os outros clientes nos deram, também pensaram o mesmo. Cameron
deu um sorriso gentil, como se estivesse ciente de toda essa atenção e nem um
pouco desconcertado.
— Richard fez você digitar uma carta para um cliente inglês usando a grafia
dos ingleses?
— Como é?
— Não sei o que vou fazer, — eu disse, com as lágrimas fluindo novamente.
— Richard não tem certeza se você está pronta para trabalhar na Enthrall.
— Eu queria tanto fazer funcionar. Não há outro trabalho que pague tanto.
— Foi por isso, eu admiti porque aceitei o trabalho, mais ou menos.
— O salário mínimo é uma merda.
— América corporativa.7— Ele torceu a boca. — Pode ser muito difícil para
a classe média e beirando a crueldade para a classe baixa.
— Sou psiquiatra.
— Um médico?
— Oh.
Seu olhar pousou na minha boca. — Por favor, não vá se calar comigo. Eu não
terminei de analisar você.
— Harvard.
7
Termo usado para direcionar a culpa de algo ruim para outra pessoa (organização).
— Eu vou deixá-lo te dizer isso. — Ele se recostou. — Ele é muito reservado.
— Eu pensei que você queria seu emprego de volta? Enthrall não é um clube
de sexo.
— Sim.
— Como quem?
Sua atenção se desviou para um cliente no caixa que discutia com um dos
jovens baristas sobre o pedido errado. Cameron o fulminou com o olhar e quando
o homem o pegou, ele se calou, tomou sua bebida e saiu.
— Não.
Um chihuahua latiu para nós do outro lado da janela. Seu dono nos lançou
um aceno de desculpas e tentou colocar o vira-lata sob controle. Cameron riu e
compartilhou um sorriso divertido comigo.
— É ótimo para surfar. — Ele olhou pela janela para o cachorro. — Eu levo
uma prancha lá de manhã.
Talvez tenha sido por isso que Scarlet me disse para ficar longe dele? Ela
temia que eu começasse a me apaixonar por esse deus do sexo inalcançável.
Até parece.
— Por favor, fale com Richard de novo, — eu disse. — Eu tenho que continuar
empregada. É vida ou morte.
— Deixa-me ver o que posso fazer. — Ele deu um aceno de cabeça. — Vou te
dizer uma coisa, escreva a carta mais incrível para o Richard. Vou levá-la para a
sala com ele amanhã à noite. — Ele apontou o dedo para mim. — Escreva algo
atraente.
— Eu posso fazer isso, — eu disse, sabendo muito bem que não poderia.
Ele apertou minha mão. — Você vai se sair bem. Eu posso sentir isso.
Pela janela, observei-o voltar para o outro lado da rua e percebi que não tinha
dado a Cameron minhas informações de seguro. Eu teria que dar a ele amanhã.
Com minha xícara de Earl Grey na mão, fiz meu caminho ao longo da faixa
de pedestres e dei outra olhada no meu carro. Eu precisaria de um novo para-
choque. Cameron estava certo sobre isso. Refletindo sobre se eu tive minha cota de
azar, eu esperava que Cameron pudesse persuadir Richard a devolver meu
emprego. Ele certamente parecia pensar que poderia convencê-lo. Depois do que
eu fiz com seu carro, ele mostrou uma bondade excepcional. Embora, depois do que
a Senhora Scarlet me contou sobre ele, eu ainda estivesse desconfiada.
O trânsito para o sul tornou a viagem de volta para Studio City cansativa,
embora tenha me dado mais tempo para pensar. Valia a pena lutar por este
trabalho. Se eu fosse ter alguma chance de convencer Richard, precisaria de ajuda
com aquela carta. Em vez de ir para casa, fui para o apartamento de Bailey, que
ficava a apenas dez minutos do meu.
— Não seja ridícula. — Ela saltou de volta para sua sala de estar.
Eu a segui até seu apartamento de dois quartos com sua espaçosa sala de
estar decorada calorosamente com móveis Pier One e algumas peças da Z-Gallery
deixadas aos cuidados de Tara. Aquelas portas duplas, direto à frente, levavam a
uma enorme varanda que dava para uma grande piscina. Ninguém parecia nadar
nela, o que era estranho. Eu estaria naquela piscina todos os dias se morasse
aqui. Certamente havia benefícios em compartilhar o aluguel.
Contra a parede do corredor que levava ao quarto estava a desbotada prancha
de surf sereia de Tara. O aniversário de Bailey estava chegando e eu esperava
comprar uma prancha para ela. Embora meu futuro financeiro parecesse instável
novamente.
— Melhor.
— Ainda não.
— A aparência dela. Eu sei. Ela está lidando bem. Conversei com ela ontem
à noite no telefone e ela parecia bem.
— Na academia.
Isso mesmo, esse lugar também tinha uma academia própria. Novamente eu
refleti o quão ruim eu estava no meu estúdio. Ainda assim, era minha casa e eu
consegui decorá-la com itens estranhos que encontrei em brechós. Minha cabeceira
de latão esculpido é um achado incrível. Mesmo que fizesse um rangido cada vez
que eu rolava.
— Excelente.
Passei a mão pelo tecido, cobiçando essa peça de mobiliário como sempre. —
Fui demitida.
— O quê?
— Ainda.
— Não mais.
8
tecido
Eu dei uma olhada nela. — Não é de todo ruim. Cameron, um amigo do meu
chefe, disse-me para escrever uma carta para expressar porque acredito que me
encaixo muito bem. Vou literalmente implorar pela minha posição amanhã à noite.
— O American’s Top Artist está no ar esta noite. Não quero estragar a sua
noite.
Alguns cliques dos botões depois e ela gravou seu show. Bailey pegou um
caderno de sua estante e sentou-se novamente.
— Eu vou ficar.
A mãe indiana de Tara, a Sra. Razor, era uma violinista talentosa que havia
sido descoberta em Calcutá por seu pai, um maestro famoso. Ele se casou com ela
e a trouxe de volta para morar com ele em LA. Tara herdou a tez exótica de sua
mãe e a franqueza de seu pai; uma mistura cativante de leste com oeste.
Bailey tinha caído de cabeça para baixo com Tara em seu primeiro
encontro. Realmente parecia mútuo. É por isso que toda essa conversa sobre a
Austrália foi uma surpresa. Tara não tinha revelado para seus pais ainda. Um
ponto sensível entre ela e Bailey.
Seu rosto caiu e ela caiu no chão na nossa frente e cruzou as pernas.
— Ela escreveu uma palavra incorreta em uma carta. — Bailey disse a ela.
Não havia nenhuma maneira de contar a qualquer uma delas sobre as bolas
de Vênus e Richard insinuando isso como o verdadeiro motivo para me
despedir. Essa coisa toda parecia muito embaraçosa do jeito que era.
Tara sustentou o olhar de Bailey. — Vou pegar meu laptop e dar uma olhada
no Craigslist9.
Bailey ergueu o bloco de notas. — Ela tem uma segunda chance. Ela tem que
inventar uma boa razão para que eles a recontratem. — Ela gesticulou para a
cozinha. — Sirva-se de um copo e ajude-nos.
Eu me senti mal, mas apesar disso, peguei meu copo e engoli em seco.
Bailey ergueu o bloco de notas. — Então por que Cameron a faria escrever
isso?
anúncios gratuitos aos usuários. São anúncios de diversos tipos, desde ofertas de
empregos até conteúdo erótico
— Você pode falar com ele? — Eu disse.
— Nós nos demos muito bem, — disse Tara. — Mas ele ainda está chateado
comigo porque eu fui embora. Ele não retornou nenhuma das minhas mensagens.
— Ela olhou para Bailey. — Eu o verifiquei algumas vezes.
Eu entreguei.
— Não. — Tara olhou para ela. — Ouça. Quando eles voltaram, notei
manchas de sangue nas costas da camisa de Richard. Cameron tinha feito algo
desagradável com ele.
— Uma vez. — Tara desenroscou a tampa e deu um gole na água. Ela usou
a garrafa para apontar para nós. — O sangue estava sob sua camisa. — Ela
ergueu o olhar para o teto. — Manchado.
— Esse cara está confuso. — Bailey se virou para mim. — Eu acho que é
melhor você sair de lá.
— Cameron é realmente legal, — disse Tara. — Richard também. Ele
realmente demitiu você por causa de um erro ortográfico? Isso é tão estranho.
— Bem, — disse Tara, pensativa. — Há algo que você pode fazer. — Ela
balançou a cabeça. — Mas você não vai gostar.
— Sua mente e não ele, certo? — O olhar de Bailey saltou entre nós.
— Você quer dizer... mostrar a ele como as coisas têm sido ruins para mim
ultimamente? — Eu disse.
Tara franziu a testa. — Não, quero dizer, mostre-se a ele. — Ela apontou
entre minhas pernas.
— Guarde o caderno, — disse Tara. — O que estou prestes a dizer para você
fazer será fácil de lembrar. E isso vai garantir que você terá seu emprego de volta.
— Pronta?
Pega de surpresa por sua bondade, meu espírito melhorou e quase esqueci o
que vim fazer aqui.
Ao passar pela recepção, foi estranho não ver ninguém ali. Devia ser eu
sentada ali, pensei, tentando me distrair de ter que enfrentar Richard novamente
e o drama iminente que eu estava prestes a convocar. Excitação misturada com
trepidação formigou em espiral no meu peito.
— Ele não estava de bom humor. E você sabe o que eu pensei? Inferno, por
que não apenas surpreendê-lo.
— E se ele estiver com raiva de eu estar de volta? — Cobri meu rosto com
as mãos.
— Algo me diz que ele ficará feliz em ver você. — Cameron estendeu a mão
para a maçaneta.
Ele olhou para minhas mãos. — Onde está sua carta? Depois, deixe na mesa
dele.
— Eu conheço Tara.
— Ei, Richard. — Cameron pegou minha mão e me guiou passando por ele.
Você pode fazer isso, eu disse a mim mesma, reunindo minha coragem.
Qual era a pior coisa que poderia acontecer? Não é como se ele pudesse me
despedir. Ele já tinha feito isso. Tara parecia bastante convencida de que isso
funcionaria e foi ela quem me arranjou o emprego em primeiro lugar.
Richard voltou para sua mesa e se virou para nos encarar, inclinando-se
contra ela, sua expressão tensa. Ele cruzou os braços sobre o peito.
Minha mente vagou mais longe, como se tentando localizar a coragem que eu
tinha deixado no apartamento delas.
— Coisa certa. — Cameron sorriu para Richard e foi até o sistema de som
no fundo da sala.
Masked Ball de Jocelyn Pook explodiu nas caixas de som surround e encheu
a sala com um ritmo de baixo profundo. Desabotoei meu sobretudo, tirei-o dos
ombros e joguei nas costas de uma das poltronas de couro. Minha saia xadrez curta
pode ter parecido inadequada para o outono, mas nem Richard nem Cameron
pareceram notar. Apesar da frieza da sala, minhas botas seguraram um pouco de
calor e me deram o suficiente da confiança nervosa de que eu precisava para
conseguir isso.
Meu coração batia tão forte dentro do meu peito; minha respiração estava
quase em pânico.
— E eu posso provar isso. — Olhei para Cameron para que ele soubesse que
eu estava pronta.
Cameron sorriu de volta.
Cameron se aproximou de mim. — Mostre a Richard como você vai fazer isso.
— Perfeitamente, Cameron viu onde eu planejava levar isso e suavizou o
momento com segurança.
Cameron moveu a outra mão para baixo sobre a minha barriga e mais para
baixo. — Separe um pouco as pernas.
Sentindo-me segura em seus braços, ajustei meu pé, mas quando seus dedos
me encontraram, deslizando sobre aquela fenda delicada, eu prendi a
respiração. Olhando para baixo, ele separou meus lábios inferiores para me expor
ainda mais. Ficando quieta pelo que pareceu uma vida inteira, meu coração
acelerando, minhas pernas enfraquecendo, deixei escapar o suspiro mais longo.
Ele latejava sob seu toque. Com minha boca aberta, minhas unhas cravaram
em seu braço esquerdo. Como nunca antes havia sido tocada por um homem lá
embaixo, minha mente tentava captar esses sentimentos, essas sensações, essa
emoção causando espasmos por toda a minha barriga. Suas carícias trouxeram
ondas de prazer hipnótico.
A expressão de Richard não mudou; seu olhar crítico vagou sobre mim.
Diga algo.
Richard se inclinou mais para trás, seu foco ainda nas pontas dos dedos de
Cameron se movendo sobre o meu sexo. O olhar de Richard se levantou para
encontrar o meu apenas para voltar mais uma vez para a mão do seu amigo me
trazendo para mais perto. Este homem realmente sabia como tocar uma mulher.
— Não, — eu consegui dizer fracamente, sem fôlego. — Não pare. Por favor.
— Meu gemido encheu a sala.
Sim…
Seus dedos acariciavam aquela parte de mim com a qual nunca me senti
confortável até agora. Sentindo-me tonta, descansei minha cabeça contra seu peito
e me rendi, minhas pálpebras se esforçando para permanecer abertas, minha boca
aberta e desejando um beijo que eu sabia que nunca me encontraria, meu olhar
em Richard. Aqui, agora, me sentindo mais amada do que nunca, eu temia quando
isso acabasse, nunca querendo que Cameron parasse.
Surreal. Exótico.
Levada para longe, tocada tão suavemente, tão firmemente, mas minha
inocência permaneceu, minha pureza durou. Richard deu a sombra de um sorriso
e sua expressão me lembrou de uma pintura onde o sujeito vislumbra um milagre
ou mesmo além do véu.
Eletricidade dançou entre nós, esse flerte com prazer tão intenso que ansiava
por compartilhá-lo com Richard enquanto acontecia. Silenciosamente, tentei
transmitir esses sentimentos.
Esta vontade...
Segurando seu olhar, eu transmiti sem palavras que vim para ele, minha
respiração irregular, minhas coxas tremendo, meus suspiros se transformando em
gemidos de êxtase. Como se Cameron tivesse cumprido uma promessa tácita, ele
continuou me guiando para aquele lugar de êxtase, segurando-me suspensa lá, e
eu finalmente pisei no limiar da rendição e gozei forte, esperando de alguma forma,
em alguma momento, eu encontrar um lugar em seu mundo. Minhas pálpebras se
fecharam quando gozei, tremendo por inteiro. Todas as imagens e sons se
dissiparam, e minha única consciência era esse calor ofuscante de prazer pulsando
sob seu toque.
— Bem, isso foi bem articulado, — disse ele com uma suavidade perigosa.
Ainda surfando na onda, pronta para o que quer que acontecesse a seguir,
minhas pernas enfraqueceram. Fiquei aliviada por ter acabado, mas atormentada
com o medo de que nunca mais acontecesse.
Cameron puxou minha saia para baixo e deu um passo para trás. Eu me virei,
aliviada ao vê-lo sorrindo, seu aceno me deixando saber que estava tudo bem.
Lotte entrou e veio direto para nós. Em sua mão ela carregava uma pasta
bege. Ela se juntou a nós no sofá, sentando-se ao meu lado.
Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Como está, minha
querida Mia?
— Oh, tudo bem. — Olhando para aquela pasta bege com suspeita, eu
esperava que ela não contivesse minhas ordens oficiais de demissão.
Não agora, não depois de ter provado o mais doce fruto proibido.
Dei um aceno de cabeça e tentei chegar até a porta sem tropeçar. Eu não
suportaria olhar para trás e eles me verem nervosa. Já tinha compartilhado mais
de mim nesses últimos momentos do que nunca, expus meu coração, bem como
meus lugares mais privados, chocando-me em silêncio.
— Mia, — disse ela. — Você tem cor em suas bochechas. Acho que nunca te
vi tão linda.
Ela saiu pelo corredor, mostrando uma postura notável em saltos de nove
polegadas.
Ela não tinha me avisado sobre Cameron? Um traço de seu toque ainda
permanecia baixo em minha barriga; a sombra de seu aperto.
Ele permaneceu do outro lado da minha mesa, exalando sua confiança sexual
usual e parecendo ridiculamente elegante em um terno. Todo aquele garoto bonito
misturado com um explorador robusto era uma distração. Estive tão ocupada
enfiando convites em envelopes para a festa de Chrysalis que quase me esqueci do
evento de ontem de tirar o fôlego de conseguir meu emprego de volta, com o que
Cameron me garantiu ser corajoso. O que normalmente seria considerado
comportamento de Tartsville10 era tão normal aqui.
10 Terra da prostituta.
— Podemos ir juntos, — eu disse, meu olhar encontrando o nome do Sullivan
e me perguntando o que estaríamos fazendo lá.
— O que você fez ontem foi impressionante. Você sabe como tirar o fôlego do
seu chefe.
— Mia?
— Estamos felizes em ter você de volta. Acho que você vai gostar daqui.
— Eu também.
Ele ficou lá, olhando por muito tempo. — Cinco minutos parece bom para
você?
Foi bom limpar o ar. Ele era um homem difícil de interpretar e, embora eu
tivesse vislumbrado sua capacidade de mostrar bondade, ele ainda me assustava
muito. Talvez fosse seu comportamento na costa leste. Esse elitismo educado de
quem nunca se abala. Ontem havia quebrado parte da parede entre nós. Ainda
assim, senti que tínhamos um longo caminho a percorrer antes de me sentir
relaxada em torno dele. Você teria pensado que depois das minhas travessuras
eróticas haveria menos tensão. Era difícil dizer se ele estava me olhando com
desprezo porque eu obviamente não tinha seu histórico na Ivy League ou se eu era
um enigma para ele. Minha primeira impressão de que Richard teve uma educação
privilegiada era certa. Eu o imaginei e Cameron bebendo vinho estrangeiro caro
em algum bar escuro de Massachusetts, enquanto discutiam filosofia e outros
assuntos pretensiosos. Eu me perguntei se eles já haviam sido membros de uma
sociedade secreta enquanto estavam em Harvard, como o Skull and Bones, ou isso
era Yale? De qualquer forma, fiz uma nota mental para perguntar a ele quando
nos conhecêssemos melhor. Além da questão mais intrigante de todas: como ele
acabou aqui.
— Hum, não.
— Namorado?
Depois de sair da estrada principal e subir o que parecia ser uma via
particular, fiquei grata por Richard e eu estarmos viajando juntos. Eu duvidava
que teria encontrado este lugar sozinha.
Enfiei meus óculos na bolsa e coloquei ao lado dos meus pés. Empoleirada na
extremidade de um sofá azul claro, estava nervosa de causar um vinco. Sério, esta
era a casa mais rica em que eu já estive. A enorme lareira de mármore rosa deve
ter custado uma fortuna e os dois cães ornamentais sentados em cada lado da
lareira davam um ar majestoso. Todos os móveis aqui pareciam excessivamente
decadentes, extravagantes até. Eu me perguntei que tipo de pessoa os Sullivan
eram e como eles ganhavam dinheiro.
— E a decoração?
— Quantos anos você tem? — Ele franziu a testa. — Quero dizer, sério?
— Bem... hum...
Constance sorriu para mim. — Estou bem. Bill estará logo conosco. Ele está
terminando uma ligação. Mia, sente-se e me conte tudo sobre você.
Richard se sentou ao meu lado. — Não estamos aqui para falar sobre nós,
Constance. Este dia é todo sobre você e Bill.
Ela ocupou a poltrona em frente. — Estamos muito felizes por você ter
vindo. A entrada de automóveis pode ser complicada.
— Bill te deu instruções, não foi? Ele é bom nesse tipo de coisa. Eu, bem, se
não fosse pelo meu GPS, eu estaria de volta ao Texas toda vez que fosse para
Beverly Hills. — Ela soltou uma risada nervosa.
O que era meio estranho, mas pareceu acalmá-la. Ela respirou longa e
profundamente e se acalmou um pouco.
Ela se inclinou para frente. — Estou pronta para isso? Richard, certo?
— Eu gostaria que vocês fizessem uma coisa de uma semana. Um mês parece
muito tempo. — Ela engoliu em seco.
— Estou pronta, — disse ela. — Realmente estou. Sei que não pareço.
Richard parecia pensativo.
Constance continuou — Bill já fez isso duas vezes e diz que é um novo homem
quando sai de lá.
O olhar do homem estava fixo em mim. — Ora, Richard, você não deveria.
Senti Constance olhando para mim também e, no entanto, ela não foi afetada
nem um pouco pelos olhares furiosos do marido. Nas últimas semanas, eu havia
dominado a arte de esconder minha reação e me orgulhava de esconder meu
desconforto de Richard.
Richard deu a ele os papéis. — Temos o seu NDA, o formulário para o seu
médico assinar e, claro, o seu formulário de solicitação especial.
Eu assinei o acordo de não divulgação de Enthrall no meu primeiro dia. Eu
me perguntei se a de Chrysalis poderia ser a mesma.
Tentei dar uma olhada discreta neles apenas para sentir o olhar de
desaprovação de Richard.
Ele apenas olhou para mim, esperando por uma resposta que ele sabia que
eu não teria.
— É uma formalidade. Cartões nas caixas certas. Aquele tipo de coisa. Cinco
minutos. O que acha disso? — Ele baixou o olhar. — Vou escapar discretamente
e a próxima vez que você me ver será em Chrysalis.
Constance olhou para seu Pomerânia. — Tilley tem filhotes. — Ela coçou a
cabeça do cachorro. — Quer ver eles?
Constance se virou para mim. — Eles estão na casa de hóspedes. — Ela fez
beicinho. — Terrance os baniu de casa.
— Eles cagam em todo lugar, — disse Richard.
Constance tinha acabado de dar em cima de mim? Ela fez. Ela fodidamente
deu em cima de mim.
Eu os observei ir.
Minha intriga levou a melhor sobre mim. Eu fui atrás deles, certificando-me
de que a governanta não estava por perto. Ao parar ao pé da escada extensa, eu
olhei para cima para ver Richard no topo da escada, olhando para baixo.
Nenhuma palavra saiu da minha boca aberta. Apenas fiz um gesto para que
ele soubesse que eu estava presa ao cachorrinho. Eu poderia jurar que ele parecia
ter obtido prazer com o meu constrangimento. Então me virei e voltei por onde
vim.
Eu me encolhi com a minha falta de jeito e tentei tirar minha mente disso,
focando no cachorrinho. Certamente foi interessante observar Richard interagir
com os Sullivan. Ele não parecia nem um pouco intimidado por toda essa
grandeza. Eu me perguntei se ele cresceu em uma casa como esta.
Querendo saber há quanto tempo ele estava lá, eu abaixei o cachorro de volta
com seus irmãos e me levantei.
— Eu pensei que era para onde você estava indo. — Quebrei seu olhar e
olhei de volta para a frente da casa.
— Espetáculo.
Eu olhei de volta para a mansão. — Mas eles não nos viram chegar.
É claro que pode haver alguma verdade nisso. Se fosse eu, eu teria assistido
de uma janela, antecipando a chegada de Richard.
— Você deixou uma boa impressão, — disse ele. — Constance gostou de você.
— Eu acho que ela deu em cima de mim, — eu sussurrei, não querendo que
o motorista ouvisse.
Esta visita não tinha sido nada além de estranha e eu realmente estava
ansiosa para voltar a Enthrall. Em poucos minutos, estávamos de volta à estrada
principal.
— O que?
— Eu não fiquei para a coisa toda. Acredite em mim, minha mão se contraiu
o tempo todo para o meu celular.
Tentei envolver minha cabeça em torno do que ele revelou. — Eles não se
importaram?
— Tradição?
— Nossa reunião de hoje é para confirmar que eles estão prontos. — Ele se
virou para mim. — Você não tem ideia do que é Chrysalis, não é?
— Desculpe, — eu sussurrei.
Eu merecia ser tratada melhor do que isso. — Bem, quem você vai assistir
fazendo isso agora?
— Oh sim, por favor. — Talvez ele não estivesse com raiva de mim, afinal.
Uma rajada de ar frio nos atingiu no caminho. Linha após linha de sabores
repousava em seus tubos multicoloridos protegidos por uma longa janela de vidro,
prometendo felicidade sem fim.
Ele acenou para que eu estendesse minhas mãos. — Filhotes são imundos.
A maneira como ela corou me fez perceber que não era só eu que ele afetava
assim. Até Constance agiu como uma colegial até o aparecimento do marido. Achei
isso estranhamente reconfortante.
Apesar de querer menta, a baunilha tinha um gosto bom. Esta loja familiar,
embora pequena, tinha um aconchego caseiro. Eles ainda estavam com suas
decorações de Halloween.
— Sim.
— Bem, é como quando uma lagarta está pronta para se tornar uma
borboleta, ela sai de sua crisálida11.
— Por quê?
— É complexo.
— Eles se odeiam?
Um lampejo de reação de Richard mostrou que ele captou a essência dos meus
pensamentos.
— E Terrance? — Eu disse.
— Sub também.
11
Vem do latim crisaliis, e corresponde ao estágio da pupa, estado que a borboleta passa por
metamorfose.
Ele colocou a tampa de volta.
Limpei minha boca. — Ela está fazendo isso para apaziguar seu marido.
Era muita coincidência para Cameron não ser aquele homem. — Talvez o
psiquiatra esteja errado.
— Você tem uma renda anual de pelo menos 1,5 milhão de dólares?
— Realmente está.
— Por quê?
— Estou interessada.
Richard acaricia sua testa. — Não me leve a mal, mas não tenho certeza se
você é uma boa opção para nós da Enthrall.
— Você me subestima.
Ele deixou escapar outro longo suspiro. — Eu vejo o seu futuro e parece... —
Ele pegou o sorvete de mim e o lambeu. — Mmmm, baunilha. — Ele o devolveu.
— Sabe?
— Você é ingênua.
— Eu não sou.
— Você é, Mia. Fiquei sentado aqui nos últimos dez minutos observando você
com esse sorvete e você não tem ideia de como isso é excitante.
— Ei, Dr. Cole. — Tentei me livrar dessa inquietação, não o tendo visto
entrar no prédio.
Meu rosto queimou e eu quebrei seu olhar, pegando meu mouse e fingindo
que algo na tela precisava de minha atenção. A última vez que o vi foi três dias
atrás, quando nosso estranho ménage à trois de alguma espécie havia acontecido
no escritório de Richard. O evento de mudança de vida que me deixava tonta
quando pensava nisso. Pelo amor de Deus, este homem havia me tocado
intimamente e ainda agora estávamos ambos sendo tão formais um com o
outro. Como se nada tivesse acontecido.
Por favor, não queira falar sobre o que você fez comigo.
— Por favor, não me pergunte o que estou pensando, — eu disse com firmeza.
— Não, obrigada.
— Legal? — Ele parecia meditar sobre a palavra. — Bem, é bom ouvir isso.
— Você vai?
A maneira como ele disse isso me fez sorrir. — Vou colocar isso de volta em
seu escritório. — Fui em direção à porta, arquivo na mão, grata por Cameron ter
deixado fora do gancho sobre a discussão do nosso recente encontro.
Eu estava até pensando em francês agora, como uma vadia europeia saída de
um show burlesco. Esperava que essa timidez passasse logo. Eu precisava agir
normalmente e não o deixar ver como ele me afetava. Ainda assim, pela maneira
como Penny e Scarlet agiam quando ele estava na sala, elas também se sentiam
intimidadas. Consegui passar por Cameron sem olhar para ele.
— Posso falar com Richard sobre deixar você ir à festa, — disse ele. —
Contanto que você não vá sozinha, você ficará bem.
Quando voltei para minha mesa, Cameron tinha ido embora. Não demorei
muito para guardar os convites na gaveta mais baixa, desligar o computador,
rasgar os post-its que rabisquei e reabastecer o papel da impressora. Fui pegar
minha bolsa e uma onda de terror me atingiu. O portão do elevador estava
totalmente aberto.
Com um rápido olhar, confirmei que minha chave do elevador ainda estava
colada no topo da gaveta mais baixa. Quem quer que tenha descido lá não usou a
minha. Embora alguém pudesse ter usado e colocado de volta durante o tempo que
eu estive fora. Peguei minha bolsa e tirei meu celular e mandei uma mensagem
para Richard.
E esperei.
Cinco minutos depois e ainda não houve resposta dele. Eu me perguntei como
ele reagiria se eu visitasse a zona proibida de Enthrall para verificar se há
intrusos. Havia uma intriga persistente que eu não fui capaz de afastar. Essa área
fora dos limites ganhou vida própria dentro da minha imaginação. Ainda assim,
de jeito nenhum eu iria lá embaixo.
— Eu também. — Olhei para o elevador como se só isso fosse fazer com que
ele revelasse seus segredos.
— Vamos dar uma olhada.
— Eu não estou autorizada. — Eu levantei minha mão para que ele soubesse
que não tinha intenção de ir a qualquer lugar perto de lá.
— Não seja ridícula, — disse ele, chamando o elevador. — Você está comigo.
— Não.
— Oh.
— É claro.
Tara estava certa sobre as paredes vermelhas. Uma iluminação suave caiu
sobre os cinco móveis, se é que se pode chamá-los assim. Mais apropriadamente,
eles eram engenhocas lindamente esculpidas e manchadas de escuro. Uma mesa
posicionada no meio tinha resmas de finas correntes de prata penduradas sobre
ela, chegando até o chão. À sua direita, havia um painel de madeira cruzado com
algemas de couro de cada lado para esticar os braços da vítima. Na parede pendia
uma variedade de equipamentos, incluindo remos, chicotes e vendas. Um baú
empurrado contra a parede oposta escondia o que provavelmente eram acúmulos
mais torturantes. Resisti à vontade de dar uma olhada.
O que parecia ser um estoque da Idade Média era facilmente anulado pelo
elegante trono, uma almofada de veludo diante dele. À sua direita pendia uma
enorme gaiola de aço e, mais adiante, mais engenhocas repousavam em
prateleiras: correntes de elos de prata, cordas, vendas, mordaças e o que parecia
ser um par de luvas pretas com pontas de dedos pontiagudas.
Uma porta no final da sala prometia levar a mais salas de dor. Não havia
como superar este era um lugar perigoso para se estar, e como alguém iria querer
voluntariamente ser amarrado em qualquer um desses me confundiu.
Eu me virei para ver a Senhora Scarlet saindo das sombras. Sua roupa de
dominatrix era uma mistura de couro e látex. Seu delineador de estilo gótico e
rímel destacando seus olhos, e seus lábios pintados de ruge, maçãs do rosto
marcadas e cabelos penteados para trás acentuavam sua presença dominante.
— Oi Scarlet, — eu disse, esperando que aquele olhar dela não fosse raiva
de mim por estar aqui.
Surgiu uma sensação inquietante de que ela estava esperando por nós. Olhei
de volta para o elevador, desejando ter trazido meu celular. Richard deve ter
respondido agora. Embora a recepção aqui possa ser incompleta. Estávamos bem
no subsolo.
Dei alguns passos curtos em direção a ele, embora meu olhar permanecesse
em Scarlet, me perguntando sobre aquele chicote.
Quase perdi o equilíbrio quando ele esticou meu braço esquerdo para o
lado. Ele usou seu peso para me manter lá, seu corpo pressionado contra o meu
enquanto ele prendia meu pulso dentro de uma tira de couro; apertado. Uma
emoção disparou do meu peito para minha virilha e eu prendi a respiração. Veio
um sopro da colônia leve de Cameron; um perfume balsâmico agitando meus
sentidos.
Eu resisti, embora sua força subjugasse a minha. Ele puxou meu pulso com
força na fivela.
— Vamos fingir que ela não está aqui. — Cameron puxou uma alça mais
grossa pela minha cintura, afivelou e puxou. — Na maioria das sessões, seríamos
apenas nós dois. — Ele segurou sua mão contra meu peito. — Você está respirando
muito rápido. Eu não quero que você desmaie.
Com a boca seca e com sede, tentei diminuir o ritmo. — Eu tenho que voltar
ao trabalho.
— Pensei que você tivesse acabado por hoje. — Ele estendeu a mão para o
botão da minha camisa e o desfez. Seus dedos se movendo rapidamente nos outros.
Eu gritei e ele deu um passo para trás e riu. — Então a camisa não.
— A camisa não.
— Gritos ecoam aqui embaixo, — disse ele. — Nós ouvimos muito isso.
Ah não…
Sua mão voltou ao meu peito, pressionando contra ele, seu corpo perto, seu
olhar perfurando o meu com uma intensidade feroz. — O que você está sentindo?
Minhas pálpebras se fecharam, meu coração bateu muito rápido. Este desejo
intensificou uma dor enviando espasmos baixos e profundos; um prazer de
construção. Meus mamilos empurraram contra meu sutiã, os botões endurecidos
me traindo através da minha blusa.
Outra emoção de excitação disparou entre minhas coxas e odiei o fato de que
ele poderia dizer. A ponta de seu dedo roçou ao longo do meu antebraço direito,
pressionando sob o ponto crucial do meu braço, enviando um arrepio pela minha
espinha.
— Não.
Este homem estava fora do meu alcance, e ainda assim ele estava aqui
comigo, me seduzindo, sua língua aveludada emaranhada com a minha. Ele me
chamou de primorosa. Me fez acreditar. Este momento de sonho era uma fantasia
impossível. Uma pulsação lenta e constante de prazer cresceu quando meu gemido
entrou em sua boca, minha língua lutando contra a dele, perdida neste desejo.
Ele se afastou um pouco e segurou meu olhar. — Como você está se sentindo?
— Bem, — eu murmurei, me odiando por dizer isso.
— Excitada?
Richard ficou a cerca de três metros de distância, seu rosto ilegível. Cameron
olhou em sua direção.
Deixando-me amarrada, Cameron deu um passo para trás. — Mia tem sido
uma garota muito travessa.
— Mas...
Eu resisti à vontade de olhar para ele. — Vocês dois são tão... — Eu procurei
as palavras que fizessem meu ponto e não me demitissem.
Seu rosto escureceu e ele baixou as mãos ao lado do corpo. — Eu posso muito
bem ser a chama, mas Cameron é quem adora ver você queimar.
Não.
— Fale.
Quem quer que tivesse uma sessão aqui poderia ser interrompido por alguém
chegando naquele elevador, removendo toda esperança de privacidade. Minha
mente procurou por outra distração.
Respirando muito rápido, eu esperava que ele lesse de mim o que eu não ousei
dizer.
— Sim. — Mordi minha mão para abafar meu grito, temendo alertar
Cameron e Scarlet e eles voltariam para ver isso.
— Sim, o que?
— Sim Senhor.
— Você não fala. — Ele atacou novamente. — A menos que seja permitido.
Isso era demais. A dor durou segundos, mas o prazer pulsou no meu
clitóris. O próprio tempo me seduziu, roubando meus pensamentos e possuindo
minha dignidade. Eu cerrei meus dentes, um gemido suave escapando.
Sim!
— Isso não mente, Mia. Você está molhada, — ele ronronou as palavras, sua
outra mão concedendo uma punição de bofetadas contínuas que eu não merecia.
Eu puxei as correntes.
Ele travou sua guerra sensual contra mim, as pontas dos dedos massageando
com golpes firmes, me fazendo gemer e me movi contra sua mão novamente,
querendo, precisando de mais, precisando gozar. Isso estava errado, mas parecia
tão certo. O desejo formigante queimou por dentro, causando espasmos sensuais
que me fizeram entrar em transe. Outro tapa forte me trouxe de volta ao presente,
a picada enviando ondas de choque de calor por mim. Minhas coxas estremeceram,
rebelando-se contra esta posição em que ele me colocou enquanto eu subia mais
alto, chegando ao ponto sem volta, fazendo beicinho para chegar ao clímax.
O prazer se esvaiu, deixando um latejar baixo onde seus dedos estiveram. Ele
deu um passo para trás e me deu algum espaço. Tentei me equilibrar, levantando
minha mão contra outro ataque sensual; era difícil pensar direito.
Sua mão se esticou. — Mais alguma coisa que você acha que gostou aqui?
— Seu tom era firme, repreensivo.
— O que?
— Nós nunca...
Meu olhar disparou para a prancha cruzada e percebi por que ele pensava
isso. — Nunca fizemos nada.
Minha mente correu com o que ele deve ter pensado que tinha visto.
— O que você está dizendo? — Richard deu um salto para trás. — Você está
dizendo... Mia, você está dizendo que ainda é virgem?
— Sim.
Com a capota abaixada, parecia que estávamos indo mais rápido do que os
135 quilômetros por hora que peguei no hodômetro. Esta batalha perdida com meu
cabelo soprando no meu rosto estava ficando irritante.
Embora eu tivesse alguma ideia de onde minha carreira podia levar, isso
estava bem longe. Nunca imaginei que acabaria em algum ambiente de trabalho
maluco, onde os limites usuais não faltavam, mas sim inexistiam.
Richard colocou o jipe na quinta marcha. Eu me perguntei por que ele não
comprou a versão automática. Meu olhar pousou em suas mãos, aqueles dedos
fortes segurando o volante, não há muito tempo me segurando nas garras do
prazer. Eu me perguntei se ele faria novamente.
Eu tinha deixado meu carro em Enthrall e agora estava com medo de que ele
me deixasse em casa e me despedisse, me deixando presa amanhã. Talvez Bailey
pudesse me levar até lá para pegar meu Mini? A vista caiu rapidamente, junto com
os faróis hipnóticos do outro lado indo para o sul.
— Bem e você?
— Não há necessidade.
— Eu lhe daria o nome de um bom advogado que conheço... mas ele é tão bom
que você ganharia seu caso contra mim.
— Sim.
— Onde você vive? — Eu disse, grata por sua mão me ajudando a descer.
— Malibu.
— Em um apartamento?
Eu me perguntei se ele tinha uma esposa esperando por ele, e se sim, ele iria
passar o dia com ela como um casal normal. Talvez ele explicasse como as últimas
horas desta noite se desenrolaram com Cameron, Scarlet e eu na sala de jogos de
Enthrall. Ela teria que ter a mente mais do que aberta para lidar com ouvir sobre
qualquer uma dessas coisas. Por ser casada com ele, ela provavelmente precisava
de tanta terapia quanto ele.
— Isto é um estúdio. — Seu olhar horrorizado vagou pelo quarto, indo até a
porta do banheiro.
— Sim. — Fui até a cozinha, me perguntando por quanto tempo ele estaria
pensando em ficar e odiando a ideia dele me julgar.
— Vocês estão.
Ele não sabia que tem um código para não tenho café?
— Oh, instantâneo. Hum... — Ele olhou para ele. — Só água para mim,
então. — Ele se encostou no balcão.
Com um aceno, ele recusou. — Você não pode beber a água da torneira aqui.
— Por quê?
— Tem um gosto desagradável. Entre outras coisas. Você tem alguma água
engarrafada? — Ele alargou seu olhar. — Não que isso seja mais seguro.
— Como assim?
— O plástico é absorvido pela água. — Ele deu de ombros e seu olhar fixo
estudou minha geladeira. — Quantos anos tem essa coisa?
Ele abriu a porta do freezer, enfiou a mão e tirou uma das refeições com baixo
teor de gordura.
— Por que você está comendo baixo teor de gordura? Você é minúscula.
— Portanto, é virgem.
— Sim. Winston.
E, no entanto, a senhora Scarlet me disse que Richard não era gay. Talvez
Winston fosse seu filho.
— Escute, Mia, — ele começou, seu tom suave e persuasivo. — Esta noite foi
um erro terrível e não posso me desculpar mais.
— Já esquecido.
Essa era a palavra, aventura. Sim, essas pessoas tinham um jeito engraçado
de viver e trabalhar, mas certamente superava o dia a dia enfadonho de ser uma
funcionária do Wal-Mart, que era para onde eu poderia estar indo se não
conseguisse convencer Richard esta noite, não teve nenhum efeito sobre mim.
Era estranho, naquele calabouço ele agiu com tanta maestria, meio chateado,
na verdade, mas no meu apartamento ele parecia tão normal. Tão regular. Bem,
tão regular quanto um cara gostoso gotejando energia sexual suficiente para
energizar uma grande cidade. Acariciando meus lábios com a ponta do dedo,
minha mente vagou, me levando de volta para aquele quarto vermelho sangue e o
toque de Richard... lá embaixo. Afastei os pensamentos de seus tapas e me
concentrei em como ele despertou o prazer. Seria fácil se acostumar com esse tipo
de atenção. Viciada nisso, de fato.
Obcecada.
Dali, pude ver Richard segurando um pedaço de papel. Ele tinha na mão uma
das notas que eu deixei no balcão.
— Minha madrasta não está bem, — eu disse. — Ela perdeu o emprego junto
com o seguro médico.
— Eu sinto muito. — Ele olhou de volta para a pilha de notas.
— Por que você está pagando isso? Onde está seu pai?
— Bem, eu imagino que SAG13 teria coberto isso. — Ele olhou para a
conta. — Sinto muito, Mia. Eu não fazia ideia.
— Então você não pode me despedir, — eu disse. — Diga-me que você não
vai.
— Sorte sua. Sua erupção nervosa teria seu próprio cartão SAG. — Ele riu
de sua piada. — Eu realmente te deixo nervosa?
— Meu terapeuta me disse que tudo faz parte do meu desejo de morte. — Seu
rosto caiu. — Assim, pelo menos ninguém ficaria de luto.
Isso não fazia sentido. — As meninas têm alta consideração por você.
12
trocadilho com a palavra actress (atriz) e waitress (garçonete)
13
Screen actors Guild - Sindicato que representa atores
— De qualquer forma, elas parecem ter mais medo de Cameron.
Ele olhou para minha televisão. — Você precisa de uma tela plana.
— Foi um presente.
— Bailey?
— Sim.
— Por quê?
— Apenas me perguntando.
— Ela é gay, mas somos apenas amigas. Quer dizer, nós não.... você sabe.
— Ela te deu uma geladeira e uma TV e você ainda não tem ideia do quanto
ela está apaixonada por você.
— Um pouco na defensiva.
— Não estou. Nós nos conhecemos desde a quinta série.
— Oh, bem então, ela pode não querer dormir com você.
— Para ser honesto, sua atitude corajosa fez com que Cameron e eu nos
convencêssemos que você tinha experiência sexual antes mesmo de trabalhar na
Enthrall. — Ele fez uma pausa. — Eu sei que isso é difícil para você, mas é
importante tirarmos isso do caminho. Posso continuar?
— Sim.
— Sim.
Sua carranca se ergueu. — Ele também perguntou se você queria que ele
parasse. Lembra-se disso?
— Sim.
— Você gostou?
— Sim. — Eu murmurei.
Eu corei. — Não.
— Eu entendo, — digo. — Você está tentando dizer que o ambiente pode não
ser bom para mim.
Meu olhar fez uma varredura de passagem nas notas. — Tara viu sua
masmorra também.
Ele deu um sorriso gentil. — Tem certeza que quer estar perto de pessoas
como nós?
— Richard, eu não preciso de sua caridade. Sou mais do que capaz de cuidar
de mim e daquilo. — Apontei para a pilha de notas.
— Eu não duvido.
— Eu estava com raiva dele por levar você lá. Eu queria ser o único a fazer
isso quando eu considerasse você pronta. Apenas mostrar a você. Nada
excêntrico. Cameron está sempre tentando salvar alguém. Seus métodos são um
pouco sombrios, admito, mas também é nosso estilo de vida. — Ele enfiou a mão
no bolso e tirou seu BlackBerry. — Falando do diabo... Ele quer me encontrar para
uma bebida. — Richard mandou uma mensagem de volta para Cameron.
— Se Cameron ao menos olhar para você, — ele disse. — Se ele falar com
você, se respirar na mesma sala que você, me mande uma mensagem
imediatamente.
— Eu tenho que ir. — Ele pescou seu telefone novamente e leu uma
mensagem.
— Como vou enfrentá-lo de novo?
— Bem, você me enfrentou, — disse ele. — E eu fiz muito pior para você.
A campainha tocou.
— Ei, Mia. — Ele deu o maior sorriso. — Você não atende o telefone?
— Não ouvi. — Olhei para a sacola de papel da Saks Fifth Avenue em sua
mão. Havia outra bolsa atrás daquela.
Cameron passou por mim e entrou, sem ser convidado. Esperei que ele
reagisse como Richard reagiu quando percebeu que eu morava em um estúdio.
— Tudo está certo? — Fui educada, apesar de ainda estar irritada com ele
por me enganar até aquela masmorra. Aquele beijo. Ele brincou comigo como um
animal de estimação. Eu não conseguia entender por que ele estava aqui.
— Não, obrigado. — Ele olhou com horror para o balcão da cozinha — O que
diabos é isso?
— O que?
— É o meu jantar.
— Ei!
— Um o quê?
14
Marca de macarrão instantâneo
— Vou mandar uma mensagem para ele. — Atravessei a sala e peguei minha
bolsa.
Ele escondeu atrás das costas. — Eu tenho um presente para você. — Ele
ergueu as sacolas com a outra mão.
Irritada por ele achar que eu estaria distraída com sacolas de compras, peguei
meu telefone novamente e avistei a insígnia de Manolo Blahniks no outro.
— Vou fazer com que seja o dobro do tempo. — Ele franziu a testa para meus
PJs15.— Como se você tivesse outros planos. — Ele colocou meu telefone de volta
na minha bolsa. — Venha jantar. Ajude-me a entreter o senador.
— Lotte?
Olhando dentro para o vestidinho preto, me perguntei como ele sabia meu
tamanho. Dentro da outra bolsa havia uma caixa de sapatos.
15
pijamas
Ele olhou para os meus pés. — Trinta e Sete? — Cameron enfiou a mão no
saco de papel dourado e tirou uma caixa de sapatos Manolo Blahniks. Ele abriu a
tampa, revelando o par de sapatos de salto alto mais elegantes que eu já vi. Eu me
perguntei quanto custava tudo isso.
— Você pode mantê-los depois. — Ele acenou como se não fosse nada.
Esse era o tipo de sapato que eu nunca consegui comprar na vida. Eu estava
quase babando, droga, e por sua diversão óbvia ele poderia dizer.
Sua risada encheu a sala. — Não. É só jantar. Depois para casa. — Ele
ergueu as mãos. — Sério, Mia. — Ele balançou a cabeça para me castigar.
— Eu devo?
— Por me levar para a masmorra. Você sabia que isso deixaria Richard com
raiva. Ele me bateu por isso, pelo amor de Deus.
— Ele fez?
— Pelo que eu pude perceber, você gostou. Além disso, você me disse no
elevador que estava intrigada com o que acontece lá embaixo.
— Você é o psiquiatra do clube. Você avalia as pessoas para ver se elas estão
prontas para se tornarem membros.
— Impressionante. Além de me chamar de psiquiatra. Por favor, não.
— Ah.
— Portanto, quem quer que você tenha criado o perfil teve que ter sua
assinatura cancelada.
— Eu ofereci um perfil perfeito. O que eu não tinha como prever era o álcool
que eles enfiaram na Chrysalis. Quando seus itens pessoais foram revistados, um
frasco prata foi descoberto. — Cameron encolheu os ombros. — Tanto o Enthrall
quanto a Chrysalis estão secos. Livre de drogas. Todos estão claramente
informados sobre isso. Temos bebida na festa uma vez por ano, mas isso é um
máximo de uma bebida. Somos muito rigorosos, em mais formas que você possa
imaginar.
— Oh.
— Eu sei que você é mais inteligente do que eu. Mas, por favor, não me
manipule nunca mais.
Ele estreitou seu olhar. — Por favor, não fale assim comigo nunca mais.
Ele se aproximou. — Que orientação Richard deu a você no seu primeiro dia?
E pensar que planejei uma boa noite assistindo TV, bebendo água mineral e
talvez até desenhando. Meu olhar se desviou para os desenhos que eu tinha
escondido e esperava que Cameron tivesse esquecido que os tinha visto.
— Parece razoável.
— Você tem que vestir algo para a festa. — Ele deu um leve sorriso. —
Richard sabe que você é ótima com os clientes e é por isso que você foi a primeira
pessoa que queríamos esta noite. — Ele ergueu as mãos novamente. — Eu tentei
que os outros fossem justos com você. Por favor, se apresse.
Relutantemente, peguei o vestido dele. Sentindo seus olhos que tudo viam me
seguindo pelo quarto, abri a gaveta da minha cômoda e tirei uma tira o mais
discretamente possível, bem como um sutiã combinando. Fazendo o meu melhor
para escondê-los dele, fui para o banheiro.
— Você não gostou? — Eu disse, embora ao mesmo tempo aliviada por ele
mudar de ideia e não me levar agora.
— Ainda.
Isso é apenas um jantar, certo? Eu fiz uma careta, sentindo uma mudança em
seu comportamento.
Sua mão deslizou pela minha espinha em direção ao arco inferior das minhas
costas e descansou lá. — Mia, eu entendo suas motivações melhor do que você
imagina.
— Minha madrasta?
Richard deve ter compartilhado minha história pessoal. Eu não tinha certeza
de como me sentia sobre isso.
Cameron examinou a janela de vidro da frente do restaurante. — Você é uma
jovem muito especial. — Ele me empurrou de volta para a porta, logo abaixo do
toldo da loja de design de interiores ao lado. — Quando você estiver pronta para
falar sobre sua vida pessoal, estou aqui para ajudá-la.
— Obrigada, Cameron.
Depois de tudo o que aconteceu entre nós, senti que podia confiar nele. Era
bom ter o Cameron mais suave e gentil de volta.
Agarrando meus ombros, ele me puxou para que minhas costas ficassem de
frente para ele. — Segure firme. — Seus dedos acariciaram meu couro cabeludo,
fazendo cócegas enquanto passavam. Ele separou meu cabelo ao meio, formando
dois rabos de cavalo. Eu o senti prendendo cada um com uma faixa. Ele as tinha
no bolso o tempo todo.
Fui retirá-las.
Ele agarrou minha mão e me parou. — Mia, há algo que você precisa saber.
— Ele me puxou para fora do toldo e me puxou em direção à porta do restaurante.
Por que mudar um hábito de uma vida inteira e ouvir minha intuição?
Cameron deu uma olhada no menu. — Para a senhora... — Ele torceu a boca
pensativamente — Magret de Canard Sauce Cerises. — Ele entregou o cardápio
ao garçom.
— Ela vai querer atum Ahi grelhado com gergelim? — O senador DeLuca
disse ao garçom.
Se o garçom achou que essa troca era estranha, ele certamente não a mostrou
enquanto a anotava. Ele continuou a tomar o pedido de Cameron de bife de lombo
cortado com aspargos de Cameron e a truta de riacho tostada do senador DeLuca.
Sem ter certeza do que tinha acontecido lá, resisti à vontade de falar,
lembrando-me de quando Richard escolheu meu sorvete. Esses homens realmente
tinham problemas de controle. Ainda assim, eu não estava aqui para comer, mas
apenas cumprir nosso acordo e conversar um pouco com o convidado de Cameron
e fazê-lo feliz. Eu esperava que isso fosse algo que eu pudesse fazer. Pode até haver
um bônus se Cameron cumprir sua promessa. De tudo que ele tinha esbanjado até
agora, parecia promissor. Eu seria capaz de pagar a conta da radiologia da minha
madrasta, pensei, pegando meu champanhe.
Meu espumante estava seco e frio e tomei o que esperava serem vários goles
discretos para me acalmar. Se Cameron insinuasse que algo mais poderia ser
esperado, eu simplesmente me desculparia, dizendo a ele que precisava usar o
banheiro e fugiria. Mesmo se ele tivesse me comprado esses sapatos incríveis. Meu
plano me ajudou a relaxar.
Isso foi até Cameron deslizar a mão pelo meu vestido e ao longo da minha
coxa e colocá-la lá. Eu olhei para ele, tentando enviar uma mensagem discreta de
que eu queria que ele a removesse.
— Tudo bem. Ouvi dizer que nossas irmãs almoçaram em Nova York no mês
passado? — Disse Cameron.
A conversa entre eles fluiu, o diálogo casual revelando uma amizade que já
existia. Essa facilidade que eles compartilhavam revelava que eles se conheciam
bem.
Peguei meu copo e tomei alguns goles. Isso tudo seria muito mais suportável
se eu ficasse embriagada.
— Por que?
Ele pegou seu copo para me mostrar. — Caso contrário, você esquenta o
champanhe.
Fiquei arrasada por ter sido educada assim. — Ele provavelmente saiu para
dar um golpe em alguém.
— Eu não sou como Richard de forma alguma. Ele tem o maior coração que
eu conheço. Pena que alguém teve que ir e estripá-lo.
— Uma amante?
— Por que você não me deixou pedir meu próprio jantar? — Eu disse.
Cameron se virou em seu assento para olhar melhor para mim. — Cuidado
ao elaborar.
Ele parecia divertido. — Você está usando como exemplo uma mulher que
morreu enquanto defendia sua posição no Epsom Derby, tentando lançar uma
bandeira sobre o cavalo do Rei George em 1913?
— Sim.
— Isso é maldade.
— Que tal escolher algo mais atual. — Ele encolheu os ombros. — Mais
século vinte e um.
— Você só está aqui para ficar bonita. — Ele sorriu. — Eu espero mais da
minha submissa.
— Eu não sou sua submissa.
Meio distraída, olhei para a mesa sem ter certeza do por que disse isso a ele.
— Não.
— Sim, você fez. Por favor, não me esfaqueie durante o jantar. — Ele
arqueou uma sobrancelha. — E, por favor, não use uma faca de jantar cega.
Ele se levantou, seu olhar abaixado, e eu estava com medo de que ele
confiscasse meu telefone.
— Agora seria uma boa hora para ligar para Richard, — disse ele.
Aliviada por poder apaziguar Richard e deixá-lo saber que eu estava com
Cameron, desisti. Com um sorriso educado, passei pelo senador DeLuca, que
conversava em seu celular em italiano.
A ligação caiu.
Devolvendo meu celular à minha bolsa, roubei mais alguns segundos para
afofar meu cabelo no espelho. Uma versão mais jovem de mim olhou de volta. Eu
parecia ridícula em rabos de cavalo e fui tirá-los e pensei melhor. A última coisa
de que precisava era um Cameron zangado.
O senador fez sinal ao garçom para que enchesse o copo. Sua atenção voltou
para mim.
— Cameron, — eu sussurrei.
Eu fiz uma careta para Cameron e sussurrei: — Eles não deveriam deixar o
champanhe à mesa?
— Minha permissão para você falar foi retirada. — O tom de Cameron era
severo assim como seu olhar. — Entendeu?
Eu me encolhi.
— Bem. Ele manda lembranças, — disse ele. — Eu gostaria muito que isso
acontecesse.
Cameron foi responder quando seu olhar encontrou algo do outro lado da
sala. Sua mão se ergueu. Eu fiz o meu melhor para não reagir à dor enquanto o
sangue voltava para o tecido que Cameron estava cortando.
O senador apertou e se inclinou para abraçá-lo. — Que bom que você pôde se
juntar a nós.
Richard gesticulou para um garçom. — Podemos ter isso pra viagem, por
favor?
Cutuquei as costelas de Cameron — Para que saiba que sou um espírito livre.
Cameron saiu e eu passei por ele. Richard piscou várias vezes na bainha do
meu vestido e me lançou uma carranca de desaprovação. Ele se recuperou
rapidamente, gesticulando adeus ao senador e a Cameron.
Eu olhei para a frente e puxei a alça. — Achei que você tivesse um jipe.
— Por favor, tire seu cabelo desses rabos de cavalo ridículos. — Ele me lançou
um olhar. — Seu vestido poderia ser mais curto? — Ele ligou a música e Just
Breathe do Pearl Jam tocou fora do sistema de som.
Richard virou a cabeça para olhar para mim. — O que você quer dizer?
— Quando ele me pegou. Ele me disse que podíamos ligar para você do
carro. Ele mudou de ideia.
Cameron dissera ao senador que seja lá o que ele queria pertencia ao diretor
assistente. Eles estavam falando sobre mim, eu sabia disso. Especialmente porque
o aperto de Cameron aumentou na minha coxa quando ele disse essas palavras.
— Estou pensando.
— Da próxima vez que você entrar no covil de um dragão, — disse ele, — não
use isso.
— Significa que você faz o que mandam. — Ele empurrou o carro para a
quinta marcha.
Nós dirigimos pelo que pareceu uma vida inteira. A música era uma distração
bem-vinda.
Meu instinto de não usar isso estava certo. Tentei puxá-lo para baixo, mas
não havia realmente nada para puxar para baixo. Agora fora dos rabos de cavalo,
meu cabelo estava fora de controle. Eu o girei em minha mão e segurei nele.
— Sirva-se de uma bebida. Tenho que fazer uma ligação rápida. — Ele
atravessou a sala de estar em direção a uma grande porta de tela, destrancou-a e
saiu.
16
expressão popular que significa reações diferentes para uma mesma situação
A iluminação baixa, a decoração cara e as paredes bege suaves apresentavam
um estilo colonial. O quarto era espaçoso, mas aconchegante, e as várias peças de
móveis lindamente esculpidas do extremo oriente tornavam o lugar
aconchegante. Cheirava a ar fresco e oceano.
— Posso nadar?
Abri o zíper do meu vestido e puxei-o para cima e sobre a minha cabeça. O
minúsculo pedaço de material não demorou muito para ser removido. — Você tem
uma casa adorável, — eu disse a ele, e joguei meu vestido nas costas de uma
espreguiçadeira. — A propósito, obrigada pelo vestido.
Desviei meu olhar de sua nudez. Esses músculos tensos revelaram o quanto
ele trabalhava. Essa ereção traia sua luxúria. Ele não parecia nem um pouco
perturbado por se despir na minha frente. Caminhou em minha direção, fazendo
da água que espirrava ao nosso redor; o único som.
— Sim.
Ele estava em cima de mim, segurando meu rosto, beijando-me
apaixonadamente, com força, capturando minha boca na dele enquanto eu derretia
em seus braços. De olhos fechados, fui com ele, minha língua acariciando a dele,
nossos lábios se roçando. Sua ereção cutucou contra mim. Eu esperava que ele
fosse gentil quando entrasse em mim, sem pressa e não me machucasse muito. Ele
correu as pontas dos dedos pelo meu couro cabeludo, lentamente, amassando
minhas mechas com as mãos.
Aqui, sob o céu noturno, flutuando em uma piscina aquecida pelo sol em sua
fortaleza, me senti segura pela primeira vez.
Tirou meu sutiã e calcinha, suas mãos fazendo um trabalho rápido para
removê-los. Ele me empurrou para trás e pressionou contra mim, seu pau cavando
em meu estômago, enviando arrepios de antecipação por todo o meu corpo. Nosso
beijo ficou mais frenético, desesperado. Ele se aninhou em meu pescoço e plantou
beijos molhados lá, seus dedos encontrando meu mamilo esquerdo e beliscando-o,
enviando ondas de prazer para baixo onde permaneciam vagarosamente entre
minhas coxas.
Richard descansou sua testa contra a minha e fez uma pausa, sua respiração
pesada, necessitada. — Mia, eu... — Ele acariciou meu rosto, os segundos se
dissolvendo enquanto uma pulsação surda ecoava por todo o meu corpo. — Não
tenho ideia do que acabou de acontecer comigo. — Ele se afastou, nadando para o
outro lado.
Eu queria que ele soubesse que esses sentimentos que compartilhamos eram
tão certos, tão amáveis. Que estava pronta para o que seria minha primeira vez,
aqui, com ele.
Ele quebrou meu olhar, sua garganta trêmula sugerindo que ele estava
segurando suas emoções. Eu me senti péssima ao vê-lo assim e me odiei por ter
causado isso.
— Claro que não. — Ele descansou a mão sobre o peito e piscou para mim
surpreso. — Você nunca poderia fazer nada errado.
Meu coração doeu com sua rejeição.
Richard se encolheu e saiu de seu transe. — Ei, amigo, — disse ele, — você
sempre sabe o que dizer.
Ele olhou para o céu. — Você sente falta de olhar para as estrelas? Eu
faço. Toda essa poluição. Você não pode acreditar até morar aqui.
Ele estava certo. Era difícil distinguir as nuvens da poluição. Mas eu não me
importava com isso agora.
Richard voltou sua atenção para Winston, acariciando sua cabeça. Ele beijou
a ponta do nariz, dizendo: — Você pergunta qual é a nossa política? — O sotaque
inglês de Richard parecia perfeito. — Direi: é para fazer a guerra, por mar, terra e
ar, com todas as nossas forças e com toda a força que Deus pode nos dar; para
travar guerra contra uma tirania monstruosa, nunca superada no catálogo escuro
e lamentável do crime humano. Essa é a nossa política. Você pergunta, qual é o
nosso objetivo? Posso responder em uma palavra: vitória.
Richard sorriu. — Para irritar meu pai, me formei em História. — Ele olhou
para Winston. — Não foi, senhor? — Ele piscou para mim. — Eu escrevi minha
dissertação sobre Churchill.
— Churchill era o homem que eu gostaria que meu pai pudesse ter sido.
— Você realmente deveria tentar falar com seu pai, — eu disse. — Antes que
seja tarde. Eu daria tudo para ser capaz de falar com o meu novamente.
— Sinto falta dele todos os dias, — eu disse. — Mesmo que ele não fosse
sempre legal. Então eu entendo. — Eu apontei para ele. — Não importa quantas
desavenças você teve, ele ainda é seu pai. — Eu olhei para o céu escuro. — Eu
daria qualquer coisa por outro abraço do meu.
— Certo.
Embora Cameron tivesse me feito a mesma pergunta esta noite e não tivesse
corrido muito bem.
— Vamos te vestir. Vou te levar para casa, — disse ele. — Ouvi dizer que seu
chefe é um defensor da pontualidade.
Lutei contra essa vontade de cair em seus braços e quase não venci.
Minha mente demorou no nosso beijo na noite passada. Ele tinha sido tão
cavalheiro. Eu esperava que sua resistência em ir mais longe não fosse porque ele
não me achasse atraente. Isso me fez sentir um pouco feia.
No caminho para casa, ele me garantiu que tinha tudo a ver com ser meu
chefe, e ele até se recusou a entrar no meu apartamento desta vez, dizendo que
tinha um longo caminho de volta. Ele saiu logo depois de me levar em segurança
até minha porta. Me perguntei como ele estaria comigo hoje. Ainda tínhamos que
conversar sobre o que aconteceu naquele estranho jantar com Cameron e seu
amigo, o senador assustador. Talvez Richard pudesse persuadir Cameron a parar
de me levar para cenários perigosos.
Apesar da emoção de estar perto do Dr. Cole, ele me fez sentir como seu
brinquedo. Se Richard não tivesse nos interrompido na masmorra, eu me
perguntei o quão longe as coisas teriam ido. Embora algo me dissesse que ele
cronometrou a chegada de Richard perfeitamente. Como se tivesse prazer em
mexer com Richard. Havia algo tão sedutor em Cameron. Ele fez minha mente
ficar confusa, e quando ativou aquele charme obscuro, ele me fez ficar com os
joelhos fracos também. Não admira que Penny tenha me avisado para ficar fora do
caminho dele...
— Mia?
— Não, obrigada, — disse ela. — Você está um pouco quieta esta manhã.
Lotte conversou. — Você deveria ter visto ele, — ela disse. — Era o
impagável Richard. Esse cara no carro atrás de nós vê outro carro tomando a vaga
que ele esperava e ele salta e começa a gritar com a senhora que o roubou.
— Então, Richard me disse para ficar no carro, — disse Lotte. — Ele saiu e
foi até o cara que estava enlouquecendo com essa velha. Richard disse calmamente
para o cara: — Esta não é uma zona de guerra. Não há balas voando sobre nossas
cabeças. Este é o Costco. Uma loja. Por que você não respira fundo, coloca as coisas
em perspectiva, e vai encher sua cesta com itens que você tem sorte de poder pagar.
Lotte acenou com a mão no ar. — De qualquer forma, o cara se desculpou com
Richard e trotou de volta para o carro para encontrar outra vaga.
— Esperemos que você não esbarre nele durante uma viagem de compras, —
disse Penny.
Não foi tanto o fato de Richard ter ajudado um estranho que me surpreendeu,
mas o fato de ele fazer compras na Costco. Parecia tão comum.
— Então você tem tudo o que precisamos para a festa? — Penny perguntou
a ela.
— Sim. O serviço de bufê está reservado, então estamos prontas, — disse
Lotte.
— Aposto que é aquele maldito aquário que está desanimando todo mundo,
— disse Penny.
Ele acenou com a cabeça, sua cabeça balançando para longe como se assim
fossem seus pensamentos. Eu me perguntei se passar por ele e ir embora seria
considerado rude.
— Como eu disse, ontem à noite, — ele disse. — Isso estava fora do meu
personagem. Eu sinto muito.
— Eu gostei.
— Certamente parecia diferente. — Sua testa franzida. — Diferente no bom
sentido. Mia, só não acho que isso deva acontecer de novo. É imperativo que
mantenhamos nossa relação de trabalho profissional e, hum... bem, é isso mesmo.
— Você e eu...
Ele caminhou até sua mesa e pegou sua caneca. — Não tenho certeza se é
algo para o qual você esteja pronta.
— Mas...
— Isso é tudo, obrigado. — Ele deu um de seus olhares essa conversa acabou.
Saí com um aperto no peito. Eu realmente pensei que a noite passada poderia
levar a algo? Amaldiçoei minha ingenuidade, esse traço autolimitante nunca
deixando de me decepcionar. Voltei para a minha mesa, me perguntando se ele
mudaria de ideia sobre a festa.
Ela descartou essa ideia. — Não diga nada. Dirija-o a mim sobre o
assunto. Eu sei como lidar com ele.
— Você não quer ter nada a ver com isso. É uma dor de cabeça. Há um grande
tanque de peixes na sala de estar e espera-se que você alimente esses peixes
tropicais e os mantenha vivos enquanto ele estiver fora da cidade.
— O aluguel é alto?
— Vou te dizer uma coisa, por que não falo com ele mais tarde e vejo se ele
pode diminuir o aluguel?
Droga.
17
Compreende várias variedades fenotípicas de peixes de água doce, distribuídos geograficamente no
sudeste da Ásia.
Lá se vai minha casa dos sonhos à beira-mar.
Fui atingida pela ideia de pesquisar Richard Booth no Google. Digitei seu
nome e li a lista de artigos. Nenhum deles era sobre Richard. Na verdade, não
havia absolutamente nada relacionado a ele. Nem mesmo uma página do
Facebook. Não havia nem mesmo nada sobre Enthrall. Naveguei de volta para o
artigo de Asian Arowana e me perguntei o quanto eu queria sair daquele estúdio.
Meia hora antes de enfrentar o monsieur, tive tempo de tomar um café com
um pouco de leite e voltar rapidamente para a minha mesa.
Obsessão.
Eu tinha que agir casual perto dele. Indiferente até. Como se ele fosse apenas
mais um membro da equipe e não o ser gostoso e divino que andava por aí como se
fosse o dono do lugar.
Bebendo minha bebida, meu olhar varreu do relógio para o elevador e de volta
ao relógio enquanto eu tentava me assegurar de que ela era apenas uma cliente,
prova disso estava em seu nome estar no diário.
Também me ocorreu que não tinha ideia do que realmente acontecia durante
uma sessão e, apesar de ter um gostinho fugaz da técnica de Cameron, não tinha
certeza se alguma das amantes ou mesmo Richard eram ousados o suficiente para
fazer sexo com uma cliente.
Com esse pensamento ameaçando derreter meu cérebro e ensopar minha
calcinha, o elevador anunciou que estava prestes a cuspir um
cliente. Curiosamente, esperava que fosse o monsieur.
A porta do pessoal se abriu e minha cabeça girou para vê-lo parado ali, seu
rosto se iluminando. Eles se abraçaram e foi um daqueles abraços que você
compartilha com um melhor amigo ou, Deus me livre, com um amante. Onde
estava aquele comportamento de domínio do personagem que Richard deveria ter,
como o que Lotte sempre manteve para Monsieur Trouville?
Meu olhar desviou para o meu protetor de tela. O lago de carpas japonesas
que Richard havia criado para mim, sabendo o quanto eu amava o jardim, agora
trazia tristeza. Lembrei-me dele sentado na minha cadeira, a maneira como ele
moveu o mouse para reiniciá-lo. A maneira como ele me pegou olhando, sua boca
se erguendo nas bordas em diversão brincalhona.
Eu tinha dado como certo nadar em sua piscina na noite passada, não
saboreei cada segundo precioso como deveria. Enxuguei outra lágrima velha.
Ele pareceu surpreso. — Mon Amie. Você está... belle comme le jour!
Piscando várias vezes, tentei entender o que ele estava dizendo. Ele
confundiu minhas bochechas coradas com excitação, esses estremecimentos de
emoção que eu não consegui suprimir, essas respirações pesadas de angústia. Eu
me acalmei com o pensamento; nós vemos o que queremos ver.
Fiz um gesto de agradecimento a ele pelo presente que não via desde que
Richard o confiscou e deslizei elegantemente pela porta da sala dos funcionários,
conseguindo conter os soluços até chegar ao spa.
Onde me encolhi no banco de madeira diante do Buda, mordendo minha mão
para acalmar meus soluços. O pensamento de Richard compartilhando seu afeto
com Courtney trouxe uma onda de dor em meu peito e eu agarrei o banco, odiando-
me até mesmo por pensar que um romance entre nós era possível.
— Isso explica seu bom humor. — Ela tirou uma mecha de cabelo do meu
rosto. — Ele te chateou?
— Não.
— Então por que você está chorando? — Ela segurou meus ombros. — Você
está muito corada. Você não está usando, está?
— Mia?
— É claro.
— Sim.
— Hum…
Com minha mão pressionada contra meu peito, amassei minha camisa em
uma bola. Ela acariciou minhas costas, permitindo que o silêncio fizesse o que
quisesse.
— Sim.
— Escute, minha querida. Se você está procurando por amor aqui, você
encontrará, mas não do tipo romântico. O pau com você tem que ser além de grosso
ou fino, gentil. O tipo que te aceita pelo que você é e não te julga, desse tipo.
Aproximei-me, meu rosto a centímetros das fotos desta vez. Passei para a
segunda e, finalmente, a última, percebendo que eram todas fotos de Richard.
Lotte ficou ao meu lado. — Para entender o quão longe Richard está além da
salvação, você só precisa olhar para elas.
— Mais?
— Que tipo?
— Do tipo particular.
— Por favor, não diga a Richard que perguntei o que você faz lá embaixo.
— É claro. E não vamos deixá-lo saber que estivemos aqui, — disse ela. —
Você é nossa Mia.
— Eu devo voltar para o monsieur, — disse Lotte. — Vou dizer a ele que você
foi dominada pelo prazer. Ele vai gostar disso. — Ela piscou para mim e estendeu
a mão, colocando uma mecha de cabelo atrás do meu ombro. — Nada de bom pode
vir de se apaixonar por um homem que é incapaz de amar você de volta.
Eu me envergonhei totalmente.
Ela beijou minha testa. — A Senhora Scarlet gostaria de falar com você.
Meu olhar vagou sobre a mesa bem organizada de Richard, sua coleção de
ornamentos contraditórios, o Buda, aquelas taças de champanhe de cristal,
aqueles parafusos de dedo, bem como o sofá de couro em que eu nunca o tinha visto
sentar.
Seu perfume inebriante de jasmim e rosas chegou até mim de onde ela estava
sentada atrás da mesa. Lembrando-me de como ela assistiu Cameron brincar
comigo na masmorra, foi difícil manter contato visual. Ela ainda me assustava pra
caralho. Eu sabia que tinha feito algo errado. E por sua severidade, eu estava
prestes a ler o ato do motim.
Eu fui sentar.
Isso provavelmente teve algo a ver comigo saindo com Cameron e Richard na
noite passada. Procurei as palavras que poderiam oferecer meu ponto de vista sem
colocar nenhum deles em problemas. Aposto que eles também tinham medo dela.
— Oh.
— Ok.
— Sim.
— Vou ser breve. O que estou prestes a dizer a você não deve ir mais longe.
— Ela se endireitou. — Você pode me prometer isso? Que nossa conversa não vai
mais longe?
— Sim.
Ela sustentou meu olhar como se medisse minha honestidade. — Seu bem-
estar é extremamente importante, — ela baixou o olhar, — para nós, 'meninas'.
— Oh.
Eu engoli em seco.
— Sim, Scarlet.
Ela abriu uma gaveta e tirou uma pequena sacola azul brilhante de
presente. — As meninas e eu compramos uma coisinha para você. — Ela ergueu
a mão. — Muito pensamento e deliberação entraram nisso. Acreditamos que isso
pode salvar você.
— O que? Quando?
— Agora.
— Agora?
— Doce Mia, você está andando por um clube de BDSM exalando magnetismo
sexual inocente o suficiente para fazer nossos clientes mais experientes gozarem
em suas calças. — Ela me entregou a bolsa. — Estou fazendo isso tanto por eles
quanto por você.
— Não. Mantenha-o em sua mesa e use-o com frequência, por favor. — Ela
alargou os olhos. — Use o escritório de Richard. Ele está com uma cliente. Ele tem
uma fechadura na porta.
Eu hesitei.
— Mia, seja uma boa menina. — Ela enfatizou com um dedo apontado. —
Certifique-se de ter dois orgasmos antes de voltar para mim. — Ela me
enxotou. — Sem pressa. Ninguém vai incomodar você.
— Não.
— Não.
Eu rasguei a caixa. Pelo menos isso faria parecer que eu segui o comando de
Scarlet. Meu coração trovejou no meu peito como se ela estivesse diante de mim
agora, batendo o chicote e esperando que eu fizesse. Esperando por mim.
Depois de fechar as cortinas e verificar a porta mais uma vez para garantir
que realmente estava trancada, voltei para o sofá. Pelo menos ela pensaria que eu
fiz isso.
E ajustei o zumbido.
Quando a vibração encontrou meu clitóris, enviou uma onda de prazer branco
e quente para ele. Uma carga deliciosa. Meus pensamentos vagaram...
Ele sabia que eu precisava disso. Precisava dele. Por que ele estava me
negando?
— Richard, — eu sussurrei.
Meu corpo ficou rígido quando os tremores passaram por mim. Fui capturada
por esse pico febril de prazer quando minha respiração foi arrancada.
— Sim, oh sim…
Sabendo que eu teria que enfrentar a Senhora Scarlet em breve, e com suas
ordens estritas pairando sobre mim, eu liguei meu novo amigo mágico novamente.
Certamente havia algo a ser dito sobre ser uma 'boa menina'.
CAPÍTULO 14
— Épico?
— Aqui. — Divertida, ela me entregou uma caneca cheia até a borda com chá
quente, seu olhar me examinando. A maneira como sua expressão se suavizou deu
a entender que ela viu o que queria como prova.
Não houve tempo para meditar sobre minhas suspeitas. Eu estive longe da
minha mesa por muito tempo. A sessão de Courtney havia terminado e Richard
estava acompanhando-a para fora. Pela expressão dela, mesmo aqui atrás da
minha mesa, eu podia ver que toda a sua tensão havia sumido e em seu lugar uma
felicidade difícil de definir. As bochechas de Courtney estavam vermelhas, seu
rosto em paz, felicidade irradiando. Eu me perguntei o que Richard tinha feito com
ela.
— Bem, eu estava...
— É melhor você escolher suas palavras com cuidado. — Ele encolheu os
ombros. — Fale sobre o tempo. Sua jornada aqui. Aquele tipo de coisa. Não fale
com meus clientes sobre nada além disso, por favor.
Ele reconheceu que eu tinha lido direito com apenas um aceno de cabeça e
seu olhar voou para a minha mesa. Ele viu minha bebida e a pegou, cheirou e
tomou um gole. — Earl Grey?
— Sim.
Fui dizer que ele não sabia, não podia saber, e então me contive, sem querer
revelar.
— O que?
— O termo correto é 'com licença'. 'O que' é algo que um adolescente rebelde
diz aos pais. — Ele gesticulou. — Você queria compartilhar sua visão?
Engoli em seco, minha voz interior me dizendo para calar a boca. Minha boca
ignorou meu cérebro. — O que você fez com ela?
— Ela é infértil?
— Se ela foi tão maltratada, você não está tornando tudo pior?
— Quinze anos de terapia convencional sem resolução prova que falar não
funcionou. Pelo menos não para ela. — Ele levantou um ombro. — O marido dela
é operário da construção. Eles precisavam de um pouco de orientação.
Richard ficou naquela postura familiar que gostava de manter para intimidar
quem estava na sala com ele.
Coloquei minhas mãos em meus quadris. — Então ela não deveria beber
álcool.
Seu olhar se estreitou. — Esse olhar no rosto dela é a expressão que você verá
em todos os nossos clientes quando eles forem embora. Isso é euforia. — Ele
arqueou uma sobrancelha. — Diferentes tipos de intoxicação.
Tudo o que ele precisava fazer para me seduzir era ficar lá. Eu lutei contra
esse transe onírico, esse encantamento hipnótico que era Richard Booth:
dominante, mestre, enigmático.
— Por que você faz isso? Você me disse que já foi um corretor da bolsa.
— Sim.
— Eu gosto disso.
— Por que?
O olhar de Richard pousou na foto dele escalando. — Quer ver como ele faz
isso?
— Eu deveria voltar.
Ele pegou minha mão e me guiou até a soleira. Juntos, descemos degraus de
madeira. As paredes, pintadas de um bege suave, exalavam um tom reconfortante
das luzes colocadas no chão.
Sessão?
Oh foda-se.
— Você está sempre fantasiando sobre o que fazemos, — disse ele. — E que
tipo de pessoas nós somos. Que tal colocarmos esse mistério na cama.
— É claro que você pensaria isso, — disse Cameron. — Você tem baixa
autoestima. Medida pelo seu nível de confiança, você também tem problemas de
abandono.
— Abandono?
Ele fechou a lacuna entre nós. — Vamos nos divertir. Você pode fazer a
Richard qualquer pergunta que quiser. Digamos que você tenha cinco ou seis
delas. Em troca, farei dez perguntas. Eu sei que você está morrendo de vontade de
saber mais sobre ele. Esta é uma oportunidade perfeita. No entanto, você não
pergunta a ele nada sobre sua vida antes de ele vir trabalhar na
Enthrall. Entendeu?
Eu corei. Até onde eu seria capaz de ir com isso e não desmaiar de vergonha.
— Ela precisava de você lá. Você era a forte. — Ele novamente gesticulou
para Richard.
Eu fiz outra pergunta fechada, minha mente muito confusa com esses
sentimentos estranhos surgindo dentro de mim para me concentrar
corretamente. — Por que você se afastou de mim?
Cameron fixou seu olhar em Richard e eles trocaram palavras não ditas, ao
que parecia. Richard apenas acenou com a cabeça, compartilhando esta
comunicação silenciosa com seu amigo. Tentei entender o que esse olhar
compartilhado pode significar.
— Nosso beijo me deu vontade de levar você ali mesmo na piscina, — disse
Richard. — Mas eu me considero um cavalheiro.
Eu sorri de volta para ele, vendo um olhar que nunca tinha visto em Richard
antes. Ele segurou meu olhar com afeto. Algo mudou dentro de mim como se essas
novas memórias ousassem empurrar as outras para fora.
Cameron acenou com a cabeça em aprovação. — De que cor era o vestido que
você estava usando?
— Azul, — eu murmurei.
O agente funerário discutiu com minha madrasta qual caixão seria mais
adequado às nossas necessidades. Lorraine pediu o mais barato.
Meu olhar disparou para Richard e eu percebi que nadar em sua piscina tinha
que ser isso. Junto com aquele beijo. A maneira como suas mãos passaram sobre
mim, acariciando. A promessa de se aproximar daquele amor esquivo.
— Não estamos mais falando sobre a sua infância, certo? — Disse Cameron.
— Sim.
— Não queria. Implorei ao meu pai que me deixasse ir com ele. Ele me disse
que mamãe precisava de mim. Então eu fiquei em Charlotte.
— Eu deveria ter estado lá. — Torci minha boca de vergonha. — Ela teve
uma overdose de cocaína.
— Escola, — eu abaixei meu olhar. — Eu sempre fui capaz de lê-la antes. Ter
uma ideia de quando ela iria se presentear com as 'coisas boas', como ela
chamava. Era a única coisa que a fazia feliz.
— Eu me mudei para a Califórnia para ficar com ele e sua segunda esposa
Lorraine. Eu me senti culpada porque queria tanto isso. A única maneira de
conseguir isso era minha mãe morrer.
Dei de ombros; não iria compartilhar com eles isso era tudo que eu podia
pagar.
— Sua dor de infância, — disse ele. — Tem um controle sobre você. Sua vida
é uma jornada e você está começando com uma roda que range.
Nessa mesma hora minha vida havia virado de cabeça para baixo, quando
Richard me guiou até aquela masmorra pela escada secreta mais legal que eu já
vi, eu esperava encontrar Cameron esperando por nós, empunhando algum tipo de
parafernália de couro. Ou até querendo falar sobre aquele brinquedo.
Com o que parecia um jogo festivo, Cameron abriu minha psique, permitindo-
me ver minha vida de forma diferente pela primeira vez. Acontece que eu estava
arrastando muita bagagem comigo e nem sabia disso. O que provavelmente
resultou em meus problemas de confiança superficial. Aparentemente, eu sempre
fui um membro do grupo dos fodidos.
Aqueles muros altos espalhados por hera nos dois lados do jardim nos
separavam do mundo. Eu me perguntei quantas pessoas lá fora viviam suas vidas
diárias dizendo a si mesmas que o nó dentro de seu estômago era normal, como o
que eu tinha dentro de mim agora. Eu acariciei essa dor persistente, aquela com a
qual pensei ter me acostumado.
Era bom estar do lado de fora e me perder na distração deste jardim bem
cuidado que era um paraíso de uma vegetação luxuriante. Eu não era muito boa
em dar nomes a flores e só reconhecia aquele ramo de margaridas crescendo ao
longo da parede à minha direita. Minha mãe adorava margaridas, embora só
tivéssemos tido as de plástico. Algo de que Richard zombaria, sem dúvida. Ainda
assim, o dinheiro estava apertado, necessário para coisas essenciais do dia a dia,
como cocaína de alta qualidade para o segredinho sujo de mamãe.
Eu encontrei seu esconderijo uma vez. Felizmente ela me pegou bem antes
de dar minha primeira lambida na coisa. Aos sete anos isso não teria acabado bem.
Não queria pensar naquela velha vida agora, não quando a promessa de amor
surgisse no horizonte. Richard era tão atraente, tão protetor e tão viciante.
Todas as manhãs eu mal podia esperar para começar a trabalhar só para ficar
perto dele.
— Obrigada, Cameron.
Para mim.
Nós dois olhamos para o lago e, pela primeira vez na minha vida, o silêncio
não parecia estranho.
Ele cruzou uma perna longa sobre a outra. — Eu realmente deveria vir aqui
com mais frequência.
Aquele silêncio voltou mais uma vez como se provasse a si mesmo, tanto
quanto a mim, que todo o seu poder se foi.
— Isso é bobo.
Ele tinha um talento especial para deixar as pessoas à sua volta à vontade, é
claro que era nessa altura que se sentia inclinado, e eu o perdoei pelo que tinha
feito comigo no Chez Polidor, a usar-me para despertar a tendência do senador
Deluca para o castigo.
— Muitas vezes. — Cameron olhou por cima dos óculos de sol. — Então você
e Richard se beijaram na noite passada. — Ele deu um aceno de cabeça. — Eu
aprovo.
— Nada aconteceu.
Ele olhou sob os cílios escuros. — Eu não estava falando sobre você.
Embora eu olhasse para o lago, eu não vi, não realmente, minha mente estava
muito ocupada correndo com a possibilidade de Richard sentir o mesmo por mim.
— Richard está mais calmo, — disse Cameron. — Essa foi a primeira coisa
que notei. Quando você só esteve aqui um dia. É claro que ele ficou com uma raiva
cega quando percebeu que tinha sentimentos por você.
— Por quê?
— Isso é confidencial.
— Exatamente.
— Espero que agora você tenha entendido que o Enthrall é mais do que parece
à primeira vista, — disse ele.
— Pessoas que não respondem à terapia convencional usam este lugar como
último recurso.
— O Richard…
Tentei imaginar o que poderia ser a minha. Sim, gostava de beber de vez em
quando, na metade das vezes me esquecia de almoçar e, bem, nunca fumei.
Cameron se inclinou para trás para olhar melhor para mim. — Quando eu
levei você para a masmorra, não tinha ideia de que você ainda era virgem. — Ele
acariciou sua testa. — Estou me chutando por fazer isso com você. Depois daquela
apresentação ousada no escritório de Richard, você me convenceu de que tinha
uma queda por excêntrico.
— É o que fazemos aqui, — disse ele. — Nós controlamos com dor. Trazemos
prazer com a dor. Equilíbrio de prazer com a dor.
Eu quebrei seu olhar, não ousando admitir que outra parte de mim também
gostou. — Como você sabia que eu não gritaria?
— Eu tracei seu perfil, — disse ele com naturalidade, sem nem mesmo um
piscar de um cílio.
Meu olhar permaneceu nele, tentando ver se ele pegou o peso do que ele
revelou.
— E as formigas?
Ele parecia divertido. — Eu gosto de agressividade. É uma característica que
tenho prazer em vencer na minha submissa. Richard, entretanto, deseja alguém
mais maleável. Sexualmente.
— Meu Deus, sim. — Seu olhar varreu o jardim e pousou no lago. — Você
gosta desses pequenos aproveitadores?
— Pelo que ouvi, parece que você terá alguns peixes em breve. Junto com um
novo endereço.
— Seu aluguel vai ser muito baixo. Algo ridículo. Acontece que Lotte é uma
ótima negociadora. — Ele se levantou e se espreguiçou. — Teremos uma festa de
boas-vindas para você. Vamos ver se podemos assustar Richard com um pouco
mais de normalidade. — Ele deu uma risadinha. — Vai ser divertido vê-lo se
contorcer.
— Mia, é melhor levar algumas coisas na vida com calma. — Ele puxou os
óculos de sol de volta.
— Para o registro, — ele disse. — Eu nunca mandaria você para a Sicília. Ou,
por falar nisso, deixaria qualquer um tocar em você. — Ele deu um sorriso
megawatt. — Esse é o nosso privilégio. — Ele empurrou os óculos de sol mais
para cima do nariz. — Você vai precisar de ajuda para se mudar. Vou colocar as
meninas nisso.
Eu nem tinha considerado a necessidade de fazer as malas. Soltei um longo
suspiro e o observei caminhar de volta para o prédio principal.
Pegando meu telefone, vi que perdi uma ligação de Lorraine. Eu liguei para
ela, fazendo uma nota mental para não comentar sobre minha nova casa até que
todos os detalhes estivessem acertados.
— Como está minha garota? — A voz de Lorraine soou ainda mais rouca.
— Minha irmã está passando por aqui como sempre, — disse ela. — Ela pode
ser capaz de me arranjar algum trabalho aqui. Ela tem uma amiga que é garçonete
de um bistrô chamado Pastis. Aparentemente, as gorjetas são enormes.
— Eu não estou morta ainda, — ela disse, sua risada estridente no telefone.
— Eu sei. Fomos comprar perucas hoje e Bobbi comprou para mim essa coisa
morena exuberante. — Ela parecia animada. — Tirou dez anos de mim.
— Vou chamar Bobbi. Eu sou uma merda com este telefone. Sinto muito,
querida, esqueci de perguntar como está tudo com você?
Papel se agitou ao fundo e senti que ela estava olhando para ele enquanto
conversávamos.
— Claro, — eu disse. — Ligarei para eles assim que chegar em casa. O que
exatamente eles disseram?
— Não fazia sentido. Algo sobre minha conta ter sido encerrada.
— Eu ouvi falar de companhias de seguro cortando você. Espero por Deus que
não façam isso comigo.
— Não deixe LA arruinar a minha doce e linda Mia. — Ela beijou o telefone
e desligou.
Olhei para o meu celular sabendo que nunca poderia compartilhar com ela
meu local de trabalho, ou mesmo o fato de que o homem para quem eu trabalhava,
o homem que consumia todos os meus pensamentos acordados, se especializou em
ruína.
Decidi desfrutar de alguns luxos que nunca me permiti antes, como tomar
este banho. Nunca arranjei tempo, suponho. Em primeiro lugar, eu precisava tirar
esta ligação da Blue West Medical Insurance do caminho. Sentei-me na beirada
da cama com meu iPhone pressionado contra o ouvido, esperando outro avaliador
que havia me passado para outro departamento. A água do meu banho estava
esfriando.
— Eu tenho uma cópia da conta principal aqui mesmo. Eu ainda devo a vocês
trinta e quatro mil dólares. — Minha garganta se apertou, nunca antes tinha
falado a quantidade em voz alta.
— Não, o último pagamento foi de apenas seiscentos dólares. Você sabe, como
parte do plano de pagamento que você me configurou.
— Estou olhando para o relato dela enquanto conversamos, — seu tom ficou
tenso.
— A conta de sua madrasta se qualificou para uma bolsa especial por meio
de um de nossos patronos do Cedars, — disse Karen.
Deitada na cama, encarei o teto tentando aceitar o fato de que agora estava
livre de todas as dívidas.
Essa foi a última coisa que eu gostaria de fazer. Não agora, não depois de
encontrar um lugar que realmente sentia que pertencia, era aceita por quem eu
era. Tinha potencialmente encontrado ele ali.
Richard admitiu que gostou do nosso beijo, mas algo me disse que ele nunca
seria meu, nunca poderia ser meu. Eu nunca seria digna de um homem como
ele. Embora de alguma forma saber disso tornasse mais fácil desejá-lo. Mais
seguro fantasiar sobre um estilo de vida tão proibido.
Como meus dedos fizeram agora, acelerando, me trazendo para mais perto,
aquelas memórias inundando de volta, dele me espancando na masmorra. Aquela
sala de jogos com paredes vermelho-escuras que prometia horas de prazer
punitivo...
Desejei que estes fossem os dedos de Richard, seu toque magistral me levando
ao frenesi. Nada, não importa o quanto eu tentasse, eu poderia imitar a maneira
como ele me tocou aqui, me dando prazer assim. Sua experiência era algo que eu
ansiava mais do que qualquer coisa.
Eu desabei no chão.
Entrando no calor do banho, acalmando meus membros cansados, comecei a
entender o que significava esbanjar atenção física pura sobre mim mesma,
chafurdar no luxo da auto devoção. Minha auto aversão estava
desaparecendo. Parecia que estava realmente me vendo pela primeira vez. Toda a
tensão deixou meu corpo e essa dor profunda em meu coração se dissipou. Eu
adormeci.
Me enxugando e lutando para pegar meu robe, fiz meu caminho até a porta
da frente. Era Bailey e eu gesticulei para que ela entrasse rapidamente antes que
alguém visse meu manto úmido, que se agarrava aos meus membros, não deixando
nada para a imaginação.
— Claro, — eu disse.
— Um de banheira.
— Eu sei...
— Tara está saindo com outra pessoa. — Seu rosto se enrugou e as lágrimas
correram. — Acabamos de ter uma discussão terrível.
Ela enxugou o nariz. — Tara tinha seu coração voltado para a Austrália. Era
tudo o que ela falava. Eu tinha aceitado perdê-la. Sei que ela não vai agora, mas
está passando cada vez mais tempo em Veneza.
— Vocês ainda estão fazendo sexo? — Não sei por que perguntei isso. Isso
meio que saiu.
— Sim, — disse Bailey. — Ela também tem sido muito mais experimental.
— Bem então...
— Tara adora você, — eu disse. — Ela é independente e é isso que você ama
nela.
Ela enxugou o nariz com um lenço de papel que puxou da manga. — Como
estão as coisas com você?
— Bem.
Corei loucamente, evitando contar a ela sobre o ato duplo de Cameron e Mia
no escritório de Richard. Eu escondi meu rosto em minhas mãos.
— Eu sei por que você fez isso. Como Richard reagiu? Vá em frente, derrame?
— Ele saiu da sala.
— Oh.
— Eu direi. Ele provavelmente está esperando até que possa colocar suas
garras pervertidas em você. — Bailey observou minha reação. — Ele já deu um
passe?
— Não.
— Ele me bateu.
— O que! Seriamente?
— Eu fiz algo errado. Bem, ele pensou que eu queria, de qualquer maneira.
— Você sabe que isso não está certo? — Ela olhou feio. — Quero dizer, que
tipo de ambiente de trabalho é, pelo amor de Deus?
Eu me levantei.
— Estamos muito felizes por você estar aqui, queria que ela soubesse.
Tara cruzou os braços. — Então, está tudo bem para você ter uma amiga, —
ela apontou para mim, — mas no minuto em que eu vou surfar você enlouquece?
— Mia, posso ver seus mamilos através dessa coisa, — disse ela.
Ela parecia desanimada e seu foco voltou-se para Bailey. — Estou pirando
porque brigamos. Não estamos acabando, não é?
— Espero que não, — disse Bailey. — Eu sinto muito por ser tão
possessiva. Nunca superei essa coisa da Austrália. Eu fiz uma cara de corajosa
porque você estava tão animada com isso e eu não queria restringir seu senso de
aventura. É o que amo em você. — Suas lágrimas caíram.
Tara e Bailey, parecendo tão fofas juntas, fazendo as pazes em tempo recorde.
— Para ser honesta, não achei que você iria continuar com isso, — disse
Tara. — Quero dizer, realmente, são muitas vadias enlouquecendo.
— Não me entenda mal. — Tara ergueu a mão. — Estou feliz que você
recuperou o seu emprego.
— Você não fez algo semelhante para conseguir o emprego? — Disse Bailey,
vindo em minha defesa.
— Eu meio que sinto que tudo está esquecido agora, — eu disse, esperando
que fosse verdade.
Tara parecia travessa. — Só queria ter estado lá quando você recuperou seu
emprego.
Tara riu e saltou para trás para evitar outro soco. — Eu sei que não sou a
única fantasiando sobre o que aconteceu naquela sala. — Ela arqueou uma
sobrancelha.
— Ei, — disse Bailey. — Ela é minha melhor amiga, lembre-se.
— Mia, você é minha nova heroína, — disse Tara. — Ei, esta deve ser a
primeira vez para um clube de BDSM.
Estávamos na sala de estar de 3777 Bailbard Road, Malibu. Este era meu
novo condomínio na praia.
— Não estou fazendo nada ilegal, estou? — Eu temia que essa corrida de
boa sorte pudesse ser boa demais para ser verdade.
Desconcertada com todo esse luxo e com medo de que de alguma forma
estragasse tudo, fui atrás de Lotte. Em seguida, veio a cozinha arejada, com seus
armários de cor creme e a ilha central de mármore. Este lugar fora mobiliado
recentemente, eu tinha certeza disso. Tudo parecia perfeito. Eu não conseguia
entender como o proprietário não gostaria de morar aqui.
Esta foi a minha primeira vez em muitos aspectos e, até agora, nunca senti
vontade de abraçar um eletrodoméstico. A grande geladeira de aço inoxidável era
grande, cabendo confortavelmente entre dois armários com fachada de vidro.
Isso foi tudo que precisou. Incapaz de conter as lágrimas que vinham
crescendo na última meia hora, tudo que pude fazer foi secá-las, perdendo uma
batalha.
Tendo que arrastar minha roupa para a lavanderia automática do meu antigo
apartamento, Lotte foi sábia ao revelar essa pequena informação aos poucos. Pelo
amor de Deus, provavelmente a fiz pensar que eu morava em uma caverna.
Ela pegou minha mão e me guiou de volta para a sala de estar e para o
aquário. — Lembre-se, você está fazendo um favor ao proprietário. — Seu olhar
se alargou. — Mantenha esses pequenos idiotas vivos e tudo ficará bem.
Em meia hora, Penny e Scarlet chegaram. Elas, como Lotte, estavam vestidas
com jeans e camisetas. Ainda assim, elas não podiam ser normais. Eram bonitas
demais para isso. Scarlet até usava botas Ugg, muito diferentes de seu couro e
renda habituais. Como prometido, elas trouxeram vinho e pizza, além de cumprir
a oferta de me ajudar a desfazer as malas.
Nós nos separamos, cada uma levando uma caixa para uma sala, e
começamos o que de outra forma teria sido uma tarefa árdua. O tempo passou
enquanto eu pendurava minhas roupas no closet, refletindo sobre como isso me
lembrava de todo o meu estúdio.
— Dificilmente.
Bailey cruzou os braços. — Por que ter um aquário se você não pretende
aproveitá-lo?
— Por um ano?
Eu encarei o pequeno azul com suas listras brancas pálidas. — Eu posso dar
nomes a eles.
— Tome cuidado.
Ela apontou um dedo. — Nunca, jamais faça algo que você não
queira. Prometa-me.
— É claro.
Bailey bateu no meu braço. — Eu sinto muito. Estou mijando no seu desfile
e você não merece. Eu te amo muito e não quero que nada de ruim aconteça com
você.
— Ei, — era a voz de Tara. — Que tal fazer disso um abraço coletivo?
— Este lugar exala energia positiva, — disse Tara, dando um passo para
trás. — O feng shui é demais.
Olhando em volta para todo esse luxo e percebendo que era meu, o meu
estômago deu um salto novamente.
Mais ou menos uma hora depois, Cameron e Richard chegaram, trazendo com
eles sobremesa em uma grande caixa branca da Cheesecake Factory. Eles também
usavam jeans e camisetas e, como previsto, ainda pareciam elegantes em suas
roupas casuais. Pelo cabelo espetado de Richard, eles haviam dirigido até aqui em
um de seus carros descapotáveis.
Ele correu os dedos por seus cachos dourados para achatá-los, sorrindo para
mim.
— Não, — eu disse, olhando para Bailey para ter certeza de que seus
sentimentos não estavam feridos.
— Não olhe para mim, — disse ela. — Estou tão feliz em ver isso como você
está.
A risada rugiu ao meu redor. Mais uma vez corei descontroladamente, mas
pelos sorrisos de todos eles acharam minha alegria cativante.
Ele pegou e seu rosto mudou para ilegível. — Vou dar uma olhada na vista.
— Ele saiu vagarosamente, levando sua taça de vinho com ele.
Costco?
Richard deu uma volta ao redor da banheira, seu olhar encontrando o meu. —
Decisões... decisões... banho ou ducha? Estou tentado a escolher um agora.
Eu fingi choque.
— Eu não.
Algo passou entre nós, uma faísca invisível, e ele segurou meus pulsos e me
empurrou contra a parede, puxando meus braços acima da minha cabeça. Ele os
segurou lá, seu corpo firme pressionando o meu. Essa postura flexível e a força que
ele usou para me colocar nela me deixaram frouxa em seu aperto, enfraqueci, meu
núcleo apertando em antecipação de onde ele estava levando isso, me levando.
— Eu não vou.
— Quanto?
— Comigo não há surpresas, — disse ele. — Você sabe o que eu faço. O que
eu sou. Eu nunca vou desistir do BDSM. Você e eu, não somos compatíveis.
Agora eu estava disposta a tentar qualquer coisa para sentir suas mãos sobre
mim novamente, sentir seu carinho, seu toque. Eu queria que ele soubesse disso. O
quão ruim poderia ser o que ele faz naquela masmorra?
Ele piscou através dos cílios loiros escuros. — Você percebe o que eu quero
fazer com você?
— Sim.
Com a janela fechada, esta sala não tinha o ar que ambos precisávamos tão
desesperadamente. Pela maneira como seu peito subia e descia, ele também deve
ter sentido falta de ar.
Ele parecia hesitante. — Mia, eu nunca aceitei uma submissa não treinada.
— Preparadas?
— Já treinadas.
Minhas pernas estavam fracas. Soltei um suspiro de tristeza quando sua mão
caiu mais uma vez ao seu lado, ameaçando nunca mais me tocar.
— Você não acha que sou boa o suficiente para você? — Minha voz quebrou
com emoção. — É isso?
Eu quebrei seu olhar, meu coração doendo com o pensamento de que eu falhei
com ele, falhei comigo.
Minha meditação interior me disse para ficar forte e dizer a ele o que eu
realmente queria, precisava. Ele, sempre tinha sido ele.
Eu me virei...
— Lento.
— Tem certeza que é algo que você quer? — Ele sussurrou. — Não sou bom
em compromissos.
— Eu sei.
Richard foi até a varanda. — Você sabe que sou o dominante. — Ele elevou-
se sobre mim, enfatizando seu ponto. — Um problema que você não deve esquecer.
Eu poderia ser essa mulher? Eu poderia cair aos pés de Richard e me tornar
sua escrava sexual? Do que eu estava disposta a desistir para me tornar sua
amante? Sua submissa.
Tudo.
Nunca me vesti de forma tão provocante. Esta noite era a festa da Chrysalis
em um local não revelado e Richard deveria me pegar a qualquer momento. Eu
roubei mais alguns momentos para verificar minha maquiagem dramática de
olhos esfumados, lábios de pétalas brilhantes e maçãs do rosto suavemente
enfatizadas. Afofei meu cabelo, optando por deixá-lo solto e deixar os cachos em
espiral flutuando sobre meus ombros.
Havia vinho na geladeira. Fiquei tentada a abrir uma garrafa agora e beber
um copo ou dois para acalmar meus nervos. Mesmo assim, Richard não aprovaria
uma bebida na noite do que é essencialmente uma das noites mais importantes do
ano para seus clientes. Membros estavam voando de todo o mundo para participar
do que me disseram ser uma luxuosa extravagância. Eu mal podia esperar para
ver a grande casa que sediava o evento, depois que Lotte me provocou sobre suas
aventuras lá nos anos anteriores. Ela me avisou para evitar os quartos. Os
convidados faziam todo tipo de coisa com eles, aparentemente, e eu não tinha
certeza de como me sentiria sobre todos acabarem na piscina nus no final da noite.
Eu caí no sofá.
Que diabos.
O sarau da noite anterior na varanda não significou nada para ele? Eu pensei
que tínhamos concordado que eu poderia lidar com qualquer coisa que ele quisesse
jogar em mim. Desabando para trás, me senti derrotada, envergonhada
até. Certamente ele sabia o quão animada eu estava sobre ir hoje à noite. Eu tinha
feito o máximo para juntar minhas roupas e me vestir para uma festa que agora
não iria.
Mia: Ei, Lotte. A capa ficou ótima! Obrigada. Mal posso esperar
para ver você. Qual é o endereço mesmo?
Descansando meu iPhone no colo, olhei para a TV de tela plana. Esta seria
mais uma noite para mim e isso não era uma coisa tão ruim. Embora ser rejeitada
por Richard novamente foi.
Obrigada por isso Richard, minha musa interior o amaldiçoou. Grrrr. Eu não
preciso de proteção. Eu preciso de sedução.
Mia: Entendi.
Senha?
Lotte: Avonscroft.
Mia: Obrigada!
Mia: Entendi.
Mia: Ok.
Peguei minha bolsa e máscara e puxei sobre meus ombros a longa capa preta
e saí.
Usando o GPS do meu telefone, naveguei com meu Mini até Ventura, em
direção a Bel Air, suprimindo essa sensação incômoda de que não estava pronta
para isso. Ainda assim, eu prometi a mim mesma que tentaria coisas novas e sairia
da minha zona de conforto e esta foi uma boa maneira de começar essa mudança
de página, uma decisão de mudança de vida.
Esta foi a maior casa que eu já vi, até mesmo empalidecendo em comparação
com a dos Sullivan e eu pensei que a casa deles em Brentwood era enorme. Eles
tinham estacionamento com manobrista. Meu carro deve ter parecido ridículo
espremido entre o Mercedes prata e o BMW azul. Usando meu espelho retrovisor,
verifiquei minha maquiagem e coloquei minha máscara.
Esta era a festa mais emocionante de que já participei.
Olhando para o meu telefone, fui mandar uma mensagem para Richard.
Ele deu um passo para o lado e eu prendi a respiração até que houvesse uma
distância entre nós e eu ficasse fora de sua vista. Esta névoa artificial me cercou,
um manto de brancura tornando difícil avaliar que caminho seguir. Diante de
mim, apareceu uma grande escada que se abria para os dois lados e eu sabia bem
o suficiente para não começar minha busca lá em cima, atendendo ao aviso de
Lotte. Se eu pudesse encontrar uma das garotas, elas saberiam onde eu poderia
encontrar Richard.
A morena estava sendo levada por trás por um mascarado, de camisa aberta
e calça tirada, revelando uma musculatura esculpida. Ele manteve seu ritmo
lento, constante, enquanto seu comprimento total desaparecia dentro dela, apenas
para puxar todo o caminho para fora antes de bater nela novamente. E de novo.
Era difícil não imaginar que você era ela, aquela mulher deitada ali sendo
mimada de forma tão provocante. Eu lutei com esse desejo de ficar, meu núcleo
apertando com a antecipação do que mais eu poderia ver. O que mais eles podem
fazer. Meu olhar deslizou sobre as testemunhas mascaradas desses três e seu
prazer incomum, procurando por Richard, Cameron ou mesmo as meninas.
Um homem baixo e gordo vestindo uma toga se aproximou de mim. Ele usava
uma coroa de folhas como um imperador romano. Ao lado dele estava o guarda que
conheci na porta.
— Eu conheço todo mundo aqui, — disse ele. — Você, eu não sei quem é.
Abracei minha capa com mais força, lamentando ter vindo aqui sem a
permissão de Richard e amaldiçoando meu desejo de tentar algo novo. Jurei nunca
mais desobedecê-lo. Mesmo meus pensamentos se inclinaram para a
submissão. Este lugar tinha um jeito de silenciar você.
— O que você está vestindo por baixo disso? — Ele perdeu a cabeça. —
Jeans?
Devagar.
Desejosamente.
Diretor?
Cameron acenou com a cabeça e deu um sorriso fino que não alcançou seus
olhos.
Parecia tão devastadoramente formal, tão hostil, e ainda assim peguei sua
mão, permitindo que Cameron me guiasse para fora dos olhos redondos de Toga e
sua conversa desconcertante sobre o abate de cordeiros. Avançamos pelo corredor
e eu permaneci quieta, não confiando mais em mim mesma para entender a
etiqueta deste lugar, olhando para trás para ter certeza de que Toga não estava
nos seguindo.
— Você é o diretor?
— Sim.
Cameron hesitou e seu olhar alcançou minha alma, queimando com uma
intensidade que eu nunca senti antes.
Eu quebrei seu olhar. Richard tinha me avisado que o que acontecia aqui era
muito mais sério do que o que aconteceu em Enthrall, mas eu não acreditei, não
realmente.
— Este ambiente é altamente carregado. Você não pode vagar por aí como se
estivesse na porra da Disneylândia. Especialmente vestida assim. — Sua mão
disparou em direção ao meu espartilho. — Richard vai ficar furioso.
Ele me segurou lá. — Você não vai a lugar nenhum desacompanhada. Fui
claro?
Tentei empurrá-lo.
Ele se inclinou contra mim, seu aperto aumentando. — Você torna tudo pior
quando luta contra mim.
— Eu sinto muito.
— Silêncio.
Tremendo em seus braços, tentei ler seu rosto e entender o que ele estava
pensando. Perceber o que está acontecendo.
— Este é um lugar perigoso, — disse ele, seu tom severo, mortalmente frio. —
Há pessoas aqui cujas predileções a ameaçam de todas as maneiras
concebíveis. Entendeu?
— Sim.
— Você é a criatura mais linda que já vi e até agora fui capaz de entregá-la a
Richard. — Ele diminuiu a velocidade de sua respiração. — Até agora.
— Oh, Cameron.
— Pare de se mexer.
Atordoada com o quanto seu poder acendeu meu desejo, sangue rugindo em
meus ouvidos, meu clitóris pulsou de prazer. Sua colônia me alcançou, e o cheiro
de sexo e perigo aumentou minha excitação. Um gemido escapou dos meus lábios,
uma dor de ser livre e também tomada por ele, mas eu lutei contra esse desejo
conflitante de me render. Ele empurrou contra mim novamente, em chamas,
ficando ainda mais duro. Minhas bochechas coraram intensamente, a queimação
se espalhando para onde seus lábios beijaram minha garganta. Este foi um calor
abrasador de paixão, e sua respiração caiu pesada e difícil sobre meu peito.
— Você gostou do que viu na suíte Harrington, — disse ele com voz rouca.
— Sim.
— Sim.
Cameron era impossível de lutar, muito forte para empurrar, e eu não tive
escolha a não ser amolecer em seus braços.
Cedi.
— Diga.
— Sim.
— O que?
Cameron passou os dedos pelo cabelo preto escuro. — Richard não está
sozinho.
CAPÍTULO 19
Quando saímos para o ar frio da noite, veio uma onda de pânico pelo que eu
poderia ver. Meu olhar percorreu a multidão, esperando não ver Richard nos
braços de outra mulher.
Todos, exceto eu, que estava tentando acompanhar o Sr. Intensidade aqui, e
pelo que parecia, Richard também não estava se divertindo.
Richard olhou em nossa direção e seu olhar estreito caiu sobre mim e então
se fixou em Cameron com um olhar furioso. Cameron me puxou ao lado dele até a
borda.
Esta tinha passado da melhor noite da minha vida para a pior e me virei para
ir embora, tentando me livrar das garras de Cameron.
Ele segurou minha mão com força, sua atenção focada em Richard. — Ela foi
encontrada saindo da suíte Harrington.
19
Hedonista é o indivíduo que busca o intenso e imediato prazer e que visam a satisfação sexual
do momento..
Puxei a mão de Cameron para ele me soltar e ele olhou para mim.
— Tenho uma ótima ideia, — disse Richard. — Vou pedir a Dominic para
mostrar a ela as masmorras. Se você gosta das do Enthrall, vai adorar.
Cameron olhou ao nosso redor para verificar se nossa conversa ainda era
privada. — Hora de ir para casa, amigo.
— Sim.
— Mia, se eu descobrir que você contou a alguém sobre esta casa, vou
espancá-la, — acrescentou Cameron com um brilho de diversão. — Com um remo.
Entendeu?
Pela primeira vez, senti meus ombros relaxarem, meu coração amolecer e
minhas pernas retomarem o ritmo. Atravessamos a mesma porta por onde passei
com Cameron, descemos o longo corredor e passamos pela suíte Harrington.
Se Richard ficou impressionado com a maneira como dirigi seu carro, ele não
disse. Ele apenas apoiou os pés no painel, apreciando a vista ao longo da Pacific
Coast Highway.
Ele tirou a tampa e me entregou a sua, trocando-as. Ele tinha um jeito sexy
de pensar na outra pessoa, e isso me fez pensar se ele já foi casado. Ele era tão
sonhador por estar por perto e eu estava tão animada por estar de volta aqui,
finalmente sozinha com ele.
— Você vai dormir na minha cama esta noite, — disse ele, tomando um gole
e erguendo a garrafa. — Eu fico com o sofá.
Tentando mostrar que não me importava com essa decisão, tomei um gole
d'água.
— Bebi demais. Não parecia que ninguém notou, no entanto. — Seu olhar
passou por mim. — Você está deslumbrante. Para sua informação, correr em volta
da Chrysalis assim é desaconselhável. É provável que você se envolva em todos os
tipos de travessuras perigosas. — Ele balançou a cabeça como se sua imaginação
proporcionasse um vislumbre.
Fui novamente lembrada de que tudo que eu estava usando era este
espartilho, meias, cinto de suspensório e tanga.
— Você era a mulher mais bonita lá, — disse ele. — Você tem alguma ideia
de como você é de tirar o fôlego? — Ele ergueu a garrafa novamente. — Posso
culpar a bebida amanhã e negar tudo.
— Você não precisa me dizer, — disse ele. — Isso é privado entre vocês dois.
— O que?
— Eu pertenço a você.
Lá, quase escondido da vista, havia um caminho de pedra. Nós fizemos nosso
caminho ao longo dele, o som das ondas quebrando mais alto agora. Em uma área
sombreada por árvores, dominada por palmeiras, havia duas espreguiçadeiras. E
embora o oceano não pudesse ser visto daqui, as ondas pareciam próximas.
Richard me puxou para outro beijo, suas mãos segurando meu rosto. Ele
desabotoou a camisa e a jogou no chão, seu olhar nunca deixando o meu. Tomando
seu tempo, ele acariciou minha garganta, em seguida, moveu-se para baixo até
chegar ao topo do meu espartilho. Esse mesmo dedo traçou a curva dos meus
seios. Ele baixou a taça esquerda, sua boca tomando meu mamilo, sugando com
força, enviando ondas de choque de prazer entre minhas coxas. Fraca com seu
afeto, estendi a mão e agarrei seus antebraços, tentando não cair para trás. Ele
envolveu um braço forte em volta da minha cintura e me puxou para ele. Sua outra
mão se moveu para o meu outro mamilo, sua língua insistente circulando lá agora
e enviando arrepios de prazer.
Com medo de gritar com esses sentimentos desvinculados, mordi minha mão,
sabendo que estava perto de ser levada.
Sua cabeça balançou entre minhas coxas e suas mãos encontraram meus
mamilos novamente, beliscando-os com um toque perito. Meu orgasmo estourou,
roubando meu fôlego, me fazendo estremecer contra ele. Em seguida, seus golpes
intermináveis me enviaram novamente.
Eu estava perdida, esquecida, não estava mais aqui, essas ondas onduladas
que não podíamos ver ameaçando bater em nossos pés a qualquer
momento. Afogue-nos, afogue-me, mas eu já tinha sido levada para as
profundezas.
Por fim, abrindo os olhos, olhei para além dos galhos baixos pendurados nas
poucas estrelas visíveis. Os beijos de Richard começaram a lenta jornada para
cima, alcançando meus lábios mais uma vez e me beijando ferozmente,
compartilhando meu próprio gosto em meus lábios e língua, causando arrepios.
Dominando minha boca com a dele novamente, a paixão explodiu por dentro,
me forçando a girar. Tudo que eu conhecia era ele.
Depois, quietude.
Ele me segurou contra ele, acariciado no silêncio com nada além do som do
farfalhar das folhas de palmeira apanhadas na brisa e nas ondas quebrando. Ele
me rolou para o lado e nos abraçamos calorosamente.
Quando a luz mais suave da manhã se atreveu a nos encontrar, senti Richard
se afastar e sair da espreguiçadeira. Ele sentou-se na beirada, sem camisa, os pés
no chão, os cotovelos apoiados nos joelhos, e ficou assim por um tempo, perdido em
pensamentos.
Tara me disse que Cameron havia batido em Richard até ele sangrar. Eu me
perguntei se essas marcas eram disso. Richard tinha realmente pedido a Cameron
para machucá-lo dessa forma? Mais alarmante, Cameron o havia acalmado
fazendo isso.
Richard pegou minha mão e beijou minha palma. — Mia. — Seu tom era
solene. — Você sabe o quanto gosto de você.
— Gosta?
— Ainda. — Ele se levantou, seu olhar escuro mais uma vez pousado em
mim. — Com toda a honestidade, não quero que sua primeira vez seja com um
homem como eu.
— Lara Croft está chutando traseiros. — Richard voltou sua atenção para a
tela, movendo habilmente o controle e fazendo Lara Croft nadar por toda a
extensão de uma lagoa azul escura.
— Eles são prescritos. Não consigo encontrar meus óculos. — Richard olhou
para Winston. — Vá encontrar meus óculos, Winston. Busque-os. — Eles se
encararam. Winston ofegou, abanando o rabo. Richard olhou para mim. — Vê o
que estou enfrentando?
Ele apontou para a direita e presumi que fosse seu quarto. Saí de lá na
esperança de encontrar algo para vestir.
— Sobre o que?
— Noite passada.
Richard largou o controle em seu colo. Era difícil levá-lo a sério com aquela
máscara de mergulho.
Tendo saído da minha zona de conforto na noite passada e direto para o centro
da idade adulta, eu me senti pronta para enfrentar praticamente qualquer
coisa. Até ele.
— Esse é o problema, — disse Richard. — Você e eu não falamos a mesma
língua.
Eu mudei para sua linha de visão, bem na frente da TV. — Você fez?
— Você espera. No ano que vem, isso será tudo e eu vou levar o crédito por
iniciar uma nova tendência estonteante.
— Bem, parece que você tem dinheiro suficiente agora para voltar para
Charlotte.
— Se você realmente me odeia tanto, por que me seduzir nos cantos escuros
e me beijar, não sou capaz de pensar direito?
Ele ergueu um dedo. — Se isso te faz se sentir melhor, não foi uma decisão
fácil. Eu queria te beijar desde aquela primeira manhã em que te conheci e você
bloqueou meu caminho.
— Então por que...
— Eu vou te machucar.
— Lotte me contou tudo sobre o que significa ser uma submissa. Ela diz que
apenas mulheres com poder são capazes de se entregar a um dom completamente.
Seu olhar disparou para encontrar o meu. — Uau. Você realmente levou essa
coisa de falar a sério.
— Você está com medo de como podemos ser incríveis juntos, — eu disse. —
Cameron...
— Ele está nos empurrando para ficarmos juntos. — Desejei que Cameron
estivesse aqui agora para ajudar a lidar com o humor de Richard.
Seus dedos se envolveram. — Esse sou você e sou eu dando voltas e mais
voltas na direção oposta, muito parecido com aqueles prótons que ameaçam colidir
uns com os outros. Cameron é exatamente como um daqueles cientistas nucleares
malucos tentando descobrir se: A) É possível colidir feixes de partículas opostas e
B) Para testar a hipótese de que podemos acidentalmente nos autodestruir com o
impacto e, opa, causar um buraco negro no universo. — Ele balançou sua
cabeça. — Os buracos negros são ruins. Confie em mim, eu sei. Eu tenho um preso
no meio do meu peito desde que me lembro.
— Você me subestima.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Mia, não me leve a mal, mas eu realmente
adoraria algum tempo sozinho.
Eu não iria deixá-lo me afastar tão facilmente, não sem uma luta.
— Cuidado, — disse Richard. — Você está falando sobre meu melhor amigo.
— Mia. — Ele olhou para mim através de seus óculos de proteção. — Eu fui
feito assim. — Ele acenou com a cabeça para si mesmo. — O que aconteceu comigo,
aconteceu depois que me estabeleci neste estilo de vida.
— O que aconteceu?
— Vida. O tipo regiamente fodida. Vir aqui e estar com Cameron me salvou.
— Amar?
— E o amor?
— Você é minha secretária. Digite uma carta para mim ou faça o que quiser.
Richard franziu a testa para mim. — Apenas uma pessoa ganhou o privilégio
de me conhecer.
— O que diabos Lara Croft está fazendo agora? — Ele acenou com o
controle. — Até as mulheres cibernéticas são irritantes.
Ele virou a cabeça para olhar para mim. — Nunca. Nunca fiz nada parecido
com uma mulher.
Ele olhou para frente. — Eu menti quando disse que tenho um buraco negro
aqui. — Ele pousou a mão no coração.
Eu esperei que ele continuasse, com medo de suas palavras ameaçando nunca
me alcançar ou talvez fosse o fato de que iriam me rasgar.
— Não há nada aqui. — Ele segurou meu olhar. — Há seis anos não sinto
uma emoção. — Ele descansou a cabeça para trás. — Agora, isso soa como o tipo
de homem com quem você quer estar?
Cambaleando em meus pés, fiz meu caminho até a porta da frente, tentando
lembrar onde deixei minhas chaves. Tive uma sensação de desânimo quando me
lembrei de que deixei meu carro na mansão. Eu estava presa.
Além dessa sala de estar, havia um pátio com móveis de jardim no centro. Os
turistas passeavam ao longo do caminho do outro lado daquela mureta e, além
dela, ficava a praia. Eu me perguntei por que alguém iria querer estar tão perto
de tantos estranhos vagando por ali. No pátio, encostado a uma cerca de madeira,
havia duas pranchas de surfe lado a lado. A primeira era uma estrutura Billabong
azul escuro e ao lado dela estava uma um pouco mais curta com uma sereia
desaparecendo com os anos de uso. Um momento surreal tomou conta de mim
quando a reconheci.
— Mia?
Eu me virei para ver Tara parada em uma porta. Ela usava um biquíni
estreito, o cabelo molhado e emaranhado do que parecia ser uma manhã de surf.
Cameron apareceu atrás dela. Ele enrolou uma toalha branca de pelúcia em
volta da cintura, talvez por ter acabado de tomar um banho. Ele parecia tão
diferente do Cameron que eu tinha visto na noite anterior, quando ele vestiu um
smoking e deu sua festa, ou mais apropriadamente em uma noite de devassidão.
O que era ridículo, com Tara parada ali e tendo trabalhado na Enthrall. Ela
também passou um tempo com Cameron na minha festa de inauguração. Esses
dois pareciam que realmente se conheciam.
— Não é o que você pensa. — Sua carranca se aprofundou quando ela pegou
suas roupas.
— Somos apenas amigos, — disse Tara, como se lesse minha mente. — Venho
aqui para surfar. Isso é tudo.
Meu olhar percorreu Cameron e seu peito nu, seu cabelo bagunçado e seu ar
confiante que poderia atordoar até uma arraia.
Tara estava bem atrás de mim. — Vou contar a ela, — disse ela. — Só
surfamos juntos. Diga a ela Cameron.
— Tara, ela sabe que você vem aqui o tempo todo, — eu disse. — Por que não
menciona?
— Você conhece Bailey, — disse ela. — Ela é tão sensível. Ela nunca vai
entender por que eu quero passar tempo com um homem. — Tara ergueu a mão. —
Não fazemos nada. Nós surfamos. Passamos tempo juntos.
Ele apenas deu um aceno de cabeça. — Eu não sabia que você conhecia esse
lugar?
— Eu não quero que o pênis dele chegue perto de mim, — disse Tara.
Ele tomou um gole. — Mia, vamos conversar sobre por que você está
aqui. Não que eu não esteja feliz em ver você. Ontem à noite eu coloquei você nas
mãos do solteiro mais cobiçado de Malibu e agora estou me perguntando por que
você está no meu balcão de café da manhã e não no dele.
Tara se virou e saiu. O olhar de Cameron a seguiu até que ela estava fora de
vista e seu olhar intenso deslizou de volta para mim.
— O que você fez com ele? — Eu disse, ainda assombrada pelo que Tara tinha
me contado sobre Cameron chicoteando Richard até que ele sangrasse.
— É por isso que você está chorando? — Ele disse calmamente. — Você teve
uma discussão com ele?
— Uma discussão. Ele me disse que tipo de controle você tem sobre ele.
— Nós somos amigos, Mia. Nós nos conhecemos muito bem. Eu nunca o
machucaria.
Tara reapareceu e veio em nossa direção. Ela não tinha tomado aquele
banho. Ela se sentou na banqueta ao lado da minha e disse: — Eu lhe disse isso
em segredo.
— Não, não vou permitir que ela o acuse disso, — disse ela. — Quando
Richard veio para Los Angeles, ele estava se afogando em luto...
Ela olhou para mim. — Você não sabe de nada. Você está juntando as peças
do quebra-cabeça e entendendo tudo errado.
— É claro que eu sempre poderia atirar você por cima do ombro, Tara, — ele
disse. — E carregar você para fora.
— Ele me disse que não é capaz de amar. — Limpei minhas lágrimas. — Ele
me disse que está morto por dentro.
— Por que Lotte me avisou para não falar com você? — Apontei um dedo
acusatório em sua direção.
Aquele tufo de cabelo escuro em seu peito nu, junto com aquela musculatura
esculpida de seu torso, eram um lembrete visceral de que aquele homem exalava
sexualidade da maneira mais atraente. Sua colônia inebriante não fez nada para
aliviar este momento.
A maneira como ele me olhava agora. Seu olhar se moveu para minha boca e
se demorou. A maneira como ele balançou a cabeça como se tentasse afastar um
pensamento.
— Nada aconteceu.
Ele acariciou a tensão em sua testa. — Talvez seja melhor lembrarmos assim.
— Por favor, me diga por que Richard é tão difícil de falar. — Enxuguei
minhas lágrimas com minha manga, a manga dele.
— Não, obrigada.
— Então, como você deixou Richard?
Ele se dirigiu para o outro lado da sala. — Vou me vestir. Estou levando você
de volta. — Ele parou na porta. — Por acaso você viu um tanque de oxigênio?
— Vou falar com Bailey, — disse Tara. — Por favor, não diga nada a ela.
— Sim.
Eu fiz uma careta para ela, me perguntando como ela sabia que existia
mesmo tal coisa.
— Você viu alguma coisa? — Ela disse. — Alguém estava fazendo isso?
— Até mais tarde, — ela gritou atrás dele e me deu um aceno de adeus.
— Ele não queria que minha primeira vez fosse com alguém como ele, — eu
sussurrei.
Cameron suspirou. — Não é você, Mia.
Cameron olhou direto para a frente. — Ele se abriu sobre seu estilo de vida?
— Sim.
— Só que ele mencionou aceitar uma sub que já está treinada. — Eu dei a
ele um olhar de soslaio.
— Ah.
— Eu quero estar com ele. Não tenho certeza se posso lidar com a dor, no
entanto.
— Hum, não.
— S&M te assusta?
Ele ergueu a mão. — Prefiro pensar que sou um conhecedor das artes das
trevas. — Ele abriu um sorriso, reagindo à minha linha de pensamento. — Na
verdade tive uma infância muito privilegiada. Eu cresci nos Hamptons. Meu pai
projetava barcos. Eu estava estragado. Talvez isso tenha algo a ver com
isso. Enfim, frequentei escola particular e depois estudei medicina. Veja, tudo
muito normal.
— Eu arranjo tempo.
— Sim, mas olhe para nós agora, — disse ele com diversão. — Estamos todos
nos unindo muito bem.
Foi a minha vez de olhar e tentar ler as respostas dele. Queria saber mais
sobre a história de Chrysalis.
— Temos um clube em Londres, — disse ele. — E Paris.
— Homem ocupado.
Richard parecia inabalável. Assim como Cameron, que parecia ter visto esse
tipo de comportamento antes, por causa de sua reação contida. Ele ergueu a
máscara de mergulho sobre o rosto de Richard e a pousou na testa.
A água pingou de Richard e formou uma poça ao redor de seus pés. — O que?
— Ele disse, dando um sorriso malicioso. — Eu sou o único que pensa melhor
submerso?
Richard quebrou naquela sua infantilidade. — Posso pegar meu jipe de volta?
— Algo me diz que Mia está prestes a se apaixonar pelas minhas panquecas,
— disse Cameron. — Que tal, — ele afastou as mechas de cabelo encharcadas dos
olhos de Richard. — Você vai tomar um banho e nós vamos preparar o café da
manhã?
Richard parecia tão jovem parado ao lado de Cameron. Ele piscou sua
resposta e caminhou descalço ao redor da piscina.
Meu olhar voltou para o canto profundo da piscina. Richard baixou o snorkel
sobre o rosto novamente e sorriu para nós dois. Ele se afastou.
— Com o que?
Não demorei muito para tomar banho e vestir a camisa e os shorts que
Cameron havia pegado no quarto de Richard. Gostei da ideia de que teriam tempo
para conversar.
Dentro da cozinha, era divertido ver Cameron abrir as portas do armário com
a facilidade de quem conhece bem as coisas. Ele começou a fazer a massa e a
preparar uma frigideira quente para as panquecas. Com a orientação de Cameron,
encontrei os pratos e talheres e coloquei a mesa.
Tudo isso parecia tão comum, muito diferente da noite anterior, quando esses
homens estavam entretendo a clientela de elite de Hollywood no epicentro da
comunidade fetichista de Los Angeles. Não pude perceber o que era mais surreal,
Cameron, o diretor de Chrysalis, fritando massa no fogão ou Richard, agora de
jeans e camiseta azul, vagando pela casa seguido por um buldogue britânico.
— Coma. — Cameron estendeu um pedaço de panqueca fofa dourada em um
garfo.
Eu estalei meus lábios; a delícia foi uma surpresa bem-vinda. — Isso é bom.
Este homem sabia cozinhar. Ele começou a distribuir sua obra-prima para
nós em três pratos. Richard se juntou a nós.
Fui com meu prato até a mesa da cozinha e me sentei ao lado de Cameron,
que serviu o chá inglês do café da manhã em três canecas de porcelana fina. Depois
de usar a calda, entreguei a Richard e ele espremeu grandes quantidades de molho
espesso e doce sobre suas panquecas. Ele ainda parecia subjugado, mas de vez em
quando sorria.
Richard usou seu garfo para apontar para Cameron. — E você é um bastardo
mandão, não importa onde esteja.
— O que você achou disso? — Perguntei a Richard. — Quero dizer, esse cara
aparece do nada e começa a falar sobre sua vida privada?
— Ele é o melhor chef que conheço, — Richard deu outra mordida. — Entre
outras coisas. Isso é bom.
Havia algo reconfortante na amizade deles, mas ao mesmo tempo era difícil
entender a dinâmica. Minha mente vagou com pensamentos sobre que tipo de
coisas eles faziam juntos naquela masmorra sem ser considerada a mesma jogada,
seu desejo de dominação não sexual e submissão impossível de agarrar.
Richard empurrou o prato meio comido de lado. — Achei Nova York sufocante
e o segui até aqui. — Ele gesticulou para Cameron. — Ele me convenceu a
embarcar em tempo integral na Enthrall.
— Eu sei que aquelas fotos na sua parede são suas, — eu disse a Richard.
Eu gostei desse formigamento em meu peito quando ele segurou meu olhar,
essas faíscas de excitação.
— Senhor Booth, algo me diz que você gosta da sua secretária? — Disse
Cameron com um sotaque cockney20 inglês impecável.
— Você pode estar certo, senhor, — disse Richard, combinando com seu
sotaque e balançando a cabeça em diversão.
— Sim.
— Isso é um não, então, — disse Cameron. — E para que conste, é isso que
você está sentindo.
Se meu estômago não estivesse cheio demais, teria feito uma reviravolta, mas
eu mal tinha comido.
— A dor também nos excita, — disse Richard. — É assim que somos feitos.
— Então você sente dor, mas nenhuma outra emoção? — Perguntei a
Richard.
— Elas parecem estar voltando, — disse ele, lançando um sorriso torto para
Cameron.
Lá veio novamente. Esse longo olhar entre eles. Dessa forma silenciosa eles
falavam sem palavras. Aquele aceno mútuo revelando que eles compartilhavam
seus pensamentos.
Cameron não apenas fez isso acontecer, ele usou seus contatos aqui no
observatório para nos garantir uma visão privada, providenciando para que
Richard e eu tivéssemos o lugar só para nós. Bem atrás de nós havia fileiras e mais
fileiras de assentos de veludo, e todos eles eram capazes de reclinar para permitir
uma boa visão do display planetário no teto. O show que Richard e eu estávamos
desfrutando de nosso ponto de vista no chão, bem no meio da sala. Wagner, de
acordo com Richard, era a música clássica tocando ao fundo enquanto
testemunhávamos a dramática dança intergaláctica na tela curva acima.
Eu ri.
— Ele tem alguns dos contatos mais influentes do mundo. Nossos membros
incluem políticos, celebridades e até temos um membro que é astronauta.
— Sério?
— Não me lembro de ter amado assim. O que quer que esteja acontecendo
dentro do meu coração é diferente de tudo que eu já experimentei antes. É
assustador. Acredite em mim, eu enfrento o medo o tempo todo, mas isso, isso é
diferente. Parece diferente. — Ele respirou profundamente para se purificar. —
Sentir.
— Casa, — eu disse. — Sinto que voltei para casa pela primeira vez.
— É realmente. Sei disso com certeza porque não é a primeira vez que o
chamo assim. — Ele tirou uma mecha de cabelo dos meus olhos.
— Não pule mais de prédios altos, ok? Ou suba sem cinto de segurança.
— Já mandando em mim. — Ele pegou minha mão e a colocou sobre seu
plexo solar. Embora ele não tenha dito as palavras, eu sabia o que significava.
Richard pegou sua calça jeans descartada, sua mão desaparecendo no bolso
de trás. Ele ergueu um pacote de preservativos com uma descoberta simulada. —
Ah-ha.
— Eu te amo, Mia.
Ele assistia fascinado. — Esta pode ser uma das minhas fantasias.
Sua cabeça caiu para trás e ele soltou um suspiro mais suave.
Seu lábio superior se curvou. — Eu gosto dessa sua fantasia, eu tenho que
dizer.
Passando a ponta da minha língua sobre a cabeça, mergulhei naquela gota
orvalhada para prová-lo, saboreá-lo. Eu precisava desesperadamente saber como
ele se sentiria dentro de mim, lá embaixo, no canal que ondulava com
desejo. Cobrindo meus dentes com meus lábios, eu olhei para tudo dele,
trabalhando em seu comprimento total da base à ponta, relaxando minha garganta
para tomá-lo por todo o caminho, mesmo quando seu pau exigia ir mais longe. Ele
agarrou meu couro cabeludo e prendeu as mechas do meu cabelo, controlando o
ritmo, me controlando, e eu soltei o mais profundo suspiro de gratidão.
— Você está molhada para mim, — disse ele, me cutucando para deitar de
costas.
Plantando beijo após beijo no meu abdômen, circundando meu umbigo com
sua língua, sua boca disparou para baixo. Alcançou a parte interna das minhas
coxas, me provocando com sua língua esvoaçante, ameaçando a qualquer momento
que ele vagasse mais longe.
— Eu posso ver que vou ter que levá-la através do treinamento do orgasmo.
— Ele mordiscou meu clitóris.
Apenas a visão dele, o suspense de saber que minha hora era iminente,
enviou arrepios em meu corpo, fazendo-me enfraquecer, minhas coxas
estremecendo.
— Eu preciso de você.
Ele me virou de costas, roubando meu fôlego, e sua mão guiou minha cabeça
para descansar no cobertor. Todo o peso de Richard veio sobre mim e eu envolvi
minhas pernas em volta de sua cintura, respirando curtas e instáveis. Seus lábios
caíram sobre os meus novamente, seu beijo alargando minha boca, sua língua me
possuindo, enviando arrepios por todo o meu corpo. Eu me provei, seu beijo
compartilhando essa doçura e me fazendo tremer.
Orbes de luz brilharam acima, mas eu realmente não estava vendo. Eu estava
muito distraída pelo aperto lá embaixo misturado com a sensação impressionante
de ser levada pela primeira vez.
Richard ficou quieto. — Como está?
— Oh. — Minhas unhas cravaram mais fundo em suas costas. — Oh... sim...
não pare. Nunca. Como nunca.
Eu não conseguia me lembrar de ter sido mais feliz. Tudo que eu precisava
era estar com ele.
Parando na metade do caminho para cima de uma escada de pedra que levava
ao templo, Richard me puxou para um abraço, plantando beijo após beijo na minha
cabeça. Fiquei maravilhada com a quantidade de afeto que um homem poderia dar
a uma mulher. Envolvendo meus braços em volta dele e me aconchegando em seu
peito, eu o inspirei, respirei a paz que eu desejei por toda a minha vida. Estar com
ele aqui, assim, era melhor do que eu poderia ter imaginado e mais do que eu
jamais teria ousado sonhar.
Bem na nossa frente, no centro, descansando sobre uma mesa, havia dois
potes lado a lado, cada um cheio de pequenas bolas de plástico azuis. Richard
colocou dois dólares no topo da caixa de plástico entre eles e removeu uma
delas. Ele gesticulou para que eu fizesse o mesmo.
— Dentro de cada uma está uma mensagem sagrada, — disse ele, colocando-
a na palma da mão. Ele levou a bola até um triturador de madeira e a
quebrou. Dentro havia um pequeno pergaminho que ele desvendou e leu. —
Acontece que eu preciso me curvar como um junco. O que o seu diz?
Foi triste esmagar a bolinha fofa. Faça com que ele se junte a todas as outras
peças de plástico que se foram antes dela. Cacos de azul estavam descartados no
fundo.
Tentei espiar.
— Você é um mistério.
Ele sorriu timidamente, pegou minha mão enquanto nos guiava por um
corredor bem iluminado.
Saímos do primeiro templo apenas para sermos recebidos por um amplo pátio
de pedra. À frente estava outro templo, só que este era maior do que o primeiro,
seu design intrincado. O dramático telhado de telhas altamente decorado se
estendia acima dele. Parecia que havíamos viajado para a Ásia. A brisa do outono
farfalhou as folhas ao nosso redor. Outro monge passou por ele. Alguns outros
visitantes passaram vagarosamente.
Lá, à nossa direita, havia uma fonte rodeada de ainda mais estátuas e todas
as suas expressões serenas. O som calmante da água caindo encheu o
pátio. Subimos a escadaria arrebatadora, logo alcançando o segundo templo.
— Um desejo.
Que ele se abrisse para mim e me deixasse entrar. Nos dar a chance de que
precisávamos para que nosso relacionamento tivesse alguma chance de sobreviver.
Dentro do santuário, fomos recebidos por mais três estátuas de Buda, mas
estas eram muito maiores. Reverentemente, nos ajoelhamos sobre as almofadas
vermelhas de pelúcia e admiramos os grandes deuses dourados.
— Cameron me trouxe aqui três dias depois que cheguei em LA. — O olhar
de Richard varreu a sala como se estivesse se lembrando.
— Oh.
— Você mudou?
Minha mente correu com todas as razões pelas quais ele poderia ter mudado,
e era difícil decidir por uma. Depois de pesquisá-lo no Google, fazia sentido não ter
encontrado nada.
Richard engoliu em seco. — Assim que soube que meu pai havia sido preso,
dirigi até a prisão da cidade para ver o que nossos advogados podiam fazer. Meu
pai foi detido sem fiança. Eu pude ficar alguns minutos com ele. — Richard
esfregou o peito como se a dor daquele dia o tivesse encontrado novamente.
Ele deu um aceno de cabeça que estava pronto para continuar. — A primeira
coisa que você nota sobre a prisão é o cheiro. O segundo, o barulho. A gritaria. Eu
estava com medo de vomitar na frente do meu pai. Mesmo depois de tudo que ele
tinha feito, eu ainda queria fazer a coisa certa na frente dele. Você sabe o que meu
pai me disse naqueles poucos minutos que eu tive com ele?
— Meu pai me disse que tudo isso era minha culpa. Que ele tinha feito tudo
isso por minha mãe e seus três filhos. Que a pressão para que frequentássemos as
melhores escolas e obtivéssemos a melhor educação pesou tanto que ele sentiu que
não tinha escolha. — Richard fez uma pausa, recuperando o fôlego. — Meu pai
não se arrependeu. Ele entregou o fardo da culpa sobre mim. Mas isso não foi o
pior.
— Aquela viagem de elevador até minha cobertura foi a mais longa que já
fiz. Eu finalmente consegui colocar a chave na porta. A bolsa de Emily estava no
sofá, assim como seu celular, então eu sabia que ela estava em casa. O noticiário
estava passando, discutindo o escândalo de minha família em segundo plano. Não
era típico dela deixar a TV ligada. Ela odiava barulho. Música
preferida. Clássica. Fotos incriminatórias foram mostradas apenas para garantir
que o público tivesse uma boa ideia de quem havia arruinado suas vidas. Uma
delas era de Emily e eu em um evento para arrecadação de fundos. Ela
aparentemente era culpada por padrão. Ela era advogada e não tinha nada a ver
com finanças.
Eu queria dizer a ele que tinha sido obra de seu pai e não dele, mas tudo que
consegui dizer foi: — Sinto muito.
— Em uma semana, enterrei Emily, coloquei nossa casa à venda e voei para
Los Angeles. Cameron me encontrou no aeroporto. Não me lembro muito do vôo ou
das primeiras semanas na casa dele. Mas eu me lembro desse lugar. — Seu olhar
vagou com ternura. — Cameron me deixou ficar com ele. Insistiu nisso. Ele estava
preocupado comigo. Eu estava tendo problemas para formar palavras.
— Cameron te ajudou?
— Ele está sempre lá para mim. Nunca me julga. Ele provou ser um amigo
quando cheguei sem teto e sem emprego.
— Isso também explica por que Cameron é tão protetor com você.
— O sentimento é mútuo.
Inclinando-me para frente, peguei suas mãos, enrolando meus dedos nos dele.
Ele apertou minhas mãos. — É por isso que eu te afastei. Não porque eu não
me importo com você, mas porque eu nunca iria querer expor você ao meu
passado. Tenho tentado te proteger. Eu decepcionei Emily terrivelmente. Sou
responsável pela morte dela. Ela era tão frágil.
Ele beijou minha testa uma e outra vez, seu afeto implacável. Ficamos assim
pelo que pareceu uma eternidade. Era difícil lembrar dele não estar na minha vida
e eu não queria voltar para o tempo em que ele não estava. Eu plantei beijos suaves
em seus lábios.
— Eu sempre vou te amar, Mia, sempre. — Ele selou sua promessa com um
beijo. — Eu nunca farei nada para machucar você.
Ele deu um sorriso. — Seja feliz. Isso é tudo que vou pedir de você.
Logo ele chegaria, e assim como eu fazia todas as manhãs, desde que comecei
a trabalhar aqui, eu entregaria a ele o livro. Havia poucas dúvidas de que nos
braços de Richard eu me sentiria segura quando fosse levada para as profundezas
de Enthrall. Pensamentos sobre o que poderia acontecer lá causaram arrepios de
excitação, enviando um arrepio entre minhas coxas.
Cliquei no link.
Baron King, um jornalista do New York Times que havia escrito o artigo
sobre Richard, confirmou o que eu agora sabia. A nota de suicídio de Emily foi a
única evidência que impediu Richard de ir para a cadeia. Os detetives de
homicídios rapidamente autenticaram que Emily realmente havia cometido
suicídio, assim como o legista de plantão que emprestou sua experiência no
assunto. Eu me senti péssima por Richard, perdendo sua noiva daquele jeito e
quase sendo acusado de sua morte. Deve ter sido o que o levou ao limite.
Com a garganta seca, continuei lendo, e uma onda de culpa tomou conta de
mim porque fui capaz de ter esse caso de amor com ele devido a algum
acontecimento terrível que havia varrido sua vida do mapa.
Emily havia usado uma das navalhas de Richard para cortar os pulsos,
segundo o Baron King, que tinha um jeito indiferente de escrever, como se apenas
dissecasse um conjunto de experiências e não a vida em espiral de um homem ou
a morte de uma mulher. Na tela, segui as palavras de King, tentando compreendê-
las. Emily estava grávida de três meses quando se suicidou.
Com as pernas instáveis, passei pela porta da sala dos funcionários e corri
para o banheiro. Lá, eu joguei água no meu rosto, meu peito tremendo com os
soluços. Uma terrível sensação de perda puxou com força e os pensamentos sobre
aquele bebê morrendo dentro dela invadiram minhas entranhas. Imaginei como
Richard lidou com a perda de seu filho.
Cameron havia aludido a isso quando me levou com ele para aquele
restaurante Chez Polidor, fornecendo um vislumbre de que alguém tinha estripado
o coração de Richard. O fato de Richard acreditar que a culpa ainda estava sobre
ele me fez imaginar como ele havia agido. Peguei uma toalha de papel do
dispensador e enxuguei meu rosto, assombrada por essa percepção surpreendente.
Eu congelo.
Deixei a tela aberta. Saí voando pelo corredor, abri a porta da recepção e
quase tropecei nos próprios pés.
Cameron estava sentado na minha cadeira com o olhar fixo na tela. Seu olhar
me encontrou. — É melhor excluir seu histórico de pesquisa. Dessa forma, seu
assunto não se sentirá perseguido.
— Todos nós aqui fazemos nossa parte para proteger sua privacidade.
Eu dei um aceno de cabeça, querendo que Cameron soubesse que isso era
importante para mim também.
— Não queremos que um cliente veja isso agora, queremos? — Disse ele com
firmeza.
— Bom.
— Ele está seguro aqui. — Cameron olhou para o protetor de tela, observando
o jardim japonês que Richard havia montado para mim. — Mia, devo desculpas a
você.
— Quando ouvi sobre você de Tara, decidi que você seria perfeita para o meu
paciente. — Ele inclinou a cabeça. — Como você sabe, Richard não é apenas meu
melhor amigo.
— Meses atrás, — ele disse, — Tara me mostrou uma foto de sua namorada
Bailey. Mia, você também estava naquela foto. Quando Tara me disse que estava
indo embora, pedi a ela que a encorajasse a se candidatar ao cargo dela. Claro que
você é deslumbrante. Não havia dúvida sobre isso. Você irradia uma beleza
rara. Natural e de tirar o fôlego. Uma combinação impressionante. O que eu
também esperava era que você fosse tão cativante quanto parecia. — Ele olhou
para mim sob os cílios escuros. — E você é. Você é enigmática. Aquele truque que
você fez quando pediu seu emprego no escritório de Richard me fez acreditar que
eu era algum tipo de gênio.
Eu encarei o envelope.
— Eu sabia que Richard se apaixonaria por você, — disse ele. — Mas este
resultado foi muito além das minhas expectativas.
Eu não tinha, mas agora eu gostaria de ter feito isso. Talvez em algum lugar
nessa busca eu tivesse encontrado algo que me esclarecesse que tipo de homem
Cameron realmente era. Isso era chantagem ou apenas sua maneira de se livrar
de mim? Eu tinha me interposto entre ele e Richard, seu protegido?
— Prove para mim que isso é o que você quer, — disse ele. — Para que você
não entre em pânico e abandone Richard. Algo me diz que esse relacionamento que
você tem com ele está para ficar pesado. Eu não quero que ele se machuque. Assim
como você. Sua felicidade também importa, Mia.
Trêmula, eu continuei, — Ayn Rand deixou bem claro que se você se deparar
com uma criança precisando de ajuda... você deve deixá-la morrer. — Um soluço
ficou preso na minha garganta. — Aparentemente, essa não era uma filosofia
incomum. Até mesmo os políticos deliraram sobre como Atlas
Shrugged é incrível e se maravilharam com seu sistema filosófico.
Eu olhei para o envelope que ele me deu e rasguei ao meio. — Quando vim
aqui pela primeira vez, todos vocês foram tão bons comigo. Uma bondade que
nunca conheci. Minha madrasta me acolheu porque precisava de mim. Onde
outros viraram as costas para mim, todos vocês abriram seus braços e me
receberam. — Eu me aproximei, perto o suficiente para tocar. — Richard pagou
minha dívida. Estamos falando de milhares de dólares. Sua bondade foi
incondicional. — Prendi a respiração, tentando manter a calma e deixá-lo ver que
eu poderia lidar com a conversa sobre isso. — Não me afaste, Cameron. Por favor.
— Mia, eu...
— Eu sei que o condomínio em que estou morando é seu. Você fez isso para
me tirar daquele estúdio.
— Garota esperta.
— Richard, — disse ele. — Nós precisávamos pensar em uma razão pela qual
você seria convidada para entrar na casa. Você quer que eu me livre disso?
— O que eu sei é que eu amo Richard e ele me ama. Eu pertenço a este lugar.
— Perdoe-me, — disse ele. — Eu tinha que ter certeza de que você estava
certa. Eu trouxe você aqui. Eu sou responsável por você. Por ambos.
— Nunca tive mais certeza de nada. Eu ainda posso perseguir meu sonho de
me tornar uma designer de moda um dia. Por enquanto, estou feliz aqui.
— Algo me diz que você vai. — Ele olhou para o saco de papel. — E meias.
O elevador apitou.
Richard franziu a testa para mim. — Eu acordei e você tinha ido embora.
— Contanto que não seja Nietzsche, — disse Richard. — Rand foi inspirado
por ele. Não admira que sua filosofia tenha sido distorcida.
Cameron olhou para mim. — E Rand ficou doente nos últimos anos e
realmente se inscreveu no seguro social e no Medicare21. — Ele apontou um dedo
para fazer seu ponto. — Tanto para deixar os fracos morrerem.
— Quatro.
— Sobre?
— Nós.
— Ele se preocupa tanto com você que só queria saber que eu te amo e quero
estar com você. — Pronto, eu disse isso, e foi maravilhoso compartilhar a verdade.
Ele olhou para a data de hoje. — Você estava tendo uma conversa muito séria
com Cameron. O que causou isso? — Ele se afastou, mantendo-se de costas para
mim.
Ele foi até a cafeteira e colocou o livro de lado. Ele começou a preparar grãos
frescos. Que estranho, eu poderia planejar um encontro assim e ainda assim falar
sobre isso me apavorava.
Meu rosto caiu quando os pensamentos sobre os artigos voltaram para mim.
— Eu imagino que o que você leu sobre mim a surpreendeu? — Ele disse.
Ele correu a ponta do dedo ao longo da caixa de filtros. — Ainda não tínhamos
decorado o quarto do bebê. Não podíamos concordar com o esquema de cores. Ela
queria amarelo. Eu odeio amarelo, porra.
Ele me soltou e serviu café nas canecas. — Por favor, cancele meu horário das
11:00 da manhã. — Ele devolveu o diário.
Ele acrescentou leite ao meu café e me deu uma das canecas. — Vamos
almoçar juntos.
— Gostaria disso.
Agarrei o diário contra o peito, me perguntando por que não o desafiei. Sim,
ele gostava de liderar um relacionamento, mas eu também tinha uma opinião. Eu
tinha desejos de explorar e agora o sentia me afastando novamente. Amaldiçoei
por me sabotar hoje com minha espionagem.
Abrindo a agenda, corri meu dedo sobre onde ele havia colocado uma linha
no meu nome sob o seu 11:00 e abaixei meu olhar.
Richard havia escrito meu nome às 18h. Apenas este ele havia escrito a
caneta.
CAPÍTULO 26
— O que te chateou?
Apesar de usar este espartilho, ele conseguiu fazer com que eu me sentisse
nua.
Ele realmente tinha uma obsessão por Churchill. Eu me perguntei o que mais
em seu escritório ou mesmo em casa pertencia ao homem. De jeito nenhum eu iria
gostar daquela bebida agora. Eu ficaria preocupada em deixar cair o copo.
Peguei a taça pela haste, segurando-o com a reverência que merecia, e tomei
um gole.
— Sim.
Ele enrolou os dedos e traçou meu queixo para baixo, parando na minha
garganta. — Seu coração está acelerado. — Ele deu um olhar de aprovação.
— É chamado de frisson. — Ele pousou a mão sobre o local exato onde senti
o formigamento.
— OK.
— Rendição
— Sim.
— Hipnotizar.
— Escravizar.
Entramos no elevador.
Uma vez fora, eu passei elegantemente para atrás dele, meu ritmo lento e
deliberado, querendo enfatizar que eu realmente estava pronta para isso, mas sem
saber o quão longe ele me empurraria.
Punir-me.
Apesar de ser menor, esse cômodo era semelhante ao que havíamos deixado
para trás. As paredes foram pintadas de um vermelho profundo e velas espalhadas
aqui e ali, lançando sombras. Sobre a mesa central estavam penduradas finas
correntes de prata.
Ele enfiou a mão nos bolsos da calça. — Preciso ser mais claro?
Tirei minha calcinha, permitindo que caísse até meus tornozelos, e ele
resgatou minha calcinha do chão, em seguida, enfiou-a no bolso da calça. Com um
aceno de cabeça, ele me mandou para a mesa. Ele demorou a arregaçar cada
manga da camisa.
Este homem era orgulhoso, complexo e, oh, tão bonito, e eu estava prestes a
testemunhar do que ele era capaz.
— Eu quero olhar para você. — Ele arqueou minha coluna e separou minhas
nádegas. — Bela bunda, Mia. — Ele contornou o buraco enrugado com a ponta do
dedo. — Um dia vou te foder aqui.
— Sim.
— Melhor.
Esse anseio por ele era tão intenso, um desejo de agradar de qualquer
maneira que ele quisesse. Eu era uma escrava dele, de seu amor, e de bom grado
me entregava.
— Esta bunda perfeita está implorando para ser espancada. — Ele me deu
um tapa forte. — Tudo no seu tempo. — Sua mão deslizou entre minhas coxas,
acariciando minha fenda e explorando mais longe, me tocando.
Ele deu um tapa na minha nádega com força. — Você ia dizer alguma coisa?
— Não, Senhor.
De pé agora e livre das correntes, mas ainda algemada, desmaiei com essa
onda de excitação me fazendo tremer incontrolavelmente. Não houve tempo para
saborear isso. Eu estava muito ocupada tentando acompanhá-lo enquanto ele me
puxava em direção à parede, seu punho de ferro me forçando a ficar ao seu lado.
Posicionando-me para ficar com as costas retas contra o tijolo. Quando minhas
nádegas doloridas tocaram o frio, prendi a respiração.
Com meus pulsos algemados erguidos, meus braços sentiram a tensão dessa
posição. Abaixando o material do meu espartilho, Richard segurou meu mamilo
direito. Ele o apoiou em cima da renda e fez o mesmo com o esquerdo. Beliscou
meus mamilos com firmeza, causando arrepios de prazer.
23 Traduzido fica Gato de nove caldas - é um chicote com nove pontas usado no BDSM
— Oh, por favor, — eu gemi.
Meu queixo caiu, minha respiração ficou mais superficial. Eu fiz beicinho de
prazer e abaixei minhas mãos algemadas para alcançá-lo.
Cada movimento me preparava para uma punição, mas ficar parada era
impossível.
— Você está indo bem, — disse ele. — Mas há espaço para melhorias.
Richard enfiou a mão no bolso e tirou uma braçadeira de prata. Ele beliscou
meu mamilo direito, trabalhando sua rigidez e fechando o fecho sobre ele. O
beliscão me fez estremecer e forçou um gemido de mim.
— Silêncio.
Ele prendeu uma pinça no outro mamilo também e deu um puxão, atirando
prazer na minha virilha. Virei minha cabeça em direção a ele querendo, precisando
ser beijada.
— Você tem que merecer isso. — Ele me virou para que eu ficasse de frente
para a parede e posicionou minhas mãos na minha frente.
— Use suas mãos para alavancar, — disse ele, saindo do meu lado.
Com meus dedos espalmados no tijolo, inclinei meu peso contra meus braços
e olhei para trás. Eu avistei o remo.
— Por que?
— Para ver o que você ia fazer, Senhor.
Oh…
Minha respiração estava mais rápida agora, minhas pernas tremendo, meus
mamilos lutando contra seus captores de prata.
— Você deve ter percebido que não gosto de pedir duas vezes, — disse ele.
Eu arqueei minhas costas e empurrei minhas nádegas assim como tinha feito
na mesa. Cada parte de mim queria isso, precisava disso, e surgiu um desejo
desconhecido de cair a seus pés, implorar por perdão. Implorar por mais.
A pancada na minha bunda veio forte e eu voei para frente. Ele esperou até
que eu me reposicionasse e então deu uns vinte tapinhas lentos e gentis onde ele
havia me atingido.
— Estou esperando que você não se mova. — Richard passou os dedos pela
minha bunda. — Eu preciso ver que você merece sua recompensa.
— Sim.
Ele parou.
— Senhor.
Pareceu mais fácil desta vez saber que o que se seguia era uma recompensa
alucinante, se eu pudesse permanecer imóvel. Richard usou o remo
novamente. Outro golpe, e outro, mas eu queria tanto minha recompensa que
enterrei toda resistência.
Ele me virou para que minhas costas estivessem agora contra a
parede. Minha pele estava vermelha e sensível. Ele se acomodou entre mim e a
parede de modo que fossem suas costas que encontrassem o tijolo e as minhas
fossem contra sua musculatura frontal, puxada para um abraço. A mão esquerda
de Richard alcançou minha virilha e ele abriu meus lábios inferiores, me
expondo. Segurando-me proficientemente nessa pose delicada, ele usou sua mão
direita para dar tapas eróticos no meu clitóris, e meus gritos responderam a essas
ondas de choque de felicidade.
— Silêncio, Mia.
Êxtase.
A bofetada cessou e seus dedos assumiram seu próprio ritmo, piscando mais
rápido, me enviando além da borda. Meu orgasmo estremeceu através de mim
quando o ar foi arrancado de meus pulmões, me quebrando em um milhão de
pedaços de nada.
— Você tem sido uma boa menina, — disse ele, rasgando um pacote de
preservativos. — É hora de ser recompensada.
Embora não tivesse certeza se eu poderia ter mais prazer, meu olhar caiu
sobre o pau de Richard, que estava duro como uma rocha, e eu ansiava por ele
estar dentro de mim. Ele me cutucou de volta para que eu ficasse olhando para o
teto e ele se deitou sobre mim, agarrando minhas mãos e as colocando acima da
minha cabeça.
Minhas costas arquearam quando ele entrou em mim, apertado e cheio, todo
o caminho até o punho. O prazer de seu primeiro impulso diminuindo a dor dessa
tensão interior. Meu canal apertou em torno de sua espessura e ondulou de prazer.
As notas iam e vinham, levando-nos com elas e fechei os olhos, extraindo nada
além da satisfação de ter Richard me dominando completamente. Este prazer
abrasador aumentou cada vez mais.
Cega por essas sensações, tentei obedecer, realmente tentei, mas era tão
difícil me concentrar e eu sabia que estava perigosamente perto. Richard
aperfeiçoou seu ritmo, batendo contra mim, o som do nosso sexo batendo juntos.
Encharcado em um calor úmido, seu rosto estava focado e feroz, suas pupilas
dilatadas enquanto ele assumia um ritmo brutal.
— Ainda não.
Nós nos abraçamos assim por um longo tempo, nenhum de nós querendo
deixar ir.
— Oh.
Richard arqueou uma sobrancelha. — Por que, Srta. Lauren, você tem o
olhar?
— Olhar?
Ainda vestida com meus jeans e suéter da noite passada, eu precisava tomar
um banho e escovar os dentes. Winston sentou-se ao lado da minha
espreguiçadeira e presumi que Richard tinha dito a ele para ficar e cuidar de
mim. Ou talvez Winston estivesse ficando mais preguiçoso se isso fosse possível.
— Achei que o café da manhã na praia poderia ser divertido. Traga o cobertor.
Eu senti falta dele, mesmo por um período tão curto de tempo, e não pude
deixar de sorrir ridiculamente com a ideia de passar mais tempo com ele. Peguei
nosso cobertor.
Ele sorriu, parecendo tão jovem e tão inocente, a brisa bagunçando seu
cabelo. Era difícil acreditar que ele tinha uma queda pela dor, impossível entender
que esse era o Richard dominador da noite anterior. Abrindo bem o cobertor,
estendi-o sobre a areia e nos sentamos aconchegados um no outro. Parecia um
sonho tê-lo de volta ao meu lado.
Ele descansou a sua tigela sobre o cobertor à sua frente e alcançou o frasco,
desatarraxando a tampa e despejando café fumegante nela. O cheiro do grão fresco
espalhou. Ele me entregou a xícara.
Tomei um gole. — Você faz um ótimo café. — Devolvi o copo para ele e provei
meu mingau de aveia. — Isso também é delicioso.
— Receita secreta de família. — Ele ergueu a mão. — Por favor, não peça
isso.
— Mesmo?
— Acredite ou não, pode ficar meio solitário. — Ele balançou sua cabeça. —
Bem, espero que não mais.
— Gostaria disso.
— Pelo menos pense nisso. — Seus dedos brincaram com meu cabelo. —
Você certamente sabe como fazer o dia de um homem, Srta. Lauren.
Eu me perguntei por quantos dias ele se sentou aqui sozinho com nada além
de seus pensamentos como companhia.
Embora eu não tivesse entendido suas palavras na época, por não ter
conhecido a história de Richard, agora tinha uma noção do que ela estava
dizendo. O estilo de vida anterior de privilégio e posição de Richard e, mais tarde,
sua queda das graças da sociedade de Nova York o suavizaram, fizeram dele um
homem mais gentil. Ele certamente parecia mais acessível do que o Richard que
eu conheci.
Ele apontou para Venice Beach. — Imagino que Cameron esteja surfando
agora. Em algum lugar nessa direção.
— O que fizemos foi considerado manso. — Ele brincou com meu cabelo.
— Oh.
— Você estava deslumbrante. Foi difícil não te devorar no meu escritório logo
no início.
Descansando minha tigela no meu colo, peguei o café dele novamente. — Foi
incrível.
— Cerca de cem.
— Antes do seu tempo. — Ele ergueu a mão com insistência, dando o sorriso
mais largo. — É uma piada. Por favor, não vá no Google. O que eu sei que você
adora fazer.
— Por que?
— Você vai ter um ataque. — Ele apontou. — Oh, olhe, há uma gaivota.
Ele me deu uma olhada de lado. — Diga-me uma coisa, Mia, como é que nada
do que eu faço te assusta?
— Eu acho que posso ter me apaixonado por você na primeira vez que te vi
no Enthrall.
— Sério, Mia, no dia em que você entrou na minha vida tudo parecia
diferente. E quando digo senti que estamos falando de um milagre. Eu não sentia
uma emoção em mais de seis anos. — Ele olhou para suas mãos. — Não acreditei
que sentiria de novo.
Corri minha mão para cima e para baixo em suas costas para confortá-lo.
— Sempre tive uma queda pela dor, mas nos últimos anos era a única
maneira de sentir, — disse ele. — Então você entrou na minha vida. Eu me
apaixonei por você na primeira vez em que entrou no meu escritório. Você não
estava com medo de mim. Você meramente absorveu o quarto e então me acolheu.
— Meu Deus, não. Ele perderia sua licença para praticar medicina.
— Você faz isso parecer tão travesso. — Ele apertou a língua entre os dentes.
— Cameron me disse que ele tem dinheiro antigo. Isso significa que a família
dele é rica?
— Ele é o filho mais velho do Cole. O Hampton Coles. Seu bisavô era Sir
Thomas Cole, o magnata do chá. Sua empresa faz um requintado Earl Grey.
Claro que Cameron tinha esse ar de privilégio, mas essa notícia de sua
família foi uma surpresa. Eu me perguntei se Tara sabia.
— Por que tanto fascínio pelo meu amigo? Algo que você gostaria de
compartilhar?
— Ele me assusta.
Eu virei minha cabeça, não querendo que ele me visse corar. — Qual é o seu
fetiche? — Tentei mudar de assunto, mais ou menos.
— Você é muito mais do que isso para mim. Você percebe isso? — Ele olhou
para o horizonte. — Estou pronto para um compromisso. — Ele colocou uma
mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Isso é, claro, se você quiser isso
também.
Olhando em seus olhos, tive coragem de dizer isso. — Não tenho certeza se
poderia ser sua submissa o tempo todo.
— Não acabe antes de tentar. — Ele deu um beijo no topo da minha cabeça.
Ele riu e se contorceu. — Carmen trabalha para mim durante anos. Ela tem
cinquenta e poucos anos. Uma avó.
— Olhe para você. — Ele pegou minha mão e a beijou. — Estou tão feliz que
você trouxe isso à tona. Precisamos ser abertos e honestos uns com os outros. Isso
é bom.
— Um pouco.
Ele acariciou minhas costas. — Eu não sou um ego maníaco, Mia. Eu adoraria
nada mais do que assistir você crescer e se tornar uma bela mulher totalmente
realizada.
Eu relaxei um pouco, me lembrando de confiar e deixar ir. As ondas rolaram,
estourando a espuma branca na areia antes de recuar novamente, embalando da
maneira mais perfeita. O som era calmante, hipnótico.
— Não, por favor escute. Isso é importante. Embora meu pai fosse corrupto,
minha mãe não era, obviamente. Ela vem de uma família rica. Provavelmente foi
o que intimidou tanto meu pai. De qualquer forma, o que estou tentando dizer é
que sou um bebê de fundo fiduciário. Você sabe o que é isso?
— Eu também.
— Os vizinhos?
— Eu não me importo com o que eles pensam. São os tubarões. Eles adoram
esta hora da manhã. — Ele inclinou a cabeça para que eu o seguisse.
— Bem, então, — disse ele. — Terei que pensar em algo que vai injetar um
pouco de diversão de volta nisso. — Ele mordeu o lábio e olhou para mim com um
brilho travesso.
CAPÍTULO 28
Como Richard parecia bonito ao sol da manhã. O sol explodia através das
cortinas, banhando meu quarto com o amarelo mais suave. Acordei com Alex Clare
cantando sobre folhas caindo de algum lugar longe do meu condomínio.
Ele pulou em uma meia. — Seis. Volta a dormir. Tenho que ir para casa para
algumas coisas.
— Winston?
Richard vestiu as calças. — Não, não vou demorar. — Ele veio para o meu
lado da cama e deu um beijo na minha testa.
Fechando meus olhos, mergulhei em seu afeto. Ele beijou meu pulso e aquele
pequeno gesto de carinho me fez derreter.
— Certo. — Ele se sentou ao meu lado. — Não irei hoje. — Ele pegou o
relógio e mexeu nele. — Eu ia deixar um recado para você.
— Nova York?
Talvez uma visita para ver sua mãe, o que seria bom para ele e bom para sua
mãe também. Eu sentiria terrivelmente a falta dele.
Ele pousou o relógio e girou-o para ficar de frente para a cama. — Vou ficar
em Chrysalis.
Meu peito estava pesado e ousei fazer a ele a pergunta assustadora. — Você
será...
Eu puxei minha mão da dele. — Você vai fazer sexo com outras pessoas?
— Talvez se você falar com Cameron, ele vai deixar você pular esta semana?
— Temos uma clientela bem paga chegando. — Ele olhou no seu relógio. —
Eu tenho que ir.
— Não vá. — Eu sabia que parecia pegajosa, mas não conseguia suportar a
ideia de ele tocar em outra pessoa além de mim. Mesmo que fosse com a ponta de
um chicote.
Ele zombou. — Vejo você em breve. Vamos passar o fim de semana em Santa
Bárbara. Vou estragar minha garota. — Ele foi me beijar.
Eu me afastei.
— Não seja assim. Tenho sido honesto com você desde o início.
— Apoio.
Ele estava tentando me proteger do seu estilo de vida, bem como do seu
passado. A ideia de ele não estar na minha vida doeu de forma agonizante no meu
coração e o nó no meu estômago se apertou.
Eu estraguei tudo.
Espiando pela janela do meu carro, observei Enthrall. O edifício parecia tão
elegante do lado de fora, com todos aqueles tijolos ornamentados esculpidos ao
longo de sua fachada. Ninguém iria adivinhar o tipo de coisas que aconteciam
ali. Eu não poderia entrar antes de controlar as lágrimas. Não ousava levantar
suspeitas sobre ter uma discussão com Richard esta manhã.
Parecia que alguém estava tentando arrancar meu coração com uma
colher. Peguei meu iPhone e disquei seu número. Fui enviada para o correio de
voz. Uma tábua de salvação nesta terrível tempestade.
Esperei que ele ligasse de volta. Richard abriu seu coração pela primeira vez
em anos e eu traí sua confiança. Meus gemidos encheram o carro novamente.
Eu li sua resposta.
Richard: Sinto sua falta também, minha doce Mia. Mais do que você
sabe. Posso sair da rede em breve. Não se preocupe. Nada vai mudar entre
nós. A menos que você queira.
Mia: Não.
Não usar nenhuma maquiagem esta manhã foi a única decisão razoável que
tomei. Baixei o quebra sol e verifiquei meu rosto no espelho. Minhas bochechas
estavam vermelhas e meus olhos estavam vermelhos de lágrimas.
Scarlet entrou pela porta dos funcionários e eu escondi meu iPhone na gaveta.
Scarlet estava segurando uma pasta bege. — Richard está fora do escritório
esta semana, não é?
— Ele está em Chrysalis. — Eu tentei fingir que estava bem com isso e a
estudei com o mesmo olhar de laser que ela me encarou.
— Bem.
— O meu é o Matrix, — ela disse. — Há uma parte no filme... — Ela fez uma
pausa. — Você viu esse?
— Sim.
Eu tinha visto o filme com Bailey. Tínhamos assistido na casa dela no Netflix
algum tempo atrás. Eu achei o Keanu Reeves mais jovem particularmente gostoso
naquele casaco longo e preto. Sem surpresas Bailey tinha achado Trinity a mais
gostosa.
— Cameron?
— Eu?
Sua voz era firme e segura. — Fazemos uma pesquisa de histórico de todos
os nossos funcionários. É bastante rotineiro. É a única maneira de garantir a
contratação de funcionários responsáveis e honestos.
Uma onda de culpa tomou conta de mim... mas eu não fiz nada de errado.
Uma onda de tontura tomou conta de mim com o pensamento do que eles
encontraram.
Scarlet me deixou sozinha com a pasta. Eu deslizei minha caneca para o lado,
com cuidado para não derramar nada. Minha mente correu com o que poderia
estar dentro. Richard, Cameron e, na verdade, todos aqui estavam escondendo um
segredo de mim.
Uma versão mais velha do homem que eu conheci como meu pai. Meu pai,
que deveria ter morrido quando eu tinha quatorze anos, mas essas fotos provaram
o contrário. Sua mandíbula forte e familiar, aquela mecha espessa de cabelo agora
sal e pimenta, e aqueles olhos castanhos intensos. Aqueles que me encararam
tantas vezes quando criança, quando eu brinquei na caixa de areia por muito
tempo ou fiz um barulho quando seu programa favorito estava passando.
Em uma das fotos, meu pai estava usando um chapéu de sol e, pelo que
parecia, estava trabalhando em um rancho. Um vinhedo, aparentemente, pelas
anotações do detetive. Roscoe-Harvey Winery and Vineyards, em um local
chamado Yountville no Napa Valley. Meu pai morava a apenas algumas horas de
distância.
O pânico ficou preso na minha garganta e forçou um soluço para fora de mim.
Lorraine sabia disso o tempo todo. É por isso que ela vendeu as coisas dele e
não guardou nada. É por isso que ela não chorou. Eu precisava saber por que ela
não me contou. A bile subiu, trazendo o gosto rançoso de café.
Agora.
Ainda vivo.
Sem a máquina de névoa havia uma visão mais clara do foyer. Isso me
lembrou de um hotel cinco estrelas, como o Bellagio em Las Vegas. O piso de
mármore, o teto baixo e a iluminação suave faziam tudo parecer caro. Eles até
tinham uma linda morena trabalhando atrás de uma mesa de recepção.
Richard tinha me dito que apenas milionários podiam se dar ao luxo de estar
aqui. Presumi que a mulher de trinta e poucos anos que possuía o BMW era um
deles. Ela me lembrou da Sra. Sullivan. Ela me olhou criticamente.
Ah não.
Dominic veio em minha direção. Fora aquela toga que eu o tinha visto pela
última vez e em seu lugar ele usava um terno risca de giz chamativo.
— Ora, se não é o brinquedo do diretor, — disse ele.
— Você pode conseguir Richard Booth para mim, por favor? — Eu segurei
as lágrimas.
— O que está errado? — Dominic pegou meu braço. — Vamos esconder você.
— O que é isso? — Ele olhou para a pasta bege. A que eu estava segurando
no meu peito.
— Por favor, diga ao Sr. Booth que preciso falar com ele imediatamente.
— Oh querida, por favor, não. Temos VIPs chegando. — Ele deu um aceno
tranquilizador para a sósia da Sra. Sullivan. — Você não pode ser vista
choramingando. — Ele agarrou a pasta.
Eu escapei de Chrysalis.
Ainda sim…
Eu tinha sido traída da pior maneira pela única pessoa que deveria me
proteger desse tipo de horrores. Raiva e alívio envolveram um ao outro e era difícil
distinguir um do outro.
Uma luz azul brilhou no meu espelho retrovisor, seguida pelo som da sirene
do carro da polícia.
Ah não. Oh foda-se.
O sangue latejava em meus ouvidos. Com meu indicador aceso, naveguei por
três pistas e parei no acostamento. Apesar de querer esconder meu rosto em
minhas mãos, agi como se nada estivesse errado. Eu abaixei minha janela e
coloquei as duas mãos no volante e observei o oficial se aproximar. Meu espelho
retrovisor direito ainda estava virado para trás devido à colisão com a folhagem de
Chrysalis.
— Sim.
— Por que?
— Saia e tranque seu veículo, por favor. Traga seus objetos de valor. — Ele
olhou para trás, para os carros em alta velocidade. — Cuidado, por favor.
Segurando meu braço direito, ele me guiou pela parte de trás do meu carro e
em direção ao seu veículo de patrulha. Sua luz ainda brilhava. Agarrando minha
bolsa em meu peito eu me encolhi; outros motoristas estavam percebendo isso. O
policial abriu a porta traseira e gesticulou para que eu entrasse. Em algum lugar
distante da minha mente, tentei me lembrar se isso era rotina. Ele não deveria me
dar uma multa e me mandar embora? Seu parceiro, um jovem oficial de rosto
gentil, virou-se no seu acento para espiar para trás.
Nós aceleramos pelo outro lado da rodovia, indo rápido na direção oposta de
Napa Valley, e meu coração doeu com o meu fracasso em sequer sair de LA. Pensei
em ligar para Richard, mas, novamente, sua reunião poderia mantê-lo ocupado por
horas e eu não tinha certeza se realmente queria que ele soubesse disso. Embora
seu detetive particular provavelmente descobriria.
Tentei ler sua expressão para ver se o tinha ouvido bem. Estávamos nos
aproximando de Chrysalis. O carro deslizou pela extensa entrada de automóveis
com Chrysalis erguendo-se acima do arco da colina. Esse pesadelo giratório
prometia nunca cessar.
Dominic e Cameron estavam conversando na escada da frente da casa. Sem
o cinto de segurança, esperei o carro parar e o policial destrancar minha porta.
— Ele leu seus direitos? — Ele passou por mim e se dirigiu ao carro da
polícia.
— Não, — eu disse.
Pela maneira como Cameron falava casualmente e contava uma piada, ele os
conhecia bem. Dominic se moveu em minha direção e eu recuei, concentrando-me
na interação entre Cameron e os policiais.
— Não. Eu estou indo para Napa. — Eu encarei a pasta. — Por que você não
me contou?
— Lorraine sabe? — Cobri minha boca com a mão, tentando suprimir meus
soluços. — Ele nunca morreu. Você sabia e não me contou.
Eu recuei.
— A hora certa para você, — eu disse. — Meu pai está vivo. Não estou
perdendo mais um segundo. Eu vou vê-lo agora.
— Ela está certa, — disse Cameron. — Mia, eu queria ter uma sessão com
você primeiro. Sinta como você se sentiu a respeito de tudo isso. Divulgue para
você devagar. Sinto muito que você tenha descoberto dessa forma. — Ele apertou
a mandíbula, os músculos trabalhando sua tensão.
— Estou bem.
— Você não pode ir sozinha, — Cameron olhou para Dominic. — Você será
eu esta noite.
— Traga Scarlet aqui, — disse Cameron. — Ela tomará seu lugar, Richard. É
o mínimo que ela pode fazer. — Ele revirou os olhos. — Nós vamos.
Cameron olhou para o relógio. — Tem certeza que quer ver seu pai hoje, Mia?
— Sim.
Apesar de toda a atividade, não pude fazer nada além de pensar nas palavras
que diria a meu pai. Eu mal entendi o que Richard e Cameron estavam dizendo
para mim ou um para o outro. Algo sobre os preparativos para aqui. Algo sobre
notificar alguém sobre algo.
Atravessamos a mansão, passando por cômodo após cômodo. Uma vez do lado
de fora, passamos pela piscina iluminada por baixo com brilhantes luzes
vermelhas na noite da festa de Chrysalis.
Eu dei um aceno de cabeça, embora ainda não tivesse certeza sobre tudo isso.
— Ele está brincando, é claro. — A voz de Richard ecoou dentro dos meus
fones de ouvido e ele se virou para olhar para mim. Ele revirou os olhos.
A voz de Cameron veio dos meus fones de ouvido. — Pelo que me lembro, você
apenas sacode alguns aparelhos e torce para que nada caia.
— Eu sou o único que pode estar certo, — disse Cameron. — Lembra daquele
memorando?
— Ah, sim, — disse Richard. — Agora me lembro. — Ele se virou para olhar
para mim novamente. — Sério, ele é o melhor piloto que conheço.
Eu mal podia esperar para ver meu pai novamente. Embora também
houvesse uma agitação de algo desconhecido para o homem que me fez passar por
tanta dor. Nunca deveria ter sido assim. Eu nunca o impedi de fazer nada,
nunca. Não conseguia entender por que ele me rejeitou. Ele poderia muito bem
estar morto.
Passamos por vinhedo após vinhedo com seus exuberantes cachos de uvas
verdes e roxas espalhados sobre as vinhas que se espalhavam de cada lado de
nós. A vegetação foi uma mudança refrescante da paisagem seca de LA. O carro
aberto permitiu que esta brisa da noite nos encontrasse.
Perdão.
O amor de Richard me deu a força de que eu precisava para ver isso até o fim.
Havia tantas perguntas. Eu estava prestes a saber mais sobre meu pai do
que jamais soube, e até mesmo sobre outros parentes. Problemas sem resposta
podem ser resolvidos. Eu precisava saber o que ele fez com sua vida até agora. Eu
sabia que não seria fácil para ele ou para mim, mas no meu coração sabia que
sobreviveríamos a isso. O pensamento de seu abraço, a sensação de cair em seus
braços novamente, seria um tesouro para sempre. Fiquei maravilhada com minha
capacidade de deixar o passado ir embora. Eu acabei entendendo. Eu sabia que
iria. Com Richard ao meu lado, eu poderia enfrentar qualquer coisa. E Cameron
também, com sua notável habilidade de se comunicar com qualquer pessoa. Ele
cuidaria para que eu fosse compreendida. Ele me ajudaria a dizer as palavras que
sem dúvida sairiam confusas.
— Viemos visitar o Sr. Lauren, — Cameron disse a ele. — Você pode nos
dizer onde podemos encontrá-lo?
— Estaremos bem aqui, baby, ok? — Richard parecia perdido sobre o que
fazer com seus braços.
Minha mente procurou refúgio, voltando-se para o mundano, como que tipo
de vinho essas uvas roxas fariam. Richard amava vinho. Cameron também. Talvez
pudéssemos provar sua safra. Sem dúvida, Cameron gostaria de uma ou duas
garrafas para levar para casa.
Lá, a cerca de três metros de distância, estava meu pai. Sua mandíbula
pesada cerrada em concentração. Ele colhia uvas de uma videira, seu chapéu de
sol puxado para baixo. Ele torceu meticulosamente cada uva com um movimento
delicado, um cuidado que não me lembrava de ter visto nele.
Tentei conter minha excitação neste momento que nunca sonhei ser possível,
minha alegria ameaçando encher o ar e encontrar sua liberdade.
Seu chapéu de palha creme caiu sobre seu rosto e ela o levantou. Esta era a
mulher das fotos, suas bochechas coradas pelo sol, suas muitas linhas revelando
anos de exposição ao clima.
Já estava arruinada.
Com um aceno de concordância, meu pai voltou a tirar as uvas de uma videira
baixa, sua atenção voltada mais uma vez para seu trabalho delicado.
Seguindo um caminho estável de volta para eles, eu me deixei para trás. Essa
versão inocente de mim mesma. Aquela garota boba que em minha mente se
ajoelhou, arranhando a terra, suas lágrimas encharcando o solo, suas unhas sujas,
seus gemidos alcançando este rancho e além de sua estúpida cerca de piquete
branca perfeita e suas mentiras odiosas.
Esta Mia, esta nova mulher do mundo, apenas fez o seu caminho com
calma. Eu segui o que Richard e Cameron me ensinaram sobre a dor, forçando-a a
se tornar uma bola para ser tratada mais tarde, manipulando-a no que eu
precisasse.
— É o que ele não disse, — disse Cameron, pousando a mão no meu ombro.
Richard subiu no banco de trás e Lotte sentou-se ao lado dele. O couro macio
me salvou de cair. Cameron estava sentado no banco do motorista, o rosto imóvel
e fixo na estrada à sua frente, como se também pensasse no que fazer a seguir. Ele
ligou o motor, navegando com o Lexus de volta pelo caminho.
O silêncio gritou mais alto do que eu jamais havia conhecido. Esse aperto
dolorido em torno da minha garganta roubava cada respiração, forçando uma
torção no meu peito. Apesar do ar fresco do conversível, não consegui respirar.
— Que tal dar-lhe carinho? — Disse Richard. — Nós vamos pegar uma
bebida.
Cameron passou os dedos pelos cabelos. — Sinto muito, Mia, eu deveria ter
pensado melhor nisso.
Acariciando meu peito, temi que essa dor nunca cessasse. — Ele não me quer.
— Cameron se virou e olhou para Richard com uma expressão questionadora.
— Nós vamos conseguir um hotel. Passar a noite. Reagrupar.
— Boa ideia. — Richard olhou para Lotte. — Você está bem com isso?
— Absolutamente.
Não havia nada além de uma dor, uma angústia, me fazendo temer que
pudesse desaparecer dentro dela. Eu puxei minha mão da dele. — Faça aquela
coisa.
Render-se…
Com o vento.
CAPÍTULO 32
O Bardessono com suas cinco estrelas era o hotel mais elegante em que já me
hospedei. A decisão de Cameron de que deveríamos reservar quartos em Yountville
nos encontrou aqui. Ele nos disse que dormir sobre os eventos de hoje para tomar
a decisão certa era crucial. Então nós 'reagrupamos' cercados por todo esse luxo
rústico, não muito longe da vinha do meu pai.
Uma bola de tristeza ficou presa na minha garganta. Eu mal toquei na minha
sopa cremosa de cenoura que Cameron tinha pedido para mim. Ele sabia que meu
apetite estava enfraquecido e isso era tudo que eu seria capaz de controlar. Eu não
tinha tocado no meu pãozinho.
Richard olhou para Cameron do outro lado da mesa. Ele e Lotte pararam no
meio da mordida, as mãos elegantemente posicionadas sobre os talheres. Eu os
observei comer. Eles seguravam suas facas e garfos tão graciosamente. O mesmo
aconteceu com a maneira como eles beberam a água, junto com aquele vinho
premiado, limpando suas bocas tão elegantemente com aqueles guardanapos
brancos engomados.
— Eu tenho segurado a minha de forma errada, — eu disse, gesticulando
com minha colher para a faca e o garfo de Richard.
— Venha aqui. — Richard me puxou para cima e para seu colo. — Ninguém
se preocupa com essa porcaria. Nós te amamos. Só queremos que você fique bem.
Cameron deu um sorriso gentil. — Mia, você nos ensinou. Você não vê isso? É
você quem trouxe a verdadeira beleza de volta às nossas vidas.
— Seu pai está com medo, — disse Lotte. — Isso não tem nada a ver com
você.
— Quando a esposa dele descobrir que ele fingiu sua morte e fez você passar
por tudo isso, ela vai vê-lo como ele realmente é, — Lotte falou com raiva.
Suas mãos se apertaram ao redor de sua faca e garfo. — Eu amo minha vida
agora.
Parecia que todos nós tínhamos uma coisa de pai acontecendo, e quando fiz
contato visual com Cameron, Richard e Lotte, eles também perceberam.
— Aqui está outro, — disse Richard. — Churchill foi acusado de estar bêbado
na Câmara dos Comuns. Ele respondeu à acusadora: Posso estar bêbado,
senhorita, mas pela manhã estarei sóbrio e você ainda será feia.
— Ele com certeza é, — disse Cameron. — Do lado de sua mãe. Ele tem
aquele mesmo olhar intenso de concentração. Mesmas orelhas.
— Vou levá-la a Londres na próxima vez que for, — disse Richard. — Você
vai amar.
— Vamos fazer uma massagem pela manhã? — Disse Lotte. — Mia, você e
eu receberemos uma massagem com pedras. Por minha conta. Você já teve uma?
— Não, — eu disse. — Dói?
— Acho que vou para a cama, — disse Lotte. — Tem sido um longo dia.
— Então, esta é a sua primeira vez? — Disse Richard com uma expressão
travessa, levando um dos bolinhos à minha boca com os dedos.
26 Bolo em forma de pequena bola oca, cuja massa é cozida e posteriormente recheada com creme.
— Ora, não sei o que você quer dizer, — disse Richard.
Eu lhe dei um profiterole de volta para ele e seu rosto se iluminou com
êxtase. Eu dei um para Cameron também e ele lambeu o creme dos meus dedos.
— Vocês são muito decadentes, — eu disse. — O que eu vou fazer com vocês?
Continua....