Você está na página 1de 306

STAFF

Disponibilização: Sunshine
Tradução: Azalea
Revisão Inicial: Helena
Revisão Final: G. C. Rezendiz
Leitura Final: Cayla Black
Formatação: Azalea Bufonni
SINOPSE

Mia Lauren é uma solteira de 21 anos que trabalha em uma loja de arte de
West Hollywood e sonha em um dia se tornar uma estilista. Quando surge uma
oferta inesperada para trabalhar no Enthrall, o principal clube de fetiche de L.A.
para os ricos, Mia aceita. É um salário além de sua imaginação.

Mia se torna a secretária do diretor assistente do clube, o loiro e taciturno


Richard Booth. Richard não é apenas um dos homens mais bonitos e ricos de
L.A., ele também é o dominante sênior do clube. Mia fica abatida e apavorada
quando ele revela lampejos de sua paixão incandescente, ameaçando um prazer
sem limites como nenhum outro. Ela sabe que sua atração pode ser sua ruína,
mas os sentimentos fascinantes a tornam impotente para resistir aos avanços
dele.

O que Mia não pode saber é que o arrojado diretor de Enthrall, Cameron
Cole, de 34 anos, que também é psiquiatra do clube, atraiu Mia para salvar seu
melhor amigo e paciente Richard de sua obsessão pela busca de emoções fortes.
Cameron magistralmente cria cenários sensuais para garantir a colisão de
Richard e Mia, esperando que o amor o salve.

No entanto, apesar das nobres intenções de Cameron, ele também se vê


seduzido pela inocência assustadora de Mia. Paixão e prazer se agitam, formando
um perigoso triângulo amoroso. Este é o mundo do proibido. Este é o abraço de
Enthrall.
AVISOS SUNS!

A tradução foi efetuada pelo grupo Sunshine Books, fãs e admiradores da autora,
de modo a proporcionar ao leitores e também admiradores o acesso à obra,
incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem
previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os aos
admiradores, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto.
Levamos como objetivo sério, o incentivo para seus admiradores adquirirem as
obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser
no idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores
desconhecidos no Brasil.
A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, o
grupo Sunshine poderá, sem aviso prévio e quando entender que necessário,
suspender o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização, daqueles que
forem lançados por editoras brasileiras.
Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se
destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar nas
redes sociais bem como tornar público o trabalho de tradução do grupo, sem que
exista uma prévia autorização expressa do mesmo. O leitor e usuário, ao acessar
o livro disponibilizado responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo
o grupo Sunshine de qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em eventual
delito cometido por aquele que, por ato ou omissão, tentar ou concretamente
utilizar a presente obra literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos
termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998.
“A dor é a raiz do conhecimento.”

Simone Weil, (1910-1943) Filósofa Francesa


CAPÍTULO 1

Eu precisava disso.

Mais do que tudo.

Do outro lado daquela longa mesa de madeira escura estavam sentadas três
belas mulheres, nem todas impressionadas com as respostas que eu dei até
agora. Eu estava estragando essa entrevista.

E sabotando meu futuro.

Enthrall, o clube de BDSM mais exclusivo de LA, estava contratando uma


nova secretária e, pelo jeito, eu não seria ela, e aquele salário inacreditavelmente
alto não seria meu. Este momento não era sobre ganância, mas sobrevivência. Eu
estava farta de comer macarrão Ramen1, de morar em um estúdio e de andar de
bicicleta pelas ruas da cidade para economizar combustível. Trabalhar em dois
empregos era cansativo. De segunda a sexta, eu era vendedora na loja de materiais
de arte de Willem em West Hollywood, onde muitos dos aspirantes a criativos da
cidade se encontravam, sonhando em crescer. Nos finais de semana, trabalhava
como garçonete na Cheesecake Factory. Eu gostava dos dois empregos, mas nunca
ter um dia de folga estava começando a me prejudicar.

Essa entrevista parecia uma tábua de salvação, embora de alguma forma


minhas mãos estivessem escorregando pela corda em direção ao fracasso.

Duas das mulheres do júri nem se apresentaram, o que achei estranho e


tornei tudo ainda mais incômodo. Tara, a namorada da minha melhor amiga,
poderia ter me avisado sobre isso. Tendo sido sua secretária anterior por anos, ela
provavelmente estava acostumada com toda essa intensidade e não se importava
com essa tensão sexual que escorria das paredes de tijolos vermelhos de grife.

Paredes que estavam se fechando ao meu redor.

A mulher à direita tinha sotaque escocês e estava na casa dos quarenta. Ela
usava um terno Chanel caro e óculos de grife pelos quais espiou para mandar uma
mensagem em seu BlackBerry. A deslumbrante mulher de cabelos negros do outro
lado, com sua bela aparência de modelo e couro preto da cabeça aos pés, contradizia

1 O macarrão é feito de trigo, sal, água e água alcalina (kansui). A base do caldo é uma mistura de carnes,

algas e vegetais. A carne tende a ser frango ou porco, mas pode existir diferenças regionais. Mas nesse caso a
mocinha fala de um macarrão Ramen instantâneo.
o traje conservador de sua colega. Pelo menos a entrevistadora de cabelos negros
foi gentil o suficiente para me lançar um sorriso ocasional.

— Seu currículo é muito limitado, — disse a senhora Scarlet, a morena


severa no meio, enquanto examinava o arquivo.

Questionei por que eu continuava me colocando nisso. Cinco minutos atrás,


enquanto estava na sala de espera, uma das outras entrevistadas saiu correndo e
fez sinal de positivo para mim.

— Foi ótimo! — Ela me disse, seu decote fazendo uma dança feliz enquanto
ela balançava pelo corredor.

Minha saia preta e blusa branca pareciam erradas em muitos níveis. Me


tornei séria, até estudiosa, tentando parecer profissional. Eles deviam estar
procurando um tipo sofisticado, uma funcionária que se misturasse facilmente.
Sentei-me mais ereta, não querendo admitir a derrota ainda.

O piso de madeira, a iluminação fraca e as gravuras baixas em preto e branco


da vida na cidade davam uma sensação de costa leste, exalando ostentação. Se
tudo isso foi feito para intimidar, deu certo.

— Por que você quer trabalhar aqui? — Disse a Sra. BlackBerry obcecada.

— Bem... — Eu gesticulei para mostrar meu ponto. — Eu realmente acredito


que este ambiente de mente aberta e clientela diversa me ajudará a crescer como
pessoa.

A Senhora Scarlet parecia divertida. — Então não é o salário?

— O salário é generoso, — falei, guardando minha humilhação para depois,


quando afogaria as minhas mágoas com uma garrafa de vinho.

Corei em resposta aos seus olhares fixos. Eu poderia jurar que elas viram
através de mim, me deixando murcha a cada falha em entregar as respostas que
pareciam querer.

— De onde você é? — Disse a senhora Scarlet.

— Charlotte, — eu disse.

— Aposto que você não sente falta da umidade, — disse a morena.

— Não.

— Você é muito jovem, — disse ela.

— Vinte e um.
A senhora Scarlet parecia tensa. — O que você sabe sobre o que fazemos aqui?

— Você atende às necessidades exóticas de clientes especiais. — Eu me


orgulhava de ter deixado isso de lado.

— Por favor, responda à pergunta, — disse a BlackBerry enquanto enviava


uma mensagem de texto.

Esperei que ela clicasse em enviar. — Este é um clube privado.

A boca da Senhora Scarlet se torceu em um meio sorriso.

— S e M, — eu disse.

A Senhora Scarlet estava me dando uma amostra de como ela fazia seu
cliente se sentir.

— Sadismo e masoquismo? — Eu fiz uma pergunta.

— Prazer e dor, — disse a Sra. BlackBerry — O que sua mãe acha de você
trabalhar aqui?

Compreensivelmente, eu não fui questionada sobre isso quando fui


entrevistada para a loja de arte de Stella Willem. — Ela morreu anos atrás. Eu
tenho uma madrasta.

— Sinto muito por ouvir isso. — Ela pousou o celular na mesa. — Sua
madrasta sabe que você está aqui?

— Sim, claro, — menti.

A Senhora Scarlet juntou os dedos. — Temos orgulho de ouvir segredos e


guardá-los. Isso é mais do que um clube. É uma sociedade para adultos
equilibrados que gostam de explorar suas predileções em um ambiente seguro e
acolhedor.

— Tenho que ser honesta, — disse a Sra. BlackBerry. — Do qual nos


orgulhamos aqui, você não parece confortável com sua sexualidade.

Eu não tinha resposta para isso.

A Senhora Scarlet continuou, — Não podemos deixar a recepcionista corando


toda vez que um cliente chega.

— O que a senhora Scarlet está dizendo, — acrescentou a senhora


BlackBerry. — É que recebemos visitas de clientes de todo o mundo. Membros
exclusivos. Seu contentamento é nossa prioridade.
— Minha melhor amiga é gay, — eu disse. — Tenho a mente aberta. Nós
dividimos um dormitório.

— Você é gay? — Disse a Sra. BlackBerry.

Eu me contorci desconfortavelmente. Não havia regras nas entrevistas?

A Senhora Scarlet lançou um olhar para a colega antes de acenar para


mim. — Mia?

— Não, — eu disse, corando.

A Cabelo-Escuro acrescentou, — Mia, não cumprimos as regras que você


encontra em outros locais de trabalho. Talvez você se sinta mais confortável nesse
tipo de trabalho? Nós apreciamos sua visita aqui hoje. Nós fazemos isso.

Meu silêncio atordoado permaneceu.

A Senhora Scarlet se inclinou para frente. — Autocontrole, tato, maturidade,


sabedoria, essas são todas as características de que precisamos em nossa equipe.

A sala ficou em silêncio.

— Eu sempre fui boa em deixar as pessoas à vontade, — eu disse


suavemente.

Um telefone tocou em algum lugar do corredor, quebrando o silêncio, mas


sem tocar na tensão.

— O que precisamos, — disse a Sra. Scarlet — é de uma recepcionista para


facilitar as consultas. Cadastrar clientes. É um trabalho importante. Precisamos
de um indivíduo que possa respeitar a privacidade de nossos membros e fazer com
que se sintam bem-vindos. Como secretária do Dominador sênior, espera-se que
você tenha excelentes habilidades de comunicação e organização.

— Eu tenho isso, — eu disse.

A Cabelo Escuro ergueu o queixo. — Bem, isso é bom.

Houve outro silêncio constrangedor.

— Obrigada por ter vindo, — disse a Senhora Scarlet.

Eu me levantei e peguei minha bolsa. — Aqui está a minha... hum... Victoria's


Secret. — Coloquei minha calcinha de renda na mesa diante da Senhora Scarlet.

Com as bochechas queimando, recuei e me dirigi para a porta.


— Espere um momento, por favor, — disse a morena, levantando-se e
contornando a mesa.

Eu avistei suas botas de couro preto na altura da coxa. Os saltos pontiagudos


pareciam mortais. Elegantemente, ela se aproximou. Esta mulher impressionante
foi a primeira dominatrix que eu já conheci. Ela exalava confiança sexual e seu
perfume almiscarado de flores frescas e âmbar flutuava sobre mim; o cheiro
inebriante do Poison da Dior. No entanto, estranhamente, havia algo
reconfortante sobre ela. A sensação de que ela poderia lidar com praticamente
qualquer coisa. Ou qualquer um.

— O que Tara disse a você exatamente? — Ela ajeitou minha gola, que deve
ter ficado para cima o tempo todo.

Olhei para a Senhora Scarlet e a Senhora BlackBerry, enquanto tentava


controlar meu colarinho. — Tara mencionou que você veria isso como um gesto da
minha seriedade para...

— Prossiga? — Ela ronronou as palavras como uma pantera, bonita de se


olhar, mas pronta para atacar; o fascínio de uma dominatrix.

— Tara me disse que isso conseguiu o emprego para ela.

Ela se inclinou mais perto. — Tara tirou na nossa frente.

Eu me perguntei por que Tara deixou isso de fora.

Ela gesticulou para minha saia. — Você tem linhas da calcinha na sua saia.

Meu olhar encontrou a porta e eu segurei um estremecimento. Eu


simplesmente entrei no shopping no meu caminho para cá, peguei um fio dental
novo e rasguei a etiqueta. Embora nunca tivesse ficado sem calcinha, não importa
o quanto eu precisasse desse trabalho. Não estava pronta para nada parecido.

Essas mulheres se especializaram no lado negro do sexo. Se eu quisesse


trabalhar aqui, teria que provar que poderia lidar com o que quer que elas
jogassem em mim. Estudando os rostos do meu júri feminino, eu claramente falhei
em convencê-las de que poderia viver no limite. Em vez disso, me equilibrei
precariamente sobre ele, pronta para cair das alturas vertiginosas do
constrangimento duradouro e cair de bunda.

— Estou disposta a aprender. — Corri minha mão pelo meu cabelo,


admitindo que estava acabado. — Eu quero aprender.

Pantera olhou sob seus longos cílios negros para mim.

— Você nunca me disse seu nome? — Eu disse.


— Charlotte.

— Eu sou de Charlotte.

— Você nos contou.

Sim, eu tinha feito, e agora eu tinha me envergonhado de novo.

— Me chame de Lotte, — disse ela.

Houve um ping no BlackBerry da Sra. BlackBerry e ela olhou para cima. —


Manteremos contato.

Lotte permaneceu perto, como se testasse meus limites pessoais. — Vou te


mostrar a saída.

Percorremos um longo corredor. As obras de arte eram


deslumbrantes; pinturas góticas escuras alinhavam-se nas paredes de ambos os
lados e eu desejei que houvesse mais tempo para olhar para elas. O que quer que
estivesse pendurado no ar naquela sala tinha adquirido vida própria. Talvez tenha
sido a combinação de seus perfumes ricamente texturizados, o tipo que eu nunca
poderia pagar, misturado com a confiança guerreira dessas mulheres.

Eu me perguntei como todas elas acabaram aqui. O que as levou a esse estilo
de vida, escolha de couro preto e só Deus sabe o que em masmorras escuras e
sexualmente carregadas. O tipo que elas aparentemente tinham aqui no nível
mais baixo. Havia algo tão perverso em toda essa coisa de punição e prazer, e fiquei
fascinada com o que realmente aconteceu.

Depois que saímos por outra porta, voltando por onde eu vim, fomos em
direção ao elevador. Lotte apertou o botão de descer para chamar o elevador. Em
seu pescoço brilhou o maior diamante que eu já vi.

Ela girou os dedos ao redor da delicada corrente. — De um cliente muito


safado.

Minhas sobrancelhas levantaram antes que eu pudesse impedi-las. — O que


você fazia antes disso?

— Eu era farmacêutica.

— Isso paga melhor?

Lotte queimou um olhar através de mim. — Eu não faço isso por dinheiro.
— Seu olhar vagou para o outro elevador. Aquele logo atrás da mesa da
secretária. — Eu sou uma curandeira.

— Onde isso leva?


— É para lá que levamos nossos clientes, — disse ela com voz rouca.

Minha espinha formigou com antecipação. Eu discretamente observei seu


traje. Aquelas botas de cano alto e seu espartilho de couro justo que rangia
sedutoramente quando ela se movia; a forma como seu decote claro se erguia acima
da delicada borda de renda. O aroma picante de incenso flutuou no ar e a música
fluiu de alto-falantes ocultos; um canto profundo e estranho que era tão calmante,
tão atraente, que fez meu estômago estremecer. Era tudo tão proibido.

Lentamente, ela enrolou uma mecha do meu cabelo comprido na ponta do


dedo. — Você é loira natural?

— Sim.

— Lindo, — disse ela. — Parece que você saiu de um William-Adolphe


Bouguereau.2

— Hum…

— Um pintor. — Ela sorriu suavemente. — Ele sabia retratar a alma de


uma mulher. Ele teria capturado perfeitamente seu corpo delicado, esses olhos
azuis profundos e seus lábios em forma de botão de rosa. — Ela se inclinou mais
perto. — Apenas os antigos mestres poderiam ter pintado sua inocência.

Seguiu-se um constrangimento.

Depois de entrar no elevador, prendi a respiração até as portas se fecharem. A


Senhora Lotte exalava uma sensualidade sobre a qual eu só li. Aqueles últimos
minutos deixaram minha cabeça girando, como se eu tivesse acordado de um
sonho. Observei os caros espelhos de corpo inteiro, o carpete felpudo e os botões de
última geração. Olhei ao redor em busca de uma câmera, mas não consegui ver
nenhuma.

Meu Mini-Cooper estava estacionado entre um BMW prata e um Jaguar


preto. Eu gemi quando vi óleo escorrendo debaixo do meu carro, manchando o
concreto. Eu esperava que meu Mini pelo menos ligasse e eu não chamasse a
atenção indesejada tendo que acelerar o motor para fazê-lo funcionar.

Demorando alguns minutos no ar fresco, absorvi toda aquela


grandiosidade. Este clube de Hollywood Hills intimidava até do lado de fora com
seu design de alvenaria chique, uma fachada ornamentada se destacando como

2 William-Adolphe Bouguereau (La Rochelle, 30 de novembro de 1825 – La Rochelle, 19 de


agosto de 1905) foi um professor e pintor acadêmico francês. Sua pintura se caracteriza pelo perfeito domínio da
forma e da técnica, com um acabamento de alta qualidade, obtendo efeitos de grande realismo.
uma majestosa declaração de privilégio. Eu realmente acreditei que uma garota
como eu poderia trabalhar em um lugar tão elegante como Enthrall?

O que diabos eu estava pensando?


CAPÍTULO 2

Um novo grau de humilhação havia me encontrado.

Aparentemente, descobri maneiras originais de me envergonhar. Sentei-me


no balcão da cozinha do meu apartamento, repassando a entrevista infernal sem
parar.

Enterrei meu rosto em minhas mãos.

Esse sonho de um apartamento de um quarto teria que esperar. Quando me


mudei para este estúdio, parecia um palácio com mais espaço do que eu já tive
para mim. Embora agora eu tivesse superado isso, e toda essa mobília de segunda
mão me fizesse sentir como um fracasso. Aquele velho sofá de canto com suas
almofadas estrategicamente posicionadas para esconder as manchas deixadas pelo
antigo dono. Aquela geladeira velha e frágil que me acordava todas as noites
enquanto estremecia, tentando cuspir cubos de gelo de seu congelador há muito
quebrado.

Este copo de Sauvignon Blanc não fez nada para acalmar minha
decepção. Raiva de mim mesma por desperdiçar uma oportunidade tão grande não
diminuía. A ideia de que eu não tinha me preparado adequadamente e permitido
que a chance de ganhar algum dinheiro de verdade escorregasse pelos meus dedos
trouxe ondas de arrependimento.

Eu realmente entreguei um par de calcinhas durante uma


entrevista? Colocar aquelas Victoria's Secret na frente da Senhora Scarlet como
uma dica de que eu não estava usando nenhuma? O que elas pretendiam fazer com
calcinhas, afinal?

Tara tinha me decepcionado da pior maneira e eu tentei entender por que ela
queria me sabotar. Ela namorou Bailey, minha melhor amiga, por mais de um ano
e eu sempre gostei dela, muitas vezes saindo com elas nos fins de semana e nunca
me sentindo como uma terceira roda. Nenhuma vez Tara mostrou qualquer sinal
de ciúme, embora Bailey e eu tivéssemos uma longa história de amizade, tendo
crescido juntas em Charlotte. O relacionamento de Tara e Bailey estava um pouco
tenso ultimamente, mas isso não tinha nada a ver comigo. Tara estava ameaçando
voar para a Austrália para se juntar ao irmão que morava lá. Eu odiava ver quanto
estresse isso causava a Bailey, embora tudo que ela quisesse era que Tara fosse
feliz.

A reação positiva de Bailey ao me candidatar a este novo emprego foi


surpreendente, considerando o quão antiquada ela era, mas ela viu todo o azar que
apareceu em meu caminho. Ela sabia em primeira mão como a vida tinha sido uma
merda para mim.

O ciúme de Tara estava aparecendo pela primeira vez? Eu tinha ido para a
entrevista despreparada, parecendo excessivamente inocente, todos os cachos
loiros presos e olhos de farol

Tara sabia o quanto eu precisava desse dinheiro, o quão importante era para
mim colocar minha vida de volta nos trilhos e me aliviar do afogamento. Minha
madrasta, Lorraine, tinha mais contas médicas se acumulando e eu prometi cuidar
dela. Tirar um pouco do estresse que ela estava sofrendo. Ainda assim, Lorraine
estava em remissão agora devido a toda aquela quimioterapia e essa foi uma
oração respondida. Tendo me acolhido depois que meu pai morreu, Lorraine me
salvou da vida nas ruas e agora era minha vez de salvá-la.

Suspirei profundamente, percebendo que estive tão perto de conseguir.

Aquele último olhar que a Srta. Lotte me deu ainda era assombrado, e vindo
de uma dominatrix só fez piorar as coisas. Aqueles olhares de desaprovação das
outras duas mulheres alcançaram o efeito desejado, fazendo-me sentir
insignificante. Mais perturbador ainda, minhas respostas banais não permitiram
que elas vissem minha personalidade otimista, minha atitude positiva de viver e
minha capacidade de abordar tudo com um coração e mente abertos. Eu parecia
uma colegial assustada. Eu estraguei tudo.

Com reverência, peguei a pequena bolsa de plástico retangular contendo o


cartão de beisebol 1952 do Mickey Mantle em perfeitas condições. Eu tinha
acabado de recuperá-lo daquela caixa de metal que mantive escondida no
armário. Eu tirava para momentos como este. Uma tábua de salvação para o meu
passado e eu achava reconfortante olhar para ela. Me lembrava do meu pai. Eu
consegui resgatá-lo de um baú que ele deixou depois que morreu. Sua viúva,
Lorraine, vendeu todo o resto em uma feira de troca em Rose Bowl. Precisávamos
do dinheiro. Ela não me viu vasculhar suas coisas e tirá-las. Eu me senti culpada
como o inferno, pois iria render cerca de dez mil dólares, talvez até mais, o que era
uma pequena fortuna para mim. Eu tinha valorizado o cartão uma vez, quando a
fome me empurrou, mas quando chegou a hora de deixá-lo ir, eu não fui capaz de
me desfazer dele. Este cartão do Mickey Mantle era minha única lembrança do
meu pai.

Se eu não conseguisse esse emprego, teria que vendê-lo.

O vinho tinha um gosto amargo. Tendo optado pela garrafa mais barata, sofri
agora as consequências de beber o branco excessivamente fermentado; um som
agudo persistiu. Ainda assim, sua promessa de anestesiar essa dor no meu peito
me manteve bebendo.
E imaginar que passei horas pensando se me sentia pronta para trabalhar
em um clube de fetiche. Eu me auto explorei com resultados surpreendentes e
cheguei a um acordo com a ideia de um lugar como o Enthrall. Eu me assegurei de
que simplesmente estaria trabalhando como secretária deles. Não que isso
importasse agora.

Permaneceu a curiosidade pelo que acontecia naquelas masmorras. Um


fascínio pela Senhora Lotte que, de acordo com Tara, foi uma das dominatrixes
mais renomadas de LA. Seu mundo BDSM de couro preto e chicotes estava a um
milhão de milhas de distância do meu.

Eu dei outro gole e estalei meus lábios para suavizar o sabor forte atacando
minha língua.

Meu iPhone tocou e eu o afastei. Eu não me importava com quem estava


ligando. Eu não ia responder. Minha mão me traiu e eu olhei para o número. Esse
não era o código de área de Santa Monica? Ou mesmo Hollywood Hills?

Tomei um gole de vinho.


CAPÍTULO 3

Bailey tinha vindo até mim para meu socorro mais uma vez.

Ela emprestou todos os seus vestidos pretos até que eu pudesse sair e
comprar os meus. Preto é o código de vestimenta da Enthrall.

Minha cabeça ainda estava girando porque eu realmente consegui este


trabalho. Fale sobre interpretar as pessoas de maneira errada. Essas três megeras
realmente gostaram de mim. Que porra de virada.

Minha mesa tinha um design simples, com seu elegante painel frontal de
vidro perfeito para exibir minhas novas botas. O computador de tela plana era fácil
de navegar e Lotte me deu o diário da Enthrall, no qual eu marcaria todas as
consultas.

Usando este vestido Elie Tahari Estelle3, eu esperava causar a melhor


impressão no meu primeiro dia. Junto com minhas botas pretas Calvin Klein de
salto alto, que foi o único item que eu pude comprar novo em uma liquidação da
Macy's.4

Eu já sentia falta dos meus amigos da loja de arte e prometi a eles que
manteria contato, assim como fizera com meus amigos do Cheesecake que
tornavam aquelas longas noites de garçonete ainda mais suportáveis. Eu disse a
eles que meu novo trabalho era como anfitriã em uma boate, sem ter certeza do
que eles pensariam de mim se eu contasse a verdade. Eu ainda precisava contar
para Lorraine.

Respirando o cheiro fresco de incenso, fiquei maravilhada com a rapidez com


que tudo isso aconteceu. Minha vida deu o que parecia ser uma virada de 180
graus. Um senso de ordem me atingiu pela primeira vez em anos. Meu medo de
ter falhado miseravelmente na minha entrevista foi substituído por uma sensação
de orgulho por eu ter conseguido. Minha única chance de deixá-los ver meu
potencial tinha ido muito melhor do que eu pensava. Excitação cresceu em meu
peito enquanto eu olhava tudo.

Atrás da porta principal à minha esquerda, onde os clientes não podiam se


aventurar, havia três escritórios luxuosamente decorados. Em seguida, vinha a
luxuosa sala de café bem abastecida, e eles até tinham um vestiário para

3 Estilista e marca do vestido (vestido formal até o joelho)


4 Macy's é uma rede de lojas de departamentos fundada na cidade norte-americana de Nova Iorque. Foi

fundada em 1858 por Rowland Hussey Macy. A maior dessas lojas fica em Nova Iorque, ocupando um quarteirão
inteiro, e é apelidada de a maior loja do mundo.
funcionários que também funcionava como spa. Isso me lembrou de um daqueles
lugares sofisticados onde você gasta uma fortuna para ser mimada no seu
aniversário, com seu perfume celestial de sândalo e a cabeça de Buda apoiada em
uma cachoeira elegante empurrada contra a parede oposta. Um banco de madeira
ficava de frente para a equipe que precisava zen-out5. Havia até uma jacuzzi e uma
sauna lá; o bebedouro de água gelada com limão deu um toque agradável. Fiquei
tonta de empolgação quando Lotte me convidou para usar as instalações.

O outro elevador de Enthrall estava atrás de mim. Era um portão dourado


cruzado à moda antiga, proporcionando uma entrada dramática para o nível mais
baixo. Lotte dera ordens estritas de que em nenhuma circunstância algum hóspede
poderia se aventurar ali sem consentimento prévio. Ela me aconselhou que eu
também era proibida. Embora ser banida da masmorra fosse bom para mim.

A área da recepção era toda de madeira escura e pouca iluminação. Parecia


um tema familiar. O sofá de veludo cor de vinho parecia aconchegante. O piso de
madeira dava uma sensação de loft, embora as paredes de um vermelho profundo
da entrada emitissem uma aura perturbadora. Havia uma perfeição aqui que me
deixava inquieta. Eu iria me acostumar com isso?

Ouvi um ping do elevador da frente.

Preparando-me para encontrar o primeiro cliente do dia, pensei em como iria


cumprimentá-lo e que tipo de palavras poderia usar para suavizar o que deve ser
uma provação embaraçosa de precisar visitar este lugar. Abrindo o diário de
compromissos de Enthrall e examinando a página de hoje, não consegui ver
nenhum compromisso agendado antes das 14h.

As portas do elevador abriram e um homem alto e arrojado de vinte e poucos


anos saiu, seu cabelo loiro-arenoso curto balançado pelo vento, a alça de sua bolsa
esticada sobre o peito. Ele se aproximou rapidamente de mim com a mão em
concha no olho direito.

— Oi. — Ele acenou para mim e se dirigiu para a porta dos funcionários.

Eu voei do meu assento e abri meu caminho entre ele e a porta. — Sinto
muito, senhor, mas isso é apenas pessoal, — disse eu, orgulhosa da autoridade em
minha voz.

Eu estava imprensada entre ele e a porta.

Ele olhou para mim com seu rosto nobre e inteligente. O tipo que sugere boa
criação, como se seus pais fossem impressionantes. Como se ele tivesse saído da

5
Um local onde a pessoa pode ficar enquanto estiver precisando relaxar, ficar fora por um
tempo.
capa de uma revista de iates, todo bronzeado e privilegiado. Sim, lindo, era isso, e
robusto ao mesmo tempo. Uma combinação hipnótica.

— Minhas lentes de contato estão penetrando na minha íris. — Ele franziu


o rosto. — Por favor, saia do meu caminho.

— Senhor, vou ter que pedir-lhe para se sentar.

— De que agência de trabalho temporário você é? — Ele disse.

— Eu não sou uma temporária. Eu trabalho aqui em tempo integral.

— Não, você não faz. — Ele ferveu, agarrando a maçaneta e abrindo a


porta. Ele me empurrou para o lado e disparou pelo corredor.

Irritada com sua arrogância, corri para minha mesa e apertei o botão de
pânico.

Nada.

De que adiantava um alarme se ninguém respondesse? Abri a porta e espiei


o corredor. Pelo menos eu avisei que tínhamos um intruso.

A Senhora Lotte apareceu, demorando para reiniciar o alarme no que parecia


ser um painel de ar condicionado na parede. — Mia. — disse ela. — Está tudo
bem.

— Você o conhece? — Meu olhar se moveu por cima do ombro dela e pousou
no jovem que havia entrado.

Ah Merda.

Ele se fixou em mim com uma intensidade ofuscante, seus olhos azuis meia-
noite queimando através de mim. Traços cinzelados tão bem usados em um rosto
orgulhoso. Uma confiança nervosa. Ele usava óculos de aro redondo, tendo tirado
suas lentes de contato, e aquela sombra de barba de cinco horas que eu não tinha
percebido quando ele apareceu pela primeira vez com ar de não mexa
comigo. Mesmo assim, ele se vestia como mauricinho, sua camisa branca aberta
no colarinho e sua jaqueta preta agora removida.

Lotte gesticulou em sua direção. — Mia, este é Richard Booth. Seu novo
chefe. — Ela se virou. — Mestre Richard, tenho o prazer de apresentá-lo à sua
nova secretária, a Sra. Lauren.

Minha pressão arterial disparou e minhas pernas tremeram quando percebi


que este homem incrivelmente bonito, este aparentemente dominante, era meu
chefe.
Eu estabilizei minha respiração.

— Mia é bem treinada, — disse Lotte. — Veja, nem mesmo nós podemos
entrar. — Ela fez uma piada.

— Por que não consegui entrevistá-la? — Ele disse friamente.

— Temos a aprovação do diretor, — disse Lotte — ele quer que você saiba
que isso não é negociável.

— Quando algo é negociável com ele? — Disse Richard.

— Diga olá, — sussurrou Lotte para ele.

Seu comportamento dominador teve o efeito esperado sobre ele.

Ele cedeu com um aceno de cabeça. — Srta. Lauren, gosto do meu café
branco6 com um açúcar. Meu escritório, cinco minutos.

— Por favor, — eu disse.

Lotte me lançou um olhar de surpresa.

— Por favor, — disse ele com uma carranca.

— Me chame de Mia, — eu disse, lembrando de Tara me dizendo para agir


com autoconfiança. — Posso chamá-lo de Richard?

Ele girou nos calcanhares e saiu pela porta.

— Mostre aquele seu doce sorriso, — disse Lotte. — Ele está prestes a voltar.

Um pouco desconcertada por ele não saber sobre a minha contratação, passei
por Lotte e fui para a cozinha.

Inalei o aroma fresco dos melhores grãos de café. Eles também eram caros,
com base no preço do pacote. Refletindo sobre como o cheiro era sempre melhor do
que o gosto, adicionei leite da caixa que encontrei na geladeira de aço inoxidável,
peguei um sachê de adoçante e um sachê de açúcar branco e saí. Parando diante
da porta de Richard, roubei um momento para levantar minha guarda,
preparando-me para fingir indiferença. Richard era um pouco assustador.

6
O nome café branco não tem nada a ver com a cor do café. A palavra realmente significa "sem"
e "nada acrescentou" no processo de torra. O café regular é normalmente feita com grãos torrados e
açúcar, mas café branco é feito com apenas a margarina - sem ou com açúcar, dando-lhe uma tonalidade
mais clara.
Ele estava ao telefone e gesticulou onde eu poderia colocar sua caneca,
apontando para uma base de copos prateada em sua mesa. Com cuidado para não
derramar nada, coloquei-o na base de copos e dei um passo para trás. Richard
exalava intensidade mesmo quando não estava olhando para você. Fiquei feliz em
sair de lá.

— Mia? — Ele chamou atrás de mim, sua mão cobrindo o receptor. — Um


momento por favor.

Aproximei-me de sua mesa novamente.

Ele vasculhou uma pasta bege aberta em sua mesa. — Eu tenho o arquivo
dele aqui, — disse ele ao interlocutor. — O que aconteceu?

Este deve ser o escritório mais chique que eu já estive, com suas paredes de
painéis de madeira e uma estante ainda mais escura. Em vez de livros, ele
abrigava vários ornamentos: um Buda na prateleira mais baixa seguindo o tema
do vestiário, um iate à vela descansando na prateleira mais alta, e logo abaixo
dela, enfiado dentro de outra alcova, estava um enroscado um polegar
medieval. Isso realmente chocou com o Buda.

Ao longo da parede esquerda, no fundo, repousava um sofá de couro de


luxo. Eu o imaginei esticando aquelas pernas compridas e tirando uma soneca
durante sua pausa para o almoço.

À direita estavam penduradas três fotografias em moldura preta. Um único


homem foi capturado em cada um, realizando algum tipo de façanha ousada. No
primeiro, o homem literalmente pendurado em uma rocha, a foto tirada de um
helicóptero; o homem não estava usando cinto de segurança. A foto do meio pegou
um homem pulando do topo da Torre Eiffel, um fino paraquedas amarrado às
costas. Na terceira foto, facilmente a mais extrema das três, um homem
estendendo a mão além dos limites de uma gaiola subaquática em direção a um
tubarão.

Desviei o olhar e me perguntei se Tara já havia decidido ir para a Austrália,


embora esperasse, pelo bem de Bailey, que ela mudasse de ideia.

— Com certeza, revogue sua associação, — disse Richard. — Reembolse-o.


— Ele olhou para mim.

Eu afastei minha cabeça da foto do tubarão. De alguma forma, a coisa me


atraiu de volta.

— Não, concordo totalmente, — acrescentou Richard. — Dominic, obrigado


por cuidar disso. Vejo você mais tarde. — Ele desligou e seu olhar seguiu o meu.
— Esses homens são malucos, — eu disse, embora aquele que tentava dar
um tapinha no tubarão fosse certificável.

— Ele puxou o braço antes que o grande tubarão branco se aproximasse, —


disse Richard. — Muito covarde, se você me perguntar.

Eu dei a ele a carranca que merecia.

Ele tomou um gole de café e fez uma careta.

— Oh. — Eu abri minha palma. — Eu não tinha certeza se você queria


adoçante ou...

Ele apontou. — A coisa real.

Rasguei o sachê e derramei cristais brancos em seu café, mexendo com a vara
de madeira antes de jogá-la na lixeira embaixo de sua mesa.

Richard deu outro gole. — Melhor. — Seu olhar baixou. — Boas botas.

— Elas são novas. — Eu suprimi um estremecimento com a minha resposta


embaraçosa.

— Eu gosto delas.

Essa era a dica de gentileza que eu precisava ver do homem para quem eu
estaria trabalhando e foi bom ter um vislumbre de sua consideração.

Ele tomou outro gole. — Lotte já examinou tudo com você?

— Ela fez.

Ele girou em sua cadeira de encosto alto. — Você entende completamente o


que fazemos aqui e está cem por cento a bordo disso?

— Oh, sim, — eu disse, esperando que ele não perguntasse detalhes.

— Todos os dias você chegará meia hora antes de mim. Verifique meus e-
mails e diga quais são urgentes. Não responda em meu nome. Nunca. — Ele se
inclinou para frente. — Em primeiro lugar, vamos revisar os compromissos do
dia. Nem todos estão reservados para Enthrall. — Ele acenou. — Podemos
repassar isso mais tarde.

— Obrigada por esta oportunidade, — eu disse. — Sou muito grata.

Ele pareceu surpreso. — Eu não contratei você. O diretor fez.

— Oh.
Ele se inclinou para trás e aquele olhar gelado demorou um pouco demais em
mim.

— Outro café? — Eu disse.

— Ainda não terminei este. — Seu olhar se recusou a ceder.

Senti uma vibração em meu plexo solar, uma sensação estranha que não
consegui identificar.

Richard abriu uma gaveta lateral e enfiou a mão dentro.

Ele estendeu a mão para mim. — Aqui.

Avancei e tirei a chave de sua mão e seu toque fez meus dedos
formigarem. Ele puxou a mão de volta.

— É para o portão do elevador para a masmorra, — disse ele. — É seu


trabalho abrir o portão para convidados e seus acompanhantes. Mantenha isso
escondido. Não leve para casa. — Ele estreitou o olhar. — Não desça lá sem
minha permissão. Fui claro?

Eu dei um aceno de cabeça.

— Isso é tudo por agora.

Eu me dirigi para a porta.

— Faça nossos clientes felizes, — disse ele. — Isso é tudo que pedimos de
você. Seja educada. Paciente. Gentil.

— Claro, — eu disse, voltando-me para encará-lo. — O que mais eu seria?

Seu olhar penetrante me encontrou novamente. — Buda Nove.

— Desculpe?

— A senha da minha conta do Gmail.

— Entendi. — Fechei a porta atrás de mim.

Na cozinha, me servi de um café com o que sobrou e voltei para a minha


mesa. Em minutos, usei o código de Richard para acessar seus e-mails. Nervosa
que ele saberia se eu vasculhasse os antigos, o que eu realmente queria fazer,
resisti.

Além de um novo e-mail de um Cameron Cole, confirmando o encontro com


Richard mais tarde esta noite em algum lugar chamado Soho House, nada mais
apareceu por várias horas. Isso me deu tempo para reorganizar minha mesa. Os
materiais de escritório estavam espalhados por todo o lugar, então demorei um
pouco mais de uma hora para me organizar.

O elevador apitou e eu sabia que esperava Monsieur Trourville. Seu nome


havia sido escrito com capricho no diário de Enthrall para um encontro às 14h00.

Lotte havia explicado que os clientes ficavam desconfortáveis com seus nomes
sendo armazenados em qualquer tipo de banco de dados, portanto, todos os
compromissos eram escritos a lápis e apagados pela secretária quando o cliente se
apresentava. Fiquei imaginando como eles faziam o acompanhamento para fins de
cobrança e impostos, mas não ia mencionar isso, caso ela entregasse esse aspecto
da administração de Enthrall para mim. Ficar aqui na recepção, transferir uma
ligação ocasional, digitar uma carta estranha para Richard, bem como dar as boas-
vindas aos convidados, era uma sensação agradável. Depois de tentar manter dois
empregos, fiquei grata pela folga. E só isso pelo incrível salário de setenta e cinco
mil dólares por ano mostrou que eu havia caído de pé pela primeira vez.

Monsieur Trourville caminhou pelo corredor. Me levantei para cumprimentá-


lo. Seu nome o fazia parecer velho, mas ele estava na casa dos trinta. Seu ar de
superioridade quebrou quando ele sorriu. Ele parecia tão formal em seu terno de
três peças e colete. Um rosto amável e um nariz arqueado majestoso teriam dito
europeu, mesmo que seu nome não fosse.

— Monsieur Trourville, — eu disse, — posso pegar uma bebida para você?

— Não, mas obrigado, — disse ele. — Você deve ser a nova secretária de
Enthrall? A Senhora Lotte me disse que uma nova garota estaria aqui quando eu
entrasse.

Eu fui apertar sua mão. — Eu sou Mia.

Horrorizado, ele olhou para minha mão. — Eu não…

Lotte irrompeu pela porta dos funcionários. — Monsieur. — Sua gentileza


usual se foi, seu comportamento dominador. — Senhor, você está atrasado. Isso é
inaceitável.

O relógio de parede provou que ele estava de fato na hora certa. Mesmo
assim, ele aceitou essa acusação e baixou a cabeça de vergonha.

— Vejo que você conheceu nossa nova secretária. — Ela se virou para
mim. — Abra o portão, por favor, Sra. Lauren.

Aliviada que a severidade de Lotte não foi dirigida a mim, retirei minha chave
bem escondida da segunda gaveta. Eu a coloquei na fechadura do portão dourado
cruzado. Tudo girou suavemente. Com o aceno de Lotte, eu abri e chamei o
elevador com um toque de um botão. As portas se abriram e Monsieur Trourville
e Lotte entraram.

— Tranque-o, — disse Lotte.

As portas se fecharam para eles.

Eu esperava que eles tivessem outro meio de escapar, caso fosse


necessário. Embora, para ser honesta, a maneira como Lotte tinha Monsieur
Trourville sob seu controle era a menor de suas preocupações.

Lotte carregava um chicote.


CAPÍTULO 4

Depois de uma semana, realmente senti que tinha pegado o jeito.

Richard tinha ficado fora do meu caminho, quase não me dando trabalho para
fazer, e eu realmente consegui encontrar na sala de café com Lotte, Scarlet e a ex-
Sra. BlackBerry, agora conhecida como Lady Penny. Embora Penny só trabalhasse
parte do tempo na Enthrall, aparentemente.

Fiquei grata quando elas me acolheram em seu grupo, oferecendo palavras


de encorajamento e compartilhando sua sabedoria sobre todas as lições de vida
que aprenderam sobre trabalho, amor e, como Scarlet disse, o mais importante,
compras. Tudo isso enquanto compartilhavam biscoitos caseiros que Lotte
trouxera. Elas podem ter parecido ameaçadoras em suas roupas de dominatrix,
mas foram gentis comigo.

Tive o prazer de fazer café para elas todas as manhãs e garantir que elas
tivessem tudo de que precisavam, anotando recados para elas, fazendo visitas aos
correios, lavanderia e até mesmo pegando algum item de mercearia ocasional.

O destaque do meu dia foi comer meu almoço nos fundos do clube, no jardim
privado com vista para o lago de carpas. Assistir aqueles peixes laranja e
prateados nadando teve um efeito calmante, e eu me perguntei por que ninguém
mais aproveitou esta configuração.

De volta à minha mesa, faltando meia hora para a próxima consulta de


Monsieur Trouville, abri minha carteira e gastei meia hora ou mais calculando
onde estava financeiramente e estimando que seria capaz de pagar as contas
médicas da minha madrasta em cerca de dois anos. Isso, é claro, se eu mantivesse
meus gastos em dia. A luz brilhou no final deste túnel escuro, embora dificilmente
se comparasse aos anos mais negros da minha vida. Esse prêmio foi para perder
minha mãe verdadeira depois que ela teve uma overdose de cocaína, logo após meu
aniversário de 14 anos, e alguns anos depois meu pai bateu com sua motocicleta
em um acidente fatal.

Com um arrepio, enterrei esses pensamentos onde pertenciam, longe do lugar


em que eles poderiam me tocar ou me machucar mais. Eles não tinham o direito
de infringir minha nova vida e lançar uma nuvem negra sobre o que prometia ser
um futuro melhor. Minhas mãos agarraram a borda da mesa.

O elevador da entrada apitou.

Eu me levantei. Desta vez, permaneci atrás da mesa. Trourville não queria


ser tocado, de acordo com Lotte.
— A menos que sejam extremos de prazer ou dor, — ela me disse.

Eu me perguntei que coisas terríveis poderiam ter acontecido com ele para
torná-lo assim. Por fora ele parecia tão calmo, tão normal.

Monsieur Trourville saiu carregando uma pasta. Um aceno sutil o deixou


saber que ele tinha minha empatia. Com uma olhada no relógio, estimei que ele
estava pelo menos dez minutos adiantado e imaginei que ele devia estar
compensando o atraso da última vez.

— Bom dia, senhor. — Eu o cumprimentei.

Ele se demorou diante da minha mesa. — Você foi gentil comigo quando nos
conhecemos. Eu quero te agradecer por isso.

— Claro, — eu disse. — O prazer é meu. — Eu esperava que minha


gentileza pudesse contrabalançar a severidade de Lotte. — Posso pegar alguma
coisa para você?

Ele apoiou a pasta na mesa e a abriu. — Eu tenho um presente para você.


— Ele apresentou a caixa embrulhada em prata e vermelho do tamanho de uma
mão. — Eu esperava que você usasse isso da próxima vez que eu entrar?

— Eu adoraria. — Lembrando-me do diamante cegante que ele deu a Lotte,


eu o peguei dele, tomando cuidado para não tocar em sua mão. Ele estava
insinuando que eram brincos?

— Isso significaria o mundo para mim.

— Então será um prazer. — Eu me perguntei por quanto tempo eu poderia


ficar com o presente antes de revendê-lo. Se esses diamantes tivessem a metade
do tamanho dos de Lotte, eu pagaria minha dívida em um piscar de olhos.

Ele baixou o olhar. — Se você realmente usá-los, verei você ganhar um bônus.

— É claro que vou usá-los, — eu disse, espantada com sua generosidade.

Lotte irrompeu pela porta dos funcionários.

Onde eu esperava vê-la satisfeita por Monsieur Trourville ter chegado cedo,
em vez disso ela parecia irritada. Seu olhar mudou para a caixa. Eu a agarrei no
meu peito.

— Você pode ficar com ele, — disse Lotte, apontando o chicote para
Trourville. — Você está esperando clemência por isso?

— Nunca, Senhora, — ele disse.


Eu pulei para a chave.

— Srta. Lauren, vamos abrir seu presente juntas, — ela disse severamente.

— Sim, Senhora Lotte, — eu disse, sorrindo para Monsieur Trourville.

Eu coloco a caixa ao lado do computador.

Eles desapareceram na zona proibida e fechei o portão atrás deles.

Ainda dava tempo para continuar minha pesquisa sobre o tipo de coisas que
eles faziam aqui. Abri o navegador, digitei S&M e desapareci no ciberespaço...

Eu não conseguia entender por que alguém iria querer ser amarrado e
amordaçado daquele jeito. Sem mencionar onde eles estavam empurrando aqueles
brinquedos sexuais. E que diabos era aquela expressão em seus
rostos? Benção? Não entendia.

Essa rápida escapada me deixou perplexa.

Eu descansei na cadeira, sem ter certeza do que estava olhando e me


perguntando se eles faziam alguma daquelas coisas aqui. Talvez eu tenha
acessado os sites errados. Imagens hardcore de homens vestidos de couro usando
todos os tipos de acréscimos em mulheres nuas me deixaram atordoada e, ainda
assim, estranhamente excitada. Richard não parecia o tipo de se envolver em nada
assim. Ele sempre estava com a cabeça em um livro, como algo escrito por Chaucer
na semana passada e, mais recentemente, Jude the Obscure, de Thomas Hardy.

Apertando minhas pernas, tentei afastar esses sentimentos agitados entre


minhas coxas. Minha imaginação disparou pensando em Richard fazendo essas
coisas comigo em sua masmorra. Aquela da qual fui banida. O que tornava tudo
ainda mais misterioso. Ainda mais proibido.

Meus pensamentos dispararam...

Richard me espancando. Richard me beijando. As mãos de Richard


percorrendo meus seios e beliscando meus mamilos. Ele alguma vez usou pinças
de mamilo como as das fotos? Elas não doem? Depois de uma sessão, você poderia
se aconchegar nele para um abraço? Eu o respiraria, aquele cheiro delicioso de
oceano e algo mais, algo caro.

Uma vibração de excitação. O formigamento mais agradável abaixo...

O beijo de Richard diminuindo, estabelecendo-se entre minhas coxas, sua


língua traçando entre aquela fenda delicada, circulando lá, sacudindo...

Um ping do elevador.
Peguei o mouse e minimizei o navegador, fingindo estar ocupada.

Richard saiu. — Como foi sua manhã?

Desviando meus olhos dos dele, eu disse. — Boa, obrigada.

— Alguma ligação?

— Sem ligações. Monsieur Trourville acabou de chegar. Lotte está com ele.
— Eu olhei de volta para o portão.

— Tudo bem, Mia?

— Sim, — eu disse, suprimindo um rubor.

A maneira como ele disse meu nome causou um arrepio e achei difícil olhar
para ele. Não depois da viagem que minha imaginação acabara de fazer com ele
naquela sala de dor. Seu olhar estreito travou no meu.

— Como está sendo o seu dia? — Eu disse.

— Acabei de chegar aqui. — Seu olhar estava no meu presente


desembrulhado. — Monsieur Trouville deu isso a você?

— Sim. Não abri ainda, — eu disse o óbvio. — Lotte quer que eu espere por
ela. — Eu engoli em seco. — Senhora Lotte.

— Ah.

— O café está quase pronto.

— Perfeito. Vá colocar um na minha mesa, por favor.

Um arrepio percorreu minha espinha e eu congelei, me sentindo culpada por


minha investigação cibernética.

Richard se inclinou para olhar a tela do meu computador. — Você precisa de


um novo plano de fundo para sua área de trabalho. — Ele deu a volta ao meu lado
e fez um gesto para que eu me levantasse.

Ele se sentou na minha cadeira e pegou o mouse, sacudindo-o para ativar a


tela. Mentalmente, voltei atrás para saber se fechei o navegador do último site. A
mão de Richard estava pousada no mouse e seu olhar ainda estava no meu.

— Vou buscar o seu café. — Eu fui embora.

O medo de ele pegar minha pesquisa na internet com um clique fez minhas
bochechas queimarem. Inclinando-me contra o balcão da cozinha, enterrei meu
rosto em minhas mãos. Eu só podia imaginar o quão inútil eu seria se ele
realmente me tocasse lá embaixo. Tentando me concentrar em outra coisa,
trabalhei em fazer o café de Richard, adicionando açúcar e leite à sua bebida e
caminhando para o escritório enquanto tentava acalmar meu coração ainda
disparado.

Coloquei uma caneca de café quente em sua mesa. Tudo nela estava
perfeitamente organizado. Até os lápis foram alinhados e separados com precisão,
assim como a coleção de canetas de luxo. Seu computador, iMac, parecia caro com
seu design elegante e o elegante mouse arqueado à sua frente.

Richard me assustou quando ele entrou.

— Ouvi dizer que você gosta do tanque de carpas? — Disse ele, jogando sua
mochila no sofá de couro. Pela sua expressão imperturbável, parecia que ele não
tinha percebido minha navegação na web. Ou o efeito que ele teve sobre mim.

— É relaxante. — Dei de ombros. — Você deveria ir lá durante o seu


intervalo também.

— Eu faço. Eu uso a escada de incêndio.

Eu me perguntei que tipo de saída eles teriam na masmorra, embora não me


sentisse pronta para discutir isso com ele, caso a conversa mudasse para o que ele
fez lá embaixo.

— Você precisa de algo? — Ele disse.

— Hum, não.

Ele ergueu as sobrancelhas em diversão.

Ao sair, senti seu olhar.

De volta à minha mesa, fiquei grata pela distância entre minha estação de
trabalho e seu escritório. Ele definiu meu plano de fundo para a imagem de um
jardim japonês com um lago de carpas. A visão da foto reconfortante fez meus
ombros relaxarem e me fez sorrir por ele ter tido tempo para fazer isso por
mim. Talvez ele gostasse de mim afinal. Eu me assegurei de ter removido todas as
evidências de minha exibição muito antes de Richard ter a chance de vê-las. Eu
não tinha me preocupado com nada.

Minha caixa embrulhada para presente tinha sumido.

Verificando cada gaveta, me perguntei se Richard a havia guardado com


segurança.

O telefone tocou. — Você pode entrar aqui, por favor, Mia, — a voz do Richard
saiu do viva-voz.
Infeliz por deixar minha busca inacabada, pulei da cadeira e peguei meu bloco
de notas e caneta.

Esperando que ele levantasse os olhos de algo rabiscado, demorei-me diante


da sua mesa. Meu presente estava ao lado do seu telefone.

— Estou com pouca tinta. — Ele me passou um post-it. — Normalmente,


fazemos o pedido, mas minha última secretária estava um pouco distraída. — Ele
sorriu. — Ela fez exames e isso confundiu seu cérebro. Você pode pegar isso para
mim no estoque?

— Certo.

Richard pousou a mão no presente. — Espero que você não se importe. Achei
melhor devolver isto.

— Por quê?

— Não tem nada a ver com qual é a sua função. — Ele se recostou. — Vou
explicar isso a Monsieur Trouville. — Richard apertou os lábios em um obrigado
isso é tudo.

— A Senhora Lotte escondeu o presente dele.

— Ela é sua Dominatrix. — Ele tomou um gole de café. — De qualquer forma,


um tipo diferente de presente. — Ele me enxotou. — Obrigado, Mia.

— Posso ver o que é?

Ele se inclinou para trás e acariciou sua testa. — Mais tarde.

Não querendo desistir tão facilmente, eu mantive minha posição.

— Algo me diz que você não vai gostar, — disse ele.

— Você sabe o que é isso?

— Eu posso adivinhar.

— Como posso não gostar?

Ele ergueu as mãos em derrota.

Suprimindo minha empolgação, peguei a caixa.

— Vamos. Vamos abri-la na sala de café. — Ele se levantou e liderou o


caminho. — É melhor fazermos isso com as mulheres presentes.

Isso era uma indicação de que realmente era um diamante?


A Senhora Scarlet sorriu para nós quando entramos. Seu olhar caiu sobre o
presente.

Lady Penny ergueu a cafeteira. — Quer uma recarga?

— Claro, — disse Richard, oferecendo sua caneca meio vazia para ser
enchida.

Penny serviu café. — Quer um, Mia?

— Não, obrigada. — Eu rasguei o embrulho. A caixa preta dentro tinha duas


dobradiças e eu as abri. Dentro havia duas delicadas bolas de prata presas por um
fio fino.

— Quem te deu isso? — Penny disse, olhando para Richard.

— Até parece. — Ele revirou os olhos. — Monsieur Trourville.

— O que é isso? — Tentei esconder minha decepção.

Richard deu um gole. — O que você acha que é isso?

Eu torci minha boca pensativamente. — Peso de papel?

Ele tossiu e reprimiu um sorriso. Penny e Scarlet trocaram olhares


desconfiados.

— Tem certeza de que não sabe? — Disse Penny.

Corei descontroladamente, me perguntando se isso representava alguma


parte da anatomia masculina. — Isso não vai para a minha mesa.

Richard fez um gesto simpático. — Eu tentei te salvar disso.

— Elas são bolas de Vênus, — disse Scarlet.

Eu fiz uma careta para a caixa.

— Mia, elas são bolas de sexo, — disse Penny.

Meu queixo caiu. — Quer dizer que você coloca em...?

— Sim, — disse Scarlet.

Coloquei a caixa na mesa. — Já é ruim o suficiente colocar um absorvente


interno lá, quanto mais algo assim.

O silêncio reinou e eu não li nada além de surpresa em seus rostos.


— Tudo bem então, — disse Richard e ele saiu com seu café.

Eu o esperei sair. — Monsieur Trourville me pediu para colocar isso todas as


vezes que ele me visitasse. Achei que fossem brincos.

Penny riu. — Você me quebra, Mia.

Minhas bochechas queimaram. — Oh não, eu disse a ele que ficaria feliz.

— O que ele prometeu a você? — Disse Penny.

— Um bônus.

— Diga a Monsieur Trourville que você as colocou, — disse Scarlet.

— Ele saberá, — Penny se sentou ao lado dela. — Ele vai olhar para as
pupilas dela.

Sentei-me ao lado de Penny e descansei minha cabeça em minhas mãos. —


Para ver se estou mentindo?

Ela balançou a cabeça. — Excitada.

— Elas não doem?

— Elas vibram, — disse Scarlet. — É uma provocação agradável, na verdade.

Eu encarei a caixa, odiando minha boca grande por convencer Richard a me


deixar abri-la e me perguntando como eu o enfrentaria novamente. Eu gostaria de
ter esperado por Lotte.

A porta se abriu.

Entrou um homem arrojado de trinta e poucos anos, vestido com um terno


elegante e colete. Seu cabelo castanho escuro curto e bem penteado parecia
despenteado com perfeição e ele esbanjava classe. O tipo de homem que não estava
apenas fora do meu alcance, mas de todo mundo também. Até uma supermodelo
teria que trabalhar muito duro para agarrar este aqui, com sua estrutura óssea
perfeita e aquele corpo bem torneado ridículo que até mesmo seu terno caro não
escondia. Era a maneira como ele se movia, recatado e ainda masculino. Ele me
lembrou um daqueles fotojornalistas que você vê na TV noticiando do Oriente
Médio, com balas voando sobre a cabeça e, no entanto, a pessoa nem mesmo
pisca. Sofisticado e simples ao mesmo tempo.

Seu olhar castanho pousou em mim com um escrutínio enervante. Havia algo
sensualmente atraente nele também. Perigoso. Como se soubesse de seu efeito e
pudesse aumentá-lo apenas para se divertir.
Penny e Scarlet se levantaram e eu segui seu exemplo.

— Sente-se, — disse ele, e parecia uma espécie de ordem.

Ele se aproximou, caminhando com a confiança de um homem capaz de lidar


com qualquer coisa. Ou qualquer um. Pela forma como Penny e Scarlet reagiram,
elas perceberam isso também. Pela primeira vez, elas pareciam nervosas. Eu
esperava que não tivéssemos sido pegas fazendo algo errado, como aproveitar
demais uma pausa para o café.

— Você deve ser Mia, — ele disse, seu tom baixo, sua voz culta.

Um arrepio de excitação subiu pela minha espinha. Do tipo que não tem o
direito de acontecer, do tipo que ameaça me envergonhar.

Ah não.

Essas malditas bolas ainda estavam na mesa.

— Mia, este é Cameron Cole, — disse a Senhora Scarlet.

Ele deu um aceno de aprovação e sua atenção caiu sobre as bolas de Vênus.

— Elas são minhas, — Penny disse a ele.

Ele parecia imperturbável e seu vívido olhar castanho me encontrou


novamente.

Penny se levantou. — Senhor, deixe-me pegar uma bebida.

— Sente-se, — disse ele. — Eu pegarei.

Eu corei descontroladamente com a maneira como ele falou com ela. Penny
apenas se sentou e girou seu anel de ouro rosa.

Cameron serviu-se de uma bebida, acrescentou uma dose de mate de café e


mexeu. Eu me perguntei sobre sua conexão com Enthrall. Ele não poderia ser um
cliente, poderia? Eles não eram permitidos aqui. Penny me deu uma piscadela de
encorajamento e eu retribuí um gesto de gratidão por ela mentir sobre a
caixa. Essas mulheres realmente sabiam como proteger você.

Cameron se virou. — Mia, sente-se.

Percebi que Scarlet também tinha se sentado novamente e eu me sentei na


minha cadeira.

— Como está indo sua primeira semana? — Ele disse.

— Segunda semana, — eu disse.


— É a segunda semana dela, — disse Penny ao mesmo tempo.

Ele não estava apenas me deixando nervosa.

— Está indo muito bem, obrigada. — Desejei ter concordado com um café
para que pudesse olhar para uma caneca em vez de ter que segurar seu olhar
feroz. Eu me perguntei se era possível ficar sem corar. Este dia estava se
transformando em uma provação de proporções épicas.

— FMBs. — Ele olhou para os meus pés. — Eu aprovo.

— Ele gostou das suas botas, — disse Scarlet.

— Obrigada. — Eu disse.

Ele afrouxou a gravata e uma abotoadura de prata refletiu a luz.

Lambendo meus lábios secos, tentei não segurar seu olhar. Era severo. Como
se a qualquer minuto ele me repreendesse por algo que eu fiz de errado.

Não desistindo, ele soprou em sua bebida.

— Posso pegar alguma coisa para você? — Disse Penny.

— Não, obrigado. Como está o chefe? — Ele disse, felizmente se afastando


de mim e em direção a Penny e Scarlet.

— Tudo bem, — disse Scarlet. — Ocupado, mas bem.

— Fico feliz em ouvir isso, — disse ele. — O que ele acha de sua nova
secretária? — Seus lábios se curvaram em um sorriso.

Algo vibrou dentro do meu peito e tentei suprimir outro rubor ameaçador.

Richard apareceu na porta. — Ei, amigo, na hora certa. — Ele parecia me


ignorar propositalmente. — Cameron, meu escritório, por favor. — Richard
desapareceu novamente.

Cameron virou a cabeça para trás em direção a Penny. — Há quanto tempo


ele está assim?

Penny torceu a boca em uma carranca.

— Mesmo? — Disse Cameron, incapaz de esconder sua satisfação, e ele


lançou um último olhar para mim antes de ir atrás de Richard.

Penny e Scarlet trocaram um olhar, mas era difícil ler.

— O que foi aquilo? — Eu disse.


— Nada para se preocupar, Mia, — disse Penny.

— Quem é ele? — Eu sussurrei.

— Um bom amigo de Richard, — disse Scarlet.

— Eles são amantes? — Eu tive coragem de perguntar. Afinal, tínhamos nos


ligado por causa dessas coisinhas de Vênus.

— Não, — Scarlet respondeu agradavelmente. — Apenas bons amigos. Eles


são amigos muito antigos.

— Richard está bem? — Perguntei.

— Nunca esteve melhor, — disse Scarlet.

— Tente não se envolver com Cameron, — disse Penny.

— Oh, tudo bem, — eu disse. — Por quê?

— Ele é... mandão. — Scarlet puxou a cadeira para trás e foi encher o café.

Penny acenou com a cabeça, como se me avisasse para não insistir no


assunto. Eu estava em apuros pela maneira como falei com ele? Não me
surpreenderia com todas essas regras estranhas.

— Fique longe do radar de Cameron e você se sairá bem, — disse Scarlet.

— Eu posso fazer isso. — Levantei-me e fui em direção à porta, virando-me


antes de sair. — Você pode devolver isso a Richard? — Eu disse. — Estou muito
envergonhada.

— Claro, Mia. — Penny sorriu. — Nós o passaremos pra frente.

Dei um aceno de agradecimento, presumindo que ela teria muitas pessoas


para escolher entre seu círculo pervertido de amigos. Lamentando por aqueles
diamantes que nunca existiram, cheguei na metade do corredor. A voz de Richard
saiu de trás da porta fechada do escritório.

A voz de Cameron se elevou sobre a dele. — Porque eu sei o que você precisa
e você precisa disso.

Olhando para os dois lados, verifiquei se o corredor estava vazio e me


aproximei de sua porta.

— Afaste-se, Cameron, — era a voz de Richard.

— Vamos conversar, — disse Cameron.


— Não há nada para falar. Eu quero que ela vá embora.

— Fale baixo, — retrucou Cameron.

Eu me encolhi, odiando ouvir tanta tensão entre duas pessoas que deveriam
ser amigas e sentir pena da pobre pessoa de quem estavam falando.

— Não tome nenhuma decisão até que tenhamos uma sessão, entendeu?
— Disse Cameron.

— Não há nada para conversar. — Richard bateu a gaveta do armário. —


Você ao menos leu o currículo dela? Ela não tem experiência. Ela está em risco
aqui.

— Proteja ela. Isso é o que você faz de melhor, — o tom de Cameron soou
reconfortante.

— Pelo amor de Deus, — disse Richard. — Ela nem sabe o que são as bolas
de Vênus.

Eu tropeço para trás.


CAPÍTULO 5

Limpando as lágrimas, tentei descobrir se seria capaz de dirigir.

Richard me despediu. Embora bem e com o pagamento de duas semanas,


depois de me tranquilizar, esta oferta generosa veio como um pedido de desculpas
pelo erro deles em contratar uma candidata inadequada.

Amaldiçoei minha tolice por não pesquisar brinquedos sexuais no Google


antes. Essas bolas de amor traquinas de Vênus denunciaram minha falta de
conhecimento. De qualquer forma, o Google não registrou tudo o que você
pesquisou, segurando e esperando até que você se casasse com um governador
antes de revelar a prova documentada para o mundo? Sim, você é uma vadia
pervertida e a candidatura de seu marido à presidência agora está frustrada por
causa de sua foda distorcida.

Mais lágrimas caíram. Minha incapacidade de impressionar meu chefe me


fez perder o emprego. Coloquei meu Mini Cooper na ré e recuei...

Depois de sacudir para frente, ouvi um rangido terrível de metal e meu pé


pisou no freio. Eu me virei para ver um carro esportivo prateado com a capota
aberta preso na parte de trás do meu Mini.

Ah não…

Meu gemido preencheu o espaço ao meu redor. Eu puxei para frente, com o
coração disparado. Ameaçava sair do meu peito e me deixar inconsciente.

Eu enterrei meu rosto em minhas mãos. — Grrrr.

Eu desci, me preparando para enfrentar o outro motorista e os danos que eu


tinha feito ao carro dele. Enfrentar sua ira.

Ah Merda.

Cameron Cole passou a mão sobre o grande amassado na porta lateral da


frente. Ele inclinou a cabeça quando me viu, sua expressão sem qualquer raiva, o
que eu achei estranho considerando que seu carro era a coisa mais incrível sobre
rodas que eu já vi.

Uma onda de pânico me atingiu. — Eu sinto muito. Vou pagar por isso.

Ele estreitou o olhar enquanto olhava a parte de trás do meu carro. Incapaz
de parar minhas lágrimas, meu peito dolorido ameaçou estourar e eu suguei um
soluço.
— Você está machucada? — Ele disse.

— Não. Você está?

— Claro que não, — ele disse calmamente. — Você está segura?

— Sim.

— Bem então. — Ele encolheu os ombros. — Mas não se surpreenda se o seu


corretor de seguros chorar também quando você disser que bateu em um Porsche
Spyder.

Embora eu não tivesse ideia de que tipo de carro poderia ser, seu veículo
parecia ainda mais caro de perto. Eu desviei meu olhar dele como se o carro
pudesse ganhar vida e me castigar. Com a mão trêmula, peguei minha bolsa e
procurei minha carteira.

— Este realmente foi um dia horrível para você, — disse ele. — Não foi?

Eu olhei para ele.

— Richard me contou. — Cameron se aproximou da parte de trás do meu


Mini para examinar os danos. — Você vai precisar de um novo para choque. — Ele
olhou em volta para a frente. — O seu óleo está vazando?

Incapaz de enxugar as lágrimas rápido o suficiente, comecei a tremer.

— Você não pode estar em choque, — disse ele. — Foi um solavanco. A oficina
vai acabar com isso em menos de uma hora.

— Eu poderia ter matado você.

— Tenho certeza de que seu seguro teria coberto isso também.

Isso já era ruim o suficiente, mas minha mente disparou e eu lamentei com o
pensamento de que poderia ser uma mulher com filhos.

— Onde você vive? — Ele disse.

— Studio City.

— Você não pode dirigir neste estado. Deixe-me te levar para casa.

— Não. — Eu levantei minha mão.

— Bem, pelo menos deixe-me pagar um pouco de chá para acalmar seus
nervos. — Ele apontou para o Café do outro lado da rua.
Ele entrou em seu Porsche e estacionou ao lado do meu. Meu Mini parecia
minúsculo ao lado de seu carro. Embora eu insistisse que isso não era necessário,
secretamente precisando chegar em casa e chorar em particular, Cameron não
aceitaria um não como resposta. Em poucos minutos ele me levou pela calçada e
abriu a porta do café para mim. Ele pediu dois chás Earl Greys e encontrou uma
mesa perto da janela.

A Senhora Scarlet me avisou para ficar fora do caminho do Cameron, ou como


ela colocou, fora do seu radar, e ainda assim aqui estava ele sendo legal. Me
perguntei por que ela deu o aviso. Me preparei para quando ele perceber o que eu
fiz com seu carro. Talvez ele também estivesse em choque. Mais do que
provavelmente um castigo estava se formando, assim como o chá. Não havia
dúvida de que eu merecia.

— Melhor? — Disse Cameron, seu rosto cheio de preocupação.

Eu mordi meu lábio; minha maneira de trazer esse castigo mais rápido. Eu
odiava a tensão de esperar por isso.

— Por favor, não morda o lábio. — Ele soltou um longo suspiro. — É uma
distração.

Acariciando a dor do meu lábio com a ponta do dedo, eu me perguntei o que


ele quis dizer. Cameron quebrou meu olhar e balançou a cabeça, divertindo-se com
alguma coisa.

Foi difícil desviar meu olhar dele. Seus traços eram marcantes e, pelos
olhares que os outros clientes nos deram, também pensaram o mesmo. Cameron
deu um sorriso gentil, como se estivesse ciente de toda essa atenção e nem um
pouco desconcertado.

O sabor e o aroma do Earl Grey acalmaram. Eu me perguntei por que nunca


tentei antes.

— Sinto muito, — eu disse.

— Você é muito desejável. — Ele mergulhou o saquinho de chá uma última


vez antes de colocá-lo sobre a tampa levantada.

— Eu quis dizer sobre o seu carro.

— É só um carro. O que aconteceu com Richard?

— Verifiquei a ortografia daquela carta duas vezes, — eu disse. — Eu


realmente fiz.

— Richard te despediu por causa de um erro ortográfico?


— Sim. A carta era para um cliente sênior. Aparentemente, eles são
particulares sobre isso. — Encolhi os ombros. — Quem sabia que os britânicos
escreviam de forma diferente.

— Richard fez você digitar uma carta para um cliente inglês usando a grafia
dos ingleses?

— Sim. Mas ele era britânico, não inglês.

Cameron estreitou seu olhar. — Mesma coisa, Mia.

Eu fiz uma careta para ele.

— Se você é britânico, pode vir do País de Gales, Escócia, Irlanda ou


Inglaterra. Se você é inglês, você vem da Inglaterra. Um fato divertido. Não que
alguém se importe. Ninguém consegue entender o que eles estão dizendo na
metade do tempo, de qualquer maneira.

— Você já esteve lá?

— Sim. — Ele tomou um gole.

— Como é?

— Frio. — Ele sorriu. — Embora tenham uma arquitetura impressionante


e uma história fascinante. — Ele balançou sua cabeça. — Lamento que Richard
seja tão temperamental.

— Não sei o que vou fazer, — eu disse, com as lágrimas fluindo novamente.

Cameron pegou um guardanapo. — Desculpe. É um pouco áspero. — Ele


olhou para mim sob os cílios longos e negros. — Aqui.

Peguei dele e limpei meu rosto, amassando e segurando-o no caso de não


conseguir suprimir essas lágrimas.

Cameron me entregou outro guardanapo. — Eu quero que você saiba que eu


conversei com Richard.

— O que ele disse?

— Ele se sente heroico por você.

— O que isso significa?

— Richard não tem certeza se você está pronta para trabalhar na Enthrall.

— Eu queria tanto fazer funcionar. Não há outro trabalho que pague tanto.
— Foi por isso, eu admiti porque aceitei o trabalho, mais ou menos.
— O salário mínimo é uma merda.

— E eu preciso dos benefícios, — eu disse. — Todos os outros lugares para os


quais me inscrevi não pagavam benefícios até que você estivesse lá por pelo menos
três meses.

— América corporativa.7— Ele torceu a boca. — Pode ser muito difícil para
a classe média e beirando a crueldade para a classe baixa.

Cameron provavelmente assistia um pouco demais à CNN, pelo que parecia.

— Você é membro da Enthrall? — Eu disse.

— Não sou exatamente um membro.

— O que você faz?

— Sou psiquiatra.

— Um médico?

— Eles geralmente são, sim.

— Oh.

Seu olhar pousou na minha boca. — Por favor, não vá se calar comigo. Eu não
terminei de analisar você.

Devo ter parecido horrorizada.

— Estou brincando, — disse ele.

Eu me perguntei o que Cameron estaria fazendo na Enthrall se ele não era


um cliente. Pela maneira como ele discutiu com Richard, eles pareciam
próximos. Meu chá tinha um gosto bom e me fez perceber que Cameron sabia
alguma coisa sobre acalmar as pessoas.

— Você estudou medicina na UCLA? — Eu disse.

— Harvard.

Era tarde demais para recuar impressionada.

— Foi lá que conheci Richard, — disse ele.

— O que ele estudou?

7
Termo usado para direcionar a culpa de algo ruim para outra pessoa (organização).
— Eu vou deixá-lo te dizer isso. — Ele se recostou. — Ele é muito reservado.

— Se eu trabalhasse em um clube de sexo, também seria.

— Eu pensei que você queria seu emprego de volta? Enthrall não é um clube
de sexo.

— As pessoas não fazem sexo lá?

— Isso seria ilegal.

Eu semicerrei os olhos para ele, me perguntando se ele se esquivou da


verdade.

— Então você é de Charlotte? — Ele disse, e na minha reação acrescentou. —


Lotte me contou.

— Sim.

— Sua família está lá?

— Eu tenho primos e alguns outros parentes.

— Então, todo mundo está aqui?

— Hum, meu pai morreu em um acidente de motocicleta. Minha mãe morreu


alguns anos antes. — Eu descansei minha mão no meu peito para que ele
soubesse que eu estava bem com tudo isso. — Minha madrasta está aqui.

— Isso é muito difícil.

— Na verdade. Existem pessoas em situação pior.

— Como quem?

— Essas pessoas morrendo no Sudão.

Ele quebrou meu olhar, sua carranca se aprofundando.

— Isso é delicioso. — Eu tomei outro gole. — Obrigada.

Sua atenção se desviou para um cliente no caixa que discutia com um dos
jovens baristas sobre o pedido errado. Cameron o fulminou com o olhar e quando
o homem o pegou, ele se calou, tomou sua bebida e saiu.

Pisquei para Cameron, maravilhada com sua capacidade de intimidação com


apenas um olhar.

— Onde nós estávamos? — Ele disse.


— Você acha que Richard ainda está com raiva de mim?

— Não.

Um chihuahua latiu para nós do outro lado da janela. Seu dono nos lançou
um aceno de desculpas e tentou colocar o vira-lata sob controle. Cameron riu e
compartilhou um sorriso divertido comigo.

— Onde você vive? — Eu disse.

— Praia de Veneza, — Ele encolheu os ombros. — Por enquanto. Eu gosto da


agitação do lugar, mas é muito barulhento à noite.

— Tenho uma amiga que surfa em Veneza.

— É ótimo para surfar. — Ele olhou pela janela para o cachorro. — Eu levo
uma prancha lá de manhã.

Cameron me lembrava o Richard de certa forma. Ambos compartilhavam


uma confiança inabalável. Algo que aprenderam em Harvard, sem
dúvida. Embora Richard parecesse mais cauteloso. Eu me perguntei há quanto
tempo eles eram amigos. Eles certamente pareceriam atacar juntos. Ímãs
femininos, com certeza. Você teria que estar muito confiante para abordar esses
dois com romance em mente. De qualquer forma, eles pareciam mais a caça e
captura de espécimes femininos perfeitos, e muito provavelmente conseguiriam
qualquer uma que visassem. Eles provavelmente tinham dominado a coisa de uma
noite só, deixando um bando de amantes com o coração partido para trás.

Talvez tenha sido por isso que Scarlet me disse para ficar longe dele? Ela
temia que eu começasse a me apaixonar por esse deus do sexo inalcançável.

Até parece.

— Por favor, fale com Richard de novo, — eu disse. — Eu tenho que continuar
empregada. É vida ou morte.

— Deixa-me ver o que posso fazer. — Ele deu um aceno de cabeça. — Vou te
dizer uma coisa, escreva a carta mais incrível para o Richard. Vou levá-la para a
sala com ele amanhã à noite. — Ele apontou o dedo para mim. — Escreva algo
atraente.

— Eu posso fazer isso, — eu disse, sabendo muito bem que não poderia.

— Vamos nos encontrar no Enthrall amanhã às seis. Eu vou ficar na sala e


torcer por você. — Cameron sorriu. — Vamos ver se conseguimos seu emprego de
volta.

Soltei um longo suspiro de alívio porque a esperança havia retornado.


Cameron olhou para o relógio. — Vou encontrar Richard para jogar tênis em
uma hora. Vou prepará-lo para você.

— Muito obrigada. — Minhas lágrimas caíram novamente.

— Sem lágrimas amanhã. Você precisa estar confiante.

— Confiante, — eu disse. — Eu posso fazer isso.

Ele apertou minha mão. — Você vai se sair bem. Eu posso sentir isso.

Pela janela, observei-o voltar para o outro lado da rua e percebi que não tinha
dado a Cameron minhas informações de seguro. Eu teria que dar a ele amanhã.

Com minha xícara de Earl Grey na mão, fiz meu caminho ao longo da faixa
de pedestres e dei outra olhada no meu carro. Eu precisaria de um novo para-
choque. Cameron estava certo sobre isso. Refletindo sobre se eu tive minha cota de
azar, eu esperava que Cameron pudesse persuadir Richard a devolver meu
emprego. Ele certamente parecia pensar que poderia convencê-lo. Depois do que
eu fiz com seu carro, ele mostrou uma bondade excepcional. Embora, depois do que
a Senhora Scarlet me contou sobre ele, eu ainda estivesse desconfiada.

O trânsito para o sul tornou a viagem de volta para Studio City cansativa,
embora tenha me dado mais tempo para pensar. Valia a pena lutar por este
trabalho. Se eu fosse ter alguma chance de convencer Richard, precisaria de ajuda
com aquela carta. Em vez de ir para casa, fui para o apartamento de Bailey, que
ficava a apenas dez minutos do meu.

Ela atendeu a porta em seu pijama de seda

— Desculpe aparecer sem avisar, — eu disse.

— Não seja ridícula. — Ela saltou de volta para sua sala de estar.

Comigo equilibrando dois empregos e agora começando um novo, e seus


turnos de enfermagem na UCLA, quase não tínhamos nos visto
ultimamente. Bailey não parecia perturbada por isso. Ela tinha cabelos longos e
esvoaçantes, um grande sorriso branco e uma atitude descontraída e alegre.

Eu a segui até seu apartamento de dois quartos com sua espaçosa sala de
estar decorada calorosamente com móveis Pier One e algumas peças da Z-Gallery
deixadas aos cuidados de Tara. Aquelas portas duplas, direto à frente, levavam a
uma enorme varanda que dava para uma grande piscina. Ninguém parecia nadar
nela, o que era estranho. Eu estaria naquela piscina todos os dias se morasse
aqui. Certamente havia benefícios em compartilhar o aluguel.
Contra a parede do corredor que levava ao quarto estava a desbotada prancha
de surf sereia de Tara. O aniversário de Bailey estava chegando e eu esperava
comprar uma prancha para ela. Embora meu futuro financeiro parecesse instável
novamente.

— Quer? — Disse Bailey, segurando uma garrafa de Chardonnay.

Apoiei meus cotovelos no balcão da cozinha. — Sim.

— Estou comemorando, — ela disse. — Tara não vai para a Austrália


agora. Ela me disse esta manhã.

— Oba. — Eu acenei minhas mãos em um aplauso.

— Eu sei... — Bailey bebeu vinho em um copo fresco.

— Ela está gostando da escola de enfermagem?

— Está amando. — Ela me entregou a bebida. — Fique aqui no sofá esta


noite.

Minha cama irregular certamente não faria falta.

— Como está sua madrasta? — Ela perguntou.

— Melhor.

Ela pousou as mãos na cintura. — Ela já perdeu o cabelo?

— Ainda não.

— Ela sempre foi particular sobre isso...

— A aparência dela. Eu sei. Ela está lidando bem. Conversei com ela ontem
à noite no telefone e ela parecia bem.

Nas últimas semanas, a cor havia voltado às bochechas de Lorraine e ela


recuperou um pouco de sua energia. Eu consegui arranjar um tempo de folga do
trabalho para sentar com ela durante sua quimio, segurar sua mão e até ler para
ela quando parou de vomitar por tempo suficiente. Lorraine era obcecada por todas
as coisas que eram celebridades e tinha grande prazer em assistir TMZ. Ela não
conseguia entender minha falta de entusiasmo por querer assistir atores B
entrando e saindo de aeroportos, filmados por câmeras trêmulas e raramente
dizendo algo interessante. Ainda assim, isso a deixava feliz e afastava sua mente
das máquinas de bipes e rodadas intermináveis de remédios. Se alguém poderia
sobreviver a isso, seria ela.
— Como você está indo? — Perguntou Bailey, me sacudindo dos meus
devaneios.

— Bem. Onde está Tara?

— Na academia.

Isso mesmo, esse lugar também tinha uma academia própria. Novamente eu
refleti o quão ruim eu estava no meu estúdio. Ainda assim, era minha casa e eu
consegui decorá-la com itens estranhos que encontrei em brechós. Minha cabeceira
de latão esculpido é um achado incrível. Mesmo que fizesse um rangido cada vez
que eu rolava.

— Eu não acho que vou ficar, — eu disse.

— Tem certeza que não quer uma noite de garotas?

— Tara não se importaria?

— Claro que não. Como está o novo emprego?

— Excelente.

— Sério? — Ela me lançou um olhar cúmplice e me levou de volta para a


sala de estar.

Nós nos sentamos em seu sofá de chenile8 dourado.

Passei a mão pelo tecido, cobiçando essa peça de mobiliário como sempre. —
Fui demitida.

— O quê?

Coloquei o copo na mesa de centro. — Eu cometi um erro em uma carta. Um


erro de digitação...

— Oh, Mia, sinto muito, — disse ela. — Talvez seja o melhor.

— Eu sou apenas a secretária, Bailey.

— Ainda.

— Tara trabalhou lá.

— Não mais.

8
tecido
Eu dei uma olhada nela. — Não é de todo ruim. Cameron, um amigo do meu
chefe, disse-me para escrever uma carta para expressar porque acredito que me
encaixo muito bem. Vou literalmente implorar pela minha posição amanhã à noite.

— Bem, isso é esperançoso, — disse ela. — Quer ajuda com a carta?

— O American’s Top Artist está no ar esta noite. Não quero estragar a sua
noite.

— Vou gravar. — Ela deu um pulo e foi para o controle remoto.

Alguns cliques dos botões depois e ela gravou seu show. Bailey pegou um
caderno de sua estante e sentou-se novamente.

— O que acha disso? — Comecei gesticulando para que ela escrevesse. —


Caro Sr. Booth.

— Muito formal. Chame-o de Richard. As pessoas respondem aos seus


próprios nomes.

— Sim, bom. Richard... — Me levantei e encarei Bailey. — Posso não ter a


experiência de que você acredita que precisa. — Balanço minha cabeça. — Eu
preciso de... — Fiz um gesto para apagar isso. — O que eu tenho é
honestidade. Sou capaz de deixar as pessoas à vontade

— Isso é bom. — Bailey rabiscou.

— Seus clientes precisam se sentir confortáveis. Seguros. Eu posso fazer isso.


— Tomei um gole de vinho e coloquei meu copo de volta na mesa.

— Mais um gole e você fica. — ela disse.

— Eu vou ficar.

— Vou pegar um cobertor e um travesseiro para você.

— Obrigada. — Eu levantei minhas mãos para gesticular meu próximo


pensamento.

Uma chave girou na fechadura e Tara entrou. Apesar de estar encharcada de


suor, ela ainda parecia fresca. Seu corpo alto e ágil parecia ridiculamente
adequado em seu equipamento de treino.

A mãe indiana de Tara, a Sra. Razor, era uma violinista talentosa que havia
sido descoberta em Calcutá por seu pai, um maestro famoso. Ele se casou com ela
e a trouxe de volta para morar com ele em LA. Tara herdou a tez exótica de sua
mãe e a franqueza de seu pai; uma mistura cativante de leste com oeste.
Bailey tinha caído de cabeça para baixo com Tara em seu primeiro
encontro. Realmente parecia mútuo. É por isso que toda essa conversa sobre a
Austrália foi uma surpresa. Tara não tinha revelado para seus pais ainda. Um
ponto sensível entre ela e Bailey.

— Ei, querida. — Bailey a cumprimentou.

— Oi. — Tara largou seu equipamento de treino na porta e se aproximou


para beijar a bochecha de Bailey. — Mal posso esperar para ouvir tudo sobre o seu
trabalho, Mia. Como estão os amantes? Richard não é um sonho?

— Ei, — Bailey a repreendeu.

— Até parece. — Tara revirou os olhos. — Então?

— Eles meio que me despediram, — eu disse.

Seu rosto caiu e ela caiu no chão na nossa frente e cruzou as pernas.

— Ela escreveu uma palavra incorreta em uma carta. — Bailey disse a ela.

— Esquisito. Isso mudou a natureza da carta? — Disse Tara.

— Não. De qualquer forma, Cameron me disse que conversaria com ele, —


eu disse. — Ele acha que pode mudar a opinião de Richard.

Não havia nenhuma maneira de contar a qualquer uma delas sobre as bolas
de Vênus e Richard insinuando isso como o verdadeiro motivo para me
despedir. Essa coisa toda parecia muito embaraçosa do jeito que era.

Tara sustentou o olhar de Bailey. — Vou pegar meu laptop e dar uma olhada
no Craigslist9.

Bailey ergueu o bloco de notas. — Ela tem uma segunda chance. Ela tem que
inventar uma boa razão para que eles a recontratem. — Ela gesticulou para a
cozinha. — Sirva-se de um copo e ajude-nos.

— Eu preciso reidratar. — Tara se virou para mim. — Richard é uma velha


alma. Ele também é teimoso. Eu odeio dizer isso, mas ele não vai mudar de idéia.

Eu me senti mal, mas apesar disso, peguei meu copo e engoli em seco.

Bailey ergueu o bloco de notas. — Então por que Cameron a faria escrever
isso?

A Craigslist é uma rede de comunidades online centralizadas que disponibiliza


9

anúncios gratuitos aos usuários. São anúncios de diversos tipos, desde ofertas de
empregos até conteúdo erótico
— Você pode falar com ele? — Eu disse.

— Nós nos demos muito bem, — disse Tara. — Mas ele ainda está chateado
comigo porque eu fui embora. Ele não retornou nenhuma das minhas mensagens.
— Ela olhou para Bailey. — Eu o verifiquei algumas vezes.

— Ele deveria estar feliz por você, — disse Bailey.

— Complexo de Richard. — Ela se sentou novamente e gesticulou para o meu


vinho.

Eu entreguei.

Tara deu um gole. — Tanto para reidratar.

— O que você não está nos contando? — Disse Bailey.

— Isso é absolutamente privado, — disse Tara. — Não deve ser repetido em


nenhuma circunstância.

Fiz um gesto pedindo meu vinho de volta.

Tara tomou outro gole e o entregou. — Cerca de um mês atrás, Cameron e


Richard desapareceram na masmorra por bem mais de uma hora.

— Gay? — Disse Bailey.

— Não. — Tara olhou para ela. — Ouça. Quando eles voltaram, notei
manchas de sangue nas costas da camisa de Richard. Cameron tinha feito algo
desagradável com ele.

— Cameron é psiquiatra, — eu disse. — Isso não parece certo.

Tara remexeu em sua mochila e retirou uma garrafa de água. — Só estou


contando o que vi.

— Você me disse que as paredes das masmorras são todas pintadas de


vermelho, — disse Bailey. — Talvez elas tenham sido re-pintadas e ele se apoiou
nelas?

— Você já desceu lá? — Eu disse, precisando ouvir mais.

— Uma vez. — Tara desenroscou a tampa e deu um gole na água. Ela usou
a garrafa para apontar para nós. — O sangue estava sob sua camisa. — Ela
ergueu o olhar para o teto. — Manchado.

— Esse cara está confuso. — Bailey se virou para mim. — Eu acho que é
melhor você sair de lá.
— Cameron é realmente legal, — disse Tara. — Richard também. Ele
realmente demitiu você por causa de um erro ortográfico? Isso é tão estranho.

Eu quebrei seu olhar.

— O que realmente aconteceu? — Disse Bailey.

Eu caí para trás. — Um cliente me deu bolas de Vênus de presente.

— Eu não vejo o problema, — disse Tara. — A não ser que…

— Você não sabia o que eram, — disse Bailey.

Minhas bochechas queimaram de vergonha.

— Richard percebeu o quão inexperiente ela é, — disse Tara, encolhendo-se.

— Você não entendeu, — eu disse, o desespero ameaçando me comer viva. —


Tenho que arranjar um extra de $ 600,00 por mês. O departamento de cobrança
da Cedars ameaçou cortar o tratamento da minha madrasta de outra forma.

— Eles não podem fazer isso, — disse Tara. — Eles podem?

— Eu não quero descobrir, — eu disse. — É o melhor lugar para ela.

— Talvez eles transferissem seus cuidados para um hospital da cidade? —


Disse Bailey.

Tara me lançou um olhar de simpatia.

— Não tenho escolha a não ser conseguir aquele emprego de volta, — eu


disse. — Nenhum outro lugar paga o mesmo.

— Bem, — disse Tara, pensativa. — Há algo que você pode fazer. — Ela
balançou a cabeça. — Mas você não vai gostar.

— Ela não está se tornando uma stripper, — retrucou Bailey.

Tara lançou a ela um olhar divertido e se concentrou em mim. — Richard está


em extremos. Faça algo que será tão inesperado que vai explodir sua mente.

— Sua mente e não ele, certo? — O olhar de Bailey saltou entre nós.

— Mostre-se a ele. — Tara inclinou a cabeça. — Elegantemente, é claro.

— Você quer dizer... mostrar a ele como as coisas têm sido ruins para mim
ultimamente? — Eu disse.
Tara franziu a testa. — Não, quero dizer, mostre-se a ele. — Ela apontou
entre minhas pernas.

— O que? — Disse Bailey. — Estamos falando sobre a Mia Lauren, a garota


que odeia até mesmo olhar para lá.

Eu me encolhi quando essa revelação saiu.

— Mesmo? — Disse Tara. — Precisamos pegar um brinquedo para você.

Bebi mais vinho, sem saber se estávamos na mesma página.

— Eu conheço esse homem, — disse Tara. — Richard gosta de correr


riscos. Faça isso e você chamará a atenção dele e provará que é mais do que capaz
de trabalhar lá.

— O que você tem em mente? — Bailey parecia desconfiada.

— Guarde o caderno, — disse Tara. — O que estou prestes a dizer para você
fazer será fácil de lembrar. E isso vai garantir que você terá seu emprego de volta.

Eu bebi o resto do vinho.


CAPÍTULO 6

— Pronta?

Cameron perguntou. Ele chegou à Enthrall logo depois de mim e me chamou.

Com as mãos tremendo, o coração batendo forte, forcei um sorriso. —


Absolutamente.

— Você vai se sair bem. — Ele me levou para o elevador.

Cameron parecia limpo e vestido sem esforço em jeans e uma camisa


branca. Ele não conseguia fazer nem isso parecer casual. Apesar de sua postura
confiante oferecer alguma garantia, sua proximidade me deixou nervosa enquanto
seu olhar varria meu casaco curto. Seu foco nunca vacilou e isso me fez pensar se
ele tirou um dia de folga de estudar as pessoas. Saindo, tentei acompanhar seu
ritmo determinado.

— Você não me deu o seguro do seu carro ontem, — eu disse.

— Vou colocar no meu, — disse ele. — Depois de uma consideração


cuidadosa, percebi que a culpa foi minha.

— Hum... não, acho que bati em você.

— Nós concordamos em discordar. Que tal isso? — Ele olhou no seu


relógio. — Eu conheço uma ótima oficina. Vou mandá-los verificar o seu Mini
enquanto estão trabalhando no meu. Mandaremos eles consertar esse vazamento
de óleo também. O que acha disso? — Ele acenou com a cabeça para confirmar
que gostou do plano e abriu a porta para o corredor dos funcionários, gesticulando
para que eu fosse em frente.

Pega de surpresa por sua bondade, meu espírito melhorou e quase esqueci o
que vim fazer aqui.

Eu realmente estava indo em frente com isso?

Ao passar pela recepção, foi estranho não ver ninguém ali. Devia ser eu
sentada ali, pensei, tentando me distrair de ter que enfrentar Richard novamente
e o drama iminente que eu estava prestes a convocar. Excitação misturada com
trepidação formigou em espiral no meu peito.

— Devo adverti-la. — Cameron parou do lado de fora do escritório de


Richard. — Ele não sabe sobre isso.
— No tênis de ontem, você não mencionou isso?

— Ele não estava de bom humor. E você sabe o que eu pensei? Inferno, por
que não apenas surpreendê-lo.

— E se ele estiver com raiva de eu estar de volta? — Cobri meu rosto com
as mãos.

— Algo me diz que ele ficará feliz em ver você. — Cameron estendeu a mão
para a maçaneta.

Eu agarrei seu pulso e o parei.

Ele olhou para minhas mãos. — Onde está sua carta? Depois, deixe na mesa
dele.

— Eu vi Tara ontem à noite, — eu disse. — Ela foi secretária na Enthrall


antes de mim.

— Eu conheço Tara.

— Ela me disse que a carta não seria suficiente.

— Vale a tentativa. — Ele olhou para a porta. — Fale de coração.

A porta se abriu e o comportamento severo de Richard nos encontrou.

— Ei, Richard. — Cameron pegou minha mão e me guiou passando por ele.

Richard se virou para nós. — O que está acontecendo?

— Por favor, sente-se, — disse Cameron.

Richard não parecia feliz e ignorou o convite do amigo para se sentar.

Você pode fazer isso, eu disse a mim mesma, reunindo minha coragem.

Qual era a pior coisa que poderia acontecer? Não é como se ele pudesse me
despedir. Ele já tinha feito isso. Tara parecia bastante convencida de que isso
funcionaria e foi ela quem me arranjou o emprego em primeiro lugar.

— Mia tem algo que quer dizer a você, — disse Cameron.

Richard voltou para sua mesa e se virou para nos encarar, inclinando-se
contra ela, sua expressão tensa. Ele cruzou os braços sobre o peito.

Cameron franziu a testa para ele e inclinou a cabeça em minha


direção. Richard deu a Cameron um olhar que diabos.
De volta ao apartamento de Bailey, repassando o plano com ela e Tara,
parecia factível. Loucura, sim, mas possível. No entanto, aqui, agora, de pé em
frente a Richard e sua ferocidade me fez questionar minha capacidade de fazer
isso. Deve ser assim quando um caminhão-tanque bate em seu carro em um
daqueles acidentes estranhos que você vê repetindo no noticiário. O tipo que você
acha que nunca vai acontecer com você. Muito comparável.

Cameron se aproximou. — Mia, quando você estiver pronta. — Ele fez um


gesto seguro para Richard. — Dê a ela um segundo.

As palavras de Bailey me encontraram novamente. — Mergulhe como se


estivesse em uma piscina fria e saiba que depois de nadar você vai adorar.

— Ou se afogar, — acho que respondi; quão apropriado isso era.

Minha mente vagou mais longe, como se tentando localizar a coragem que eu
tinha deixado no apartamento delas.

— Esses caras aprendem todos os tipos de coisas, acredite em mim. — Tara


me disse. — Nada os choca. Pense nisso como falar a língua deles.

— Mia. — disse Cameron, sacudindo-me do meu devaneio.

Vasculhei minha bolsa e tirei um iPod. — Coloque isso, por favor. —


Entreguei a Cameron e coloquei minha bolsa na cadeira.

— Coisa certa. — Cameron sorriu para Richard e foi até o sistema de som
no fundo da sala.

Masked Ball de Jocelyn Pook explodiu nas caixas de som surround e encheu
a sala com um ritmo de baixo profundo. Desabotoei meu sobretudo, tirei-o dos
ombros e joguei nas costas de uma das poltronas de couro. Minha saia xadrez curta
pode ter parecido inadequada para o outono, mas nem Richard nem Cameron
pareceram notar. Apesar da frieza da sala, minhas botas seguraram um pouco de
calor e me deram o suficiente da confiança nervosa de que eu precisava para
conseguir isso.

Meu coração batia tão forte dentro do meu peito; minha respiração estava
quase em pânico.

De pé no centro, eu me estabilizei. — Richard, eu pertenço aqui. Você sabe


disso e eu sei disso.

Seu olhar travou no meu com um fervor incomparável.

— E eu posso provar isso. — Olhei para Cameron para que ele soubesse que
eu estava pronta.
Cameron sorriu de volta.

Mordendo meu lábio, eu levantei minha saia, puxando-a em volta da minha


cintura e segurando-a lá, revelando minhas meias pretas e minha cinta-liga de
renda. Pelo rosto de Richard, ele notou que eu não estava usando calcinha.

Richard trocou um olhar com Cameron.

Cameron fez uma pausa, parecendo intrigado.

— Mestre Richard, quero me desculpar. — Meus dedos amassaram minha


saia. — Por aquele erro de grafia. — Minha outra mão se moveu, pronta para me
acariciar exatamente como Tara me disse para fazer, mas algo sacudiu dentro do
meu peito e eu congelei. Tinha ido longe demais para voltar, mas também não
conseguia prosseguir. Presa em alguma terra sensual no meio do caminho, minhas
bochechas queimaram e minha respiração sufocou. Excitada e ainda...

A carranca de Richard se aprofundou.

Cameron se aproximou de mim. — Mostre a Richard como você vai fazer isso.
— Perfeitamente, Cameron viu onde eu planejava levar isso e suavizou o
momento com segurança.

— Cole, vamos conversar lá fora, — sussurrou Richard.

Cameron deslizou atrás de mim e envolveu seu braço esquerdo em volta da


minha cintura, me abraçando de volta para ele. — Mia, deixe-me tocar em você.

— Sim, por favor, — eu disse, tentando controlar minhas mãos trêmulas,


grata por ele ter vindo em meu resgate, tonta com a sensação de seu braço forte
me apertando de volta contra seu peito firme.

Cameron moveu a outra mão para baixo sobre a minha barriga e mais para
baixo. — Separe um pouco as pernas.

Sentindo-me segura em seus braços, ajustei meu pé, mas quando seus dedos
me encontraram, deslizando sobre aquela fenda delicada, eu prendi a
respiração. Olhando para baixo, ele separou meus lábios inferiores para me expor
ainda mais. Ficando quieta pelo que pareceu uma vida inteira, meu coração
acelerando, minhas pernas enfraquecendo, deixei escapar o suspiro mais longo.

Este não era o plano.

— Este é apenas um gesto, — disse Cameron enquanto colocava dois dedos


contra meu clitóris, enviando uma onda de prazer.

Ele latejava sob seu toque. Com minha boca aberta, minhas unhas cravaram
em seu braço esquerdo. Como nunca antes havia sido tocada por um homem lá
embaixo, minha mente tentava captar esses sentimentos, essas sensações, essa
emoção causando espasmos por toda a minha barriga. Suas carícias trouxeram
ondas de prazer hipnótico.

A expressão de Richard não mudou; seu olhar crítico vagou sobre mim.

Diga algo.

Cameron quebrou o silêncio. — Este é um pedido de desculpas da Mia para


provar o quanto ela está arrependida.

Minhas pálpebras tremeram e me esforcei para manter meu olhar sobre


Richard.

Richard se inclinou mais para trás, seu foco ainda nas pontas dos dedos de
Cameron se movendo sobre o meu sexo. O olhar de Richard se levantou para
encontrar o meu apenas para voltar mais uma vez para a mão do seu amigo me
trazendo para mais perto. Este homem realmente sabia como tocar uma mulher.

Algo me disse que Richard também sabia.

Diga-me que isso te agrada; mas não ousei dizer isso.

— Mia, relaxe, — murmurou Cameron.

E eu fiz, recostando-me nele, concentrando-me muito em manter esse


beicinho que Tara me instruiu a segurar. Embora de volta em seus dois quartos
parecesse factível. Agora, no entanto, com os dedos de Cameron acariciando com
maestria, circulando, mantendo essas sensações impressionantes sobre as quais
eu só tinha lido, meus lábios tremeram de emoção; uma mistura de desejo e
alegria.

— Você quer que eu pare, Mia? — Disse Cameron.

— Não, — eu consegui dizer fracamente, sem fôlego. — Não pare. Por favor.
— Meu gemido encheu a sala.

Os dedos de Cameron alcançaram mais longe, embora não tenham entrado


em mim. Eles meramente mergulharam naquela umidade, usando-a para
umedecer mais minha excitação, esses formigamentos intensificando-se
alegremente contra seu toque. Eu tentei não ficar boquiaberta em êxtase, mas o
movimento perito de Cameron acelerou e roubou meu fôlego...

Sim…

Seus dedos acariciavam aquela parte de mim com a qual nunca me senti
confortável até agora. Sentindo-me tonta, descansei minha cabeça contra seu peito
e me rendi, minhas pálpebras se esforçando para permanecer abertas, minha boca
aberta e desejando um beijo que eu sabia que nunca me encontraria, meu olhar
em Richard. Aqui, agora, me sentindo mais amada do que nunca, eu temia quando
isso acabasse, nunca querendo que Cameron parasse.

— Oh, por favor. — Eu gemi novamente e um soluço escapou.

Esses dois homens inalcançáveis estavam compartilhando este momento


primoroso.

Surreal. Exótico.

Levada para longe, tocada tão suavemente, tão firmemente, mas minha
inocência permaneceu, minha pureza durou. Richard deu a sombra de um sorriso
e sua expressão me lembrou de uma pintura onde o sujeito vislumbra um milagre
ou mesmo além do véu.

Ele estava maravilhado?

Eu sabia que estava.

Eletricidade dançou entre nós, esse flerte com prazer tão intenso que ansiava
por compartilhá-lo com Richard enquanto acontecia. Silenciosamente, tentei
transmitir esses sentimentos.

Esta vontade...

— Richard dirá quando você pode gozar, Mia, — sussurrou Cameron.

Eu dei um aceno de cabeça, me sentindo muito devastada pelo prazer.

A cadência da música se desenrolou dramaticamente, e eu estava tão perdida


que não consegui dizer quem liderava quem. Talvez as notas estivessem me
guiando ou talvez fosse o contrário, como se através do baixo elas encontrassem
seu caminho dentro de mim.

— Richard, — disse Cameron, quebrando o transe do amigo.

Richard piscou surpreso e inclinou a cabeça como se também quisesse que


essa cena durasse para sempre, sua expressão cheia de admiração.

— Mia. — Richard fez um gesto simples. — Você pode gozar.

Segurando seu olhar, eu transmiti sem palavras que vim para ele, minha
respiração irregular, minhas coxas tremendo, meus suspiros se transformando em
gemidos de êxtase. Como se Cameron tivesse cumprido uma promessa tácita, ele
continuou me guiando para aquele lugar de êxtase, segurando-me suspensa lá, e
eu finalmente pisei no limiar da rendição e gozei forte, esperando de alguma forma,
em alguma momento, eu encontrar um lugar em seu mundo. Minhas pálpebras se
fecharam quando gozei, tremendo por inteiro. Todas as imagens e sons se
dissiparam, e minha única consciência era esse calor ofuscante de prazer pulsando
sob seu toque.

Quando tive a coragem de olhar de novo, foi para encontrar a expressão


tranquilizadora de Richard.

— Bem, isso foi bem articulado, — disse ele com uma suavidade perigosa.

Ainda surfando na onda, pronta para o que quer que acontecesse a seguir,
minhas pernas enfraqueceram. Fiquei aliviada por ter acabado, mas atormentada
com o medo de que nunca mais acontecesse.

Cameron puxou minha saia para baixo e deu um passo para trás. Eu me virei,
aliviada ao vê-lo sorrindo, seu aceno me deixando saber que estava tudo bem.

Uma onda de tontura me atingiu novamente.

Cameron deu um passo à frente e me pegou nos braços, guiando-me pela


sala. Quando chegamos ao sofá de couro, ele me ajudou a sentar e eu afundei no
couro. Ele se acomodou ao meu lado, esfregando minhas costas com
carinho. Quando finalmente tive a coragem de olhar para cima, Richard tinha ido
embora.

Pressionando minhas mãos contra o peito, desejei que essas palpitações


diminuíssem, na esperança de me lembrar de como respirar fundo novamente e
fazer com que parecesse fácil.

Lotte entrou e veio direto para nós. Em sua mão ela carregava uma pasta
bege. Ela se juntou a nós no sofá, sentando-se ao meu lado.

Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Como está, minha
querida Mia?

— Oh, tudo bem. — Olhando para aquela pasta bege com suspeita, eu
esperava que ela não contivesse minhas ordens oficiais de demissão.

Não agora, não depois de ter provado o mais doce fruto proibido.

Cameron endireitou minha saia, seus dedos puxando minha bainha em


direção aos meus joelhos, seu toque firme e reconfortante.

Lotte me entregou o arquivo. — Digite estes, por favor, e os tenha na mesa


de Richard até amanhã.

Meu olhar disparou para encontrar o de Cameron.

— Muito bem. — Disse ele. — Srta. Lauren, muito bem.


Lotte apertou meu braço. — Mia, seu chefe quer que você verifique os e-mails
dele uma última vez e então você pode voltar para casa mais cedo.

Dei um aceno de cabeça e tentei chegar até a porta sem tropeçar. Eu não
suportaria olhar para trás e eles me verem nervosa. Já tinha compartilhado mais
de mim nesses últimos momentos do que nunca, expus meu coração, bem como
meus lugares mais privados, chocando-me em silêncio.

Do lado de fora, tirei um momento para acalmar meus nervos, pressionando


minha testa contra a parede, tentando recuperar o fôlego e acalmar minhas mãos
trêmulas. Aqueles formigamentos impressionantes de prazer ainda persistentes
entre minhas coxas me fizeram ansiar por mais; um desejo indescritível. Desejei
que esses pensamentos desconhecidos fossem embora antes que eles me tornassem
inútil.

Vagamente, percebi que a Senhora Scarlet apareceu do nada. Ela fechou a


lacuna entre nós.

— Mia, — disse ela. — Você tem cor em suas bochechas. Acho que nunca te
vi tão linda.

— Eu entendo agora, — eu disse a ela. — Esse lugar. — Eu me senti boba


por dizer isso, minha mente tão consumida, meu coração ainda disparado.

Ela sorriu. — Cameron?

Minhas bochechas coraram descontroladamente e eu desviei meu olhar.

— Ninguém entende o delicado desabrochar de um botão mais do que


Cameron. — Ela acariciou minha bochecha com dedos curvados. — Minha doce
borboleta, desenhe suas asas quando estiver perto de Richard. Ele tem uma queda
por chamuscá-las.

Ela saiu pelo corredor, mostrando uma postura notável em saltos de nove
polegadas.

Ela não tinha me avisado sobre Cameron? Um traço de seu toque ainda
permanecia baixo em minha barriga; a sombra de seu aperto.

Tudo para aprovação de Richard.

Agarrando aquela pasta bege, fiz meu caminho em direção à mesa da


recepção, grata por ser minha novamente, e tentei entender as palavras de Scarlet.
CAPÍTULO 7

— Como estamos esta manhã? — Disse Richard.

Ele permaneceu do outro lado da minha mesa, exalando sua confiança sexual
usual e parecendo ridiculamente elegante em um terno. Todo aquele garoto bonito
misturado com um explorador robusto era uma distração. Estive tão ocupada
enfiando convites em envelopes para a festa de Chrysalis que quase me esqueci do
evento de ontem de tirar o fôlego de conseguir meu emprego de volta, com o que
Cameron me garantiu ser corajoso. O que normalmente seria considerado
comportamento de Tartsville10 era tão normal aqui.

— Mia? — Ele disse.

Assolada pelas memórias, corei descontroladamente. — Tudo bem, obrigada.


— Deslizei um post-it em branco dentro de uma pasta bege tentando parecer
ocupada. — Como você está?

— Tudo bem, obrigado, — ele repetiu. — Tem certeza?

Eu olhei para cima. — Por que eu não estaria?

— Podemos conversar sobre ontem?

— Oh, não, obrigada. — Eu acenei enquanto controlava esse rubor


ameaçador.

Como se ainda tentando extrair mais, suas sobrancelhas se juntaram. — Você


quer me encontrar lá?

Meu rubor aumentou. — Onde?

— Nossas três horas. Brentwood.

Arrastei o diário sobre a mesa e o abri. — Nossa?

Ele se inclinou para frente e pousou a ponta do dedo na página. — Os


Sullivan's.

Eu esperava ler a resposta em seu rosto.

Ele encolheu os ombros. — Ou podemos ir juntos se você se sentir


desconfortável em encontrar o lugar.

10 Terra da prostituta.
— Podemos ir juntos, — eu disse, meu olhar encontrando o nome do Sullivan
e me perguntando o que estaríamos fazendo lá.

— É a entrevista deles. Eles se sentem prontos para uma estadia em


Chrysalis. — Ele estreitou seu olhar. — Você sabe sobre Chrysalis, certo?

— Claro, — eu menti, e usei um lápis para sublinhar o nome deles.

— O que você fez ontem foi impressionante. Você sabe como tirar o fôlego do
seu chefe.

Uma vibração de nervosismo formigou em meu peito e me perguntei se


sublinhando um nome dez vezes poderia parecer estranho.

— Mia?

Desafiando um olhar para cima, soltei o lápis.

— Você se arrepende? — Ele disse.

— Não. — E eu não fiz. Na verdade. Era apenas o constrangimento de ter


que encará-lo novamente.

Ele se sentou na beirada da mesa. — Isso nunca será esperado de você


novamente. Ou qualquer coisa sexual para esse assunto.

— Graças a Deus, — eu disse, e em resposta ao seu olhar de surpresa


acrescentei: — Obrigada por me devolver meu emprego.

— Estamos felizes em ter você de volta. Acho que você vai gostar daqui.

— Eu também.

Ele ficou lá, olhando por muito tempo. — Cinco minutos parece bom para
você?

Tentei não parecer nervosa.

Ele franziu a testa. — Até sairmos.

— Isso é bom. — Eu me encolhi por dentro.

Richard foi para seu escritório.

Foi bom limpar o ar. Ele era um homem difícil de interpretar e, embora eu
tivesse vislumbrado sua capacidade de mostrar bondade, ele ainda me assustava
muito. Talvez fosse seu comportamento na costa leste. Esse elitismo educado de
quem nunca se abala. Ontem havia quebrado parte da parede entre nós. Ainda
assim, senti que tínhamos um longo caminho a percorrer antes de me sentir
relaxada em torno dele. Você teria pensado que depois das minhas travessuras
eróticas haveria menos tensão. Era difícil dizer se ele estava me olhando com
desprezo porque eu obviamente não tinha seu histórico na Ivy League ou se eu era
um enigma para ele. Minha primeira impressão de que Richard teve uma educação
privilegiada era certa. Eu o imaginei e Cameron bebendo vinho estrangeiro caro
em algum bar escuro de Massachusetts, enquanto discutiam filosofia e outros
assuntos pretensiosos. Eu me perguntei se eles já haviam sido membros de uma
sociedade secreta enquanto estavam em Harvard, como o Skull and Bones, ou isso
era Yale? De qualquer forma, fiz uma nota mental para perguntar a ele quando
nos conhecêssemos melhor. Além da questão mais intrigante de todas: como ele
acabou aqui.

Meu iPhone zumbiu e eu peguei minha bolsa e li a mensagem.

Bailey: Como foi?

Mia: Missão cumprida. Tenho meu trabalho de volta.

Bailey: Você usou novos movimentos ninja super sexy?

Mia: Sim, mais ou menos.

Bailey: OMG. Liga para mim.

Richard parou na porta. — Estou interrompendo?

— Hum, não.

— Namorado?

— Não. Minha amiga, Bailey.

— Por favor, não use seu telefone na frente de clientes.

Eu dei um aceno de cabeça e coloquei meu iPhone de volta na minha bolsa,


esperando que ele não pedisse para ver o que eu havia mandado.

O telefone vibrou com uma nova mensagem.

Richard se aproximou e se inclinou para frente na mesa. — Você está ansiosa


para ver o que diz, não é?

Presumi que fosse Bailey novamente perguntando por todos os detalhes


rudes de ontem. Claro que poderíamos ter discutido isso ontem à noite, mas ela
estava em sua aula de ioga. Eu aluguei um documentário no Netflix, algum filme
de pinguim que achei difícil de me concentrar enquanto minha mente continuava
me arrastando de volta para quando eu me mostrei para meu chefe.
— Vamos? — O rosto de Richard mudou e ele se ergueu. — Preparada?

Eu me levantei e peguei minha bolsa. — Estou ansiosa para isso.

— Você não tem idéia de para que é essa consulta, não é?

Eu ignorei essa pergunta e com um movimento do meu mouse fiz meu


computador dormir. — É bom sair, — era tudo que consegui pensar.

— Isso certamente vai ser interessante. — Ele abriu o caminho para o


elevador.

No carro, um Lincoln conduzido por um chofer, Richard trabalhava em seu


iPad, parando de vez em quando para verificar seu BlackBerry.

Sentado em silêncio ao lado dele, cutucada no canto do banco traseiro


esquerdo, fiquei maravilhada com sua capacidade de não enjoar. Ele atendeu um
telefonema e foi reconfortante vê-lo relaxar, cruzar as pernas casualmente e
rir. Algo me disse que quem ligou era Cameron.

Depois de sair da estrada principal e subir o que parecia ser uma via
particular, fiquei grata por Richard e eu estarmos viajando juntos. Eu duvidava
que teria encontrado este lugar sozinha.

Pilares brancos se elevavam, enfatizando a grande entrada de uma enorme


mansão. A arquitetura mesclava os estilos italiano e francês e exalava um ar
bilionário. Paisagismo exuberante envolvendo a propriedade e uma fonte
ornamentada de golfinhos recebiam os hóspedes na frente da casa. O luxuoso
exterior da propriedade se igualava ao interior, com móveis suntuosos
evidentemente decorados por um estilista excêntrico. Isso me fez pensar se os
residentes tinham sido educados demais para puxar o designer de volta e domar o
tema da estampa de leopardo.

A governanta uniformizada de cinquenta e poucos anos conduziu Richard e


eu para uma sala de estar.

Embora eu quisesse manter meus óculos de sol para afastar o brilho de


dourados e vermelhos que não combinavam, Richard estendeu a mão e os tirou do
meu rosto.

— Pagamos dinheiro para o perigo, — disse ele, arqueando uma sobrancelha.

Enfiei meus óculos na bolsa e coloquei ao lado dos meus pés. Empoleirada na
extremidade de um sofá azul claro, estava nervosa de causar um vinco. Sério, esta
era a casa mais rica em que eu já estive. A enorme lareira de mármore rosa deve
ter custado uma fortuna e os dois cães ornamentais sentados em cada lado da
lareira davam um ar majestoso. Todos os móveis aqui pareciam excessivamente
decadentes, extravagantes até. Eu me perguntei que tipo de pessoa os Sullivan
eram e como eles ganhavam dinheiro.

Richard parecia relaxado, recostando-se casualmente em uma almofada


estofada. — Vamos? — Disse ele, varrendo bem a mão. — O que você acha?

— Esta é a maior casa em que já estive, — admiti.

— E a decoração?

— Não é realmente o meu gosto.

— Qual é o seu gosto?

Eu me perguntei se tinha ultrapassado o limite por ser honesta. — Simples.

— Você quer dizer barato?

Eu lancei para ele um olhar irritado.

— Estou com fome, — disse ele mal-humorado.

— Talvez eles tenham biscoitos.

— Quantos anos você tem? — Ele franziu a testa. — Quero dizer, sério?

— De agora em diante, vou trazer um lanche na minha bolsa para você.

— Iniciativa também. Nós nos superamos.

— Por que estamos aqui? — Eu disse, tentando ignorar sua tentativa de me


irritar. Se ele queria obter uma reação de mim para que pudesse encontrar outra
desculpa para me despedir, ele não teria uma.

— Os Sullivan precisam assinar alguns formulários, então eles estão


marcados para a próxima semana, — disse ele.

— Você não pode enviá-los pelo correio?

— Diga-me o que você sabe sobre Chrysalis?

— Bem... hum...

Um latido chamou nossa atenção para a porta. Um Pomerânia rosnou para


nós. A dona do cachorro apareceu, uma mulher vestida elegantemente em um
terno creme, seus cabelos loiros presos em um coque. Ela parecia ter cerca de vinte
e cinco anos, mas se vestia mais velha.
— Mestre Richard Booth, — disse ela com uma forte cadência texana,
estendendo as mãos para cumprimentá-lo. Ela corou intensamente e riu.

O cachorro latiu aos pés de Richard. Ele o ignorou e se levantou para


cumprimentar sua amiga altamente perfumada. Seu cheiro me lembrava de uma
floricultura.

— E quem é esta adorável jovem? — Ela disse sem fôlego.

— Mia, minha nova secretária, — disse Richard. — Como vai você,


Constance? — Ele beijou ambas as bochechas dela, e suas mãos ainda seguravam
as dele.

Constance sorriu para mim. — Estou bem. Bill estará logo conosco. Ele está
terminando uma ligação. Mia, sente-se e me conte tudo sobre você.

Richard se sentou ao meu lado. — Não estamos aqui para falar sobre nós,
Constance. Este dia é todo sobre você e Bill.

Ela ocupou a poltrona em frente. — Estamos muito felizes por você ter
vindo. A entrada de automóveis pode ser complicada.

— É uma estrada, — brincou Richard.

— Bill te deu instruções, não foi? Ele é bom nesse tipo de coisa. Eu, bem, se
não fosse pelo meu GPS, eu estaria de volta ao Texas toda vez que fosse para
Beverly Hills. — Ela soltou uma risada nervosa.

— Vamos devagar, — disse Richard.

O que era meio estranho, mas pareceu acalmá-la. Ela respirou longa e
profundamente e se acalmou um pouco.

— Posso pegar refrescos para vocês? — Ela disse. — Limonada?

— Sua governanta já se ofereceu, — disse ele. — Estamos bem.

Ela se inclinou para frente. — Estou pronta para isso? Richard, certo?

— Absolutamente, — disse ele. — É natural ficar um pouco nervosa. — Ele


abriu o envelope. — Assim que estes papéis forem assinados, você estará pronta.

— Eu gostaria que vocês fizessem uma coisa de uma semana. Um mês parece
muito tempo. — Ela engoliu em seco.

Richard se inclinou para trás e piscou em resposta.

— Estou pronta, — disse ela. — Realmente estou. Sei que não pareço.
Richard parecia pensativo.

— Eles chamam de imersão, aparentemente. — Constance se virou para


mim. — É por isso que dura tanto tempo. Isso é o que Bill me diz de qualquer
maneira.

Richard acenou concordando.

Constance continuou — Bill já fez isso duas vezes e diz que é um novo homem
quando sai de lá.

O cachorro latiu em direção à porta.

Um belo homem de meia-idade apareceu. — Eu ouvi meu nome sendo


mencionado? — Ele falava com a mesma cadência texana.

Constance se levantou e Richard também. Eu segui seu exemplo e me


levantei também.

O olhar do homem estava fixo em mim. — Ora, Richard, você não deveria.

— Terrance. — Richard parecia divertido e estendeu a mão. — Como você


tem estado?

— Bem, — disse ele. — E você?

— Maravilhoso. — Richard deu um tapinha afetuoso em seu braço. — Você


tem malhado, Terrance.

— O Personal trainer da Constance. — Ele se encolheu. — Eu odeio o


bastardo.

Richard riu com eles.

Todos nós nos sentamos novamente e Terrance se sentou na outra poltrona,


perto da sua esposa. O olhar de Terrance me encontrou novamente.

Senti Constance olhando para mim também e, no entanto, ela não foi afetada
nem um pouco pelos olhares furiosos do marido. Nas últimas semanas, eu havia
dominado a arte de esconder minha reação e me orgulhava de esconder meu
desconforto de Richard.

— Esses são para mim? — Terrance estendeu a mão.

Richard deu a ele os papéis. — Temos o seu NDA, o formulário para o seu
médico assinar e, claro, o seu formulário de solicitação especial.
Eu assinei o acordo de não divulgação de Enthrall no meu primeiro dia. Eu
me perguntei se a de Chrysalis poderia ser a mesma.

Terrance pareceu surpreso. — Requerimentos especiais. Essa é nova. — Ele


os colocou na mesa de centro.

Tentei dar uma olhada discreta neles apenas para sentir o olhar de
desaprovação de Richard.

— Esta é a Mia, — disse Constance. — Ela é a nova secretária de Richard.

— Muito bem, — disse Terrance.

Richard fez um gesto. — Senhor Sullivan é membro da Enthrall há seis anos.

— Chegando para sete, — disse Terrance.

— Agora. — Richard parecia sério. — Constance, quero ter certeza de que


você pensou muito em Chrysalis. Não é Enthrall. Tenho certeza de que o diretor
já passou por tudo com você, mas assim que você assinar isso...

Constance se mexeu na cadeira. — Eu sinto que é uma daquelas coisas que


vou me arrepender se não fizer isso.

— Eu disse a ela que minha primeira esposa adorou, — disse Terrance.

Meu queixo quase bateu no chão.

— Ela fez, — disse Constance com um aceno de cabeça. — Eu a encontrei na


semana passada na Neimen Marcus. Nós conversamos.

— Ellen também adorou. Minha segunda esposa, — disse Terrance.

Quantas Ex-esposas esse homem tinha?

— Você gosta de passar um tempo na Chrysalis? — Constance me


perguntou.

Procurei Richard em busca de ajuda com isso.

Ele apenas olhou para mim, esperando por uma resposta que ele sabia que
eu não teria.

— Na verdade, nunca fui, — eu disse.

— Ah, — disse Constance. — Por que não?

— Querida, — disse Richard. — Ela é equipe. Não é um membro. — Ela


parecia triste por mim.
Constance lançou um olhar simpático em minha direção. — Bem, talvez
pudéssemos oferecer um presente para sua assinatura?

Terrance riu. — A generosidade infinita da minha esposa.

— Vamos começar? — Disse Richard, gesticulando para a porta,


evidentemente querendo continuar com o processo.

Eu me perguntei o que essa parte poderia ser.

Constance respirou fundo. — Por quanto tempo você assiste?

— É uma formalidade. Cartões nas caixas certas. Aquele tipo de coisa. Cinco
minutos. O que acha disso? — Ele baixou o olhar. — Vou escapar discretamente
e a próxima vez que você me ver será em Chrysalis.

— Onde fica melhor? — Disse Constance.

— No quarto está bom, — disse Richard.

— Bem, estou pronto. — Terrance se levantou e se dirigiu para a porta,


seguido rapidamente por Constance.

— Fique aqui, — avisou-me Richard.

— Ela não vem com a gente? — Disse Constance.

Richard fez um gesto para que eu me sentasse. — Não.

Constance voltou e se ajoelhou aos meus pés. — Você gosta de cachorrinhos,


Mia?

— Eu amo cachorrinhos, — eu disse, sorrindo para Richard.

Ele revirou os olhos.

Constance olhou para seu Pomerânia. — Tilley tem filhotes. — Ela coçou a
cabeça do cachorro. — Quer ver eles?

— Sim, por favor.

Constance cambaleou em direção à porta dupla de vidro, abriu-a e eu a


segui. Um gramado verde extenso se espalhava diante de nós e, além dele, uma
enorme piscina azul. Eu certamente consegui o final divertido do negócio e me
perguntei para onde eles estavam indo. Provavelmente para assinar os
papéis. Certamente o escritório seria mais apropriado?

Constance se virou para mim. — Eles estão na casa de hóspedes. — Ela fez
beicinho. — Terrance os baniu de casa.
— Eles cagam em todo lugar, — disse Richard.

— Já voltamos, — disse Constance. — Mia, talvez você gostaria de voltar e


brincar comigo e com os cachorrinhos algum dia? — Ela lançou a Richard um
olhar tímido. — Se ela for permitida.

Talvez pudéssemos nadar também, pensei.

Meu olhar voltou para ela, então olhei para Richard.

— Eu mantenho a Mia ocupada no escritório, — ele disse, gesticulando. —


Devemos?

Constance tinha acabado de dar em cima de mim? Ela fez. Ela fodidamente
deu em cima de mim.

Eu os observei ir.

Minha intriga levou a melhor sobre mim. Eu fui atrás deles, certificando-me
de que a governanta não estava por perto. Ao parar ao pé da escada extensa, eu
olhei para cima para ver Richard no topo da escada, olhando para baixo.

Ele estava esperando por mim.

Nenhuma palavra saiu da minha boca aberta. Apenas fiz um gesto para que
ele soubesse que eu estava presa ao cachorrinho. Eu poderia jurar que ele parecia
ter obtido prazer com o meu constrangimento. Então me virei e voltei por onde
vim.

Sentada de pernas cruzadas na casa de hóspedes, brinquei com um dos


filhotes da Pomerânia no colo. Dentro da caixa forrada de veludo, os outros cinco
cambalearam, clamando por igual afeto. Eu alcancei, tentando acalmá-los.

Eu me encolhi com a minha falta de jeito e tentei tirar minha mente disso,
focando no cachorrinho. Certamente foi interessante observar Richard interagir
com os Sullivan. Ele não parecia nem um pouco intimidado por toda essa
grandeza. Eu me perguntei se ele cresceu em uma casa como esta.

— Você já teve seu cachorro consertado? — Disse Richard, encostando-se no


batente da porta.

Querendo saber há quanto tempo ele estava lá, eu abaixei o cachorro de volta
com seus irmãos e me levantei.

Eu fui atrás de Richard. — Correu tudo bem?

— Correu tudo bem? — Ele me conduziu pelo gramado e ao longo do lado


esquerdo da casa.
— Assinando os papéis?

— Eles ainda não os assinaram.

— Eu pensei que era para onde você estava indo. — Quebrei seu olhar e
olhei de volta para a frente da casa.

— Entre, — ele disse.

Nosso motorista abriu a porta do passageiro para nós.

Eu me sentei no canto e peguei meu cinto de segurança. — Você viaja para


qualquer lugar com um motorista?

— Isso seria entediante, — disse Richard, pegando a alça do meu cinto de


segurança e puxando-a no meu peito.

— Por que hoje?

— Espetáculo.

O carro deslizou para fora da garagem.

Eu olhei de volta para a mansão. — Mas eles não nos viram chegar.

— Você tem certeza disso?

É claro que pode haver alguma verdade nisso. Se fosse eu, eu teria assistido
de uma janela, antecipando a chegada de Richard.

— Você deixou uma boa impressão, — disse ele. — Constance gostou de você.

— Eu acho que ela deu em cima de mim, — eu sussurrei, não querendo que
o motorista ouvisse.

Richard olhou pela janela. — Eu consideraria um elogio.

Esta visita não tinha sido nada além de estranha e eu realmente estava
ansiosa para voltar a Enthrall. Em poucos minutos, estávamos de volta à estrada
principal.

— Onde você foi com eles? — Eu disse.

Ele deu a sombra de um sorriso. — Para vê-los foder.

— O que?

Sua expressão permaneceu inalterada.


— Não durou muito, — eu disse, meu rubor aumentando.

— Eu não fiquei para a coisa toda. Acredite em mim, minha mão se contraiu
o tempo todo para o meu celular.

Tentei envolver minha cabeça em torno do que ele revelou. — Eles não se
importaram?

— Faz parte de uma tradição centenária.

— Tradição?

— Nossa reunião de hoje é para confirmar que eles estão prontos. — Ele se
virou para mim. — Você não tem ideia do que é Chrysalis, não é?

— Eu também não tenho certeza se quero.

— Você mentiu para mim. Você me disse que sabia.

— Você me colocou no local.

Sua expressão se transformou em desapontamento. Como se fosse uma deixa,


ele enfiou a mão no bolso e tirou seu BlackBerry, em seguida, me ignorou.

A tensão pairava forte e, apesar do ar condicionado, parecia abafado. Peguei


o botão para abrir minha janela, mas a reação de Richard com os olhos arregalados
me fez retirar a mão e colocá-la no colo.

— Desculpe, — eu sussurrei.

— Pare aqui, por favor, — ordenou Richard ao chofer.

O carro estacionou junto ao meio-fio.

Richard olhou para a frente como se estivesse imerso em


pensamentos. Depois de um ou dois minutos, ele saiu do carro. Eu tirei meu cinto
de segurança e deslizei ao longo do assento para segui-lo.

Eu merecia ser tratada melhor do que isso. — Bem, quem você vai assistir
fazendo isso agora?

Richard parecia divertido. — Se importa?

Eu fiz uma careta para ele.

Ele inclinou a cabeça e gesticulou para a sorveteria de Loard.

— Oh sim, por favor. — Talvez ele não estivesse com raiva de mim, afinal.
Uma rajada de ar frio nos atingiu no caminho. Linha após linha de sabores
repousava em seus tubos multicoloridos protegidos por uma longa janela de vidro,
prometendo felicidade sem fim.

— Casquinha de baunilha, por favor. — Richard entregou seu cartão de


crédito. — E um café.

Ele tinha escolhido por mim e eu tentei esconder que isso me


incomodava. Richard pegou o gel antisséptico e esguichou um pouco na palma da
mão.

Ele acenou para que eu estendesse minhas mãos. — Filhotes são imundos.

— Eles eram fofos.

— Bactérias montadas em bolas de pelos. — Ele esfregou o gel em minhas


mãos, acariciando-as. Ele levou seu tempo massageando e meus dedos formigaram
contra seu toque, a sensação relaxante.

A vendedora estendeu a mão com um cone. — Senhor, aí está. — Ela lhe


devolveu o café e o cartão.

A maneira como ela corou me fez perceber que não era só eu que ele afetava
assim. Até Constance agiu como uma colegial até o aparecimento do marido. Achei
isso estranhamente reconfortante.

Richard me entregou o sorvete e liderou o caminho para uma cabine


privada. Sentado em frente, esperei que ele começasse a falar, agora mais curiosa
do que nunca sobre Chrysalis e porque alguém iria querer se trancar lá.

Richard abriu a tampa do café e deu um gole. — Nada mal.

— Quer um pouco? — Ofereci meu sorvete.

Ele balançou a cabeça e se recostou, apoiando os braços em cada lado do


assento.

Apesar de querer menta, a baunilha tinha um gosto bom. Esta loja familiar,
embora pequena, tinha um aconchego caseiro. Eles ainda estavam com suas
decorações de Halloween.

— O que a palavra Chrysalis significa para você? — Disse Richard.

— Tipo borboleta? — Eu lambi.

— Sim.
— Bem, é como quando uma lagarta está pronta para se tornar uma
borboleta, ela sai de sua crisálida11.

— E é por isso que nosso fundador chamou nossa casa na Califórnia,


Chrysalis. — Ele pegou sua xícara. — É importante ressaltar que tudo o que
fazemos é com adultos consentidos.

— Então é como Enthrall, só que as pessoas estão fazendo isso o tempo


todo. Eles moram lá?

— Eles mergulham como dominantes ou submissos, sim.

— Por quê?

— É complexo.

— Eles se odeiam?

— Não. — Ele parecia sério. — Quando eles saem, eles estão...


revigorados. Revitalizados. Renovados. — Ele segurou meu olhar. — Renascidos.

Eu levei um momento para considerar suas palavras, me perguntando se


alguma vez as entenderia, ou mesmo entenderia alguém que quisesse isso.

Um lampejo de reação de Richard mostrou que ele captou a essência dos meus
pensamentos.

— Constance vai ser uma submissa? — Eu disse.

Richard puxou mais guardanapos do suporte de prata e os entregou para


mim. — Sim.

Limpei a trilha de creme escorrendo pela minha mão em direção ao meu


pulso.

Ele apontou para o queixo, espelhando o meu. — Aqui.

Eu limpei e recebi um aceno de aprovação.

— E Terrance? — Eu disse.

— Sub também.

— Não acho que Constance esteja pronta.

11
Vem do latim crisaliis, e corresponde ao estágio da pupa, estado que a borboleta passa por
metamorfose.
Ele colocou a tampa de volta.

Limpei minha boca. — Ela está fazendo isso para apaziguar seu marido.

— Um psiquiatra com uma percepção a laser afiada traçou o perfil de


ambos. Eles estão prontos.

Era muita coincidência para Cameron não ser aquele homem. — Talvez o
psiquiatra esteja errado.

Richard pareceu surpreso e piscou várias vezes para mim.

— Você disse a eles que os veria depois? — Eu disse.

— Visito lá, sim.

— Terei que ir lá?

— Você tem uma renda anual de pelo menos 1,5 milhão de dólares?

— Você sabe que não.

— Então não. Você nunca verá dentro da Chrysalis.

Eu me sentei. — Então você faz?

— Você acabou de me perguntar quanto eu ganho?

Lambi a suavidade cremosa e fria. — Pode ser.

Seu olhar se fixou em mim e ele soltou um suspiro.

— Está tudo bem? — Eu disse.

— Realmente está.

— O que você fazia antes de trabalhar na Enthrall?

— Por quê?

— Estou interessada.

— Eu era um corretor da bolsa. Eu sou de Nova Iorque.

— Por que você veio para LA?

— Para que eu pudesse respirar novamente.

Eu torci minha boca. — Achei que houvesse mais poluição aqui.


— Cameron estava aqui.

— Vocês são realmente bons amigos, não são?

— Os melhores. — Ele empurrou sua xícara. — Cameron me pegou.

— Onde ele trabalha?

Richard acaricia sua testa. — Não me leve a mal, mas não tenho certeza se
você é uma boa opção para nós da Enthrall.

Baixei meu sorvete.

— Os funcionários gostam de você, — disse ele. — Mas esse não é o ponto.

— Sinto muito por esse erro de digitação...

— Você não entende.

— Você me subestima.

Ele deixou escapar outro longo suspiro. — Eu vejo o seu futuro e parece... —
Ele pegou o sorvete de mim e o lambeu. — Mmmm, baunilha. — Ele o devolveu.

— Eu sei o que isso significa.

— Sabe?

— Você está me dizendo que minha vida é normal.

— Na verdade, eu estava me referindo à sua vida sexual.

— Por que você diz isso?

— Você é ingênua.

— Eu não sou.

— Você é, Mia. Fiquei sentado aqui nos últimos dez minutos observando você
com esse sorvete e você não tem ideia de como isso é excitante.

Meio atordoada e meio para irritá-lo, lambi o sorvete de novo. — Você é um


pervertido. Vocês todos são.

— Oh Mia. — Ele sorriu para mim. — Você não tem ideia.


CAPÍTULO 8

Tendo endereçado cada convite à mão para toda a lista de clientes da


Chrysalis, comecei a colocar selos em cada um. Este projeto teria sido muito mais
fácil se eu pudesse usar uma etiquetadora. Foi uma tarefa árdua, com mais de
trezentos membros recebendo um. Richard insistiu que esse método garantia
privacidade ao entregar os convites dourados. Quando finalmente olhei para cima
para respirar, esticando minha mão dolorida, quase gritei.

Cameron estava a poucos metros de distância, aquele olhar escuro dele


queimando um buraco através de mim.

— Não ousei incomodá-la. — disse ele.

— Ei, Dr. Cole. — Tentei me livrar dessa inquietação, não o tendo visto
entrar no prédio.

— Por favor, me chame de Cameron.

— Cameron. — Eu sorri. — Richard foi para casa.

Ele torceu a boca em decepção. — Eu deveria ter ligado primeiro.

Meu rosto queimou e eu quebrei seu olhar, pegando meu mouse e fingindo
que algo na tela precisava de minha atenção. A última vez que o vi foi três dias
atrás, quando nosso estranho ménage à trois de alguma espécie havia acontecido
no escritório de Richard. O evento de mudança de vida que me deixava tonta
quando pensava nisso. Pelo amor de Deus, este homem havia me tocado
intimamente e ainda agora estávamos ambos sendo tão formais um com o
outro. Como se nada tivesse acontecido.

Ele ainda estava olhando.

— Como você está? — Eu disse, tentando parecer ocupada.

— Mais importante, como você está?

Por favor, não queira falar sobre o que você fez comigo.

— Estou bem, — eu disse. — Muito obrigada por cuidar do meu carro. —


Assim, troquei um momento embaraçoso em um que tirou o foco de mim e o
coloquei firmemente em um objeto inanimado.

— Foi um prazer, Mia. — Ele se aproximou e casualmente enfiou as mãos


nos bolsos.
Eu me perguntei se seus pacientes fantasiaram com ele entrando em suas
calças assim como em suas mentes. Havia algo tão perfeito em Cameron. Ele deve
ser um homem difícil de se abrir por medo de se desapontar. Era ele o psiquiatra
que havia traçado o perfil dos Sullivan? Nesse caso, fiquei imaginando como ele
concluiu que uma pessoa estava pronta para ficar em Chrysalis. Ele não deveria
estar aconselhando-os a procurar alguma forma de tratamento em vez disso? Tome
uma pílula. Uma rodada de terapia.

— Por favor, não me pergunte o que estou pensando, — eu disse com firmeza.

— Por que, o que você está pensando?

— Que você quer falar comigo sobre o outro dia.

— Quer falar sobre outro dia?

— Não, obrigada.

Ele baixou o olhar. — Como você está se ajustando?

— Excelente. Eu gosto daqui.

— Seu chefe está te tratando bem?

— Sim, Richard é muito legal.

— Legal? — Ele parecia meditar sobre a palavra. — Bem, é bom ouvir isso.

Eu levantei a lista. — Eu estava terminando com esses convites.

— Você vai?

Coloquei a lista de volta em sua pasta. — Richard me disse que


provavelmente era melhor eu não o fazer. — Eu franzi meu nariz. — Eu não me
importo. Aparentemente, as coisas ficam bem selvagens.

— Elas meio que ficam, — ele murmurou dramaticamente.

A maneira como ele disse isso me fez sorrir. — Vou colocar isso de volta em
seu escritório. — Fui em direção à porta, arquivo na mão, grata por Cameron ter
deixado fora do gancho sobre a discussão do nosso recente encontro.

Eu estava até pensando em francês agora, como uma vadia europeia saída de
um show burlesco. Esperava que essa timidez passasse logo. Eu precisava agir
normalmente e não o deixar ver como ele me afetava. Ainda assim, pela maneira
como Penny e Scarlet agiam quando ele estava na sala, elas também se sentiam
intimidadas. Consegui passar por Cameron sem olhar para ele.
— Posso falar com Richard sobre deixar você ir à festa, — disse ele. —
Contanto que você não vá sozinha, você ficará bem.

Eu parei na porta. — Richard foi muito insistente.

Ele se encostou na mesa e baixou o olhar. — Ele provavelmente está certo.

Forcei outro sorriso e atravessei a porta, fazendo meu caminho para o


escritório de Richard. Guardei o arquivo com segurança em seu armário, tranquei-
o e coloquei a chave de volta no porta-canetas.

Quando voltei para minha mesa, Cameron tinha ido embora. Não demorei
muito para guardar os convites na gaveta mais baixa, desligar o computador,
rasgar os post-its que rabisquei e reabastecer o papel da impressora. Fui pegar
minha bolsa e uma onda de terror me atingiu. O portão do elevador estava
totalmente aberto.

Com um rápido olhar, confirmei que minha chave do elevador ainda estava
colada no topo da gaveta mais baixa. Quem quer que tenha descido lá não usou a
minha. Embora alguém pudesse ter usado e colocado de volta durante o tempo que
eu estive fora. Peguei minha bolsa e tirei meu celular e mandei uma mensagem
para Richard.

E esperei.

Cinco minutos depois e ainda não houve resposta dele. Eu me perguntei como
ele reagiria se eu visitasse a zona proibida de Enthrall para verificar se há
intrusos. Havia uma intriga persistente que eu não fui capaz de afastar. Essa área
fora dos limites ganhou vida própria dentro da minha imaginação. Ainda assim,
de jeito nenhum eu iria lá embaixo.

Cameron reapareceu no corredor dos funcionários.

— Achei que você tivesse ido, — falei, aliviada em vê-lo.

— Acabei de deixar uma nota na mesa de Richard.

— Por que você não manda mensagem para ele?

— Não está respondendo. — Ele olhou no seu relógio. — Ele provavelmente


está correndo.

— Olhe. — Eu apontei para o portão.

— Achei que fôssemos os últimos aqui.

— Eu também. — Olhei para o elevador como se só isso fosse fazer com que
ele revelasse seus segredos.
— Vamos dar uma olhada.

— Eu não estou autorizada. — Eu levantei minha mão para que ele soubesse
que não tinha intenção de ir a qualquer lugar perto de lá.

— Não seja ridícula, — disse ele, chamando o elevador. — Você está comigo.

As portas se abriram e olhamos para um elevador aberto.

Cameron entrou e fez um gesto para que eu me juntasse a ele. — É mais


seguro. Não quero deixar você aqui sozinha.

— O que você quer dizer?

— Se alguém invadiu, pode estar aqui agora.

Eu pulei e com um toque de um botão descemos.

— Não deveríamos chamar a polícia? — Eu disse.

— Eles têm um talento especial para estragar toda a diversão.

— Você realmente acha que alguém invadiu?

— Não.

— Oh.

Ele encolheu os ombros.

— Você pode explicar isso a Richard para mim, — eu disse.

— É claro.

— Na verdade, estou meio intrigada. — Eu senti uma onda de excitação.

Tara estava certa sobre as paredes vermelhas. Uma iluminação suave caiu
sobre os cinco móveis, se é que se pode chamá-los assim. Mais apropriadamente,
eles eram engenhocas lindamente esculpidas e manchadas de escuro. Uma mesa
posicionada no meio tinha resmas de finas correntes de prata penduradas sobre
ela, chegando até o chão. À sua direita, havia um painel de madeira cruzado com
algemas de couro de cada lado para esticar os braços da vítima. Na parede pendia
uma variedade de equipamentos, incluindo remos, chicotes e vendas. Um baú
empurrado contra a parede oposta escondia o que provavelmente eram acúmulos
mais torturantes. Resisti à vontade de dar uma olhada.

O que parecia ser um estoque da Idade Média era facilmente anulado pelo
elegante trono, uma almofada de veludo diante dele. À sua direita pendia uma
enorme gaiola de aço e, mais adiante, mais engenhocas repousavam em
prateleiras: correntes de elos de prata, cordas, vendas, mordaças e o que parecia
ser um par de luvas pretas com pontas de dedos pontiagudas.

Este lugar contrapôs os dispositivos medievais aos modernos da maneira


mais surpreendente. Não admira que Richard não me quisesse aqui. Ele
provavelmente presumiu que eu teria fugido no meu primeiro dia. No entanto, o
cheiro suave de sândalo e a aura semelhante a um útero, era surpreendentemente
calmante. Minha tontura confundiu meu cérebro. Esta decoração picante
despertou sentimentos que estavam adormecidos, a emoção de uma intriga
deliciosa, uma pulsação na minha barriga que não tinha o direito de me fazer
acreditar que tudo isso estava bem.

Uma porta no final da sala prometia levar a mais salas de dor. Não havia
como superar este era um lugar perigoso para se estar, e como alguém iria querer
voluntariamente ser amarrado em qualquer um desses me confundiu.

Eu me virei para ver a Senhora Scarlet saindo das sombras. Sua roupa de
dominatrix era uma mistura de couro e látex. Seu delineador de estilo gótico e
rímel destacando seus olhos, e seus lábios pintados de ruge, maçãs do rosto
marcadas e cabelos penteados para trás acentuavam sua presença dominante.

— Oi Scarlet, — eu disse, esperando que aquele olhar dela não fosse raiva
de mim por estar aqui.

— Mia, — disse ela, batendo o chicote na outra mão. — Cameron.

Surgiu uma sensação inquietante de que ela estava esperando por nós. Olhei
de volta para o elevador, desejando ter trazido meu celular. Richard deve ter
respondido agora. Embora a recepção aqui possa ser incompleta. Estávamos bem
no subsolo.

— Estávamos preocupados que alguém tivesse vindo aqui. — Cameron


arqueou uma sobrancelha.

O olhar de Scarlet deslizou para mim. — Somos só nós.

Cameron fez um gesto. — Venha aqui, Mia.

Dei alguns passos curtos em direção a ele, embora meu olhar permanecesse
em Scarlet, me perguntando sobre aquele chicote.

— Venha ver isto, — disse ele. — Você já viu um desses?

— Para que serve isto? — O poste entrecruzado com ornamentos esculpidos


parecia suave sob o meu toque.

Ele colocou sua mão sobre a minha. — Quer ver?


Cameron parecia feroz. A mudança nele me surpreendeu tanto que não lutei
quando ele segurou meus ombros e me empurrou contra a barra.

— Você fica aqui. — Ele inclinou a cabeça. — Bem, o cliente fica.

Quase perdi o equilíbrio quando ele esticou meu braço esquerdo para o
lado. Ele usou seu peso para me manter lá, seu corpo pressionado contra o meu
enquanto ele prendia meu pulso dentro de uma tira de couro; apertado. Uma
emoção disparou do meu peito para minha virilha e eu prendi a respiração. Veio
um sopro da colônia leve de Cameron; um perfume balsâmico agitando meus
sentidos.

— Eu não gosto disso, — menti, sem ter certeza dessas sensações


despertando no meu peito e disparando para baixo, alcançando aquele lugar onde
ele me tocou não há muito tempo. Meus lábios tremeram quando meu olhar caiu
sobre sua boca.

— Você está bem segura. — Cameron puxou as correias. — É bom sentir o


que nossos clientes estão passando, certo? — Ele prendeu meu pulso direito.

Eu resisti, embora sua força subjugasse a minha. Ele puxou meu pulso com
força na fivela.

Uma pulsação em meu peito me embalou. Me assustou. — Scarlet? — Eu


olhei para ela.

Ela deu um aceno de encorajamento.

O elevador estremeceu e começou a subir.

— Vamos fingir que ela não está aqui. — Cameron puxou uma alça mais
grossa pela minha cintura, afivelou e puxou. — Na maioria das sessões, seríamos
apenas nós dois. — Ele segurou sua mão contra meu peito. — Você está respirando
muito rápido. Eu não quero que você desmaie.

Com a boca seca e com sede, tentei diminuir o ritmo. — Eu tenho que voltar
ao trabalho.

— Pensei que você tivesse acabado por hoje. — Ele estendeu a mão para o
botão da minha camisa e o desfez. Seus dedos se movendo rapidamente nos outros.

Eu gritei e ele deu um passo para trás e riu. — Então a camisa não.

— A camisa não.

— Gritos ecoam aqui embaixo, — disse ele. — Nós ouvimos muito isso.

Ah não…
Sua mão voltou ao meu peito, pressionando contra ele, seu corpo perto, seu
olhar perfurando o meu com uma intensidade feroz. — O que você está sentindo?

Minhas pálpebras se fecharam, meu coração bateu muito rápido. Este desejo
intensificou uma dor enviando espasmos baixos e profundos; um prazer de
construção. Meus mamilos empurraram contra meu sutiã, os botões endurecidos
me traindo através da minha blusa.

— Muito bem. — Ele se inclinou em direção ao meu ouvido e sussurrou: —


É para isso que serve isto.

Outra emoção de excitação disparou entre minhas coxas e odiei o fato de que
ele poderia dizer. A ponta de seu dedo roçou ao longo do meu antebraço direito,
pressionando sob o ponto crucial do meu braço, enviando um arrepio pela minha
espinha.

— Cameron. — Estremeci em resposta e torci meus pulsos em suas alças. —


Eu não consigo respirar.

— Relaxe. — Ele acariciou meu lábio inferior.

Eu mordi seu polegar, minha língua traçando a ponta.

Suas pálpebras ficaram pesadas, seus dentes cerrados, sua mandíbula


tensa. — Você é primorosa.

O elevador ronronou, ficando mais alto, puxando sua atenção por um


segundo.

Seu olhar escuro me encontrou novamente. — Alguém já te disse isso?

— Não.

Ele pareceu surpreso. — Deixe-me mostrar o quão primorosa você é.

Cameron pressionou seus lábios contra os meus, machucando-os, abrindo


minha boca com a dele, me desafiando, me capturando com ferocidade. Sua ereção
pressionou contra minha barriga, e o prazer e a dor que isso trouxe se tornaram
muito reais. Incapaz de empurrá-lo, não tive escolha a não ser me render, abrindo
minha boca e indo com ele, me afogando na tontura causada por seu abraço.

Este homem estava fora do meu alcance, e ainda assim ele estava aqui
comigo, me seduzindo, sua língua aveludada emaranhada com a minha. Ele me
chamou de primorosa. Me fez acreditar. Este momento de sonho era uma fantasia
impossível. Uma pulsação lenta e constante de prazer cresceu quando meu gemido
entrou em sua boca, minha língua lutando contra a dele, perdida neste desejo.

Ele se afastou um pouco e segurou meu olhar. — Como você está se sentindo?
— Bem, — eu murmurei, me odiando por dizer isso.

— Excitada?

Eu dei um aceno de cabeça.

— Sua boceta está boa e molhada?

Mordi meu lábio com força.

— Boa menina. — Ele deu um sorriso impressionado.

— Cameron, — retrucou Richard.

Eu sacudi de volta para a sala.

Richard ficou a cerca de três metros de distância, seu rosto ilegível. Cameron
olhou em sua direção.

— Desamarre-a, — disse Richard.

— Estávamos explorando. — Cameron encontrou meu olhar novamente. —


Não é, Mia?

— Agora, — disse Richard.

Deixando-me amarrada, Cameron deu um passo para trás. — Mia tem sido
uma garota muito travessa.

— Estou vendo, — disse Richard.

Cameron foi em direção a Richard e bateu em seu braço enquanto ele


passava. — Vejo você mais tarde no Skybar.

Richard o ignorou, mantendo seu olhar fixo em mim.

As portas do elevador se fecharam para Cameron e Scarlet. Um fumegante


Richard e eu estávamos sozinhos. Em segundos ele me libertou. Eu me afastei da
prancha e me afastei dele. Me senti como se tivesse saído de um sonho, minhas
bochechas corando loucamente.

— Eu perguntaria o que você está fazendo aqui, — Richard apontou para a


prancha cruzada. — Mas está bem claro.

— Eu mandei uma mensagem para você, — eu disse sem fôlego. — Eu estava


esperando você voltar.

— Você está proibida de vir aqui.


— Mas Cameron...

— Você recebe suas ordens de mim.

— Mas...

— Você é realmente tão ingênua?

Esfreguei meus pulsos para acalmar a picada. Eu não esperava isso.

— Você abriu seus olhos para o seu ambiente?

— Eu nunca deveria ter vindo aqui.

— Essa é a primeira observação inteligente que você fez.

— Cameron tem sido tão bom para mim...

— Parece que a onda de inteligência acabou.

Eu resisti à vontade de olhar para ele. — Vocês dois são tão... — Eu procurei
as palavras que fizessem meu ponto e não me demitissem.

Seu rosto escureceu e ele baixou as mãos ao lado do corpo. — Eu posso muito
bem ser a chama, mas Cameron é quem adora ver você queimar.

Silêncio. Do tipo desconfortável.

Meu olhar voou para a prancha cruzada.

— Você gostou disso? — Ele disse.

Não.

— Fale.

— Não... bem... sim. Tipo de...

Quem quer que tivesse uma sessão aqui poderia ser interrompido por alguém
chegando naquele elevador, removendo toda esperança de privacidade. Minha
mente procurou por outra distração.

— Foi a prancha, Cameron ou ambos que te excitou? — Ele disse.

Respirando muito rápido, eu esperava que ele lesse de mim o que eu não ousei
dizer.

Ele era hipnotizante.


Richard me jogou para frente sobre a mesa central tão rápido que roubou meu
fôlego. Minhas mãos estavam estendidas na minha frente, tentando agarrar a
madeira, mas tudo o que agarrei foram correntes. Meu traseiro vulnerável se
projetou. Ele me segurou lá, ainda, incapaz de me mover. Minha saia subiu em
volta da minha cintura. Ele arrancou minha calcinha.

Minha fantasia mais sombria com ele estava sendo realizada...

— É melhor você não resistir. — Sua mão pressionou minha espinha, me


forçando a arquear as costas. — Nunca mais desça aqui. — O golpe de sua mão
desceu com força em minhas nádegas. — Entendeu?

— Sim. — Mordi minha mão para abafar meu grito, temendo alertar
Cameron e Scarlet e eles voltariam para ver isso.

— Sim, o que?

— Sim Senhor.

— Bom. Ambas as mãos sobre a mesa. Agora!

Outro golpe, este mais cruel.

— Richard, — eu implorei, minhas coxas tremendo.

— Você não fala. — Ele atacou novamente. — A menos que seja permitido.

Isso era demais. A dor durou segundos, mas o prazer pulsou no meu
clitóris. O próprio tempo me seduziu, roubando meus pensamentos e possuindo
minha dignidade. Eu cerrei meus dentes, um gemido suave escapando.

— Shhh, — acalmou Richard, enquanto sua mão esquerda escorregava para


o meu abdômen, abaixando-se ainda mais para se encaixar entre minhas coxas, as
pontas dos dedos acariciando ao longo da minha fenda. — Bem, nós sabemos que
você gosta disso, não é?

Sim!

Um espasmo de prazer me fez ofegar.

— Isso não mente, Mia. Você está molhada, — ele ronronou as palavras, sua
outra mão concedendo uma punição de bofetadas contínuas que eu não merecia.

— Oh sim. — Eu empurrei de volta em sua mão, esfregando contra ela.

— Fique quieta, — ele ordenou.


Eu estava sendo atacada por dor e prazer e isso fez minha cabeça girar. Eu
espalhei meus dedos mais longe, tentando melhorar meu equilíbrio, bem como
acalmá-lo. Minhas coxas tremiam enquanto eu me perdia em um mar de
sensações, tentando manter a calma, com medo de desmaiar com a emoção de ter
Richard me dominando assim.

Eu puxei as correntes.

Ele travou sua guerra sensual contra mim, as pontas dos dedos massageando
com golpes firmes, me fazendo gemer e me movi contra sua mão novamente,
querendo, precisando de mais, precisando gozar. Isso estava errado, mas parecia
tão certo. O desejo formigante queimou por dentro, causando espasmos sensuais
que me fizeram entrar em transe. Outro tapa forte me trouxe de volta ao presente,
a picada enviando ondas de choque de calor por mim. Minhas coxas estremeceram,
rebelando-se contra esta posição em que ele me colocou enquanto eu subia mais
alto, chegando ao ponto sem volta, fazendo beicinho para chegar ao clímax.

Richard me soltou, negando minha felicidade.

O prazer se esvaiu, deixando um latejar baixo onde seus dedos estiveram. Ele
deu um passo para trás e me deu algum espaço. Tentei me equilibrar, levantando
minha mão contra outro ataque sensual; era difícil pensar direito.

Ele me girou, me levantou e me sentou na beirada.

Sua mão se esticou. — Mais alguma coisa que você acha que gostou aqui?
— Seu tom era firme, repreensivo.

— Nós só tentamos aquele.

Richard olhou feio. — Há quanto tempo isso está acontecendo?

— O que?

— Você me ouviu. Há quanto tempo você e Cameron estão transando?

— Nós nunca...

Ele passou a mão pelo cabelo, o rosto cheio de preocupação.

Meu olhar disparou para a prancha cruzada e percebi por que ele pensava
isso. — Nunca fizemos nada.

— Eu mereço saber a verdade.

Minha mente correu com o que ele deve ter pensado que tinha visto.

— Droga, diga-me, — disse ele.


— Eu nunca tinha feito isso. Nunca.

— O que você está dizendo? — Richard deu um salto para trás. — Você está
dizendo... Mia, você está dizendo que ainda é virgem?

— Sim.

Ele parecia horrorizado.

— Não tenho ideia do que está acontecendo, — eu disse. — Eu quase terminei


de endereçar seus convites e estava prestes a voltar para casa quando Cameron
me trouxe aqui.

— Pelo amor de Deus, Mia. — Os olhos de Richard se arregalaram. — Eu


quase te fodi nessa coisa.
CAPÍTULO 9

O Rubicon Wrangler de Richard praticamente voou pela autoestrada.

Com a capota abaixada, parecia que estávamos indo mais rápido do que os
135 quilômetros por hora que peguei no hodômetro. Esta batalha perdida com meu
cabelo soprando no meu rosto estava ficando irritante.

— E se você conseguir uma multa? — Eu gritei para Richard.

— Eu pago. — Ele ficou em silêncio novamente.

Ele insistiu em me levar para casa.

Eu também fiquei quieta depois de receber mais uma resposta curta. A


tensão desta noite parecia que estava longe de diminuir.

E eu não estava usando nenhuma calcinha maldita. Ele a roubou naquela


masmorra para ter melhor acesso à minha bunda. Minha mão esquerda agarrou
minha saia, segurando-a. Ele e Cameron eram trapaceiros. Meu rosto ameaçou
explodir em chamas com a memória do que eles fizeram comigo naquela
masmorra. Minha virilha latejava com o pensamento e eu descansei minha cabeça
para trás, cambaleando.

Embora eu tivesse alguma ideia de onde minha carreira podia levar, isso
estava bem longe. Nunca imaginei que acabaria em algum ambiente de trabalho
maluco, onde os limites usuais não faltavam, mas sim inexistiam.

Richard colocou o jipe na quinta marcha. Eu me perguntei por que ele não
comprou a versão automática. Meu olhar pousou em suas mãos, aqueles dedos
fortes segurando o volante, não há muito tempo me segurando nas garras do
prazer. Eu me perguntei se ele faria novamente.

Soltei uma respiração lenta e calmante.

Eu tinha deixado meu carro em Enthrall e agora estava com medo de que ele
me deixasse em casa e me despedisse, me deixando presa amanhã. Talvez Bailey
pudesse me levar até lá para pegar meu Mini? A vista caiu rapidamente, junto com
os faróis hipnóticos do outro lado indo para o sul.

Richard mudou a estação de rádio para um talk show. O anfitrião conversou


com um sotaque da costa leste sobre um prédio em Nova York. Depois de alguns
minutos, ele mudou novamente.
Mesmo fora da rodovia, Richard dirigiu o Jeep com força, virando na Ventura
e navegando por Studio City como se conhecesse o lugar. Tendo entregado meu
endereço na minha inscrição, eu só poderia presumir que foi de onde ele o
obteve. Richard não havia pedido por isso e, no entanto, era para onde estávamos
indo. A familiaridade das lojas e restaurantes trouxe algum conforto. Logo
passamos pelo meu Coffee Bean local, assim como pela butique sofisticada na qual
eu nunca poderia comprar e pelo meu bairro Ralphs.

Paramos do lado de fora do meu prédio e Richard estacionou. Com o cinto de


segurança retirado, ele se virou para olhar para mim, casualmente descansando a
cabeça contra a palma da mão, o cotovelo no encosto de cabeça.

— Eu me sentia bem para dirigir, — eu disse, embora fosse um ponto mudo


agora.

— Como você está se sentindo?

— Bem e você?

— Nunca me senti melhor. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Eu quero


pedir desculpas.

— Não há necessidade.

— Eu lhe daria o nome de um bom advogado que conheço... mas ele é tão bom
que você ganharia seu caso contra mim.

— Essa é sua tentativa de humor?

— Sim.

— Você pode querer trabalhar nisso. Por favor, não me demita.

— Posso entrar? — Ele olhou por cima do meu ombro.

Eu não esperava por isso.

— Eu não tenho café, — eu disse.

— Eu prometo a você que o que aconteceu em Enthrall nunca mais


acontecerá. — Ele acenou com a cabeça para mostrar seu ponto.

Eu espelhei seu aceno, sem saber o que dizer.

— Scarlet morava em Studio City. — Ele tirou as chaves da ignição. — Você


nunca a tiraria de Santa Mônica agora. — Ele abriu a porta e deu a volta para o
meu lado.
Minha mão mal soltou meu cinto de segurança quando ele abriu a porta para
mim.

— Onde você vive? — Eu disse, grata por sua mão me ajudando a descer.

— Malibu.

— Em um apartamento?

— Comprei uma casa há alguns anos.

— Você mora sozinho?

Seu olhar travou com o meu. — Não.

Uma onda de decepção me atingiu.

Eu me perguntei se ele tinha uma esposa esperando por ele, e se sim, ele iria
passar o dia com ela como um casal normal. Talvez ele explicasse como as últimas
horas desta noite se desenrolaram com Cameron, Scarlet e eu na sala de jogos de
Enthrall. Ela teria que ter a mente mais do que aberta para lidar com ouvir sobre
qualquer uma dessas coisas. Por ser casada com ele, ela provavelmente precisava
de tanta terapia quanto ele.

Talvez eu devesse ter aceitado aquele emprego na Best Buy, embora o


pagamento não chegasse perto do que Enthrall paga. Foi emocionante sair com
Richard, mesmo que ele parecesse excessivamente confiante. Era seu
mundanismo, seu carisma, que o tornava divertido. E ele tinha acabado de me
bater na sala de jogos da qual eu fui banida, complementando minha educação em
seu estilo de vida.

Minhas pernas enfraqueceram e me perguntei se algum dia seria capaz de


contar a Bailey.

Em um ou dois minutos, chegamos à porta da frente do meu apartamento no


térreo e fiz uma análise mental de como havia deixado o lugar. Arrumado, pelo que
me lembro.

— Da próxima vez, escolha um apartamento no segundo andar, — disse


ele. — É mais seguro. — Ele franziu a testa em direção à porta da frente do meu
vizinho esquerdo; tiros de uma televisão atingiram o pátio.

Entramos na minha casa e o barulho diminuiu.

— Isto é um estúdio. — Seu olhar horrorizado vagou pelo quarto, indo até a
porta do banheiro.
— Sim. — Fui até a cozinha, me perguntando por quanto tempo ele estaria
pensando em ficar e odiando a ideia dele me julgar.

— Achei que estávamos pagando bem?

— Vocês estão.

— Você tem chá? — Ele disse. — Livre de cafeína?

— Posso fazer um café para você.

Ele parecia divertido. — Pensei que você não tivesse nenhum?

Ele não sabia que tem um código para não tenho café?

Ele seguiu. — É descafeinado?

— Não. — Abri um armário e peguei a jarra de Nescafé.

— Oh, instantâneo. Hum... — Ele olhou para ele. — Só água para mim,
então. — Ele se encostou no balcão.

Com um giro da torneira, servi-lhe um copo de água da torneira.

— Você não mora em LA há muito tempo, não é? — Ele disse.

— Como você sabe? — Eu ofereci a ele o copo.

Com um aceno, ele recusou. — Você não pode beber a água da torneira aqui.

— Por quê?

— Tem um gosto desagradável. Entre outras coisas. Você tem alguma água
engarrafada? — Ele alargou seu olhar. — Não que isso seja mais seguro.

— Como assim?

— O plástico é absorvido pela água. — Ele deu de ombros e seu olhar fixo
estudou minha geladeira. — Quantos anos tem essa coisa?

— Minha melhor amiga me deu.

Ele abriu a porta do freezer, enfiou a mão e tirou uma das refeições com baixo
teor de gordura.

— Você gostaria de um? — Eu disse.

Ele o empurrou de volta. — Isso certamente serviria como uma punição


razoável pelo que aconteceu com você esta noite.
— Oh.

— Por que você está comendo baixo teor de gordura? Você é minúscula.

— Meio que os peguei rapidamente.

— Você mora aqui sozinha? Você tem um namorado?

— Eu vivo sozinha. Sem namorado.

— Portanto, é virgem.

Eu corei. — Você é casado?

Ele hesitou antes de responder. — Não.

— Você vive com alguém?

— Sim. Winston.

E, no entanto, a senhora Scarlet me disse que Richard não era gay. Talvez
Winston fosse seu filho.

— Ele é britânico e bastante arrojado. — Richard deu um sorriso maroto. —


Claro que sou tendencioso.

Richard conseguiu manter esse segredo das meninas.

— Ele é um Bulldog Britânico, — disse ele.

— Você não o traz para o trabalho? — Tentei evitar meu constrangimento


do olhar que tudo via de Richard.

— Às vezes. Mas ele adora o jardim. — Ele se aproximou de mim e tirou o


copo d'água da minha mão, jogando-o na pia. — Estou preocupado que você beba.

Algo passado entre nós me causou uma onda de vertigem.

— Escute, Mia, — ele começou, seu tom suave e persuasivo. — Esta noite foi
um erro terrível e não posso me desculpar mais.

— Já esquecido.

— Eu gostaria de lhe oferecer duas semanas de pagamento...

— Você não pode me despedir agora. — Entrei em pânico. — Eu estou bem,


sério. Por favor, Richard, adoro trabalhar na Enthrall e me dou muito bem com
toda a equipe.
— E todos eles te adoram, Mia. Somente…

— Eu tenho que fazer xixi, — eu disse, e corri para o banheiro.

Por dentro, eu encarei meu reflexo, tentando encontrar as palavras que eu


precisava para persuadi-lo a não me despedir. Peguei minha escova e passei pelo
meu cabelo bagunçado, tentando aliviar os cachos soprados pelo vento. A aventura
de capota aberta de Richard havia deixado sua marca.

Essa era a palavra, aventura. Sim, essas pessoas tinham um jeito engraçado
de viver e trabalhar, mas certamente superava o dia a dia enfadonho de ser uma
funcionária do Wal-Mart, que era para onde eu poderia estar indo se não
conseguisse convencer Richard esta noite, não teve nenhum efeito sobre mim.

Era estranho, naquele calabouço ele agiu com tanta maestria, meio chateado,
na verdade, mas no meu apartamento ele parecia tão normal. Tão regular. Bem,
tão regular quanto um cara gostoso gotejando energia sexual suficiente para
energizar uma grande cidade. Acariciando meus lábios com a ponta do dedo,
minha mente vagou, me levando de volta para aquele quarto vermelho sangue e o
toque de Richard... lá embaixo. Afastei os pensamentos de seus tapas e me
concentrei em como ele despertou o prazer. Seria fácil se acostumar com esse tipo
de atenção. Viciada nisso, de fato.

Obcecada.

Se eu invadisse aquela masmorra novamente, seria tratada com a mesma


punição? A tentação de entrar mais uma vez naquela sala escura e vermelha era
sedutora.

Querendo ficar bonita para Richard, apliquei um rápido retoque de batom e


um pouco de rímel e me senti pronta para encará-lo novamente. Na metade do
caminho para fora do banheiro, percebi que não tinha puxado a descarga, não
tendo realmente ido. Eu tinha duas opções: torcer para que Richard não tivesse
notado ou voltar e correr o risco de parecer estranha.

Dali, pude ver Richard segurando um pedaço de papel. Ele tinha na mão uma
das notas que eu deixei no balcão.

Um olhar de preocupação brilhou em seu rosto. — Mia, você está doente?

— Não. — Eu me aproximei e peguei dele. — Isso é pessoal.

— Esta conta médica é de vinte e cinco mil dólares.

— Minha madrasta não está bem, — eu disse. — Ela perdeu o emprego junto
com o seguro médico.
— Eu sinto muito. — Ele olhou de volta para a pilha de notas.

— É por isso que preciso desse emprego, — eu disse. — O departamento de


cobrança ameaçou cortar o remédio dela se eu não pagar.

— Por que você está pagando isso? Onde está seu pai?

— Ele morreu em um acidente de motocicleta. Lorraine me acolheu logo


depois. Ela é uma atriz.

— Você quer dizer garçonete12? — Ele disse, não afetado. — Deixe-me


adivinhar, Denny's?

— Isso não é muito bom.

— Bem, eu imagino que SAG13 teria coberto isso. — Ele olhou para a
conta. — Sinto muito, Mia. Eu não fazia ideia.

— Então você não pode me despedir, — eu disse. — Diga-me que você não
vai.

— Você quer ser atriz?

— Não. — Coloquei a nota de volta com as outras.

— Sorte sua. Sua erupção nervosa teria seu próprio cartão SAG. — Ele riu
de sua piada. — Eu realmente te deixo nervosa?

Eu deslizei as notas para fora de sua linha de visão.

— Não é minha intenção.

— Então não seja tão...

— Meu terapeuta me disse que tudo faz parte do meu desejo de morte. — Seu
rosto caiu. — Assim, pelo menos ninguém ficaria de luto.

— Por que você diz isso?

— Se todos o detestarem, ficarão felizes por você ter partido.

Isso não fazia sentido. — As meninas têm alta consideração por você.

— Tenho certeza de que gostariam de ser chamadas de 'as garotas'.

12
trocadilho com a palavra actress (atriz) e waitress (garçonete)
13
Screen actors Guild - Sindicato que representa atores
— De qualquer forma, elas parecem ter mais medo de Cameron.

— A maioria das pessoas tem.

Esperando que ele dissesse mais, tentei ler seu rosto.

Ele esquadrinhou a sala.

— Como é a sua casa? — Eu disse.

— Maior. — Seu olhar pousou na minha cama no canto.

Bailey me disse para comprar uma divisória de quarto e agora eu gostaria de


ter comprado.

Ele olhou para minha televisão. — Você precisa de uma tela plana.

— Foi um presente.

— Bailey?

— Sim.

— É estranho trazer meninos aqui.

Eu mordi meu lábio. — Você tem namorada?

— Por quê?

— Apenas me perguntando.

— Agora não. — Ele inclinou a cabeça. — Então, essa Bailey?

— Ela é gay, mas somos apenas amigas. Quer dizer, nós não.... você sabe.

Ele revirou os olhos em choque fingido. — Fazem sexo?

Eu torci minha boca para esconder minha carranca.

Ele balançou a cabeça. — Pobre Bailey.

— Por que você diz isso?

— Ela te deu uma geladeira e uma TV e você ainda não tem ideia do quanto
ela está apaixonada por você.

— Nós não somos assim.

— Um pouco na defensiva.
— Não estou. Nós nos conhecemos desde a quinta série.

— Oh, bem então, ela pode não querer dormir com você.

— Ela tem integridade. — Eu segurei minha cabeça erguida.

— Essas duas coisas não são mutuamente exclusivas. — Ele cruzou os


braços. — Eu só sou assim com amigos de quem gosto. — Ele arqueou uma
sobrancelha, aparentemente surpreso com sua admissão. — Eu imagino que todos
os seus amigos estão apaixonados. Você é o grande prêmio. Mas você não acha isso,
não é?

— Por que você está aqui?

— Precisamos conversar sobre o que está escondido em sua geladeira. — Ele


se encostou no balcão. — Ou podemos optar por discutir algo um pouco menos
assustador.

Meu peito apertou e eu quebrei seu olhar.

— Quinta-feira à noite, quando você entrou no meu escritório com Cameron


e pediu, se podemos chamar assim, pelo seu emprego de volta.

Pisquei para ele, nervosa de onde ele poderia levar isso.

— Para ser honesto, sua atitude corajosa fez com que Cameron e eu nos
convencêssemos que você tinha experiência sexual antes mesmo de trabalhar na
Enthrall. — Ele fez uma pausa. — Eu sei que isso é difícil para você, mas é
importante tirarmos isso do caminho. Posso continuar?

Eu dei um aceno de cabeça, minha voz me evitando.

— Durante o tempo em que você se mostrou para mim, Cameron primeiro


pediu sua permissão para tocá-la. Você se lembra?

— Sim.

— Você entendeu o que ele estava te perguntando?

— Sim.

Sua carranca se ergueu. — Ele também perguntou se você queria que ele
parasse. Lembra-se disso?

— Sim.

— Por que você não disse a ele para parar?


— Eu não queria que ele parasse. — Minhas palavras saíram fracas,
nervosas.

— Você gostou?

— Sim. — Eu murmurei.

— Foi uma experiência sexual altamente carregada. Você se arrepende?

Eu corei. — Não.

Ele pareceu agradavelmente surpreso. — O problema Mia é, a sexualidade


do cérebro está ligada de uma certa maneira. Um jeito delicado. A maioria das
pessoas nunca consegue explorar, ou quer, o que fazemos na Enthrall. É uma
escolha de estilo de vida incomum, mas um... — Ele fez uma pausa. — É uma
decisão muito madura e bem pensada, apenas bem ajustada e...

— Eu entendo, — digo. — Você está tentando dizer que o ambiente pode não
ser bom para mim.

— Ou pior. Eu nunca me perdoaria se essa experiência lhe causasse


angústia. Você é minha preocupação. — Ele encolheu os ombros. — Só porque
alguns de nós optamos por viver a vida de uma forma decadente... — Ele procurou
as palavras novamente. — Você não me parece alguém que normalmente faria algo
assim. E lamento que você tenha sentido a necessidade.

Suspeitei quais eram as próximas palavras de Richard e meu coração


afundou.

— Você gostaria de comentar sobre qualquer coisa que eu disse? — Ele


perguntou.

Meu olhar fez uma varredura de passagem nas notas. — Tara viu sua
masmorra também.

Um olhar de confusão passou por ele. — Você conhece Tara? — Richard


piscou. — Foi assim que você soube do trabalho. — Outra revelação o varreu. —
Tara armou para você se apresentar no meu escritório? Não foi ideia sua, foi?
— Ele acariciou sua testa.

— A música foi ideia minha.

Ele deu um sorriso gentil. — Tem certeza que quer estar perto de pessoas
como nós?

— Mais do que tudo.


Ele enfiou as mãos nos bolsos e seu olhar permaneceu em mim. — Você
gostaria de ser minha assistente executiva? Isso envolverá basicamente o que você
está fazendo agora. Claro que a nova posição vem com um aumento salarial.

— Richard, eu não preciso de sua caridade. Sou mais do que capaz de cuidar
de mim e daquilo. — Apontei para a pilha de notas.

— Eu não duvido.

— Você ia me despedir, não é?

— Não consigo me lembrar agora. Ouça, se você quiser ir embora, se ficar


desconfortável com qualquer coisa que veja ou ouça, você deve vir a mim e nós
discutiremos isso. Entendeu?

Eu dei um aceno de cabeça. — Aquilo que você me disse na masmorra sobre


Cameron querer me ver queimar?

— Eu estava com raiva dele por levar você lá. Eu queria ser o único a fazer
isso quando eu considerasse você pronta. Apenas mostrar a você. Nada
excêntrico. Cameron está sempre tentando salvar alguém. Seus métodos são um
pouco sombrios, admito, mas também é nosso estilo de vida. — Ele enfiou a mão
no bolso e tirou seu BlackBerry. — Falando do diabo... Ele quer me encontrar para
uma bebida. — Richard mandou uma mensagem de volta para Cameron.

Aproveitando-me de tê-lo distraído, estudei seus cachos loiros espetados e a


maneira como ele mordia o lábio quando pensava profundamente, e aquela
maneira sonhadora que seus olhos se enrugaram em um sorriso.

Ele olhou para cima. — Cameron quer saber se eu danifiquei você.

— O que você disse para ele?

— Para cuidar de seus próprios negócios. Já que ele tem bastante.


— Richard guardou seu telefone. — Mia, você faria algo por mim?

Eu segurei minha carranca.

— Se Cameron ao menos olhar para você, — ele disse. — Se ele falar com
você, se respirar na mesma sala que você, me mande uma mensagem
imediatamente.

Eu dei um aceno de cabeça, na verdade, grata que Richard estava fazendo


algo certo para variar.

— Eu tenho que ir. — Ele pescou seu telefone novamente e leu uma
mensagem.
— Como vou enfrentá-lo de novo?

— Bem, você me enfrentou, — disse ele. — E eu fiz muito pior para você.

— Mas você não é ele.

O olhar de Richard deixou seu BlackBerry e disparou para encontrar o meu.


CAPÍTULO 10

Com as pernas cruzadas, sentei-me no chão em frente à minha TV.

O controle remoto estava pifando novamente e eu abri a parte de trás dele e


tentei meu truque de remover as pilhas e colocá-las de volta. Apertei o botão e
nada aconteceu. — Grrrr.

A campainha tocou.

Baixando as cortinas e espiando pela janela da frente, quase parei de respirar


permanentemente quando vi Cameron. Era tarde demais para fingir que estava
fora. Ele tinha me visto. Vestido com meu pijama, mal estava pronta para receber
companhia. O que diabos ele estava fazendo aqui?

Sério, ele não poderia ter ligado primeiro?

Eu abri a porta. — Oi.

— Ei, Mia. — Ele deu o maior sorriso. — Você não atende o telefone?

— Não ouvi. — Olhei para a sacola de papel da Saks Fifth Avenue em sua
mão. Havia outra bolsa atrás daquela.

Cameron passou por mim e entrou, sem ser convidado. Esperei que ele
reagisse como Richard reagiu quando percebeu que eu morava em um estúdio.

Ele não fez isso. — Como você está? — Ele disse.

— Tudo está certo? — Fui educada, apesar de ainda estar irritada com ele
por me enganar até aquela masmorra. Aquele beijo. Ele brincou comigo como um
animal de estimação. Eu não conseguia entender por que ele estava aqui.

Como se sentisse meu nervosismo, ele recuou, colocando alguma distância


entre nós. Richard queria que eu o contatasse da próxima vez que Cameron falasse
comigo, mas eu me perguntei como faria aquela ligação com ele bem na minha
frente. Richard não ficaria feliz por ele estar no meu apartamento, eu sabia disso.

O olhar de Cameron pousou no meu bloco de desenho no chão. Ele caminhou


em direção a ele. — Estes são bons, Mia. — Ele olhou para mim. — Você desenhou
isso?

Eu os juntei. — Só estou brincando com algumas ideias.


Ele me olhou como um falcão enquanto eu os escondia atrás de um
travesseiro. Nunca mostrei minha arte a ninguém, nem mesmo a Bailey. Esses
designs de moda ainda precisavam de muito trabalho e eu não me sentia confiante
para mostrá-los a ninguém ainda.

— Você é uma aspirante a estilista de moda? — Disse Cameron.

— Posso pegar uma bebida para você?

— Não, obrigado. — Ele olhou com horror para o balcão da cozinha — O que
diabos é isso?

— O que?

— Isso. — Ele se aproximou e pegou meu Pot Noodle14.

— É o meu jantar.

— Não no meu turno. — Ele abriu a lixeira com o pé e jogou-a


dramaticamente.

— Ei!

— Com que frequência você come assim?

— Hum... todas as noites, mais ou menos.

— Eu sinto que acabei de entrar em um romance de William Burroughs.

— Um o quê?

— Naked Lunch, — disse ele e, diante da minha reação, acrescentou: — É


um livro. Adaptado para filme. — Ele acenou com a mão como se estivesse
entediado em explicar.

— Por que você está aqui?

— Temos um cliente VIP que chegou da Sicília hoje cedo. — Cameron


balançou a cabeça em frustração. — Senador Marcello DeLuca.

Tentei descobrir por que ele gostaria de compartilhar isso comigo.

— Richard também não está atendendo ao telefone, — disse ele.

14
Marca de macarrão instantâneo
— Vou mandar uma mensagem para ele. — Atravessei a sala e peguei minha
bolsa.

Cameron tirou meu telefone da minha mão. — Ele provavelmente está


ocupado.

— Ele não vai se importar. — Eu o alcancei.

Ele escondeu atrás das costas. — Eu tenho um presente para você. — Ele
ergueu as sacolas com a outra mão.

Irritada por ele achar que eu estaria distraída com sacolas de compras, peguei
meu telefone novamente e avistei a insígnia de Manolo Blahniks no outro.

— Estes são para você, — disse ele.

— Para mim? — Eu recuei.

— Você gostaria de ganhar algumas horas extras?

— Eu não posso esta noite, desculpe.

— Vou fazer com que seja o dobro do tempo. — Ele franziu a testa para meus
PJs15.— Como se você tivesse outros planos. — Ele colocou meu telefone de volta
na minha bolsa. — Venha jantar. Ajude-me a entreter o senador.

— Você já tentou a Scarlet?

— Ela está em Vegas.

— Lotte?

— Meu cliente é conservador.

— O que isso significa?

— Lotte não é o tipo dele.

Eu fiz uma careta. — Penny?

— Ela está na estréia de um filme com um cliente. Um produtor de cinema.


— Ele estendeu as sacolas. — Estou um passo à sua frente. — Ele as entregou
para mim.

Olhando dentro para o vestidinho preto, me perguntei como ele sabia meu
tamanho. Dentro da outra bolsa havia uma caixa de sapatos.

15
pijamas
Ele olhou para os meus pés. — Trinta e Sete? — Cameron enfiou a mão no
saco de papel dourado e tirou uma caixa de sapatos Manolo Blahniks. Ele abriu a
tampa, revelando o par de sapatos de salto alto mais elegantes que eu já vi. Eu me
perguntei quanto custava tudo isso.

— Você pode mantê-los depois. — Ele acenou como se não fosse nada.

Esse era o tipo de sapato que eu nunca consegui comprar na vida. Eu estava
quase babando, droga, e por sua diversão óbvia ele poderia dizer.

— Você está me prostituindo!

Sua risada encheu a sala. — Não. É só jantar. Depois para casa. — Ele
ergueu as mãos. — Sério, Mia. — Ele balançou a cabeça para me castigar.

— Por que você não pode ir sozinho?

— Desiludir o cliente? Richard ficaria furioso conosco. — Ele deu um aceno


de cabeça. — Devo dizer a ele que você recusou?

— Deixe-me enviar uma mensagem para ele.

Ele colocou a mão sobre a minha bolsa para me bloquear.

— Você me deve um pedido de desculpas, — eu disse.

— Eu devo?

— Por me levar para a masmorra. Você sabia que isso deixaria Richard com
raiva. Ele me bateu por isso, pelo amor de Deus.

— Ele fez?

— Vocês são melhores amigos. Vocês contam tudo um para o outro. — Eu


cruzei meus braços.

— Pelo que eu pude perceber, você gostou. Além disso, você me disse no
elevador que estava intrigada com o que acontece lá embaixo.

— Com o que parecia. Não o que você faz lá.

— Você deveria ter sido mais clara.

Eu apontei para ele. — Eu sei o que você faz pela Chrysalis.

Ele pareceu impressionado.

— Você é o psiquiatra do clube. Você avalia as pessoas para ver se elas estão
prontas para se tornarem membros.
— Impressionante. Além de me chamar de psiquiatra. Por favor, não.

Ele aumentou a intimidação.

— Eu sei que você avaliou pessoalmente os Sullivans, — eu disse. — Não


acho que Constance esteja pronta.

— Se você observou hesitação, isso é normal.

— Ela está apavorada.

— Essa é a sua opinião profissional?

— Não preciso de um certificado para resolver isso. — Eu me aproximei


dele. — E às vezes você está errado.

Sua expressão mudou para fascinação.

— No meu primeiro dia na Enthrall, — eu disse, — ouvi Richard dizer a


alguém chamado Dominic para revogar a assinatura de um cliente.

— Ah.

— Portanto, quem quer que você tenha criado o perfil teve que ter sua
assinatura cancelada.

Seu rosto se suavizou pensativamente.

— Bem, o que aconteceu lá? — Eu disse.

— Eu ofereci um perfil perfeito. O que eu não tinha como prever era o álcool
que eles enfiaram na Chrysalis. Quando seus itens pessoais foram revistados, um
frasco prata foi descoberto. — Cameron encolheu os ombros. — Tanto o Enthrall
quanto a Chrysalis estão secos. Livre de drogas. Todos estão claramente
informados sobre isso. Temos bebida na festa uma vez por ano, mas isso é um
máximo de uma bebida. Somos muito rigorosos, em mais formas que você possa
imaginar.

— Oh.

— Próxima questão? — Ele disse categoricamente.

— Você não deveria ter me levado para aquela masmorra.

— Isso não foi uma pergunta.

— Eu sei que você é mais inteligente do que eu. Mas, por favor, não me
manipule nunca mais.
Ele estreitou seu olhar. — Por favor, não fale assim comigo nunca mais.

Eu me amaldiçoei por deixá-lo entrar.

— Lembre-se de que você me implorou para ajudá-la a conseguir seu emprego


de volta, — disse ele. — O que eu fiz.

— Eu ainda sou grata. Bem como a coisa do carro.

Ele se aproximou. — Que orientação Richard deu a você no seu primeiro dia?

— Faça os clientes felizes.

Ele olhou no seu relógio. — O senador está chegando a um restaurante em


quarenta e cinco minutos. Você está nos atrasando.

— Não tenho certeza...

— Um dos principais clientes de Richard.

E pensar que planejei uma boa noite assistindo TV, bebendo água mineral e
talvez até desenhando. Meu olhar se desviou para os desenhos que eu tinha
escondido e esperava que Cameron tivesse esquecido que os tinha visto.

— A propósito, você desenha muito bem, — disse ele. — Você tem um


verdadeiro talento.

Mais uma vez, Cameron me lembrou de sua percepção aguçada como um


laser, sobre a qual Richard havia me falado.

— Diga seu preço. — Ele encolheu os ombros. — Enthrall pode pagar.

— Mil dólares. — Eu descansei minhas mãos em meus quadris, sabendo


muito bem que ele zombaria.

— Parece razoável.

Eu mordi meu lábio, me perguntando se deveria ter ido mais alto.

— Sim, eu vejo o que você está fazendo aí, senhorita. Vá se vestir.

Mil dólares. Ele tinha que estar blefando.

— Não, a menos que Richard assuma isso, — eu tentei novamente.

— Vamos chamá-lo do carro. Dessa forma, não perderemos mais tempo


precioso.

Eu olhei para ele. — Você teve tempo de ir às compras.


— Na verdade, nós compramos isso para que você possa ir à festa.

— Lotte me disse que as mulheres usam corpetes e meias.

— Você tem que vestir algo para a festa. — Ele deu um leve sorriso. —
Richard sabe que você é ótima com os clientes e é por isso que você foi a primeira
pessoa que queríamos esta noite. — Ele ergueu as mãos novamente. — Eu tentei
que os outros fossem justos com você. Por favor, se apresse.

— Tem certeza de que Richard não ficará aborrecido?

Ele gentilmente rasgou a etiqueta do vestido. — Acredite em mim, assim que


ele souber do nosso jantar, virá logo para se juntar a nós.

Relutantemente, peguei o vestido dele. Sentindo seus olhos que tudo viam me
seguindo pelo quarto, abri a gaveta da minha cômoda e tirei uma tira o mais
discretamente possível, bem como um sutiã combinando. Fazendo o meu melhor
para escondê-los dele, fui para o banheiro.

Em minutos eu coloquei o vestidinho preto, maravilhada com a forma como


Cameron tinha adivinhado meu tamanho. Ele se encaixou perfeitamente, embora
exibisse minhas curvas um pouco demais. Tentei puxá-lo para baixo, mas não
cedeu. Vestidos curtos estavam na moda, mas isso era muito mais ousado do que
eu jamais teria escolhido. Os sapatos deslizaram facilmente e, apesar de serem
saltos de tiras, eram confortáveis. Não havia dúvida de que essa roupa havia
custado a Cameron uma pequena fortuna.

Depois de aplicar um pouco de maquiagem, que não demorou muito porque


eu preferia um look natural, passei uma escova no cabelo e baguncei; cachos loiros
cascatearam sobre meus ombros e minhas costas. Um pouco de gloss rosa suave e
eu estava pronta.

Levei um segundo para reunir minha coragem. E se Cameron não gostasse


da minha aparência? Talvez ele não tivesse julgado o comprimento da bainha
direito. Raposa versus vagabunda? Era difícil dizer que nunca tinha feito compras
na Saks. Duas respirações profundas depois e fiz uma entrada.

Cameron piscou várias vezes para mim.

— Você não gostou? — Eu disse, embora ao mesmo tempo aliviada por ele
mudar de ideia e não me levar agora.

— Ok. Uau, — ele disse, endireitando-se. — Você está hum...

— Muito curto, não é? — Eu balancei a cabeça em resposta à minha própria


pergunta.
— Você é perfeita. Quer dizer, o vestido é perfeito. — Ele agarrou minha
bolsa e pensou melhor. — Você não precisa disso. — Ele parecia confuso.

— Eu tenho uma bolsa clutch. — Eu andei a curta distância até o armário


do meu quarto. Encontrei minha mini bolsa preta que combinou com meu
vestido. Em seguida, fui até o balcão da cozinha onde Cameron havia deixado
minha bolsa e retirei meu iPhone, um batom sobressalente e minha carteira,
colocando-os todos dentro da bolsa. — Você tem certeza de que Richard vai ficar
bem com isso?

Ele acenou com a cabeça, embora desta vez permanecesse em silêncio e


apenas gesticulasse em direção à porta, apressando-nos para a noite. Ele segurou
minha mão com um pouco de força. Cameron me levou até uma limusine onde um
motorista uniformizado esperava.

— Nós vamos nisso? — Eu disse.

— Sim, — disse Cameron.

Lorraine iria surtar. Eu fui para a maçaneta da porta e Cameron me puxou


de volta. O chofer abriu a porta de trás para nós e percebi meu erro. Dentro do
carro havia um bar. Já tendo me envergonhado por jorrar sobre nosso transporte,
eu segurei minha empolgação.

O motorista me lançou um sorriso educado no espelho retrovisor e dirigiu o


carro para Ventura. Depois de passar alguns semáforos verdes e apenas um
vermelho, viramos para a rodovia e rumamos para o sul.

Algo tão de última hora parecia tão bem planejado.

— Devia ter usado meias? — Sussurrei, sentindo-me decididamente nua


exibindo minhas pernas nuas.

— Desculpe? — Disse Cameron.

— Devia ter usado meias?

Ele me lançou um olhar mais longo. — Não.

Sua reação parecia meio estranha.

Ele olhou pela janela.

Eu me perguntei quanto Cameron ofereceu a um chofer e quanto ele custou


por noite. Embora eu imaginei que tudo isso iria para a conta de
Enthrall. Lembrando que deveria ligar para Richard, abri minha bolsa e peguei
meu telefone.
— Agora não. — A mão de Cameron pousou na minha e ele olhou para o
motorista para fazer seu ponto.

— Vou mandar uma mensagem para ele, — eu disse.

— No restaurante. — Cameron voltou sua atenção para o cenário que


passava.

Eu esperava que Cameron não me pegasse enviando mensagens de texto. Ele


se inclinou, tirou meu telefone de mim, colocou-o de volta na minha bolsa e
fechou. Nós dirigimos o resto do caminho em silêncio. Eu ponderei sobre para onde
estávamos indo e que tipo de comida eles serviam. Certamente, se fôssemos
receber um VIP, seria um restaurante sofisticado.

Meu palpite estava certo. O motorista parou junto ao meio-fio do Chez


Polidor.

— Eu farei toda a conversa. — Disse Cameron. — Aprecie a sua refeição e


saboreie o seu vinho. Pense em como você vai aproveitar o seu bônus.

— Estou fazendo isso como um favor.

— Lembre-se de com quem você está falando.

— Ainda.

— Ainda, — ele disse. — Faça o que eu digo e quando eu digo. Entendeu?

Isso é apenas um jantar, certo? Eu fiz uma careta, sentindo uma mudança em
seu comportamento.

O brincalhão e persuasivo Cameron do meu apartamento se foi e em seu lugar


estava o Sr. Dominador. Ele me deixou nervosa. O motorista abriu minha porta e
eu deslizei para fora e rapidamente me juntei a Cameron na calçada.

Sua mão deslizou pela minha espinha em direção ao arco inferior das minhas
costas e descansou lá. — Mia, eu entendo suas motivações melhor do que você
imagina.

— Minha madrasta?

— Aparentemente, você está morando em um estúdio, então pode se dar ao


luxo de mantê-la viva.

Richard deve ter compartilhado minha história pessoal. Eu não tinha certeza
de como me sentia sobre isso.
Cameron examinou a janela de vidro da frente do restaurante. — Você é uma
jovem muito especial. — Ele me empurrou de volta para a porta, logo abaixo do
toldo da loja de design de interiores ao lado. — Quando você estiver pronta para
falar sobre sua vida pessoal, estou aqui para ajudá-la.

— Obrigada, Cameron.

Depois de tudo o que aconteceu entre nós, senti que podia confiar nele. Era
bom ter o Cameron mais suave e gentil de volta.

Ele fez um gesto com o polegar e o indicador. — Você me faria um pequeno


favor?

Eu estreitei meu olhar.

— Vire-se, — disse ele.

Eu torci minha boca, não tenho certeza sobre isso.

Agarrando meus ombros, ele me puxou para que minhas costas ficassem de
frente para ele. — Segure firme. — Seus dedos acariciaram meu couro cabeludo,
fazendo cócegas enquanto passavam. Ele separou meu cabelo ao meio, formando
dois rabos de cavalo. Eu o senti prendendo cada um com uma faixa. Ele as tinha
no bolso o tempo todo.

Eu me virei, minhas bochechas coradas. — O seu cliente é um pervertido?

Ele se encolheu. — Talvez um pouco.

Fui retirá-las.

Ele agarrou minha mão e me parou. — Mia, há algo que você precisa saber.
— Ele me puxou para fora do toldo e me puxou em direção à porta do restaurante.

— O que? — Tentei escapar de suas garras.

— Eles têm o melhor scallopini de vitela e linguini com molho de mariscos


aqui. — Ele riu e abriu a porta.

Comensais bem vestidos conversavam em mesas imaculadas com toalhas


brancas. A iluminação fraca conferia um ambiente de decadência. A decoração deu
ao lugar um aspecto caseiro, mas caro. As fotos estavam amontoadas, aumentando
o aconchego com o caos artístico.

— Você é um bastardo, — eu sussurrei, e dei ao maitre o mais doce aceno de


cabeça.

Cameron examinou a sala. — Você me lisonjeia.


— Dr. Cole, estamos esperando por você, senhor, — disse o maitre. — Você
vai se juntar ao senador DeLuca?

— Estamos, obrigado, Charles, — disse Cameron.

— Senhora, — disse Charles, virando-se bruscamente nos calcanhares e


conduzindo-nos para fora.

Fomos guiados por todo o restaurante, navegando em mesas e


cadeiras. Olhando para a frente, eu não queria receber nenhum olhar crítico dos
outros convidados ou mesmo dos garçons. Minha confiança já estava abalada e eu
não precisava de nenhum incentivo para entrar em pânico.

Um homem se levantou para nos cumprimentar. Senador DeLuca,


presumi. Ele usava o terno risca-de-giz azul mais elegante e sua gravata-borboleta
o deixava muito rico. Ele sorriu para Cameron e reagiu com alegria quando me
avistou. Ele parecia ter uns quarenta anos e estava inesperadamente
deslumbrante com seu cabelo preto azeviche e pele morena. Embora a maneira
como ele me comeu com olhos enviou calafrios na minha espinha. Amaldiçoei
Cameron por me vestir como uma sacana e esses rabos de cavalo só pioraram as
coisas.

Isso, eu aprendi, era um alarme subconsciente que eu deveria ter ouvido.

Por que mudar um hábito de uma vida inteira e ouvir minha intuição?

Juntamo-nos ao senador DeLuca no estande. O assento de madeira de


encosto alto dava a ilusão de privacidade, embora o forro de couro fosse pelo menos
confortável nas minhas pernas nuas. Sentei-me em frente ao senador.

Ao lado de Cameron, eu o observei navegar nas brincadeiras sociais, nos


apresentando um ao outro e até mesmo pedindo uma garrafa de Dom Perignon
com a confiança pela qual eu o conhecia.

Oh, champanhe. Isso pode até ser divertido.

Cameron deu uma olhada no menu. — Para a senhora... — Ele torceu a boca
pensativamente — Magret de Canard Sauce Cerises. — Ele entregou o cardápio
ao garçom.

Eu cutuquei sua coxa. — Eu não gosto de cerejas.

— Alguém lê francês. — Cameron estreitou o olhar. — Que outros segredos


você está escondendo de nós?

— Posso pedir o meu? — Sussurrei sem graça.

O senador DeLuca e o garçom fixaram sua atenção em mim.


— Senador? — Disse Cameron.

— Ela vai querer atum Ahi grelhado com gergelim? — O senador DeLuca
disse ao garçom.

— Boa escolha, — disse Cameron.

Se o garçom achou que essa troca era estranha, ele certamente não a mostrou
enquanto a anotava. Ele continuou a tomar o pedido de Cameron de bife de lombo
cortado com aspargos de Cameron e a truta de riacho tostada do senador DeLuca.

O garçom correu para a cozinha.

Sem ter certeza do que tinha acontecido lá, resisti à vontade de falar,
lembrando-me de quando Richard escolheu meu sorvete. Esses homens realmente
tinham problemas de controle. Ainda assim, eu não estava aqui para comer, mas
apenas cumprir nosso acordo e conversar um pouco com o convidado de Cameron
e fazê-lo feliz. Eu esperava que isso fosse algo que eu pudesse fazer. Pode até haver
um bônus se Cameron cumprir sua promessa. De tudo que ele tinha esbanjado até
agora, parecia promissor. Eu seria capaz de pagar a conta da radiologia da minha
madrasta, pensei, pegando meu champanhe.

Meu espumante estava seco e frio e tomei o que esperava serem vários goles
discretos para me acalmar. Se Cameron insinuasse que algo mais poderia ser
esperado, eu simplesmente me desculparia, dizendo a ele que precisava usar o
banheiro e fugiria. Mesmo se ele tivesse me comprado esses sapatos incríveis. Meu
plano me ajudou a relaxar.

Isso foi até Cameron deslizar a mão pelo meu vestido e ao longo da minha
coxa e colocá-la lá. Eu olhei para ele, tentando enviar uma mensagem discreta de
que eu queria que ele a removesse.

Cameron me ignorou, mantendo seu foco no senador DeLuca. — Como está a


sua família?

— Bem, e a sua? — Ele disse.

— Tudo bem. Ouvi dizer que nossas irmãs almoçaram em Nova York no mês
passado? — Disse Cameron.

— Sim. Elas se divertiram.

— Elas comeram no Vai, — disse Cameron.

— Sim, você já jantou lá?

— Ainda não, mas eu pretendo. Amo o Upper West Side.


Minha atenção disparou com o que estava reunindo sobre Cameron e me
perguntei o que mais iria aprender.

Cameron percebeu uma mudança em meu comportamento e sua mão deslizou


mais para cima. Tentei cutucá-lo, mas seu aperto aumentou e seu polegar
acariciou. Tentei me contorcer, mas o olhar de repreensão do senador me fez
congelar.

A conversa entre eles fluiu, o diálogo casual revelando uma amizade que já
existia. Essa facilidade que eles compartilhavam revelava que eles se conheciam
bem.

O BlackBerry do senador DeLuca apitou.

— Eu tenho que atender isso. — Ele pediu desculpas e foi embora.

Richard tinha me repreendido por usar meu telefone no trabalho, e aqui


estava nosso convidado usando o dele no jantar. Mesmo assim, os ricos sempre
tinham concessões, assim como o Cameron parecia pensar que tinha direito com a
minha coxa. Com o polegar e o indicador, levantei seu dedo mínimo, ganhando
impulso.

Cameron ofereceu ao senador um aceno amigável e observou-o se afastar. Ele


virou a cabeça para olhar para mim. — Você percebe que estou com dor?

Peguei meu copo e tomei alguns goles. Isso tudo seria muito mais suportável
se eu ficasse embriagada.

— Mia, segure seu copo pela haste, — disse Cameron.

— Por que?

Ele pegou seu copo para me mostrar. — Caso contrário, você esquenta o
champanhe.

Fiquei arrasada por ter sido educada assim. — Ele provavelmente saiu para
dar um golpe em alguém.

— Estereotipagem? — Cameron me lançou um olhar. — Algo me diz que


você é uma especialista.

Franzindo o nariz, lamentei minha explosão. Na verdade, foi divertido sair


com alguém de tanto prestígio. — Desculpe. Estou um pouco nervosa.

— Você está indo bem, — Cameron tomou um gole de champanhe.

Segurei meu copo pela haste. — Não estou dizendo nada.


— Exatamente.

— Você é como Richard, apenas mais astuto.

— Eu não sou como Richard de forma alguma. Ele tem o maior coração que
eu conheço. Pena que alguém teve que ir e estripá-lo.

— Uma amante?

— Você supera uma amante.

O garçom reapareceu e colocou nossas refeições na nossa frente, tendo


memorizado quem havia pedido o quê. O garçom interrompeu irritantemente e,
assim que ele saiu, esperei que Cameron continuasse falando sobre Richard. Ele
apenas se recostou e tomou um gole de champanhe.

— Por que você não me deixou pedir meu próprio jantar? — Eu disse.

— Para que você saiba quem está no comando.

— Você sabe que existem direitos das mulheres.

Cameron se virou em seu assento para olhar melhor para mim. — Cuidado
ao elaborar.

— Mulheres morreram pelo direito à palavra e pela igualdade.

— Você pode ser mais específica?

— As Sufragistas no final do século 19 e no século 20. — Levantei meu


queixo. — Emily Davison.

Ele parecia divertido. — Você está usando como exemplo uma mulher que
morreu enquanto defendia sua posição no Epsom Derby, tentando lançar uma
bandeira sobre o cavalo do Rei George em 1913?

— Sim.

— Você provavelmente acha que o rei estava montando nele.

— Isso é maldade.

— Que tal escolher algo mais atual. — Ele encolheu os ombros. — Mais
século vinte e um.

— Que tal você não ser um idiota.

— Você só está aqui para ficar bonita. — Ele sorriu. — Eu espero mais da
minha submissa.
— Eu não sou sua submissa.

— Esta noite você é.

— Eu sou do Richard. — Minhas palavras me surpreenderam.

— Bem, bem, — disse Cameron.

— Bem, eu sou a secretária dele, o que é a mesma coisa. — Eu revirei meus


olhos.

— Confie em mim, não é. Você acabou de revirar os olhos para mim?

Meio distraída, olhei para a mesa sem ter certeza do por que disse isso a ele.

— Você acabou de olhar para a sua faca? — Ele disse.

— Não.

— Sim, você fez. Por favor, não me esfaqueie durante o jantar. — Ele
arqueou uma sobrancelha. — E, por favor, não use uma faca de jantar cega.

— Você já viu um terapeuta? Além de você, quero dizer?

— Você é adorável. Eu não me canso de você.

— Eu tenho que ir ao banheiro. — Peguei minha bolsa e dei uma cutucada


em seu braço. — Por favor, me deixe sair.

Ele se levantou, seu olhar abaixado, e eu estava com medo de que ele
confiscasse meu telefone.

— Agora seria uma boa hora para ligar para Richard, — disse ele.

Aliviada por poder apaziguar Richard e deixá-lo saber que eu estava com
Cameron, desisti. Com um sorriso educado, passei pelo senador DeLuca, que
conversava em seu celular em italiano.

Eu não queria o dinheiro agora. De alguma forma, o pensamento deixou um


gosto amargo na minha boca.

Dentro do banheiro, examinei meus contatos até chegar ao número de


Richard. Eu disquei rapidamente e esperei que ele atendesse. Meu estômago
afundou quando recebi seu serviço de atendimento.

— Ei, Richard, — eu disse, — é a Mia. Estou no... — Oh merda, onde eu


estava?

— Chez Polidor, — disse uma mulher escondida em uma baia.


— Obrigada, — eu falei para ela e sussurrei: — Richard, estou em um
restaurante chamado Chez Polidor. É em West Hollywood. Cameron me trouxe
aqui. Hum... estamos com esse cliente, você sabe de onde. O nome dele é DeLuca...

A ligação caiu.

— Nãããão... — Eu disquei novamente e não consegui outro sinal.

Eu levantei meu telefone no ar como uma idiota, tentando captar um sinal; eu


estava desesperada.

Devolvendo meu celular à minha bolsa, roubei mais alguns segundos para
afofar meu cabelo no espelho. Uma versão mais jovem de mim olhou de volta. Eu
parecia ridícula em rabos de cavalo e fui tirá-los e pensei melhor. A última coisa
de que precisava era um Cameron zangado.

De volta à mesa, esperei que ele relaxasse e me permitisse voltar para


ele. Tentei fingir que o senador não estava olhando para minhas pernas. Os dois
estavam comendo. Eu estava feliz que eles não esperaram por mim. Chamar
atenção indesejada não era algo que eu estava com vontade.

Saboreando a forma como o champanhe suavizou a borda, terminei minha


taça. Apesar de haver apenas uma pequena porção de atum Ahi grelhado no meu
prato, era tudo o que eu percebi. Olhei para o bife e aspargos de Cameron, me
perguntando se ele teria que comer um hambúrguer no caminho para casa. Tive
certeza de que o motorista não se importaria.

O senador fez sinal ao garçom para que enchesse o copo. Sua atenção voltou
para mim.

— Então você é da Sicília? — Eu disse.

O senador pareceu surpreso.

A mão de Cameron encontrou o caminho para minha coxa novamente. —


Como está o seu atum Ahi? — Ele me lançou um olhar sutil para calar a boca.

— Delicioso, — eu disse. — Como está seu bife?

Ele ergueu a mão da minha coxa e voltou a colocá-la no garfo. — Cru.

— Talvez eles cozinhem um pouco mais para você? — Eu disse.

— Eu gosto disso cru.

— O Poderoso Chefão não era da Sicília? — Perguntei.


O aperto de ferro de Cameron atingiu minha coxa. Minha respiração ficou
presa na minha garganta enquanto seus dedos espremiam todo o sangue da minha
carne. Quando ele ergueu a mão, minha circulação voltou e uma súbita calma
tomou conta de mim; uma liberação de toda a tensão...

— Cameron, — eu sussurrei.

Sua mão estava de volta, apertando minha coxa. — É Senhor.

Ele estava usando a dor para me controlar. Dominava-me.

— Senhor, — eu disse com os dentes cerrados.

Sua mão se levantou, mas deixou um rubor febril inebriante, um


formigamento entre minhas coxas, uma pulsação em meu clitóris. Soltei um
suspiro longo e suave e Cameron me deu um de seus sorrisos megawatt, parecendo
ter prazer em me deixar tonta e sem fôlego.

O olhar invejoso do senador se estreitou sobre mim.

Cameron sorriu para ele. — Falando em agressivos e ainda assim responsivos


à lambida de um chicote, como estão aqueles seus cavalos de corrida?

— Rentáveis. — O senador sorriu e deu uma mordida na truta.

O garçom encheu o copo. Quando a garrafa mudou para a minha, Cameron


colocou a mão sobre a borda. — Nada mais para ela, obrigado. Ela tem que acordar
cedo. — Ele lhe lançou um sorriso de merda.

O garçom saiu correndo com minha segunda taça de champanhe ainda na


garrafa.

Eu fiz uma careta para Cameron e sussurrei: — Eles não deveriam deixar o
champanhe à mesa?

— Minha permissão para você falar foi retirada. — O tom de Cameron era
severo assim como seu olhar. — Entendeu?

Eu me encolhi.

O senador tilintou sua taça de champanhe contra a de Cameron. — Cole, não


é típico de você obter um resultado tão lento. — Seu olhar caiu sobre mim. —
Deixe-me assumir a partir daqui.
CAPÍTULO 11

Cameron espiou por cima da taça de champanhe. — Esta pertence ao diretor


assistente.

Tentando não ficar boquiaberta com isso, me endireitei.

— Talvez possamos negociar? — Disse o senador.

Cameron colocou a faca e o garfo juntos no prato e se inclinou para trás,


indicando que não com um leve aceno de cabeça.

O senador DeLuca cruzou os braços. — Certamente uma exceção pode ser


feita?

O aperto de Cameron estava de volta na minha coxa, e apesar de eu me


comunicar com todas as habilidades subconscientes que eu podia usar, ele poderia
muito bem quebrar meu osso mas não pareceu notar.

— Como está o seu pai? — Perguntou Cameron.

— Bem. Ele manda lembranças, — disse ele. — Eu gostaria muito que isso
acontecesse.

Cameron foi responder quando seu olhar encontrou algo do outro lado da
sala. Sua mão se ergueu. Eu fiz o meu melhor para não reagir à dor enquanto o
sangue voltava para o tecido que Cameron estava cortando.

Richard veio em nossa direção.

Em segundos, ele apareceu em nossa mesa parecendo perturbado. Ele lançou


um olhar para Cameron e piscou várias vezes quando me viu. Foi maravilhoso vê-
lo.

— Richard Booth. — O senador levantou-se para cumprimentá-lo. — Meu


velho amigo. — Ele deu um tapinha afetuoso em seu braço.

— Marcello, — disse Richard, estendendo a mão.

O senador apertou e se inclinou para abraçá-lo. — Que bom que você pôde se
juntar a nós.

— Na verdade, eu estava apenas passando.

O rosto de Cameron se iluminou com diversão. — Junte-se a nós.


— Estou estacionado ilegalmente. — Richard encolheu os ombros. —
Desculpe, vamos jantar amanhã à noite, talvez. — Seu brilho disparou de volta
para mim. — Winston está no carro.

— Winston é o cachorro dele, — eu disse ao senador.

Cameron sorriu para Richard.

— É o calor, — disse Richard.

Ele realmente parecia perturbado.

— Winston odeia o calor, — acrescentou. — Deixo o ar-condicionado ligado


para ele quando não estou em casa.

Eu me pergunto como deve ser sua conta.

— Mia, — retrucou Richard.

Eu descansei minha faca e garfo no meu prato.

— Devemos repassar esses números? — Ele disse.

— Números? — Eu disse, e então percebi. — Sim, por favor.

— Ela não terminou a refeição, — disse Cameron. — Vocês trabalham muito


duro.

— Talvez não seja duro o suficiente, — ofereceu o senador.

Richard gesticulou para um garçom. — Podemos ter isso pra viagem, por
favor?

O garçom estendeu a mão para pegar meu prato, removendo-o rapidamente.

Peguei a taça de champanhe de Cameron e dei outro gole, lhe lançando um


sorriso encantado por seu jogo ter acabado.

Cameron me ignorou, mantendo seu foco na reação de Richard, sua mão


voltando para minha coxa. Ele se inclinou na direção de Richard, mantendo a voz
baixa. — Eu estava compartilhando com o senador DeLuca o desafio que estamos
tendo em domar esta aqui.

Richard olhou incrédulo para ele.

Cutuquei as costelas de Cameron — Para que saiba que sou um espírito livre.

— Eu gostaria muito de ajudar nisso, — disse o senador. — Na verdade, eu


insisto.
Cameron aparentemente conteve uma risada, seu aperto
aumentando. Preparando-se para outro aperto agonizante, eu congelei.

— Mia, agora, por favor. — Richard acenou com a aprovação quando eu me


levantei. — Então, eu conheço um ótimo lugar, — ele gaguejou. — O Ivy. Muitas
celebridades. Você vai adorar, Marcello. Há quanto tempo estará na cidade?

O olhar do senador me encontrou novamente. — Alguns dias.

Eu sorri para ele, aliviada por esse desastre ter acabado.

— Perfeito, — disse Richard. — Não vamos ocupar muito de sua visita.


— Ele estalou os dedos. — Mia.

Cameron saiu e eu passei por ele. Richard piscou várias vezes na bainha do
meu vestido e me lançou uma carranca de desaprovação. Ele se recuperou
rapidamente, gesticulando adeus ao senador e a Cameron.

Richard me levou para fora.

— E a minha comida? — Eu disse.

Richard deu um aceno de agradecimento ao maitre e puxou-me para o meio-


fio. Pelo amor de Deus, Cameron me puxou aqui e agora Richard me puxou para
fora. Eu me senti como uma boneca de pano.

— Entre, — disparou Richard, apontando para o BMW prateado com a


capota aberta. Ele passou várias notas para o manobrista, e pela expressão do
jovem deve ter sido muitas. Richard saltou para o lado do motorista.

Sentei-me no luxuoso assento de couro creme e agradeci ao manobrista por


fechar minha porta. O carro decolou e minha cabeça bateu no encosto.

— Coloque o cinto de segurança, — disse Richard.

Winston sentou-se no banco de trás, ofegando feliz. Alcançando para trás, eu


cocei sua cabeça e ele lambeu minha mão. — Ei, Winston.

— Cinto de segurança, — disse Richard novamente.

Eu olhei para a frente e puxei a alça. — Achei que você tivesse um jipe.

— Por favor, tire seu cabelo desses rabos de cavalo ridículos. — Ele me lançou
um olhar. — Seu vestido poderia ser mais curto? — Ele ligou a música e Just
Breathe do Pearl Jam tocou fora do sistema de som.

Eu me perguntei o quanto Cameron iria me odiar se eu contasse sobre ele.


Richard abaixou o volume da música. — Não conversamos sobre você me
ligar?

— Cameron me disse que não havia tempo.

Richard virou a cabeça para olhar para mim. — O que você quer dizer?

— Quando ele me pegou. Ele me disse que podíamos ligar para você do
carro. Ele mudou de ideia.

— Você deveria ter me dito que estava jantando com ele.

— Ele acabou de aparecer. — Eu me esgueirei em meu assento. — Você é o


diretor assistente?

Ele acelerou, tomando um canto largo. — De Enthrall, sim. Por quê?


— Richard me lançou um olhar de soslaio.

Cameron dissera ao senador que seja lá o que ele queria pertencia ao diretor
assistente. Eles estavam falando sobre mim, eu sabia disso. Especialmente porque
o aperto de Cameron aumentou na minha coxa quando ele disse essas palavras.

— Cabelo, Mia, — disse Richard.

Peguei cada laço de cabelo e os puxei.

Richard estendeu a mão e eu coloquei os laços em sua palma. Ele os jogou


para fora do carro. Em vinte minutos, estávamos dirigindo pela Pacific Coast
Highway.

— Onde estamos indo? — Eu disse.

— Estou pensando.

— Dirigir ajuda você a pensar?

— O silêncio me ajuda a pensar.

Eu deslizei mais para baixo e olhei para o borrão da paisagem. À nossa


direita, as colinas se erguiam na escuridão e, à nossa esquerda, as luxuosas casas
davam para o oceano. Além delas, o mar brilhava sob a lua. Ao longe, montanhas
alastrando se avultavam, fazendo-me imaginar o que havia do outro lado. Eu
esperava que Richard não me deixasse perdida em algum lugar.

— Sinto muito, — eu disse para acalmá-lo.

Ele passou a mão pelo cabelo. — Não faça isso de novo.


Eu queria dizer a ele que Cameron tinha sido muito persuasivo, me
intimidando na verdade, mas pensei melhor. O olhar de Richard desviou para
minhas pernas e ele balançou a cabeça no que parecia descrença.

— Você tem dois pesos e duas medidas16, — quebrei o silêncio.

— Da próxima vez que você entrar no covil de um dragão, — disse ele, — não
use isso.

— O que isto quer dizer?

— Significa que você faz o que mandam. — Ele empurrou o carro para a
quinta marcha.

Nós dirigimos pelo que pareceu uma vida inteira. A música era uma distração
bem-vinda.

Meu instinto de não usar isso estava certo. Tentei puxá-lo para baixo, mas
não havia realmente nada para puxar para baixo. Agora fora dos rabos de cavalo,
meu cabelo estava fora de controle. Eu o girei em minha mão e segurei nele.

Passamos em alta velocidade por uma placa anunciando que estávamos em


Point Dume Rivera.

Richard parou o carro diante de um grande portão de latão e o abriu. Eu me


perguntei quem morava aqui e questionei se eles se importariam de nós visitarmos
tão tarde. Um pouco acima na entrada de carros erguia-se uma elegante casa
espanhola com um telhado de telhas, seu acabamento em estuque proporcionando
um ar mediterrâneo complementado pelas altas janelas em arco, e tudo isso com
vista para palmeiras altas e exuberantes.

Assim que estacionamos, dirigimo-nos para a porta da frente. Winston trotou


ao nosso lado. Abaixei-me para dar um tapinha em sua cabeça. Cautelosamente,
segui Richard para dentro, esperando que quem quer que estivéssemos
encontrando não se incomodasse com meu traje vulgar.

— Fique à vontade. — Richard jogou as chaves do carro em uma mesa lateral


na entrada.

— Este é o seu lugar?

— Sirva-se de uma bebida. Tenho que fazer uma ligação rápida. — Ele
atravessou a sala de estar em direção a uma grande porta de tela, destrancou-a e
saiu.

16
expressão popular que significa reações diferentes para uma mesma situação
A iluminação baixa, a decoração cara e as paredes bege suaves apresentavam
um estilo colonial. O quarto era espaçoso, mas aconchegante, e as várias peças de
móveis lindamente esculpidas do extremo oriente tornavam o lugar
aconchegante. Cheirava a ar fresco e oceano.

Eu o segui, admirando a piscina brilhando ao luar e o jardim bem


cuidado. Até a iluminação aqui fora era bem planejada. Eu me perguntei se
Richard tinha usado um designer de interiores ou se esse era o seu gosto.

Ajoelhei-me para mergulhar minha mão na água, imergindo-a no calor da


piscina aquecida. Winston se aninhou ao meu lado e cheirou a água.

Richard olhou para seu BlackBerry e gritou: — Que porra é essa,


Cameron! Que merda, porra, porra! — Ele jogou seu telefone entre os
arbustos. Quando ele se virou e me viu, ele deu um pulo para trás e sua expressão
se suavizou. — Bem, isso resolveu esse problema.

Eu me perguntei como Cameron reagiria ao receber aquela mensagem,


embora depois da dor que ele infligiu na minha coxa eu não pudesse deixar de
sentir gratidão por Richard.

— Você tem uma piscina, — eu disse, puxando conversa.

Richard parecia incrédulo. — Vamos te levar para casa.a

— Posso nadar?

— Claro, que tal semana que vem...

Abri o zíper do meu vestido e puxei-o para cima e sobre a minha cabeça. O
minúsculo pedaço de material não demorou muito para ser removido. — Você tem
uma casa adorável, — eu disse a ele, e joguei meu vestido nas costas de uma
espreguiçadeira. — A propósito, obrigada pelo vestido.

— O que? — Ele passou a mão pelo cabelo, seus olhos arregalados


observando meu corpo. — Estou começando a soar como você. — Sua testa
franzida.

— O vestido para a festa.

— Eu nunca compraria algo tão curto para você. E que festa?

— Chrysalis. — Ajoelhei-me e peguei as alças dos meus sapatos. — Aquela


para a qual você me fez enviar convites. Cameron me disse que você mudou de
ideia e eu posso ir agora.
A convidativa água brilhava ao luar. Depois que Cameron me usou como isca
para provocar um senador e com Richard me levando de volta para sua casa sem
meu consentimento, eu merecia isso.

Ainda usando minha calcinha, mergulhei. Era revigorante e girei várias


vezes, saboreando a sensação de flutuar, pisando na água, me perguntando quanto
tempo a raiva de Richard poderia durar.

Ele invadiu o interior da casa.

Winston ficou protegendo a borda da piscina. A água parecia


purificadora. Não tendo nadado no que pareceram anos, a última vez enquanto
estava na faculdade, isso parecia celestial. Eu mergulhei debaixo d'água e nadei
uma extensão inteira ao longo do fundo.

Quando subi para respirar, vi Richard encostado em um dos pilares de pedra


que se alinhavam ao longo da piscina.

Ele tomou um gole de licor em um copo. — Eu preciso de um cigarro.

— Eu não sabia que você fumava. — Eu falei.

— Eu não fumo. — Ele engoliu o resto da bebida, balançou a cabeça e jogou


o copo alto que pousou na base de uma das palmeiras. Ele se aproximou do outro
lado da piscina, seu olhar escuro fixo em mim.

Ele deu um aceno de cabeça como se alguma realização tivesse encontrado o


seu caminho para ele. Então puxou sua camiseta para cima pela cabeça e tirou o
resto de suas roupas, jogando-as em uma espreguiçadeira.

Desviei meu olhar de sua nudez. Esses músculos tensos revelaram o quanto
ele trabalhava. Essa ereção traia sua luxúria. Ele não parecia nem um pouco
perturbado por se despir na minha frente. Caminhou em minha direção, fazendo
da água que espirrava ao nosso redor; o único som.

Pisando no chão e cautelosa, nadei para trás.

Ele parou a alguns metros de distância.

— Você tem uma casa adorável, — eu disse.

— Você já me disse isso.

— Você pode ver o oceano daqui?

— Mia, posso beijar você?

— Sim.
Ele estava em cima de mim, segurando meu rosto, beijando-me
apaixonadamente, com força, capturando minha boca na dele enquanto eu derretia
em seus braços. De olhos fechados, fui com ele, minha língua acariciando a dele,
nossos lábios se roçando. Sua ereção cutucou contra mim. Eu esperava que ele
fosse gentil quando entrasse em mim, sem pressa e não me machucasse muito. Ele
correu as pontas dos dedos pelo meu couro cabeludo, lentamente, amassando
minhas mechas com as mãos.

Aqui, sob o céu noturno, flutuando em uma piscina aquecida pelo sol em sua
fortaleza, me senti segura pela primeira vez.

Tirou meu sutiã e calcinha, suas mãos fazendo um trabalho rápido para
removê-los. Ele me empurrou para trás e pressionou contra mim, seu pau cavando
em meu estômago, enviando arrepios de antecipação por todo o meu corpo. Nosso
beijo ficou mais frenético, desesperado. Ele se aninhou em meu pescoço e plantou
beijos molhados lá, seus dedos encontrando meu mamilo esquerdo e beliscando-o,
enviando ondas de prazer para baixo onde permaneciam vagarosamente entre
minhas coxas.

Richard descansou sua testa contra a minha e fez uma pausa, sua respiração
pesada, necessitada. — Mia, eu... — Ele acariciou meu rosto, os segundos se
dissolvendo enquanto uma pulsação surda ecoava por todo o meu corpo. — Não
tenho ideia do que acabou de acontecer comigo. — Ele se afastou, nadando para o
outro lado.

Eu queria que ele soubesse que esses sentimentos que compartilhamos eram
tão certos, tão amáveis. Que estava pronta para o que seria minha primeira vez,
aqui, com ele.

Eu senti como se o tivesse perdido.

Richard estendeu os braços de cada lado da borda da piscina. Seu rosto se


encheu de confusão.

— O que é isso? — Eu chamei.

Ele quebrou meu olhar, sua garganta trêmula sugerindo que ele estava
segurando suas emoções. Eu me senti péssima ao vê-lo assim e me odiei por ter
causado isso.

— Perdoe-me, — disse ele, seu tom calmante, reconfortante.

— Não há nada a perdoar, — eu disse confusa. — Fiz algo de errado?

— Claro que não. — Ele descansou a mão sobre o peito e piscou para mim
surpreso. — Você nunca poderia fazer nada errado.
Meu coração doeu com sua rejeição.

Winston lambeu a orelha de Richard.

Richard se encolheu e saiu de seu transe. — Ei, amigo, — disse ele, — você
sempre sabe o que dizer.

Minha confiança se dissipou conforme meu constrangimento aumentou.

Richard deu um sorriso enigmático em minha direção para diminuir a


tensão. — Mia Lauren está nua na minha piscina. Eu sou um cara de sorte.

Então, por que ele parou de me beijar?

Ele olhou para o céu. — Você sente falta de olhar para as estrelas? Eu
faço. Toda essa poluição. Você não pode acreditar até morar aqui.

Ele estava certo. Era difícil distinguir as nuvens da poluição. Mas eu não me
importava com isso agora.

Richard voltou sua atenção para Winston, acariciando sua cabeça. Ele beijou
a ponta do nariz, dizendo: — Você pergunta qual é a nossa política? — O sotaque
inglês de Richard parecia perfeito. — Direi: é para fazer a guerra, por mar, terra e
ar, com todas as nossas forças e com toda a força que Deus pode nos dar; para
travar guerra contra uma tirania monstruosa, nunca superada no catálogo escuro
e lamentável do crime humano. Essa é a nossa política. Você pergunta, qual é o
nosso objetivo? Posso responder em uma palavra: vitória.

— O que é que foi isso? — Eu disse espantada.

Richard sorriu. — Para irritar meu pai, me formei em História. — Ele olhou
para Winston. — Não foi, senhor? — Ele piscou para mim. — Eu escrevi minha
dissertação sobre Churchill.

— Você deu ao seu cachorro o nome de Sir Winston Churchill?

— Shhh. — Richard cobriu as orelhas do cachorro. — Winston não sabe que


não é ele. Ele acha que está fazendo um discurso na Câmara dos Comuns logo pela
manhã. — Ele coçou o queixo de Winston. — Sim, você é, senhor.

— Por que Churchill? — Me perguntei por que ele não escolheu um


presidente americano.

— Churchill era o homem que eu gostaria que meu pai pudesse ter sido.

— Você não gosta do seu pai?


Ele encolheu os ombros. — Esse discurso convocou os britânicos para se
prepararem para a Segunda Guerra Mundial. Suas palavras levaram um país à
vitória.

Eu desmaiei com o mundanismo de Richard. — Nunca estive na


Inglaterra. Cameron disse que lá é muito frio.

— Frio pra caralho.

— Você realmente deveria tentar falar com seu pai, — eu disse. — Antes que
seja tarde. Eu daria tudo para ser capaz de falar com o meu novamente.

Ele deu um olhar de simpatia.

— Sinto falta dele todos os dias, — eu disse. — Mesmo que ele não fosse
sempre legal. Então eu entendo. — Eu apontei para ele. — Não importa quantas
desavenças você teve, ele ainda é seu pai. — Eu olhei para o céu escuro. — Eu
daria qualquer coisa por outro abraço do meu.

Ele deu um suspiro. — Você me faria o favor mais incrível?

— Certo.

Embora Cameron tivesse me feito a mesma pergunta esta noite e não tivesse
corrido muito bem.

Richard torceu o nariz. — Ajude-me a encontrar meu telefone.

Rimos por entre os arbustos, procurando seu BlackBerry. Apesar de nossa


nudez, eu me sentia confortável com Richard. Afinal, ele parou em um beijo. Com
o telefone da casa em uma mão discando para o celular e a lanterna na outra, logo
o localizamos.

— Vamos te vestir. Vou te levar para casa, — disse ele. — Ouvi dizer que seu
chefe é um defensor da pontualidade.

— Ele é. Eu odiaria enfurecê-lo.

Richard beijou minha testa. — Não consigo ver isso acontecendo.

Lutei contra essa vontade de cair em seus braços e quase não venci.

Richard me levou para casa.


CAPÍTULO 12

Depois do meu café, tomei meu tempo preparando a bebida matinal do


Richard, um pouco nervosa por ter que enfrentá-lo novamente.

Minha mente demorou no nosso beijo na noite passada. Ele tinha sido tão
cavalheiro. Eu esperava que sua resistência em ir mais longe não fosse porque ele
não me achasse atraente. Isso me fez sentir um pouco feia.

No caminho para casa, ele me garantiu que tinha tudo a ver com ser meu
chefe, e ele até se recusou a entrar no meu apartamento desta vez, dizendo que
tinha um longo caminho de volta. Ele saiu logo depois de me levar em segurança
até minha porta. Me perguntei como ele estaria comigo hoje. Ainda tínhamos que
conversar sobre o que aconteceu naquele estranho jantar com Cameron e seu
amigo, o senador assustador. Talvez Richard pudesse persuadir Cameron a parar
de me levar para cenários perigosos.

Apesar da emoção de estar perto do Dr. Cole, ele me fez sentir como seu
brinquedo. Se Richard não tivesse nos interrompido na masmorra, eu me
perguntei o quão longe as coisas teriam ido. Embora algo me dissesse que ele
cronometrou a chegada de Richard perfeitamente. Como se tivesse prazer em
mexer com Richard. Havia algo tão sedutor em Cameron. Ele fez minha mente
ficar confusa, e quando ativou aquele charme obscuro, ele me fez ficar com os
joelhos fracos também. Não admira que Penny tenha me avisado para ficar fora do
caminho dele...

— Mia?

Lotte interrompeu minhas fantasias.

Ela e Penny se sentaram atrás de mim na mesa de centro.

— Tudo certo? — Perguntou Lotte.

— Oh sim, — eu disse. — Quer mais café?

— Não, obrigada, — disse ela. — Você está um pouco quieta esta manhã.

— Ainda estou acordando. — Apontei para o café fervendo. — Preciso de um


desses.

Lotte continuou sua conversa com Penny. Eu consegui ouvir um pouco,


embora não tudo. Minha mente estava muito ocupada pensando. Foi bom ter dado
uma olhada na casa de Richard e ver como ele realmente era
normal. Provavelmente era o mesmo para Lotte e Penny. Apesar de seu trabalho
aqui, elas faziam praticamente o que o resto de nós fazia, compras na Ralphs,
saídas para jantar com amigos e até passar horas em livrarias.

Minha escuta revelou que elas até foram para Costco.

Lotte conversou. — Você deveria ter visto ele, — ela disse. — Era o
impagável Richard. Esse cara no carro atrás de nós vê outro carro tomando a vaga
que ele esperava e ele salta e começa a gritar com a senhora que o roubou.

— O que há com a raiva na estrada nos dias de hoje? — Disse Penny.

— Então, Richard me disse para ficar no carro, — disse Lotte. — Ele saiu e
foi até o cara que estava enlouquecendo com essa velha. Richard disse calmamente
para o cara: — Esta não é uma zona de guerra. Não há balas voando sobre nossas
cabeças. Este é o Costco. Uma loja. Por que você não respira fundo, coloca as coisas
em perspectiva, e vai encher sua cesta com itens que você tem sorte de poder pagar.

Penny parecia horrorizada. — O cara poderia ter uma arma.

— Eu tinha um carro cheio de coisas congeladas. — Lotte riu. — Eu estava


mais preocupada com o derretimento. Richard pode cuidar de si mesmo.

Penny se inclinou para a frente. — Prossiga.

— O cara deu um soco nele.

Eu me virei para olhar para elas, claramente não espionando mais.

— Richard colocou o cara em um estrangulamento, — disse Lotte. —


Enquanto isso, a velha se afastou para ir buscar sua cesta de compras sem
nenhuma preocupação com o cavalheiro que a salvou do egomaníaco.

Penny caiu na gargalhada.

Lotte acenou com a mão no ar. — De qualquer forma, o cara se desculpou com
Richard e trotou de volta para o carro para encontrar outra vaga.

— Esperemos que você não esbarre nele durante uma viagem de compras, —
disse Penny.

Não foi tanto o fato de Richard ter ajudado um estranho que me surpreendeu,
mas o fato de ele fazer compras na Costco. Parecia tão comum.

— Então você tem tudo o que precisamos para a festa? — Penny perguntou
a ela.
— Sim. O serviço de bufê está reservado, então estamos prontas, — disse
Lotte.

— Você já encontrou alguém para morar no condomínio do seu amigo em


Malibu? — Disse Penny.

Minhas orelhas se levantaram novamente. Apesar de ter colocado açúcar no


café de Richard, eu não tinha mais uma desculpa para estar aqui. Fui em direção
à porta com a bebida de Richard.

— É impossível, — disse Lotte. — Você pensaria que com o aluguel baixo e a


vista para o oceano, receberia um monte de candidatos.

— Aposto que é aquele maldito aquário que está desanimando todo mundo,
— disse Penny.

E eu estava fora, indo para o escritório de Richard e me perguntando sobre


este condomínio de frente para o mar.

Eu parei em sua porta.

Depois de algumas respirações profundas, fiz meu caminho para dentro.

Richard estava digitando em seu teclado. Ele saltou da cadeira, passou


trotando por mim e fechou a porta. — Bom Dia.

Coloquei seu café na bandeja. — Oi.

Ele acenou com a cabeça, sua cabeça balançando para longe como se assim
fossem seus pensamentos. Eu me perguntei se passar por ele e ir embora seria
considerado rude.

— Ontem à noite…— ele começou.

— Você quer dizer quando Cameron tentou me mandar para a Itália? Ou


você, eu e Winston procurando seu telefone?

— O senador DeLuca é da Sicília. Acredite em mim, eu ficaria mais


preocupado com ele. Sua cabeça provavelmente explodiria. — Ele sorriu da
própria piada. — Eu estava falando sobre o nosso beijo.

Um arrepio percorreu minha espinha.

— Como eu disse, ontem à noite, — ele disse. — Isso estava fora do meu
personagem. Eu sinto muito.

— Eu gostei.
— Certamente parecia diferente. — Sua testa franzida. — Diferente no bom
sentido. Mia, só não acho que isso deva acontecer de novo. É imperativo que
mantenhamos nossa relação de trabalho profissional e, hum... bem, é isso mesmo.

— Você e eu...

— Mia, não há você e eu.

Meu coração afundou. — Eu concordo absolutamente. O que aconteceu ontem


à noite foi uma ocorrência única na vida. — Eu realmente parecia madura, embora
me odiasse por não compartilhar meus verdadeiros sentimentos. — Foi minha
culpa.

— Bem, eu não iria tão longe. — Richard inclinou a cabeça. — Então,


estamos de volta ao normal?

— Normal? Eu nunca associaria essa palavra a Richard Booth. — Eu dei um


sorriso irônico. — Estou animada para ir à festa. Lotte vai ajudar com minha
roupa.

Ele caminhou até sua mesa e pegou sua caneca. — Não tenho certeza se é
algo para o qual você esteja pronta.

— Mas...

— Isso é tudo, obrigado. — Ele deu um de seus olhares essa conversa acabou.

Saí com um aperto no peito. Eu realmente pensei que a noite passada poderia
levar a algo? Amaldiçoei minha ingenuidade, esse traço autolimitante nunca
deixando de me decepcionar. Voltei para a minha mesa, me perguntando se ele
mudaria de ideia sobre a festa.

Lotte saiu do corredor dos funcionários e veio em minha direção. — Mia,


Monsieur Trourville estará aqui em menos de uma hora. — Ela se sentou na
beirada. — Se ele perguntar por que você não está usando o presente dele, diga a
ele para falar comigo. Não quero que isso seja algo que incomode qualquer um de
vocês. Ele é muito sensível.

— Claro, — eu disse. — Eu ia agradecê-lo e dizer que Richard achou melhor...

Ela descartou essa ideia. — Não diga nada. Dirija-o a mim sobre o
assunto. Eu sei como lidar com ele.

Meu olhar desviou para o elevador.

— Vou te dizer uma coisa, — disse Lotte. — Eu estarei aqui para


cumprimentá-lo também.
Eu gostei desse plano. Eu torci minha boca e segurei seu olhar.

— O que está errado? — Ela disse.

— Eu sinto muito por escutar. Mas o condomínio do seu amigo?

— Você não quer ter nada a ver com isso. É uma dor de cabeça. Há um grande
tanque de peixes na sala de estar e espera-se que você alimente esses peixes
tropicais e os mantenha vivos enquanto ele estiver fora da cidade.

— Quanto tempo ele estará fora?

— Seis meses. Talvez mais.

— O aluguel é alto?

— É Malibu, Mia, então sim.

Eu me sentei. — Foi só um pensamento.

— Vou te dizer uma coisa, por que não falo com ele mais tarde e vejo se ele
pode diminuir o aluguel?

— Mesmo? — eu disse. — Isso seria fantástico.

— Não posso prometer nada, mas farei o meu melhor.

— Que tipo de peixe são eles?

— Um deles é um Asian Arowana17, — disse ela. — Pelo menos eu acho que


é assim que se chama.

Eu dei um aceno de cabeça, sem ter ideia de como era um daqueles e


esperando que não fosse uma piranha. Ela voltou pela porta e desceu o corredor
dos funcionários.

Eu pesquisei Arowana asiático.

Meu coração afundou ao ler o primeiro artigo.

Os Asian Arowana estavam virtualmente extintos e, de acordo com a


reportagem, um homem em Seattle enfrentou acusações federais por vender um a
um oficial federal pensando que ele era um traficante.

Droga.

17
Compreende várias variedades fenotípicas de peixes de água doce, distribuídos geograficamente no
sudeste da Ásia.
Lá se vai minha casa dos sonhos à beira-mar.

Fui atingida pela ideia de pesquisar Richard Booth no Google. Digitei seu
nome e li a lista de artigos. Nenhum deles era sobre Richard. Na verdade, não
havia absolutamente nada relacionado a ele. Nem mesmo uma página do
Facebook. Não havia nem mesmo nada sobre Enthrall. Naveguei de volta para o
artigo de Asian Arowana e me perguntei o quanto eu queria sair daquele estúdio.

Meia hora antes de enfrentar o monsieur, tive tempo de tomar um café com
um pouco de leite e voltar rapidamente para a minha mesa.

Examinando o diário, percebi um novo nome que não estava lá


ontem. Olhando mais de perto, li que alguém chamado Courtney teria um encontro
às 10h15 com Richard. Ele tinha escrito a lápis com sua caligrafia áspera.

Uma onda de ciúme me atingiu. Sua consulta seria a cinco minutos.

Lembrei a mim mesma que meramente ocupava o cargo de secretária de


Richard e, apesar do beijo da noite anterior, ainda estávamos em terreno
formal. Ele reafirmou essa mesma questão uma hora atrás e eu concordei com ele
que um relacionamento estava fora de questão. Não que eu tivesse escolha no
assunto. A última coisa que eu precisava era que Richard ficasse desconfortável
com a queda de sua secretária por ele.

Obsessão.

Eu tinha que agir casual perto dele. Indiferente até. Como se ele fosse apenas
mais um membro da equipe e não o ser gostoso e divino que andava por aí como se
fosse o dono do lugar.

Já era hora de eu arrumar um namorado. Talvez Bailey viesse comigo neste


fim de semana. Uma noite de boates me colocaria na linha.

Quem diabos era Courtney?

Eu conheci alguns clientes de Enthrall e todos eles foram escoltados pelas


meninas para a masmorra. O que significava que Richard faria o mesmo por
Courtney.

Bebendo minha bebida, meu olhar varreu do relógio para o elevador e de volta
ao relógio enquanto eu tentava me assegurar de que ela era apenas uma cliente,
prova disso estava em seu nome estar no diário.

Também me ocorreu que não tinha ideia do que realmente acontecia durante
uma sessão e, apesar de ter um gostinho fugaz da técnica de Cameron, não tinha
certeza se alguma das amantes ou mesmo Richard eram ousados o suficiente para
fazer sexo com uma cliente.
Com esse pensamento ameaçando derreter meu cérebro e ensopar minha
calcinha, o elevador anunciou que estava prestes a cuspir um
cliente. Curiosamente, esperava que fosse o monsieur.

Ela era bonita.

Eu pude ver isso daqui quando me levantei para cumprimentar a jovem


chamada Courtney, ou quem eu presumi ser Courtney. Ela caminhou lentamente,
recatadamente, seu andar sensual refletindo uma mulher do mundo e seu corpo
pequeno implorando por um homem para protegê-la, envolver seus braços ao redor
dela.

Talvez um homem como Richard.

A porta do pessoal se abriu e minha cabeça girou para vê-lo parado ali, seu
rosto se iluminando. Eles se abraçaram e foi um daqueles abraços que você
compartilha com um melhor amigo ou, Deus me livre, com um amante. Onde
estava aquele comportamento de domínio do personagem que Richard deveria ter,
como o que Lotte sempre manteve para Monsieur Trouville?

— Deixe-me apresentar minha secretária, — disse Richard, mas seu olhar


não me encontrou. — Esta é a Sra. Lauren.

Courtney mal me olhou de relance.

Ele gesticulou para o elevador. — Preparada?

Ela corou descontroladamente, a mão apoiada no peito. — Sim.

— Mia, o elevador, — disse Richard.

De cabeça baixa, e odiando essas emoções desconhecidas em meu peito, girei


a chave e abri o portão. Chamei o elevador e olhei para dentro quando as portas se
abriram, incapaz de olhar para eles.

— Este é o encerramento, — ele sussurrou para ela. — É um bom dia.

— O monsieur também tem um encontro, — eu disse, nervosa com o conflito


deles.

— Temos mais de um quarto. — O sorriso fino de Richard me alertou para


parar de falar.

Courtney parecia horrorizada. — Alguém mais estará lá ao mesmo tempo?

— Nosso quarto estará trancado, — disse Richard. — Como sempre.

Ela agarrou o portão, os nós dos dedos brancos.


Eu me perguntei o quão bravo Richard ficaria se eu a aconselhasse a
reagendar depois que ela refletisse sobre isso. Certamente ela não estava pronta
para o que quer que estivesse nas entranhas deste lugar, onde a dor era apenas
outra maneira de passar o tempo. Certamente ela se divertiria mais em uma
viagem de compras para a Bloomingdales? Ou almoçar com seus amigos? Talvez a
terapia devesse ser sua primeira consideração?

— Obrigado, Mia. — Richard gesticulou para que eu recuasse. — Vamos


começar devagar, — ele sussurrou para ela. — Sem surpresas.

Meu estômago embrulhou e eu me peguei odiando-a, essa garota rica


desperdiçando o dinheiro do pai de uma forma que ele certamente não tinha ideia,
e ela estava usando uma aliança de casamento, pelo amor de Deus.

Eu me virei, sufocando as lágrimas e não querendo que Richard ou Courtney


as vissem. O som do elevador descendo, levando Richard para longe de mim, trouxe
uma dor terrível.

Meu olhar desviou para o meu protetor de tela. O lago de carpas japonesas
que Richard havia criado para mim, sabendo o quanto eu amava o jardim, agora
trazia tristeza. Lembrei-me dele sentado na minha cadeira, a maneira como ele
moveu o mouse para reiniciá-lo. A maneira como ele me pegou olhando, sua boca
se erguendo nas bordas em diversão brincalhona.

Eu tinha dado como certo nadar em sua piscina na noite passada, não
saboreei cada segundo precioso como deveria. Enxuguei outra lágrima velha.

O elevador da entrada roncou e me preparei para o desafio de cumprimentar


o monsieur e ter que evitar com muito tato o assunto de por que recusei seu
presente. Lotte era esperada a qualquer segundo, mas ele chegou cedo
novamente. Provavelmente esperando por uma punição menor de sua amante,
sem dúvida.

Despreocupadamente, ele caminhou em minha direção.

Ele pareceu surpreso. — Mon Amie. Você está... belle comme le jour!

Piscando várias vezes, tentei entender o que ele estava dizendo. Ele
confundiu minhas bochechas coradas com excitação, esses estremecimentos de
emoção que eu não consegui suprimir, essas respirações pesadas de angústia. Eu
me acalmei com o pensamento; nós vemos o que queremos ver.

Fiz um gesto de agradecimento a ele pelo presente que não via desde que
Richard o confiscou e deslizei elegantemente pela porta da sala dos funcionários,
conseguindo conter os soluços até chegar ao spa.
Onde me encolhi no banco de madeira diante do Buda, mordendo minha mão
para acalmar meus soluços. O pensamento de Richard compartilhando seu afeto
com Courtney trouxe uma onda de dor em meu peito e eu agarrei o banco, odiando-
me até mesmo por pensar que um romance entre nós era possível.

Lotte logo me encontrou. — Mia, o que está acontecendo?

Meus lábios tremeram e era muito difícil falar.

— O que o senhor disse a você? — Ela se sentou ao meu lado.

— Ele pensou que eu tinha essas coisas.

— Isso explica seu bom humor. — Ela tirou uma mecha de cabelo do meu
rosto. — Ele te chateou?

— Não.

— Então por que você está chorando? — Ela segurou meus ombros. — Você
está muito corada. Você não está usando, está?

— Não. — Enxugar minhas lágrimas parecia uma batalha perdida.

— Mia?

— Posso te perguntar uma coisa?

— É claro.

— Quando você leva seus clientes para as masmorras...

— Sim.

— Hum…

— Você está se perguntando se faremos sexo com eles?

Eu lancei a ela um olhar surpreso.

— Eu li nas entrelinhas, — disse ela. — Faz parte de ser um pouco mais


velha e mais sábia.

Com minha mão pressionada contra meu peito, amassei minha camisa em
uma bola. Ela acariciou minhas costas, permitindo que o silêncio fizesse o que
quisesse.

— Não vou contar a ninguém, — murmurei.


— O objetivo da dominação é manter nosso poder. Se fizermos sexo com eles,
abriremos mão de nosso controle. Nunca desistimos do nosso poder. — Ela baixou
o olhar. — Você está perguntando particularmente sobre Richard?

— Sim.

— O Mestre Richard é muito adorável. É sua reciprocidade que é incerta.


— Ela pegou minha mão e apertou.

— Eu fui para a casa dele ontem à noite.

— Ele tem um gosto requintado, não é?

Eu olhei para ela.

— Somos apenas amigos, Mia. Nós nos conhecemos há muito tempo.

— Por favor, não diga a ele.

— Escute, minha querida. Se você está procurando por amor aqui, você
encontrará, mas não do tipo romântico. O pau com você tem que ser além de grosso
ou fino, gentil. O tipo que te aceita pelo que você é e não te julga, desse tipo.

Eu odiava ser tão transparente.

— Você emocionou meu cliente. — Ela arqueou uma sobrancelha perfeita. —


Continue assim e você receberá uma promoção.

— Eu nunca poderia fazer o que você faz.

— Vamos. — Ela me colocou de pé.

Caminhamos pelo corredor, minha mão na dela, meu coração disparado de


medo que ela estivesse me levando de volta para me desfilar na frente do monsieur
para seu prazer distorcido. Em vez disso, ela me levou ao escritório de Richard.

Ficamos diante das três fotos emolduradas na parede.

— O que você vê? — Ela disse.

Aproximei-me, meu rosto a centímetros das fotos desta vez. Passei para a
segunda e, finalmente, a última, percebendo que eram todas fotos de Richard.

Lotte ficou ao meu lado. — Para entender o quão longe Richard está além da
salvação, você só precisa olhar para elas.

— Quando foram tiradas?


— Ano passado. Essa é nova. — Ela apontou para aquela com o tubarão. —
Ele muda de vez em quando e tem mais em casa.

— Mais?

— Há algo de lindo em um homem quebrado, você não acha? Talvez seja


alguma promessa tácita de que ele se tornará mais do que é por causa disso.

Estudando-a enquanto ela olhava as fotos, tentei entender suas palavras. Eu


não gostei do som delas.

— O que aconteceu com ele? — Eu disse suavemente.

— Mais dor do que a maioria de nós enfrentamos na vida.

— Que tipo?

— Do tipo particular.

— Por favor, não diga a Richard que perguntei o que você faz lá embaixo.

— É claro. E não vamos deixá-lo saber que estivemos aqui, — disse ela. —
Você é nossa Mia.

Meu olhar encontrou as fotos novamente e me perguntei como não as havia


percebido.

— Eu devo voltar para o monsieur, — disse Lotte. — Vou dizer a ele que você
foi dominada pelo prazer. Ele vai gostar disso. — Ela piscou para mim e estendeu
a mão, colocando uma mecha de cabelo atrás do meu ombro. — Nada de bom pode
vir de se apaixonar por um homem que é incapaz de amar você de volta.

Eu me envergonhei totalmente.

Ela beijou minha testa. — A Senhora Scarlet gostaria de falar com você.

Lotte saiu, um delicado sopro de perfume arrastando atrás dela.

Meu olhar vagou sobre a mesa bem organizada de Richard, sua coleção de
ornamentos contraditórios, o Buda, aquelas taças de champanhe de cristal,
aqueles parafusos de dedo, bem como o sofá de couro em que eu nunca o tinha visto
sentar.

Nunca tendo experimentado esses sentimentos agitando meu peito antes, eu


me perguntei se era tarde demais para mim.
CAPÍTULO 13

O escritório da Senhora Scarlet me lembrava uma cafeteria francesa.

Era tudo em cores vivas e grandes estampas chamativas das ruas


parisienses. Tudo aqui gritava de gente viajada e mundana. Havia um sofá cor de
chocolate no canto, com várias mantas de chenille azul e marrom espalhadas sobre
ele e almofadas com borlas alinhadas ao longo do assento. Ao lado dele havia um
banco de palmadas; eu tinha visto um semelhante na masmorra.

Eu tirei meu olhar dele.

Seu perfume inebriante de jasmim e rosas chegou até mim de onde ela estava
sentada atrás da mesa. Lembrando-me de como ela assistiu Cameron brincar
comigo na masmorra, foi difícil manter contato visual. Ela ainda me assustava pra
caralho. Eu sabia que tinha feito algo errado. E por sua severidade, eu estava
prestes a ler o ato do motim.

Eu fui sentar.

— Não, — ela disse — Você não vai ficar.

Isso provavelmente teve algo a ver comigo saindo com Cameron e Richard na
noite passada. Procurei as palavras que poderiam oferecer meu ponto de vista sem
colocar nenhum deles em problemas. Aposto que eles também tinham medo dela.

— Eu gosto de você, Mia, — disse ela. — Na verdade, eu gosto muito de você.

— Oh.

— É por isso que eu queria falar com você.

— Ok.

— Gosta de trabalhar aqui?

— Sim.

— Você quer continuar trabalhando aqui?

Meu coração parou de bater. — Sim.

— Vou ser breve. O que estou prestes a dizer a você não deve ir mais longe.
— Ela se endireitou. — Você pode me prometer isso? Que nossa conversa não vai
mais longe?
— Sim.

Ela sustentou meu olhar como se medisse minha honestidade. — Seu bem-
estar é extremamente importante, — ela baixou o olhar, — para nós, 'meninas'.

Obrigada por compartilhar isso com elas, Richard.

— O diretor contratou você por causa de sua inocência, — disse ela.

— Oh.

— É uma qualidade apelativa que proporciona muito prazer aos nossos


clientes.

Minha boca estava seca.

— Isso, junto com sua sexualidade florescente, é extremamente desejável.


— Ela baixou o olhar. — De maneira perigosa para você.

Eu engoli em seco.

— Nós, essas são as meninas, queremos proteger você, Mia.

— Eu sei que vocês cuidam de mim, — eu disse. — Eu agradeço.

— Você confia em mim?

— Sim, Scarlet.

Ela abriu uma gaveta e tirou uma pequena sacola azul brilhante de
presente. — As meninas e eu compramos uma coisinha para você. — Ela ergueu
a mão. — Muito pensamento e deliberação entraram nisso. Acreditamos que isso
pode salvar você.

Eu me perguntei por um segundo se era spray de pimenta, mas, novamente,


eu aprendia rápido. — Você comprou um brinquedo para mim? — Eu disse.

— Precisamos instruir essa... necessidade.

Minhas bochechas coraram descontroladamente.

— Ligue totalmente e descanse sobre o clitóris. — Ela olhou para o relógio. —


Relate para mim assim que terminar.

— O que? Quando?

— Agora.

— Agora?
— Doce Mia, você está andando por um clube de BDSM exalando magnetismo
sexual inocente o suficiente para fazer nossos clientes mais experientes gozarem
em suas calças. — Ela me entregou a bolsa. — Estou fazendo isso tanto por eles
quanto por você.

Eu agarrei a bolsa contra meu peito. — Posso levar para casa?

— Não. Mantenha-o em sua mesa e use-o com frequência, por favor. — Ela
alargou os olhos. — Use o escritório de Richard. Ele está com uma cliente. Ele tem
uma fechadura na porta.

Eu hesitei.

— Mia, seja uma boa menina. — Ela enfatizou com um dedo apontado. —
Certifique-se de ter dois orgasmos antes de voltar para mim. — Ela me
enxotou. — Sem pressa. Ninguém vai incomodar você.

— Isso tudo é muito clínico.

— Você precisa da minha ajuda?

— Não.

— Ao contrário de Monsieur Trouville, saberei se você utilizou este


presente. Tomaremos um pouco de chá depois.

— Posso usar mais tarde?

— Não.

— Que tal o spa?

— Devo te chicotear enquanto você está usando? — Ela deu um sorriso


irônico. — Tenho certeza de que nós duas gostaríamos disso.

Corri para fora de lá com a bolsa na mão, minhas bochechas queimando.

Uma vez dentro do escritório de Richard, eu tranquei a porta. De jeito


nenhum eu estava usando essa coisa. E certamente não aqui. Com o presente fora
da sacola, estudei o vibrador oval de prata que aparentemente era chamado de
amigo mágico de acordo com a caixa.

Eu sentei no sofá de couro, derrotada.

Talvez Scarlet tivesse razão? Se eu diminuísse minha necessidade por


Richard, seria mais fácil parar de fantasiar sobre ele. Embora eu raramente me
tocasse lá, algo me disse que Scarlet sabia uma ou duas coisas sobre essas
coisas. Ela provavelmente sabia tudo o que havia para saber sobre sexo. Havia
algo reconfortante em estar perto de uma mulher assim. Eu nunca vou querer
desapontá-la. Ou Lotte. Tendo me enviado ao escritório de Scarlet, Lotte deve ter
sabido disso.

Eu rasguei a caixa. Pelo menos isso faria parecer que eu segui o comando de
Scarlet. Meu coração trovejou no meu peito como se ela estivesse diante de mim
agora, batendo o chicote e esperando que eu fizesse. Esperando por mim.

Depois de fechar as cortinas e verificar a porta mais uma vez para garantir
que realmente estava trancada, voltei para o sofá. Pelo menos ela pensaria que eu
fiz isso.

Curiosamente, liguei o vibrador oval.

E ajustei o zumbido.

Minha musa maluca me provocou.

Depois de baixar minha calcinha sobre meus quadris e recostar-me no sofá,


respirei fundo para me acalmar. Eu subi minha saia em volta da minha cintura e
abri minhas pernas, me expondo. Isso parecia deliciosamente travesso. Eu tinha
recebido ordens para fazer isso. Na verdade, não tinha escolha. Com esse
pensamento em mente e totalmente excitada por ele, desabotoei minha blusa
lentamente e puxei meu sutiã para baixo.

A vibração encontrou meu mamilo suavemente, batendo em sua carne


delicada.

— Oh Deus, isso é bom.

Ambos os mamilos responderam, provocados pela vibração, seus botões


erguidos e exigindo mais do brinquedo. Minha boceta apertou com a emoção disso
e a promessa de prazer iminente, que eu estava segurando com essa auto
provocação sensual de negação.

— Oh, por favor, — eu implorei.

Quando a vibração encontrou meu clitóris, enviou uma onda de prazer branco
e quente para ele. Uma carga deliciosa. Meus pensamentos vagaram...

Este era o seu escritório.

O toque de Richard lá embaixo trazendo exatamente o mesmo prazer. Seus


dedos acariciando minhas coxas, espalhando-as mais amplamente. Como eu fiz por
ele agora. Com minha mão segurando a vibração e provocando-a sobre meu clitóris
e a outra beliscando meus mamilos, dando-lhes igual atenção, imaginei que eram
as mãos de Richard que estavam me empurrando para mais perto.
Deitada de costas no sofá, minhas pernas se abriram para Richard...

Suas mãos se movendo languidamente sobre meu corpo, explorando, como se


me descobrisse pela primeira vez, vagando por minha barriga, ao redor de minhas
costas e me apertando contra ele.

Sua língua circundando os mamilos endurecidos, trabalhando ao lado de seus


dedos firmes que os beliscavam de forma punitiva. Alternando de um para o outro
e recusando-se a desistir. Meu suspiro encontrando sua boca. Seus lábios abrindo
os meus. Sua língua encontrando a minha e se enrolando até que ele ganhou o
controle, me forçando a submeter-me. Esta excitação deliciosa embebendo meu
clitóris inchado que latejava sob sua língua enquanto ele chupava, lambia e
sacudia meu clitóris, me catapultando para o esquecimento.

Direcionando a vibração pulsante, eu corri para cima e para baixo e sobre o


meu clitóris, montando esta felicidade enlouquecedora e imaginando o rosto de
Richard enterrado entre minhas coxas, sua língua explorando mais longe,
esbanjando afeto.

Ele sabia que eu precisava disso. Precisava dele. Por que ele estava me
negando?

— Richard, — eu sussurrei.

Meu corpo ficou rígido quando os tremores passaram por mim. Fui capturada
por esse pico febril de prazer quando minha respiração foi arrancada.

— Sim, oh sim…

Eu desabei, ofegando sem fôlego, as bochechas coradas. Recuperando o fôlego


e sentindo-me formigando, aguardei o resto da minha liberação e saboreei.

Era maravilhoso estar cercada pelas coisas de Richard, e a permissão de


Scarlet para eu estar aqui deixou tudo bem. Se este exercício tivesse sido
realmente interpretado como uma instrução de minha necessidade, ele
falhou. Tudo que eu conseguia pensar era nele.

Soltei o mais suave suspiro de obsessão.

Sabendo que eu teria que enfrentar a Senhora Scarlet em breve, e com suas
ordens estritas pairando sobre mim, eu liguei meu novo amigo mágico novamente.

Certamente havia algo a ser dito sobre ser uma 'boa menina'.
CAPÍTULO 14

— Épico?

— Sim, — eu respondi à Senhora Scarlet. — Foi épico.

Ela estava realmente querendo que eu entrasse em detalhes sobre minha


experiência de vinculação com seu presente?

— Aqui. — Divertida, ela me entregou uma caneca cheia até a borda com chá
quente, seu olhar me examinando. A maneira como sua expressão se suavizou deu
a entender que ela viu o que queria como prova.

Aquecendo minhas mãos em torno da caneca, respirei a fragrância de frutas


cítricas. Mmmm, delicioso. Isso me lembrou de... Cameron?

Scarlet se aproximou. — Mia?

— Você me disse que o presente era seu, e das meninas?

Ela ergueu meu queixo com a ponta do dedo perfeitamente manicurada. —


Corra agora. Veja a cliente de Richard sair.

Levei meu chá comigo e saí, me perguntando se aquele brinquedo realmente


tinha vindo das meninas. Eu tinha simplesmente sucumbido voluntariamente ao
castigo do prazer de Cameron por desafiá-lo durante o jantar na noite
anterior? Seus ganchos psicológicos estavam profundamente enraizados em minha
psique. Sua persuasão, seu domínio sombrio sobre mim, tiveram sucesso mais uma
vez. Eu estava presa em algum lugar entre a excitação e o desafio.

Não houve tempo para meditar sobre minhas suspeitas. Eu estive longe da
minha mesa por muito tempo. A sessão de Courtney havia terminado e Richard
estava acompanhando-a para fora. Pela expressão dela, mesmo aqui atrás da
minha mesa, eu podia ver que toda a sua tensão havia sumido e em seu lugar uma
felicidade difícil de definir. As bochechas de Courtney estavam vermelhas, seu
rosto em paz, felicidade irradiando. Eu me perguntei o que Richard tinha feito com
ela.

O elevador de saída a levou para fora de Enthrall.

Richard girou nos calcanhares e caminhou em minha direção. — Onde você


estava?

— Bem, eu estava...
— É melhor você escolher suas palavras com cuidado. — Ele encolheu os
ombros. — Fale sobre o tempo. Sua jornada aqui. Aquele tipo de coisa. Não fale
com meus clientes sobre nada além disso, por favor.

— Ela parecia apavorada, — eu disse.

Ele reconheceu que eu tinha lido direito com apenas um aceno de cabeça e
seu olhar voou para a minha mesa. Ele viu minha bebida e a pegou, cheirou e
tomou um gole. — Earl Grey?

— Sim.

Ele me lançou um olhar. — Desde quando você bebe Earl Grey?

— Scarlet fez isso para mim.

— Entendo. E com eu entendo, quero dizer que não perco nada,


Mia. Nenhuma coisa. Eu sei tudo o que acontece neste lugar. Cada detalhe. Cada
minúcia finita que cai.

Minhas bochechas coraram descontroladamente enquanto meus


pensamentos me arrastavam de volta ao longo do corredor para seu escritório e de
volta para o sofá...

— Não faça isso de novo, — disse ele.

Fui dizer que ele não sabia, não podia saber, e então me contive, sem querer
revelar.

— Eu certamente não me lembro de ter dado a você minha permissão para


fazer isso, — disse ele, caminhando em direção ao corredor dos funcionários.

Deus, isso foi quente.

Ele estava blefando e era muito bom nisso.

— Courtney precisa de um terapeuta de verdade, — gritei atrás dele.

Ele se virou e olhou para mim.

— Ajuda profissional, — acrescentei.

— Ela tem. Aqui.

Eu arqueei uma sobrancelha.

— Meu escritório, por favor, — ele retrucou. — Agora!

Eu o segui pelo corredor. Certamente eu tinha razão.


Richard recostou-se na frente de sua mesa. Havia algo totalmente estranho
em sua postura. Principalmente porque me lembrou do dia em que pedi meu
emprego de volta, ou como ele disse sucintamente, se é que se pode chamar aquilo
assim.

Em uma hora, eu tinha fantasiado alucinantemente sobre Richard. O tipo


que nunca será compartilhado, o tipo que eu esperava que ele não pudesse ler em
meu rosto.

— Quando você estiver pronta, — ele disse.

— O que?

— O termo correto é 'com licença'. 'O que' é algo que um adolescente rebelde
diz aos pais. — Ele gesticulou. — Você queria compartilhar sua visão?

— Courtney parecia apavorada.

— A expressão dela refletia suas emoções.

— Ela não parecia querer ir lá.

— Isso é porque você sugeriu que outro homem estaria compartilhando o


mesmo espaço.

Engoli em seco, minha voz interior me dizendo para calar a boca. Minha boca
ignorou meu cérebro. — O que você fez com ela?

— Completamos uma rodada de terapia.

Então, estamos chamando de terapia agora?

Eu fiz uma careta. — Nós?

Richard apontou para a parede. — É uma porta. Cada escritório tem


uma. Todas elas levam à masmorra. Courtney é cliente de Cameron.

Eu encarei o papel de parede, mal conseguindo acreditar que o padrão


perfeito camuflava uma porta.

— O que estou prestes a compartilhar com você é confidencial, — disse


Richard. — Courtney sofreu graves abusos quando criança. Casada há quinze anos
e incapaz de conceber, ela procurou uma terapia alternativa.

— Ela é infértil?

— Ela tinha aversão ao sexo, — Richard encolheu os ombros. — Nós a


curamos.
— O que você faz?

— Em primeiro lugar, trabalhando ao lado de seu marido, nós a


dessensibilizamos ao toque. — Ele gesticulou para baixo. — Lotte acompanhou o
marido até a entrada térrea.

— Por que ela não veio por esse caminho?

— Como submissos, eles sobem no primeiro elevador, aceitando assim o


desafio de enfrentar a mudança, e quando descem no segundo elevador se dão
permissão para se render. — Ele gesticulou para sua cabeça. — É subliminar,
claro.

— Se ela foi tão maltratada, você não está tornando tudo pior?

— Ela pediu para vir aqui, Mia.

— Talvez ela precise de um terapeuta diferente.

— Quinze anos de terapia convencional sem resolução prova que falar não
funcionou. Pelo menos não para ela. — Ele levantou um ombro. — O marido dela
é operário da construção. Eles precisavam de um pouco de orientação.

— Ela disse que ajudou?

— Esta foi a sessão final dela. A série de tratamentos ajudou, sim.

— Como você sabe?

Richard cruzou os braços. — Ela está grávida de um filho do marido.

Ainda não parecia certo.

Richard ficou naquela postura familiar que gostava de manter para intimidar
quem estava na sala com ele.

Coloquei minhas mãos em meus quadris. — Então ela não deveria beber
álcool.

Seu olhar se estreitou. — Esse olhar no rosto dela é a expressão que você verá
em todos os nossos clientes quando eles forem embora. Isso é euforia. — Ele
arqueou uma sobrancelha. — Diferentes tipos de intoxicação.

Tudo o que ele precisava fazer para me seduzir era ficar lá. Eu lutei contra
esse transe onírico, esse encantamento hipnótico que era Richard Booth:
dominante, mestre, enigmático.

Meu olhar desviou-se para as fotos. — O que aconteceu com você?


— O que você quer dizer?

— Por que você faz isso? Você me disse que já foi um corretor da bolsa.

— Sim.

— Mas não é um agora.

— Evidentemente. — Ele quebrou a tensão com um sorriso.

— Por que esse tipo de trabalho?

— Eu gosto disso.

— Por que?

— Você mudou de ocupação? — Ele revirou os olhos. — Não tenho certeza se


você mudou para interrogador ou psiquiatra.

— Cameron é seu psiquiatra?

O olhar de Richard pousou na foto dele escalando. — Quer ver como ele faz
isso?

Minha mente disparou com o que ele quis dizer.

Richard caminhou em direção à parede e gesticulou para ela. — Muitas vezes


escapamos da verdade por causa da dor que ela nos causa. — Ele empurrou a
parede e a porta se abriu.

— Eu deveria voltar.

Ele empurrou a porta mais larga. — Vá para baixo.

— Não depois da última vez. — Minhas bochechas coraram.

— Você não aprendeu que pode confiar em mim?

— Você sabia que eu diria algo, não é? Sobre Courtney?

Ele pegou minha mão e me guiou até a soleira. Juntos, descemos degraus de
madeira. As paredes, pintadas de um bege suave, exalavam um tom reconfortante
das luzes colocadas no chão.

Talvez Cameron agora tivesse outro cliente e estivesse chicoteando o pobre


homem ou mulher até quase o fim de sua vida. Eu não tinha certeza se queria ver
isso. Eu deveria ter mantido minha boca fechada. Em vez disso, o encontramos de
pernas cruzadas, meditando em uma sala vazia. Richard me guiou e deu um passo
para trás, colocando alguma distância entre nós, encostando-se casualmente na
parede. Cameron esticou-se da posição de lótus e levantou-se elegantemente.

— Dr. Cole, — disse Richard. — Estávamos discutindo sua experiência. Mia


gostaria de uma demonstração.

O ar aqui era muito espesso para respirar. Contando quantos passos eu


levaria para chegar à porta, eu olhei naquela direção. Richard fechou a porta.

Cameron mostrou sua verdadeira força na noite passada durante o jantar,


quando agarrou minha perna e espremeu todo o sangue dela. Ousei pensar no que
ele poderia tentar aqui.

Eu me dirigi para a porta.

Richard me cortou. — Essa é uma resposta normal.

Eu olhei para ele. — Por favor, me deixe sair.

— Mia, — disse Cameron, em voz baixa, reconfortante.

Richard gesticulou para que eu me virasse. — Não vamos tocar em você. Eu


prometo. Nem haverá nada sexual durante esta sessão.

Sessão?

Minha boca ficou seca.

Cameron nos observou com uma intensidade crítica.

Meus pensamentos voltaram para a noite passada, a maneira como Cameron


cortou a faca em seu bife, os sucos tingidos de sangue escorrendo. Havia algo
perigoso em sua precisão. Ele teria sido um bom cirurgião, mas não, ele escolheu
a psiquiatria e agora estava usando sua experiência enervante para me dissecar.

— Acreditamos que você possa compreender melhor o que fazemos se passar


alguns minutos conosco. Aqui embaixo, — disse Cameron.

Oh foda-se.

— Você está sempre fantasiando sobre o que fazemos, — disse ele. — E que
tipo de pessoas nós somos. Que tal colocarmos esse mistério na cama.

— Vocês não vão me tocar? — Eu olhei para Richard.

— Vamos apenas conversar, — disse Cameron. — Você tem nossa palavra.

— Sobre o que? — Eu disse.


— Vamos começar com esta sala, — disse Cameron. — Como você a
encontra?

Eu me senti tonta. — Vazia.

— Portanto, não temos escolha, exceto entrar, — disse ele.

Minhas mãos tremeram. — Fiz algo errado?

— É claro que você pensaria isso, — disse Cameron. — Você tem baixa
autoestima. Medida pelo seu nível de confiança, você também tem problemas de
abandono.

— Abandono?

— Seus pais abandonaram você.

— Eles morreram. Eles não me abandonaram.

Cameron cruzou os braços.

Eu me perguntei se esse tipo de linguagem corporal era usada para


intimidar. Os dois estavam nessa pose. Tentei ler Cameron, mas seu olhar se
manteve no chão, seus pensamentos aparentemente distantes. Surgiu um desejo
real de agradar a ambos e fazê-los abandonar essa postura, refletindo que eu os
decepcionei.

Eu odiava o silêncio. — De qualquer forma, já superei tudo isso.

A expressão de Richard permaneceu impassível.

— É bom ouvir isso. — disse Cameron. — Posso me aproximar? — Ele


acenou lentamente com a mão levantada. — Em nenhum momento vou tocar em
você.

Eu dei um aceno de permissão.

Ele fechou a lacuna entre nós. — Vamos nos divertir. Você pode fazer a
Richard qualquer pergunta que quiser. Digamos que você tenha cinco ou seis
delas. Em troca, farei dez perguntas. Eu sei que você está morrendo de vontade de
saber mais sobre ele. Esta é uma oportunidade perfeita. No entanto, você não
pergunta a ele nada sobre sua vida antes de ele vir trabalhar na
Enthrall. Entendeu?

Eu corei. Até onde eu seria capaz de ir com isso e não desmaiar de vergonha.

— Mia, você vai primeiro, — disse Cameron.


Isso era ridículo, como uma boba de colegial, como se eu não estivesse fazendo
isso de jeito nenhum.

— Pergunte a ele, — disse Cameron severamente.

— Você tem namorada? — Eu disse rapidamente, assustada com a


austeridade de Cameron.

— Não, — disse Richard, seu sorriso contagiante. — Eu já te disse isso.

Fiquei aliviada ao ver o rosto de Cameron relaxar.

— Minha vez, — ele disse. — Qual é a sua primeira lembrança?

Eu torci minha boca tentando lembrar. — Sentada no sofá em casa.

Cameron fez um gesto na direção de Richard.

— Você tem um namorado? — Eu disse com um sorriso.

— Não, — disse Richard e trocou um olhar divertido com Cameron.

— Qual é a sua memória favorita da infância? — Disse Cameron.

— Hum... — Fui longe, num caminho de volta tentando me lembrar.

— O que você ouve? — Ele sussurrou.

— Tem um cachorro latindo. Eu acho que é um Rottweiler, — eu disse. —


Como você sabia?

— Você olhou para a esquerda. Seu cérebro acessou um som de que se


lembrava. — Ele se aproximou. — Vamos buscar essa memória feliz.

Eu pressionei minha mão no meu peito. — Uma festa de aniversário. Minha.

— Faça uma pergunta a Richard, — disse Cameron.

Voltei para a sala me sentindo decididamente abalada. Aquele aniversário foi


realmente o dia mais feliz? Mesmo assim, ali no sofá, meu pai tinha ficado deitado
em um estado de embriaguez.

Eu lancei um olhar para Cameron e Richard, tentando pensar na próxima


pergunta, tendo perdido a conta de onde estávamos.

— Dica, — disse Cameron. — Faça uma questão aberta.


— Oh, certo, — eu disse. — Você gosta da sua secretária? — Eu sorri para
ele, percebendo que não era uma questão em aberto, mas tudo isso me deixou
nervosa e pensar direito era um desafio.

— Muito mesmo, — disse Richard.

Fui perseguir essa linha de questionamento quando Cameron entrou na


minha linha de visão. — O dia em que seu pai morreu, — disse ele. — Sua
madrasta a levou para a casa funerária. Você se lembra?

— Ela fez, — eu respondi. — Como você sabia?

— Ela precisava de você lá. Você era a forte. — Ele novamente gesticulou
para Richard.

Essas idas e vindas me deixaram tonta e uma estranha mistura de emoções


tomou conta de mim. Olhar para Richard e ouvir sua voz me fez sentir segura e
aqueles momentos estavam ajudando entre a sondagem de Cameron.

Eu me senti corajosa, dizendo: — Quando nos beijamos na noite passada, você


gostou?

— Sim, — disse Richard. — Muito.

Eu fiz outra pergunta fechada, minha mente muito confusa com esses
sentimentos estranhos surgindo dentro de mim para me concentrar
corretamente. — Por que você se afastou de mim?

— Porque me senti... tão bem, — disse Richard. — Eu me importo


profundamente com você.

Cameron fixou seu olhar em Richard e eles trocaram palavras não ditas, ao
que parecia. Richard apenas acenou com a cabeça, compartilhando esta
comunicação silenciosa com seu amigo. Tentei entender o que esse olhar
compartilhado pode significar.

— Nosso beijo me deu vontade de levar você ali mesmo na piscina, — disse
Richard. — Mas eu me considero um cavalheiro.

Eu sorri de volta para ele, vendo um olhar que nunca tinha visto em Richard
antes. Ele segurou meu olhar com afeto. Algo mudou dentro de mim como se essas
novas memórias ousassem empurrar as outras para fora.

Cameron acenou com a cabeça em aprovação. — De que cor era o vestido que
você estava usando?

Eu fiz uma careta para ele, surpresa por ele saber...


Minha madrasta e eu estávamos sentadas em um sofá velho e manchado
na casa funerária.

— Azul, — eu murmurei.

O agente funerário discutiu com minha madrasta qual caixão seria mais
adequado às nossas necessidades. Lorraine pediu o mais barato.

Meus lábios tremeram.

— Compartilhe esse pensamento com a gente, Mia? — Disse Cameron.

— Não me lembro do funeral. — Eu lutei contra a picada de lágrimas. —


Acho que Lorraine decidiu que era melhor eu não ir. Eu queria ir.

— O que mais você lembra? — Ele disse.

— Lorraine estava com raiva. Não é esse o primeiro estágio do luto?

— Ela chorou? — Ele disse.

— Acho que não…

Cameron parecia pensativo, seu olhar encontrando o de Richard novamente


e outro momento não dito se passou entre eles. Será que amigos íntimos realmente
se comunicam apenas olhando e lendo os pensamentos uns dos outros?

— Qual é a sua memória mais feliz? — Disse Cameron, quebrando meu


transe.

Meu olhar disparou para Richard e eu percebi que nadar em sua piscina tinha
que ser isso. Junto com aquele beijo. A maneira como suas mãos passaram sobre
mim, acariciando. A promessa de se aproximar daquele amor esquivo.

— O que você vê? — Disse Cameron.

— Estrelas. — Eu queria dizer o rosto de Richard, mas me senti muito


envergonhada. — Já que, não podemos ver as estrelas por causa da poluição.

Richard deu o maior sorriso.

— Não estamos mais falando sobre a sua infância, certo? — Disse Cameron.

— Não. Eu não gosto de ir lá.

— Ah, — Cameron sussurrou. — Aí está.

— O que? — Eu mordi meu lábio. — Quer dizer, com licença?


— Fale-me sobre o seu pai.

— Quando eu era pequena ele trabalhava como administrador de exportação


e importação. Depois que ele deixou minha mãe, ele se mudou para LA e
trabalhava em uma loja de vinhos em Pasadena. — Olhei para Richard e ele deu
um sorriso encorajador. — Meu pai se divorciou de minha mãe por causa do vício
dela em drogas.

Se Cameron ou Richard estavam me julgando, não demonstraram. Presumi


que eles estavam acostumados a ouvir todo tipo de coisa aqui.

— Você é filha única? — Perguntou Cameron.

— Sim.

— Como seu pai era perto de você? — Ele disse.

— Não tive muito tempo com ele para ser honesta.

— Como aquilo fez você se sentir? — Ele disse.

— Não sabia de nada diferente. — Eu levantei minha mão em defesa. — Eu


nunca usei drogas. Nunca.

— Você escolheu ficar com sua mãe?

— Não queria. Implorei ao meu pai que me deixasse ir com ele. Ele me disse
que mamãe precisava de mim. Então eu fiquei em Charlotte.

— Você não foi responsável pela morte dela, — disse Cameron.

— Eu deveria ter estado lá. — Torci minha boca de vergonha. — Ela teve
uma overdose de cocaína.

— Onde você estava?

— Escola, — eu abaixei meu olhar. — Eu sempre fui capaz de lê-la antes. Ter
uma ideia de quando ela iria se presentear com as 'coisas boas', como ela
chamava. Era a única coisa que a fazia feliz.

— Você encontrou o corpo dela?

Eu encolhi os ombros. — Ainda fiz minha lição de casa naquela noite.

— Você ainda fez sua lição de casa?

— Havia tantas pessoas na casa. Vizinhos, policiais e outros parentes. Foi


minha desculpa para não ter que falar com nenhum deles. Não suportava a
maneira como me olhavam.
— Você veio morar com seu pai.

— Eu me mudei para a Califórnia para ficar com ele e sua segunda esposa
Lorraine. Eu me senti culpada porque queria tanto isso. A única maneira de
conseguir isso era minha mãe morrer.

Cameron assentiu como se de alguma forma entendesse tudo, toda a


angústia, todo o sofrimento, toda a dor. Todo o arrependimento.

— Todos os primeiros domingos do mês vou ao IHOP,18— eu disse — Aquele


em Ventura, em Sherman Oaks. Meu pai e eu costumávamos comer lá todos os
domingos. — Eu sorri. — Ele sempre pedia a mesma coisa. Mesmo agora, espero
conseguir a mesma mesa em que costumávamos nos sentar. Até peço exatamente
a mesma coisa que ele costumava comer. Sempre a mesma coisa. Café, um prato
de waffles e uma porção de grãos. Eu nunca como os grãos.

— Por que todo primeiro domingo?

Dei de ombros; não iria compartilhar com eles isso era tudo que eu podia
pagar.

Ignorando o silêncio que Cameron estava usando para me encorajar a


continuar, eu segurei seu olhar para que ele soubesse que eu tinha acabado.

— Sua dor de infância, — disse ele. — Tem um controle sobre você. Sua vida
é uma jornada e você está começando com uma roda que range.

Eu troquei um olhar entre Richard e Cameron. — Eu pensei que não


importava mais.

— Isso é o que você disse a si mesma, — disse Cameron.

— Você acha que S&M vai me ajudar a superar isso? — Eu disse.

— Eu não disse isso, — Cameron deu um sorriso gentil. — O que eu acredito,


Mia, é que é hora de você se perdoar.

18IHOP é uma cadeia multinacional Americana de


Restaurantes de panquecas E alimentos especializados
Para o café da manhã.
CAPÍTULO 15

Sentei-me no banco observando as carpas nadando em volta umas das outras,


fazendo ondulações hipnóticas no lago, várias delas subindo para respirar. Parecia
que tínhamos algo em comum.

Nessa mesma hora minha vida havia virado de cabeça para baixo, quando
Richard me guiou até aquela masmorra pela escada secreta mais legal que eu já
vi, eu esperava encontrar Cameron esperando por nós, empunhando algum tipo de
parafernália de couro. Ou até querendo falar sobre aquele brinquedo.

Eu não esperava isso...

Com o que parecia um jogo festivo, Cameron abriu minha psique, permitindo-
me ver minha vida de forma diferente pela primeira vez. Acontece que eu estava
arrastando muita bagagem comigo e nem sabia disso. O que provavelmente
resultou em meus problemas de confiança superficial. Aparentemente, eu sempre
fui um membro do grupo dos fodidos.

Aqueles muros altos espalhados por hera nos dois lados do jardim nos
separavam do mundo. Eu me perguntei quantas pessoas lá fora viviam suas vidas
diárias dizendo a si mesmas que o nó dentro de seu estômago era normal, como o
que eu tinha dentro de mim agora. Eu acariciei essa dor persistente, aquela com a
qual pensei ter me acostumado.

Era bom estar do lado de fora e me perder na distração deste jardim bem
cuidado que era um paraíso de uma vegetação luxuriante. Eu não era muito boa
em dar nomes a flores e só reconhecia aquele ramo de margaridas crescendo ao
longo da parede à minha direita. Minha mãe adorava margaridas, embora só
tivéssemos tido as de plástico. Algo de que Richard zombaria, sem dúvida. Ainda
assim, o dinheiro estava apertado, necessário para coisas essenciais do dia a dia,
como cocaína de alta qualidade para o segredinho sujo de mamãe.

Eu encontrei seu esconderijo uma vez. Felizmente ela me pegou bem antes
de dar minha primeira lambida na coisa. Aos sete anos isso não teria acabado bem.

Não queria pensar naquela velha vida agora, não quando a promessa de amor
surgisse no horizonte. Richard era tão atraente, tão protetor e tão viciante.

Todas as manhãs eu mal podia esperar para começar a trabalhar só para ficar
perto dele.

Cameron caminhou em minha direção, seus óculos escuros tornando-o difícil


de ler. Levantei-me para cumprimentá-lo e ele gesticulou para que eu me sentasse.
— Almoço. — Ele ergueu o saco de papel marrom e me entregou a água
Perrier. — Espero que goste de espumante.

— Obrigada, Cameron.

— Você pode agradecer a Richard. — Cameron se juntou a mim no banco e


me entregou a sacola. — É um embrulho de salada de frango de uma delicatessen
na estrada. Eles tornam tudo fresco. Richard saiu de carro especialmente para
buscá-lo.

— Ooh, obrigado. — Eu espiei dentro.

Para mim.

Nós dois olhamos para o lago e, pela primeira vez na minha vida, o silêncio
não parecia estranho.

Ele cruzou uma perna longa sobre a outra. — Eu realmente deveria vir aqui
com mais frequência.

Aquele silêncio voltou mais uma vez como se provasse a si mesmo, tanto
quanto a mim, que todo o seu poder se foi.

— Quinhentos dólares pelos seus pensamentos, — disse Cameron.

Eu ri. — É “um centavo pelos seus pensamentos”.

Ele torceu a boca. — Na minha opinião, se o ditado remonta à idade média e


levarmos a inflação em consideração...

— Isso é bobo.

— O que eu posso te dizer? Sou bom com números.

Ele tinha um talento especial para deixar as pessoas à sua volta à vontade, é
claro que era nessa altura que se sentia inclinado, e eu o perdoei pelo que tinha
feito comigo no Chez Polidor, a usar-me para despertar a tendência do senador
Deluca para o castigo.

— Como você está se sentindo? — Perguntou Cameron.

— Você acha que eu preciso de terapia? — Eu disse.

— Você acha que precisa de terapia?

— Parece que eu me virei até agora.

Ele se virou para olhar melhor para mim. — Eu concordo totalmente.


— Você sempre sabe o que dizer?

— Muitas vezes. — Cameron olhou por cima dos óculos de sol. — Então você
e Richard se beijaram na noite passada. — Ele deu um aceno de cabeça. — Eu
aprovo.

— Nada aconteceu.

Ele arqueou uma sobrancelha interrogativa. — Confie em mim, algo


aconteceu.

— Não, nós não... você sabe.

— Eu não tinha certeza se era possível alguém alcançar aquele


coração. Evidentemente, é.

— Como você sabe?

Ele tirou os óculos escuros e os colocou na cabeça. — Sabe o que?

— Que estou apaixonada por Richard.

Ele olhou sob os cílios escuros. — Eu não estava falando sobre você.

Embora eu olhasse para o lago, eu não vi, não realmente, minha mente estava
muito ocupada correndo com a possibilidade de Richard sentir o mesmo por mim.

— Richard está mais calmo, — disse Cameron. — Essa foi a primeira coisa
que notei. Quando você só esteve aqui um dia. É claro que ele ficou com uma raiva
cega quando percebeu que tinha sentimentos por você.

— Por quê?

Cameron olhou para mim. — Ele estava te afastando.

— Richard te contou isso?

— Isso é confidencial.

— Como nós agora?

— Exatamente.

— Ontem à noite, na piscina de Richard, ele parecia horrorizado por termos


nos beijado.

— Você leu errado.


— Não entendo. As pessoas não deveriam ser felizes quando percebem que
gostam de alguém e que essa pessoa também gosta dela?

— Lembre-se, estamos lidando com Richard Booth Sh... — Ele balançou a


cabeça. — Vamos continuar conversando?

— Algo ruim aconteceu com ele, não foi?

— O mal acontece com todos nós.

— Sim, mas realmente depende do que essa coisa é.

Ele franziu os lábios e eu sabia o que isso significava. Eu desviei o olhar,


respeitando seu desejo de não continuar discutindo isso.

— Espero que agora você tenha entendido que o Enthrall é mais do que parece
à primeira vista, — disse ele.

— Pessoas que não respondem à terapia convencional usam este lugar como
último recurso.

— E alguns visitam puramente por prazer, ou dor, ou ambos.

— O Richard…

Cameron se inclinou para frente e apoiou os cotovelos nos joelhos. — É uma


escolha de estilo de vida. Algumas pessoas optam por beber todos os dias, apesar
do que isso faz ao fígado, algumas fumam, outras comem demais. — Ele encolheu
os ombros. — Inevitavelmente, todos nós usamos uma muleta.

Tentei imaginar o que poderia ser a minha. Sim, gostava de beber de vez em
quando, na metade das vezes me esquecia de almoçar e, bem, nunca fumei.

Cameron se inclinou para trás para olhar melhor para mim. — Quando eu
levei você para a masmorra, não tinha ideia de que você ainda era virgem. — Ele
acariciou sua testa. — Estou me chutando por fazer isso com você. Depois daquela
apresentação ousada no escritório de Richard, você me convenceu de que tinha
uma queda por excêntrico.

Mordi meu lábio e corei.

— Sim, isso também não ajuda, — disse ele.

— O que foi aquilo que você fez comigo no restaurante?

— Você pode ser mais específica?

— Quando você apertou minha coxa.


— Oh aquilo. Eu liberei endorfinas em sua corrente sanguínea.

— Causando dor? — Eu afundei mais, queimando de vergonha, mas


fascinada ao mesmo tempo.

— É o que fazemos aqui, — disse ele. — Nós controlamos com dor. Trazemos
prazer com a dor. Equilíbrio de prazer com a dor.

Ele era hipnotizante.

— Nós banimos a dor com a dor.

Tentei entender como isso poderia funcionar.

— Então você não me odeia? — Eu disse.

— Nunca. — Ele esticou os braços nas costas do banco. — A dor leva à


secreção de endorfinas, que por sua vez leva à euforia.

— É por isso que me fez relaxar?

Ele deu um sorriso. — Entre outras coisas.

Eu quebrei seu olhar, não ousando admitir que outra parte de mim também
gostou. — Como você sabia que eu não gritaria?

— Eu tracei seu perfil, — disse ele com naturalidade, sem nem mesmo um
piscar de um cílio.

Meu olhar permaneceu nele, tentando ver se ele pegou o peso do que ele
revelou.

— Você é submissa, — disse ele. — O que a torna um ajuste perfeito para


Enthrall. Existem dominantes mais do que suficientes neste lugar. Você fornece
uma forma de repouso. Perfeitamente, na verdade. — Seus olhos se encontraram
com os meus.

— Você gosta de me dominar? — Eu disse.

— Nada me traz mais prazer. — O canto de sua boca se ergueu. — Se você


fosse minha submissa, estaria sentada no chão agora com a cabeça no meu colo. Eu
estaria passando meus dedos pelo seu cabelo.

Faíscas invisíveis voaram do meu peito; o formigamento do tipo o que acabou


de acontecer lá?

— Mas potencialmente você é do Richard, — disse ele.

— E as formigas?
Ele parecia divertido. — Eu gosto de agressividade. É uma característica que
tenho prazer em vencer na minha submissa. Richard, entretanto, deseja alguém
mais maleável. Sexualmente.

— Você está dizendo isso para me ajudar ou me avisar?

— Confie em mim, as submissas são honradas. Você seria muito


mimada. Incentivada a alcançar o empoderamento. Tendo todas as oportunidades
de realizar seu potencial em todos os níveis. Nós encorajamos nossas mulheres a
florescer.

— Então, eu teria permissão para ser eu?

— Meu Deus, sim. — Seu olhar varreu o jardim e pousou no lago. — Você
gosta desses pequenos aproveitadores?

Eu engoli em seco. — Eles são muito relaxantes de assistir.

— Pelo que ouvi, parece que você terá alguns peixes em breve. Junto com um
novo endereço.

Minha cabeça girou para olhar para ele.

— O amigo de Lotte precisa de uma babá doméstica e, aparentemente, você


está prestes a se tornar a mais nova residente de Malibu.

— Mesmo? — Excitação revirou em meu estômago.

— Seu aluguel vai ser muito baixo. Algo ridículo. Acontece que Lotte é uma
ótima negociadora. — Ele se levantou e se espreguiçou. — Teremos uma festa de
boas-vindas para você. Vamos ver se podemos assustar Richard com um pouco
mais de normalidade. — Ele deu uma risadinha. — Vai ser divertido vê-lo se
contorcer.

Cameron me fez rir.

— Mia, é melhor levar algumas coisas na vida com calma. — Ele puxou os
óculos de sol de volta.

Tentei ler seu rosto, mas o sol brilhou em meus olhos.

— Para o registro, — ele disse. — Eu nunca mandaria você para a Sicília. Ou,
por falar nisso, deixaria qualquer um tocar em você. — Ele deu um sorriso
megawatt. — Esse é o nosso privilégio. — Ele empurrou os óculos de sol mais
para cima do nariz. — Você vai precisar de ajuda para se mudar. Vou colocar as
meninas nisso.
Eu nem tinha considerado a necessidade de fazer as malas. Soltei um longo
suspiro e o observei caminhar de volta para o prédio principal.

Pegando meu telefone, vi que perdi uma ligação de Lorraine. Eu liguei para
ela, fazendo uma nota mental para não comentar sobre minha nova casa até que
todos os detalhes estivessem acertados.

— Como está minha garota? — A voz de Lorraine soou ainda mais rouca.

— Você acabou de fumar um cigarro?

— Caramba, Mia, estou a milhares de quilômetros de distância e você ainda


está no meu pé.

— Desculpe. Como você está se sentindo?

— Chega de enjoo, graças a Deus.

— Estou tão aliviada.

— Eu também. E eu até consegui ir à missa ontem à noite.

— Maravilhoso, — eu disse. — Como está a tia Amy?

— Minha irmã está passando por aqui como sempre, — disse ela. — Ela pode
ser capaz de me arranjar algum trabalho aqui. Ela tem uma amiga que é garçonete
de um bistrô chamado Pastis. Aparentemente, as gorjetas são enormes.

— Você se sente bem para voltar ao trabalho?

— Eu não estou morta ainda, — ela disse, sua risada estridente no telefone.

— Você sabe o que eu quero dizer.

— Eu sei. Fomos comprar perucas hoje e Bobbi comprou para mim essa coisa
morena exuberante. — Ela parecia animada. — Tirou dez anos de mim.

— Envie uma foto.

— Vou chamar Bobbi. Eu sou uma merda com este telefone. Sinto muito,
querida, esqueci de perguntar como está tudo com você?

O peixe me olhou como se estivesse me incitando a dizer a ela que conheci


alguém. Embora aquele certo alguém fosse o Sr. Evasivo. Mesmo depois do que
Cameron acabara de revelar, parecia que Richard não tinha intenção de seguir
esses sentimentos.

— Você ainda está aí? — Disse Lorraine.


— Oh sim. Nada de novo aqui. — Eu dei ao peixe um olhar feroz.

— Isso é um pouco delicado para eu trazer à tona, Mia.

— O que está errado?

— Bem, eu encaminhei aquele pagamento que você me enviou para a


seguradora. O cheque me foi devolvido esta manhã pelo correio.

Papel se agitou ao fundo e senti que ela estava olhando para ele enquanto
conversávamos.

— O que você quer dizer? — Eu disse.

— Eles não descontaram.

— Você ligou para eles?

— Sim, — ela disse. — Mas eles falaram sobre doações e considerações


especiais e coisas assim. Francamente, eles me perderam. Você ligaria para eles?

— Claro, — eu disse. — Ligarei para eles assim que chegar em casa. O que
exatamente eles disseram?

— Não fazia sentido. Algo sobre minha conta ter sido encerrada.

Isso não poderia estar acontecendo. Eu tinha estragado tudo? Eu estava um


pouco distraída ultimamente. Ignorando esse medo angustiante, fiz uma lista de
verificação mental dos últimos pagamentos que fiz. Eu só cheguei a atrasar uma
vez, mas o departamento de cobrança me deu uma semana extra para fazer o
pagamento à eles. O que eu fiz.

— Por favor, não se preocupe, querida, — disse Lorraine. — Provavelmente


sou eu.

— Vou dar uma olhada nisso. Eu tenho o dinheiro.

— Eu ouvi falar de companhias de seguro cortando você. Espero por Deus que
não façam isso comigo.

— Por favor, não se preocupe com isso. Eu tenho isso.

— Você é uma enteada tão boa, Mia. Eu não mereço você.

— Absurdo. Eu sou a sortuda.

— Não deixe LA arruinar a minha doce e linda Mia. — Ela beijou o telefone
e desligou.
Olhei para o meu celular sabendo que nunca poderia compartilhar com ela
meu local de trabalho, ou mesmo o fato de que o homem para quem eu trabalhava,
o homem que consumia todos os meus pensamentos acordados, se especializou em
ruína.

E eu me apaixonei perdidamente por ele.


CAPÍTULO 16

Um banho de espuma quente me esperava.

Eu tinha levado as palavras de Cameron a sério. — É hora de se perdoar, — e


até havia prometido tentar ser um pouco mais gentil comigo mesma.

Decidi desfrutar de alguns luxos que nunca me permiti antes, como tomar
este banho. Nunca arranjei tempo, suponho. Em primeiro lugar, eu precisava tirar
esta ligação da Blue West Medical Insurance do caminho. Sentei-me na beirada
da cama com meu iPhone pressionado contra o ouvido, esperando outro avaliador
que havia me passado para outro departamento. A água do meu banho estava
esfriando.

— Srta. Lauren? — Veio uma voz feminina amigável na linha.

— Sim, — eu disse, temendo que a ligação caísse e eu tivesse que começar de


novo.

— Eu sou Karen Allen. Desculpe pela espera. Eu tenho a reclamação de sua


madrasta aqui, — ela disse, sua voz animada. — Parece que as contas estão todas
pagas.

— É exatamente isso, — eu disse. — Você devolveu meu último


cheque. Quero dizer, aquele que minha madrasta enviou.

— Ela pagou a mais na conta, — disse Karen.

— Eu tenho uma cópia da conta principal aqui mesmo. Eu ainda devo a vocês
trinta e quatro mil dólares. — Minha garganta se apertou, nunca antes tinha
falado a quantidade em voz alta.

— Srta. Lauren, você já pagou.

— Não, o último pagamento foi de apenas seiscentos dólares. Você sabe, como
parte do plano de pagamento que você me configurou.

— O saldo da conta está zerado, — disse Karen com firmeza.

Eu podia ouvi-la clicando em um teclado.

Isso estava ficando frustrante. Claramente ela não estava entendendo o


problema.
— Sra. Lorraine Granger é o nome da minha madrasta, — eu esclareci. —
Não temos o mesmo sobrenome.

— Estou olhando para o relato dela enquanto conversamos, — seu tom ficou
tenso.

— Os últimos quatro dígitos de seu número de previdência social são 4406.


Você pode verificar se tem o correto....

— Tenho o mesmo aqui.

— Eu não entendo, — eu disse. — Quem pagou minha conta?

— A conta de sua madrasta se qualificou para uma bolsa especial por meio
de um de nossos patronos do Cedars, — disse Karen.

— Quem são eles?

— Eles permanecem anônimos. É nossa política.

— Alguém da Cedars pagou toda a conta médica da minha madrasta?

— Os fundos vieram de um de nossos clientes aqui no Cedars, sim.

— Eles não deveriam pedir minha permissão primeiro?

O silêncio preencheu os poucos segundos que levei para recuperar o fôlego.

— Sua madrasta é uma senhora de muita sorte. — Disse Karen. — Toda a


dívida dela está limpa. Isso realmente é algo para se ficar feliz.

— Você pode me enviar isso por escrito?

— A carta está a caminho, Stra. Lauren.

Deitada na cama, encarei o teto tentando aceitar o fato de que agora estava
livre de todas as dívidas.

E agora, se eu realmente quisesse, poderia deixar Enthrall.

Essa foi a última coisa que eu gostaria de fazer. Não agora, não depois de
encontrar um lugar que realmente sentia que pertencia, era aceita por quem eu
era. Tinha potencialmente encontrado ele ali.

Rolei de bruços e abracei meu travesseiro. Onda após onda de alívio me


consumiu porque aquela provação havia acabado; essa responsabilidade de longo
alcance de obter os melhores cuidados para minha madrasta foi eliminada. Eu me
perguntava quem pagou toda a minha dívida na Cedars? Richard era um
patrono? Ele certamente era rico o suficiente. Como eu seria capaz de perguntar a
ele se era?

Sério, um wrap de frango e uma garrafa de Perrier e minha imaginação


decola por conta própria para a terra louca.

Meu banho seria uma ótima maneira de comemorar.

O vapor encheu o banheiro e o cheiro de baunilha flutuou. Meu robe


escorregou de meus ombros e caiu no chão. Passar um tempo com Richard me fez
sentir sexy e aventureira, e agora eu gostaria de ter trazido aquele brinquedo do
trabalho para casa.

Alcançando baixo, suavemente abrindo minhas dobras, eu mais uma vez


descobri meu clitóris, sentindo-o inchar sob meu toque enquanto eu imaginava que
eram os dedos de Richard se afastando, trazendo sensações brilhantes por todo o
meu corpo.

Richard admitiu que gostou do nosso beijo, mas algo me disse que ele nunca
seria meu, nunca poderia ser meu. Eu nunca seria digna de um homem como
ele. Embora de alguma forma saber disso tornasse mais fácil desejá-lo. Mais
seguro fantasiar sobre um estilo de vida tão proibido.

Meu orgasmo crescendo, minhas pálpebras fechando...

Meus pensamentos vagando, eu me perguntei se eu poderia viver uma vida


onde sucumbisse a cada dia ao desejo de um homem de me controlar? Possuir-
me? Minha boceta latejava, parecia tão quente e molhada com o pensamento
daquele homem sendo Richard. Ele me dominando, me disciplinando, me enviando
ao longo do limite...

Como meus dedos fizeram agora, acelerando, me trazendo para mais perto,
aquelas memórias inundando de volta, dele me espancando na masmorra. Aquela
sala de jogos com paredes vermelho-escuras que prometia horas de prazer
punitivo...

Desejei que estes fossem os dedos de Richard, seu toque magistral me levando
ao frenesi. Nada, não importa o quanto eu tentasse, eu poderia imitar a maneira
como ele me tocou aqui, me dando prazer assim. Sua experiência era algo que eu
ansiava mais do que qualquer coisa.

Gozando forte, consumida com pensamentos de ser amarrada e amordaçada


e usada apenas para seu prazer, eu encontrei a liberação com o mais longo gemido
que me estilhaçou em mil pedaços.

Eu desabei no chão.
Entrando no calor do banho, acalmando meus membros cansados, comecei a
entender o que significava esbanjar atenção física pura sobre mim mesma,
chafurdar no luxo da auto devoção. Minha auto aversão estava
desaparecendo. Parecia que estava realmente me vendo pela primeira vez. Toda a
tensão deixou meu corpo e essa dor profunda em meu coração se dissipou. Eu
adormeci.

Apenas para ser acordada pelo toque da campainha.

Me enxugando e lutando para pegar meu robe, fiz meu caminho até a porta
da frente. Era Bailey e eu gesticulei para que ela entrasse rapidamente antes que
alguém visse meu manto úmido, que se agarrava aos meus membros, não deixando
nada para a imaginação.

Ela entrou. — Você tem um minuto?

— Claro, — eu disse.

— Você estava tomando banho? Desculpe.

— Um de banheira.

— Você nunca toma banho de banheira.

— Eu sei...

— Tara está saindo com outra pessoa. — Seu rosto se enrugou e as lágrimas
correram. — Acabamos de ter uma discussão terrível.

Guiei-a até a poltrona onde ela se jogou, derrotada.

Abaixei-me no chão para me sentar diante de Bailey e dei um aperto


reconfortante em seu joelho. — O que aconteceu?

Ela enxugou o nariz. — Tara tinha seu coração voltado para a Austrália. Era
tudo o que ela falava. Eu tinha aceitado perdê-la. Sei que ela não vai agora, mas
está passando cada vez mais tempo em Veneza.

— Vocês ainda estão fazendo sexo? — Não sei por que perguntei isso. Isso
meio que saiu.

— Sim, — disse Bailey. — Ela também tem sido muito mais experimental.

Eu me perguntei se tinha começado uma linha de questionamento para a qual


não estava preparada.

— Por que? — Ela disse.


— Bem, isso significa que ainda há algo especial entre vocês. Você perguntou
a Tara se ela realmente está saindo com outra pessoa?

— Sim, — Bailey fungou. — Ela nega.

— Bem então...

— Eu me sinto horrível. Estive vasculhando sua página do Facebook em


busca de evidências. E seu telefone. Acabando com sua confiança e agindo como
uma namorada obsessiva.

— O amor pode ser difícil, — eu disse, sem nenhuma experiência para


comprovar isso.

— As mulheres sentem essas coisas.

— Tara adora você, — eu disse. — Ela é independente e é isso que você ama
nela.

— Não sei se vou conseguir lidar com perdê-la de novo.

— Você não a perdeu.

— Não, mas eu meio que cheguei a um acordo com toda a história da


Austrália.

Eu dei um aceno de cabeça, reconhecendo que ela tinha razão.

Ela enxugou o nariz com um lenço de papel que puxou da manga. — Como
estão as coisas com você?

— Bem.

— Você realmente fez aquela coisa? Se despiu para o seu chefe?

Corei loucamente, evitando contar a ela sobre o ato duplo de Cameron e Mia
no escritório de Richard. Eu escondi meu rosto em minhas mãos.

Bailey parecia surpresa. — Você realmente mostrou ao seu chefe sua


boceta? Uau, Mia.

Eu espiei por entre meus dedos.

— Mia Lauren, você foi, garota.

— Você não está com nojo de mim?

— Eu sei por que você fez isso. Como Richard reagiu? Vá em frente, derrame?
— Ele saiu da sala.

— Oh.

— E então ele me devolveu meu emprego.

— Ele falou com você sobre isso?

— Sim, ele foi muito simpático.

— O que ele disse?

— Que foi corajoso.

— Eu direi. Ele provavelmente está esperando até que possa colocar suas
garras pervertidas em você. — Bailey observou minha reação. — Ele já deu um
passe?

— Não.

— Mia, o que aconteceu?

— Ele me bateu.

— O que! Seriamente?

— Foi meio quente, na verdade.

— Você está brincando comigo? — Ela se sentou. — Você poderia processá-


lo por isso.

— Eu tipo, gostei disso.

— Por que ele bateu em você?

— Eu fiz algo errado. Bem, ele pensou que eu queria, de qualquer maneira.

— Você sabe que isso não está certo? — Ela olhou feio. — Quero dizer, que
tipo de ambiente de trabalho é, pelo amor de Deus?

Se ela soubesse sobre a escapada na masmorra com Cameron, Bailey


provavelmente iria até Enthrall e confrontaria os dois.

— É tudo muito profissional, — eu disse. — A coisa da surra foi única.

— Você perdeu suas bolas de gude.

Eu comecei a rir. — Eu realmente amo isso, Bailey.


Ela parecia em conflito. — Bem, contanto que você esteja feliz.

— Oh Bailey. — Eu abracei meus joelhos em meu peito. — Não me lembro


de ter sido tão feliz.

— Não deixe-o bater em você de novo, ok?

Apenas o pensamento disso me fez cambalear. Eu estava mais preocupada


que ele nunca pudesse me bater novamente. Não diria isso a ela, no entanto.

Uma batida na porta chamou nossa atenção para ela.

Bailey saltou da cadeira e deu uma olhada pela janela. — É a Tara.

Eu me levantei.

Tara entrou e esperou que Bailey fechasse a porta atrás dela.

— Pensei em te encontrar aqui, — disse Tara.

— Estamos muito felizes por você estar aqui, queria que ela soubesse.

Tara cruzou os braços. — Então, está tudo bem para você ter uma amiga, —
ela apontou para mim, — mas no minuto em que eu vou surfar você enlouquece?

Meus ombros caíram e senti pena de Bailey.

— Somos amigas há anos, — disse Bailey. — Mia e eu há muito


tempo. Somos apenas amigas.

O olhar acusatório de Tara prendeu meu olhar surpreso.

— Eu disse a ela o quanto você a ama, Tara, — eu disse.

— Mia, posso ver seus mamilos através dessa coisa, — disse ela.

Envolvendo meus braços em volta de mim, eu disse. — Eu estava tomando


um banho.

— Sozinha? — Tara fervilhou.

— Sim, sozinha, — eu rebati. — Só não secou, provavelmente.

Ela parecia desanimada e seu foco voltou-se para Bailey. — Estou pirando
porque brigamos. Não estamos acabando, não é?

— Espero que não, — disse Bailey. — Eu sinto muito por ser tão
possessiva. Nunca superei essa coisa da Austrália. Eu fiz uma cara de corajosa
porque você estava tão animada com isso e eu não queria restringir seu senso de
aventura. É o que amo em você. — Suas lágrimas caíram.

— Oh, baby, — disse Tara. — Eu não estou indo a lugar nenhum.

Eu afundei na poltrona, sentindo as aventuras do dia finalmente chegando


ao fim.

Tara e Bailey, parecendo tão fofas juntas, fazendo as pazes em tempo recorde.

— Uhuu, — eu disse, torcendo por elas.

Elas finalmente se separaram.

Tara se aproximou de mim. — Então você conseguiu seu emprego de volta?

Eu trouxe minhas pernas para cima da cadeira e as coloquei embaixo de


mim. — Eu fiz. Obrigada por aquele bom conselho. — Revirei meus olhos.

— Para ser honesta, não achei que você iria continuar com isso, — disse
Tara. — Quero dizer, realmente, são muitas vadias enlouquecendo.

— Ei. — Minhas pernas caíram e me sentei defensivamente. — Foi você


quem sugeriu.

— Não me entenda mal. — Tara ergueu a mão. — Estou feliz que você
recuperou o seu emprego.

Eu coloquei meu rosto em minhas mãos.

— Você não fez algo semelhante para conseguir o emprego? — Disse Bailey,
vindo em minha defesa.

— Durante minha entrevista com a dominatrix, — ela disse. — Não na frente


dos caras.

— Como se isso fosse melhor, — disse Bailey.

— Eu meio que sinto que tudo está esquecido agora, — eu disse, esperando
que fosse verdade.

Tara parecia travessa. — Só queria ter estado lá quando você recuperou seu
emprego.

Bailey bateu em seu braço.

Tara riu e saltou para trás para evitar outro soco. — Eu sei que não sou a
única fantasiando sobre o que aconteceu naquela sala. — Ela arqueou uma
sobrancelha.
— Ei, — disse Bailey. — Ela é minha melhor amiga, lembre-se.

— Mia, você é minha nova heroína, — disse Tara. — Ei, esta deve ser a
primeira vez para um clube de BDSM.

— O que você quer dizer? — Disse Bailey.

— Uma virgem no meio deles, — disse Tara.

— Deixe-a em paz, — rebateu Bailey, lançando-lhe um olhar fedorento para


que eu não precisasse responder.

Afundando no assento, tive a sensação de que Tara sabia o que realmente


havia acontecido no escritório de Richard naquele dia em que pedi meu emprego
de volta.

Algo me disse que Tara ainda tinha amigos na Enthrall.


CAPÍTULO 17

— Nós vamos? O que você acha? — Perguntou Lotte.

Isso estava realmente acontecendo.

Estávamos na sala de estar de 3777 Bailbard Road, Malibu. Este era meu
novo condomínio na praia.

Estávamos cercadas por caixas desempacotadas e as malas que Bailey e Tara


tinham me emprestado para a mudança. Eu dei um salto de fé e notifiquei meu
apartamento, arrumei minha vida e me mudei sem nunca ter visto este lugar.

— Acredite em mim, — Lotte me disse. — Você vai adorar.

E ela estava certa. Eu me apaixonei pela luminosa e espaçosa sala de estar


assim que entrei. Bem à nossa frente, estendia-se uma porta de vidro que dava
para uma varanda e, além dela, uma vista para o oceano. Não foi apenas a vista
que me tirou o fôlego. Este lugar tinha pisos de madeira escura manchados com
tapetes persas espalhados aqui e ali, adicionando um sotaque sofisticado, além de
amarrar todas as outras peças. Havia um sofá macio de cor creme e ao lado uma
poltrona fácil de afundar. Uma enorme TV de tela plana Samsung pendurada na
parede. Fiquei tonta de empolgação.

Contra a parede esquerda estava um tanque de peixes. Seis peixes tropicais


nadaram por todo o comprimento de seu mundo azul iluminado apenas para virar
novamente e começar sua jornada até a outra extremidade. Felizmente não havia
nenhum Asian Arowana entre eles.

Eu tinha desistido do meu estúdio alugado barato e seria difícil encontrar


algo tão barato com a forma como os preços do aluguel estavam indo. — Quem é
essa pessoa? — Eu disse. — E se eles perceberem o quanto sentem falta daqui e
quiserem voltar?

— Você está bem. Eles não vão.

— Não estou fazendo nada ilegal, estou? — Eu temia que essa corrida de
boa sorte pudesse ser boa demais para ser verdade.

— Não. — Lotte continuou o passeio e me guiou até o quarto de tamanho


generoso com sua cama king-size. Este quarto também tem vista para o oceano. Eu
encarei a vista, tentando chegar a um acordo com isso realmente acontecendo e
questionando se eu valia esse tipo de luxo.
Um puxão no meu braço chamou minha atenção.

Lotte, que parecia igualmente emocionada, tinha o banheiro para me


mostrar. No meio estava uma enorme banheira de porcelana com pés em
garras. Isso me lembrou de uma foto de uma revista sofisticada como a Vogue. Do
tipo que folheei no supermercado, mas nunca comprei.

— É claro que você sempre pode tomar banho, — disse Lotte.

Havia um chuveiro enorme dentro do cubículo de granito com fachada de


vidro. O banheiro e a pia também pareciam caros. Toalhas macias novas
penduradas em um cabide de grife.

— É aquecido, — disse Lotte, apontando para ele.

— O toalheiro é aquecido? — Eu olhei para ela.

— Fica muito frio no inverno. Você ficará feliz com isso.

Desconcertada com todo esse luxo e com medo de que de alguma forma
estragasse tudo, fui atrás de Lotte. Em seguida, veio a cozinha arejada, com seus
armários de cor creme e a ilha central de mármore. Este lugar fora mobiliado
recentemente, eu tinha certeza disso. Tudo parecia perfeito. Eu não conseguia
entender como o proprietário não gostaria de morar aqui.

Esta foi a minha primeira vez em muitos aspectos e, até agora, nunca senti
vontade de abraçar um eletrodoméstico. A grande geladeira de aço inoxidável era
grande, cabendo confortavelmente entre dois armários com fachada de vidro.

— Este é o seu presente de boas-vindas. — Lotte apontou para a geladeira


de luxo. — Possui tecnologia de refrigeração inteligente. É de todos nós.

Isso foi tudo que precisou. Incapaz de conter as lágrimas que vinham
crescendo na última meia hora, tudo que pude fazer foi secá-las, perdendo uma
batalha.

Lotte passou o braço em volta de mim. — Calma, querida. Você vai se


acostumar com isso. Mudar nunca é fácil.

— É a geladeira mais linda que eu já vi. — Eu me virei para ela. — Eu não


posso acreditar.

— Acredite. Agora você tem um saco de papel?

Procurei por um. — Por que?


Ela olhou através da sala. — Atrás daquela porta há um armário. Nele há
uma máquina de lavar e secar roupa. Estou apavorada que você vá hiperventilar
e terá que respirar dentro de um saco para não desmaiar.

Tendo que arrastar minha roupa para a lavanderia automática do meu antigo
apartamento, Lotte foi sábia ao revelar essa pequena informação aos poucos. Pelo
amor de Deus, provavelmente a fiz pensar que eu morava em uma caverna.

Ela pegou minha mão e me guiou de volta para a sala de estar e para o
aquário. — Lembre-se, você está fazendo um favor ao proprietário. — Seu olhar
se alargou. — Mantenha esses pequenos idiotas vivos e tudo ficará bem.

Na mesinha de centro, estavam as instruções que Lotte repassou comigo


sobre como fazer a manutenção do tanque. Tudo parecia fácil, especialmente
porque o peixe recebia uma visita uma vez por semana do dono da loja de animais,
que aparentemente trocava a água. Tudo que eu precisava fazer era alimentá-los
várias vezes ao dia.

Em meia hora, Penny e Scarlet chegaram. Elas, como Lotte, estavam vestidas
com jeans e camisetas. Ainda assim, elas não podiam ser normais. Eram bonitas
demais para isso. Scarlet até usava botas Ugg, muito diferentes de seu couro e
renda habituais. Como prometido, elas trouxeram vinho e pizza, além de cumprir
a oferta de me ajudar a desfazer as malas.

Nós nos separamos, cada uma levando uma caixa para uma sala, e
começamos o que de outra forma teria sido uma tarefa árdua. O tempo passou
enquanto eu pendurava minhas roupas no closet, refletindo sobre como isso me
lembrava de todo o meu estúdio.

Eu devia muito a Lotte por fazer isso acontecer para mim.

Bailey e Tara chegaram uma hora depois. Eu apresentei Bailey para as


meninas, embora Tara não precisasse de apresentação e conversasse com elas,
atualizando-se sobre tudo o que ela tinha feito ultimamente e todas
compartilharam com ela o que ela perdeu em Enthrall.

Assistindo todas elas interagirem, o respeito que compartilhavam uma pela


outra, a maneira como elas ouviam com carinho as histórias uma da outra, tive a
sensação de que isso poderia ser o mais próximo que eu já estive de ter uma
família.

Lotte, Penny e Scarlet borbulharam de felicidade por mim e compartilharam


com Bailey o quanto elas amavam me ter por perto. Aparentemente, muitos dos
clientes também gostavam de mim. Até Monsieur Trourville havia desenvolvido
um ponto fraco, que não eram as bolas de Vênus.
Pela primeira vez na vida, encontrei um propósito. Eu pertencia a algum
lugar.

A desempacotação foi reiniciada e fizemos grandes progressos para arrumar


o lugar. Bailey me chamou de lado para falar comigo em particular. Ela também
não conseguia acreditar na minha boa sorte. Garanti a ela que estava apenas
fazendo um favor a um amigo de Lotte. Caminhamos para examinar o tanque,
olhando os peixes enquanto eles nos olhavam de volta, imperturbáveis com toda a
atividade.

— Você não está se tornando uma dominatrix, está? — Ela disse.

— Dificilmente.

Seu olhar varreu a sala. — Quanto é o seu aluguel?

— Quatrocentos por mês. — Eu apontei para o tanque. — Esse cara precisa


de alguém para cuidar disso.

Bailey cruzou os braços. — Por que ter um aquário se você não pretende
aproveitá-lo?

— Ele teve que sair da cidade a negócios.

— Por um ano?

Eu encarei o pequeno azul com suas listras brancas pálidas. — Eu posso dar
nomes a eles.

— Tome cuidado.

— Eu tenho alguns livros para ler sobre eles.

— Eu não estou falando sobre os peixes, — ela sussurrou. — Se alguma parte


do seu cérebro está dizendo que isso é bom demais para ser verdade,
provavelmente está certo.

— Fique feliz por mim.

Ela apontou um dedo. — Nunca, jamais faça algo que você não
queira. Prometa-me.

— É claro.

— Em um minuto você está se mostrando para seu chefe, no próximo...

— Não tem nada a ver com isso.


Eu queria aproveitar o dia de hoje. Richard chegaria a qualquer minuto e
Cameron também. Eu estava tão animada para mostrar a eles o lugar e
compartilhar essa incrível onda de sorte. Pela primeira vez na vida, senti vontade
de convidar amigos, talvez até Richard. Talvez até aprendesse a cozinhar.

Bailey bateu no meu braço. — Eu sinto muito. Estou mijando no seu desfile
e você não merece. Eu te amo muito e não quero que nada de ruim aconteça com
você.

Passei meus braços em volta dela e dei-lhe o maior abraço.

— Ei, — era a voz de Tara. — Que tal fazer disso um abraço coletivo?

Ambas passaram os braços em volta de mim.

— Vocês vão me fazer chorar, — eu disse.

— Este lugar exala energia positiva, — disse Tara, dando um passo para
trás. — O feng shui é demais.

— Você vai adorar aqui, — disse Bailey.

Olhando em volta para todo esse luxo e percebendo que era meu, o meu
estômago deu um salto novamente.

A brisa do oceano parecia purificadora. Uma mudança maravilhosa em


relação a aglomeração do vale.

Com as caixas desempacotadas e a maior parte da pizza perdida, todas nós


nos amontoamos na cozinha, nossa conversa fluindo com o vinho. Várias garrafas
de Chardonnay estavam vazias na bancada.

Mais ou menos uma hora depois, Cameron e Richard chegaram, trazendo com
eles sobremesa em uma grande caixa branca da Cheesecake Factory. Eles também
usavam jeans e camisetas e, como previsto, ainda pareciam elegantes em suas
roupas casuais. Pelo cabelo espetado de Richard, eles haviam dirigido até aqui em
um de seus carros descapotáveis.

— Eu amo carros descapotáveis, — eu disse a eles, trazendo um sorriso ao


rosto de Richard.

Ele correu os dedos por seus cachos dourados para achatá-los, sorrindo para
mim.

Cameron colocou a caixa de sobremesa no balcão. Depois de lavar as mãos,


Richard abriu a caixa de sobremesa e mergulhou um dedo na cobertura branca e
cremosa. Lotte deu um tapa na mão dele com força, fazendo Richard cair na
gargalhada, chupando a cobertura de brincadeira. Lotte serviu o cheesecake para
cada um de nós. Houve uma pausa silenciosa enquanto comíamos o delicioso prato
doce, o som de garfos batendo nos pratos. Os suspiros de felicidade vindos de todos.

Richard roubou uma colher de cheesecake do meu prato, comendo com um


sorriso malicioso. Meu coração ameaçou pular do meu peito e espirrar direto na
minha taça de vinho.

— Olhe para a minha geladeira, — eu explodi, tentando me salvar desse


rubor constrangedor.

Richard parecia horrorizado. — Ah não. O que aconteceu com a outra do seu


antigo apartamento? Vamos pegá-la de volta.

— Não, — eu disse, olhando para Bailey para ter certeza de que seus
sentimentos não estavam feridos.

— Não olhe para mim, — disse ela. — Estou tão feliz em ver isso como você
está.

— Olha. — Peguei uma xícara e segurei embaixo do dispensador de gelo. —


Vê isto.

O gelo tilintou na xícara e eu ri de alegria.

A risada rugiu ao meu redor. Mais uma vez corei descontroladamente, mas
pelos sorrisos de todos eles acharam minha alegria cativante.

Bailey me lançou um olhar Richard é meio fofo, mas não discretamente o


suficiente.

Ele pegou e seu rosto mudou para ilegível. — Vou dar uma olhada na vista.
— Ele saiu vagarosamente, levando sua taça de vinho com ele.

— Muito obrigada pelo meu presente incrível, — eu disse. — Se alguma vez


você precisar que eu faça horas extras, me avise.

— Não seja ridícula, — disse Cameron. — Nós compramos da Costco. Eles


praticamente doaram.

Costco?

Richard e Lotte não haviam visitado Costco juntos há algumas


semanas? Certamente isso foi muito antes de o amigo de Lotte pedir a ela para
encontrar alguém para morar aqui. Eu olhei para Lotte. Seu olhar permaneceu no
azulejo.
— Vou dar outra olhada na vista também, — eu disse, me sentindo
decididamente mais confiante do que o normal enquanto os carboidratos se
misturavam ao vinho e me relaxavam.

Richard ficou na varanda, apoiando os cotovelos na amurada e olhando para


o oceano.

— Essa vista não é incrível? — Eu disse.

Ele se virou e encostou-se na grade. — Espetacular.

— Estou tão agradecida. Eu tenho que me beliscar.

— Você fez o lugar parecer ótimo.

— Você já esteve aqui antes?

— Não. — Ele tomou um gole de vinho. — Aparentemente, a banheira é


outra coisa.

— Você quer ver?

Eu o conduzi pela sala de estar. Uma explosão de risos veio da cozinha


aliviando minha culpa por deixar meus convidados se divertirem. Foi bom dar
outra olhada neste quarto.

Richard deu uma volta ao redor da banheira, seu olhar encontrando o meu. —
Decisões... decisões... banho ou ducha? Estou tentado a escolher um agora.

Eu fingi choque.

Ele colocou o vinho no balcão de mármore perto da pia. — Devíamos voltar.

— Sinto-me segura, — disse eu.

— Eu não.

Algo passou entre nós, uma faísca invisível, e ele segurou meus pulsos e me
empurrou contra a parede, puxando meus braços acima da minha cabeça. Ele os
segurou lá, seu corpo firme pressionando o meu. Essa postura flexível e a força que
ele usou para me colocar nela me deixaram frouxa em seu aperto, enfraqueci, meu
núcleo apertando em antecipação de onde ele estava levando isso, me levando.

Seus lábios se aproximaram perigosamente. — Mia, as coisas que quero fazer


com você.

Uma onda de emoções disparou pela minha espinha.


Ele me soltou e deu um passo para trás, seu olhar se separando do meu. —
Fique longe de mim. Prometa que vai.

— Eu não vou.

A confusão marcou seu rosto.

— Você não quer me beijar? — Eu disse.

— Você sabe que eu quero. Mais do que tudo. É complicado.

— Quanto?

— Comigo não há surpresas, — disse ele. — Você sabe o que eu faço. O que
eu sou. Eu nunca vou desistir do BDSM. Você e eu, não somos compatíveis.

Agora eu estava disposta a tentar qualquer coisa para sentir suas mãos sobre
mim novamente, sentir seu carinho, seu toque. Eu queria que ele soubesse disso. O
quão ruim poderia ser o que ele faz naquela masmorra?

— Podemos começar devagar, — eu disse, lembrando-me das palavras de


Cameron e testando-as em Richard.

Ele piscou através dos cílios loiros escuros. — Você percebe o que eu quero
fazer com você?

— Sim.

Com a janela fechada, esta sala não tinha o ar que ambos precisávamos tão
desesperadamente. Pela maneira como seu peito subia e descia, ele também deve
ter sentido falta de ar.

Ele ergueu o queixo em desafio. — Diga.

— Você quer me dominar.

— Subjugar você. — Ele se aproximou. — Controlar você. Conquistar você.


— Sua mão esquerda descansou contra meu peito e ele me empurrou contra a
parede novamente e pressionou com força. — Foda-se.

Oh, por favor.

Ele parecia hesitante. — Mia, eu nunca aceitei uma submissa não treinada.

— O que isso significa?

— Elas sempre me procuraram preparadas.

— Preparadas?
— Já treinadas.

— Por quem? — Prendi minha respiração. — Cameron?

Richard se aproximou e tirou uma mecha de cabelo dos meus olhos.

— Eu quero que seja você, — eu disse suavemente.

— Você merece alguém melhor do que eu.

— Eu não tenho uma palavra a dizer?

— Até o momento em que você concordar em se tornar minha


submissa. Então, toda escolha está perdida. — Ele estreitou o olhar. — Você não
iria querer isso. Iria?

Minhas pernas estavam fracas. Soltei um suspiro de tristeza quando sua mão
caiu mais uma vez ao seu lado, ameaçando nunca mais me tocar.

— Você e eu estamos a quilômetros de distância, — disse ele.

— Você está tentando se convencer? Ou a mim?

— Qual é o nosso terreno comum?

— Você não acha que sou boa o suficiente para você? — Minha voz quebrou
com emoção. — É isso?

— Ao contrário. — Ele olhou atentamente. — Você é a encarnação da


inocência.

Eu quebrei seu olhar, meu coração doendo com o pensamento de que eu falhei
com ele, falhei comigo.

Minha meditação interior me disse para ficar forte e dizer a ele o que eu
realmente queria, precisava. Ele, sempre tinha sido ele.

Minhas palavras fluíram de um lugar desconhecido. — Estou voltando para


a varanda. Se você encontrar forças para enfrentar o que nós dois sabemos, que
existe uma verdadeira química entre nós, junte-se a mim. Convide-me para
sair. Posso até dizer sim. — Peguei sua taça de vinho e saí com ela, deixando-o
parado ali. Atravessei a sala de estar e saí para a varanda.

Enfrentando a brisa, deixei que ela me envolvesse, inalando o ar mais


fresco. Este lugar ofereceu um novo começo. A promessa de cumprimento perto o
suficiente para tocar...

Se eu ousasse estender a mão para ele.


Após vários minutos saboreando a vista, lamentei minha explosão, deixando-
o saber meus verdadeiros sentimentos. Eu bebi o resto do vinho, tendo o prazer de
saber que seus lábios haviam roçado onde os meus estavam agora no copo. O
suspiro mais suave me escapou.

Eu me virei...

Richard encostou-se no batente da porta da varanda. — Começar devagar?


— Seu atraente olhar azul queimando ferozmente no meu.

— Lento.

— Tem certeza que é algo que você quer? — Ele sussurrou. — Não sou bom
em compromissos.

— Eu sei.

— O que você tem em mente? — Ele disse.

— A festa da Chrysalis amanhã à noite. Deixe-me ir com você.

Ele torceu a boca como se refletisse sobre isso.

— Pegue-me amanhã às seis, — eu disse.

Richard foi até a varanda. — Você sabe que sou o dominante. — Ele elevou-
se sobre mim, enfatizando seu ponto. — Um problema que você não deve esquecer.

Droga, isso me excitou.

Eu estiquei meus braços para os lados e agarrei o corrimão — Suas íris


dilatam quando eu respondo.

Não empurre. Cameron avisou que prefere maleável.

Eu poderia ser essa mulher? Eu poderia cair aos pés de Richard e me tornar
sua escrava sexual? Do que eu estava disposta a desistir para me tornar sua
amante? Sua submissa.

Tudo.

Eu faria qualquer coisa.

Ele se aproximou. — O que mais você vê?

— Que você quer isso tanto quanto eu.

— Algumas coisas são inevitáveis. — Sua expressão se suavizou, seu rosto


agora sereno. — Eu tenho muito para mostrar a você.
— Eu quero isso.

— Mia. — Ele estreitou o olhar, sua intensidade retornando. — Você está


realmente pronta para esse prazer cegante?

Uma onda do que pareciam borboletas explodiu no meu peito. Arrepios de


excitação me fizeram estremecer, e uma dor intensa na minha barriga
diminuiu. No fundo da minha alma eu me sentia pronta para isso, para ele.

— É uma boa coisa não estarmos sozinhos, — disse ele.

— Não que isso importe, — eu disse. — Eu só vejo você.

A carranca de Richard se dissolveu e ele passou os dedos pelos cachos


dourados.

— Vejo você amanhã, então, — eu sussurrei sem fôlego, derretendo na esteira


de seu sorriso deslumbrante.
CAPÍTULO 18

Eu nunca me senti mais bonita.

Nunca me vesti de forma tão provocante. Esta noite era a festa da Chrysalis
em um local não revelado e Richard deveria me pegar a qualquer momento. Eu
roubei mais alguns momentos para verificar minha maquiagem dramática de
olhos esfumados, lábios de pétalas brilhantes e maçãs do rosto suavemente
enfatizadas. Afofei meu cabelo, optando por deixá-lo solto e deixar os cachos em
espiral flutuando sobre meus ombros.

Olhando meu reflexo espelhado, fiquei impressionada com o quão sofisticada


um espartilho preto me fazia parecer, a forma como meus seios curvavam o top
rendado. Isso, e as meias de cano alto com cinta-liga transparente e calcinha de
renda combinando. Eu até descobri que os Manolo Blahniks que Cameron comprou
para mim eram perfeitos.

Lotte me aconselhou que usar qualquer outra coisa me faria destacar e eu


não queria isso. Ela me emprestou sua longa capa de veludo com capuz; perfeita
para me esconder até chegarmos ao nosso destino.

Minha máscara preta e dourada acrescentou o mistério que a festa da


Chrysalis exigia. Esperava-se que todos os convidados usassem uma. Fui para a
minha sala para colocá-la em cima da minha bolsa para não a esquecer.

Eu demoraria um pouco para me acostumar com minha nova casa. Ainda


tinha que me beliscar por causa da descrença de que eu morava aqui e me
perguntei por quanto tempo mais eu continuaria andando ao redor do lugar com
reverência. Aquele sofá de cor creme teria que ser sentado em algum momento.

Havia vinho na geladeira. Fiquei tentada a abrir uma garrafa agora e beber
um copo ou dois para acalmar meus nervos. Mesmo assim, Richard não aprovaria
uma bebida na noite do que é essencialmente uma das noites mais importantes do
ano para seus clientes. Membros estavam voando de todo o mundo para participar
do que me disseram ser uma luxuosa extravagância. Eu mal podia esperar para
ver a grande casa que sediava o evento, depois que Lotte me provocou sobre suas
aventuras lá nos anos anteriores. Ela me avisou para evitar os quartos. Os
convidados faziam todo tipo de coisa com eles, aparentemente, e eu não tinha
certeza de como me sentiria sobre todos acabarem na piscina nus no final da noite.

Depois de trinta minutos sem que Richard aparecesse, minha preocupação


com sua segurança aumentou. Abri minha bolsa e tirei meu iPhone.

Droga, eu perdi uma ligação dele.


Embora ele não tenha deixado uma mensagem de voz, ele mandou uma
mensagem:

Richard: Mia, por favor, me perdoe. No próximo ano, talvez. Vá


fazer algo divertido.

Eu caí no sofá.

Que diabos.

O sarau da noite anterior na varanda não significou nada para ele? Eu pensei
que tínhamos concordado que eu poderia lidar com qualquer coisa que ele quisesse
jogar em mim. Desabando para trás, me senti derrotada, envergonhada
até. Certamente ele sabia o quão animada eu estava sobre ir hoje à noite. Eu tinha
feito o máximo para juntar minhas roupas e me vestir para uma festa que agora
não iria.

Eu mandei uma mensagem de volta.

Mia: O que te fez mudar de ideia?

Eu retrocedi, excluindo. Em vez disso, me sentindo irritada com Richard e


presumindo que ele não mudaria de ideia, mandei uma mensagem para
Lotte. Afinal, eu era membro da equipe e tinha tanto direito de ir a essa festa
quanto qualquer um.

Mia: Ei, Lotte. A capa ficou ótima! Obrigada. Mal posso esperar
para ver você. Qual é o endereço mesmo?

Descansando meu iPhone no colo, olhei para a TV de tela plana. Esta seria
mais uma noite para mim e isso não era uma coisa tão ruim. Embora ser rejeitada
por Richard novamente foi.

Meu iPhone tocou.

Lotte: O que aconteceu?

Mia: Tudo bem.

O controle remoto parecia fácil de usar. Cameron mencionou algo sobre a


HBO e o Showtime estarem disponíveis. Eu não tive tempo para verificar isso até
agora.

Obrigada por isso Richard, minha musa interior o amaldiçoou. Grrrr. Eu não
preciso de proteção. Eu preciso de sedução.

Lotte: The Manor, Linda Flora Drive, Bel Air.


Um choque de excitação me atingiu.

Agora eu sabia como um agente da CIA se sentia quando fechava o


assunto. Não só eu estava perseguindo Richard Booth como meus planos noturnos
haviam se revertido bem.

Lotte: Dirija com segurança. Estradas sinuosas.

Mia: Entendi.

Lotte: Você se lembra da senha?

Senha?

Lotte: Avonscroft.

Mia: Obrigada!

Lotte: Nos vemos em breve.

Mia: Mal posso esperar.

Lotte: Certifique-se de que Richard encontre você no saguão.

Mia: Entendi.

Lotte: Não ande pela casa sozinha.

Mia: Ok.

Peguei minha bolsa e máscara e puxei sobre meus ombros a longa capa preta
e saí.

Usando o GPS do meu telefone, naveguei com meu Mini até Ventura, em
direção a Bel Air, suprimindo essa sensação incômoda de que não estava pronta
para isso. Ainda assim, eu prometi a mim mesma que tentaria coisas novas e sairia
da minha zona de conforto e esta foi uma boa maneira de começar essa mudança
de página, uma decisão de mudança de vida.

Graças ao aviso de Lotte, dirigi com cuidado pelas estradas íngremes e


sinuosas de Bel Air, e em uma hora meu navegador me levou ao meu destino.

A mansão erguia-se majestosamente no topo de uma colina.

Esta foi a maior casa que eu já vi, até mesmo empalidecendo em comparação
com a dos Sullivan e eu pensei que a casa deles em Brentwood era enorme. Eles
tinham estacionamento com manobrista. Meu carro deve ter parecido ridículo
espremido entre o Mercedes prata e o BMW azul. Usando meu espelho retrovisor,
verifiquei minha maquiagem e coloquei minha máscara.
Esta era a festa mais emocionante de que já participei.

De cabeça erguida, entreguei minhas chaves ao manobrista, espantada por


ele não reagir ao meu carro de passeio ou mesmo recuar quando subiu. Embora ele
parecesse achatado no banco do motorista. Ele guiou meu carro para estacioná-lo
em algum lugar mais conveniente. Coloquei meu bilhete de estacionamento na
bolsa.

Estava feliz por esta capa e puxei-a confortavelmente em torno de


mim. Apesar de cobrir tudo, eu me senti decididamente nua sob ela, enquanto a
realidade do que eu estava realmente fazendo se tornava mais vívida por estar
aqui. Na porta da frente, esperei um casal entrar antes de mim.

Ouvido por meio de alto-falantes invisíveis, o baixo pulsante da música


chamava os convidados para o imperioso saguão. A fumaça saiu de máquinas de
vapor escondidas, criando uma atmosfera misteriosa. A entrada estava
suavemente banhada por uma iluminação amarela dourada.

Olhando para o meu telefone, fui mandar uma mensagem para Richard.

Um segurança vestindo smoking apareceu na névoa, seu físico mais parecido


com um jogador de futebol profissional do que um segurança. Sua severidade foi
um aviso para não prosseguir.

— Eu sou uma convidada, — eu disse.

Ele cruzou os braços, sua postura defensiva.

— Avonscroft. — Eu segurei seu olhar.

— Desligue o telefone, — disse ele. — Ou eu vou confiscar.

Depois de seguir seu pedido, coloquei-o de volta na minha bolsa.

Ele deu um passo para o lado e eu prendi a respiração até que houvesse uma
distância entre nós e eu ficasse fora de sua vista. Esta névoa artificial me cercou,
um manto de brancura tornando difícil avaliar que caminho seguir. Diante de
mim, apareceu uma grande escada que se abria para os dois lados e eu sabia bem
o suficiente para não começar minha busca lá em cima, atendendo ao aviso de
Lotte. Se eu pudesse encontrar uma das garotas, elas saberiam onde eu poderia
encontrar Richard.

O riso chamou minha atenção. Um elegante casal mascarado de trinta e


poucos anos, caminhando de braços dados, rumando para o oeste. Por suas
passadas confiantes, eles sabiam para onde estavam indo. A névoa se arrastou
pelo corredor, me seduzindo para o desconhecido, acenando para que eu o
seguisse. No meio do caminho, a mulher se virou e olhou para trás através de sua
máscara de borboleta. Ela ofereceu o sorriso mais suave, inclinando a cabeça. Eles
desapareceram por uma porta. O cartaz à esquerda da entrada anunciava isso
como a Suíte Harrington. Com um rápido olhar para trás, me atrevi a dar uma
olhada além da porta.

Levando um momento para meus olhos se ajustarem, pisquei na


penumbra. Uma multidão se reuniu diante de mim e bloqueou minha visão da
sala. Um teto alto de estuque com seus lustres baixos de cristal banhavam tudo
com uma luz amena, e cortinas de veludo vermelho estendiam-se de cada lado,
indicando que era um salão de baile. Abrindo meu caminho o mais furtivamente
possível, fui na ponta dos pés para a esquerda da reunião.

A inundação de música parecia familiar: Enigma.

Todo o ar saiu da sala e meus pés pareciam instáveis embaixo de mim.

Lá, no centro, repousava uma mesa de madeira escura. Inclinando-se para


um lado dela estava uma morena mascarada, vestindo apenas um corpete e sem
calcinha. Ela estendeu as mãos para se equilibrar, sua coluna era uma curva
perfeita, seus pulsos presos com força por um homem mascarado elegantemente
vestido de pé do outro lado. Apesar da máscara, ela parecia relaxada, como se não
percebesse a presença de seu público. Seus olhares se fixaram nela, em todos os
três.

A morena estava sendo levada por trás por um mascarado, de camisa aberta
e calça tirada, revelando uma musculatura esculpida. Ele manteve seu ritmo
lento, constante, enquanto seu comprimento total desaparecia dentro dela, apenas
para puxar todo o caminho para fora antes de bater nela novamente. E de novo.

Ele a estava levando com força.

Esta cena escura e evocativa se desfazendo como um sonho sombrio com...

O ar estalava com uma atmosfera eletrizante, fundindo cada pessoa que


assistia. Uma excitação silenciosa, uma queimação dentro de cada olhar festejando
esta cena de sexo sem fim. Isso não era real, isso não podia ser real. Minha mente
procurou entender o que se desenrolou nesta suíte elegante.

A morena se moveu com a graça de uma dançarina enquanto era


elegantemente jogada de costas pelos dois homens. Ela estava deitada de costas
sobre a mesa. Suas mãos foram recapturadas atrás dela por aquele que a segurou
antes. O outro homem que a pegou por trás agora estava de pé entre suas
pernas. Ele afastou suas coxas e abriu suas pernas para expô-la
completamente. Quando ele pareceu contente com o fato de os espectadores terem
visto bem sua boceta, tendo escaneado os muitos rostos mascarados da audiência
apenas para ter certeza, ele usou sua mão para dar prazer nela. Tocando-a
vagarosamente, ele facilmente a levou ao êxtase. Ele se inclinou e enterrou o rosto
em sua fenda úmida e brilhante, lambendo seu clitóris, sua língua habilmente
correndo sobre aquele pequeno cerne. Ela arqueou as costas, seus gemidos de
prazer misturados com a música, uma balada desconhecida que era um cenário
perfeito para esta cena cheia de luxúria.

Murmúrios abafados de aprovação vieram da sala.

Era difícil não imaginar que você era ela, aquela mulher deitada ali sendo
mimada de forma tão provocante. Eu lutei com esse desejo de ficar, meu núcleo
apertando com a antecipação do que mais eu poderia ver. O que mais eles podem
fazer. Meu olhar deslizou sobre as testemunhas mascaradas desses três e seu
prazer incomum, procurando por Richard, Cameron ou mesmo as meninas.

Eu não deveria estar aqui. No entanto, meus pés permaneceram rígidos e


presos ao chão, meu olhar encontrando o da beleza mascarada quando ela virou a
cabeça para o lado. Suas pálpebras tremeram, seus lábios fizeram beicinho em
êxtase desenfreado. Seus gemidos encheram o salão de baile, e os sussurros do
homem segurando seus pulsos exigiam sua submissão completa, que ela deu de
bom grado. Seu orgasmo prendeu sua respiração, agarrando-a, levando-a ainda
mais alto.

Seus suspiros suaves de felicidade foram compartilhados com todos nós.

Virando-me lentamente, minha própria excitação me desorientando, cheguei


à porta, pressionando minha mão contra meu peito para acalmar meu coração
acelerado. Saí para o corredor e me vi mais uma vez envolta em uma nuvem de
fumaça.

Sentindo meu caminho ao longo da parede...

— O que temos aqui? — Uma voz masculina falou.

Um homem baixo e gordo vestindo uma toga se aproximou de mim. Ele usava
uma coroa de folhas como um imperador romano. Ao lado dele estava o guarda que
conheci na porta.

— Estou procurando alguém, — murmurei.

Toga abaixou-se, seu olhar deslizou para a suíte Harrington.

Minhas palavras falharam e eu balancei minha cabeça, não.

— Tire, — disse ele, gesticulando. — Agora.

Tirei minha máscara.

— Quem é você? — Ele disse com raiva.


— Mia.

— Venha comigo. — Sua voz era baixa, ameaçadora.

O guarda agarrou meu braço, seu aperto de ferro cortando minha


circulação. Em segundos, entramos em um estúdio, um escritório ricamente
decorado. As estantes iam até o teto, os vastos compêndios bem alinhados, uma
coleção impressionante de conhecimento. Couro e madeira escura davam ao quarto
um toque excessivamente masculino. Uma longa corrente pendurada no teto no
centro. Eu tinha visto algo semelhante em Enthrall, mas aqui parecia fora do
lugar.

Meu olhar congelou sobre ele.

— Encontre o diretor. Agora, — disparou Toga para o guarda.

Tive algum alívio quando o segurança desapareceu, embora a ideia de que


tipo de problema eu estava me apavorasse.

— Para qual site você trabalha? — Disse Toga.

— Eu sou uma convidada. — Hesitei, nervosa por mencionar o nome de


Richard.

— Eu conheço todo mundo aqui, — disse ele. — Você, eu não sei quem é.

Abracei minha capa com mais força, lamentando ter vindo aqui sem a
permissão de Richard e amaldiçoando meu desejo de tentar algo novo. Jurei nunca
mais desobedecê-lo. Mesmo meus pensamentos se inclinaram para a
submissão. Este lugar tinha um jeito de silenciar você.

— O que você está vestindo por baixo disso? — Ele perdeu a cabeça. —
Jeans?

Eu balancei minha cabeça, querendo que o guarda voltasse.

— Mostre-me, — ele exigiu.

Na esperança de acalmar seu brilho, separei minha capa e a joguei sobre os


ombros, ousando revelar meu traje com espartilho. Sua expressão irritada mudou
para uma de espanto.

A porta se abriu, segurada pelo guarda, e entrou um homem alto e mascarado


vestindo um smoking perfeitamente ajustado, seu andar confiante, seu brilho
castanho escuro em mim.

— Cameron? — Dei um passo em sua direção, garantindo que ele diria a


Toga que eu não era uma intrusa.
Cameron me bebeu.

Devagar.

Desejosamente.

A tensão apertou minha garganta como um vício.

— Diretor, — disse Toga, quebrando o silêncio. — Você a conhece?

Diretor?

Tentei ler o rosto de Toga para ver se ele falara mal.

— Sim, — disse Cameron, sibilando os s como uma cobra.

— Ela está com você? — Esclareceu Toga.

Cameron acenou com a cabeça e deu um sorriso fino que não alcançou seus
olhos.

— Eu a peguei curtindo a suíte Harrington, — disse Toga.

— Mesmo? — Disse Cameron.

— Um cordeiro para o matadouro? — Perguntou o Toga.

Cameron inclinou a cabeça. — Não esta noite, Dominic.

— É uma pena, — disse ele. — Nossos convidados teriam gostado dela.

Cameron estendeu a mão. — Srta. Lauren.

Parecia tão devastadoramente formal, tão hostil, e ainda assim peguei sua
mão, permitindo que Cameron me guiasse para fora dos olhos redondos de Toga e
sua conversa desconcertante sobre o abate de cordeiros. Avançamos pelo corredor
e eu permaneci quieta, não confiando mais em mim mesma para entender a
etiqueta deste lugar, olhando para trás para ter certeza de que Toga não estava
nos seguindo.

Depois de verificar se estávamos fora do campo de visão de alguém, Cameron


se soltou e se encostou na parede como se também tivesse sido afetado pela
aspereza de Toga. Mesmo com a máscara, pude ver que Cameron parecia
perturbado. Ele soltou um longo suspiro pelos lábios franzidos.

— Oi, — eu disse, tentando julgar se ele estava chateado.

— Que porra é essa, Mia.


— Eu estava procurando por Richard.

Ele arrancou a máscara. — Na suíte Harrington?

Eu arregalei meus olhos quando pensei nisso.

— O que você esperava? — Ele disse. — Xadrez?

— O Richard está aqui?

Ele revirou os olhos.

— Você é o diretor?

— Sim.

— Por que você não me contou?

— Por que isso importa?

— Você dirige Chrysalis? — Eu disse. — Esse lugar?

Cameron hesitou e seu olhar alcançou minha alma, queimando com uma
intensidade que eu nunca senti antes.

Amassei minha capa em volta de mim.

— Bem, agora você sabe, — disse ele.

Eu me afastei dele. — Você organiza tudo isso?

— Com a ajuda de Richard.

Eu quebrei seu olhar. Richard tinha me avisado que o que acontecia aqui era
muito mais sério do que o que aconteceu em Enthrall, mas eu não acreditei, não
realmente.

— A culpa é minha, — disse Cameron. — Eu brinquei com você sobre vir


aqui para minha própria diversão. Você não está pronta.

— Eu pensei que tudo ficaria bem.

— Este ambiente é altamente carregado. Você não pode vagar por aí como se
estivesse na porra da Disneylândia. Especialmente vestida assim. — Sua mão
disparou em direção ao meu espartilho. — Richard vai ficar furioso.

Eu pulei, instável nos saltos de quinze centímetros, a capa ondulando atrás


de mim, sem ter ideia de para onde estava indo ou como sairia daqui sem ser
derrubada por um segurança.
Mas foi Cameron quem me pegou. Alcançando minha cintura, me levantando
e me jogando de volta contra a parede. Todo o ar deixou meus pulmões enquanto
eu estava atordoada em silêncio.

— Chega, — disse ele.

Eu acalmei, grata que o oxigênio finalmente encontrou seu caminho de volta


para os meus pulmões. Em pânico, lutei novamente.

— Acalme-se, — ele disse, me fixando com um olhar tempestuoso.

Respirando muito rápido, minhas pernas quase cederam.

Ele me segurou lá. — Você não vai a lugar nenhum desacompanhada. Fui
claro?

Tentei empurrá-lo.

Ele se inclinou contra mim, seu aperto aumentando. — Você torna tudo pior
quando luta contra mim.

Eu agarrei seus braços, sentindo seus músculos tensos sob sua


jaqueta. Minhas unhas cravadas em sua carne.

— Dê-me um momento, — disse ele, com a cabeça baixa, as mãos tremendo


de raiva.

— Eu sinto muito.

— Silêncio.

Tremendo em seus braços, tentei ler seu rosto e entender o que ele estava
pensando. Perceber o que está acontecendo.

— Este é um lugar perigoso, — disse ele, seu tom severo, mortalmente frio. —
Há pessoas aqui cujas predileções a ameaçam de todas as maneiras
concebíveis. Entendeu?

— Sim.

— Se eles colocarem os olhos em você, eles vão devorá-la. — Seu aperto


aumentou. — Como eu quero agora.

Meu suspiro repentino o fez estremecer.

— Você é a criatura mais linda que já vi e até agora fui capaz de entregá-la a
Richard. — Ele diminuiu a velocidade de sua respiração. — Até agora.

— Oh, Cameron.
— Pare de se mexer.

Enfraquecendo, eu me entreguei a ele.

— Preciso de um momento para pensar, — disse ele, segurando-me


firmemente contra a parede e pressionando seu corpo contra mim, seu rosto cheio
de paixão, sua ereção dura e pronta, cavando e ameaçando encontrar seu caminho
para dentro de mim. Sua respiração estava frenética. O tipo sem volta. Agarrando
meus pulsos de cada lado meu, enterrando seu rosto no meu pescoço, ele se
aninhou em meus cachos.

Atordoada com o quanto seu poder acendeu meu desejo, sangue rugindo em
meus ouvidos, meu clitóris pulsou de prazer. Sua colônia me alcançou, e o cheiro
de sexo e perigo aumentou minha excitação. Um gemido escapou dos meus lábios,
uma dor de ser livre e também tomada por ele, mas eu lutei contra esse desejo
conflitante de me render. Ele empurrou contra mim novamente, em chamas,
ficando ainda mais duro. Minhas bochechas coraram intensamente, a queimação
se espalhando para onde seus lábios beijaram minha garganta. Este foi um calor
abrasador de paixão, e sua respiração caiu pesada e difícil sobre meu peito.

— Você gostou do que viu na suíte Harrington, — disse ele com voz rouca.

— Sim.

Seu aperto aumentou em torno de meus pulsos. — E você gosta disso.

— Sim.

Era impossível pensar direito, pensar racionalmente. Nuvens de névoa nos


envolveram, envolvendo-nos, protegendo-nos, nos levando adiante.

— Dr. Cole, — eu falei seu nome no mais suave apelo.

Ele fechou os olhos com força.

Cameron era impossível de lutar, muito forte para empurrar, e eu não tive
escolha a não ser amolecer em seus braços.

Cedi.

Gradualmente, seu aperto foi ficando mais leve e sua severidade se


dissipou. — Com muita calma. — Ele escolheu as palavras com cuidado, como se
embaixo de cada uma houvesse uma mina terrestre. — Nós vamos sair para o
jardim. Pegar um pouco de ar. Encontrar o Richard.

Eu dei um aceno de cabeça.

Ele me soltou e deu um passo para trás. — Isso nunca aconteceu.


— Não.

— Diga.

— Isso nunca aconteceu, — eu disse sem fôlego.

Ele deu um aceno de aceitação. — Você está bem?

— Sim.

Ele deu um puxão no meu espartilho para endireitá-lo. — Devo adverti-la.

— O que?

— Você pode não gostar do que vê.

— O que você quer dizer?

Cameron passou os dedos pelo cabelo preto escuro. — Richard não está
sozinho.
CAPÍTULO 19

Meus pulsos esperaram onde Cameron os segurou.

Eu me rendi a ele agora enquanto ele me puxava ao longo do corredor mais


longo que deve ter se estendido por toda a extensão da casa. Ousando vislumbrar
a reunião ocasional que passamos, temi pegar outra pessoa no auge da paixão. Eu
não tinha certeza se me afastar da porta da frente era uma boa ideia.

Quando saímos para o ar frio da noite, veio uma onda de pânico pelo que eu
poderia ver. Meu olhar percorreu a multidão, esperando não ver Richard nos
braços de outra mulher.

O aperto de Cameron se recusou a diminuir. Eu cambaleei atrás dele,


equilibrando-me nos saltos altos que ele comprou para mim, suas alças cravando-
se e me fazendo pensar por que alguém teria uma queda pela dor.

Homens mascarados e bem vestidos e mulheres seminuas se reuniram aqui


e ali, e para meu alívio ninguém estava fazendo sexo, embora estivesse escuro
aqui. A única luz vinha da piscina iluminada por baixo e banhada por um vermelho
profundo. À minha volta, taças de vinho tilintaram e conversas foram ouvidas
acima da música. Ondas de riso provaram que todos estavam se divertindo.

Todos, exceto eu, que estava tentando acompanhar o Sr. Intensidade aqui, e
pelo que parecia, Richard também não estava se divertindo.

Lá ele estava sentado com as pernas imersas na piscina, sem o paletó e


empurrado para trás, as calças enroladas até os joelhos e as pernas balançando na
água. Sua máscara foi descartada ao lado dele. Bebendo em um copo, ele ignorou
as duas lindas mulheres nuas nadando por perto, chutando as pernas para a frente
e para trás na água.

— Deixe-me falar, — disse Cameron, puxando-me para ele.

Richard olhou em nossa direção e seu olhar estreito caiu sobre mim e então
se fixou em Cameron com um olhar furioso. Cameron me puxou ao lado dele até a
borda.

— Richard, eu quero explicar... — Um puxão no meu braço, a maneira de


Cameron de me lembrar que ele queria lidar com isso.

— Dominic a encontrou, — disse Cameron. — Felizmente ele me


chamou. Ele presumiu que ela era a imprensa.
Richard se encolheu e me lançou um olhar cauteloso.

As mulheres nuas pararam de nadar e pisaram na água,


espionando. Cameron acenou para elas, sua mão uma varredura de comando no
ar. Elas responderam imediatamente, nadando até a borda da piscina e escalando
para fora. Ambas caminharam descaradamente em direção a duas
espreguiçadeiras onde suas toalhas e roupas as aguardavam.

Que tipo de poder esses dois malandros tinham, afinal?

— Você não recebeu minha mensagem? — Disse Richard. — Aquela que


estava dizendo para você não vir?

Esta tinha passado da melhor noite da minha vida para a pior e me virei para
ir embora, tentando me livrar das garras de Cameron.

Ele segurou minha mão com força, sua atenção focada em Richard. — Ela foi
encontrada saindo da suíte Harrington.

Oh, eu tinha esquecido disso. Eu estava tão hipnotizada pela carranca de


Richard que minha mente buscou refúgio ficando em branco.

Richard mastigou um pedaço de gelo. — Você vê o que somos, Mia?

Segurei a mão de Cameron e me inclinei para ele.

— Somos hedonistas19, — disse Richard. — Quer um tour? — Ele puxou as


pernas para fora da água e se levantou. — Aposto que você gostaria disso. — Ele
se curvou para pegar sua jaqueta, puxando-a para cima.

— Leve-a para casa, — disse Cameron.

— E arruinar a diversão dela? — Disse Richard. — Vamos voltar para o


Harrington.

— Você não pode dirigir. Bebeu demais, — Cameron o avisou.

— Realmente não quero ver mais, — eu murmurei.

— O que é que foi isso? — Disse Richard.

Recuando, me escondi atrás de Cameron.

— O que exatamente você viu? — Richard deu um sorriso diabólico. — Estou


morrendo de vontade de saber.

19
Hedonista é o indivíduo que busca o intenso e imediato prazer e que visam a satisfação sexual
do momento..
Puxei a mão de Cameron para ele me soltar e ele olhou para mim.

— Tenho uma ótima ideia, — disse Richard. — Vou pedir a Dominic para
mostrar a ela as masmorras. Se você gosta das do Enthrall, vai adorar.

Cameron me puxou para ele. — Você dirige. Leve Richard para


casa. Conversem. — Ele olhou para Richard. — Isso vale para vocês dois.

Fiquei grata por minha saída se aproximar.

Richard foi falar novamente.

— Cale a boca, — retrucou Cameron. — Você está assustando-a.

— Por que mais ela estaria aqui? — Richard arrastou.

— Eu vim procurar você, — eu disse a ele.

Richard pareceu surpreso. — Por favor, avise-a sobre mim.

Cameron olhou ao nosso redor para verificar se nossa conversa ainda era
privada. — Hora de ir para casa, amigo.

Richard remexeu no bolso do paletó e tirou um bilhete de estacionamento. —


Acha que sabe dirigir um jipe?

— E quanto ao meu carro? — Eu disse.

— Eu cuidarei disso. — Cameron ergueu meu queixo com a ponta do dedo. —


Discutiremos isso amanhã. — Seu olhar varreu a multidão. — Você nunca vai
falar com ninguém sobre o que viu aqui. Você não liga para ninguém. Você não
envia mensagens de texto a ninguém. Estou sendo claro?

— Sim.

Richard riu e caminhou em nossa direção descalço, sapatos e meias na mão


esquerda.

— Mia, se eu descobrir que você contou a alguém sobre esta casa, vou
espancá-la, — acrescentou Cameron com um brilho de diversão. — Com um remo.
Entendeu?

— Eu diria não se eu fosse você. — Richard começou a rir e me tirou das


garras de Cameron. — Você tem sido uma garota muito travessa. Talvez eu dê
uma surra em você.

Cameron gritou atrás de nós. — Pare de assustá-la. Ela já teve sustos


suficientes esta noite.
Richard se encolheu, balbuciando em minha direção, — Desculpe.

Pela primeira vez, senti meus ombros relaxarem, meu coração amolecer e
minhas pernas retomarem o ritmo. Atravessamos a mesma porta por onde passei
com Cameron, descemos o longo corredor e passamos pela suíte Harrington.

Richard parou antes de colocar as meias de volta e calçou os sapatos. Ele


estudou a porta enquanto agarrava minha mão novamente.

Tentei puxar minha mão da dele.

— Não pude resistir. — Ele me conduziu pelo corredor.

Logo nos aproximamos do guarda que me abordou antes. Embora ele


estivesse muito ocupado curvando-se respeitosamente para Richard para me
notar.

Em poucos minutos, o manobrista trouxe o carro de Richard. Ele saltou para


o lado do passageiro e eu subi para o lado do motorista. Com um rápido ajuste do
assento e me familiarizando com o painel, junto com um ajuste no retrovisor, fiz o
carro rolar para longe da casa grande e entrar na garagem.

— Sim. — Richard apontou para a alavanca de câmbio. — Esse zumbido


baixo é a maneira do carro pedir educadamente para mudar de marcha.

— Desculpe. — Eu mudei para a segunda marcha.

— Mais um grito, realmente, — ele meditou. — A terceira seria boa agora.

Dentro de um minuto ou assim eu realmente senti que tinha o jeito da coisa.

Eu senti seu olhar.

A revelação de que Richard pode ter instigado qualquer parte do que eu


presenciei aqui esta noite me deixou em silêncio. Eu também roubei olhares em
sua direção, tentando acreditar que este doce jovem aprovaria qualquer coisa. Seu
comportamento de classe alta contrastava com o que Cameron havia me
contado. Ele parecia tão adequado. Ambos faziam.

Se Richard ficou impressionado com a maneira como dirigi seu carro, ele não
disse. Ele apenas apoiou os pés no painel, apreciando a vista ao longo da Pacific
Coast Highway.

Fiquei aliviada quando estacionei o Rubicon na garagem de Richard e, pelo


seu sorriso irônico, o impressionei com minha capacidade de nos levar de volta
inteiros. Ele pulou para fora e trotou para o meu lado, abrindo a porta e alcançando
minha cintura, me levantando com segurança para o chão. Ele pegou sua jaqueta
do banco de trás e caminhou em direção à porta da frente.
Eu não tinha como voltar para casa a menos, é claro, que pegasse emprestado
um de seus carros. Richard segurou a porta da frente aberta para mim, sua testa
franzida revelando que ele também refletia sobre o que fazer comigo.

Sentindo-me um pouco perdida, eu o segui até a sala de estar e avancei para


a cozinha. Ele se ajoelhou e deu um tapinha em Winston, e então encheu sua tigela
de água.

Os aparelhos de última geração eram todos pretos, incluindo forno, geladeira,


micro-ondas e cafeteira, compensados apenas ligeiramente pelo balcão central de
granito. Havia tanto espaço aqui que parecia desperdiçado para um homem. Ainda
assim, pela maneira como ele se movia, ele se sentia confortável aqui. Ele abriu a
geladeira e tirou duas garrafas de água e me entregou uma.

Ele tirou a tampa e me entregou a sua, trocando-as. Ele tinha um jeito sexy
de pensar na outra pessoa, e isso me fez pensar se ele já foi casado. Ele era tão
sonhador por estar por perto e eu estava tão animada por estar de volta aqui,
finalmente sozinha com ele.

— Você vai dormir na minha cama esta noite, — disse ele, tomando um gole
e erguendo a garrafa. — Eu fico com o sofá.

Tentando mostrar que não me importava com essa decisão, tomei um gole
d'água.

Richard tinha um ar de confiança que nunca diminuía, e eu o imaginei


segurando esse mesmo olhar antes de dar um de seus saltos ousados de um prédio
alto, confiando no paraquedas amarrado em suas costas, ou quando escalou uma
rocha sem cinto de segurança.

— Bebi demais. Não parecia que ninguém notou, no entanto. — Seu olhar
passou por mim. — Você está deslumbrante. Para sua informação, correr em volta
da Chrysalis assim é desaconselhável. É provável que você se envolva em todos os
tipos de travessuras perigosas. — Ele balançou a cabeça como se sua imaginação
proporcionasse um vislumbre.

Fui novamente lembrada de que tudo que eu estava usando era este
espartilho, meias, cinto de suspensório e tanga.

— Você era a mulher mais bonita lá, — disse ele. — Você tem alguma ideia
de como você é de tirar o fôlego? — Ele ergueu a garrafa novamente. — Posso
culpar a bebida amanhã e negar tudo.

Eu quebrei seu olhar e mordi meu lábio.

— Agora isso, — ele ergueu a garrafa na minha direção. — Só faz você


parecer ainda mais bonita. — Ele sorriu para si mesmo. — Vulnerável.
Fiquei olhando para Winston, embora ele não estivesse fazendo muito,
apenas farejando sua tigela.

Richard afrouxou a gravata, erguendo o queixo para aliviá-la. — Não tenho


certeza do que você disse para Cameron esta noite. Eu nunca o vi tão confuso. —
Ele olhou para mim. — O que você fez com ele?

Meu rosto corou quando a memória voltou dele me segurando contra a


parede.

— Você não precisa me dizer, — disse ele. — Isso é privado entre vocês dois.

— Nada, — eu disse. — Ele me encontrou e me trouxe até você.

— Você o excitou, Mia. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Nós notamos


essas coisas.

Meu rosto queimou como fogo.

— Ou você pode me dizer? — Ele disse.

— Ele falou comigo.

— Sim, — ele hesitou. — Ele beijou você?

— Não. Ele me disse…

— O que?

— Eu pertenço a você.

— Você quer pertencer a mim?

— Sim. — Eu me concentrei em Winston.

— Posso beijar você?

— Por que não apenas me beija?

— Porque você é minha secretária. — Ele colocou sua água no balcão e se


aproximou de mim. — Você não respondeu.

— Pensei que fosse sua assistente executiva.

— Eu rebaixei você depois de me desobedecer esta noite. — Ele ergueu meu


queixo com o polegar, a intensidade de seu olhar queimando em mim. Sua boca
encontrou a minha, seus dentes beliscando meu lábio inferior, sua língua
enredando-se com força, magistralmente, com a minha. Senti uma emoção
profunda na minha barriga. Ele amassou mechas do meu cabelo em suas mãos,
seus dedos acariciando meu couro cabeludo. Sua colônia me lembrava a brisa do
oceano, isso e linho fresco, e seu perfume atraente tornava mais fácil suavizar em
seus braços.

Aquelas mulheres na piscina estavam flertando com ele, seus salpicos


brincalhões eram uma tentativa de chamar sua atenção, e mesmo assim Richard
as ignorou, ao invés disso, olhou para a água e tomou um gole de sua bebida.

Quando ele mordeu meu lábio, estremeci.

— Posso fazer amor com você? — Ele sussurrou.

— Sim, — eu disse. — Mas não na frente do Winston.

— Não, não na frente de Winston. — Ele pegou minha mão e, em vez de me


levar para o quarto, ele me levou para o pátio, passando pela piscina suavemente
iluminada e descendo até o final do jardim.

Lá, quase escondido da vista, havia um caminho de pedra. Nós fizemos nosso
caminho ao longo dele, o som das ondas quebrando mais alto agora. Em uma área
sombreada por árvores, dominada por palmeiras, havia duas espreguiçadeiras. E
embora o oceano não pudesse ser visto daqui, as ondas pareciam próximas.

Richard me puxou para outro beijo, suas mãos segurando meu rosto. Ele
desabotoou a camisa e a jogou no chão, seu olhar nunca deixando o meu. Tomando
seu tempo, ele acariciou minha garganta, em seguida, moveu-se para baixo até
chegar ao topo do meu espartilho. Esse mesmo dedo traçou a curva dos meus
seios. Ele baixou a taça esquerda, sua boca tomando meu mamilo, sugando com
força, enviando ondas de choque de prazer entre minhas coxas. Fraca com seu
afeto, estendi a mão e agarrei seus antebraços, tentando não cair para trás. Ele
envolveu um braço forte em volta da minha cintura e me puxou para ele. Sua outra
mão se moveu para o meu outro mamilo, sua língua insistente circulando lá agora
e enviando arrepios de prazer.

Gentilmente, ele me guiou de volta para a espreguiçadeira mais próxima para


que eu deitasse ao longo dela, e ele baixou minha calcinha, deslizando-a sobre
meus quadris e rapidamente a removendo. Ele a jogou perto de onde estava sua
camisa. Seus beijos viajaram suavemente, descendo, plantando mais na parte
interna das minhas coxas, seus dentes beliscando enquanto ele ia...

Com medo de gritar com esses sentimentos desvinculados, mordi minha mão,
sabendo que estava perto de ser levada.

Quando sua língua me alcançou, circulando lá, eu resisti em resposta. Eu


joguei minha cabeça para trás, cega de prazer, as sensações tão avassaladoras que
arrancaram um gemido de mim enquanto sua língua possuía aquela parte mais
sagrada. Eu agarrei mechas de seu cabelo e apertei meu punho contra seu couro
cabeludo.

Recusei-me a pensar em quão bem este homem conhecia a forma feminina,


quão bem ele conhecia a arte de dar prazer, me cutucando cada vez mais perto do
limite da felicidade...

Isso estava realmente acontecendo.

Sua cabeça balançou entre minhas coxas e suas mãos encontraram meus
mamilos novamente, beliscando-os com um toque perito. Meu orgasmo estourou,
roubando meu fôlego, me fazendo estremecer contra ele. Em seguida, seus golpes
intermináveis me enviaram novamente.

Eu estava perdida, esquecida, não estava mais aqui, essas ondas onduladas
que não podíamos ver ameaçando bater em nossos pés a qualquer
momento. Afogue-nos, afogue-me, mas eu já tinha sido levada para as
profundezas.

Por fim, abrindo os olhos, olhei para além dos galhos baixos pendurados nas
poucas estrelas visíveis. Os beijos de Richard começaram a lenta jornada para
cima, alcançando meus lábios mais uma vez e me beijando ferozmente,
compartilhando meu próprio gosto em meus lábios e língua, causando arrepios.

— Você tem um gosto incrível, — ele sussurrou, mordiscando minha orelha,


enviando espasmos eróticos em meu corpo.

Dominando minha boca com a dele novamente, a paixão explodiu por dentro,
me forçando a girar. Tudo que eu conhecia era ele.

Depois, quietude.

Ele me segurou contra ele, acariciado no silêncio com nada além do som do
farfalhar das folhas de palmeira apanhadas na brisa e nas ondas quebrando. Ele
me rolou para o lado e nos abraçamos calorosamente.

— Não vamos fazer amor? — Eu sussurrei.

— Shhh, minha doce Mia.

Segura em seus braços, eu adormeci.

Quando a luz mais suave da manhã se atreveu a nos encontrar, senti Richard
se afastar e sair da espreguiçadeira. Ele sentou-se na beirada, sem camisa, os pés
no chão, os cotovelos apoiados nos joelhos, e ficou assim por um tempo, perdido em
pensamentos.

Richard se virou ligeiramente para olhar para mim. — Oi.


— Oi. — Estendi a mão para acariciar suas costas, traçando meus dedos
sobre as cicatrizes brancas mais fracas.

Tara me disse que Cameron havia batido em Richard até ele sangrar. Eu me
perguntei se essas marcas eram disso. Richard tinha realmente pedido a Cameron
para machucá-lo dessa forma? Mais alarmante, Cameron o havia acalmado
fazendo isso.

Richard pegou minha mão e beijou minha palma. — Mia. — Seu tom era
solene. — Você sabe o quanto gosto de você.

— Gosta?

— Eu caí... eu realmente gosto de você.

Eu enrolei meus dedos em torno dos dele. — Eu me sinto da mesma forma.

— Ainda. — Ele se levantou, seu olhar escuro mais uma vez pousado em
mim. — Com toda a honestidade, não quero que sua primeira vez seja com um
homem como eu.

Sentei-me, tentando encontrar as palavras para acalmá-lo.

Ele deu de ombros e caminhou em direção à casa.


CAPÍTULO 20

À luz do início da manhã, vestindo um espartilho e meias parecia estranho.

Ontem à noite, em meu condomínio em frente à praia, me senti como a


megera suprema. No entanto, aqui, agora, deitada na espreguiçadeira de Richard,
sozinha, toda a minha confiança se dissipou. O arrependimento persistiu por ousar
invadir a festa da Chrysalis e, mais tarde, encontrar meu caminho de volta até
aqui para ficar com o único homem que eu já amei, mas minha virgindade
permaneceu intacta.

Porra, porra, porra, minha meditação interior soava como Richard.

Talvez Richard estivesse apenas sendo gentil e na realidade não sentisse


nada. Talvez eu tenha inventado tudo na minha cabeça sobre haver algo especial
entre nós, por tê-lo interpretado mal. A ingenuidade atrapalhou minha felicidade
mais uma vez.

Procurando e encontrando rapidamente minha calcinha, coloquei-a, peguei


meus sapatos de tiras descartados e comecei a caminhada pelo caminho. Pela porta
de correr aberta entrei, seguindo o barulho de uma televisão.

Encontrei Richard em seu covil de solteiro. Ele se sentou em um sofá cor de


chocolate, com as pernas abertas e os pés descalços apoiados na mesa de
centro. Ele ainda usava a camisa social da noite anterior, bem como a cueca
samba-canção, embora não muito mais. Ele dirigiu um controle X-box para uma
grande TV de tela plana. Voltando para enfrentá-lo, fiquei alarmada ao vê-lo
usando uma máscara de mergulho. O snorkel estava pendurado em sua orelha
direita. Winston sentou-se ao lado dele, ofegante.

— Lara Croft está chutando traseiros. — Richard voltou sua atenção para a
tela, movendo habilmente o controle e fazendo Lara Croft nadar por toda a
extensão de uma lagoa azul escura.

— Por que você está vestindo isso? — Eu disse.

— Eles são prescritos. Não consigo encontrar meus óculos. — Richard olhou
para Winston. — Vá encontrar meus óculos, Winston. Busque-os. — Eles se
encararam. Winston ofegou, abanando o rabo. Richard olhou para mim. — Vê o
que estou enfrentando?

Em uma prateleira à esquerda repousavam recordações do Super Bowl, um


capacete do New York Giants ao lado de uma bola de futebol, ambos
autografados. Este quarto aconchegante parecia habitado e eu me perguntei se
Richard tinha seus amigos por perto nas tardes preguiçosas de domingo para
assistir ao jogo. Eu os imaginei comendo lanches e bebendo cerveja aqui e gritando
com seu time favorito. Richard tinha aversão ao normal, então era improvável.

— Posso pegar uma camisa emprestada? — Eu disse.

Ele apontou para a direita e presumi que fosse seu quarto. Saí de lá na
esperança de encontrar algo para vestir.

A cama de Richard estava arrumada e seu quarto estava decorado de forma


modesta. A foto deslumbrante de um templo nepalês se estendia por toda a
extensão da parede atrás de sua cama. Eu esperava encontrar outra pista de quem
esse homem realmente era, embora de seu escritório eu soubesse que ele gostava
de ordem. De suas camisas bem passadas, ele gostava daqui também. Tirando meu
espartilho apertado, peguei emprestado uma de suas camisas azuis e um par de
shorts. Procurei em sua cômoda um cinto. Este look pedinte chic não era perfeito,
mas pelo menos eu podia respirar agora. Voltei para a toca de Richard.

Ele ainda estava absorto no jogo e seus óculos ainda estavam


colocados. Winston estava deitado ao lado dele, apoiando a cabeça nas patas.

Sentei-me no braço mais próximo do sofá. — Você gostaria de conversar?

— Sobre o que?

— Noite passada.

Ele baixou o olhar e segurou o meu.

Apesar da sensação de aperto no estômago, continuei: — Cameron nos disse


para conversar sobre as coisas.

— Cameron tem dois métodos. O primeiro é conversar, o segundo... —


Richard inclinou a cabeça. — Eu prefiro o último.

— Você quer dizer quando ele te chicoteia?

Richard largou o controle em seu colo. Era difícil levá-lo a sério com aquela
máscara de mergulho.

— Com fome? — Ele disse. — Tem cereal no armário.

— Sinto-me pronta para falar.

Tendo saído da minha zona de conforto na noite passada e direto para o centro
da idade adulta, eu me senti pronta para enfrentar praticamente qualquer
coisa. Até ele.
— Esse é o problema, — disse Richard. — Você e eu não falamos a mesma
língua.

— O que isso significa?

— Veja, você não tem ideia do que acabei de dizer.

— Por que você está sendo assim comigo?

Sua testa franzida. — Eu te avisei para ficar longe.

Eu cruzei meus braços. — Você pagou as contas médicas da minha madrasta?

Suas mãos apertaram o controle.

Eu mudei para sua linha de visão, bem na frente da TV. — Você fez?

— Isso é muito imaturo.

— Não sou eu que estou usando máscara.

— Você espera. No ano que vem, isso será tudo e eu vou levar o crédito por
iniciar uma nova tendência estonteante.

— Você pagou minha dívida?

— Eu pago a você o suficiente do jeito que está. — Ele encolheu os ombros.

— Você fez, não é?

— Bem, parece que você tem dinheiro suficiente agora para voltar para
Charlotte.

— Por que você me afasta assim?

— Você está na minha frente. — Ele gesticulou. — Da TV, quero dizer.

— Se você realmente me odeia tanto, por que me seduzir nos cantos escuros
e me beijar, não sou capaz de pensar direito?

— Mia, muito provavelmente vou arruinar você. — Sua voz se suavizou. —


Machucar você.

— Eu posso cuidar de mim mesma.

Ele ergueu um dedo. — Se isso te faz se sentir melhor, não foi uma decisão
fácil. Eu queria te beijar desde aquela primeira manhã em que te conheci e você
bloqueou meu caminho.
— Então por que...

— Eu vou te machucar.

— Bem, pelo menos teremos algo em comum então, — eu disse.

Ele franziu a testa para mim.

— Por favor, não me demita, — eu disse.

— Eu não vou despedir você.

— Lotte me contou tudo sobre o que significa ser uma submissa. Ela diz que
apenas mulheres com poder são capazes de se entregar a um dom completamente.

Seu olhar disparou para encontrar o meu. — Uau. Você realmente levou essa
coisa de falar a sério.

— Você está com medo de como podemos ser incríveis juntos, — eu disse. —
Cameron...

— Não dê ouvidos a ele. Ele vai te amarrar em nós. — Ele abriu um


sorriso. — Bem como amarrar de outras maneiras.

— Cameron se preocupa com você.

— Ultimamente, ele tem interferido da pior maneira.

— Ele está nos empurrando para ficarmos juntos. — Desejei que Cameron
estivesse aqui agora para ajudar a lidar com o humor de Richard.

— Você já ouviu falar do Colisor de Hádrons? — Disse Richard.

— Eu acho que sim. Por quê?

— É o maior e mais alto acelerador de partículas de energia do mundo abaixo


da fronteira franco-suíça, perto de Genebra.

Lembro-me vagamente de ter visto algo sobre isso online.

Ele moveu os dedos em um círculo. — O Hadron permite que os físicos testem


suas teorias da física de partículas.

— O que você está dizendo?

Seus dedos se envolveram. — Esse sou você e sou eu dando voltas e mais
voltas na direção oposta, muito parecido com aqueles prótons que ameaçam colidir
uns com os outros. Cameron é exatamente como um daqueles cientistas nucleares
malucos tentando descobrir se: A) É possível colidir feixes de partículas opostas e
B) Para testar a hipótese de que podemos acidentalmente nos autodestruir com o
impacto e, opa, causar um buraco negro no universo. — Ele balançou sua
cabeça. — Os buracos negros são ruins. Confie em mim, eu sei. Eu tenho um preso
no meio do meu peito desde que me lembro.

— Talvez eu possa ajudar?

— Ou talvez você seja sugada e nunca mais veremos Mia novamente.

— Você me subestima.

— Na verdade, sou eu que você subestima.

— Estamos conversando, — eu disse. — Isso é bom, certo?

Ele arqueou uma sobrancelha. — Mia, não me leve a mal, mas eu realmente
adoraria algum tempo sozinho.

E com essas palavras ele me excluiu.

Eu não iria deixá-lo me afastar tão facilmente, não sem uma luta.

— O que aconteceu com você? — Eu disse.

Richard balançou a cabeça como se estivesse se livrando de um tapa. Eu


acertei um nervo.

— Cameron reconectou seu cérebro, — eu disse. — Quando você veio para


Los Angeles porque precisava de uma mudança, você se encontrou com seu velho
amigo e ele te enganou.

— Cuidado, — disse Richard. — Você está falando sobre meu melhor amigo.

— Você acabou de me dizer que ele estava interferindo da pior maneira.

— Sim, mas ele também é a melhor coisa sobre mim.

— O que isso significa? — Eu me aproximei. — Essas coisas em que ele


meteu você não está certo.

— Na verdade, não é nada além de certo.

— Alguém machucou você, — eu disse. — Eles fizeram isso com você.

— Mia. — Ele olhou para mim através de seus óculos de proteção. — Eu fui
feito assim. — Ele acenou com a cabeça para si mesmo. — O que aconteceu comigo,
aconteceu depois que me estabeleci neste estilo de vida.

— O que aconteceu?
— Vida. O tipo regiamente fodida. Vir aqui e estar com Cameron me salvou.

— Ele quer que você pense isso.

— Você sabe o que Cameron me ensinou? — Ele mudou de posição para


olhar melhor para mim. — A lição mais importante que um homem pode aprender.

— Amar?

— Dor. Aprenda a controlá-la e você terá o verdadeiro poder. Essa é a única


maneira de realmente estar neste mundo.

— E o amor?

— Amor é vulnerabilidade. O amor destrói. O amor devora. O amor é a


mentira que contamos a nós mesmos por tempo suficiente para ficar com alguém
até procriar.

— Eu não acredito nisso. — Eu dei um passo à frente, meu peito arfando. —


Por favor, retire essas coisas.

— Você é minha secretária. Digite uma carta para mim ou faça o que quiser.

— São sete horas da manhã de um domingo. — Eu olhei para o jardim. — E


a noite passada?

— O que tem isso?

Meus ombros caíram e me senti ainda mais miserável.

Richard franziu a testa para mim. — Apenas uma pessoa ganhou o privilégio
de me conhecer.

— Cameron? — Minha voz falhou de emoção.

— O que diabos Lara Croft está fazendo agora? — Ele acenou com o
controle. — Até as mulheres cibernéticas são irritantes.

— É por isso que você gosta de bater em mulheres?

Ele virou a cabeça para olhar para mim. — Nunca. Nunca fiz nada parecido
com uma mulher.

— Então o que é que você faz com elas?

— Eu faço uma rachadura na psique delas apenas o suficiente para que o


amor encontre seu caminho. — Ele largou o controlador.

— Você merece isso também.


— Eu sou uma causa perdida.

— Eu não acredito nisso.

Ele olhou para frente. — Eu menti quando disse que tenho um buraco negro
aqui. — Ele pousou a mão no coração.

Eu esperei que ele continuasse, com medo de suas palavras ameaçando nunca
me alcançar ou talvez fosse o fato de que iriam me rasgar.

— Não há nada aqui. — Ele segurou meu olhar. — Há seis anos não sinto
uma emoção. — Ele descansou a cabeça para trás. — Agora, isso soa como o tipo
de homem com quem você quer estar?

Cambaleando em meus pés, fiz meu caminho até a porta da frente, tentando
lembrar onde deixei minhas chaves. Tive uma sensação de desânimo quando me
lembrei de que deixei meu carro na mansão. Eu estava presa.

Ao lado de onde Richard deixou as chaves do carro estava uma pilha de


correspondência e, bem em cima dos envelopes fechados, um de Cameron. Seu
endereço em Venice Beach estava escrito no canto superior esquerdo. Com as mãos
trêmulas, me atrapalhei com as alças dos meus sapatos e agarrei as chaves do
Rubican.
CAPÍTULO 21

A casa de Cameron ficava bem em frente ao calçadão de Venice Beach.

Essas propriedades ecléticas aparentemente valiam milhões, apesar de seu


tamanho modesto. Do outro lado da casa pintada de cinza de Cameron havia um
calçadão repleto de turistas passeando, vendedores que vendiam mercadorias
caseiras, bem como artistas, poetas e maconheiros. O lugar zumbia com seu
próprio sabor artístico único.

Bati várias vezes na porta da frente.

Depois de nenhuma resposta, tentei a maçaneta e, para meu espanto, ela


abriu.

— Olá? — Eu pisei na entrada estreita, questionando o senso de segurança


de Cameron e esperando que este realmente fosse o seu lugar.

A decoração se inclinava para uma assustadora parcimônia. As paredes de


tijolos com suas numerosas gravuras em preto e branco davam a mera sugestão de
que alguém havia tentado tornar o lugar aconchegante. O tema minimalista de
um par de poltronas e um sofá de couro dava um ar arejado. Várias banquetas de
bar corriam ao longo do balcão da cozinha, embora a própria cozinha de plano
aberto parecesse vazia. Uma geladeira, uma cafeteira e um micro-ondas
chamativo eram os únicos aparelhos. Aninhado no canto da bancada estava uma
prateleira de vinho completa com duas taças de pés longos ao lado.

Vozes vinham do andar de cima. Eu me movi naquela direção, esperando ter


acertado o endereço.

Além dessa sala de estar, havia um pátio com móveis de jardim no centro. Os
turistas passeavam ao longo do caminho do outro lado daquela mureta e, além
dela, ficava a praia. Eu me perguntei por que alguém iria querer estar tão perto
de tantos estranhos vagando por ali. No pátio, encostado a uma cerca de madeira,
havia duas pranchas de surfe lado a lado. A primeira era uma estrutura Billabong
azul escuro e ao lado dela estava uma um pouco mais curta com uma sereia
desaparecendo com os anos de uso. Um momento surreal tomou conta de mim
quando a reconheci.

— Mia?
Eu me virei para ver Tara parada em uma porta. Ela usava um biquíni
estreito, o cabelo molhado e emaranhado do que parecia ser uma manhã de surf.

— Tara? — Eu disse. — O que você está fazendo aqui?

Cameron apareceu atrás dela. Ele enrolou uma toalha branca de pelúcia em
volta da cintura, talvez por ter acabado de tomar um banho. Ele parecia tão
diferente do Cameron que eu tinha visto na noite anterior, quando ele vestiu um
smoking e deu sua festa, ou mais apropriadamente em uma noite de devassidão.

Eu me senti uma criminosa. — A porta estava aberta.

— Tudo está certo? — Disse Cameron.

— Vocês são amigos? — Eu disse.

O que era ridículo, com Tara parada ali e tendo trabalhado na Enthrall. Ela
também passou um tempo com Cameron na minha festa de inauguração. Esses
dois pareciam que realmente se conheciam.

— Não é o que você pensa. — Sua carranca se aprofundou quando ela pegou
suas roupas.

A camisa e o short de Richard pareciam estranhos em mim, e pela maneira


como Cameron me olhou, ele também achou. Eu me perguntei se ele podia ver que
eu estava chorando.

O silêncio me fez sentir estranha e, ao mesmo tempo, chateada por Bailey.

— Somos apenas amigos, — disse Tara, como se lesse minha mente. — Venho
aqui para surfar. Isso é tudo.

Meu olhar percorreu Cameron e seu peito nu, seu cabelo bagunçado e seu ar
confiante que poderia atordoar até uma arraia.

— Café? — Ele passou por mim e entrou na cozinha.

Incapaz de compreender essa terrível revelação, me afastei dela e encarei


Cameron, observando-o colocar um filtro na máquina. Ele abriu um pacote de café
e despejou o pó no filtro. Com um toque de um botão, ele tinha a máquina
fermentando.

— Como está meu melhor amigo? — Ele disse.

Eu consegui acenar com a cabeça.

— Noite passada? — Ele disse. — Como foi?


— Bem. — Lembrei-me de Richard e eu nos beijando naquela
espreguiçadeira sob as árvores. Mesmo que não tenhamos ido até o fim, ainda era
muito sonhador.

Até a queda do Colisor de Hádrons esta manhã.

Cameron arrumou três canecas na bancada. — Estou muito feliz em vê-la, é


claro, mas geralmente o que se segue a uma noite de romance é o café da manhã
com seu namorado.

Aproximei-me do outro lado do balcão e me sentei em uma banqueta.

Tara estava bem atrás de mim. — Vou contar a ela, — disse ela. — Só
surfamos juntos. Diga a ela Cameron.

Ele se apoiou no balcão. — Tara e eu somos apenas amigos.

— Tara, ela sabe que você vem aqui o tempo todo, — eu disse. — Por que não
menciona?

— Você conhece Bailey, — disse ela. — Ela é tão sensível. Ela nunca vai
entender por que eu quero passar tempo com um homem. — Tara ergueu a mão. —
Não fazemos nada. Nós surfamos. Passamos tempo juntos.

— Comemos tacos, — acrescentou Cameron. — Nós fazemos isso.

Eu o encarei para ver se eu poderia validar o que ela estava me dizendo.

Ele apenas deu um aceno de cabeça. — Eu não sabia que você conhecia esse
lugar?

— Onde estão todas as suas coisas? — Eu disse.

— Ele não mora aqui, — disse Tara. — Ele mora na mansão.

— Às vezes, — acrescentou ele suavemente.

— Chrysalis? — Eu me virei para encará-la. — Você também já esteve lá?

— Eu sou a namorada de Bailey, mas não estou acorrentada a ela.

Eu olhei dela para Cameron.

— Nós apenas surfamos, — disse Cameron, servindo café em três canecas.

— Eu não quero que o pênis dele chegue perto de mim, — disse Tara.

Cameron parecia divertido e parou no meio do serviço. — Para que saiba, há


muitas mulheres que gostam bastante do meu pênis.
Tara curvou os lábios em um sorriso. Ela pegou uma das canecas e colocou as
mãos em torno dela. — Eu não queria que Bailey me desse um ultimato e me
dissesse que estou surfando com Cameron ou ela.

— Talvez Bailey queira ir com você? — Eu disse.

Tara encolheu os ombros. — Pode ser.

Peguei a caneca oferecida por Cameron.

Ele tomou um gole. — Mia, vamos conversar sobre por que você está
aqui. Não que eu não esteja feliz em ver você. Ontem à noite eu coloquei você nas
mãos do solteiro mais cobiçado de Malibu e agora estou me perguntando por que
você está no meu balcão de café da manhã e não no dele.

Meus olhos ardiam de lágrimas.

— Tara, — disse Cameron. — Vá tomar um banho.

— O que aconteceu? — Ela disse.

Cameron franziu a testa para ela. — Por favor.

Tara cruzou os braços.

Ele acenou para ela.

Tara se virou e saiu. O olhar de Cameron a seguiu até que ela estava fora de
vista e seu olhar intenso deslizou de volta para mim.

— Richard parecia chateado esta manhã, — eu disse.

Cameron deu a volta para o meu lado e sentou-se na banqueta do lado


oposto. — Sinto muito por ouvir isso.

— O que você fez com ele? — Eu disse, ainda assombrada pelo que Tara tinha
me contado sobre Cameron chicoteando Richard até que ele sangrasse.

— Você pode ser mais específica?

Eu suguei um soluço. — Você reconectou o cérebro dele.

Ele franziu a testa para mim.

Eu me senti constrangida de que Tara pudesse ouvir. — Richard me disse


que não sente nenhuma emoção. De forma alguma.

— Ah. — Cameron deslizou sua caneca para o lado.


— Eu acho que você pode ter batido nele por toda a vida. — Eu me preparei
para sua reação.

— É por isso que você está chorando? — Ele disse calmamente. — Você teve
uma discussão com ele?

— Uma discussão. Ele me disse que tipo de controle você tem sobre ele.

— Ele usou essas palavras?

— Não, ele fez parecer que vocês são amigos.

— Nós somos amigos, Mia. Nós nos conhecemos muito bem. Eu nunca o
machucaria.

— Você bateu nele até ele sangrar?

Cameron pegou sua caneca.

Tara reapareceu e veio em nossa direção. Ela não tinha tomado aquele
banho. Ela se sentou na banqueta ao lado da minha e disse: — Eu lhe disse isso
em segredo.

Cameron revirou os olhos para ela.

— Então você admite? — Eu rebati para ele.

— Você não tem leite no seu café? — Ele disse.

— O que? — Eu me sacudi para fora do meu transe revelador.

Cameron se levantou e contornou o balcão, abrindo a geladeira e retirando


uma caixa de leite desnatado. Parecia muito vazio além disso. Ele derramou na
minha bebida. Eu o odiei por prolongar essa tensão. Sua maneira de tentar
escapar de sua culpa, sem dúvida.

— Diga a ela, Cameron, — disse Tara.

Ele ergueu a mão. — Estou cuidando disso.

— Não, não vou permitir que ela o acuse disso, — disse ela. — Quando
Richard veio para Los Angeles, ele estava se afogando em luto...

— Tara. — Cameron apontou para a porta. — Agora.

Ela olhou para mim. — Você não sabe de nada. Você está juntando as peças
do quebra-cabeça e entendendo tudo errado.
— É claro que eu sempre poderia atirar você por cima do ombro, Tara, — ele
disse. — E carregar você para fora.

Cameron e eu estávamos sozinhos novamente.

Sua voz parecia calma, controlada. — Em primeiro lugar, nunca divulgo


informações pessoais sobre clientes, amigos ou conhecidos. Na verdade, essa
conversa que estamos tendo agora é particular. O que vou dizer é que Richard e eu
somos muito próximos. Temos muito amor e respeito...

— Ele me disse que não é capaz de amar. — Limpei minhas lágrimas. — Ele
me disse que está morto por dentro.

— O que mais ele disse a você?

— Nenhuma coisa. Por que ele não fala comigo?

— Eu me sentiria mais confortável discutindo isso com ele presente.

— Por que Lotte me avisou para não falar com você? — Apontei um dedo
acusatório em sua direção.

Ele pareceu surpreso. — Essas foram as palavras exatas dela?

Novamente ele queria que eu esclarecesse. Eu me perguntei se era assim que


ele manipulava suas submissas.

Eu rapidamente acrescentei: — Ela me avisou para não me envolver com


você.

Ele deu um leve sorriso. — Eu sou o diretor da Chrysalis. Como você


descobriu. Talvez seja por isso.

Aquele tufo de cabelo escuro em seu peito nu, junto com aquela musculatura
esculpida de seu torso, eram um lembrete visceral de que aquele homem exalava
sexualidade da maneira mais atraente. Sua colônia inebriante não fez nada para
aliviar este momento.

Seu corpo me pressionando contra a parede e despertando desejos proibidos


que estavam adormecidos. Um desejo escuro em erupção.

A maneira como ele me olhava agora. Seu olhar se moveu para minha boca e
se demorou. A maneira como ele balançou a cabeça como se tentasse afastar um
pensamento.

A maneira como ele me fazia sentir quando estava perto dele.


Cameron baixou o olhar. — O que aconteceu entre nós ontem à noite foi uma
falha da minha parte. — Ele encolheu os ombros. — Porém, como você está aqui,
espero que signifique que você me perdoou.

— Nada aconteceu.

Ele acariciou a tensão em sua testa. — Talvez seja melhor lembrarmos assim.

— Por favor, me diga por que Richard é tão difícil de falar. — Enxuguei
minhas lágrimas com minha manga, a manga dele.

— O que está acontecendo com você?

— Não sei. Fiquei tão ansiosa ultimamente, — admiti. — Eu não posso


comer. Estou tendo problemas para dormir. Estar perto de Richard me deixa
nervosa.

Cameron franziu os lábios, sua expressão cheia de simpatia. — Entendo.


— Ele estendeu a mão e pegou minhas mãos. — Eu nunca seria capaz de
machucar Richard. Eu nunca faria nada a ele que realmente não quisesse que eu
fizesse a ele.

— Ele realmente queria que você o chicoteasse com tanta força?

— Esse não é o meu estilo.

— Então quem fez isso com ele?

— Mia, — seu tom era suave e estranhamente reconfortante.

— Bem, ele não fez isso a si mesmo!

Ele soltou minhas mãos e quebrou meu olhar.

Ele fez isso consigo mesmo?

Atordoada, tentei ler a verdade no rosto de Cameron e encontrar as


respostas. Todos ao meu redor pareciam saber o que estava acontecendo com
Richard, exceto eu. Até mesmo Tara. Apesar de estar perto do oceano, pairava um
peso no ar, uma névoa invisível sugando todo o oxigênio.

Cameron olhou para os turistas que passavam. — Quando isso se torna


muito, eu volto para as montanhas e me perco no castelo. — Ele tomou um gole.

Eu afundei de volta na banqueta.

— Com fome? — Ele disse. — Quer um bagel?

— Não, obrigada.
— Então, como você deixou Richard?

— Ele estava jogando Tomb Raider, — eu disse. — Enquanto usava aquela


máscara de mergulho ridícula.

A caneca de Cameron atingiu o balcão e o café espirrou.

Tara reapareceu. — Posso sair do esconderijo agora?

Eu a ignorei e me virei para Cameron. — O que está errado?

Ele se dirigiu para o outro lado da sala. — Vou me vestir. Estou levando você
de volta. — Ele parou na porta. — Por acaso você viu um tanque de oxigênio?

— Não. — Eu troquei um olhar cauteloso com Tara. — Por quê?

— Apenas me perguntando. — Cameron desapareceu.

Tara se sentou ao meu lado.

Pensei na minha festa de inauguração e não conseguia me lembrar de ter


visto nada incomum sobre a interação entre os dois naquela noite. Embora, para
ser honesta, eu não estivesse procurando por isso.

— Vou falar com Bailey, — disse Tara. — Por favor, não diga nada a ela.

Eu dei um aceno relutante.

— A maquiagem dos seus olhos está muito pesada, — disse ela.

Não tendo tido a chance de removê-la, provavelmente parecia um panda. Que


vergonha. Tendo chorado todo o caminho até aqui, eu tornei tudo pior. Cameron
não precisava de suas habilidades psicológicas para descobrir que eu estava uma
bagunça.

— Você foi à festa ontem à noite? — Disse Tara.

— Sim.

— Mesmo? Como foi?

Meu rosto empalideceu de vergonha.

— Aparentemente, eles servem comida excelente, — disse ela. — Você


verificou a sala de palmada?

Eu fiz uma careta para ela, me perguntando como ela sabia que existia
mesmo tal coisa.
— Você viu alguma coisa? — Ela disse. — Alguém estava fazendo isso?

Tomei um gole de café.

Cameron reapareceu vestindo jeans e uma camisa branca. Ele agarrou as


chaves do carro e me lançou um sorriso. — Vamos visitar nosso amigo. — Ele
acenou para Tara. — Até logo.

— Até mais tarde, — ela gritou atrás dele e me deu um aceno de adeus.

Acenei de volta e trotei atrás de Cameron. Ele provavelmente não tentará


algo perigoso, não é? Eu não conseguia entender por que eu sentia que tinha sido
eu quem o empurrou. — Eu deveria ter ficado?

— Nunca duvide de você mesma, — disse Cameron, enquanto me conduzia


para a rua.

Ele abriu a porta do passageiro do Porche.

Eu subi, afundando no assento de couro, a ironia não perdida de que


estávamos deixando para trás o carro de Richard. Cameron dirigia rápido,
evitando pedestres e outros carros que estavam dirigindo muito devagar para uma
manhã de domingo. Nós aceleramos ao longo da Pacific Coast Highway e ele bateu
papo, gesticulando para pontos de interesse e fazendo qualquer coisa, ao que
parecia, para não mencionar porque estávamos voltando para a casa de Richard
tão rápido.

Chegamos em menos de vinte minutos.

Cameron desligou o motor e girou em seu assento para me encarar. — Deixe-


me falar com ele.

Esfreguei meus dedos sobre meus lábios nervosamente.

Ele puxou a manga da minha camisa. — Isto é dele?

Eu dei um aceno de cabeça.

— O que aconteceu ontem à noite? — Cameron olhou para a porta da frente


de Richard.

— Nós nos abraçamos sob as estrelas. — Dei de ombros. — Nada realmente


aconteceu. Bem, nós nos beijamos. E outras coisas. De manhã ele me disse...

Ele esperou que eu continuasse.

— Ele não queria que minha primeira vez fosse com alguém como ele, — eu
sussurrei.
Cameron suspirou. — Não é você, Mia.

— Eu sinto que fiz algo errado.

— Não, — disse ele. — Ele está com medo de te machucar.

— Eu disse a ele que poderíamos ir devagar.

Cameron olhou direto para a frente. — Ele se abriu sobre seu estilo de vida?

— Sim.

— O que ele disse?

— Ele só pode ter um relacionamento com alguém disposto a ser sua


submissa. — As palavras soaram ásperas ao sair.

— Você considerou a oferta dele?

— Só que ele mencionou aceitar uma sub que já está treinada. — Eu dei a
ele um olhar de soslaio.

— Ah.

— Eu quero estar com ele. Não tenho certeza se posso lidar com a dor, no
entanto.

— A dor aumenta o prazer.

Mordisquei uma unha.

Cameron removeu as chaves. — Vocês conversaram sobre o que vocês dois


querem de um relacionamento?

— Hum, não.

— S&M te assusta?

Eu estudei seus limpadores de janela; até eles pareciam caros.

— Richard percebeu sua dúvida, — disse ele.

Soltei um longo suspiro.

Cameron deu um aceno de compreensão. — Richard é mundano. Ele é muito


viajado. Ele foi mochilar sozinho pelo Extremo Oriente quando tinha vinte
anos. Ele é inteligente, engraçado e gentil. Poderia realmente ser bom para
você. Te ensinar muito.
Eu levantei uma sobrancelha.

— Exatamente, — disse ele. — Não se trata apenas de sexo excelente.

Minha mente vagou para a casa de Richard, lembrando-se daqueles móveis


entalhados que ele pode ter comprado durante suas viagens. Bem como suas
paredes manchadas aqui e ali com fotos emolduradas de estrangeiros felizes,
oferecendo vislumbres de sua cultura. Eu me perguntei com que idade Richard
decidiu que gostava de dor.

— O que aconteceu com você? — Eu disse. — Qual foi o seu trauma de


infância? — Eu até me surpreendi com aquilo. — Você sabe, por que você é um...

Ele ergueu a mão. — Prefiro pensar que sou um conhecedor das artes das
trevas. — Ele abriu um sorriso, reagindo à minha linha de pensamento. — Na
verdade tive uma infância muito privilegiada. Eu cresci nos Hamptons. Meu pai
projetava barcos. Eu estava estragado. Talvez isso tenha algo a ver com
isso. Enfim, frequentei escola particular e depois estudei medicina. Veja, tudo
muito normal.

— O que fez você deixar a psiquiatria?

— Eu nunca saí. Eu tenho uma prática.

— Quando você tem tempo para administrar a Chrysalis?

— Eu arranjo tempo.

— Durante a minha entrevista, Penny estava mandando mensagem para


você?

— Sim. Ela é minha secretária na Chrysalis. — Ele se mexeu na cadeira. —


Essa foi a minha maneira de assistir a sua entrevista. Tive um dia agitado.

— Não é uma ciência exata.

— Sim, mas olhe para nós agora, — disse ele com diversão. — Estamos todos
nos unindo muito bem.

— Você contratou as amantes?

— Lotte e eu construímos Enthrall e a partir daí Chrysalis evoluiu. Eu


assumi o controle da sociedade que existia há um século. — Cameron passou o
polegar pelo chaveiro.

Foi a minha vez de olhar e tentar ler as respostas dele. Queria saber mais
sobre a história de Chrysalis.
— Temos um clube em Londres, — disse ele. — E Paris.

— Você comanda todos eles?

— Eu supervisiono as casas estrangeiras também, sim.

— Homem ocupado.

Ele deu um sorriso torto. — Richard é muito estável.

— Eu preciso saber o que aconteceu com sua última submissa.

Ele esfregou o cansaço dos olhos. — Podemos entrar?

Saímos do carro e eu segui Cameron até a porta da frente de Richard. Ele


usou uma chave em seu controle para abri-lo. Aparentemente, ele tinha uma cópia
da chave da casa de Richard.

Cameron vasculhou a casa, chamando por ele.

Poucos minutos depois de não encontrar Richard em lugar nenhum, juntei-


me a Cameron ao lado da piscina. Ele ficou lá olhando para a água com os braços
cruzados. Do outro lado da piscina estava Winston, ofegando em seu jeito
imperturbável de sempre. Eu questionei sua habilidade de servir como cão de
guarda.

O olhar de Cameron varreu a piscina.

Um grito saiu de mim.

Debaixo d'água, no canto esquerdo da piscina, estava o borrão de um corpo


descansando no fundo. Com o coração na garganta, mergulhei, batendo na água
com força, quase ouvindo...

Cameron gritando: — Ele tem um tanque.


CAPÍTULO 22

Richard estava na beira da piscina.

Com as mãos tremendo, eu me perguntei se meu coração iria


desacelerar. Embora tudo estivesse bem agora, minha adrenalina não tinha
recebido a mensagem e ainda disparava em minhas veias, fazendo minhas pernas
vacilarem. Meu cabelo molhado grudou na minha cabeça, minhas roupas estavam
encharcadas e grudando, mas eu não me importei.

Richard parecia inabalável. Assim como Cameron, que parecia ter visto esse
tipo de comportamento antes, por causa de sua reação contida. Ele ergueu a
máscara de mergulho sobre o rosto de Richard e a pousou na testa.

A água pingou de Richard e formou uma poça ao redor de seus pés. — O que?
— Ele disse, dando um sorriso malicioso. — Eu sou o único que pensa melhor
submerso?

— Vou responder que sim nessa questão, — disse Cameron, e pisou na


nadadeira esquerda de Richard para ajudá-lo a tirar o pé e fez o mesmo com a
direita. — O que você estava pensando lá embaixo?

— Mia, — murmurou Richard.

Cameron deu um sorriso triunfante.

Richard quebrou naquela sua infantilidade. — Posso pegar meu jipe de volta?

Eu olhei para Cameron.

— Algo me diz que Mia está prestes a se apaixonar pelas minhas panquecas,
— disse Cameron. — Que tal, — ele afastou as mechas de cabelo encharcadas dos
olhos de Richard. — Você vai tomar um banho e nós vamos preparar o café da
manhã?

Richard parecia tão jovem parado ao lado de Cameron. Ele piscou sua
resposta e caminhou descalço ao redor da piscina.

— Ei, — Cameron chamou atrás dele.

Richard se virou para nós.


— Não estamos esquecendo de algo? — Disse Cameron.

O olhar de Richard pousou em mim. — Me desculpe se eu assustei


você. Também sinto muito por esta manhã.

Meu olhar voltou para o canto profundo da piscina. Richard baixou o snorkel
sobre o rosto novamente e sorriu para nós dois. Ele se afastou.

Cameron deu um tapinha em sua perna. — Winston.

Winston passou trotando por nós e entrou na casa.

— A primeira vez que o encontrei embaixo d'água também gritei, — disse


Cameron. — Como uma menina.

— Ele faz muito isso?

— Só quando ele está perto de uma descoberta.

— Com o que?

Cameron passou o braço em volta de mim e me guiou para dentro de casa. —


Com você, é claro.

Meu coração parou de bater bem ali.

Havia um abismo de uma milha de largura entre Richard e eu, e apenas


Cameron o havia cruzado. Ele me guiou para o quarto de hóspedes e depois para o
banheiro.

— Vou começar o café da manhã. — Ele entrou no chuveiro e abriu a


torneira. — Vou pegar uma camisa para você e o que eu puder encontrar que vá
funcionar.

Não demorei muito para tomar banho e vestir a camisa e os shorts que
Cameron havia pegado no quarto de Richard. Gostei da ideia de que teriam tempo
para conversar.

Dentro da cozinha, era divertido ver Cameron abrir as portas do armário com
a facilidade de quem conhece bem as coisas. Ele começou a fazer a massa e a
preparar uma frigideira quente para as panquecas. Com a orientação de Cameron,
encontrei os pratos e talheres e coloquei a mesa.

Tudo isso parecia tão comum, muito diferente da noite anterior, quando esses
homens estavam entretendo a clientela de elite de Hollywood no epicentro da
comunidade fetichista de Los Angeles. Não pude perceber o que era mais surreal,
Cameron, o diretor de Chrysalis, fritando massa no fogão ou Richard, agora de
jeans e camiseta azul, vagando pela casa seguido por um buldogue britânico.
— Coma. — Cameron estendeu um pedaço de panqueca fofa dourada em um
garfo.

Eu estalei meus lábios; a delícia foi uma surpresa bem-vinda. — Isso é bom.

Este homem sabia cozinhar. Ele começou a distribuir sua obra-prima para
nós em três pratos. Richard se juntou a nós.

Fui com meu prato até a mesa da cozinha e me sentei ao lado de Cameron,
que serviu o chá inglês do café da manhã em três canecas de porcelana fina. Depois
de usar a calda, entreguei a Richard e ele espremeu grandes quantidades de molho
espesso e doce sobre suas panquecas. Ele ainda parecia subjugado, mas de vez em
quando sorria.

— Ele é diferente em casa, não é? — Disse Cameron, virando-se para olhar


para Richard. — Ele ainda está mal-humorado, mas com um toque de charme.

Richard usou seu garfo para apontar para Cameron. — E você é um bastardo
mandão, não importa onde esteja.

— Verdade, — concordou Cameron. — Não é fácil estar sempre certo.

Richard revirou os olhos e deu uma mordida na panqueca encharcada de


xarope.

— Como vocês se conheceram? — Claro que eu sabia que eles se conheceram


em Harvard, mas não tinha certeza de como.

— Uma ex-namorada minha nos apresentou, — disse Cameron. — A colega


de quarto dela reclamou que o namorado dela, Richard, gostava de coisas
pervertidas e eles me procuraram para pedir conselhos.

— O que você disse a ela? — Perguntei.

— Eu não fiz nada, — disse Cameron. — Eu encontrei Richard e o aconselhei


sobre suas preocupações. — Ele encolheu os ombros. — Pode parecer um grande
campus, mas a notícia pode se espalhar durante a noite.

— O que você achou disso? — Perguntei a Richard. — Quero dizer, esse cara
aparece do nada e começa a falar sobre sua vida privada?

— Eu perguntei a ele qual clube ele frequentava, — disse Richard. —


Larguei a garota e me juntei ao clube.

Eu me sentei. — E então você se mudou para Nova York? — Eu apontei para


Richard. — E você se mudou para a Califórnia. — Eu olhei para Cameron.
— Piores anos da minha vida estando separado do meu amigo, — disse
Richard.

— Na verdade, eles eram os meus melhores, — brincou Cameron.

— Ele é o melhor chef que conheço, — Richard deu outra mordida. — Entre
outras coisas. Isso é bom.

Cameron franziu o rosto em um sorriso.

Havia algo reconfortante na amizade deles, mas ao mesmo tempo era difícil
entender a dinâmica. Minha mente vagou com pensamentos sobre que tipo de
coisas eles faziam juntos naquela masmorra sem ser considerada a mesma jogada,
seu desejo de dominação não sexual e submissão impossível de agarrar.

Não me sentia pronta para essa conversa.

Richard empurrou o prato meio comido de lado. — Achei Nova York sufocante
e o segui até aqui. — Ele gesticulou para Cameron. — Ele me convenceu a
embarcar em tempo integral na Enthrall.

— Meu segundo no comando, — disse Cameron. — Governa com punhos de


ferro.

— Dificilmente, — disse Richard. — Mesmo assim, nunca estive tão feliz.

O rosto de Cameron se iluminou.

— Eu sei que aquelas fotos na sua parede são suas, — eu disse a Richard.

— Há algo muito terapêutico em enfrentar o medo, — disse ele. — Desafiar


a vida de volta.

— A vida não é difícil o suficiente? — Eu disse.

— Tão cansada e tão jovem, — disse Richard, brincando.

Eu gostei desse formigamento em meu peito quando ele segurou meu olhar,
essas faíscas de excitação.

— Senhor Booth, algo me diz que você gosta da sua secretária? — Disse
Cameron com um sotaque cockney20 inglês impecável.

— Você pode estar certo, senhor, — disse Richard, combinando com seu
sotaque e balançando a cabeça em diversão.

20 Cockney se refere a alguém que nasceu em Londres.


Cameron voltou sua atenção afiada de laser para mim. — Somos todos amigos
aqui, certo? — Sua voz de volta ao normal. — Podemos falar francamente?

Eu dei outro aceno com a cabeça, assim como Richard.

Cameron recostou-se. — Eu nunca vi você tão apaixonado por uma mulher,


Booth.

Parecia uma espécie de sessão particular de aconselhamento e acho que de


muitas maneiras era. Nunca tão apaixonado; poderiam essas palavras suas
transmitir a verdade que meu coração ansiava por ouvir.

— Mia? — Disse Cameron.

— Sim.

— Então? — Cameron colocou a mão em concha perto da orelha.

— Fique firme com ela, — disse Richard.

— Como se esconder embaixo d'água, firme? — Cameron franziu a testa. —


Mia, você conheceu o homem dos seus sonhos.

— Alguma vez já esteve apaixonada? — Disse Richard.

— Hum, acho que não, — eu disse.

— Isso é um não, então, — disse Cameron. — E para que conste, é isso que
você está sentindo.

Se meu estômago não estivesse cheio demais, teria feito uma reviravolta, mas
eu mal tinha comido.

— As pessoas andam por aí em um estado de linha plana emocional, — disse


Cameron. — Você percebeu?

— Você sabe que a metáfora do zumbi é surpreendentemente precisa, —


disse Richard. — Você já andou por uma loja e realmente olhou para as
pessoas? Elas estão todas em algum tipo de transe. Eu me recuso a viver assim.

— Vivemos o momento, — disse Cameron.

— Conscientemente cientes, — acrescentou Richard.

Cameron acenou com a cabeça. — E escolhemos experimentar a dor que está


aqui. — Ele pousou a mão no coração. — E externalizá-la.

— A dor também nos excita, — disse Richard. — É assim que somos feitos.
— Então você sente dor, mas nenhuma outra emoção? — Perguntei a
Richard.

— Elas parecem estar voltando, — disse ele, lançando um sorriso torto para
Cameron.

— Você está pronto, — sussurrou Cameron para ele.

Lá veio novamente. Esse longo olhar entre eles. Dessa forma silenciosa eles
falavam sem palavras. Aquele aceno mútuo revelando que eles compartilhavam
seus pensamentos.

— Mia, — disse Richard suavemente. — Você será a submissa mais


requintada.

Uma emoção disparou pela minha espinha.

Cameron enfiou a mão no bolso da camisa. — Eu tenho uma receita para


vocês dois. — Ele ergueu o pedaço de papel para eu ler.

Richard pegou a nota. — Planetário?

— É para onde estou levando vocês agora, — disse Cameron. — Eu sei


exatamente o que está afligindo vocês dois. E eu sei a cura.
CAPÍTULO 23

Dentro do planetário do Observatório de Griffith, deitados em um cobertor


Burberry que Richard havia pegado emprestado do carro de Cameron, olhamos
para a exibição tridimensional de planetas girando.

Cameron não apenas fez isso acontecer, ele usou seus contatos aqui no
observatório para nos garantir uma visão privada, providenciando para que
Richard e eu tivéssemos o lugar só para nós. Bem atrás de nós havia fileiras e mais
fileiras de assentos de veludo, e todos eles eram capazes de reclinar para permitir
uma boa visão do display planetário no teto. O show que Richard e eu estávamos
desfrutando de nosso ponto de vista no chão, bem no meio da sala. Wagner, de
acordo com Richard, era a música clássica tocando ao fundo enquanto
testemunhávamos a dramática dança intergaláctica na tela curva acima.

Richard apontou para os planetas. — Saturno, Júpiter e, claro, Vênus. — Ele


sorriu quando viu aquele.

— Qual é aquele? — Eu apontei.

— Plutão, rebaixado a planeta anão, — disse ele. — Os cientistas


argumentaram que ele não dominava a vizinhança em torno de sua órbita o
suficiente.

Eu ri.

— Mente suja, — disse ele com um sorriso.

A exibição de planetas girando de tirar o fôlego acima, me fez sentir tão


pequena em comparação com a exuberante Terra com seus azuis e verdes vívidos.

— Como Cameron conseguiu isso? — Eu disse.

— Ele tem alguns dos contatos mais influentes do mundo. Nossos membros
incluem políticos, celebridades e até temos um membro que é astronauta.

— Sério?

— Você ficaria surpresa. — Ele se aproximou e passou o braço em volta de


mim. — A pesquisa provou que quanto maior o QI, maior a probabilidade de o
indivíduo se sentir atraído por nosso estilo de vida. — Ele se ergueu sobre um
cotovelo. Descansando a cabeça na outra mão, seu olhar fixo no meu. — Eu quero
fazê-la feliz. Fazer você se sentir segura.

— Você faz. Eu sou. Isto é perfeito.


— Você é tão linda de tirar o fôlego, Mia. Dentro e fora. Assim que superar
esse sentimento de que não mereço você...

— Oh Richard, você não consegue ver o quanto eu te amo?

— Não me lembro de ter amado assim. O que quer que esteja acontecendo
dentro do meu coração é diferente de tudo que eu já experimentei antes. É
assustador. Acredite em mim, eu enfrento o medo o tempo todo, mas isso, isso é
diferente. Parece diferente. — Ele respirou profundamente para se purificar. —
Sentir.

Aconchegando-me em seu peito, inspirei Richard, ansiando por ele, apesar de


nossa proximidade.

— Humanos são feitos de estrelas, — ele sussurrou. — Você sabia disso? Eu


realmente acredito que você e eu viemos da mesma estrela. Essa estrela se dividiu
há milênios em mil pedaços e ainda assim nós nos encontramos por alguma
reviravolta notável do destino. É por isso que só agora, depois de me reunir com
você todos esses séculos depois, é que me sinto inteiro novamente.

— Casa, — eu disse. — Sinto que voltei para casa pela primeira vez.

Ele plantou beijo após beijo na minha testa. — Eu protegerei você. Eu te


amo. Morrerei por você.

Olhando em seus olhos azuis oceano, eu segurei seu olhar. — Então


morreremos juntos.

— Não tenho certeza se Cameron aprovaria, — disse ele com um sorriso.

— Temos que agradecer a ele por isso.

— Ele me conhece melhor do que eu mesmo, — disse ele. — Ele certamente


está compensando seu comportamento patife.

— Patife é realmente uma palavra? — Eu disse.

— É realmente. Sei disso com certeza porque não é a primeira vez que o
chamo assim. — Ele tirou uma mecha de cabelo dos meus olhos.

— Eu vou com ignóbil.

— Vê— Ele pousou a ponta do dedo entre meus olhos. — Um vocabulário


superior indica um intelecto superior, que por sua vez se inclina para, — ele
baixou o olhar, — BDSM.

— Não pule mais de prédios altos, ok? Ou suba sem cinto de segurança.
— Já mandando em mim. — Ele pegou minha mão e a colocou sobre seu
plexo solar. Embora ele não tenha dito as palavras, eu sabia o que significava.

Eu acariciei sua bochecha com as costas da minha mão enrolada. — Ordens


médicas. — Minhas pernas pareciam gelatina.

— É melhor seguir isso, então, — disse ele.

Em uma enxurrada de atividades, nós nos despimos um ao outro, todos os


braços e pernas, camisas e calças voando ao nosso redor.

Richard pegou sua calça jeans descartada, sua mão desaparecendo no bolso
de trás. Ele ergueu um pacote de preservativos com uma descoberta simulada. —
Ah-ha.

Ele me fez sorrir.

— Eu te amo, Mia.

A nudez de Richard me tirou o fôlego. Seu torso esculpido e sua pele


bronzeada brilhavam sob essas luzes giratórias, facilmente ganhando o status de
Adônis. Sua beleza era demais. Meu olhar vagou para o sistema solar com seu
movimento orbital predeterminado, seu ritmo hipnótico sem fim. Esses planetas
não foram os únicos influenciados por uma atração gravitacional.

Desejando olhar novamente para este homem perfeito, impossível de resistir,


eu o alcancei.

Ele assistia fascinado. — Esta pode ser uma das minhas fantasias.

— Mesmo? — Eu disse, segurando sua ereção com as duas mãos e movendo-


as para cima e para baixo. Seu pênis ergueu-se majestosamente de gloriosos
cachos loiros, macios e longos, e muito grossos. — Talvez seja uma das minhas
também?

— Sério, — ele repetiu. — E o que mais você fantasia?

— Fazendo isso. — Ajoelhando-me diante dele, inclinando-me para baixo,


corri minha língua ao longo de todo o comprimento dele. Eu acariciei com as duas
mãos enquanto minha língua lambia as veias delicadas.

Sua cabeça caiu para trás e ele soltou um suspiro mais suave.

Chupando sua plenitude, enchendo minha boca com ele, eu o senti se


contorcer de prazer.

Seu lábio superior se curvou. — Eu gosto dessa sua fantasia, eu tenho que
dizer.
Passando a ponta da minha língua sobre a cabeça, mergulhei naquela gota
orvalhada para prová-lo, saboreá-lo. Eu precisava desesperadamente saber como
ele se sentiria dentro de mim, lá embaixo, no canal que ondulava com
desejo. Cobrindo meus dentes com meus lábios, eu olhei para tudo dele,
trabalhando em seu comprimento total da base à ponta, relaxando minha garganta
para tomá-lo por todo o caminho, mesmo quando seu pau exigia ir mais longe. Ele
agarrou meu couro cabeludo e prendeu as mechas do meu cabelo, controlando o
ritmo, me controlando, e eu soltei o mais profundo suspiro de gratidão.

Gemendo, ele empurrou mais fundo. — Sim, Mia, assim.

Perdida neste mar de paixão, sugando-o mais profundamente, eu queria dizer


a ele o quão completa isso me fez sentir. Como era perfeito tê-lo dentro da minha
boca, derramando-lhe todo o prazer e amor que ele merecia.

— Eu esperei muito tempo, — disse ele, se afastando e alcançando abaixo do


arco das minhas costas, levando-me em sua direção enquanto seu sorriso caiu na
minha garganta, seus lábios deslizando até a minha orelha e beliscando, enviando
espasmos de prazer para baixo na minha barriga e ainda mais longe. Meu
batimento cardíaco acelerou, minha respiração ficou mais rápida. Eu me rendi,
não querendo nada mais do que isso.

Ele alcançou meus mamilos, beliscando-os fortemente com seus dedos


firmes. Inclinando-se, ele lambeu o bico, sugando, alongando o botão com sua boca
experiente, fazendo com que meus gemidos profundos ecoassem. Movendo-se sobre
meu outro seio, ele demorou, lambendo, beliscando, me fazendo estremecer. Sua
mão direita abaixou entre minhas pernas e segurou lá entre minhas coxas
trêmulas, enviando uma onda de prazer por mim enquanto ele corria a ponta do
dedo ao longo da minha fenda.

— Você está molhada para mim, — disse ele, me cutucando para deitar de
costas.

Plantando beijo após beijo no meu abdômen, circundando meu umbigo com
sua língua, sua boca disparou para baixo. Alcançou a parte interna das minhas
coxas, me provocando com sua língua esvoaçante, ameaçando a qualquer momento
que ele vagasse mais longe.

Como ele fez agora.

Um gemido escapou de mim, um grito de prazer, então fiquei em silêncio


enquanto ele roubava minha voz, minha respiração, minha razão. Enviando
arrepios através de mim, ele atordoou meu clitóris com círculos felizes, me
penetrando, me trazendo tão perto da minha liberação.

— Eu direi quando você puder gozar, — ele disse com firmeza.


— Oh, — eu gemi. — Por favor.

— Eu posso ver que vou ter que levá-la através do treinamento do orgasmo.
— Ele mordiscou meu clitóris.

Meu gemido prolongado deu minha resposta.

Veio o rasgo de um preservativo e então ele o colocou, desenrolando-o sobre


sua cabeça pulsante.

— Por favor, — eu disse. — Richard.

Apenas a visão dele, o suspense de saber que minha hora era iminente,
enviou arrepios em meu corpo, fazendo-me enfraquecer, minhas coxas
estremecendo.

Ele me levantou e eu montei nele, minhas coxas de cada lado de suas


pernas. — Vamos devagar, baby, — ele sussurrou. — Isso será mais fácil para
você. — Esmagando-me contra ele, acariciei meu clitóris contra sua dureza,
atordoada por esta pulsação deliciosa, esses formigamentos em meu sexo
tenro. Inclinando-me para trás, olhei para cima. Segura em seus braços, senti sua
boca capturar um mamilo novamente enquanto eu observava as estrelas se
movendo tão languidamente quanto estávamos lá embaixo.

— Viemos da mesma estrela, — sussurrei.

— Nós viemos, — disse ele, beliscando um mamilo endurecido.

— Eu preciso de você.

Ele me virou de costas, roubando meu fôlego, e sua mão guiou minha cabeça
para descansar no cobertor. Todo o peso de Richard veio sobre mim e eu envolvi
minhas pernas em volta de sua cintura, respirando curtas e instáveis. Seus lábios
caíram sobre os meus novamente, seu beijo alargando minha boca, sua língua me
possuindo, enviando arrepios por todo o meu corpo. Eu me provei, seu beijo
compartilhando essa doçura e me fazendo tremer.

Minhas costas arquearam quando ele entrou em mim, facilitando dentro, me


esticando amplamente, trazendo uma mistura de dor e prazer e me cegando. Ele
empurrou fundo, implacável, seu pau me dando a disciplina que eu merecia, tinha
desejado pela primeira vez que coloquei os olhos nele. O sonho impossível de tê-lo
dentro de mim se realizando.

Orbes de luz brilharam acima, mas eu realmente não estava vendo. Eu estava
muito distraída pelo aperto lá embaixo misturado com a sensação impressionante
de ser levada pela primeira vez.
Richard ficou quieto. — Como está?

Sem fôlego, eu pisquei para longe. — Oh, incrível.

Ele moveu os quadris em um círculo.

— Oh. — Minhas unhas cravaram mais fundo em suas costas. — Oh... sim...
não pare. Nunca. Como nunca.

Ele sorriu. — Como está a vista?

Eu encarei seus olhos. — Espetacular.

Ele deu um sorriso de parar o coração.

Suas estocadas se aceleraram, me recompensando, me trazendo para mais


perto, ameaçando me jogar sobre a borda enquanto seu ritmo aumentava,
dominando implacavelmente meu corpo. Cavando minhas unhas mais
profundamente em sua carne, eu agarrei meu caminho cada vez mais perto...

Queda livre. Caindo sob os planetas, rolando sob as estrelas.

— Mia, — ele sussurrou. — Você pode gozar.

Perdida em um mar de prazer, eu fui embora, deslumbrada sob ele, o desejo


correndo em minhas veias. Fui apanhada, capturada por esta mistura inebriante
de perigo e paixão enquanto gritava, meu orgasmo explodindo. Fiquei pasma com
este prazer cegante. Ele resistiu em mim, enrijeceu e então parou.

Nós dois fomos roubados neste momento. Roubados um pelo outro.


CAPÍTULO 24

Aninhada em uma colina na fazenda Heights está um monastério budista


chamado His Lai Temple. É para onde Richard me trouxe na manhã seguinte.

Eu não conseguia me lembrar de ter sido mais feliz. Tudo que eu precisava
era estar com ele.

Parando na metade do caminho para cima de uma escada de pedra que levava
ao templo, Richard me puxou para um abraço, plantando beijo após beijo na minha
cabeça. Fiquei maravilhada com a quantidade de afeto que um homem poderia dar
a uma mulher. Envolvendo meus braços em volta dele e me aconchegando em seu
peito, eu o inspirei, respirei a paz que eu desejei por toda a minha vida. Estar com
ele aqui, assim, era melhor do que eu poderia ter imaginado e mais do que eu
jamais teria ousado sonhar.

Na noite anterior, no planetário, Richard não concedeu nada além de ternura,


e essas memórias me trouxeram de volta. Eu tinha caído de cabeça com meu
amante mercurial. Olhando para Richard agora, eu queria que ele soubesse o
quanto significava ele ter compartilhado este lugar comigo, sabendo o quão
importante era para ele. Ele me disse no caminho para cá que este templo fornecia
um santuário extraordinário. Era seu lugar favorito de todos os tempos. Eu mal
podia esperar para ver.

— Você é a prova de Deus, — disse ele.

— Você é. — Pegando a mão de Richard, levei-a aos lábios e beijei-a.

— Obrigado por vir comigo.

Subimos a escada principal até a grande entrada. No alto, repousando ao


longo da parede posterior, estavam três estátuas de Buda olhando para nós,
emanando serenidade. Algumas outras pessoas se misturavam aqui e ali
conversando baixinho. O rosto de Richard suavizou quando seu olhar pousou em
dois monges tibetanos, suas vestes laranja imaculadas, suas vozes baixas. Eles se
moviam serenamente, ajoelhando-se diante dos três Buda e cada um oferecendo
uma tigela de frutas. Eles os colocaram diante dos pés de sua divindade.
Eu já tinha visto evidências do interesse de Richard pela religião oriental
pelos elementos que ele trouxera para Enthrall e também para sua casa. Esses
momentos de desdobramento pareciam um presente.

Bem na nossa frente, no centro, descansando sobre uma mesa, havia dois
potes lado a lado, cada um cheio de pequenas bolas de plástico azuis. Richard
colocou dois dólares no topo da caixa de plástico entre eles e removeu uma
delas. Ele gesticulou para que eu fizesse o mesmo.

— Dentro de cada uma está uma mensagem sagrada, — disse ele, colocando-
a na palma da mão. Ele levou a bola até um triturador de madeira e a
quebrou. Dentro havia um pequeno pergaminho que ele desvendou e leu. —
Acontece que eu preciso me curvar como um junco. O que o seu diz?

Foi triste esmagar a bolinha fofa. Faça com que ele se junte a todas as outras
peças de plástico que se foram antes dela. Cacos de azul estavam descartados no
fundo.

Richard pegou a minha e esmagou-a sob a tampa de madeira. — Posso?


— Ele abriu a bola rachada e leu a mensagem no pequeno pergaminho.

Tentei espiar.

Richard levou a mão à boca, suprimindo o riso. Seus olhos brilharam e


enrugaram de alegria.

— O que está escrito? — Não consegui tirá-lo de sua mão.

Richard riu histericamente. — Mia, isso é em cantonês. Você tirou do pote


errado.

Eu comecei a rir, vendo o quão ridículo isso era.

— Vamos mantê-lo seguro. — Ele o enfiou no bolso do casaco. — Há algo


atraente em um mistério.

— Você é um mistério.

Ele sorriu timidamente, pegou minha mão enquanto nos guiava por um
corredor bem iluminado.

Saímos do primeiro templo apenas para sermos recebidos por um amplo pátio
de pedra. À frente estava outro templo, só que este era maior do que o primeiro,
seu design intrincado. O dramático telhado de telhas altamente decorado se
estendia acima dele. Parecia que havíamos viajado para a Ásia. A brisa do outono
farfalhou as folhas ao nosso redor. Outro monge passou por ele. Alguns outros
visitantes passaram vagarosamente.
Lá, à nossa direita, havia uma fonte rodeada de ainda mais estátuas e todas
as suas expressões serenas. O som calmante da água caindo encheu o
pátio. Subimos a escadaria arrebatadora, logo alcançando o segundo templo.

Seguindo o exemplo de Richard, peguei uma das varetas de incenso


armazenadas em uma jarra e fizemos nosso caminho até a chama aberta da vela
para acendê-las. Com uma nuvem de fumaça branca veio o cheiro de
jasmim. Fechei meus olhos e respirei.

— Faça uma oração, — disse Richard.

— Um desejo.

Que ele se abrisse para mim e me deixasse entrar. Nos dar a chance de que
precisávamos para que nosso relacionamento tivesse alguma chance de sobreviver.

Ele quebrou meu olhar.

Dentro do santuário, fomos recebidos por mais três estátuas de Buda, mas
estas eram muito maiores. Reverentemente, nos ajoelhamos sobre as almofadas
vermelhas de pelúcia e admiramos os grandes deuses dourados.

— Não os estamos adorando, — sussurrou Richard, gesticulando na direção


deles. — Esses símbolos são usados apenas para nos ajudar a enfocar nossas
mentes, despertar devoção e obter gratidão.

Imerso na paz deles, grato por esses momentos de silêncio, fiquei


maravilhada com o caleidoscópio da vida de Richard e sua capacidade de se
estender por todo o espectro da experiência humana, incluindo extremos de dor,
prazer e, mais surpreendente, espiritualidade.

O cheiro de incenso. O silêncio abafado. A reverência dos outros.

Havia milhares de pequenos Budas perfeitamente alinhados colocados dentro


de pequenas alcovas nas paredes ao redor, cada um com uma placa personalizada
embaixo, e me perguntei se eles representavam entes queridos que
morreram. Ficamos ajoelhados por algum tempo, minha mão na dele, nosso
incenso estendido diante de nós, compartilhando a santidade.

Richard gesticulou que encontrou conforto aqui. Eu tive também.

Colocamos nossos incensos ainda acesos do lado de fora do santuário, no que


parecia um templo preto em miniatura. Suavemente, nós os colocamos lado a lado
e em pé no centro da areia. A fumaça flutuava junto com a promessa de que nossas
orações seriam ouvidas. Fomos até a loja de souvenirs e chá do templo, onde
Richard encontrou uma mesa de canto particular para nós. Cuidamos de nossas
xícaras de chá de porcelana e continuamos a saborear a tranquilidade. Os ombros
de Richard estavam relaxados e pela primeira vez eu senti sua calma. Este lugar
tornou mais fácil receber a tranquilidade. Acalmando almas perdidas que vieram
para encontrar refúgio. É consolada a aura sem julgamentos.

— Cameron me trouxe aqui três dias depois que cheguei em LA. — O olhar
de Richard varreu a sala como se estivesse se lembrando.

Envolvendo meus dedos em volta da minha xícara, aquecendo-os, tomei um


gole do meu chá, refrescada por seu sabor delicado.

— Eu tenho uma confissão, — disse Richard suavemente.

— Oh.

— Meu sobrenome não é Booth.

— Você mudou?

Ele ofereceu um olhar de simpatia e isso me fez mexer na cadeira.

— Meu nome verdadeiro é Richard Booth Sheppard.

Minha mente correu com todas as razões pelas quais ele poderia ter mudado,
e era difícil decidir por uma. Depois de pesquisá-lo no Google, fazia sentido não ter
encontrado nada.

— Cerca de seis anos atrás, — disse ele. — Eu era um corretor da bolsa de


valores que morava em Manhattan. Adorava meu trabalho. Amava minha
vida. Eu tinha tudo, ou assim pensava. — Ele quebrou meu olhar, demorando um
pouco. — Trabalhei para o meu pai. Ele sempre foi um gênio com os números. Era
conhecido como o Mestre quando se tratava de finanças. Quando eu tinha vinte
anos, meu pai havia acumulado uma enorme fortuna. Estou falando de bilhões.
— Richard fez uma pausa, sua expressão dolorida. — Todos, incluindo meus dois
irmãos mais velhos, o adoravam. É claro que o que não sabíamos era que meu pai
havia planejado o esquema de negociação com informações privilegiadas mais
elaborado que o mundo financeiro já viu.

Coloquei minha xícara na mesa.

Ele tomou um gole. — Você sabe o que é negociação com informações


privilegiadas?

— Eu acho que sim.

— Os funcionários divulgam segredos sobre a empresa. Informações não


públicas que beneficiariam muito aqueles que estão explorando a compra ou venda
de um valor mobiliário. Ações, títulos, esse tipo de coisa. O investidor, portanto,
tem uma vantagem sobre outros investidores. Quando uma ação cai, você a
compra. Muitas dela. Estou falando de milhões. Você só pode fazer malabarismos
com as peças do quebra-cabeça por algum tempo, até que o único fato não possa
ser negado: o dinheiro está sendo manipulado, assim como os funcionários, junto
com o mercado financeiro.

Eu me senti péssima por ele. Eu só podia imaginar a vergonha de ter um pai


machucando tantas pessoas.

Richard engoliu em seco. — Assim que soube que meu pai havia sido preso,
dirigi até a prisão da cidade para ver o que nossos advogados podiam fazer. Meu
pai foi detido sem fiança. Eu pude ficar alguns minutos com ele. — Richard
esfregou o peito como se a dor daquele dia o tivesse encontrado novamente.

Ele deu um aceno de cabeça que estava pronto para continuar. — A primeira
coisa que você nota sobre a prisão é o cheiro. O segundo, o barulho. A gritaria. Eu
estava com medo de vomitar na frente do meu pai. Mesmo depois de tudo que ele
tinha feito, eu ainda queria fazer a coisa certa na frente dele. Você sabe o que meu
pai me disse naqueles poucos minutos que eu tive com ele?

Eu tinha sede de chá que não estava mais na minha xícara.

— Meu pai me disse que tudo isso era minha culpa. Que ele tinha feito tudo
isso por minha mãe e seus três filhos. Que a pressão para que frequentássemos as
melhores escolas e obtivéssemos a melhor educação pesou tanto que ele sentiu que
não tinha escolha. — Richard fez uma pausa, recuperando o fôlego. — Meu pai
não se arrependeu. Ele entregou o fardo da culpa sobre mim. Mas isso não foi o
pior.

Um peso se estabeleceu em meu peito.

— Enquanto dirigia para casa, repassei as palavras que tranquilizariam


Emily, a minha noiva. Tranquilizei-a de que eu recuperaria todo o dinheiro que
sua família investiu no negócio de meu pai. Tudo se foi. Confiscado pelos
federais. Repassei meu discurso várias vezes no carro. Demorou três horas para
chegar em casa. O trânsito estava intenso. Afinal, Wall Street foi dizimada e Nova
York estava de joelhos. — Ele usou os próximos momentos para se equilibrar.

— Aquela viagem de elevador até minha cobertura foi a mais longa que já
fiz. Eu finalmente consegui colocar a chave na porta. A bolsa de Emily estava no
sofá, assim como seu celular, então eu sabia que ela estava em casa. O noticiário
estava passando, discutindo o escândalo de minha família em segundo plano. Não
era típico dela deixar a TV ligada. Ela odiava barulho. Música
preferida. Clássica. Fotos incriminatórias foram mostradas apenas para garantir
que o público tivesse uma boa ideia de quem havia arruinado suas vidas. Uma
delas era de Emily e eu em um evento para arrecadação de fundos. Ela
aparentemente era culpada por padrão. Ela era advogada e não tinha nada a ver
com finanças.

— Nosso lugar era vasto. Situado no Upper East Side da Quinta


Avenida. Costumávamos sentar à janela com nossos cafés pela manhã e olhar para
o parque. Eu gostava de lá. — Ele tossiu para limpar a garganta. — Emily estava
no banho. Ela costumava dizer que a ajudava a relaxar. Sempre preferi
chuveiros. Quando eu a encontrei, ela estava imersa em água tingida de vermelho
de onde ela cortou os pulsos. — Richard olhou além de mim, embora ele não se
concentrasse em nada. — A nota de suicídio dela explicava tudo. Quando eu a
peguei em meus braços, implorando para ela não me deixar, tudo que eu conseguia
pensar eram as palavras do meu pai, me dizendo que era minha culpa. É claro que
acreditei nele, como costumamos fazer. Eu não tinha sido atencioso o suficiente
para ver que meu pai era um ilusionista.

Eu queria dizer a ele que tinha sido obra de seu pai e não dele, mas tudo que
consegui dizer foi: — Sinto muito.

— Em uma semana, enterrei Emily, coloquei nossa casa à venda e voei para
Los Angeles. Cameron me encontrou no aeroporto. Não me lembro muito do vôo ou
das primeiras semanas na casa dele. Mas eu me lembro desse lugar. — Seu olhar
vagou com ternura. — Cameron me deixou ficar com ele. Insistiu nisso. Ele estava
preocupado comigo. Eu estava tendo problemas para formar palavras.

— Cameron te ajudou?

— Me salvou. No início, ele me encaminhou para uma terapeuta


tradicional. Ela não sabia o que fazer comigo. O segundo e o terceiro terapeutas
com que fui concordaram que o único tratamento que ajudaria seria a ECT. Um
choque elétrico para estimular meu cérebro. A segunda opção deles era uma
camisa de força química. Cameron se recusou a deixá-los fazer isso comigo. Ele
estava, é claro, relutante no início em me aceitar como cliente, considerando que
somos melhores amigos, sem falar na natureza do que ele pratica, mas posso ser
muito persuasivo. Eu insisti que não queria esquecer a dor. O diagnóstico pousou
em PTSD. No final, optamos pelo tratamento menos conhecido de enfrentar a dor
de frente. A técnica de Cameron. — O foco de Richard voltou como se ele tivesse
se juntado a mim mais uma vez dentro do café. — Funcionou.

— Isso explica por que você é tão próximo de Cameron.

— Ele está sempre lá para mim. Nunca me julga. Ele provou ser um amigo
quando cheguei sem teto e sem emprego.

— É por isso que você assumiu o cargo na Enthrall?


— Eu estava tendo sessões com Cameron e estava lá tanto tempo que eu meio
que entrei nisso. — Ele encolheu os ombros. — Estou muito feliz lá. Eu te conheci
lá.

— As meninas sabem sobre a sua história?

— Sim. Elas são discretas, mas você já descobriu isso.

— Isso também explica por que Cameron é tão protetor com você.

— O sentimento é mútuo.

— Você nunca usa seu nome verdadeiro agora?

— Eu larguei Sheppard na esperança de me distanciar de... — Ele gesticulou


para o resto.

Inclinando-me para frente, peguei suas mãos, enrolando meus dedos nos dele.

Ele apertou minhas mãos. — É por isso que eu te afastei. Não porque eu não
me importo com você, mas porque eu nunca iria querer expor você ao meu
passado. Tenho tentado te proteger. Eu decepcionei Emily terrivelmente. Sou
responsável pela morte dela. Ela era tão frágil.

Eu me levantei e dei a volta para o seu lado e me acomodei em seu colo,


envolvendo meus braços em volta do seu pescoço e o abraçando.

Ele beijou minha testa uma e outra vez, seu afeto implacável. Ficamos assim
pelo que pareceu uma eternidade. Era difícil lembrar dele não estar na minha vida
e eu não queria voltar para o tempo em que ele não estava. Eu plantei beijos suaves
em seus lábios.

Richard pousou um dedo sob meu queixo e o ergueu. — Até te conhecer, eu


acreditava que jamais poderia sentir outra emoção. — Suas pálpebras
tremeram. — Eu não quero assustar você.

— Nunca. Eu amo você. — A vida pré-Richard era uma terra vazia e


desolada sem amor.

— Eu sempre vou te amar, Mia, sempre. — Ele selou sua promessa com um
beijo. — Eu nunca farei nada para machucar você.

— Eu farei qualquer coisa por você, — eu disse. — Richard Booth Sheppard.

Ele deu um sorriso. — Seja feliz. Isso é tudo que vou pedir de você.

Eu me aconcheguei em seu pescoço, seu coração batendo firme contra o meu


peito, querendo nada mais do que ficar aqui para sempre.
CAPÍTULO 25

Escrevi meu nome a lápis na agenda de Enthrall e consegui um horário às 11


horas com Richard.

Logo ele chegaria, e assim como eu fazia todas as manhãs, desde que comecei
a trabalhar aqui, eu entregaria a ele o livro. Havia poucas dúvidas de que nos
braços de Richard eu me sentiria segura quando fosse levada para as profundezas
de Enthrall. Pensamentos sobre o que poderia acontecer lá causaram arrepios de
excitação, enviando um arrepio entre minhas coxas.

— Tenho muito prazer em mostrar a você.

Corando loucamente, coloquei minha sacola de compras do Frederick's of


Hollywood bem embaixo da mesa, mal escondendo-a atrás do painel frontal de
vidro. Eu tirei um momento para verificar o e-mail. Eram vários e todos eles
rotineiros.

Meio atordoada, abri meu navegador Google e digitei Richard Booth


Sheppard. Em total contraste com a última vez que pesquisei, havia literalmente
milhares de resultados. Simplesmente omitindo seu sobrenome, ele removeu-se
com sucesso de todas as listas. Cliquei nas imagens. Richard olhava para trás em
várias fotos. Lá estava ele com o pai, ou assim a legenda indicava, e em outro,
saindo de um restaurante após uma noite de jantar requintado em Manhattan. Na
foto abaixo, Richard se aninhava com seus dois irmãos mais velhos, suas
semelhanças eram surpreendentes, seus olhares sobre o pai sugerindo tempos
mais felizes. Havia várias dele ao lado de uma loira bonita e sorridente, e enquanto
eu passava o mouse sobre uma das fotos, confirmei que era sua noiva, Emily Oren.

Cliquei no link.

Baron King, um jornalista do New York Times que havia escrito o artigo
sobre Richard, confirmou o que eu agora sabia. A nota de suicídio de Emily foi a
única evidência que impediu Richard de ir para a cadeia. Os detetives de
homicídios rapidamente autenticaram que Emily realmente havia cometido
suicídio, assim como o legista de plantão que emprestou sua experiência no
assunto. Eu me senti péssima por Richard, perdendo sua noiva daquele jeito e
quase sendo acusado de sua morte. Deve ter sido o que o levou ao limite.
Com a garganta seca, continuei lendo, e uma onda de culpa tomou conta de
mim porque fui capaz de ter esse caso de amor com ele devido a algum
acontecimento terrível que havia varrido sua vida do mapa.

Emily havia usado uma das navalhas de Richard para cortar os pulsos,
segundo o Baron King, que tinha um jeito indiferente de escrever, como se apenas
dissecasse um conjunto de experiências e não a vida em espiral de um homem ou
a morte de uma mulher. Na tela, segui as palavras de King, tentando compreendê-
las. Emily estava grávida de três meses quando se suicidou.

Um gemido de tristeza escapou dos meus lábios.

Com as pernas instáveis, passei pela porta da sala dos funcionários e corri
para o banheiro. Lá, eu joguei água no meu rosto, meu peito tremendo com os
soluços. Uma terrível sensação de perda puxou com força e os pensamentos sobre
aquele bebê morrendo dentro dela invadiram minhas entranhas. Imaginei como
Richard lidou com a perda de seu filho.

Cameron havia aludido a isso quando me levou com ele para aquele
restaurante Chez Polidor, fornecendo um vislumbre de que alguém tinha estripado
o coração de Richard. O fato de Richard acreditar que a culpa ainda estava sobre
ele me fez imaginar como ele havia agido. Peguei uma toalha de papel do
dispensador e enxuguei meu rosto, assombrada por essa percepção surpreendente.

Eu congelo.

Deixei a tela aberta. Saí voando pelo corredor, abri a porta da recepção e
quase tropecei nos próprios pés.

Cameron estava sentado na minha cadeira com o olhar fixo na tela. Seu olhar
me encontrou. — É melhor excluir seu histórico de pesquisa. Dessa forma, seu
assunto não se sentirá perseguido.

— Eu sei o que aconteceu.

— Todos nós aqui fazemos nossa parte para proteger sua privacidade.

Eu dei um aceno de cabeça, querendo que Cameron soubesse que isso era
importante para mim também.

— Não queremos que um cliente veja isso agora, queremos? — Disse ele com
firmeza.

— Emily estava grávida.

— Três meses. — Cameron desligou até que todas as evidências da minha


busca fossem encerradas. — Provação terrível.
— Eu sinto muito.

Seu olhar me encontrou novamente. — Sem danos causados.

— Richard e eu visitamos His Lai Temple, — eu disse. — Ele me contou tudo.

— Bom.

— O pai dele perdeu o dinheiro de todas aquelas pessoas.

— Isso é um eufemismo. Edwin Sheppard paralisou o sistema financeiro e


deixou um rastro de devastação. — Ele tirou a mão do mouse. — Richard contou
a você sobre as ameaças de morte contra ele?

Eu balancei minha cabeça, sem nem mesmo pensar nas consequências de


uma guerra violenta até agora.

— Ele está seguro aqui. — Cameron olhou para o protetor de tela, observando
o jardim japonês que Richard havia montado para mim. — Mia, devo desculpas a
você.

— Não acho que você deva.

— Quando ouvi sobre você de Tara, decidi que você seria perfeita para o meu
paciente. — Ele inclinou a cabeça. — Como você sabe, Richard não é apenas meu
melhor amigo.

Tentei me lembrar se liguei o ar-condicionado e não consegui.

— Meses atrás, — ele disse, — Tara me mostrou uma foto de sua namorada
Bailey. Mia, você também estava naquela foto. Quando Tara me disse que estava
indo embora, pedi a ela que a encorajasse a se candidatar ao cargo dela. Claro que
você é deslumbrante. Não havia dúvida sobre isso. Você irradia uma beleza
rara. Natural e de tirar o fôlego. Uma combinação impressionante. O que eu
também esperava era que você fosse tão cativante quanto parecia. — Ele olhou
para mim sob os cílios escuros. — E você é. Você é enigmática. Aquele truque que
você fez quando pediu seu emprego no escritório de Richard me fez acreditar que
eu era algum tipo de gênio.

— Você me atraiu até aqui?

Ele enfiou a mão no bolso e tirou um envelope branco. — Você conquistou


tudo que eu poderia ter esperado e muito mais. Você se superou. Você conseguiu o
que o resto de nós falhou: em resgatar Richard de si mesmo. Seu vício em perigo
está se dissipando graças a você.

Eu encarei o envelope.
— Eu sabia que Richard se apaixonaria por você, — disse ele. — Mas este
resultado foi muito além das minhas expectativas.

Eu não aguentava mais ouvir. Minhas pernas ficaram instáveis novamente e


uma onda de adrenalina me deu o que eu precisava para correr.

— Na festa de inauguração de sua casa, — disse Cameron, — Bailey me


contou sobre seu sonho de se tornar uma estilista. — Ele se inclinou para
frente. — Neste envelope está o seu bilhete para a liberdade.

— O que você quer dizer?

— Venha aqui, — ele comandou. — Seu trabalho está feito.

Avancei e peguei o envelope dele, as mãos tremendo e o coração doendo.

— Este cheque fornecerá dinheiro suficiente para você se matricular na


faculdade de sua escolha. Prepare-se e viva bem por um bom tempo. Dinheiro não
é problema. Eu venho de um dinheiro antigo. Se você quiser mais, me mande uma
mensagem. Há um suprimento infinito. — Ele olhou para a tela. — Tenho certeza
de que se você também me pesquisou no Google, você teria confirmado isso.

Eu não tinha, mas agora eu gostaria de ter feito isso. Talvez em algum lugar
nessa busca eu tivesse encontrado algo que me esclarecesse que tipo de homem
Cameron realmente era. Isso era chantagem ou apenas sua maneira de se livrar
de mim? Eu tinha me interposto entre ele e Richard, seu protegido?

— Você está me mandando embora? — Eu disse.

— Estou te dando sua liberdade. Um relacionamento com Richard significa


cruzar a linha para o nosso mundo e nunca olhar para trás. Isso não é quem você
é. Francamente, você não é esse tipo de garota.

Meu olhar encontrou minha bolsa da Frederick.

Assim como o dele.

Ele espiou dentro e teve um vislumbre do meu espartilho. — A honestidade


consigo mesma é o fator mais importante para encontrar a verdadeira felicidade.

Fiz um gesto para a bolsa. — Essa é a minha resposta.

— Você não precisa fazer isso.

— Eu não quero ir embora.

— Você nem tem certeza do que está saindo.


Eu mantive minha posição.

— Prove para mim que isso é o que você quer, — disse ele. — Para que você
não entre em pânico e abandone Richard. Algo me diz que esse relacionamento que
você tem com ele está para ficar pesado. Eu não quero que ele se machuque. Assim
como você. Sua felicidade também importa, Mia.

Engoli em seco, meu coração e minha cabeça disparando em resposta ao que


ele estava dizendo.

Eu me aproximei dele. — Logo depois que minha mãe morreu, entrei


sorrateiramente no sótão para explorar seus itens pessoais. Você sabe, descobri
mais sobre ela pelas coisas dela armazenadas em algumas caixas velhas
empoeiradas. Eu queria conhecê-la melhor. Entender quem eu era,
suponho. Minha mãe adorava ler e, entre sua coleção de livros antigos, encontrei
este de Ayn Rand. Meu pai comprou para ela de acordo com a nota dentro. Bem,
eu peguei aquele livro e me escondi no meu quarto e li debaixo das cobertas com
uma lanterna. Eu estava com um vizinho até que eles pudessem entrar em contato
com meu pai e me mandar para ele. Havia algo reconfortante em saber que tinha
um pedaço da minha mãe. Nas páginas com orelhas, meus pais leram.

— Atlas Shrugged? — Disse Cameron.

— Era difícil entender a maior parte. Mas eu estava determinada a entender


do que se tratava o livro. Pensei que isso poderia me ajudar a entender uma
filosofia de vida. Talvez até me mostrar como sobreviver. Uma mensagem de
minha mãe do além-túmulo. Como se ela quisesse que eu o encontrasse.

A expressão de Cameron estava calma. Seu foco nunca vacilou, como se


aqueles intensos olhos castanhos pudessem ler cada emoção combinando com cada
palavra.

Trêmula, eu continuei, — Ayn Rand deixou bem claro que se você se deparar
com uma criança precisando de ajuda... você deve deixá-la morrer. — Um soluço
ficou preso na minha garganta. — Aparentemente, essa não era uma filosofia
incomum. Até mesmo os políticos deliraram sobre como Atlas
Shrugged é incrível e se maravilharam com seu sistema filosófico.

— Objetividade, — disse Cameron.

Respirei fundo para me acalmar, esperando fazê-lo entender. — Cameron,


eu...

— Você era aquela criança.

— Faltava uma semana para vasculhar o lixo em busca de comida.


Os olhos de Cameron lacrimejaram, embora sua expressão permanecesse
imóvel, focada.

Eu olhei para o envelope que ele me deu e rasguei ao meio. — Quando vim
aqui pela primeira vez, todos vocês foram tão bons comigo. Uma bondade que
nunca conheci. Minha madrasta me acolheu porque precisava de mim. Onde
outros viraram as costas para mim, todos vocês abriram seus braços e me
receberam. — Eu me aproximei, perto o suficiente para tocar. — Richard pagou
minha dívida. Estamos falando de milhares de dólares. Sua bondade foi
incondicional. — Prendi a respiração, tentando manter a calma e deixá-lo ver que
eu poderia lidar com a conversa sobre isso. — Não me afaste, Cameron. Por favor.

— Mia, eu...

— Eu sei que o condomínio em que estou morando é seu. Você fez isso para
me tirar daquele estúdio.

Ele apoiou o cotovelo na mesa e acariciou a testa. — Como você descobriu?

— Você usou Lotte para me seduzir. — Eu inclinei minha cabeça. — Eu não


tinha certeza, mas agora tenho.

— Garota esperta.

— De quem foi a ideia do aquário?

— Richard, — disse ele. — Nós precisávamos pensar em uma razão pela qual
você seria convidada para entrar na casa. Você quer que eu me livre disso?

— Não tenho certeza se quero ficar lá.

— Não seja ridícula.

— O que eu sei é que eu amo Richard e ele me ama. Eu pertenço a este lugar.

— Isso é um cheque de meio milhão de dólares que você rasgou.

— Eu não quero o seu dinheiro. Eu quero Richard.

Ele estendeu a mão e eu coloquei as metades rasgadas em sua palma.

— Perdoe-me, — disse ele. — Eu tinha que ter certeza de que você estava
certa. Eu trouxe você aqui. Eu sou responsável por você. Por ambos.

— Nunca tive mais certeza de nada. Eu ainda posso perseguir meu sonho de
me tornar uma designer de moda um dia. Por enquanto, estou feliz aqui.

— Belo espartilho, a propósito.


— Eu acho que sim. — Dei um sorriso. — Olha, eu não quero que minha vida
seja baunilha. Quero ter a mesma expressão que todos têm quando saem daqui.

— Algo me diz que você vai. — Ele olhou para o saco de papel. — E meias.

— Você acha que Richard vai gostar?

— Não tenho certeza de quem está balançando o mundo de quem.

— Isso vai ser eu balançando o dele.

— Bravo, Srta. Lauren, Bravo. — Cameron se recostou. — E uma garrafa


de champanhe. Você sabe que temos uma regra de proibição de bebida? Dar a
Richard uma desculpa para puni-la é pura engenhosidade de sua parte.

— Talvez ele abra uma exceção.

— Talvez ele use um remo. — Ele sorriu.

Tentei suprimir o meu medo. — Você é um especialista quando se trata de


perfis. Você sabia que eu ficaria.

— Às vezes estou errado, embora raramente. — Ele levou um dedo aos


lábios. — Esse será o nosso segredo.

O elevador apitou.

Richard veio rápido em nossa direção. — Eu dormi. Alguém me manteve


acordado a noite toda. — Ele deu aquele sorriso adorável.

Foi maravilhoso vê-lo.

Richard franziu a testa para mim. — Eu acordei e você tinha ido embora.

— Eu odeio chegar atrasada, — eu disse.

Ele vasculhou sua bolsa. — Tudo certo?

— Estávamos discutindo Ayn Rand, — disse Cameron.

— Tão cedo? — Disse Richard.

— São dez da manhã, — disse Cameron, achando graça.

— Contanto que não seja Nietzsche, — disse Richard. — Rand foi inspirado
por ele. Não admira que sua filosofia tenha sido distorcida.
Cameron olhou para mim. — E Rand ficou doente nos últimos anos e
realmente se inscreveu no seguro social e no Medicare21. — Ele apontou um dedo
para fazer seu ponto. — Tanto para deixar os fracos morrerem.

— Eu direi, — concordou Richard. — Nada como a vida para humilhá-lo.

Cameron se levantou. — É realmente impressionante como muitos daqueles


ex menos afortunados voltam para causar uma impressão fenomenal no mundo.
— Ele olhou para mim. — Vale a pena salvar todo mundo.

— Tudo muito pesado antes do café da manhã. — Richard bateu no braço de


Cameron. — Sem dúvida, você correu seis milhas.

— Quatro.

— Apenas quatro, — disse Richard. — Você está escorregando, senhor.

— Vou me encontrar com Lotte para o brunch. — Cameron sorriu. — Vejo


vocês dois mais tarde.

Em poucos instantes, ele entrou no elevador e as portas se fecharam, levando


nossa conversa com ele e, esperançosamente, para nunca mais se repetir.

— O que ele estava fazendo aqui? — Disse Richard.

— Ele queria falar comigo.

— Sobre?

— Nós.

Richard olhou para o elevador. — Nós?

— Ele se preocupa tanto com você que só queria saber que eu te amo e quero
estar com você. — Pronto, eu disse isso, e foi maravilhoso compartilhar a verdade.

— Ele é pior do que minha mãe, — disse Richard, balançando a cabeça. —


Eu não gosto de acordar e não ver você lá. O que aconteceu?

— Eu te disse. Eu não queria chegar atrasada.

— Tenho certeza que seu chefe entenderia.

— Vou fazer um café para ele.

Richard acenou para isso. — Eu vou fazer isso.

21 Sistema de saúde dos EUA


Peguei a agenda de compromissos da mesa e o segui pelo corredor e ele passou
o braço em volta da minha cintura, beijando minha testa.

— O que há na bolsa da Frederick’s? — Ele abriu a porta da sala de café,


permitindo-me continuar.

Mordi meu lábio e entreguei-lhe o diário.

Ele olhou para a data de hoje. — Você estava tendo uma conversa muito séria
com Cameron. O que causou isso? — Ele se afastou, mantendo-se de costas para
mim.

— Eu pesquisei você no Google, — admiti.

— Eu pesquisei você no Google também.

— Mesmo? — Minha atenção permaneceu no pote de vidro.

Ele foi até a cafeteira e colocou o livro de lado. Ele começou a preparar grãos
frescos. Que estranho, eu poderia planejar um encontro assim e ainda assim falar
sobre isso me apavorava.

— Eu temo que nada aconteceu com você. — Ele balançou a cabeça e


sorriu. — Podemos precisar remediar isso.

Meu rosto caiu quando os pensamentos sobre os artigos voltaram para mim.

— Eu imagino que o que você leu sobre mim a surpreendeu? — Ele disse.

Abri o armário e peguei duas canecas e as coloquei no balcão diante de nós.

— Você leu sobre Emily? — Ele disse.

Um líquido marrom escorreu e espirrou na cafeteira, o cheiro de café


enchendo o ar.

Ele correu a ponta do dedo ao longo da caixa de filtros. — Ainda não tínhamos
decorado o quarto do bebê. Não podíamos concordar com o esquema de cores. Ela
queria amarelo. Eu odeio amarelo, porra.

— Sinto muito, Richard.

— Eu poderia ter me acostumado com o amarelo.

Amaldiçoei-me por trazer isso à tona e questionei minha capacidade de ser


útil para ele, ou qualquer pessoa. Eu não conseguia entender por que ele queria
estar com alguém como eu. Uma garota ingênua com pouco a oferecer. Lágrimas
arderam em meus olhos.
Ele pegou meus braços e me puxou para ele. — Veja, agora isso está fora do
caminho.

— Você não está com raiva?

— Céus, não. Não é exatamente algo que você compartilha no segundo


encontro. — Ele encolheu os ombros. — Você tem algum segredo que deseja
compartilhar?

— Não, — eu disse, incapaz de pensar em qualquer coisa.

Ele me soltou e serviu café nas canecas. — Por favor, cancele meu horário das
11:00 da manhã. — Ele devolveu o diário.

Minha cabeça sacudiu e eu encarei aqueles olhos azuis que só seguraram os


meus por um segundo. O conteúdo da minha bolsa da Frederick’s agora era
redundante.

Ele acrescentou leite ao meu café e me deu uma das canecas. — Vamos
almoçar juntos.

— Gostaria disso.

Ele tomou sua bebida e saiu.

Agarrei o diário contra o peito, me perguntando por que não o desafiei. Sim,
ele gostava de liderar um relacionamento, mas eu também tinha uma opinião. Eu
tinha desejos de explorar e agora o sentia me afastando novamente. Amaldiçoei
por me sabotar hoje com minha espionagem.

Abrindo a agenda, corri meu dedo sobre onde ele havia colocado uma linha
no meu nome sob o seu 11:00 e abaixei meu olhar.

Richard havia escrito meu nome às 18h. Apenas este ele havia escrito a
caneta.
CAPÍTULO 26

O olhar de Richard me segurou com uma intensidade feroz.

Incapaz de esperar mais, entrei em seu escritório às seis da tarde com


ele. Estava diante de sua mesa usando o meu espartilho Frederick's, meias de
renda e calcinha, bem como esses saltos pretos de quinze centímetros que
finalizavam meu look sexy de sereia. Meu cabelo caiu em cascata sobre os ombros
nus, cachos despenteados caindo suavemente sobre a curva dos meus seios. No
spa, eu levei meu tempo fazendo minha maquiagem, usando delineador preto para
realçar meus olhos e aplicando sombra, indo para um efeito esfumaçado. O rímel
alongou meus cílios e lábios carnudos e vermelhos e brilhantes me distanciaram
da velha Mia.

Richard ficou de pé e deu a volta para o meu lado.

— Cheguei cedo, — eu disse nervosamente.

— Isso é inaceitável. — Ele parecia indignado. — Marquei uma reunião para


você esta noite, pois há algo que gostaria de discutir.

Sentindo-me estranha e desapontada por ele não ter mencionado minha


roupa, desmoronei por dentro.

Richard pegou um cheque em sua mesa e ergueu-o. — Então?

Eu li a assinatura. — Não sei por que Monsieur Trourville iria querer me


dar...

— Mil dólares? O memorando tem o seu nome, — disse ele severamente. —


Algo que você gostaria de compartilhar comigo, Mia?

— Houve aquela época ...

Richard estreitou o olhar.

Eu levantei minha mão. — Não, escute.

— Você pode ter certeza que estou ouvindo.


— Monsieur Trourville me viu angustiada e confundiu-o com o fato de eu
estar usando aquelas coisas.

— Bolas de Vênus? Você estava?

Meu rosto corou intensamente. — Não.

O fantasma de um sorriso apareceu em seu rosto. — Por que você estava


angustiada?

— Porque você levou Courtney para...

— O que te chateou?

— Não era eu. Eu queria que fosse eu.

Sua carranca se aprofundou. — Eu preciso decidir o que fazer com isso.


— Ele olhou para o cheque. — Você me colocou em uma posição muito difícil.

Apesar de usar este espartilho, ele conseguiu fazer com que eu me sentisse
nua.

— Você percebe que o álcool é proibido? — Seu olhar estava na garrafa de


champanhe aberta que estava sobre a mesa lateral. O que eu peguei meia hora
antes. Bolhas sem fim surgiram nas duas taças decorativas que peguei emprestado
de sua prateleira.

Ele suspirou. — Elas são antigas.

— Elas são lindas, — eu disse. — É uma pena não usá-las.

Ele arqueou uma sobrancelha. — Elas vieram da propriedade de Winston


Churchill. Eu não as uso.

— Eu pensei que isso poderia acalmar meus nervos.

Ele realmente tinha uma obsessão por Churchill. Eu me perguntei o que mais
em seu escritório ou mesmo em casa pertencia ao homem. De jeito nenhum eu iria
gostar daquela bebida agora. Eu ficaria preocupada em deixar cair o copo.

Algo em seus olhos...

Uma onda de nervosismo explodiu em meu peito. Uma necessidade ardente


queimou entre minhas coxas e minhas pálpebras ficaram pesadas.

— Entrando no subespaço tão rapidamente? — Ele disse. —


Impressionante.

Minha mente correu para entender seu significado.


Richard se afastou e pegou um dos copos. — Eu quero você excitada. O álcool
suprime você. Vou permitir uma liberdade final. — Ele me entregou a taça de
champanhe.

Peguei a taça pela haste, segurando-o com a reverência que merecia, e tomei
um gole.

Uma liberdade final.

Eu fui atrás de outra.

Ele tirou o copo da minha mão. — O suficiente.

Meu olhar permaneceu no champanhe como se fosse minha última bebida.

— Você deve confiar em mim, — Disse ele. — Você confia?

— Sim.

Ele enrolou os dedos e traçou meu queixo para baixo, parando na minha
garganta. — Seu coração está acelerado. — Ele deu um olhar de aprovação.

Eu estava respirando muito rápido. Meus seios se esticaram contra este


espartilho, ameaçando sair de seu confinamento. Seus dedos acariciaram a linha
do meu bustiê, fazendo minha pele formigar. Um arrepio de apreensão passou por
mim quando sentimentos inundaram que eram difíceis de entender.

— É chamado de frisson. — Ele pousou a mão sobre o local exato onde senti
o formigamento.

Eu olhei para onde sua mão estava. — Mas como…?

— Eu sou seu dominador. É meu trabalho saber. — Ele parecia intenso. —


Sua palavra de segurança. Se você quiser que eu pare, você dirá uma palavra. —
Ele varreu o ar com a mão. — Escolha algo que você se lembre.

Meus pensamentos se dispersaram.

Ele deu um sorriso de aprovação. — Vênus?

— OK.

— Acha que consegue se lembrar disso?

— Sim. — Embora eu realmente não tivesse ideia se seria capaz. Eu


esperava que parar também pudesse resolver o problema.
Este não era o Richard que eu conhecia. Ele assumiu um comportamento de
mestre. — Lembra do que eu falei sobre o elevador? — Ele disse. — O que isso
representa?

— Rendição

— Estou certo sobre a sua?

— Sim.

— Você sabe o que significa encantar? — Ele disse.

— Hipnotizar.

— Escravizar.

Uma onda de desejo tomou conta de mim.

— É hora de sua punição. — Ele pousou a mão no arco da minha coluna.

E me levou para fora.

Eu encontrei conforto na força da mão de Richard controlando a


minha. Olhando rapidamente para a minha mesa, percebi que não era mais aquela
garota ingênua que havia começado sua jornada até lá. Um mundo de prazer
sempre esteve esperando por mim do outro lado deste portão.

Entramos no elevador.

Descendo, realmente veio a sensação de rendição.

Uma vez fora, eu passei elegantemente para atrás dele, meu ritmo lento e
deliberado, querendo enfatizar que eu realmente estava pronta para isso, mas sem
saber o quão longe ele me empurraria.

Punir-me.

Caminhando pela câmara principal, logo passamos pelo tabuleiro cruzado ao


qual Cameron havia me amarrado.

— Da próxima vez que eu te trouxer aqui, — disse ele, interrompendo meus


pensamentos enquanto abria a porta de uma sala menor. — Você vai usar uma
coleira.

Uma onda de excitação me atingiu quando percebi que realmente


era sua submissa.

Apesar de ser menor, esse cômodo era semelhante ao que havíamos deixado
para trás. As paredes foram pintadas de um vermelho profundo e velas espalhadas
aqui e ali, lançando sombras. Sobre a mesa central estavam penduradas finas
correntes de prata.

Fomos banhados por uma suave iluminação vermelha. O tempo desacelerou


enquanto eu absorvia tudo.

— Chama-se St. Andrew’s Cross22, — disse ele, ao me ver olhando. — Traz de


volta memórias?

Eu me deleitei com essas faíscas invisíveis disparando entre nós.

— Tire a calcinha, — disse ele.

Eu encarei minhas mãos trêmulas.

Ele enfiou a mão nos bolsos da calça. — Preciso ser mais claro?

Minha respiração estava mais rápida do que deveria, e eu simplesmente


fiquei lá enquanto as ondas de tontura proporcionavam uma sensação de
desmoronamento.

Ele se aproximou. — Obedeça.

Tirei minha calcinha, permitindo que caísse até meus tornozelos, e ele
resgatou minha calcinha do chão, em seguida, enfiou-a no bolso da calça. Com um
aceno de cabeça, ele me mandou para a mesa. Ele demorou a arregaçar cada
manga da camisa.

Uma inclinação de cabeça. — Preciso te dizer de novo?

Aproximei-me da mesa e, com as duas mãos, agarrei a borda.

Este homem era orgulhoso, complexo e, oh, tão bonito, e eu estava prestes a
testemunhar do que ele era capaz.

O que eu era capaz de fazer.

Richard me puxou de volta para que minhas nádegas se deslocassem um


pouco da mesa, me preparando.

— Eu quero olhar para você. — Ele arqueou minha coluna e separou minhas
nádegas. — Bela bunda, Mia. — Ele contornou o buraco enrugado com a ponta do
dedo. — Um dia vou te foder aqui.

Meu aperto aumentou na borda.

22 Traduzido fica cruz de Santo André


Ele deu um tapa na minha nádega. — Mas não hoje.

A dor surda entre minhas coxas me fez desmaiar enquanto a picada


persistia. Com um aperto firme, ele moveu minha bunda mais para cima e me
forçou a arquear as costas ainda mais. — Separe suas pernas. Sim, assim. Bom. O
que vem a seguir é considerado o que você merece. — Ele traçou a ponta do dedo
ao longo da lombada do meu espartilho e então juntou mechas de cabelo, torcendo-
as em sua mão. — Estou certo?

— Sim.

Ele ergueu meu queixo.

— Sim, Senhor, — eu disse rapidamente.

— Melhor.

Esse anseio por ele era tão intenso, um desejo de agradar de qualquer
maneira que ele quisesse. Eu era uma escrava dele, de seu amor, e de bom grado
me entregava.

— Pulsos juntos, — disse ele.

Ele mostrou um par de algemas e rapidamente prendeu meus pulsos dentro


de cada faixa e as fechou. Chocada e excitada com este confinamento, meu coração
disparou e o sangue trovejou em meus ouvidos. Ele se afastou da minha linha de
visão, me forçando a suportar ser amarrada e exposta enquanto minha expectativa
crescia. Richard agarrou a barra entre minhas algemas e me arrastou mais para
baixo, esticando meus braços na minha frente e prendendo-os às correntes de prata
no final.

— Esta bunda perfeita está implorando para ser espancada. — Ele me deu
um tapa forte. — Tudo no seu tempo. — Sua mão deslizou entre minhas coxas,
acariciando minha fenda e explorando mais longe, me tocando.

Gemendo, balancei meus quadris contra sua mão.

— Eu dei permissão para você se mover? — Ele retirou os dedos.

Eu gemi minha decepção. — Não, Senhor.

— Levante a cabeça. — Ele colocou aqueles dedos úmidos em minha boca. —


Chupe.

Meus lábios tremeram enquanto eu me provava e uma onda de prazer


inundou minha virilha. Outro gemido escapou de mim e eu arrastei meus dentes
ao longo de seus dedos enquanto ele os puxava para fora da minha boca.
— Esse flerte com os clientes deve acabar.

Virei minha cabeça em sua direção para protestar.

Ele deu um tapa na minha nádega com força. — Você ia dizer alguma coisa?

— Não, Senhor.

— Não fale sem permissão. Entendeu?

Enterrei meu rosto entre meus braços.

— Este é um cat-o-nine-tails23. — Richard agarrou um punho do meu cabelo


e levantou minha cabeça para que eu pudesse ver. — É uma punição adequada?
— Ele perguntou. — Você pode responder.

— Sim, Senhor. — Quando avistei o chicote preto de cauda múltipla,


enterrei minha cabeça novamente.

Ele arrastou as borlas ao longo das minhas panturrilhas e através das


minhas coxas antes de bater sobre o meu sexo e fazer com que estremecesse. Os
cílios atingiram minhas nádegas em um ritmo contínuo e eu saltei para frente para
escapar deles. Com um braço forte em volta da minha cintura, ele me
reposicionou. Os golpes recomeçaram um após o outro e eu cerrei os dentes, o
choque do chicote intenso, meu corpo tremendo, meus dedos trêmulos se enrolando
em torno das correntes.

Esquecendo o tempo e o lugar, esse ímpeto concedeu lampejos de percepção a


cada chicotada, me enviando em um transe.

Era tão bom.

De pé agora e livre das correntes, mas ainda algemada, desmaiei com essa
onda de excitação me fazendo tremer incontrolavelmente. Não houve tempo para
saborear isso. Eu estava muito ocupada tentando acompanhá-lo enquanto ele me
puxava em direção à parede, seu punho de ferro me forçando a ficar ao seu lado.
Posicionando-me para ficar com as costas retas contra o tijolo. Quando minhas
nádegas doloridas tocaram o frio, prendi a respiração.

— Mãos acima da cabeça, — disse ele.

Com meus pulsos algemados erguidos, meus braços sentiram a tensão dessa
posição. Abaixando o material do meu espartilho, Richard segurou meu mamilo
direito. Ele o apoiou em cima da renda e fez o mesmo com o esquerdo. Beliscou
meus mamilos com firmeza, causando arrepios de prazer.

23 Traduzido fica Gato de nove caldas - é um chicote com nove pontas usado no BDSM
— Oh, por favor, — eu gemi.

— Silêncio. — Ele apertou um pouco mais.

Meu queixo caiu, minha respiração ficou mais superficial. Eu fiz beicinho de
prazer e abaixei minhas mãos algemadas para alcançá-lo.

Seu olhar me forçou a levantar meus braços novamente.

— Melhor. — Disse ele.

Cada movimento me preparava para uma punição, mas ficar parada era
impossível.

— Você está indo bem, — disse ele. — Mas há espaço para melhorias.

Minhas pálpebras se fecharam.

— Abra seus olhos.

Fui saudada por seu olhar azul feroz.

— Estenda as mãos. — Ele soltou as algemas e as removeu, jogando-as no


chão. — Mãos nas costas.

Richard enfiou a mão no bolso e tirou uma braçadeira de prata. Ele beliscou
meu mamilo direito, trabalhando sua rigidez e fechando o fecho sobre ele. O
beliscão me fez estremecer e forçou um gemido de mim.

— Silêncio.

Ele prendeu uma pinça no outro mamilo também e deu um puxão, atirando
prazer na minha virilha. Virei minha cabeça em direção a ele querendo, precisando
ser beijada.

— Você tem que merecer isso. — Ele me virou para que eu ficasse de frente
para a parede e posicionou minhas mãos na minha frente.

— Use suas mãos para alavancar, — disse ele, saindo do meu lado.

Com meus dedos espalmados no tijolo, inclinei meu peso contra meus braços
e olhei para trás. Eu avistei o remo.

Ele se aproximou de mim. — Você se mexeu sem permissão?

— Sim, Senhor. — Mordi meu lábio com força.

— Por que?
— Para ver o que você ia fazer, Senhor.

— Que tal eu mostrar a você.

Oh…

Minha respiração estava mais rápida agora, minhas pernas tremendo, meus
mamilos lutando contra seus captores de prata.

— Você deve ter percebido que não gosto de pedir duas vezes, — disse ele.

Eu arqueei minhas costas e empurrei minhas nádegas assim como tinha feito
na mesa. Cada parte de mim queria isso, precisava disso, e surgiu um desejo
desconhecido de cair a seus pés, implorar por perdão. Implorar por mais.

A pancada na minha bunda veio forte e eu voei para frente. Ele esperou até
que eu me reposicionasse e então deu uns vinte tapinhas lentos e gentis onde ele
havia me atingido.

Outro golpe feroz.

— Estou esperando que você não se mova. — Richard passou os dedos pela
minha bunda. — Eu preciso ver que você merece sua recompensa.

Preparando-me, me ofereci, desejando aquela queimadura lenta de cada


golpe que de alguma forma fazia meu clitóris pulsar deliciosamente. O remo
desceu com força, mas desta vez consegui não recuar, em vez disso permaneci
imóvel, obedecendo. Ele largou o remo e passou o braço em volta da minha
cintura. Sua mão deslizou sobre minha barriga e para baixo, seus dedos me
encontrando e habilmente brincando com aquele lugar mais doce.

— Você gostou da sua recompensa? — Ele disse.

— Sim.

Ele parou.

— Senhor.

A mão de Richard deslizou sobre minhas nádegas, acariciando a carne e


suavizando a picada. Soltei um longo gemido.

— De volta à posição, — ele comandou.

Pareceu mais fácil desta vez saber que o que se seguia era uma recompensa
alucinante, se eu pudesse permanecer imóvel. Richard usou o remo
novamente. Outro golpe, e outro, mas eu queria tanto minha recompensa que
enterrei toda resistência.
Ele me virou para que minhas costas estivessem agora contra a
parede. Minha pele estava vermelha e sensível. Ele se acomodou entre mim e a
parede de modo que fossem suas costas que encontrassem o tijolo e as minhas
fossem contra sua musculatura frontal, puxada para um abraço. A mão esquerda
de Richard alcançou minha virilha e ele abriu meus lábios inferiores, me
expondo. Segurando-me proficientemente nessa pose delicada, ele usou sua mão
direita para dar tapas eróticos no meu clitóris, e meus gritos responderam a essas
ondas de choque de felicidade.

Uma pulsação deslumbrante. — Oh, por favor. — Eu gemi.

— Silêncio, Mia.

Meu gemido ecoou enquanto ele prolongava minha indulgência


cronometrando pausas de fração de segundo entre cada tapa, mantendo
perfeitamente essa pulsação requintada. Com cada uma, meu corpo estremeceu,
antecipando o próximo, e o próximo, e o próximo...

Encantada, me entreguei completamente.

Implacável, ele continuou a bater na minha boceta, enviando cargas


contínuas de prazer através dela, e eu me deliciei com o som de seus tapas. O
soprano cantou cada vez mais alto, as notas subindo e descendo, dançando ao nosso
redor e compartilhando nossa intimidade.

Êxtase.

A bofetada cessou e seus dedos assumiram seu próprio ritmo, piscando mais
rápido, me enviando além da borda. Meu orgasmo estremeceu através de mim
quando o ar foi arrancado de meus pulmões, me quebrando em um milhão de
pedaços de nada.

Richard me segurou imóvel até que os últimos estremecimentos me


deixassem e eu pudesse respirar novamente, minha força mal retornando às
minhas pernas bambas. Eu queria me virar e enterrar minha cabeça em seu peito,
mas Richard saiu de trás de mim, sua expressão de severidade não mudando.

As braçadeiras de mamilo se soltaram e ele me guiou de volta para a mesa


onde me levantou, minhas pernas balançando para o lado.

— Você tem sido uma boa menina, — disse ele, rasgando um pacote de
preservativos. — É hora de ser recompensada.

Embora não tivesse certeza se eu poderia ter mais prazer, meu olhar caiu
sobre o pau de Richard, que estava duro como uma rocha, e eu ansiava por ele
estar dentro de mim. Ele me cutucou de volta para que eu ficasse olhando para o
teto e ele se deitou sobre mim, agarrando minhas mãos e as colocando acima da
minha cabeça.

Minhas costas arquearam quando ele entrou em mim, apertado e cheio, todo
o caminho até o punho. O prazer de seu primeiro impulso diminuindo a dor dessa
tensão interior. Meu canal apertou em torno de sua espessura e ondulou de prazer.

— Você me pertence, Mia.

— Sim, Senhor. — Envolvi minhas pernas em torno dele. — Sua.

Ele trovejou acima, enviando espasmos deliciosos em mim e minhas costas


arquearam. Meus gemidos foram suprimidos apenas por seu beijo.

As notas iam e vinham, levando-nos com elas e fechei os olhos, extraindo nada
além da satisfação de ter Richard me dominando completamente. Este prazer
abrasador aumentou cada vez mais.

— Espere pela minha permissão, — disse ele.

Cega por essas sensações, tentei obedecer, realmente tentei, mas era tão
difícil me concentrar e eu sabia que estava perigosamente perto. Richard
aperfeiçoou seu ritmo, batendo contra mim, o som do nosso sexo batendo juntos.

Encharcado em um calor úmido, seu rosto estava focado e feroz, suas pupilas
dilatadas enquanto ele assumia um ritmo brutal.

— Senhor, por favor, deixe-me gozar.

— Ainda não.

Eu gritei, gozando forte, cravando minhas unhas em suas costas e me


recusando a soltar, recusando-me a acabar com isso. Ele ficou rígido, empurrando
uma última vez antes de se acalmar e desabar sobre mim.

Nós nos abraçamos assim por um longo tempo, nenhum de nós querendo
deixar ir.

Eventualmente, a música enfraqueceu.

Ainda dentro de mim, Richard se levantou. — Você desobedeceu. — Ele deu


um sorriso torto. — Inaceitável.

— Oh.

— Tantas torturas de prazer esperam por você, minha querida, Mia.

Eu desfaleci. — Quando podemos fazer de novo?


Seus lábios se torceram em diversão. — Eu criei um monstro.

Eu estendi a mão e corri meus dedos pelo seu cabelo.

Richard arqueou uma sobrancelha. — Por que, Srta. Lauren, você tem o
olhar?

— Olhar?

Ele deu um sorriso de parar o coração. — Alegria.

Soltei o mais suave suspiro de realização e seus lábios encontraram os meus,


beijando-me com firmeza, abrindo minha boca enquanto sua língua
magistralmente se enredava na minha...

Reivindicando sua submissa.


CAPÍTULO 27

O som de ondas rolando me acordou.

A chegada do amanhecer trouxe consigo a mais fresca brisa matinal que


beijou minha pele até acordar. Deitei enrolada na espreguiçadeira de Richard,
escondida entre as palmeiras, tendo adormecido com ele na noite passada. Embora
ele não estivesse aqui agora. Sentei-me, tomada por uma cautela de que ele
poderia ter mudado de ideia sobre nós. Claro que isso não era saudável, mas com
tudo que eu sabia sobre o Sr. Mercurial, era uma conclusão fácil de chegar.

Ainda vestida com meus jeans e suéter da noite passada, eu precisava tomar
um banho e escovar os dentes. Winston sentou-se ao lado da minha
espreguiçadeira e presumi que Richard tinha dito a ele para ficar e cuidar de
mim. Ou talvez Winston estivesse ficando mais preguiçoso se isso fosse possível.

Memórias da noite passada me inundaram e eu me deitei mais uma vez,


olhando para cima através das folhas de palmeira e além para o céu escuro. O calor
do sol da manhã me encontrou. Um leve rubor queimou minhas bochechas quando
me lembrei do que Richard tinha feito comigo no quarto abaixo do Enthrall. Eu
tinha que admitir que a dor não tinha sido tão forte, e Richard misturou sua
punição com tanto prazer que era tudo que eu conseguia lembrar agora. A noite foi
de tirar o fôlego.

Um formigamento em meu peito me fez recuperar o fôlego quando as


sensações residuais encontraram seu caminho de volta para mim, me deixando
tonta. Soltei o suspiro mais longo.

Passos no caminho sinalizaram o retorno de Richard e eu me sentei, pronta


para cumprimentá-lo. Ele dobrou a esquina carregando duas pequenas tigelas com
colheres de prata e um frasco debaixo do braço direito.

— Bom dia. — Eu sorri para ele.

Ele sorriu para mim. — Como você está?

Eu me senti tímida novamente. — Ótima.

— Achei que o café da manhã na praia poderia ser divertido. Traga o cobertor.
Eu senti falta dele, mesmo por um período tão curto de tempo, e não pude
deixar de sorrir ridiculamente com a ideia de passar mais tempo com ele. Peguei
nosso cobertor.

Seguindo o exemplo de Richard, andei descalça atrás dele, que liderou o


caminho. Eu estava animada para ver aonde isso levava. Um pouco mais abaixo,
ele deu um passo para o lado, permitindo-me espaço para abrir o portão de
madeira.

Passamos por baixo da arcada de arbustos, logo nos encontramos em uma


praia arenosa e ali, estendendo-se diante de nós, havia um vasto oceano azul. A
areia estava quente e macia sob meus pés. Richard percebeu minha expressão de
admiração e deu aquele olhar sério dele e eu derreti novamente.

— Será que isso vai servir? — Ele disse.

— Vamos fazer funcionar.

Ele sorriu, parecendo tão jovem e tão inocente, a brisa bagunçando seu
cabelo. Era difícil acreditar que ele tinha uma queda pela dor, impossível entender
que esse era o Richard dominador da noite anterior. Abrindo bem o cobertor,
estendi-o sobre a areia e nos sentamos aconchegados um no outro. Parecia um
sonho tê-lo de volta ao meu lado.

— Aveia? — Richard me entregou uma das tigelas.

Ele descansou a sua tigela sobre o cobertor à sua frente e alcançou o frasco,
desatarraxando a tampa e despejando café fumegante nela. O cheiro do grão fresco
espalhou. Ele me entregou a xícara.

Tomei um gole. — Você faz um ótimo café. — Devolvi o copo para ele e provei
meu mingau de aveia. — Isso também é delicioso.

— Receita secreta de família. — Ele ergueu a mão. — Por favor, não peça
isso.

— Mesmo?

Seu sorriso alcançou seus olhos. — Trader Joes.24

— Como é que você não fica aqui o tempo todo?

— Acredite ou não, pode ficar meio solitário. — Ele balançou sua cabeça. —
Bem, espero que não mais.

24 Trader Joes : é uma rede americana de supermercados.


Alcancei sua cintura e o abracei, descansando minha cabeça em seu
ombro. Eu o inspirei. O cheiro de linho fresco misturado com uma lufada de colônia
delicada. Isso, e a sensação de sua mão acariciando minhas costas, foi uma
combinação inebriante.

— Vamos descer mais aqui, — disse ele.

— Gostaria disso.

Ele pegou um punhado de areia e deixou escorregar entre os dedos. — Venha


morar comigo.

Estávamos nos movendo na velocidade da luz, na verdade chegamos a essa


velocidade de dobra, e o mundo de Richard estava ameaçando queimar-me com
mais brilho do que uma explosão solar.

— Pelo menos pense nisso. — Seus dedos brincaram com meu cabelo. —
Você certamente sabe como fazer o dia de um homem, Srta. Lauren.

— Eu poderia dizer o mesmo sobre você. Este é o cenário mais romântico do


planeta.

— Só se você estiver apaixonado. — Ele se inclinou e beijou minha bochecha.

Eu agora sabia como era sentir meu coração parar de bater.

— Caso contrário, este lugar é apenas uma vastidão, — ele murmurou.

Eu me perguntei por quantos dias ele se sentou aqui sozinho com nada além
de seus pensamentos como companhia.

As palavras de Lotte voltaram para mim. — Há algo lindo sobre um homem


quebrado. Talvez seja alguma promessa tácita de que ele se tornará mais do que é
por causa disso.

Embora eu não tivesse entendido suas palavras na época, por não ter
conhecido a história de Richard, agora tinha uma noção do que ela estava
dizendo. O estilo de vida anterior de privilégio e posição de Richard e, mais tarde,
sua queda das graças da sociedade de Nova York o suavizaram, fizeram dele um
homem mais gentil. Ele certamente parecia mais acessível do que o Richard que
eu conheci.

Ele apontou para Venice Beach. — Imagino que Cameron esteja surfando
agora. Em algum lugar nessa direção.

— Talvez Tara esteja com ele.


— Pode ser. — Ele mudou para olhar melhor para mim. — Vamos conversar
sobre a noite passada.

Meu rosto corou e eu virei minha cabeça.

— O que fizemos foi considerado manso. — Ele brincou com meu cabelo.

— Oh.

— Você estava deslumbrante. Foi difícil não te devorar no meu escritório logo
no início.

Eu poderia jurar que as ondas estavam se aproximando. — Eu gostei, —


sussurrei.

Ele se inclinou para mim. — O que disse?

— Eu realmente gostei disso.

— Você vai ter que falar mais alto.

— Você me ouviu muito bem, Senhor.

— De volta ao Senhor, agora. Eu aprovo.

Eu o cutuquei nas costelas e ele se esquivou de mim, rindo.

Descansando minha tigela no meu colo, peguei o café dele novamente. — Foi
incrível.

— E pensar que esse é o nível dois.

— Quantos níveis existem? — Eu gritei.

— Cerca de cem.

— O que você faz no nível cem? — Minha garganta se fechou e tomei um


gole de café, esperando que ele dissesse.

— Você já leu Hellraiser de Clive Barker?

— Não. — E também não gostei do som.

— Antes do seu tempo. — Ele ergueu a mão com insistência, dando o sorriso
mais largo. — É uma piada. Por favor, não vá no Google. O que eu sei que você
adora fazer.

— Por que?
— Você vai ter um ataque. — Ele apontou. — Oh, olhe, há uma gaivota.

Seguindo seu olhar, não vi nada.

— Erro meu. — Ele comeu seu mingau de aveia. — Hum.

— Você é mestre em fumaça e espelhos, Senhor.

Ele me deu uma olhada de lado. — Diga-me uma coisa, Mia, como é que nada
do que eu faço te assusta?

— Eu acho que posso ter me apaixonado por você na primeira vez que te vi
no Enthrall.

— Você quer dizer aquela vez que você me proibiu de entrar?

— Sim. Você cobriu o olho com a mão e parecia tão vulnerável.

— Fetiche de pirata, sim?

Ele me fez rir e riu também.

— Sério, Mia, no dia em que você entrou na minha vida tudo parecia
diferente. E quando digo senti que estamos falando de um milagre. Eu não sentia
uma emoção em mais de seis anos. — Ele olhou para suas mãos. — Não acreditei
que sentiria de novo.

Estendendo a mão, peguei sua mão e segurei.

Ele apertou a minha de volta. — Cameron me garantiu que minhas emoções


voltariam, mas depois de vários anos eu meio que perdi a fé.

Corri minha mão para cima e para baixo em suas costas para confortá-lo.

— Sempre tive uma queda pela dor, mas nos últimos anos era a única
maneira de sentir, — disse ele. — Então você entrou na minha vida. Eu me
apaixonei por você na primeira vez em que entrou no meu escritório. Você não
estava com medo de mim. Você meramente absorveu o quarto e então me acolheu.

— Você era bom de se olhar.

Ele deu um sorriso. — Provavelmente foram suas botas que selaram o


negócio.

— Você acha que sempre trabalhará na Enthrall?

Ele estreitou o olhar. — Por enquanto.


Eu me perguntei como eu me ajustaria a namorar um homem que se
especializou em dominação para viver. E eu ainda precisava compartilhar essa
notícia com Lorraine. Eu afastei esse pensamento.

— Cameron usa S&M em todos os seus clientes? — Eu disse.

— Meu Deus, não. Ele perderia sua licença para praticar medicina.

— Não o torna perigoso, ter um conhecimento tão profundo das pessoas?


— Eu disse. — Ele poderia realmente manipular alguém se quisesse.

— Suponho que ele nos manipulou. Mais ou menos, — ele concordou. —


Ainda assim, Cameron é um dos caras mais legais que eu conheço. Ele vale uma
fortuna e prefere passar seu tempo com seus pacientes.

— Ou espancando clientes na Chrysalis. — Eu comi outra colherada.

— Você faz isso parecer tão travesso. — Ele apertou a língua entre os dentes.

— Cameron me disse que ele tem dinheiro antigo. Isso significa que a família
dele é rica?

— Ele é o filho mais velho do Cole. O Hampton Coles. Seu bisavô era Sir
Thomas Cole, o magnata do chá. Sua empresa faz um requintado Earl Grey.

Claro que Cameron tinha esse ar de privilégio, mas essa notícia de sua
família foi uma surpresa. Eu me perguntei se Tara sabia.

— Ele me disse que seu pai projetava iates, — eu disse.

— Ele faz. Seu pai é um homem difícil de viver.

Veio um lampejo de inspiração e eu senti como se tivesse tido um vislumbre


da psique de Cameron, o que foi uma boa mudança dele vasculhando a
minha. Talvez os altos padrões de sucesso de seu pai o tivessem empurrado para
uma vida de chicotes e correntes.

Richard juntou as sobrancelhas. — O que está acontecendo nessa sua linda


cabeça?

— Por que Cameron se tornou psiquiatra e não entrou para os barcos?

— Por que tanto fascínio pelo meu amigo? Algo que você gostaria de
compartilhar?

— Estou tentando evitar mais manipulações de Cameron, — eu disse. — Ele


tem sido bom para mim, mas também é intimidante.
— Reunindo informações sobre ele? — Richard fingiu um olhar
horrorizado. — E você está usando seu melhor amigo para chegar ao seu ponto
fraco.

— Mmmm, qual é o ponto fraco dele mesmo?

— Ele não tem um. — Richard encolheu os ombros. — É provavelmente por


isso que o resto de nós o tem em tão alta consideração.

— Ele me assusta.

— Ele é inofensivo. A única coisa a ter em atenção é o seu sério fetiche de


perseguição.

Eu virei minha cabeça para olhar para ele.

— Ele está programado para responder a uma perseguição, — disse


Richard. — Nunca fuja dele.

Minha mente voltou para aquela noite em Chrysalis quando Cameron me


perseguiu e me prendeu entre ele e a parede.

— O fetiche de Cameron é perseguir, pegar e foder. — Richard sorriu para


mim como se achasse isso divertido. — Com o consentimento da mulher, é
claro. Ele nunca machucaria ninguém.

Eu virei minha cabeça, não querendo que ele me visse corar. — Qual é o seu
fetiche? — Tentei mudar de assunto, mais ou menos.

— Achei que você tivesse adivinhado, — disse ele. — Eu gosto de espancar


garotas safadas. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Quando você invadiu a
masmorra contra minhas ordens, você ativou minha tendência. — Ele levantou
um ombro. — Ao beijar Cameron, você também despertou meu ciúme. Ele sabia
que eu realmente gostava de você.

— Cameron sabia o que estava fazendo.

— Minha fixação acabou como ele sabia que aconteceria.

Estendi a mão e agarrei a mão de Richard.

— Você está bem? — Ele disse.

— Com você eu estou.

— Você é muito mais do que isso para mim. Você percebe isso? — Ele olhou
para o horizonte. — Estou pronto para um compromisso. — Ele colocou uma
mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Isso é, claro, se você quiser isso
também.

Eu me aconcheguei mais perto, envolvendo meu braço em volta de sua


cintura. — Sim, mais do que qualquer coisa. — Fechando meus olhos, temi as
palavras que tinha para compartilhar.

Richard percebeu isso.

Olhando em seus olhos, tive coragem de dizer isso. — Não tenho certeza se
poderia ser sua submissa o tempo todo.

Richard recostou-se ligeiramente.

— Eu realmente gostei do que aconteceu na masmorra, — eu disse. — Mas


no que diz respeito a viver assim todos os dias, ajoelhando-me aos seus pés no café
da manhã e esfregando o chão do banheiro para seu prazer sexual... bem...

— Não acabe antes de tentar. — Ele deu um beijo no topo da minha cabeça.

Uma onda de nervosismo explodiu em meu peito.

No meu olhar de preocupação, ele acrescentou: — Mia, eu tenho uma


governanta. — Ele balançou a cabeça pesarosamente. — Embora, desde que
ganhou aquele concurso de Miss Mundo, ela tenha insistido em limpar a casa nua.

— Muito engraçado. — Eu cutuquei suas costelas.

Ele riu e se contorceu. — Carmen trabalha para mim durante anos. Ela tem
cinquenta e poucos anos. Uma avó.

— É melhor ela ser, — eu disse, sorrindo. — E não uma daquelas garotas


super gostosas de cinquenta anos também.

— Olhe para você. — Ele pegou minha mão e a beijou. — Estou tão feliz que
você trouxe isso à tona. Precisamos ser abertos e honestos uns com os outros. Isso
é bom.

— Então, você ficaria bem se eu me empoderasse?

— Você tem conversado com Cameron?

— Um pouco.

Ele acariciou minhas costas. — Eu não sou um ego maníaco, Mia. Eu adoraria
nada mais do que assistir você crescer e se tornar uma bela mulher totalmente
realizada.
Eu relaxei um pouco, me lembrando de confiar e deixar ir. As ondas rolaram,
estourando a espuma branca na areia antes de recuar novamente, embalando da
maneira mais perfeita. O som era calmante, hipnótico.

Richard suspirou. — Então é assim que se parece o céu.

Descansando minha cabeça em seu ombro, saboreei a paz. Uma calma


insondável se estabeleceu dentro de mim.

— Quero que saiba que estou financeiramente estável. — Ele quebrou o


silêncio.

— Oh, Richard, eu não...

— Não, por favor escute. Isso é importante. Embora meu pai fosse corrupto,
minha mãe não era, obviamente. Ela vem de uma família rica. Provavelmente foi
o que intimidou tanto meu pai. De qualquer forma, o que estou tentando dizer é
que sou um bebê de fundo fiduciário. Você sabe o que é isso?

— Acho que sim.

— Eu herdei uma grande quantia da propriedade de minha mãe quando fiz


vinte anos. — Ele balançou sua cabeça. — O engraçado é que eu não o usei até
alguns anos atrás. Eu estava muito orgulhoso. O que ironicamente manteve o
dinheiro seguro do meu pai. Claro que também ganho um bom salário da Enthrall.

— Eu também.

Eu não me importava com o dinheiro dele. Sempre cuidei de mim mesma e


adorava a sensação de independência.

— Vamos mergulhar nus. — Ele se levantou e estendeu a mão para mim.

Ele pegou as tigelas e varreu o cobertor.

Peguei o frasco. — Onde você está indo?

— Não vamos para o oceano, Mia.

— Os vizinhos?

— Eu não me importo com o que eles pensam. São os tubarões. Eles adoram
esta hora da manhã. — Ele inclinou a cabeça para que eu o seguisse.

— Mas Cameron está lá fora!

— Não sou o único que vive no limite, aparentemente.


— E Tara. — Fiquei olhando para o azul como se tivesse avistado uma
barbatana indo para Venice Beach.

Richard riu enquanto abria o portão. — Estatisticamente, é improvável.

Eu continuei. — Eu acho que você acabou de tirar toda a diversão de nadar


pelado.

— Bem, então, — disse ele. — Terei que pensar em algo que vai injetar um
pouco de diversão de volta nisso. — Ele mordeu o lábio e olhou para mim com um
brilho travesso.
CAPÍTULO 28

Como Richard parecia bonito ao sol da manhã. O sol explodia através das
cortinas, banhando meu quarto com o amarelo mais suave. Acordei com Alex Clare
cantando sobre folhas caindo de algum lugar longe do meu condomínio.

Richard recatadamente se moveu, procurando e rapidamente encontrando as


roupas que ele perdeu com pressa na noite passada antes de fazer amor comigo
durante a noite. Aquela gravata descartada no chão era um lembrete de como ele
me vendou e depois me torturou deliciosamente com prazer. Quase não tínhamos
dormido. No entanto, ele parecia tão revigorado e bem acordado como sempre e
fiquei maravilhada com sua capacidade de ser assim sem cafeína.

Ele sorriu na minha direção. — Curtindo o show no chão?

— Você é uma visão adorável para acordar, — eu disse, me espreguiçando. —


Que horas são? — Inclinei-me sobre os cotovelos para ver melhor o relógio na
mesinha de cabeceira.

Ele pulou em uma meia. — Seis. Volta a dormir. Tenho que ir para casa para
algumas coisas.

— Winston?

— Minha governanta o alimenta. Eu tenho um passeador de cães.

Eu relaxei contra a cabeceira da cama. — Devo ir com você?

Richard vestiu as calças. — Não, não vou demorar. — Ele veio para o meu
lado da cama e deu um beijo na minha testa.

Fechando meus olhos, mergulhei em seu afeto. Ele beijou meu pulso e aquele
pequeno gesto de carinho me fez derreter.

— Perdi minha visita ao IHOP ontem, — eu disse. — Talvez possamos ir


hoje. Tomar café da manhã juntos?

— Você não tem nenhum cereal aqui?

— É minha tradição, lembre-se.


— Eu não tenho tempo. Desculpe.

— Talvez no próximo domingo, então?

— Certo. — Ele se sentou ao meu lado. — Não irei hoje. — Ele pegou o
relógio e mexeu nele. — Eu ia deixar um recado para você.

— Você está tirando o dia de folga? — Eu me perguntei se poderia conseguir


um passe livre também.

Ele pegou minha mão. — Vou passar uma semana fora.

— Nova York?

Talvez uma visita para ver sua mãe, o que seria bom para ele e bom para sua
mãe também. Eu sentiria terrivelmente a falta dele.

Ele pousou o relógio e girou-o para ficar de frente para a cama. — Vou ficar
em Chrysalis.

Todas as cores sumiram do meu rosto.

Ele encolheu os ombros. — Nós revezamos. É o que fazemos. Quatro semanas


em Enthrall e uma em Chrysalis.

Meu peito estava pesado e ousei fazer a ele a pergunta assustadora. — Você
será...

— É o meu trabalho, Mia. É o que eu faço.

Eu puxei minha mão da dele. — Você vai fazer sexo com outras pessoas?

— Vou trabalhar como um dominante sênior.

Amassei o cobertor e puxei para cima. — Sênior?

— Vamos discutir isso outra hora?

— Talvez se você falar com Cameron, ele vai deixar você pular esta semana?

Ele parecia simpático. — Eu me recuso a deixar ele na mão. De qualquer


forma, Chrysalis é tanto da minha conta quanto dele.

A dor em meu peito apertou. — Negócios.

— Temos uma clientela bem paga chegando. — Ele olhou no seu relógio. —
Eu tenho que ir.
— Não vá. — Eu sabia que parecia pegajosa, mas não conseguia suportar a
ideia de ele tocar em outra pessoa além de mim. Mesmo que fosse com a ponta de
um chicote.

Pensamentos de Courtney vieram à mente. Richard estaria fazendo muito


mais com um número maior de clientes.

Eu esfreguei meu estômago para aliviar a tensão. — Eu vou com você.

Ele zombou. — Vejo você em breve. Vamos passar o fim de semana em Santa
Bárbara. Vou estragar minha garota. — Ele foi me beijar.

Eu me afastei.

— Não seja assim. Tenho sido honesto com você desde o início.

— Não vá, — saiu como um soluço.

— O que fazemos exige concentração. Foco. Pare de esfregar sua barriga


como se eu tivesse dado más notícias. — Ele se sentou e cruzou os braços. — Eu
apreciaria seu apoio.

— Apoio.

— Sim. Ser madura. Aceitando. Sem julgamento.

— Como posso? — Eu agarrei. — Você vai brincar de prostituta por uma


semana. — Saiu errado.

Richard se levantou da cama e soltou um longo suspiro para se


acalmar. Casualmente, ele saiu. A porta da frente abriu e fechou.

Eu estava sozinha novamente.


CAPÍTULO 29

Chorando no estacionamento da entrada mais uma vez, me lembrei da última


vez que abri meu coração aqui. Logo depois que Richard me despediu.

Ele estava tentando me proteger do seu estilo de vida, bem como do seu
passado. A ideia de ele não estar na minha vida doeu de forma agonizante no meu
coração e o nó no meu estômago se apertou.

Eu estraguei tudo.

Espiando pela janela do meu carro, observei Enthrall. O edifício parecia tão
elegante do lado de fora, com todos aqueles tijolos ornamentados esculpidos ao
longo de sua fachada. Ninguém iria adivinhar o tipo de coisas que aconteciam
ali. Eu não poderia entrar antes de controlar as lágrimas. Não ousava levantar
suspeitas sobre ter uma discussão com Richard esta manhã.

Eu não quis dizer aquela palavra horrível de que chamei você.

Parecia que alguém estava tentando arrancar meu coração com uma
colher. Peguei meu iPhone e disquei seu número. Fui enviada para o correio de
voz. Uma tábua de salvação nesta terrível tempestade.

— Richard, me desculpe, — eu solucei. — Eu me odeio. — Eu coloquei


minha mão sobre minha boca, com medo de gritar ao telefone.

Esperei que ele ligasse de volta. Richard abriu seu coração pela primeira vez
em anos e eu traí sua confiança. Meus gemidos encheram o carro novamente.

Um ping me trouxe de volta.

Eu li sua resposta.

Richard: Mia, eu te amo. Tudo está bem. Conversaremos. Você ainda


é minha garota?

Mia: Sim. Você me odeia?

Richard: Eu só tenho amor por você. Compreenda. Por favor, seja


feliz. Tome café da manhã.
Eu não fui nada além de cruel com ele e ele respondeu com gentileza. Foi tudo
muito por hoje. Eu comecei a chorar novamente.

Mia: Estou com saudades.

Richard: Sinto sua falta também, minha doce Mia. Mais do que você
sabe. Posso sair da rede em breve. Não se preocupe. Nada vai mudar entre
nós. A menos que você queira.

Mia: Não.

Richard: Diga-me que você está bem.

Mia: Agora estou.

O sinal de bateria fraca do meu celular acendeu e apagou.

Mia: Celular morrendo.

Richard: Entrando em uma reunião. Ligarei mais tarde. Eu amo


você!

Graças a Deus, não terminamos.

Uma reunião? Isso soou tão formal. Eu me perguntei quando a aplicação de


couro, chicoteamento e palmada de remo começaram. Não vá lá, disse a mim
mesma. Pense em como é maravilhoso acordar em seus braços com nada além do
som das ondas. A dor em meu peito se dissipou.

Não usar nenhuma maquiagem esta manhã foi a única decisão razoável que
tomei. Baixei o quebra sol e verifiquei meu rosto no espelho. Minhas bochechas
estavam vermelhas e meus olhos estavam vermelhos de lágrimas.

Eu fiz meu caminho para Enthrall.

Em meia hora, apliquei maquiagem no banheiro e disfarcei todos os sinais de


que algo estava errado. Bebendo uma xícara de café quente na minha mesa, li seus
e-mails e tentei tirar minha mente do mau começo desta manhã. Com a partida de
Richard, não tive vontade de fazer nada.

Talvez Richard não se importasse se eu tirasse o dia de folga, pensei. Com


aquele lampejo de inspiração, peguei meu iPhone para mandar uma mensagem
para ele. Ele receberia a mensagem após sua reunião. Com sorte, eu o pegaria
antes que a rede caísse.

Scarlet entrou pela porta dos funcionários e eu escondi meu iPhone na gaveta.

— Aí está você, Mia, — disse ela. — Como você está?


— Tudo bem, obrigada, — eu disse. — Como vai você?

Scarlet estava segurando uma pasta bege. — Richard está fora do escritório
esta semana, não é?

— Ele está em Chrysalis. — Eu tentei fingir que estava bem com isso e a
estudei com o mesmo olhar de laser que ela me encarou.

Seus cílios fortemente massacrados piscaram para mim. — Mia. — Ela


estendeu meu nome, como um ronronar.

Tomei um gole de café.

— Como vão as coisas realmente com você? — Ela disse.

— Bem.

— Hhmmm. — Ela torceu a boca como se estivesse se preparando para


discutir tudo o que acontecera esta manhã.

Richard tinha contado a ela?

— Qual seu filme favorito? — Ela perguntou.

— Hum... não tenho certeza. — Eu não via um há meses. Certamente


poderia ir ao cinema agora. Talvez eu assistisse a um filme esta tarde. Talvez eu
também fosse às compras e comprasse alguma roupa íntima nova e sexy.

— O meu é o Matrix, — ela disse. — Há uma parte no filme... — Ela fez uma
pausa. — Você viu esse?

— Sim.

— Há uma cena em que Morfeu oferece a Thomas Anderson a escolha de dois


comprimidos. Um é vermelho e o outro é azul. Você se lembra?

Eu dei um aceno de cabeça.

Eu tinha visto o filme com Bailey. Tínhamos assistido na casa dela no Netflix
algum tempo atrás. Eu achei o Keanu Reeves mais jovem particularmente gostoso
naquele casaco longo e preto. Sem surpresas Bailey tinha achado Trinity a mais
gostosa.

— Você sabe o que essas duas pílulas significam? — Ela disse.

— Tomando uma decisão?


— A pílula azul representa a ignorância abençoada contra a pílula vermelha
que permite a uma pessoa abraçar a realidade como ela realmente é. A pílula
vermelha traz uma dor angustiante e dilacerante.

Ela deve ter me visto chorando no carro.

— Se pudesse escolher, qual você escolheria? — Ela disse. — Vermelho ou


azul?

— Isso é sobre Richard? — Prendi minha respiração. — Ele me contou tudo.

Ela estreitou seu olhar. — Não.

— Cameron?

— Isso se refere a você.

— Eu?

— Qual pílula você tomaria, Mia?

Meu olhar se desviou para a pasta bege. — Fiz algo errado?

— Vermelho é minha cor favorita, — disse ela. — Eu também tendo a


enfrentar meus dragões.

— Vermelho, — eu disse. — Eu pegaria o vermelho.

Sua voz era firme e segura. — Fazemos uma pesquisa de histórico de todos
os nossos funcionários. É bastante rotineiro. É a única maneira de garantir a
contratação de funcionários responsáveis e honestos.

Uma onda de culpa tomou conta de mim... mas eu não fiz nada de errado.

— Conduzimos uma busca completa, — disse ela. — Contratamos um


detetive particular para completar o vasto corpo de informações que coletamos. —
Ela colocou a pasta sobre a mesa e pousou as unhas perfeitamente cuidadas sobre
ela. — Sua pesquisa de fundo revelou algo interessante. Richard e Cameron
decidiram que era melhor não confrontá-la com isso ainda.

Uma onda de tontura tomou conta de mim com o pensamento do que eles
encontraram.

— Achei que você gostaria de saber. Obviamente, demos várias voltas


tentando tomar a melhor decisão sobre como e quando contar a você. No final,
concordamos em discordar.

Tomei um gole de café para umedecer a boca.


— Eu não posso mais esconder isso de você, — ela disse gravemente. —
Simplesmente não posso. Cameron vai ficar puto, mas não vai me despedir. — Ela
bateu na pasta. — Estarei no meu escritório. Venha me ver quando você ler
isso. Sabíamos que você precisaria de provas quando chegasse a hora.

Quando chegasse a hora.

Scarlet me deixou sozinha com a pasta. Eu deslizei minha caneca para o lado,
com cuidado para não derramar nada. Minha mente correu com o que poderia
estar dentro. Richard, Cameron e, na verdade, todos aqui estavam escondendo um
segredo de mim.

Com a mão trêmula, peguei a pasta.


CAPÍTULO 30

O rosto dele olhou de volta para a foto.

Uma versão mais velha do homem que eu conheci como meu pai. Meu pai,
que deveria ter morrido quando eu tinha quatorze anos, mas essas fotos provaram
o contrário. Sua mandíbula forte e familiar, aquela mecha espessa de cabelo agora
sal e pimenta, e aqueles olhos castanhos intensos. Aqueles que me encararam
tantas vezes quando criança, quando eu brinquei na caixa de areia por muito
tempo ou fiz um barulho quando seu programa favorito estava passando.

De pé, com as costas pressionadas contra o portão do elevador, finalmente


recuperei o fôlego, dei aqueles poucos passos curtos de volta à minha mesa e me
sentei. Com as mãos trêmulas, procurei no arquivo evidências de que minha mãe
também pudesse estar viva. Tudo que encontrei foi seu atestado de óbito.

Em uma das fotos, meu pai estava usando um chapéu de sol e, pelo que
parecia, estava trabalhando em um rancho. Um vinhedo, aparentemente, pelas
anotações do detetive. Roscoe-Harvey Winery and Vineyards, em um local
chamado Yountville no Napa Valley. Meu pai morava a apenas algumas horas de
distância.

A papelada esclareceu como o investigador particular o localizou. Primeiro


acompanhando uma pista de que alguém estava descontando os cheques da
previdência social do meu pai. Talvez eles pensassem que tinha sido eu. O
investigador seguiu a trilha, logo localizando o homem que fugiu da minha vida
por mais de sete anos.

Na mesma foto, uma mulher de quarenta anos colhendo uvas ao lado


dele. Eles estavam se abraçando. Havia também um close-up de seus anéis de
casamento. Meu pai se casou novamente.

O pânico ficou preso na minha garganta e forçou um soluço para fora de mim.

Lorraine sabia disso o tempo todo. É por isso que ela vendeu as coisas dele e
não guardou nada. É por isso que ela não chorou. Eu precisava saber por que ela
não me contou. A bile subiu, trazendo o gosto rançoso de café.

Meu pai estava vivo.


E ele nunca tinha me procurado. Certamente ele sabia a dor que ele me
causou, o sofrimento de tentar fazer isso sem ele? Certamente ele sabia o quanto
eu o amava e precisava dele? Minha mente disparou com todas as razões pelas
quais Richard tinha escondido isso de mim. Seu próprio relacionamento rompido
com o pai influenciou sua decisão, sem dúvida.

Pegando o arquivo, corri para o elevador, ignorando o convite de Scarlet para


soluçar em seu ombro. Eu não poderia ser fraca e ineficaz. Eu precisava ver meu
pai.

Agora.

Enquanto o elevador descia, minhas pernas cederam e eu deslizei pela parede


espelhada, caindo no chão e abracei meus joelhos em meu peito.

Ainda vivo.

Enxugando as lágrimas, tentei me concentrar em dirigir.

Acelerando em direção a Chrysalis, eu sabia que Richard teria as respostas


que eu precisava. Há quanto tempo ele sabia? Ele já havia procurado meu pai? Eu
não ficaria muito em Chrysalis. Eu precisava pegar a estrada para Napa. Talvez
Richard viesse comigo. O que estava entre aqui e ver meu pai pareceu uma
eternidade.

A mansão surgiu grande no horizonte. Naveguei rápido demais pela longa


entrada de automóveis e as folhas arranharam o lado direito da minha janela e
um galho empurrou meu espelho retrovisor para trás. Chrysalis era ainda mais
intimidante à luz do dia. Estacionando mais abaixo, evitei o manobrista. Os dois
homens de plantão já estavam ocupados cumprimentando os convidados que
chegavam. Um dos manobristas carregava um conjunto de malas Louis Vitton em
um carrinho, tendo acabado de retirá-las da parte traseira de um BMW.

Sem a máquina de névoa havia uma visão mais clara do foyer. Isso me
lembrou de um hotel cinco estrelas, como o Bellagio em Las Vegas. O piso de
mármore, o teto baixo e a iluminação suave faziam tudo parecer caro. Eles até
tinham uma linda morena trabalhando atrás de uma mesa de recepção.

Richard tinha me dito que apenas milionários podiam se dar ao luxo de estar
aqui. Presumi que a mulher de trinta e poucos anos que possuía o BMW era um
deles. Ela me lembrou da Sra. Sullivan. Ela me olhou criticamente.

Ah não.

Dominic veio em minha direção. Fora aquela toga que eu o tinha visto pela
última vez e em seu lugar ele usava um terno risca de giz chamativo.
— Ora, se não é o brinquedo do diretor, — disse ele.

— Você pode conseguir Richard Booth para mim, por favor? — Eu segurei
as lágrimas.

— O que está errado? — Dominic pegou meu braço. — Vamos esconder você.

Me afastei do seu aperto. — Eu tenho que ver Richard.

— Senhor Booth está em uma reunião de diretoria. Assim como o


diretor. Venha, vamos esperar no escritório dele.

Eu me afastei de seu aperto.

— O que é isso? — Ele olhou para a pasta bege. A que eu estava segurando
no meu peito.

Ele parecia preocupado. — Posso ver?

— Por favor, diga ao Sr. Booth que preciso falar com ele imediatamente.

Ele estendeu a mão. — Me dê isto.

— Cameron está aqui? — Minhas lágrimas rolaram. — Dr. Cole?

— Oh querida, por favor, não. Temos VIPs chegando. — Ele deu um aceno
tranquilizador para a sósia da Sra. Sullivan. — Você não pode ser vista
choramingando. — Ele agarrou a pasta.

O conteúdo voou. Papéis deslizaram pelo ar e se espalharam ao nosso redor,


mostrando foto após foto de meu pai cuidando de seus negócios, prosperando em
sua nova vida e não mais se importando com aqueles que havia deixado para
trás. A única pista para sua filosofia egoísta era seu livro Ayn Rand.

Eu escapei de Chrysalis.

Dirigindo a toda velocidade em direção à autoestrada 5, mãos tremendo,


enxugando as lágrimas, eu sabia que não poderia haver outra maneira a não ser
enfrentar isso sozinha. Meu iPhone tocou, mas eu ignorei e o deixei dentro da
minha bolsa no banco do passageiro. Eu não queria falar. Ninguém entenderia isso
de qualquer maneira.

— Roscoe-Harvey Winery and Vineyards, — entoei um cântico, tendo


deixado o arquivo espalhado no ladrilho de mármore de Chrysalis.

Uma mistura de mágoa e esperança brotou dentro de mim. A sensação de


que, se eu pudesse superar essa traição, um futuro melhor realmente estava à
minha frente. Se eu aprendi alguma coisa, foi a sabedoria de permitir que os outros
se abram em seu próprio tempo e lhes dê o espaço de que precisam até que estejam
prontos para compartilhar o motivo de suas decisões. Pensar em Richard e em tudo
que ele me ensinou trouxe conforto.

Ainda sim…

Eu tinha sido traída da pior maneira pela única pessoa que deveria me
proteger desse tipo de horrores. Raiva e alívio envolveram um ao outro e era difícil
distinguir um do outro.

Uma luz azul brilhou no meu espelho retrovisor, seguida pelo som da sirene
do carro da polícia.

Ah não. Oh foda-se.

O sangue latejava em meus ouvidos. Com meu indicador aceso, naveguei por
três pistas e parei no acostamento. Apesar de querer esconder meu rosto em
minhas mãos, agi como se nada estivesse errado. Eu abaixei minha janela e
coloquei as duas mãos no volante e observei o oficial se aproximar. Meu espelho
retrovisor direito ainda estava virado para trás devido à colisão com a folhagem de
Chrysalis.

O policial se inclinou e olhou pela minha janela. — Desligue o motor, senhora.


— Ele abriu seu bloco de notas. — Carteira de motorista e registro.

Ele mal olhou para minha licença. — Mia Lauren?

— Sim.

— Saia do veículo, por favor.

— Por que?

— Saia e tranque seu veículo, por favor. Traga seus objetos de valor. — Ele
olhou para trás, para os carros em alta velocidade. — Cuidado, por favor.

Segurando meu braço direito, ele me guiou pela parte de trás do meu carro e
em direção ao seu veículo de patrulha. Sua luz ainda brilhava. Agarrando minha
bolsa em meu peito eu me encolhi; outros motoristas estavam percebendo isso. O
policial abriu a porta traseira e gesticulou para que eu entrasse. Em algum lugar
distante da minha mente, tentei me lembrar se isso era rotina. Ele não deveria me
dar uma multa e me mandar embora? Seu parceiro, um jovem oficial de rosto
gentil, virou-se no seu acento para espiar para trás.

— Seu carro será rebocado, — disse ele. — Não precisa se preocupar.

Seu colega voltou para o assento do motorista.


— Não há nada de errado com meu carro, — eu disse. — Consertei o óleo.

Eles trocaram olhares.

— Por favor, coloque o cinto de segurança, — disse o jovem oficial.

— Fiz algo errado? — Eu disse.

Decolamos suavemente e entramos na pista lenta. Os outros carros na


rodovia nos deram um amplo espaço. Abandonar meu Mini foi horrível, como se de
alguma forma eu o tivesse decepcionado.

O jovem oficial se virou e estendeu o conteúdo de um pacote de doces


amarelo. — M&M? — Ele me ofereceu um.

Meio atordoada, eu alcancei e peguei um. — Eu estava em alta velocidade?

— Sim, — disse ele, enfiando a mão no saco e colocando um doce na boca.

No console central, apareceu a foto da minha carteira de motorista. O policial


que dirigia apertou alguns botões e limpou a tela. O rádio estalou e ele respondeu
em pequenas explosões de linguagem.

O M&M estava derretendo na minha palma. Eu olhei para o pequeno


chocolate oval vermelho pegajoso.

— Qual você pegaria? — Scarlet perguntou. — Vermelho ou azul?

Eu coloquei o doce em minha boca e chupei este momento surrealista.

Nós aceleramos pelo outro lado da rodovia, indo rápido na direção oposta de
Napa Valley, e meu coração doeu com o meu fracasso em sequer sair de LA. Pensei
em ligar para Richard, mas, novamente, sua reunião poderia mantê-lo ocupado por
horas e eu não tinha certeza se realmente queria que ele soubesse disso. Embora
seu detetive particular provavelmente descobriria.

Estávamos de volta à rua agora, deslizando rapidamente pelo tráfego e


passando por lojas, casas e pedestres. Dirigimos por muito tempo e parecíamos
passar por vários condados, junto com suas delegacias de polícia. Isso foi muito
puxado. Amaldiçoei-me por não tomar mais cuidado com minha
velocidade. Dirigimo-nos para as colinas.

— Senhora, — disse o jovem oficial. — Podemos deixá-la aqui?

Tentei ler sua expressão para ver se o tinha ouvido bem. Estávamos nos
aproximando de Chrysalis. O carro deslizou pela extensa entrada de automóveis
com Chrysalis erguendo-se acima do arco da colina. Esse pesadelo giratório
prometia nunca cessar.
Dominic e Cameron estavam conversando na escada da frente da casa. Sem
o cinto de segurança, esperei o carro parar e o policial destrancar minha porta.

Eu voei para fora de lá e caminhei em direção a Cameron. — Você os enviou


para me prender?

Cameron arqueou uma sobrancelha.

— Você fez? — Eu disse.

— Ele leu seus direitos? — Ele passou por mim e se dirigiu ao carro da
polícia.

— Não, — eu disse.

— Então eles não prenderam você. — Ele cumprimentou os oficiais.

Pela maneira como Cameron falava casualmente e contava uma piada, ele os
conhecia bem. Dominic se moveu em minha direção e eu recuei, concentrando-me
na interação entre Cameron e os policiais.

— Vejo vocês no sábado. — Cameron acenou um adeus e na minha reação


acrescentou: — Eles pegam horas extras como segurança para mim. Muito
confiável, como você pode imaginar.

O carro da polícia desapareceu no caminho de aceso. Embora aliviada por não


ser mais sua passageira, minha raiva borbulhou e meus punhos se apertaram em
torno da minha bolsa, ameaçando bater em Cameron com ela. Ele me assustou
muito.

— Querida, — disse ele. — Vamos entrar.

— Eu preciso da porra do meu carro de volta, — eu disse.

Richard saiu correndo pela porta da frente e estava segurando minha


pasta. — Mia, você está bem?

— Você não tinha o direito!

— Vamos levar isso para dentro? — Disse Dominic.

— Vamos. — Cameron fez um gesto.

— Não. Eu estou indo para Napa. — Eu encarei a pasta. — Por que você não
me contou?

Cameron se aproximou. — Scarlet te contou?

Eu quebrei seu olhar.


— Scarlet, — disse Cameron, trocando um olhar severo com Richard.

— Você deveria ter me contado, — eu disse.

— Estávamos esperando a hora certa, — disse Richard.

— Você não tinha o direito de bisbilhotar minha vida privada, — eu disse. —


Invadir minha privacidade assim.

— Respire, — disse Cameron.

— Você falou com meu pai? — Meus lábios tremeram.

— Não. — disse Cameron. — Ainda não.

— Lorraine sabe? — Cobri minha boca com a mão, tentando suprimir meus
soluços. — Ele nunca morreu. Você sabia e não me contou.

Richard estendeu a mão para mim. — Acabamos de descobrir.

Eu recuei.

— Tente entender, — disse ele. — Estávamos esperando a hora certa.

— A hora certa para você, — eu disse. — Meu pai está vivo. Não estou
perdendo mais um segundo. Eu vou vê-lo agora.

— Ela está certa, — disse Cameron. — Mia, eu queria ter uma sessão com
você primeiro. Sinta como você se sentiu a respeito de tudo isso. Divulgue para
você devagar. Sinto muito que você tenha descoberto dessa forma. — Ele apertou
a mandíbula, os músculos trabalhando sua tensão.

— Eu preciso pegar seu carro emprestado, — eu disse.

— Você não está em condições de dirigir.

— Estou bem.

— Você não pode ir sozinha, — Cameron olhou para Dominic. — Você será
eu esta noite.

— Oh, que bom, — disse Dominic.

— Traga Scarlet aqui, — disse Cameron. — Ela tomará seu lugar, Richard. É
o mínimo que ela pode fazer. — Ele revirou os olhos. — Nós vamos.

— E os convidados? — Disse Dominic.


— Vou fazer uma aparição mais tarde. — Ele deu um passo mais perto de
Richard. — Vamos deixar Lotte vir conosco.

Richard mordeu o lábio pensativamente. — Boa ideia.

Cameron olhou para o relógio. — Tem certeza que quer ver seu pai hoje, Mia?

— Sim.

— Gabe Donnell não tem uma casa em Napa? — Perguntou Cameron. — Na


verdade, acho que não fica longe de Yountville.

— Uma de muitas, sim, — respondeu Richard.

— Dom, diga a Gabe que vamos aparecer, — disse Cameron. — Tenha um


carro pronto para nós quando chegarmos em sua casa.

— Entendi, — disse Dominic. — Alguma preferência?

— Traga um conversível, — disse Richard. — Mia adora conversíveis.

Atordoada, eu os segui para dentro.

Apesar de toda a atividade, não pude fazer nada além de pensar nas palavras
que diria a meu pai. Eu mal entendi o que Richard e Cameron estavam dizendo
para mim ou um para o outro. Algo sobre os preparativos para aqui. Algo sobre
notificar alguém sobre algo.

Esperar estava me matando.

Atravessamos a mansão, passando por cômodo após cômodo. Uma vez do lado
de fora, passamos pela piscina iluminada por baixo com brilhantes luzes
vermelhas na noite da festa de Chrysalis.

Richard passou o braço em volta de mim e seguimos Cameron e Lotte pelo


caminho tortuoso. Lotte estava vestida com jeans e um suéter, uma mudança
rápida do couro preto que ela usava vinte minutos atrás.

Um helicóptero prateado pousou em um heliporto.

— É um Mercedes-Benz EC145, — disse Richard. — Muito seguro.

Procurei o piloto em volta. — Nós vamos nisso?

— Sim, — disse ele.

Ele me ajudou a entrar no banco de trás. Por dentro parecia tão


impressionante com seus assentos de couro costurados e acabamento em
madeira. Este dia continuou a espiralar no reino das revelações e riscos
inesperados, deixando-me sem palavras.

Richard colocou um cinto de segurança azul em mim e me prendeu. —


Confortável?

Eu dei um aceno de cabeça, embora ainda não tivesse certeza sobre tudo isso.

Richard trotou para o lado do passageiro da frente e subiu ao lado de


Cameron. Lotte se acomodou ao meu lado. Sua mão alcançou a minha e ela
apertou. Ela me entregou um conjunto de fones de ouvido com um bocal e eu os
coloquei. Richard e Cameron já usavam seu capacete. Eu podia ouvir a voz de
Cameron no meu fone de ouvido. Ele estava conduzindo uma série de verificações
e conversando com alguém no controle de tráfego aéreo. Havia tantos botões e
luzes no painel frontal que me perguntei como ele se lembrava de todos eles. Tudo
parecia tão complicado.

— Para que serve este de novo? — Cameron apontou para o painel.

— Ele está brincando, é claro. — A voz de Richard ecoou dentro dos meus
fones de ouvido e ele se virou para olhar para mim. Ele revirou os olhos.

Eu me esforcei para não vomitar no assento de couro.

A voz de Cameron veio dos meus fones de ouvido. — Pelo que me lembro, você
apenas sacode alguns aparelhos e torce para que nada caia.

Lotte começou a rir. — Você vai calar a boca.

Cameron ligou um interruptor no teto. — Veja isso como um exercício de


construção de caráter.

— Meu personagem está muito bem, Dr. Cole, — disse Lotte.

— Ela tem razão, — disse Richard.

— Eu sou o único que pode estar certo, — disse Cameron. — Lembra daquele
memorando?

— Ah, sim, — disse Richard. — Agora me lembro. — Ele se virou para olhar
para mim novamente. — Sério, ele é o melhor piloto que conheço.

Cameron ligou os interruptores no painel frontal, disparando um zumbido


acima de nossas cabeças, espalhando folhas ao nosso redor. Um redemoinho de
poeira soprou para fora. O motor zumbia enquanto os ruídos cortavam o ar,
borrando as lâminas.
— Normalmente fico de olhos fechados durante a decolagem, — disse
Cameron ironicamente.

— Obrigado por isso, — disse Richard.

Apesar dessa aventura, havia um buraco no meu coração e um nó no


estômago que tornava difícil respirar. Sentimentos de traição surgiram junto com
aquela velha dor familiar quando a dor encontrou um lar dentro de mim
novamente. Emoções confusas e conflitantes se torceram em meu peito com o
pensamento de que logo estaria reunida com meu pai.

A gravidade me empurrou para baixo em meu assento enquanto o helicóptero


subia, inclinando para a esquerda.

A grande visão da Chrysalis encolheu abaixo.


CAPÍTULO 31

Dentro do meu coração ESTAVA a possibilidade de perdão.

Eu mal podia esperar para ver meu pai novamente. Embora também
houvesse uma agitação de algo desconhecido para o homem que me fez passar por
tanta dor. Nunca deveria ter sido assim. Eu nunca o impedi de fazer nada,
nunca. Não conseguia entender por que ele me rejeitou. Ele poderia muito bem
estar morto.

Se fosse qualquer outro dia, eu teria delirado sobre voar em um


helicóptero. Isso me fez pensar que outras habilidades Richard e Cameron
poderiam ter. Talvez até sentisse entusiasmo por visitar a região do vinho pela
primeira vez.

Tínhamos feito um pouso suave no heliporto de Gabe Donnell em


Yountville. Gabe não estava lá porque estava treinando para o jogo de
sábado. Como um dos melhores jogadores do Baltimore Ravens, ele não deveria
voltar para casa por um tempo. Sua casa era enorme, e do ar tínhamos uma boa
visão tanto de sua quadra de tênis quanto de uma piscina olímpica. Ignoramos seu
convite para sairmos por lá e simplesmente percorremos a curta distância até um
Lexus conversível à espera.

Passamos por vinhedo após vinhedo com seus exuberantes cachos de uvas
verdes e roxas espalhados sobre as vinhas que se espalhavam de cada lado de
nós. A vegetação foi uma mudança refrescante da paisagem seca de LA. O carro
aberto permitiu que esta brisa da noite nos encontrasse.

Sentada no banco de trás ao lado de Lotte, fechei minhas mãos em punhos de


nervosismo, desejando que Cameron dirigisse mais rápido. Ele se concentrou na
estrada à frente, tendo verificado a localização da vinícola antes de sairmos. Ele
dirigia com confiança, já que havia memorizado nossa rota. De vez em quando,
percebia seu sorriso tranquilizador para mim no espelho retrovisor.

Richard sentou-se ao lado dele no banco do passageiro da frente e


ocasionalmente compartilhou uma ou duas palavras com ele, mas principalmente
ficou olhando para a vista. Lotte frequentemente ofereceu um olhar de apoio e
ajudou muito a amenizar essa incerteza.

Um poço de emoções me fez suspirar.


E suspirar novamente.

Repassando as palavras que usaria para confortá-lo, jurei tranquilizar meu


pai de que não havia raiva, mas apenas alegria com nosso reencontro.

Perdão.

O amor de Richard me deu a força de que eu precisava para ver isso até o fim.

Havia tantas perguntas. Eu estava prestes a saber mais sobre meu pai do
que jamais soube, e até mesmo sobre outros parentes. Problemas sem resposta
podem ser resolvidos. Eu precisava saber o que ele fez com sua vida até agora. Eu
sabia que não seria fácil para ele ou para mim, mas no meu coração sabia que
sobreviveríamos a isso. O pensamento de seu abraço, a sensação de cair em seus
braços novamente, seria um tesouro para sempre. Fiquei maravilhada com minha
capacidade de deixar o passado ir embora. Eu acabei entendendo. Eu sabia que
iria. Com Richard ao meu lado, eu poderia enfrentar qualquer coisa. E Cameron
também, com sua notável habilidade de se comunicar com qualquer pessoa. Ele
cuidaria para que eu fosse compreendida. Ele me ajudaria a dizer as palavras que
sem dúvida sairiam confusas.

Uma placa anunciou que havíamos chegado à Roscoe-Harvey Winery e


Vineyards. Tentando acalmar meu coração acelerado e não pular de um veículo em
movimento, descansei minha mão na maçaneta da porta. Cameron diminuiu a
velocidade do carro e parou no meio do caminho. Eu saí. Uma casa em estilo rancho
era cercada por uma cerca branca. Tijolos antigos cercados por uma paisagem
exuberante de árvores denunciavam que esta propriedade estava aqui há
anos. Cem pelo menos. Havia história aqui, o tipo de família, e me perguntei como
meu pai havia encontrado este lugar.

Um ajudante do rancho se aproximou. — Você veio para a degustação de


vinhos?

— Viemos visitar o Sr. Lauren, — Cameron disse a ele. — Você pode nos
dizer onde podemos encontrá-lo?

— Você tem um compromisso?

— Nós temos, — mentiu Richard.

O homem apontou. — Bem ali.

Richard me deu um olhar bem que foi fácil.

— Mia, — disse Cameron suavemente. — Este é um momento muito


delicado.
— Eu não vou perder mais um segundo, — eu disse, me contorcendo do
abraço de Richard.

— Estaremos bem aqui, baby, ok? — Richard parecia perdido sobre o que
fazer com seus braços.

— Mia, — Lotte gritou atrás de mim. — Vá com calma com ele.

— Ligue se precisar de nós, — disse Cameron.

Comecei a viagem pelo caminho mais longo, caminhando entre as vinhas.

Minha mente procurou refúgio, voltando-se para o mundano, como que tipo
de vinho essas uvas roxas fariam. Richard amava vinho. Cameron também. Talvez
pudéssemos provar sua safra. Sem dúvida, Cameron gostaria de uma ou duas
garrafas para levar para casa.

Eu deveria ter mandado eles virem comigo.

Lá, a cerca de três metros de distância, estava meu pai. Sua mandíbula
pesada cerrada em concentração. Ele colhia uvas de uma videira, seu chapéu de
sol puxado para baixo. Ele torceu meticulosamente cada uva com um movimento
delicado, um cuidado que não me lembrava de ter visto nele.

Respirei fundo para me acalmar. — Pai.

Ele fez uma pausa, seu rosto ilegível.

— Sou eu, pai.

— Mia, — ele murmurou.

Tentei conter minha excitação neste momento que nunca sonhei ser possível,
minha alegria ameaçando encher o ar e encontrar sua liberdade.

Uma loira cinquentona apareceu. — Quem é, querido?

Seu chapéu de palha creme caiu sobre seu rosto e ela o levantou. Esta era a
mulher das fotos, suas bochechas coradas pelo sol, suas muitas linhas revelando
anos de exposição ao clima.

— Não é ninguém, — disse papai. — A garota está perdida. — Ele


apontou. — A vinícola é por ali.

Minha mente tentou raciocinar com a verdade, meus próprios pensamentos


me traindo, garantindo que ele não tinha apenas negado que me conhecia.
O nó em meu estômago apertou, trazendo consigo uma onda de tontura. A
náusea ameaçou derramar. Estendi a mão para o lado e rapidamente retirei minha
mão. Com nada além de vinhas para segurar, eu temia estragar as uvas, temia
estragar tudo.

Já estava arruinada.

— Ela parece uma criança abandonada, — sussurrou a mulher.

Com um aceno de concordância, meu pai voltou a tirar as uvas de uma videira
baixa, sua atenção voltada mais uma vez para seu trabalho delicado.

Minhas pernas me resgataram. Assumindo onde eu falhei, elas me guiaram


de volta ao longo do caminho. A viagem demorou mais na volta. Esperando por
mim ao lado do Lexus estavam Cameron, Richard e Lotte, seus rostos marcados
pela confusão.

Seguindo um caminho estável de volta para eles, eu me deixei para trás. Essa
versão inocente de mim mesma. Aquela garota boba que em minha mente se
ajoelhou, arranhando a terra, suas lágrimas encharcando o solo, suas unhas sujas,
seus gemidos alcançando este rancho e além de sua estúpida cerca de piquete
branca perfeita e suas mentiras odiosas.

Sua traição horrível.

Esta Mia, esta nova mulher do mundo, apenas fez o seu caminho com
calma. Eu segui o que Richard e Cameron me ensinaram sobre a dor, forçando-a a
se tornar uma bola para ser tratada mais tarde, manipulando-a no que eu
precisasse.

Vagamente, senti Richard envolver seus braços em volta de mim.

— Oh baby, — disse ele, enterrando o rosto no meu cabelo.

— O que ele disse? — Perguntou Lotte.

— É o que ele não disse, — disse Cameron, pousando a mão no meu ombro.

— O que aconteceu? — Disse Lotte.

— Em seu próprio tempo, — disse Cameron.

O soluço se recusou a sair do meu corpo, preferindo se estabelecer na minha


garganta e ameaçar me sufocar caso eu me movesse, falasse ou ousasse respirar.

— Vamos voltar para dentro, — disse Cameron, afastando-se e abrindo a


porta do passageiro da frente.
Richard deu um passo à frente e seu olhar varreu a vinha. — Vou falar com
ele.

Cameron agarrou seu braço.

Richard parecia desolado, como se perdesse o pai de novo naquela horrível


prisão de Nova York, a milhares de quilômetros de distância e há muito tempo.

— Entra com ela, — disse Cameron.

Richard subiu no banco de trás e Lotte sentou-se ao lado dele. O couro macio
me salvou de cair. Cameron estava sentado no banco do motorista, o rosto imóvel
e fixo na estrada à sua frente, como se também pensasse no que fazer a seguir. Ele
ligou o motor, navegando com o Lexus de volta pelo caminho.

O silêncio gritou mais alto do que eu jamais havia conhecido. Esse aperto
dolorido em torno da minha garganta roubava cada respiração, forçando uma
torção no meu peito. Apesar do ar fresco do conversível, não consegui respirar.

— Nós banimos a dor com a dor. — Veio a memória das palavras de


Cameron.

— Faça isso ir embora, — eu murmurei.

Cameron estendeu a mão e segurou minha mão.

— Por favor, — eu disse.

Ele tirou o carro da estrada e parou.

— Faça aquela coisa, — eu disse. — Leve-a embora.

— Oh, Mia, agora isso seria temporário, — disse Cameron.

— Mas vai funcionar.

— Que tal dar-lhe carinho? — Disse Richard. — Nós vamos pegar uma
bebida.

Cameron passou os dedos pelos cabelos. — Sinto muito, Mia, eu deveria ter
pensado melhor nisso.

— Não, — eu disse. — Não tem outra maneira de fazer isso.

Ele olhou para o céu.

Acariciando meu peito, temi que essa dor nunca cessasse. — Ele não me quer.
— Cameron se virou e olhou para Richard com uma expressão questionadora.
— Nós vamos conseguir um hotel. Passar a noite. Reagrupar.

— Boa ideia. — Richard olhou para Lotte. — Você está bem com isso?

— Absolutamente.

Inclinei-me para frente, a dor sufocante. — Oh Deus. Isso vai me matar.

Cameron se virou em seu assento para me encarar. — Respire


fundo. Estamos aqui. Estamos bem aqui com você.

Não havia nada além de uma dor, uma angústia, me fazendo temer que
pudesse desaparecer dentro dela. Eu puxei minha mão da dele. — Faça aquela
coisa.

— Mia, — acalmou Cameron.

— Faça isso. — Eu implorei. — Por favor, apenas faça.

— Cameron, — disse Richard. — Ajude ela.

Cameron lançou um olhar consolador na minha direção.

Richard passou os braços em volta do meu assento e em volta dos meus


ombros, agarrando meus braços em meu corpo, suas mãos agarrando meus pulsos,
me segurando pressionada para trás.

— Shhh…— acalmou Richard.

A mão de Cameron descansou na parte interna da minha coxa, assim como


ele me tocou no Chez Polidor. Seu aperto de ferro aumentou, trazendo consigo uma
dor cegante, mais do que o que ele entregou no restaurante, e um gemido rasgou
de mim. Mesmo assim, segura com firmeza nas mãos de Richard, não conseguia
me mover.

O único lugar para ir, me forçando a entrar.

Render-se…

Imersa na imobilidade, o peso em meu coração se dissipou, desceu em direção


à minha coxa, queimando intensamente em uma bola de dor e luz. Eu apertei meus
olhos fechados quando esta agonia absoluta me libertou.

A mão de Cameron se ergueu e ele desceu minha saia, voltando a segurar o


volante. — Melhor?

Minha respiração se acalmou. — Melhor.


— Nós vamos mimar você, — disse Richard, se soltando e recostando-se mais
uma vez em seu assento. — Isso não é negociável.

Cameron guiou o carro para longe do meio-fio e de volta para a estrada,


pisando fundo no acelerador e ganhando velocidade. A calma desceu quando toda
a dor se dissipou, a dor em meu coração foi embora. Eu lancei um olhar para
Cameron e ele deu um aceno de reconhecimento; ele sabia.

Eu respirei uma respiração profunda e purificadora. — Obrigada.

À medida que ganhamos velocidade, permiti que a brisa soprasse mechas de


cabelo em meu rosto e nos olhos. Eu deixei ir.

Com o vento.
CAPÍTULO 32

O Bardessono com suas cinco estrelas era o hotel mais elegante em que já me
hospedei. A decisão de Cameron de que deveríamos reservar quartos em Yountville
nos encontrou aqui. Ele nos disse que dormir sobre os eventos de hoje para tomar
a decisão certa era crucial. Então nós 'reagrupamos' cercados por todo esse luxo
rústico, não muito longe da vinha do meu pai.

A vista da nossa mesa de jantar era de tirar o fôlego. Estendendo-se para


além da varanda do nosso restaurante privado, havia uma vista espetacular das
extensas vinícolas que eram envolvidas por uma vegetação luxuriante até onde a
vista alcançava. Este foi o lugar que ajudou meu pai a me esquecer.

A mesa estava elegantemente posta com pratos de borda dourada, talheres


polidos e uma toalha de mesa branca imaculada que eu estava com medo de
derramar alguma coisa. O Chardonnay que bebemos aparentemente ganhou todos
os tipos de prêmios, incluindo um dos melhores na França, o que aparentemente
era um grande negócio.

Não que eu me importasse.

Uma bola de tristeza ficou presa na minha garganta. Eu mal toquei na minha
sopa cremosa de cenoura que Cameron tinha pedido para mim. Ele sabia que meu
apetite estava enfraquecido e isso era tudo que eu seria capaz de controlar. Eu não
tinha tocado no meu pãozinho.

Eu só queria ir para casa.

— Vou queimá-lo, — murmurei.

— O que é isso, Mia? — Perguntou Richard, com a testa franzida.

— O cartão de beisebol, — eu sussurrei.

Richard olhou para Cameron do outro lado da mesa. Ele e Lotte pararam no
meio da mordida, as mãos elegantemente posicionadas sobre os talheres. Eu os
observei comer. Eles seguravam suas facas e garfos tão graciosamente. O mesmo
aconteceu com a maneira como eles beberam a água, junto com aquele vinho
premiado, limpando suas bocas tão elegantemente com aqueles guardanapos
brancos engomados.
— Eu tenho segurado a minha de forma errada, — eu disse, gesticulando
com minha colher para a faca e o garfo de Richard.

— Venha aqui. — Richard me puxou para cima e para seu colo. — Ninguém
se preocupa com essa porcaria. Nós te amamos. Só queremos que você fique bem.

Eu me aconcheguei em seu peito e passei meus braços em volta dele. — Você


vai me ensinar? — Eu olhei para Cameron e Lotte. — Tudo o que vocês sabem
sobre tudo?

Cameron deu um sorriso gentil. — Mia, você nos ensinou. Você não vê isso? É
você quem trouxe a verdadeira beleza de volta às nossas vidas.

— Você me salvou, baby, — disse Richard, aninhando-se em meu pescoço. —


Me mostrou como amar novamente.

— Você já enfrentou tanto, — disse Cameron. — Gostaríamos de poder


tornar isso mais fácil para você.

— Seu pai está com medo, — disse Lotte. — Isso não tem nada a ver com
você.

— A verdade é gritante, — eu disse. — Não há espaço para mim em sua nova


vida. Se ele está com medo, então é com ele. — Minha mão se esticou. — Que vai
perder tudo isso.

— Quando a esposa dele descobrir que ele fingiu sua morte e fez você passar
por tudo isso, ela vai vê-lo como ele realmente é, — Lotte falou com raiva.

— Coma seu alabote25, — disse Cameron.

Ela ergueu a mão. — Eu sinto muito. Só estou tentando dizer as palavras


certas para diminuir a dor de Mia.

— Estas são circunstâncias incomuns, — disse Cameron.

— E quanto ao seu pai? — Perguntei a Lotte. — Como ele era?

Suas mãos se apertaram ao redor de sua faca e garfo. — Eu amo minha vida
agora.

Parecia que todos nós tínhamos uma coisa de pai acontecendo, e quando fiz
contato visual com Cameron, Richard e Lotte, eles também perceberam.

25 Alabote é uma espécie de peixe do pacífico.


— Mia, — disse Richard. — Estamos aqui para ajudá-la de qualquer maneira
que você precisar de nós.

Como, eu me perguntei, eu teria sobrevivido a isso sem ele.

Richard ergueu o copo bem alto. — Pelas árvores solitárias!

Cameron deu um sorriso. — Vou brindar a isso. — Ele ergueu o copo


também. — Árvores solitárias, se elas crescerem, tornam-se fortes. — Ele piscou
para mim. — Palavras de Churchill.

Eu me estiquei, pegando meu copo e bati contra o de Richard.

— Aqui está outro, — disse Richard. — Churchill foi acusado de estar bêbado
na Câmara dos Comuns. Ele respondeu à acusadora: Posso estar bêbado,
senhorita, mas pela manhã estarei sóbrio e você ainda será feia.

Eu comecei a rir. — Ele não disse isso.

— Oh sim, ele disse, — disse Richard.

— Richard disse que ele é descendente de Churchill? — Disse Lotte.

— Ele com certeza é, — disse Cameron. — Do lado de sua mãe. Ele tem
aquele mesmo olhar intenso de concentração. Mesmas orelhas.

— Você nunca me disse que tenho os mesmos ouvidos, — disse Richard.

— Esperando a hora certa, — Cameron piscou.

— Você é mesmo? — Eu disse rindo.

Richard acenou com a cabeça. — Churchill é parente de um americano. Eu


me pergunto o que os britânicos têm a dizer sobre isso?

— E eu pensei que você fosse apenas mais um fã, — eu disse.

Richard fingiu horror e caiu na gargalhada.

— Vou levá-la a Londres na próxima vez que for, — disse Richard. — Você
vai amar.

— Oh, eu adoraria. Podemos andar em um daqueles ônibus vermelhos?

— Um com andar duplo? — Ele disse. — Certo.

— Vamos fazer uma massagem pela manhã? — Disse Lotte. — Mia, você e
eu receberemos uma massagem com pedras. Por minha conta. Você já teve uma?
— Não, — eu disse. — Dói?

— Não, é maravilhoso. Eles aquecem essas pedras para deixá-las realmente


quentes e, em seguida, massageiam você com elas para cima e para baixo em seu
corpo. — Ela tremia de êxtase. — Celestial.

— Vou tentar. Obrigada.

— Que tal pedirmos sobremesa no quarto de Mia e Richard? — Disse


Cameron.

— Acho que vou para a cama, — disse Lotte. — Tem sido um longo dia.

— Estes não são profiteroles26 comuns, — disse Cameron, olhando o menu. —


Estamos falando de um ganhador de prêmios.

— O que é um profiterole? — Eu disse.

— Mesmo? — Disse Richard. — Não podemos deixar Mia passar mais um


dia sem nunca ter provado um.

Eu olhei de volta para aquela toalha de mesa branca perfeita. Nenhum de


nós havia derramado nada sobre ela. Cameron, Richard e Lotte sempre mostraram
respeito por tudo ao seu redor. Eu sabia como era sortuda por tê-los em minha
vida. Eles estavam me mostrando muito. Cada momento, cada experiência com
eles era tão emocionante. Eu voei aqui de helicóptero, pelo amor de Deus, e eu
nunca, em um milhão de anos, teria me hospedado em um hotel tão bonito como
este se não fosse por eles.

Cameron pediu o serviço de quarto.

Richard, Cameron e eu tiramos nossos sapatos e sentamos amontoados na


cama enorme em nossa suíte luxuosa. Bebemos champanhe em taças de cristal. As
bolhas subiram pelo meu nariz e era tão maravilhoso quanto provou. Entre nós
repousava uma bandeja de prata sobre a qual estava um monte de profiteroles de
chocolate com molho salpicado ao redor do prato.

— Então, esta é a sua primeira vez? — Disse Richard com uma expressão
travessa, levando um dos bolinhos à minha boca com os dedos.

O creme gotejou em meus lábios e a delícia surpreendeu minhas papilas


gustativas. Revirei meus olhos em êxtase. — Sim, eu vejo o que você está fazendo
aí, Senhor, — eu ri.

Cameron e Richard riram também.

26 Bolo em forma de pequena bola oca, cuja massa é cozida e posteriormente recheada com creme.
— Ora, não sei o que você quer dizer, — disse Richard.

Eu lhe dei um profiterole de volta para ele e seu rosto se iluminou com
êxtase. Eu dei um para Cameron também e ele lambeu o creme dos meus dedos.

— Vocês são muito decadentes, — eu disse. — O que eu vou fazer com vocês?

— Posso pensar em algumas coisas, — disse Richard.

Eu coloquei outro profiterole em sua boca e ele sorriu de alegria.

Cameron desceu da cama.

— Fique, — disse Richard. — Por favor. Queremos você aqui.

— Sim, por favor, fique, — eu disse.

Cameron parecia pensativo. — Outro profiterole? Você me deixou de braços


atados. — Ele sentou-se novamente e colocou um na boca.

Devoramos o resto da sobremesa. Depois de tirar o prato da cama e pousar


nossas taças de champanhe, desmaiamos em uma calmaria pós-açúcar. Deitada
entre Richard e Cameron, nossas cabeças alinhadas e descansando
confortavelmente nos travesseiros super macios, olhamos para o teto. Nunca me
senti mais segura.

— Amamos muito você, — disse Richard. — Você sabe disso, certo?

— Eu não sabia o que era amor até conhecer vocês, — eu disse.

Cameron pegou minha mão e a beijou.

— Como as pessoas sobrevivem? — Eu disse. — Como elas passam pela


vida?

— Assim, — disse Richard. — Juntas.

— E enchemos a cara de chocolate, — disse Cameron. — Caminhões


carregados disso.

— Eu pensei que eram apenas mulheres que amavam chocolate, — eu disse,


rindo.

Richard e Cameron engasgaram e balançaram a cabeça em desaprovação


falsa.

— Eu os amo tanto, — eu sussurrei. — Vocês dois.

— Mia, você é prova de Deus, — murmurou Richard.


Ele adormeceu primeiro. Minha mão ainda segurando com força na
dele. Logo depois que os olhos de Cameron se fecharam, seu braço direito foi jogado
sobre minha barriga. Mesmo com eles dormindo, senti seu apoio infinito, seu amor
que brilhava mais brilhante do que as estrelas que eu podia ver da janela à
esquerda.

Meus pensamentos vagaram ...

E se estabeleceram em Chrysalis e as maravilhas mais sombrias dentro de


suas paredes. A promessa de liberdade ainda a ser descoberta, voltando às
palavras de Richard …

Atualizada. Revitalizada. Renovada. Renascida.

Continua....

Você também pode gostar