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São Paulo
2012
DIEGO FERNANDES DALLA VECCHIA
LUIZ ALBERTO REGINATO
PEDRO KIM
São Paulo
2012
DIEGO FERNANDES DALLA VECCHIA
LUIZ ALBERTO REGINATO
PEDRO KIM
_____________________________________________
Orientador e Presidente: Profª. Drª. Flavia Luciane Consoni de Mello
_____________________________________________
Examinador: Prof. Dr. Roberto Carlos Bernardes
São Paulo
25 de junho de 2012
Agradecimentos
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo discutir a configuração geográfica do segmento das
montadoras de automóveis pós-abertura econômica, levando em consideração os impactos
sobre a produção e emprego do setor. Foi adotada a metodologia explicativo-descritiva,
embasada predominantemente em trabalhos acadêmicos e em dados secundários, extraídos
dos Anuários da ANFAVEA (Associação dos Fabricantes de Veículos Automotivos) e da
base de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e
Emprego. O trabalho sugere que as modificações ocorridas na geografia do setor
automobilístico, em termos de produção e emprego, ocorreram principalmente pelo fluxo de
entrada de novas fábricas deste segmento de indústria no Brasil. Contudo, a guerra fiscal
existente entre os estados e municípios da federação brasileira foi fator decisivo na difusão
destas montadoras em território nacional. Este estudo adiciona à literatura um estudo macro
sobre a distribuição de emprego e da produção do setor automobilístico entre os estados da
federação, ocorridos após a abertura econômica do país. Contribui para o entendimento das
causas da desconcentração regional e distribuição da indústria automobilística pelo território
nacional.
ABSTRACT
This research aims to discuss the geographical configuration after the country's economic
globalization automobile manufacturers segment, taking into consideration the economic impacts on
production and employment in the sector. Explanatory methodology was adopted, based
predominantly in descriptive academic papers and on secondary data, extracted from the Annuals of
ANFAVEA (Association of Automotive vehicle manufacturers) and the database of annual statement
of social information (RAIS) of the Ministry of labor and employment. The work suggests that
changes in the geography of the automotive sector, in terms of production and employment,
occurred mainly due to the inflow of new factories in this industry segment in Brazil. However, the
existing tax war between the States and the municipalities of the Brazilian Federation was a decisive
factor in the diffusion of these automakers in national territory. This study adds to the literature a
macro study on the distribution of employment and production of automobile sector between the
Member States of the Federation, occurring after the country's economic opening. Contributes to the
understanding of the causes of regional devolution and distribution of automotive industry by the
national territory.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 – Localização geográfica em 1990 das indústrias de veículos ......................... 33
FIGURA 02 – Localização geográfica em 2000 das indústrias de veículos ......................... 33
FIGURA 03 – Produção por unidade da federação – 1990, 2008, 2009 e 2010 ................... 33
FIGURA 04 – Mapa da distribuição por estado dos investimentos realizados pela indústria
automobilística ..................................................................................................................... 3
FIGURA 05 – Evolução do emprego no setor automobilístico nos anos de 1994 a 2010 .... 3
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 22
1.1 Objetivo do trabalho................................................................................................. 22
1.2 Métodos e técnicas de 2
pesquisa.................................................................................... 2
1.3 Estrutura dos 2
capítulos............................................................................................... 2
2
2 A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA DE 1915 A 1970................ 2
2.1 Estrutura econômica brasileira e as primeiras políticas de incentivo à
indústria automobilística 2
nacional.................................................................................................... 2
2.2 Governo Juscelino Kubitschek - Criação do Grupo Executivo da Indústria
Automobilística 2
(GEIA).................................................................................................... 2
2.3 Crise da década de 2
1960............................................................................................. 2
2.4 2
PAEG............................................................................................................................. 2
2
2.5 I PND (1972-1974).................................................................................................... 2
2.6 II PND (1975- 2
1979)..................................................................................................... 2
2.7 2
Proálcool........................................................................................................................ 2
6 2
CONCLUSÃO................................................................................................................. 2
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 2
. 2
12
1. INTRODUÇÃO
O início dos anos 1960 foi marcado pela instabilidade na economia do país. Ocorre a
primeira grande crise econômica da fase industrial, havendo queda nos investimentos e
declínio da taxa de crescimento da renda brasileira. A inflação disparou em alta, consequência
vinda do governo anterior, atrelado ao Plano de Metas. (GREUMAUD, 2010, p.371-384)
No período seguinte, segundo Greumaud (2010), houve grande instabilidade política
com a eleição de Jânio Quadros, tendo vice-eleito de partido o rival João Goulard (Jango),
fato este que motivou uma série de dificuldades na gestão deste governo e inúmeros conflitos.
O resultado foi a renúncia de Jânio Quadros ao seu cargo de presidente, dando lugar para que
Jango assumisse a presidência, após seu retorno do exterior sob um regime político
parlamentarista. Após o governo conturbado de Jango com o parlamento, que dificultava a
gestão pública e o desenvolvimento econômico, ocorre um golpe militar mudando a situação
política. Neste contexto, segundo a Anfavea (2006), em 1962, é inaugurada a fábrica da
Toyota em São Bernardo, SP, que por várias décadas seguidas produziu no Brasil o veículo
Bandeirante, sem modificações no seu projeto inicial.
Com a estabilidade de governo dos militares, a inflação passa a ser controlada com as
políticas monetárias. A industrialização por substituição de importações (ISI) estava
estagnada, pois cada vez mais necessitava de recursos financeiros e tecnológicos, tendo um
retorno cada vez menor. A demanda estava crescendo, mas os investimentos não eram
suficientes para viabilizar seu prosseguimento (GREUMAUD, 2010).
2.4 PAEG
O governo dos militares, caracterizada pela forma autoritária como solução das crises,
lança o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG). O PAEG visava combater a inflação,
desenvolver as regiões, aumentar investimentos e conter a dívida externa. Para cumprir suas
metas este plano tinha por proposta: reduzir o déficit público, restringir o crédito e conter a
demanda pela política salarial. Através das Reformas institucionais (Reforma Tributária,
Reforma Monetária-Financeira e Reforma da política externa), a inflação foi reduzida de 90%
a.a. para 20% a.a no período de 1964 a 1968 (GREUMAUD, 2010).
Nesta época, precisamente em 1970, a Volkswagen estende suas atividades para
Taubaté, em São Paulo. (ANFAVEA, 2006)
No período de 1968 a 1973, nos governos de Costa e Silva e Médici, houve grande
crescimento econômico, sendo chamado de “milagre econômico”. Durante este período houve
crescimento na infraestrutura, nas empresas estatais, nas demandas de bens duráveis, na
construção civil e nas exportações. (GREUMAUD, 2010)
2.5 I PND (1972-1974)
2.7 Proálcool
A partir da crise do petróleo, ocorreram mudanças nas economias do mundo todo, pois
a dependência pelo petróleo e seus derivados era muito grande. O Brasil foi um dos países
seriamente prejudicados com dificuldades de obter novas fontes alternativas. (FERREIRA,
1983).
Assim, em busca de novas soluções, o governo desenvolveu o Programa Nacional do
Álcool, em 1975, a fim de tomar medidas para substituir o petróleo e seus derivados por
fontes de energia alternativas, onde o setor agrícola foi o mais relevante por causa da
produção do álcool. Em 1979 o Programa age mais intensamente depois de outra crise do
petróleo, estando novamente a indústria automobilística envolvida. (FERREIRA, 1983)
Segundo a Anfavea (2006), em 1979 foram lançados os primeiros automóveis
brasileiros movidos a álcool. No mesmo ano, a Volkswagen inaugura a fábrica de Taubaté,
em São Paulo, lançando os seus primeiros motores a álcool.
3. MUDANÇAS NO PAÍS QUE FAVORECERAM A INDÚSTRIA
AUTOMOBILÍSTICA NA DÉCADA DE 1990
O início da década de 1990 foi marcado por grandes acontecimentos, que ocorreram
no âmbito político-econômico brasileiro, entre estes, temos a abertura econômica do mercado
que atingiu diretamente e mesmo rompeu com a hegemonia da indústria nacional. Esta
abertura permitiu, por exemplo, que produtos estrangeiros com maior qualidade fossem
oferecidos no mercado interno por um valor menor do que o produto produzido no Brasil.
A indústria automobilística instalada no país também corria risco de sucateamento,
pois o investimento realizado ao longo da década de 1980 foi baixo, graças ao fraco
desempenho econômico do Brasil no período. Para que isto não ocorresse, a câmara setorial
deste segmento (que incluía representantes das indústrias de autopeça, montadoras e
revendedores, sindicato dos metalúrgicos e governo) realizou três grandes acordos, sendo que
(ANDERSON, 1999, p.27-28):
O primeiro acordo ocorreu em 1992 e conseguiu principalmente: a redução total de
22% no valor dos veículos, incentivos à exportação, reabertura dos consórcios, criação de um
programa para o financiamento de veículos, manutenção dos empregos e mudança na data
base para acordo salarial.
O segundo acordo ocorreu em 1993 e previa: metas de produção de veículos até o ano
2000, investimento de 20 bilhões de dólares até o ano 2000 para o aumento da capacidade de
produção e modernização do setor, ampliação dos prazos dos consórcios, redução da tarifa de
IPI, redução de 10 % no valor dos veículos e aumento real de 20% nos salários.
O terceiro acordo ocorreu em 1995 e possuía as seguintes ações:
a) ações Imediatas, que são:
proibição de importação de veículos, peças, partes, componentes e pneus usados; alíquotas de
importação nos seguintes níveis: 1995 (32%); 1996 (30%); 1997(28%); 1998 (26%); 1999 (24%);
2000 (22%); 2001 (20%), com ressalva aos veículos já embarcados na data do início de vigência da
medida, aos quais ficou assegurado o desembaraço com alíquota de 20%; depreciação acelerada de
bens de capital novos, máquinas e equipamentos; regulamentação da medida provisória que desonera
de PIS e Cofins as operações de exportação; e rapidez na tramitação das solicitações de “ex-tarifários”
b) ações para sessenta dias, em que quatro grupos iriam analisar:
As alíquotas de importação de autopeças e insumos, índice de conteúdo local, investimentos,
programa de exportação direta e indireta; expansão da lista de bens de investimento novos com
isenção de IPI; expansão do financiamento da linha Finame para caminhões e ônibus; relações
trabalhistas, para tratar dos temas participação nos lucros ou resultados, emprego, manutenção do
poder aquisitivo e encargos trabalhistas.
c) ações para noventa dias, que são:
definição de política comum do regime automotivo no âmbito do Mercosul, a partir do ano
2000; o fortalecimento e ampliação dos Programas de Qualidade, Tecnologia e Produtividade;
avaliação das regras de consórcio e financiamento para veículos; financiamento para veículos e
articulação de joint-ventures no segmento de autopeças; medidas para incentivar a renovação da frota
de veículos do país; exame de medidas de incentivo ao carro a álcool; e criação de grupo de trabalho
de matérias-primas.
Nas décadas de 1950 e 1960 a região ABC de São Paulo possuía, na comparação com
as demais regiões do Brasil, a infra-estrutura ferroviária e rodoviária necessárias para abrigar
as indústrias automobilísticas que pretendiam se instalar no país. Este e o fato de esta região
possuir mão-de-obra qualificada foram os motivos que fizeram o governo central fortalecer o
processo de concentração industrial do país (ARBIX, 2002).
Com o tempo, as outras regiões brasileiras também receberam investimento em infra-
estrutura e educação, eliminando assim os empecilhos que dificultavam a instalação de
grandes indústrias nos outros estados do país.
Conforme citado anteriormente, o Brasil passou por forte reestruturação político-
econômica na década de 1990, o que favoreceu a desconcentração industrial, destacando a
indústria automobilística, do país.
Na figura 1 é possível observar que as indústrias automobilísticas, até 1990, estavam
concentradas nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
A década de 1990 foi marcada por forte disputa entre estados e municípios pelo capital
estrangeiro no país, oriundos especialmente de multinacionais do setor automobilístico. Os
governos buscavam atrair a indústria automobilística para a região que lhes competem
administrar e para isso ofereciam fartos benefícios a esta indústria (ARBIX, 2002). Segundo
Luedemann (2003) e Arbix (2002) os acordos entre os governos e montadoras raramente
tinham suas cláusulas divulgadas à sociedade civil, contudo basicamente consistiam em
(ARBIX, 2002, p.116):
a) doação de terrenos para a instalação da planta ou de grande parte dele;
b) fornecimento da infra-estrutura necessária para a preparação da área. Isso inclui, em
geral, a infra-estrutura viária e logística, mas abrange também, em vários casos, ligações
ferroviárias e desenvolvimento de terminais portuários;
c) isenção de impostos estaduais e locais por períodos não inferiores a dez anos. O
mesmo vale para as taxas locais. Em vários casos, o acordo inclui a isenção de impostos na
importação de peças e veículos;
d) concessão de empréstimos pelo Estado (por meio de órgãos ou bancos estatais) a
taxas muito inferiores às do mercado;
e) uma séria de cauções e garantias estatais, financeiras e legais;
f) uma série de benefícios adicionais, que variam de acordo para acordo, envolvendo
desde fornecimento de transporte público aos trabalhadores e creches para seus filhos a
diversas medidas ambientais.
O estado do Paraná foi um dos primeiros a iniciar a guerra fiscal. Seu governo, para
atrair os investimentos da Renault, doou 2,5 milhões de m² de área, prometeu providenciar a
infra-estrutura e logística necessária para o funcionamento da fábrica e uma área exclusiva
para a montadora no porto de Paranaguá. Além disto, também garantiu o fornecimento de
energia elétrica 25% inferior ao mercado, 40% do capital investido seriam de
responsabilidade do governo do Paraná e a Renault teria isenção de imposto por um prazo de
dez anos (ARBIX, 2002).
Os benefícios oferecidos pelo governo do Rio Grande do Sul às montadoras também
ganharam destaque entre os mais vantajosos, como exemplo temos a proposta feita à General
Motors. Estava previsto US$ 310 milhões de empréstimos oficiais a taxa de 6% ao ano,
isenção de imposto de 15 anos, e o estado teria que fornecer infra-estrutura, transporte público
para a fábrica, subsidiar as tarifas dos serviços de luz, água, sistema de telecomunicação e gás
natural, além de construir um porto privado para esta empresa com um canal marítimo de
acesso (ARBIX, 2002).
A Ford recebeu uma proposta similar do governo gaúcho, porém o novo governador
do estado percebeu que a situação financeira do estado impediria que este acordo fosse
cumprido, assim tentou renegociar a oferta com a montadora norte-americana. Neste período
o governador da Bahia já estava articulando-se para levar esta empresa a seu estado e tinha a
seu favor os benefícios do Regime Automotivo Diferenciado. Como os benefícios oferecidos
pela Bahia eram melhores do que aqueles oferecidos pelos gaúchos, a Ford resolveu montar
sua nova fábrica em Camaçari na Bahia (ARBIX, 2002).
A tabela 1 indica os benefícios cedidos pelos estados e municípios às grandes
montadoras.
Empresa - Município Benefícios, incentivos e renúncia fiscal dos governos municipal, estadual e
(UF) federal
Honda - Sumaré (SP) O Governo do Estado e do Município ofereceram; isenção de IPTU, por dez
anos para montadora e fornecedores; isenção de ISS por prazo de dez anos;
financiamento de capital de giro e obras de infraestrutura (Isto É, 12/5/1997;
Gazeta Mercantil, 08/12/1998); o terreno foi adquirido pela empresa em
1974 (Gazeta Mercantil, 08/12/1998).
Mitsubishi - Catalão Benefícios fiscais e tributários da MP de 1995, para as regiões Norte,
(GO) Nordeste e Centro-Oeste; infraestrutura: vias de acesso, cabos de fibra ótica,
eletricidade e saneamento básico.
PSA Peugeot-Citroën Financiamento do BNDES de US$ 600 milhões a US$ 700 milhões (US$
- Porto Real (RJ) 300 milhões apenas para a Peugeot, os demais para os fornecedores);
Governo do estado comprou 35% de ações inalienáveis por 15 anos; o
Governo do Rio de Janeiro subsidiou US$ 300 milhões do empréstimo do
BNDES para a Peugeot, incorporando US$ 50 milhões, ou seja, o Governo
do estado e o BNDES financiaram quase 70% do investimento da Peugeot e
o Governo do estado assumiu 35% do capital da empresa (22/01/1998); Porto
Real se emancipou durante a "guerra fiscal" para a escolha da localização da
VW Caminhões.
Tabela 1 - Incentivos, benefícios fiscais e financeiros às montadoras durante a “Guerra Fria”
VW - São Carlos (SP) O Município gastou R$ 20 milhões para a instalação de fábrica de motores da
VW na cidade; doação de terreno (R$ 4,38); criação de vila industrial; gastos
de aproximadamente R$ 15 milhões em infraestrutura (OESP,7 e 8/5/1996); o
Município de São Carlos está a 244 Km de São Paulo, possui fácil acesso às
rodovias Anhanguera e Washington Luiz. Também comporta duas
universidades públicas (Universidade de São Paulo e Universidade Federal de
São Carlos), que desenvolvem pesquisas em áreas de interesse da indústria
automobilística, como por exemplo, em resistência de materiais e novos
materiais.
Ford/Camaçari No impasse, a Ford saiu vencedora, inclusive com o apoio do "custo Bahia",
(BA) criado pelo senador do PFL pela Bahia, Antonio Carlos Magalhães, que criou
condições políticas para a adoção de uma Medida Provisória, a MP 1.916, de
29/7/99, que viabilizasse a instalação da Ford em Camaçari. O prejuízo da
Ford, na ordem de US$ 585 por unidade no mercado interno e US$ 305 para
exportação, além de um custo adicional de US$ 280 para a importação e
revenda. Ou seja, para cada carro produzido a sociedade paga um adicional de
quase US$ 600, além de custear quase US$ 300 por carro que a empresa
exportar e quase US$ 300 por veículo para a empresa importar e vender para
os brasileiros. Mas os incentivos não pararam nisso, a Ford de Camaçari tem
acesso a R$ 180 milhões do BNDES, com IPI de 6,8% (diferente do IPI de
10% das demais regiões), entre outros favorecimentos que não vieram a
público (OESP, 21/7/99); renuncia fiscal estimada pelo Governo: R$ 180
milhões/ano, com redução de arrecadação de IPI (na MP original a Ford
obteria o direito de uso de US$ 7 bilhões em incentivo fiscal, em 10 anos,
tendo reduzido para R$ 1,8 bilhão); financiamento do BNDES: R$ 700
milhões para a montadora e R$ 680 milhões disponível para os fornecedores,
juros de financiamento de 2% ao ano, com taxa de juros de longo prazo de
aproximadamente 1% a 3%; cálculos da Receita Federal avaliaram que:
"produzir um automóvel na Bahia é vende-lo"; (SMABC/Subseção Dieese,
jul/1999).
Chrysler/Campo Com capacidade de produzir 40 mil picapes Dodge, a empresa não alcançou
Largo (PR) (fechou 15% da capacidade em dois anos de produção no Paraná. A Chrysler de
em 2002) Campo Largo (PR) fechou em janeiro de 2002, bem como a fábrica de
Córdoba, na Argentina; os incentivos e benefícios recebidos foram os
mesmos relatados nos casos da Renault e VW/Audi. O Governo do Paraná
requereu da montadora a devolução: R$ 110 milhões em ICMS não recolhido,
indenização pelos benefícios em infraestrutura de energia e saneamento; a
prefeitura de Campo Largo gastou com: subsídio para compra de 1 milhão de
m², isenção do pagamento do ISS e IPTU por cinco anos; (Carleial et al.,
2002).
Tabela 1 - Incentivos, benefícios fiscais e financeiros às montadoras durante a “Guerra Fria”
Renault/São José dos Financiamento com valor ancorado no faturamento da empresa em parcelas
Pinhais (PR) mensais por 10 anos e reembolso em parcela única dos 120 meses sem juros
ou correção monetária; Governo estadual auxiliará na obtenção de recursos
junto ao BNDES, aquisição de bens de capital e ferramentas de outros
estados isento de ICMS; ICMS diferenciado para aquisição de matérias
primas e peças de outros estados; acesso 100% dos créditos de ICMS
acumulados de toda Renault, benefícios tributários somente para
fornecedores instalados no Paraná; isenção do IPTU e ISS por 10 anos,
doação de terreno com área não inferior a 2,5 milhões de m²; aquisição de
ações nominativas preferenciais sem direito a voto; cabe ao Governo
estadual sobrescrever 40% de qualquer aumento de capital sob a forma de
ações B, por 7 anos até alcançar US$ 300 milhões; o ICMS será usado como
capital de giro por 4 anos; Governo do estado e do município são
responsáveis por: obras de infraestrutura e abastecimento. Exceto das
instalações da planta, capital sobrescrito de US$ 2,7 bilhões; o Governo pôs
a disposição da Renault um pátio no porto de Paranaguá, ramal ferroviário
interligando a planta ao tronco ferroviário do estado, abastecimento e
saneamento, linhas de transporte urbano; (Carleial, et al.,2002).
4.4 Investimentos
Neste tópico são demonstrados os investimentos que ocorreram nos anos 1990 e 2000.
Comparações serão feitas de modo que seja perceptível a variação deste investimento no
decorrer dos períodos.
Primeiramente, o período anterior será citado de forma a tornar perceptível a evolução
do setor automotivo, dando relevância ao significado econômico e estrutural que o setor
proporciona no país. A tabela 2 reflete os investimentos realizados nos anos 1980.
Tabela 2 - Investimentos realizados nos anos 1980.
INVESTIMENTOS
ANO
(EM MILHÕES DE US$)
1980 489
1981 645
1982 530
1983 373
1984 293
1985 478
1986 526
1987 580
1988 572
1989 602
Fonte: Anfavea, 2011, p.42
No caso dos anos 1980 nota-se que o total dos investimentos girou em torno de US$5
bilhões na década. Neste período os investimentos são de baixo índice em comparação às
próximas décadas, variando em torno de 400 a 600 milhões de dólares, e sem apresentar
grandes oscilações. Esta relativa estabilidade é explicada pelo cenário de estagnação pelo
qual passou a economia brasileira.
Já no período seguinte, na década de 1990, verificam-se grandes mudanças no setor
automobilístico, conforme já descritos nos Capítulos anteriores, que foram impulsionadas pela
abertura econômica no país, revelando um cenário totalmente oposto àquele vivenciado pela
indústria automobilística durante os anos 1980, conhecida como a “Década Perdida”. Assim,
houve crescimento de investimento estrangeiro direto das montadoras na indústria
automotiva. Esse salto, segundo Consoni (2004), se deve à mudança do ambiente econômico
ocorrido nesse período, com a abertura econômica e a estabilização inflacionária e monetária,
viabilizando a entrada de empresas estrangeiras no país, conforme demonstrado na tabela 3.
Tabela 3 - Investimentos realizados nos anos 1990
ANO INVESTIMENTOS
(EM MILHÕES DE US$)
1990 790
1991 880
1992 908
1993 886
1994 1195
1995 1694
1996 2359
1997 2092
1998 2335
1999 1791
Fonte: Anfavea, 2011, p.42
Tabela 5 – Investimentos realizados pela indústria automobilística na implantação de novas plantas fabris.
Investimento Início das
Empresa (produto) (Milhões de US$) Município/UF operações
Daimler-
Chrysler(automóveis) 400 Juiz de fora 1999
Ford
(automóveis e
comerciais leves) 1300 Camaçari/BH 2000
GM
(automóveis) 600 Gravataí/RS 1999
Honda
(automóveis) 150 Sumaré/SP 1997
Land São Bernado do
Rover/Karmann-Ghia 150 Campo/SP 1998
MMC
Mitsubishi (picapes) 35 Catalão/GO 1998
Peougeot/Citroen -
PSA(automóveis) 600 Porto Real/RJ 2001
Renault (automóveis) 1000 São José dos Pinhais/PR 1998
Nissan/Renault São José dos Pinhais/PR 2001
Toyota (automóveis) 150 Indaiatuba/SP 1998
Troller n.d. Horizonte/CE 1998
VW-Audi
(automóveis) 750 São José dos Pinhais/PR 1999
Fonte: Luedemann, 2003, p.201
Com base na figura 4, vemos a proporção dos investimentos nas suas respectivas
regiões e Estados. Percebemos que o Estado do Paraná obteve mais investimentos em
comparação a outras regiões demarcadas, enquanto os Estados de Goiás, onde foi instalada a
MMC Mitsubishi, e do Ceará, onde a Troller se instalou e mais tarde foi comprada pela Ford,
são os menos favorecidos.
5. EVOLUÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO DO EMPREGO NO SETOR
AUTOMOBILÍSTICO
Esta seção busca analisar como tem se dado a evolução dos postos de trabalho no setor
automobilístico brasileiro, especificamente considerando a dimensão geográfica. Para realizar
esta análise, utilizamos de dados secundários obtidos a partir de processamentos realizados
diretamente no banco de dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), para o
período compreendido entre os anos de 1994 até o ano de 2010. Conforme a seção de
metodologia já demonstrou, a RAIS representa apenas os vínculos de emprego formal. Para a
identificação do setor econômico representado pela indústria automobilística, foi selecionada
a opção CNAE 95 por grupo com os vínculos empregatícios ativos na data de 31 de dezembro
de cada ano selecionado, como por exemplo, o ano inicial da pesquisa (1994).
A opção CNAE 95 por grupo fornece cinco seções, quais sejam:
a) fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários (Grupo 341);
b) fabricação de caminhões e ônibus (Grupo 342);
c) fabricação de cabines, carrocerias e reboques (Grupo 343);
d) fabricação de peças e assessórios para veículos automotores (Grupo 344);
e) recondicionamento ou recuperação de motores para veículos (Grupo 345).
Considerando que esta última CNAE, de recondicionamento ou recuperação de
motores, refere-se a uma atividade de prestação de serviços não vinculada diretamente aos
empregos diretos gerados pela indústria automobilística, a decisão foi por exclui-la dos nossos
processamentos, tendo em vista que este setor de atividades pouco corrobora com nosso
objetivo de pesquisa.
O gráfico a seguir demonstra a evolução do emprego formal do setor: nota-se que no
ano de 1994, estas quatro seções da CNAE anteriormente mencionadas geravam 277.568
postos de trabalho formal; no ano de 2010, este número se elevou para 466.595 postos de
trabalho, um aumento de 68,10%.
Figura 5 – Evolução do emprego no setor automobilístico nos anos de 1994 a 2010
Figura 7 – Evolução do emprego no setor de auto peças nos anos de 1994 a 2010
A extração de dados da RAIS, que foi empregada para gerar os dados para avaliar a
evolução do emprego no setor, foi utilizada para demonstrar a descentralização do emprego
no período de 1994 a 2010.
As figuras 8, 9 e 10 demonstram a descentralização da região sudeste, que em 1994
era responsável por 86,31% do total dos vínculos de empregos no grupo CNAE 95 e passou a
ter 73,71% em 2010; entre as outras regiões, destaque para o crescimento evidenciado pela
região sul, que passou de 11,56% em 1994 para 21,76% em 2010.
Podemos perceber que no período de 1994 a 2010 houve uma mudança geográfica
significativa promovida pela entrada de novas empresas no setor, como Nissan e Renault (no
Sul), Peugeot-Citroën (no Sudeste), Hyundai e Mitsubishi (no Centro Oeste), juntamente com
a ampliação de empresas que já atuavam no país como GM e Volkswagen (no Sul), FIAT (no
Sudeste) e Ford (no Nordeste). Essa alteração também recebeu forte influência pela disputa
dos estados e municípios para a instalação dessas empresas em suas regiões.
Nesse período, foram feitos investimentos de US$ 30,806 bilhões no setor
automobilístico onde identificamos um aumento na capacidade na fabricação. No entanto,
esse aumento não gerou um incremento considerável de empregos no setor de fabricação de
automóveis, caminhonetas e utilitários, demonstrando que os investimentos realizados
promoveram a automação e informatização dos pátios fabris.
A região Sul recebeu grande parte dos investimentos realizados, além dela, as regiões
Nordeste e Centro Oeste receberam incentivos e começaram a fazer parte do cenário
automobilístico nacional, em especial a região Nordeste com a instalação da Ford na Bahia.
Essa descentralização também promoveu a expansão das fábricas de autopeças, que
muitas vezes criavam clusters nas regiões que as montadoras se instalavam, como foi no caso
da Ford e da Renault. Esse aumento provocou um considerável crescimento no emprego no
setor de autopeças, que teve um salto de 111% de 1994 a 2010.
CONCLUSÃO
O objetivo principal desta pesquisa foi investigar de que forma o ingresso de novas
montadoras de automóveis no Brasil, especificamente no pós anos 1990, têm influenciado na
distribuição geográfica do setor em termos da produção de automóveis e de empregos gerados
em relação aos estados da federação.
Este estudo buscou identificar os fatores que influenciaram na concentração da
indústria automobilística nos estados do sudeste, especialmente São Paulo, durante o processo
de industrialização iniciado antes da década de 1990, e os fatores que influenciaram na
dispersão destas indústrias pelo território nacional, durante e depois desta década.
Como base para esta monografia, utilizamos duas metodologias: uma revisão teórica a
partir de consulta a diversos trabalhos acadêmicos focados no estudo da indústria
automobilística no país; e uma análise a partir de dados secundários, para identificar as
tendências quanto a modificações na geografia e no emprego do setor, com especial destaque
para a base de informações da Anfavea e da base de dados da RAIS.
Percebemos que ao longo do século 20, as indústrias automobilísticas ficaram
concentradas no estado de São Paulo, que possuía a infraestrutura básica (oriunda da logística
utilizada para o transporte do café produzido na região) necessária para suportar este tipo de
indústria.
No governo Getúlio Vargas, a fraca indústria nascente no país ganhou forças graças a
políticas governamentais que estimulavam a produção e comercialização de produtos
nacionais.
Por mais que algumas indústrias tivessem sido implantadas fora do estado de São
Paulo, não houve a preocupação clara deste governo em difundir esta indústria pelo território
nacional.
O governo de Juscelino Kubitschek também não tinha como foco principal a
descentralização da indústria brasileira, porém realizou políticas essenciais para a
consolidação da indústria automobilística no Brasil, especialmente concentrada na região do
ABC Paulista, além de começar a investir na infraestrutura brasileira, fundamentalmente em:
energia, transporte, alimentação, educação e indústria de base.
Crises políticas e econômicas se formam em consequência pelo excesso de
investimentos do governo de JK. No final da década 1960 ocorre o golpe militar, estipulando
medidas para controlar as taxas inflacionárias e o desenvolvimento de indústrias e
infraestrutura do país. O foco então passou a ser colocar metas para sair da dependência dos
produtos importados, com a implementação das políticas da ISI, assim havendo o “Milagre
econômico”(1968 a 1973).
Em 1975 foi criado o projeto do Proálcool, em resposta a crise do petróleo, principal
matéria-prima fonte de energia. E em 1976 a Fiat monta sua fábrica no estado de Minas
Gerais; era a primeira vez que uma montadora de automóveis se estabelecia no Brasil, porém
não mais na região do ABC paulista. Esta concentração, no que concerne à produção de
automóveis, se manteve nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, até o ano de 1990.
Na década de 1990, após a abertura econômica brasileira e as medidas que se
sucederam, com o Plano Real, de estabilização da economia, provou fortes mudanças neste
cenário. Neste período, com a estabilização econômica do país, este passou a ganhar prestígio
em relação aos outros países da região sul-americana e, após a criação do regime automotivo,
começou a atrair o investimento das indústrias automobilísticas mundiais. Neste contexto,
entra em cena a guerra fiscal entre os estados e municípios da federação, onde eram
oferecidos fartos benefícios para as empresas montadoras de veículos com o intuito de atrair o
investimento destas para as regiões administrada por estes estados e municípios.
Constatamos que a difusão das indústrias automobilísticas do segmento de automóveis
pelo território nacional ocorreu em detrimento de uma política industrial coordenada e
orientada pelo Estado brasileiro. Ao contrário, a tônica deste movimento deveu-se
principalmente a prática da “Guerra Fiscal” existente entre os estados e municípios da
federação, que buscavam o investimento das indústrias automobilísticas que queriam instalar
suas fábricas ou ampliar sua capacidade produtiva no país.
Além disso, o desenvolvimento do país, que acarretou na diminuição dos problemas
educacionais e de infraestrutura, e o elevado salário e sindicalismo existentes nos centros
industriais, em especial na região do ABC paulista, influenciou na busca das indústrias
automobilísticas por outras regiões (ARBIX,2002).
O ingresso de novas montadoras de automóveis no país e a propagação destas por
vários estados da federação influenciaram diretamente na distribuição geográfica do setor, em
termos percentuais de produção e empregos.
Não obstante todas estas mudanças, a região Sudeste ainda se mantém como a mais
importante região do país em termos de produção de veículos e empregabilidade do setor. Ela
responder em 2010 por cerca de 75,5% da produção total de veículos segundo dados da
Anfavea, e por 73,71% dos vínculos empregatícios do setor no país, segundo dados da RAIS.
REFERÊNCIAS
GREMAUD, A.P. Economia Brasileira Contemporânea, 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.