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Mais do que qualquer outra autoridade em negócios do mundo, Masaaki Imai tem defendido
o conceito de kaizen ao longo das últimas três décadas, em pensamento, palavra e ação. Imai
é considerado um dos líderes do movimento de qualidade e pioneiro na moderna excelência
operacional em negócios. Ele é conferencista internacional, consultor e fundador do Kai-
zen Institute, empresa de consultoria líder em melhoria contínua com escritórios em todo o
mundo. O primeiro livro de Imai, Kaizen, que foi traduzido em 14 idiomas, é referência sobre
o assunto. Gemba Kaizen continua de onde Kaizen parou, apresentando aplicações do mundo
real dos métodos de melhoria contínua em processos de produção e serviços empresariais. A
segunda edição foi totalmente revisada e traz novos estudos de caso, capítulos atualizados e
referências atuais. Em 2010, Imai foi homenageado por sua vida de realizações com o Fello-
wship of the Quality Council of India, o mais distinto organismo de qualidade do governo
da Índia.
CDU 005.61
Revisão técnica:
Altair Flamarion Klippel
Doutor em Engenharia pela PPGEM/UFRGS
Sócio-consultor da Produttare Consultores Associados
Coordenação e supervisão:
José Antonio Valle Antunes Junior (Junico Antunes)
Doutor em Administração de Empresas pela PPGA/UFRGS
Professor de Mestrado e Doutorado em Administração da Unisinos
Sócio-diretor da Produttare Consultores Associados
Versão impressa
desta obra: 2014
2014
Original edition copyright © 2012, The McGraw-Hill Global Education Holdings, LLC,
New York, New York 10020. All rights reserved.
Editoração: Techbooks
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Meus dois livros, Kaizen: The Key to Japan’s Competitive Success (McGraw
– Hill, 1986) e Gemba Kaizen: A Commonsense, Low-Cost Approach to Ma-
nagement (McGraw-Hill, 1997) lançou as bases para a exploração do kaizen
como filosofia pessoal e sistema de melhoria de negócios para as pessoas
fora do Japão. Inicialmente compreendido como um conjunto de métodos,
como controle da qualidade total, manutenção produtiva total, gerencia-
mento just-in-time, círculos de qualidade e sistemas de sugestões, o Oci-
dente está cada vez mais perto de compreender o kaizen como ele realmente
é: uma estratégia para vencer por meio da transformação das pessoas em
solucionadores de problemas.
A segunda edição do Gemba Kaizen revela como o kaizen se difundiu
para todos os continentes e culturas, encarou vários desafios e demonstrou o
seu sucesso. Gemba significa “lugar real” ou “local de trabalho” em japonês,
e este livro mostra a você mais de trinta lugares reais onde o kaizen tornou-
-se, com sucesso, parte da cultura. O livro explica como usar uma aborda-
gem de bom senso e baixo custo para a gestão do local de trabalho – o lugar
onde o valor é agregado ‒, seja esse lugar uma linha de produção, hospital,
departamento do governo, centro comercial, aeroporto ou empresa de en-
genharia. Este não é um livro de teoria, mas um livro de ação. Sua mensa-
gem final é: não importa quanto conhecimento o leitor pode receber, esse
conhecimento é inútil se não for colocado em prática diariamente. Gemba
Kaizen não fornece mais conhecimento teórico, mas um simples quadro de
referência para usar na resolução de problemas. Para essa finalidade, ele for-
nece diversas listas de verificação, exemplos e estudos de caso.
A primeira edição do Gemba Kaizen nasceu após dez anos de ensino do kai-
zen, com a publicação do meu livro Kaizen: The Key to Japan’s Competitive
Success, em 1986. A segunda edição do Gemba Kaizen chega quinze anos
após a publicação original, e muita coisa mudou no mundo. Tive a sorte de
ver o efeito transformador do kaizen em pessoas e organizações em todo o
mundo ao longo das últimas três décadas.
Gostaria de expressar meu reconhecimento e agradecimento a todos que
se dedicaram ao kaizen. Os diversos casos e explicações do kaizen que estão
documentados nesta segunda edição são fruto dos vários funcionários, enge-
nheiros, administradores, enfermeiros, agentes, gerentes e profissionais que
praticam a melhoria contínua e estiveram envolvidos no gemba kaizen nas
sedes de nossos clientes em todo o mundo. Este livro é, de fato, o resultado do
esforço em equipe, da colaboração e do espírito kaizen no trabalho.
Gostaria de agradecer as pessoas que ajudaram na redação dos casos da
primeira edição deste livro. Entre essas pessoas, estão Kevin Meyer da Spe-
cialty Silicone e Arthur Byrne da J.W. Childs, Inc., Iwao Sumoge da Densho
Engineering, João Paulo Oliveira da Bosch, Natacha Muro e Fernando Co-
letti da La Buenos Aires, Nestor Herrerra da Molinos Rio de la Plata, Gary
Buchanan e Valerie Oberle da Disney University, Darla Hastings da Quality
Inc., Shoji Shiratori da Aisin Seiki e Yutaka Mori da Toyoda Automatic Loom
Works, além de Yoshikazu Sano e Katsuo Inoue da Toyoda Machine Works.
Além daqueles cujos nomes aparecem no livro, sinto especial gratidão
pelo professor Zenjiro Sawada da Kurume University, que foi minha inspi-
ração para a gestão da casa do gemba com seu livro Visual Control of Factory
Management (publicado em inglês em 1991 pela Nikkan Kogyo Shinbun);
Ichiro Majima, reitor da Faculty of Business Administration da Miyazaki
Sangyo Keiei University, que forneceu informações valiosas para este livro;
os consultores de Kaizen Kenji Takahashi, Yukio Kakiuchi e muitos outros
que trabalharam junto com a gente mostrando o Gemba Kaizen em sedes de
clientes em todo o mundo.
Mais uma vez sou profundamente grato aos meus colegas do Kaizen
Institute, pois seu trabalho tornou possível fazer colocar as ideias dos meus
livros em prática. Quero agradecer a todos aqueles que lideraram os esforços
para documentar as suas experiências e as historias de nossos clientes, entre
os quais Antônio Costa, Daniel Simões, Vinod Grover, Sebastian Reimer,
Jayanth Murthy, Bruno Fabiano, David Lu, Mike Wroblewski, Julien Bratu,
Jefferson Escobar, Aakash Borse, Chris Schrandt, John Verhees, Wijbrand
Medendorp, Brad Schmidt, Ruy Cortez, Alexandra Caramalho e Euclides
Coimbra. Agradeço a Jon Miller por gerenciar o projeto deste livro.
Devo agradecer a Jacob Stoller, da StollerStrategies, por trazer suas ha-
bilidade editoriais, jornalísticas e criativas, que foram essenciais para a con-
clusão deste projeto.
Quero agradecer a minha esposa, Noriko, pela paciência e pela compa-
nhia nas minhas viagens pelo mundo; também agradeço àqueles que con-
tribuíram para a realização deste livro, em particular Patty Wallenburg, da
TypeWriting, pela composição, e, da McGraw-Hill, Pamela Pelton e David
Fogarty, pela produção, Judy Bass, que forneceu a faísca para transformar
a segunda edição deste livro em realidade, e Philip Ruppel, presidente da
McGraw-Hill Professional e McGraw-Hill Education, sem o qual o livro ori-
ginal jamais teria sido escrito.
Capítulo 4 Padrões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Manter e melhorar os padrões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Padrões operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Principais características dos padrões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Toyoda Machine Works . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
A história kaizen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
A metodologia TBP (Toyota Business Practice):
a história de resolução de problemas padrão na Toyota . . . . . 57
Kaizen e padrões internacionais de qualidade. . . . . . . . . . . . . . . 60
Capítulo 6 Muda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Muda de superprodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Muda de estoque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Muda de produtos defeituosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Muda de movimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Muda de processamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Muda de espera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Muda de transporte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Muda de tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Como classificar o muda no setor de serviços. . . . . . . . . . . . . . . 85
Muda, Mura, Muri. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Mura (variação) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
Muri (sobrecarga) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
A remoção do muda em organizações do setor público . . . . . . 88
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 379
Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 387
Apresentação do kaizen
Desde 1986, quando o livro Kaizen: The Key to Japan’s Competitive Success
foi publicado, o termo kaizen passou a ser aceito como um dos conceitos-
-chave de gestão. Na primeira década do século XXI, quando a Toyota Mo-
tor Company superou a General Motors para se tornar a principal fabricante
de automóveis do mundo, a consciência da diferença fundamental feita pelo
kaizen no sucesso da Toyota também aumentou.
Hoje, organizações em todo o mundo, de indústrias a hospitais, de ban-
cos a desenvolvedoras de software e governos, estão fazendo a diferença ao
adotar filosofias, mentalidades e metodologias do kaizen. Mesmo que seus
nomes tenham mudado ao longo das décadas – de melhoria contínua da
qualidade a gestão da qualidade total, de just-in-time e excelência operacio-
nal a Seis Sigma e manufatura enxuta ‒, a maior parte dessas estratégias de
sucesso tem foco no cliente, são orientadas pelo gemba e conduzidas pelo
kaizen.
A edição de 1993 do dicionário de inglês New Shorter Oxford reconhe-
ceu kaizen* como palavra da língua inglesa. O dicionário define kaizen
como a “melhoria contínua das práticas de trabalho, eficiência de pessoal,
entre outras, como uma filosofia de negócios”. Os leitores que não estão fa-
miliarizados com o kaizen podem considerar útil começar com um breve
resumo dos conceitos do kaizen. Para aqueles que já estão familiarizados
com o kaizen, este capítulo pode servir como uma revisão.
Em japonês, kaizen significa “melhoria contínua”. A palavra implica me-
lhoria que envolve a todos, gerentes e funcionários, e exige relativamente
pouca despesa. A filosofia kaizen pressupõe que o nosso modo de vida – seja
* O Kaizen Institute AG tem direito exclusivo de uso do kaizen® e do gemba kaizen® como
marcas registradas em alguns países do mundo.
S Kaizen e gestão
S Processos X resultados
S Seguir os ciclos planejar-executar-verificar-agir (PDCA)/padronizar-
-executar-verificar-agir (SDCA)
S Colocar a qualidade em primeiro lugar
S Falar com os dados
S O próximo processo é o cliente
Como apresentação, a alta administração deve estabelecer uma política
muito cuidadosa e clara. Em seguida, deve estabelecer um cronograma de
implementação e demonstrar liderança por meio da prática do procedimen-
to kaizen dentro de suas próprias fileiras.
Kaizen e gestão
No contexto do kaizen, a gestão tem duas funções principais: manutenção e
melhoria (ver Figura 1.1). Manutenção refere-se a atividades voltadas para
a manutenção dos padrões tecnológicos, gerenciais e operacionais atuais e o
suporte a esses padrões por meio de treinamento e disciplina. No âmbito da
sua função de manutenção, a gestão executa suas tarefas para que todos pos-
sam seguir os procedimentos operacionais padrão (POPs). Melhoria, por
sua vez, refere-se a atividades voltadas para elevar os padrões atuais. A visão
japonesa de gestão, portanto, resume-se a um preceito: manter e melhorar
os padrões.
Como mostra a Figura 1.2, a melhoria pode ser classificada como kaizen
ou inovação. Kaizen significa pequenas melhorias como resultado de esforços
contínuos. A inovação envolve uma melhoria drástica como resultado de um
grande investimento de recursos em tecnologia ou equipamento novos. (Sem-
Alta administração
Administração
intermediária Melhoria
Supervisores Manutenção
Funcionários
Administração
intermediária Kaizen
Supervisores Manutenção
Funcionários
pre que o dinheiro for um fator-chave, a inovação custará caro.) Por causa de
seu fascínio pela inovação, os gestores ocidentais tendem a ser impacientes
e subestimar os benefícios de longo prazo que o kaizen pode proporcionar a
uma empresa.
Kaizen, por outro lado, destaca esforços humanos, moral, comunicação,
treinamento, trabalho em equipe, participação e autodisciplina – uma abor-
dagem de bom senso e baixo custo para a melhoria.
Processos X resultados
O kaizen estimula o pensamento orientado para processos porque os
processos devem ser melhorados para que os resultados também me-
lhorem. A falha na obtenção dos resultados previstos indica uma falha
no processo. A gestão deve identificar e corrigir esses erros baseados em
processos. O kaizen se concentra em esforços humanos – uma orientação
que contrasta fortemente com o pensamento baseado em resultados do
Ocidente.
A abordagem orientada por processos também deve ser aplicada na
adoção de várias estratégias de kaizen: o ciclo planejar-executar-verificar-
-agir (PDCA); o ciclo padronizar-executar-verificar-agir (SDCA); qualida-
de, custo e entrega (QCD); gestão da qualidade total (TQM); just-in-time
(JIT); e manutenção produtiva total (TPM). As estratégias kaizen não foram
bem sucedidas em diversas empresas porque elas simplesmente ignoraram
o processo. O elemento mais importante no processo do kaizen é o compro-
misso e o envolvimento da alta administração. Isso deve ser demonstrado
imediatamente e de modo consistente para garantir o sucesso no processo
do kaizen.
Melhoria
Agir Planejar
A P
C D
Verificar Executar
Manutenção
Agir Padronizar
A S
C D
Verificar Executar
S Implementação da política
S Um sistema de sugestões
S Atividades em pequenos grupos
Implementação da política
Embora a estratégia de kaizen vise a realizar melhorias, seu impacto pode ser
limitado, se todo mundo estiver envolvido no kaizen somente por causa do
próprio kaizen, sem qualquer objetivo. A administração deve estabelecer me-
tas claras para orientar a todos e certificar-se de fornecer liderança para todas
as atividades de kaizen voltadas a atingir metas. A estratégia de kaizen real no
trabalho exige uma implementação supervisionada de perto. Este processo é
chamado de implementação da política, ou, em japonês, hoshin kanri.
Em primeiro lugar, a alta administração deve definir uma estratégia de
longo prazo, dividida em estratégias de médio prazo e anuais. A alta ad-
ministração deve ter uma estratégia para implementação do plano, enca-
minhando-a aos níveis seguintes de gestão, até que ela chegue ao chão de
fábrica. À medida que a estratégia se divida e alcance os escalões inferiores,
o plano deverá incluir cada vez mais planos e atividades especificação. Por
exemplo, uma declaração da política que diga “Devemos reduzir o nosso
custo em 10% para continuarmos competitivos” pode ser traduzida no chão
de fábrica em atividades como aumento da produtividade, redução de in-
ventário e refugos e melhorias nas configurações de linha de produção.
O kaizen sem uma meta seria como uma viagem sem destino. O kaizen
é mais eficaz quando todos trabalham para alcançar um objetivo – e cabe à
gestão defini-lo.
O sistema de sugestões
O sistema de sugestões funciona como parte integrante do kaizen orientado
ao indivíduo e enfatiza os benefícios da dinamização do moral oriundos
da participação positiva dos funcionários. Os gerentes japoneses conside-
ram seu papel principal o de despertar o interesse dos funcionários pelo
kaizen, incentivando-os a dar muitas sugestões, não importa quão pequenas
possam ser. Os funcionários japoneses frequentemente são encorajados a
explicar suas sugestões verbalmente aos supervisores e colocá-las em ação
imediatamente, mesmo antes de enviar os formulários de sugestões. Eles
não esperam receber grandes benefícios econômicos de cada sugestão. O
desenvolvimento de funcionários com espírito kaizen e autodisciplina é o
principal objetivo. Essa perspectiva contrasta com a ênfase da administra-
ção ocidental em benefícios econômicos e incentivos financeiros dos siste-
mas de sugestões.
Gemba Kaizen
determinar se a empresa era boa ou não. Se, em sua conversa com o gerente
japonês, ele ouvia a palavra kaizen nos primeiros cinco minutos e a palavra
gemba nos primeiros dez minutos, chegava à conclusão de que aquela era
uma boa empresa. O exemplo de Bokern mostra que kaizen e gemba são
assuntos que tocam os corações dos gerentes e que muitas vezes eles tomam
decisões com base na compreensão que têm de seu gemba.
Todas as empresas praticam três principais atividades diretamente rela-
cionadas com o lucro: desenvolver, produzir e vender. Sem essas atividades,
não é possível que uma empresa exista. Assim, em sentido lato, gemba signi-
fica os locais dessas três atividades principais.
Em contexto mais restrito, no entanto, gemba significa o local onde os
produtos ou serviços são criados. Este livro vai usar a palavra no contexto
mais restrito, porque esses locais são uma das áreas de negócio mais negli-
genciadas pela administração. Os gestores parecem ignorar o local de tra-
balho como meio de gerar receita e costumam colocar muito mais ênfase
em setores como gestão financeira, marketing e vendas e desenvolvimento
de produtos. Quando a administração se concentra no gemba, ou locais de
trabalho, descobre oportunidades para tornar a empresa muito mais bem
sucedida e rentável.
Em diversos setores de serviços, gemba é onde os clientes entram em
contato com os serviços oferecidos. No setor hoteleiro, por exemplo, o gem-
ba está em toda parte: no hall de entrada, no restaurante, quartos de hóspe-
des, recepção, balcões de check-in e na portaria. Nos bancos, os caixas es-
tão trabalhando no gemba, assim como os gerentes de crédito que recebem
clientes. O mesmo vale para os funcionários que trabalham nos escritórios
e telefonistas em frente às centrais de ramais. Desse modo, o gemba abrange
uma amplitude de funções de escritório e administrativas. A maioria dos de-
partamentos dessas empresas de serviços tem clientes internos com os quais
estabelece atividades departamentais, o que também representa o gemba.
Um telefonema para um gerente geral, gerente de produção ou gerente de
qualidade em uma fábrica japonesa provavelmente receberá como resposta
do assistente desse gerente algo no sentido de que “ele está no gemba”.
Gemba e gestão
No ou pelo gemba, o valor que satisfaz o cliente é agregado ao produto ou ser-
viço, o que permite à empresa sobreviver e prosperar. A Figura 2. 1 coloca o
gemba no topo da organização, mostrando a sua importância para a empresa.
Gemba
Expectativas Satisfação
do cliente do cliente
Gestão
do apoio
Figura 2.1 Neste ponto de vista das relações entre gemba e gestão, o papel da
gestão é dar apoio ao gemba, que está situado no topo da estrutura de gestão.
Assim, o impulso para a melhoria deve ser tanto de baixo para cima
quanto de cima para baixo. Na Figura 2. 2, a gestão permanece no topo da
organização. Ela toma a iniciativa no estabelecimento de políticas, metas e
prioridades e na alocação de recursos, como mão de obra e dinheiro. Neste
modelo, a administração deve exercer a liderança e determinar o tipo de
kaizen mais urgente. Este processo de alcançar os objetivos corporativos é
chamado de implementação da política. Por causa de sua ligação com a rela-
ção entre gemba e gestão mostrada no triângulo normal (Figura 2.2), muitos
gestores tendem a acreditar que o seu trabalho é sempre dizer ao gemba o
que fazer. No entanto, ao olhar para o triângulo invertido (Figura 2.1), que
mostra o gemba no topo, os gestores podem perceber que deveriam ouvir e
aprender com os funcionários do gemba, a fim de prestar o auxílio neces-
sário. O gemba se torna a fonte para a obtenção de melhorias de bom senso
e baixo custo.
As respectivas funções de gestão e gemba nestes dois modelos não de-
vem ser confundidas. O professor-adjunto Takeshi Kawase, da Universidade
de Keio, escreve em Solving Industrial Engineering Problems (publicado pela
Nikkan Kogyo Shinbun, em japonês, em 1995):
As pessoas em uma companhia podem ser divididas em dois grupos:
aquelas que ganham dinheiro e as que não ganham. Apenas as pessoas
da linha de frente que desenvolvem, produzem e vendem produtos estão
gerando dinheiro para a empresa. A empresa ideal deve ter apenas uma
pessoa que não ganha dinheiro – o presidente –, deixando o resto dos
empregados envolvidos diretamente na atividade de geração de receita.
Gestão
do controle
Expectativas Satisfação
do cliente do cliente
Gemba
Figura 2.2 Neste ponto de vista das relações entre gemba e gestão, o papel da
gestão é administrar o gemba por meio do fornecimento de políticas e recursos.
As pessoas que não fazem dinheiro são aquelas que se acomodam sobre
os que fazem dinheiro – todos os funcionários com títulos como chefe, di-
retor ou gerente, incluindo o presidente e as equipes, abrangendo áreas que
incluem pessoal, finanças, publicidade, qualidade e engenharia industrial.
Não importa o duro que essas pessoas possam dar, elas não geram dinheiro
diretamente para a empresa. Por esta razão, é melhor denominá-las “depen-
dentes”. Se os geradores de dinheiro pararem por um segundo, as chances de
a empresa fazer dinheiro cessarão pelo mesmo tempo.
O problema é que os assalariados que não geram dinheiro muitas vezes
pensam que sabem mais e são mais qualificados do que os que geram di-
nheiro. Não raro, tornam o trabalho dos geradores de dinheiro uma tarefa
mais difícil. Os assalariados que não geram dinheiro podem pensar: “Sem
nós, eles não podem sobreviver”, quando deveriam estar pensando: “O que
podemos fazer para ajudá-los a fazer o seu trabalho de um modo melhor
sem a gente?”
Se dizemos que “o cliente é rei”, devemos dizer que “o gemba é Buda”.
Historicamente, a equipe corporativa desempenhou um papel de liderança
no que diz respeito ao gemba. A equipe era responsável por alcançar maior
eficiência, dando orientação para o pessoal do gemba seguir. A desvantagem
deste sistema é a separação entre aqueles que passam as orientações e aque-
les que as executam. A nova abordagem deve ser o que poderíamos chamar
de uma abordagem centrada no gemba, em que o gemba seja responsável
não apenas pela produção, mas também pela qualidade, custo e auxílio ao
pessoal a partir de observações. A seguir estão as condições para o sucesso
da implementação da abordagem centrada no gemba:
A gestão do gemba deve aceitar a responsabilidade na obtenção da qua-
lidade, custo e entrega (QCD).
S O gemba deve ter margem de manobra suficiente para o kaizen.
S A administração deve estabelecer a meta para o gemba alcançar, mas
deve ser responsável pelo resultado. (Além disso, a administração deve
auxiliar o gemba em atingir a meta.)
S As necessidades do gemba são mais facilmente identificadas pelas pes-
soas que lá trabalham.
S Alguém envolvido está sempre pensando em todos os tipos de proble-
mas e soluções.
S A resistência à mudança diminui.
S O ajuste continuo torna-se uma possibilidade.
S Soluções com um pé na realidade podem ser alcançadas.
A casa do gemba
Diariamente, ocorrem duas importantes atividades no gemba em matéria
de gestão de recursos: manutenção e kaizen. A primeira refere-se a seguir os
padrões existentes e manter o status quo; a segunda diz respeito à melhoria
desses padrões. Os gestores do gemba se envolvem em uma ou outra dessas
duas funções, e a qualidade, custo e entrega (QCD) são o resultado.
A Figura 2.3 mostra uma visão panorâmica das atividades que ocorrem
no gemba para obtenção do QCD. A empresa que produz produtos ou servi-
ços de qualidade a um preço razoável e os fornecem no prazo satisfaz os seus
clientes, que, por sua vez, permanecem fiéis. (Para obter uma explicação
mais detalhada sobre o QCD, consulte o Capítulo 3.)
Padronização
Para efetuar o QCD, a empresa deve gerenciar diversos recursos de manei-
ra apropriada diariamente. Esses recursos incluem pessoal, informações,
equipamentos e materiais. A gestão diária eficiente de recursos exige a
observância de normas. Sempre que surgem problemas ou irregularida-
des, o gerente deve investigar, identificar a causa raiz e revisar as normas
existentes ou implementar novas normas para impedir a reincidência. As
normas tornam-se parte integrante do gemba kaizen e formam a base para
a melhoria diária.
Aplicado corretamente, o kaizen pode melhorar a qualidade, reduzir
custos consideravelmente e atender aos requisitos de entrega de seus clien-
tes sem investimentos expressivos ou a adoção de novas tecnologias. As três
principais atividades do kaizen – padronização, 5S (que abrange diversas
Gestão
do lucro
Atividades Produtos
Informações Equipamentos
de funcionários e materiais
Padronização
5S (boa limpeza)
Eliminação do muda
Eliminação do muda
Muda significa “desperdício” em japonês, mas as conotações da palavra
incluem qualquer aspecto ou qualquer atividade que não agrega valor. No
gemba, há apenas dois tipos de atividades: atividades que agregam valor e
as que não o fazem. Um trabalhador que fica olhando para uma máqui-
na automática enquanto essa máquina processa uma peça não agrega valor
algum. Somente a máquina realiza a tarefa que agrega valor, não importa
o nível de atenção e simpatia com que o trabalhador possa olhar para ela.
Quando um engenheiro de manutenção caminha uma longa distância com
uma ferramenta na mão, ele não está adicionando qualquer valor. O valor é
agregado por meio do uso da ferramenta para consertar, manter ou confi-
gurar a máquina.
Os clientes não pagam por atividades que não agregam valor. Por que,
então, tantas pessoas no gemba se envolvem em atividades que não resultam
em valor agregado?
Certa vez, um gerente de fábrica mediu a distância percorrida por um
funcionário no gemba durante um ano e descobriu que correspondia a 400
quilômetros. Correr para manter a forma é algo que deve ser feito na acade-
mia, não no gemba! Ironicamente, algumas fábricas contam com academias
que têm pistas de corrida, mas os trabalhadores passam mais tempo cami-
nhando no gemba durante as horas de trabalho do que na academia em seu
horário livre.
Uma vez, quando estava no aeroporto Dallas-Fort Worth, no Texas, eu
precisava de um endosso em minha passagem a fim de mudar para outra
companhia aérea. Depois de ficar na fila do balcão por alguns minutos, che-
gou a minha vez, e fui informado de que tinha que ir até outro balcão, em
outro terminal, para receber o endosso. Tive de tomar um ônibus até o outro
terminal, pois a distância entre eles no Dallas-Fort Worth é enorme (um
grande muda, em termos de kaizen!). No balcão de lá, fiquei na fila de novo
por vários minutos. Quando chegou minha vez, o funcionário da empresa
carimbou meu bilhete com um estrondo e disse: “Aqui está, senhor!” Eu me
perguntei: “Será que mereço esperar quase meia hora para isso?” Em que
momento aquilo valeu a pena para mim? Bum! Aquele foi o momento da
verdade, até onde pude observar. Quando uma empresa do setor de serviços
opera de forma ineficiente, não apenas desperdiça os próprios recursos, mas
também rouba o valioso tempo do cliente.
Qualquer trabalho que acontece no gemba é, na realidade, uma série de
processos. Supondo que sejam cem processos – desde o recebimento de ma-
tinha de aprender alguma coisa aqui, mas ele não me ensina nada. Será que
ele quer mostrar o seu poder? Que tipo de treinamento é esse?” Antes que
Kristianto ficasse completamente desapontado, porém, o supervisor voltou
e o levou até a sala de reunião.
Lá, Kristianto teve de descrever o que havia observado. Fizeram-lhe per-
guntas específicas, como “o que você viu lá?” e “o que você pensa sobre esse
processo?” Kristianto não foi capaz de responder a maioria das perguntas.
Ele percebeu que havia deixado de registrar diversos pontos vitais para suas
observações.
O supervisor explicou pacientemente a Kristianto os pontos que ele não
tinha conseguido responder por meio de desenhos e esboços em uma folha
de papel, para que ele pudesse descrever os processos de forma mais clara
e precisa. Naquele momento, Kristianto entendeu a profunda compreensão
que seu mentor tinha do processo e percebeu a própria ignorância.
De modo vagaroso, mas seguro, tornou-se claro para Kristianto: O gem-
ba é a fonte de todas as informações. Em seguida, seu mentor disse que para
se qualificar como um trabalhador da Toyota, é preciso amar o gemba, e
que cada funcionário acredita que o gemba é o lugar mais importante da
empresa.
Kristianto afirma que “definitivamente, foi o melhor treinamento que já
tive, porque me ajudou a tornar-me verdadeiramente um homem do gemba,
e esse pensamento gemba me influenciou ao longo da minha carreira. Mes-
mo hoje, cada vez que vejo um problema, minha mente imediatamente grita
em alto e bom som: Vá primeiro até o gemba e dê uma olhada!”
Este é um método comum de treinamento no gemba japonês. Deve-se a
Taiichi Ohno o desenvolvimento do Sistema Toyota de Produção. Quando
Ohno notava um supervisor desligado das realidades do gemba, ele levava o
supervisor até a fábrica e desenhava um círculo, no qual o supervisor ficava
até se dar conta. Ohno também incentivava os gestores a visitar o gemba. Ele
dizia: “Vá ao gemba todos os dias. E quando for, não gaste a sola do sapato
em vão. Você deve voltar com pelo menos uma noção do kaizen”.
Quando deu início à adoção dos conceitos just-in-time na Toyota, Ohno
encontrou resistência de todos os lados. Uma fonte de forte oposição era do
setor financeiro da empresa, onde o pessoal acreditava apenas em relatórios
financeiros e muitas vezes não dava apoio à alocação de recursos para o
kaizen relacionado ao gemba, pois isso nem sempre dava resultados finan-
ceiros imediatos. Para atenuar essa oposição, Ohno pedia aos contadores
para irem até a fábrica. Ele lhes dizia para gastar dois pares de sapatos por
ano em caminhadas ao redor do local, observando como inventário, eficiên-
“Quando vou até o gemba”, disse, “não fico apenas olhando ao redor
para ver quantos clientes temos, se as mercadorias estão sendo mostradas
corretamente, quais são os produtos mais, e assim por diante, mas também
verifico o teto e olho para o chão para ver se há algo irregular. Andar pelo
gemba e ficar olhando só para frente é algo que qualquer gerente pode
fazer, sabe?”
Um lugar que definitivamente não é o gemba é a mesa do gerente. Quan-
do um gerente toma uma decisão em sua mesa com base em dados, ele não
está no gemba, e a fonte da informação original deve ser examinada com
cuidado.
Um exemplo pode mostrar isso. Por causa de seu terreno vulcânico, o
Japão tem diversas estações termais. A atração principal do spas é o banho
ao ar livre (rotemburo), que os hóspedes podem aproveitar enquanto desfru-
tam da vista de rios ou montanhas. Recentemente, passei vários dias em um
grande hotel de termas que tinha uma piscina coberta e banho ao ar livre.
A maioria dos hóspedes primeiramente se banhava na piscina coberta e,
em seguida, se encaminhava até o rotemburo. Normalmente eu encontrava
cerca de metade dos hóspedes em cada lugar. Uma noite, vi que a piscina
coberta estava quase vazia. Quando entrei, descobri o motivo: a água estava
quente demais. Consequentemente, o rotemburo, onde a temperatura estava
boa, estava lotado.
Era óbvio que alguma coisa estava errada com a piscina coberta. Uma
funcionária que levava toalhas adicionais e limpava a piscina aparentemente
não tinha notado nada de errado. Quando mencionei o problema, ela rapi-
damente deu um telefonema e a temperatura voltou ao normal.
Mais tarde, falei sobre o incidente com o gerente geral do hotel, amigo
meu. Ele me disse que a temperatura da piscina coberta estava ajustada para
42,5 graus Celsius e a do banho ao ar livre para 43 graus Celsius. Então, ele
me explicou: “Temos uma sala de monitoramento, onde nosso engenheiro
mantém estreita vigilância das temperaturas das piscinas, da temperatura
ambiente, alarmes de incêndio, etc. Toda vez que percebe algo anormal nos
medidores, ele deve realizar uma ação corretiva”.
Para isso, respondi: “Errado! A pessoa que observa os medidores está
apenas confiando em informações secundárias. As informações sobre as
piscinas são coletadas em primeiro lugar pelo termômetro submerso e, em
seguida, transferidas para a sala de monitoramento por um dispositivo ele-
tromecânico, que move o indicador no gráfico. Qualquer coisa pode sair er-
rado nesse processo. A realidade no gemba é que, naquela hora do dia, havia
pouquíssimas pessoas na piscina coberta, e se a funcionária da limpeza ti-
vesse sido treinada para ser mais atenta, ela poderia ter percebido a situação,
colocado a mão na água e descoberto que estava muito quente.
“A informação que você recebe diretamente do gemba”, disse eu ao meu
amigo, “é a mais confiável. A sensação da água quente que você nota com a
mão é a realidade. Muitas vezes, você não precisa nem comprovar os dados
quando está no gemba, porque o que você sente e vê são os dados originais!
As pessoas no gemba devem ser responsáveis pela qualidade, porque estão
em contato com a realidade o tempo todo. Elas estão mais bem equipadas
para garantir a qualidade do que a pessoa na sala de monitoramento!”
O dr. Kaoru Ishikawa, um dos gurus da gestão da qualidade no Japão,
costumava dizer: “Quando você vê dados, duvide... [deles]! Quando você vê
medições, duvide delas!” Ele sabia que muitos dados são coletados na em-
presa para agradar ao chefe e que as medições frequentemente são feitas ou
registradas de modo incorreto pelos dispositivos. Na melhor das hipóteses,
medições são apenas informações secundárias que nem sempre refletem as
condições reais.
Muitos gerentes ocidentais tendem a escolher não visitar o gemba. Eles
podem até sentir orgulho em não ir ao local e não saber muito sobre ele.
Recentemente, ao ouvir do presidente de uma empresa que ele jamais havia
visitado a fábrica, sugeri que ele fizesse isso de vez em quando. Ele respon-
deu: “Minha informação é em engenharia, e sei como ler e interpretar da-
dos. Desse modo, posso tomar boas decisões com base nos dados. Por que
iria até a fábrica?”
Em outra fábrica que visitei, disseram-me que sempre que os figurões
vinham da sede da empresa para uma visita, os gerentes seniores tinham
de passar horas a fio na sala de conferências respondendo perguntas para
gestores que não entendiam o que estava acontecendo no gemba e que mui-
tas vezes deixavam instruções inadequadas. “Estaríamos muito melhor sem
essas reuniões”, contaram-me os gerentes da fábrica.
A opinião dos gerentes da fábrica sobre as reuniões mostram o enor-
me fosso entre a alta administração e o local de trabalho, um problema
que pode tornar uma empresa incapaz de lidar com o desperdício interno
e a concorrência externa. Esta atitude da administração geralmente esti-
mula desrespeito semelhante dos funcionários.
Verifique o gembutsu
Gembutsu, em japonês, significa “algo físico ou tangível”. No contexto do
gemba, o termo pode referir-se a uma máquina quebrada, um refugo, uma
Se uma máquina para, ela deve ser religada imediatamente. O show pre-
cisa continuar. Às vezes, chutar a máquina dá certo! No entanto, medidas
temporárias tratam apenas dos sintomas, não da causa raiz das paradas da
máquina. É por isso que você precisa verificar o gembutsu e continuar a fa-
zer a “por quê?” até identificar as causas do problema.
Determinação e autodisciplina jamais impedem o esforço de kaizen na
terceira etapa (contramedidas temporárias). Essas medidas persistem até a
fase seguinte, identificando a causa real do problema e agindo.
Encontre a causa-raiz
Muitos problemas podem ser resolvidos com extrema rapidez por meio da
utilização dos princípios gemba-gembutsu e do bom senso. Com uma boa
olhada no gembutsu no lugar do problema e determinação para identificar
as causas raiz, vários problemas relacionados ao gemba podem ser resolvi-
dos no local e em tempo real. Outros problemas exigem preparação e plane-
jamento consideráveis para a resolução; exemplos incluem algumas dificul-
dades de engenharia ou a adoção de novas tecnologias ou sistemas. Nestes
casos, os gerentes precisam coletar dados de todos os ângulos e também
podem precisar valer-se de algumas sofisticadas ferramentas de resolução
de problemas.
Por exemplo, se pedaços de metal caindo sobre uma esteira transpor-
tadora estão causando interrupções, um aviso temporário ou uma capa
podem ser feitos com papelão no local. Uma vez que a eficácia do novo
método tenha sido confirmada, pode-se instalar um dispositivo de metal
permanente. Uma modificação desse tipo pode ser feita em algumas horas
ou, certamente, dentro de um dia ou dois. As oportunidades para realizar
mudanças assim são numerosas no gemba, e um dos ensinamentos mais
populares do gemba kaizen é: “Faça isso agora. Faça imediatamente!”
Infelizmente, muitos gestores acreditam que é preciso fazer um estudo
detalhado de cada situação antes de implementar qualquer kaizen. Na rea-
lidade, cerca de 90% de todos os problemas no gemba podem ser resolvidos
de imediato se os gestores enxergarem o problema e insistirem para que ele
seja tratado no local. Os supervisores precisam de treinamento sobre como
empregar o kaizen e qual o papel que devem desempenhar.
Uma das ferramentas mais úteis para encontrar a causa-raiz no gemba é
ficar perguntando “por quê?” até que a causa-raiz seja encontrada. Este pro-
cesso é muitas vezes chamado de cinco porquês, porque é bem provável que
ao se fazer a pergunta “por quê?” cinco vezes a causa raiz seja descoberta.
Muitas vezes, como neste caso, ao fazer a pergunta “por quê?” cinco
vezes podemos identificar a causa-raiz e tomar uma contramedida, como
substituir o revestimento de borracha por um de metal para impedir o va-
zamento de óleo de uma vez por todas. Claro que, dependendo da comple-
xidade do problema, a pergunta “por quê?” pode ter de ser feita mais ou
menos vezes. No entanto, tenho notado que as pessoas tendem a olhar para
um problema (neste caso, o óleo no chão) e chegar à conclusão de que jogar
serragem nele vai resolver tudo.
mesas, cada uma ocupada por um executivo da empresa. “Antes”, diz Gior-
gio “sempre que eu queria marcar uma reunião com os gerentes, tinha de
verificar quem estava e quem não estava presente. Agora, basta olha em vol-
ta para saber. Aí eu dou um grito: ‘Ei, vamos para a sala de reunião discutir
um assunto! Sem muda!”
Este arranjo de pessoal da empresa também oferece outras vantagens.
Na entrada do andar da administração há duas pequenas salas: a sala da
telefonista e o departamento de pessoal. Na parede desta, há janela, que
permite à telefonista ver facilmente quem está presente e saber quem não
está. E com os funcionários precisam passar pelo departamento de pessoal
sempre que tem negócios a tratar no andar da administração, ficou mais
fácil para eles entrar em contato com o pessoal do setor para discutir as-
suntos de interesse.
Afirma Tony Puglio, ex-gerente do departamento de etiquetagem da
Giorgio Foods: “Cinco anos atrás, eu passava muito tempo no meu es-
critório em meio à papelada. Achava que tinha todas as respostas e que
podia fazer tudo sozinho. Agora descobri que podemos fazer a diferença
através de nossas atividades de kaizen, como reuniões do círculo de qua-
lidade e ouvindo sugestões de funcionários, indo até o local do trabalho,
passando mais tempo ali, prestando atenção a todo e qualquer problema
e corrigindo-o. Descobri que meus funcionários têm grandes talentos –
habilidades artísticas e práticas – que eu não sabia que eles tinham. Eles
próprios foram capazes de fazer o kaizen funcionar e fazer a diferença na
linha de produção
“Gasto cerca de 90% do meu tempo no chão da fábrica, o que me per-
mite ver os problemas dos trabalhadores”, continua Puglio. “Antes, quando
vinham até o escritório e me contavam seus problemas, eu os ouvia, mas
não fazia muito a respeito. Não percebia que trabalhávamos daquele jeito
por anos e anos, e achei que estava tudo bem. Mas não estava. Ao ir até
o chão da fábrica, pude ver de verdade do que os funcionários estavam
falando.
“Agora percebo que todo mundo está se esforçando um pouco mais.
Eles estão animados e também orgulhosos de seus departamentos. Eles
estão mantendo tudo em ordem e no lugar, e tudo está muito mais limpo.
O local de trabalho tem ótima aparência, e quando as pessoas chegam,
querem estar ali, no trabalho. Elas se sentem bem consigo mesmas. Elas
parecem bem e se sentem assim. Percebem que essas mudanças estão fun-
cionando e fazendo a diferença, fazendo com que suas tarefas fiquem um
pouco mais fáceis”.
que os faxes fossem entregues aos hóspedes (padronização) para evitar dis-
cussões sobre se um hóspede recebeu ou não um fax. Examinar e chegar a
um acordo sobre os novos procedimentos provavelmente não levaria mais
de meia hora (esta é a essência do “vá para o gemba e faça isso imediatamen-
te”). O procedimento combinado seria então seguido consistentemente. De
acordo com possíveis problemas ou queixas dos hóspedes, o procedimento
poderia ser aprimorado para que o modo como as mensagens de fax do ho-
tel são tratadas pudesse ser melhorado ao longo do tempo.
Qualidade, custo e
entrega no gemba
Gerente de
Centro de Grupo de Planejamento Padrão relacionado
Depto. de Serviço de inspeção,
Mercado/ projeto do planeja- Depto. de produção e r/PSNBTFSFHVMBNFOUPT
divisão
consumidor de P&D
produção e Depto. de controle Conferências
depto. de mento de Engenharia de
aquisição da qualidade ( ) Documentos
Etapa vendas produtos produção
(FB10) r3FHSBTEFEFTFOWPMWJNFOUPEFQSPEVUP
Plano de 5 anos para desenvolvimento de novo produto
(1) Manual de planejamento geral de produto
(2) Conferência de
(FB1, 5, 10)
desenvolvimento (2) Relatório de planejamento geral de produto
Finalização do planejamento de produto 1
de novo produto
FB1
Revisão e aprovação do planejamento de produto 1 Conferência de
desenvolvimento
RP1 r.BOVBMEFSFWJTÈPEFQSPKFUP
(4) FB3
Avaliação de projeto de protótipo
RP2 e 3
(6)
(FB4, 11) (6) Relatório sobre resultado de experimentos
Preparações para produção experimental de protótipo
r.BOVBMTPCSFQSFQBSBÉÈPEFSFTVMUBEPEF
protótipo
FB4
Avaliação dos experimentos com protótipo RP4
de vendas
&TUSBUJàDBÉÈPEF (7) Tabela de garantia da qualidade
FTQFDJàDBÉ×FTF
mecanismos e (7) (FB6, 10, 11) (8) Tabela de revisão de projeto
Início de Emissão do Previsão de
Projeto de produção
FB7
Aquisição (12) Tabela de inspeção
(auditoria interna das atividades de garantia da qualidade)
(12)
Produção, FB8 (13) Manual de assistência e manutenção
inspeção contínua
(13)
Período Embalagem, remessa, instalação, período experimental, FB9
-JTUBEFWFSJàDBÉÈPEFTBUJTGBÉÈPEPDMJFOUF
experimental assistência à entrega do produto, orientações de operação
r.BOVBMTPCSFBUFOEJNFOUPEFEFWPMVÉ×FTEP
Atendimento ao cliente
cliente
(14)
r.BOVBMTPCSFBUFOEJNFOUPEFQSPCMFNBTEF
Assistência, pesquisa de satisfação do cliente, atendimento FB10
qualidade registrados
de reclamações, prevenção da recorrência
r1BESÈPEFQSPKFUPEFGFSSBNFOUBTEF
máquina Toyoda
FB11 r1BESÈPEFGBCSJDBÉÈPEFGFSSBNFOUBTEF
Padronização de tecnologia patenteada máquina Toyoda
r.BOVBMTPCSFSFBMJ[BÉÈPEFJOTQFÉÈPEF
Auditoriae
qualidade
r.BOVBMTPCSFSFBMJ[BÉÈPEFBVEJUPSJBJOUFSOB
de qualidade
Revisão da qualidade (manutenção e melhoria da qualidade do produto)
*Refere-se ao planejamento de produto de acordo com o ponto de vista de atender às necessidades do cliente.
** Refere-se ao planejamento de produto de acordo com o ponto de vista de fabricar o produto.
tas. Pode-se dizer que este diagrama mostra todas as etapas fundamentais da
qualidade do processo. Lendo-se de cima para baixo, a figura mostra o fluxo
de atividades a partir da identificação das necessidades dos clientes através
de etapas como planejamento de produto 1 (ponto de vista do cliente), pla-
nejamento do produto 2 (ponto de vista do fabricante), projeto e teste de
protótipo, atividades de vendas, projeto de produção, preparação de produ-
ção, produção, atendimento ao cliente e auditoria.
Lendo-se o diagrama da esquerda para a direita, vê-se o envolvimento
de pessoal de vários departamentos. A parte principal do diagrama mostra
as atividades que garantem a qualidade em cada processo. O fluxo de infor-
mações relacionadas com a qualidade também aparece aqui. Por exemplo,
abaixo da coluna “Gerente de divisão” aparecem quatro etapas do revisão
de projeto (RP), o que significa que o gerente da divisão está envolvido em
todas as fases de revisão de projeto.
A coluna “Conferência” mostra reuniões e conferências multifuncio-
nais, das quais departamentos envolvidos devem participar em cada etapa
fundamental antes de passarem para a próxima fase.
A última coluna à direita mostra os padrões, regulamentos ou docu-
mentos relacionados correspondentes a cada fase de QA. Esse diagrama
mostra que, antes de o gemba começar a fabricar os produtos, ocorre uma
longa lista de ações para a garantia da qualidade. Por exemplo, os itens de 8
a 12 de “Padrões e regulamentos” (inclusive manual de processo de contro-
le, manual de instrumentação e calibração, manual de inspeção, tabela de
processos de controle de qualidade, manual de procedimentos operacionais
padrão, meu manual de operação e manual sobre inspeção de saída) listam
os procedimentos típicos que garantem qualidade ao gemba. No entanto, o
diagrama mostra também que os itens de 1 a 7 foram concluídos no mo-
mento em que começa o trabalho do gemba.
As atividades que precedem o trabalho do gemba (padrões de 1 a 8) são
chamadas de gerenciamento de insumos. Tradicionalmente, quando a qua-
lidade é tida essencialmente como uma questão de mão de obra, os esforços
de melhoria relacionados à qualidade concentram-se principalmente no
gemba. Embora a mão de obra continue a ser um dos pilares mais importan-
tes da qualidade, cada vez reconhece-se que a qualidade na área de projeto,
conceitos de produto e compreensão das necessidades dos clientes devem
preceder o trabalho do gemba.
A maioria das atividades no gemba se relaciona com mão de obra e rara-
mente atingem o gerenciamento de insumos, embora as atividades de kaizen
baseadas no gemba surjam desde a implantação da política de gestão, que,
operadores. Para fazer isso, a YHP reuniu uma equipe de projeto de supervi-
sores e engenheiros de produção do gemba para coletar dados, treinar parti-
cipantes do círculo de qualidade e prestar assistência técnica em áreas como
construção de gabaritos. Essas ações ajudaram a diminuir a taxa de falhas
para 40 ppm a partir do seu nível anterior de 4.000 ppm (ver Figura 3 2.).
Após o nível de 40 ppm ter sido alcançado, a YHP precisava para ace-
lerar e aperfeiçoar essas atividades se quisesse aproveitar aquele momento
e conquistar novos benefícios (ver Figura 3.3). Ao mesmo tempo, tinha de
empregar novas tecnologias: padrões de engenharia revistos, melhores pro-
jetos de placas de circuito impresso e leiaute de produção.
Também precisava reformular seus equipamentos e layout, incorporan-
do os conceitos just-in-time. Durante todo o período, os círculos de qualida-
de da YHP mantiveram suas atividades para obter melhor compreensão do
processo. Também contribuíram muito para a melhoria contínua do proces-
so. Como resultado, a YHP atingiu o nível de 3 ppm em 1982.
De um modo geral, desde que o nível de qualidade permaneça em quan-
tidades percentuais, as empresas podem alcançar melhorias significativas
por meio dessas atividades básicas enquanto realizam a revisão das normas,
limpeza, coleta de dados sobre refugos e atividades em grupo para resolver
problemas.
Em primeiro lugar, realize a revisão dos procedimentos existentes, fa-
zendo perguntas como
S Temos padrões?
S Qual a situação da limpeza (5S) no gemba?
S Que quantidade de muda existe no gemba?
Em seguida, entre em ação. Por exemplo:
S Implemente os cinco princípios de gemba.
S Treine os funcionários para que eles se comprometam a nunca enviar
refugos ao próximo processo.
S Incentive atividades em grupo e sugestões para a resolução de problemas.
S Inicie a coleta de dados para obter uma melhor compreensão da nature-
za dos problemas e resolvê-los.
S Comece a fazer gabaritos e ferramentas simples para facilitar o trabalho
e obter resultados mais confiáveis.
Essas atividades simples apenas devem reduzir as taxas de produção de
refugos a 1/10 dos níveis originais. Quando faltam esses fundamentos, as
variáveis são tão grandes que tecnologias sofisticadas pouco fazem para me-
ppm
4.000
Unificação dos padrões de trabalho e inspeção
3.500
Taxa de falha na linha de montagem
3.000
2.500
Padronização das
1.000 Evitar reprocesso manual
condições de
operação da
500 máquina de solda 400 ppm 40 ppm
0
8 10 1 4 7 10 1 4 7 10
1977 1978 1979
ppm
Taxa de falha da linha de montagem
40 Introdução do JIT e
Revisão de
mudança de leiaute
padrões de
para possibilitar operação
engenharia de
com um único operador
30 manufatura
Manual básico
de orientações Instruções de
20 projeto de placa de
de trabalho
circuito impresso
10 3 ppm
0
10 1 4 7 10 1 4 7 10 1 4 7 10
1980 1981 1982
lhorar o processo. Somente após lidar com as variáveis básicas vem a vez das
aplicações mais desafiadoras de CEQ e outras abordagens econômicas.
1. Melhorar a qualidade.
2. Melhorar a produtividade.
3. Diminuir o inventário.
4. Reduzir a linha de produção.
5. Limitar o tempo de parada dos equipamentos.
6. Reduzir o espaço.
7. Reduzir o tempo de processamento.
Esses esforços para eliminar o muda reduzirão o custo geral da operação.
Melhorar a qualidade
Na verdade, a melhoria da qualidade dá início à redução dos custos. A quali-
dade aqui se refere à qualidade do processo de trabalho de gestores e funcio-
nários. Melhorar a qualidade dos processos de trabalho resulta em menos
erros, menos refugos e menos retrabalho, tempo menor de execução e redu-
ção do uso de recursos, diminuindo, assim, o custo geral das operações. A
melhoria da qualidade também é sinônimo de melhores rendimentos.
A qualidade de processos inclui a qualidade do trabalho em desenvol-
vimento, fabricação e venda de produtos ou serviços. No gemba, o termo se
refere especificamente à forma como os produtos ou serviços são fabricados
e fornecidos. Refere-se principalmente à gestão dos recursos no gemba, mais
especificamente, refere-se ao gerenciamento de homem (atividade do traba-
lhador), máquina, material, método e medição – conjunto conhecido como
os cinco “Ms” (5M).
como recursos para outras atividades que agregam valor e esforços de ino-
vação. Quando a produtividade sobe, o custo cai.
Diminuir o inventário
O inventário ocupa espaço, prolonga o tempo de execução da produção, cria
necessidades de transporte e armazenamento, além de consumir ativos finan-
ceiros. Produtos e trabalhos em processo parados no chão de fábrica ou no de-
pósito não resultam em valor agregado. Pelo contrário, eles perdem qualidade
e podem até mesmo se tornar obsoletos do dia para a noite, devido a mudanças
de mercado ou ao lançamento de novos produtos por parte da concorrência.
Reduzir o espaço
Como regra geral, empresas de fabricação usam quatro vezes mais espaço,
o dobro de pessoal e dez vezes mais tempo de processamento do que real-
mente precisam. Apesar das décadas de avanço da tecnologia da informação
e atividade kaizen realizadas por muitas empresas desde 1985, este conti-
nua a ser o cenário da maioria das empresas hoje em dia. Normalmente, o
gemba kaizen elimina transmissões ou conexões, reduz linhas de produção,
incorpora estações de trabalho separadas na linha de produção principal,
reduz estoques e diminui as necessidades de transporte. Todas essas melho-
rias reduzem as necessidades de espaço. O espaço extra liberado pelo gemba
kaizen pode ser usado para adicionar novas linhas ou pode ser reservado
para futura expansão. Melhorias semelhantes podem ser implantadas em
um ambiente de atividades que não as de produção.
Entrega
Entrega refere-se ao prazo de entrega do volume de produtos ou serviços.
Uma das tarefas da gestão é fornecer o volume necessário de produtos ou
serviços a tempo de atender às necessidades dos clientes. O desafio da ges-
tão é a forma de cumprir com os compromissos de entrega, sem descuidar
da qualidade e custos planejados. Em acordo com a expressão “qualidade
em primeiro lugar”, a qualidade é a base sobre a qual custo e entrega são
desenvolvidos.
Padrões
Muitas vezes me pedem para refletir sobre minhas três décadas de ensino de
kaizen e dar conselhos sobre o que as empresas podem fazer melhor. Mui-
tas organizações têm alcançado grandes feitos por meio do gemba kaizen e
feito a diferença na vida das pessoas. No entanto, uma área destaca-se como
consistente ponto fraco até mesmo nas melhores organizações. Trata-se do
uso correto dos padrões. Isto tornou-se particularmente evidente ao longo
da última década, à medida que o kaizen e diversas estratégias de melhoria
contínua se popularizam no mundo inteiro. Infelizmente, no entanto, boa
parte dos ganhos se perde, pois são desenvolvidos a partir de uma frágil base
de padrões.
As atividades empresariais cotidianas funcionam de acordo com fórmu-
las previamente estabelecidas. Essas fórmulas, quando estabelecidas como
regra, tornam-se padrões. A gestão bem-sucedida das atividades cotidianas
resume-se a um preceito: manter e melhorar os padrões. Isto significa não
só adotar padrões tecnológicos, gerenciais e operacionais atuais, mas tam-
bém a melhoria dos processos correntes, a fim de elevar os padrões atuais a
níveis mais elevados.
Padrões operacionais
Antes de prosseguir, vamos nos concentrar na forma como estamos usan-
do a palavra “padrões”. Neste contexto, existem dois tipos de padrões. Um
deles significa padrões gerenciais, que necessários para o gerenciamento de
funcionários para fins administrativos e que incluem regras administrativas,
diretrizes e políticas de pessoal, descrições de cargos, diretrizes para a ela-
boração de contas de despesas, e assim por diante. O outro significa padrões
operacionais, que têm a ver com a forma como as pessoas realizam uma ta-
A P
C D
Melhoria
A S
A P C D
C D
A S
C D
Tempo
Figura 4.1 Como são registradas melhorias a partir dos ciclos SDCA para os
ciclos PDCA.
A história kaizen*
A história kaizen é um formato padronizado para registrar as atividades de
kaizen realizadas em atividades em pequenos grupos, como os círculos de
qualidade. O mesmo formato padronizado também é empregado para rela-
tar atividades de kaizen realizadas por funcionários e gerentes.
A história kaizen segue o ciclo planejar-executar-verificar-agir (PDCA).
As etapas de 1 a 4 referem-se a P (plan, ou planejar), a etapa 5 se refere a D
(do, ou executar), a etapa 6 se refere a C (check, ou verificar) e as etapas de
7 e 8 referem-se a A (act, ou agir). O formato da história kaizen ajuda na
resolução de problemas com base na análise de dados. Um dos seus méritos
é o de ajudar os gestores a visualizar e comunicar o processo de resolução
de problemas. É também uma maneira eficaz de manter os registros de ati-
vidades de kaizen.
Várias ferramentas de resolução de problemas são frequentemente exi-
bidas na história kaizen para ajudar o leitor a entender o processo.
A história kaizen inclui as seguintes etapas padronizadas:
1. Escolher o tema. A história começa com a razão pela qual o tema especí-
fico foi selecionado. Muitas vezes, os temas são determinados de acordo
com as políticas de gestão ou dependem da prioridade, importância, ur-
gência ou economia do momento.
2. Compreender a situação e definir os objetivos. Antes de iniciar o projeto,
as condições devem ser compreendidas e analisadas. Uma maneira de
fazer isso é ir ao gemba e seguir os cinco princípios de gemba. Outra
forma é a coleta de dados.
* No Japão, o termo QC story (ou MASP – método de análise e solução de problemas) é usado frequen-
temente. Em vista do fato de que o termo história kaizen é usado com mais frequência em outros países
atualmente, este será o termo que usaremos ao longo deste livro.
1. Entender o problema
2. Dividir o problema
4. Análise da causa-raiz
5. Desenvolver
contramedidas
6. Realizar as
D contramedidas
7. Avaliar os resultados
e o processo
C
8. Padronizar e
compartilhar as
práticas bem-sucedidas
A
Figura 4.2 A abordagem de oito etapas Toyota Business Practice (TBP) para re-
solução de problemas.
O noticiário está cheio de empresas que não seguem seus próprios pa-
drões ou não adotam seu próprio processo de resolução de problemas. Isso
vale até para a Toyota! Perguntei a Chris Schrandt por que tantas empresas
não conseguem seguir de forma consistente uma abordagem padronizada
para a resolução de problemas. Ele respondeu:
Se uma equipe de gestão estiver ocupada demais apagando vários in-
cêndios todos os dias, isso vai afastá-la da resolução de problemas. Mui-
tas vezes, elas estão trabalhando em coisas demais, em coisas erradas.
Apressam-se para chegar às soluções ao invés de seguir uma abordagem
de resolução de problemas. Às vezes, mesmo depois de escolher e apli-
car a análise de Pareto aos problemas, nenhum resultado se sobressai
como algo vital, que precisa ser feito para acabar com os incêndios. As-
sim, botamos dinheiro em todos eles.
Em vez disso, a equipe que segue uma abordagem de resolução de
problemas padrão será capaz de começar com os problemas recorrentes
que acreditam já ter tratado, colocando em vigor salvaguardas e padrões.
A recorrência de um problema indica que o problema voltou graças a uma
causa raiz diferente, os padrões postos em prática não foram seguidos –
ou eles realmente não chegaram à verdadeira causa-raiz na primeira vez.
Ficar separando os diversos tipos de problemas com que uma equipe
de gestão está lidando diz muito sobre as habilidades para resolver pro-
blemas ou a disciplina para adotar padrões da organização.
Tornou-se um ditado popular nas empresas que adotam o kaizen dizer que
“o primeiro passo é 5S”. Isso é realmente verdade, porque, em seu nível mais
básico, o 5S requer que uma organização faça as seguintes perguntas: “Te-
mos tudo de que precisamos no kaizen?” e “será que precisamos de tudo o
que temos no kaizen?”, para, em seguida, fazer o kaizen sempre que a res-
posta for “Não”.
Os cinco S (5S) são as cinco etapas de organização do local de trabalho
desenvolvidas por meio de um intenso trabalho em ambiente de produção.
Empresas de serviços podem observar facilmente circunstâncias paralelas
em suas próprias “linhas de produção” – quer observem isso na forma de
uma solicitação de proposta (RFP), fechamento de relatório financeiro, pe-
dido de apólice de seguro de vida ou solicitação de serviços jurídicos de um
potencial cliente. O que quer que desencadeia o processo de trabalho na em-
presa de serviços, as condições existentes no processo de trabalho compli-
cam a tarefa desnecessariamente (há formulários demais?), impedem o pro-
gresso na direção da satisfação do cliente (será que o tamanho do contrato
requerer a assinatura de três agentes?) ou realmente anulam a possibilidade
de satisfazer o cliente (a sobrecarga da empresa torna impossível fazer uma
oferta pelo trabalho?).
Como mostra a Figura 2.3, padronização, 5S e eliminação do muda
(“desperdício”) são os três pilares do gemba kaizen na abordagem de bom
senso e baixo custo que visa à melhoria. O kaizen de qualquer empresa, seja
uma fábrica ou um setor de serviços, deve começar com três atividades: pa-
dronização, 5S e eliminação do muda.
Campanha 5S
1. Sort (separar): separar tudo o que é desnecessário e eliminá-lo.
2. Straighten (arrumar): colocar as coisas essenciais em ordem para que pos-
sam ser alcançadas facilmente.
3. Scrub (limpar): limpar tudo – ferramentas e locais de trabalho –, remo-
vendo manchas, marcas e detritos e erradicando as fontes de sujeira.
4. Systematize (sistematizar): fazer a limpeza e a verificação de rotina.
5. Standardize (padronizar): padronizar as quatro etapas anteriores para fa-
zer com que o processo nunca termine e sempre possa ser melhorado.
Campanha 5C
1. Clear out (limpar): determinar o que é necessário e desnecessário e se
livrar deste último.
2. Configure (configurar): proporcionar um lugar conveniente, seguro e em
ordem tudo e manter desse jeito.
3. Clean and check (limpar e verificar): monitorar e restaurar a condição
das áreas de trabalho durante a limpeza.
4. Conform (ajustar): determinar padrões, treinamento e manutenção.
5. Custom and practice (padronizar e praticar): desenvolver o hábito da
manutenção de rotina e esforçar-se para melhorar ainda mais.
Seiri (separar)
A primeira etapa de limpeza, seiri, implica em classificar itens no kaizen
em duas categorias – necessários e desnecessários – e descartar ou remover
estes últimos do kaizen. Deve-se estabelecer um teto para o número de itens
necessários.
Todos os tipos de objetos podem ser encontrados no kaizen. Um olhar
mais atento revela que apenas um pequeno número deles se faz necessário
no trabalho diário; muitos outros jamais serão utilizados, ou serão neces-
sários apenas em um futuro distante. O kaizen é cheio de máquinas não
utilizadas, gabaritos, matrizes e ferramentas, refugos, trabalho em processo,
matérias-primas, suprimentos e peças, prateleiras, recipientes, mesas, ban-
Sistematizar Separar
Padronizar
Limpar Arrumar
Seiton (arrumar)
Depois de se realizar o seiri, todos os itens desnecessários foram removi-
dos do kaizen, restando apenas o mínimo necessário. Mas itens necessários,
como ferramentas, podem ser inúteis se forem armazenados muito longe da
estação de trabalho ou em lugares onde não possam ser encontrados. Isso
nos leva para a próxima fase de 5S, o seiton.
Seiton significa classificar os itens de acordo com o uso e organizá-los
adequadamente, a fim de diminuir o tempo e o esforço de busca. Para fazer
isso, cada item deve ter nome, endereço e volume designados. Não se deve
especificar apenas a localização, mas também o número máximo de artigos
permitidos no kaizen. Bens inacabados, por exemplo, não podem ser fabri-
cados em quantidades ilimitadas. Em vez disso, o espaço para caixas que
contêm essas peças deve ser definido de forma clara (pintando-se um re-
tângulo para marcar a área etc.), e deve-se estabelecer um número máximo
permitido de caixas (cinco, por exemplo). É possível pendurar um peso no
teto por cima das caixas, para tornar impossível empilhar mais do que cinco.
Quando o nível máximo permitido de estoque for alcançado, a produção
da etapa anterior deve ser interrompida. Não há necessidade de se produzir
mais do que o processo seguinte pode consumir. Desta maneira, o seiton
assegura o fluxo de um número mínimo de itens no kaizen de estação para
estação, em uma base de primeiro a chegar, primeiro a sair.
Taiichi Ohno já foi convidado a visitar a linha de montagem de outra
empresa. Quando pediram que fizesse um comentário sobre a linha, ele dis-
se: “Vocês têm muitos bens em processamento à espera ao lado da linha.
Deixem um número mínimo ao lado da linha e enviem de volta todos os
itens em excesso para o processo anterior”. Uma porção de chapas de metal
prensadas teve de ser enviada de volta para o setor da prensa, onde os fun-
cionários tiveram de trabalhar cercados por chapas de metal prensadas que
criavam uma atmosfera de confinamento. Ohno comentou: “Esta é a melhor
maneira de mostrar às pessoas que quanto mais duro elas trabalham, mais
dinheiro a empresa vai perder”.
Seiso (limpar)
Seiso significa a limpeza do ambiente de trabalho: máquinas e ferramentas,
o piso, as paredes e outras áreas de trabalho. Há também um ditado que diz:
“Seiso é verificar”. Um operador que limpa uma máquina pode encontrar
diversos defeitos. Quando a máquina fica coberta com óleo, fuligem e pó, é
difícil identificar problemas que possam estar surgindo. Durante a limpeza
da máquina, no entanto, pode-se facilmente detectar vazamentos de óleo,
rachaduras na tampa ou porcas e parafusos soltos. Assim que esses proble-
mas são identificados, fica fácil providenciar o conserto.
Diz-se que a maioria das avarias de maquinário começa com a vibra-
ção (devido a porcas e parafusos soltos), com a introdução de partículas
estranhas, como poeira (devido a uma rachadura na tampa, por exemplo),
ou com lubrificação inadequada. Por conta disso, o seiso é uma grande ex-
Seiketsu (sistematizar)
Seiketsu significa manter uma pessoa limpa por meios como o uso de roupas
de trabalho adequadas, óculos de segurança, luvas e calçados, além da ma-
nutenção de um ambiente de trabalho limpo e saudável. Outra significado
de seiketsu é continuar a trabalhar em seiri, seiton e seiso continuamente e
todos os dias.
Por exemplo, é fácil passar pelo processo de seiri uma vez e fazer algu-
mas melhorias, mas sem um esforço para continuar essas atividades, a situa-
ção em breve voltará à estaca zero. Fazer kaizen apenas uma vez no kaizen
é fácil. Fazer o kaizen continuamente, dia sim, dia não, é um assunto com-
pletamente diferente. A administração deve implantar sistemas e procedi-
mentos que garantam a continuidade de seiri, seiton e seiso. O compromisso
da administração, sua disposição para apoiar e envolver-se no 5S torna-se
essencial. Os gerentes devem determinar, por exemplo, quantas vezes o seiri,
seiton, seiso devem ocorrer e quem deve estar envolvido. Isso deve se tornar
parte do calendário de planejamento anual.
Shitsuke (padronizar)
Shitsuke significa autodisciplina. As pessoas que praticam seiri, seiton, seiso
e seiketsu continuamente – pessoas que adquiriram o hábito de fazer essas
atividades parte de seu trabalho diário – desenvolvem a autodisciplina.
Apresentação do 5S
O kaizen valoriza o processo tanto quanto o resultado. A fim de fazer com
que as pessoas se empenhem para continuar com seus esforços de kaizen,
a gestão deve cuidadosamente planejar, organizar e executar o projeto. Os
gestores muitas vezes desejam ver o resultado cedo demais e pulam um pro-
cesso vital. O 5S não é um modismo, o gosto do mês, mas uma parte perma-
nente da vida diária. Portanto, qualquer projeto kaizen deve incluir etapas
de acompanhamento.
O kaizen lida com a resistência das pessoas à mudança, por isso o pri-
meiro passo é preparar mentalmente os funcionários para aceitar o 5S antes
do início da campanha. Como medida preliminar para o esforço em prol do
5S, deve-se reservar tempo para se discutir a filosofia e os benefícios do 5S.
S Criar ambientes de trabalho limpos, asseados, agradáveis e seguros
S Revitalizar o kaizen e melhorar consideravelmente o moral e a motiva-
ção dos funcionários
S Eliminar vários tipos de muda por meio da redução da necessidade de
procurar ferramentas, tornando o trabalho dos operadores mais fácil,
diminuindo o número de tarefas fisicamente extenuantes e liberando
espaço
A administração também deve compreender os vários benefícios do 5S
no kaizen para a empresa como um todo:
S Ajudar os funcionários a desenvolver autodisciplina. Funcionários com
autodisciplina estão sempre comprometido com o 5S, têm interesse po-
sitivo no kaizen e podem ser confiáveis para aderir às normas.
S Destacar os muitos tipos de muda (desperdício) no kaizen. Reconhecer
os problemas é o primeiro passo para se eliminar o desperdício.
S Eliminar o muda no kaizen melhora o processo de 5S.
Muda
Uma vez que tudo o que não agrega valor é muda, a lista anterior pode
ser ampliada quase indefinidamente. Na Canon Company, o muda é clas-
sificado de acordo com as categorias listadas na Tabela 6.1. Acrescentou-se
uma coluna, “Interpretação”, para maior esclarecimento.
Muda de superprodução
O muda de superprodução é uma função da mentalidade do supervisor de
área, que está preocupado com problemas como falhas das máquinas, refu-
gos e ociosidade e que se sente disposto a produzir mais do que o necessário
apenas por questão de segurança. Este tipo muda resulta em ficar à frente
do cronograma de produção. Quando uma máquina cara está envolvida, a
exigência de quantidade de produtos muitas vezes é ignorada em favor de
uma utilização eficiente do equipamento.
Em um sistema just-in-time (JIT), no entanto, adiantar-se ao cronogra-
ma de produção é considerado pior do que atrasar. Produzir mais do que o
necessário resulta em tremendo desperdício: consumo de matérias-primas
antes destas serem necessárias, desperdício de ativos na forma de pessoal,
água e energia, acréscimo de máquinas, aumento dos encargos de juros,
necessidade de espaço adicional para armazenamento de estoque exce-
dente, além de transporte e custos administrativos adicionais. De todos os
tipos de muda, o de produzir em excesso é o pior. Esse muda proporciona
às pessoas uma falsa sensação de segurança, ajuda a encobrir todos os ti-
pos de problemas e prejudica as informações que podem fornecer pistas
para kaizen no chão de fábrica. Produzir mais do que o necessário deve ser
considerado crime. A superprodução decorre das seguinte premissas ou
políticas equivocadas:
S Produzir o máximo possível no processo, desconsiderando a velocidade
correta do processo seguinte ou a quantidade com que a próxima linha
de produção pode lidar.
S Dar ao operador margem de manobra suficiente para produzir.
S Permitir a cada processo ou linha de produção defender seu interesse na
elevação da própria produtividade.
S Acelerar a linha de produção devido a um baixo rendimento de primei-
ra passagem e algumas paradas de linha. (Rendimento de primeira passa-
gem refere-se ao percentual de produtos acabados sem retrabalho.)
Trabalho em Estoque de itens não necessários Administrar o estoque Eliminar falsas economias de escala como
processamento imediatamente produção em grandes lotes devido a
altos tempos de setup
Rejeitos Produção de produtos defeituosos Reduzir produtos defeituosos Eliminar as causas geradoras de defeitos
Gemba Kaizen
no processo
Instalações Equipamento ocioso, quebras, longo Aumentar a eficiência Reduzir perdas para aumentar a eficiência
tempo de setup operacional operacional
Despesas Excesso de investimento para Atribuir funções eficientemente Usar equipamento adicional, processo 3P,
produção desejada e projeto de processo escalonável
Trabalho indireto Excesso de pessoal devido à baixa Reduzir despesas Realizar mapeamento dos processos
eficiência da mão de obra indireta indiretos para identificar atividades que
não agregam valor para o cliente
Projeto Produtos fabricados com mais Implantar medidas para Limitar-se a recursos ou funções
funções ou recursos do que o redução de tarefas ou desejadas pelos clientes
necessário maximização do trabalho
Talento Contratação de pessoal para Reduzir custos Utilizar as pessoas onde for mais
trabalhos que podem ser necessário para trabalho que exige
mecanizados ou realizados por criatividade e inteligência
pessoal com menor qualificação
Movimento Movimentos realizados em Melhorar padrões de trabalho Fazer com que os padrões de trabalho
desacordo com o trabalho retratem o método de trabalho mais
padronizado seguro e mais eficiente e treinar as
pessoas
Início de atividade com Início lento para estabilizar a Atingir regime de produção Simular processos com maquetes, realizar
um novo produto produção de um novo produto plena o mais rápido possível testes piloto e reutilizar boas práticas de
projeto
Fonte: Adaptado de Masaaki Imai, Kaizen: The Key to Japan’s Competitive Success (Nova York: McGraw-Hill, 1986).
01/08/14 14:36
Capítulo 6 S Muda 79
Muda de estoque
Produtos acabados, produtos semi-acabados ou peças e suprimentos manti-
dos no estoque não agregam valor. Pelo contrário, aumentam o custo de ope-
rações, ocupando espaço e exigindo mais equipamentos e instalações, como
armazéns, empilhadeiras e sistemas de transporte computadorizados. Além
disso, a operação e administração de um armazém requer pessoal adicional.
Itens em excesso ficam estocados, acumulando poeira, e nenhum valor é
agregado. A sua qualidade se deteriora com o tempo. Pior ainda: podem ser
consumidos por um incêndio ou destruídos por outro tipo de desastre. Se o
muda de estoque não existisse, muito desperdício poderia ser evitado. O es-
toque é um resultado da superprodução. Se a superprodução é um crime, o
estoque deve ser considerado como um inimigo a ser destruído. Infelizmen-
te, todos conhecemos gerentes que não conseguem dormir à noite quando
não dispõem de um “bom estoque”. O estoque é frequentemente comparado
com o nível de água que esconde problemas. Quando um nível de estoque
está alto, ninguém se preocupa o suficiente para lidar com problemas como
qualidade, tempo de parada da máquina e ociosidade. Desse modo, perde-se
uma boa oportunidade para o kaizen.
Menores níveis de estoque nos ajudam a identificar as áreas que preci-
sam ser estudadas e nos forçam a lidar com os problemas que vão aparecen-
do. Trata-se exatamente do que o sistema de produção JIT procura: quando
o nível de estoque diminui e finalmente atinge a linha de fluxo de uma peça,
o kaizen torna-se uma atividade diária obrigatória.
Muda de movimento
Qualquer movimento do corpo de uma pessoa que não esteja diretamente
relacionado à atividade de agregar valor é improdutivo. Quando uma pessoa
está andando, por exemplo, ela não está agregando valor de qualquer tipo.
Em particular, qualquer ação que requer grande esforço físico por parte do
operador – como levantar ou carregar um objeto pesado –, deve ser evitada,
não só porque é difícil, mas também porque representa muda. A necessida-
de de um operador transportar um objeto pesado por determinada distân-
cia pode ser eliminada através de uma reorganização do local de trabalho.
Se observar um operador no trabalho, você vai descobrir que o instante em
que o valor é de fato agregado leva apenas alguns segundos: o restante de
seus movimentos não representa ações que agregam valor, como recolher
ou depositar uma peça no chão. Muitas vezes, a mesma peça é recolhida
primeiramente com a mão direita e, depois, é segurada com a mão esquerda.
Uma pessoa que trabalha com uma máquina de costura, por exemplo, pri-
meiramente pega alguns tecidos da caixa de suprimentos, depois os coloca
na máquina e, finalmente, pega um dos tecidos para costurar na máquina.
Muda de processamento
Às vezes, a tecnologia ou o projeto inadequado resulta em muda no pró-
prio trabalho de processamento. Uma abordagem excessivamente longa ou
desnecessária para processamento de máquina, marcação improdutiva da
prensa e acabamento são exemplos de muda de processamento que podem
ser evitados. Em cada etapa na qual uma peça de trabalho ou peça de infor-
mação é trabalhada, o valor é agregado e enviado ao processo seguinte. Pro-
cessamento aqui refere-se a modificar essa peça ou pedaço de informação.
Frequentemente, pode-se obter a eliminação do muda no processamento
com técnica de bom senso e baixo custo. Certos tipos de processamento
desnecessário podem ser evitados por meio da combinação de operações.
Por exemplo, em uma fábrica de telefones, o receptor e o corpo são monta-
dos em linhas separadas e posteriormente reunidos na linha de montagem.
Para proteger de arranhões as superfícies dos receptores durante o transpor-
te para a linha de montagem final, cada item é embrulhado em um saco de
plástico. Ao ligar a linha de montagem do receptor e a linha de montagem
final, no entanto, a empresa pode eliminar a operação de empacotamento
com plástico.
O desperdício no processamento também resulta, em muitos casos, de
uma falha na sincronização dos processos. Os operadores muitas vezes ten-
tam se envolver nas tarefas de processamento de modo muito mais detalhis-
ta do que o necessário, o que é outro exemplo de muda de processamento.
Muda de espera
O muda de espera se dá quando as mãos do operador estão ociosas, quan-
do o trabalho do operador fica em espera por causa de problemas na linha
de produção, falta de peças ou tempo de parada das máquinas, ou quando
Muda de transporte
No gemba, vemos todos os tipos de meios de transporte, como caminhões,
empilhadeiras e transportadores. O transporte é uma parte essencial das
operações, mas os materiais ou produtos em movimento não agregam va-
lor. Para piorar, os danos geralmente ocorrem durante o transporte. Dois
processos diferentes necessitam de transporte. A fim de eliminar os des-
perdícios nesta área, a chamada ilha deserta – qualquer processo que está
fisicamente distante da linha de produção principal – deve ser incorporada
na linha, se possível.
Juntamente com o excesso de estoque e a espera desnecessária, o muda
de transporte é uma forma facilmente perceptível de desperdício. Uma das
características mais notáveis da maioria dos gembas de fabricação do Oci-
dente é a forte dependência das esteiras transportadoras. Esses leiautes às
vezes me fazem imaginar se o engenheiro que os projetou tem como hobby
brincar com trenzinhos. Sempre que você notar uma transportadora no
gemba, sua primeira pergunta deveria ser: “Será que podemos eliminá-la?”
A melhor coisa que uma empresa pode fazer com seus transportadores é
vendê-las aos concorrentes. Melhor ainda: a empresa deve embalá-las para
presente e enviá-las para a concorrência!
O consultor de kaizen Greg Back relembra sua experiência de consulto-
ria junto a um conhecido fabricante alemão de automóveis. Back e seu cole-
ga estavam trabalhando no setor de prensagem em uma prensa de múltiplas
matrizes destinada a reduzir os períodos de preparação (setup).
No início do projeto, Back estabeleceu como meta a redução de 50% do
tempo de preparação (setup) (que era então de dez horas) até o final da se-
mana, sem alterações tecnológicas. O supervisor e os funcionários reagiram
com incredulidade e raiva (“Não passamos dormindo todos esses anos!”).
Material
Sem parafuso
Sem rebarba
Sem espera
Sem parada
Métodos
Sem gargalos
Sem estoque
Qualidade
Sem rejeitos
Sem falta de cuidado
Sem falta de padrão
Sugiyama iniciou as atividades de kaizen em nome de “sem engenharia”
e descobriu que essas atividades eram prontamente aceitas. Por exemplo, a
empresa desenvolveu três princípios de engenharia sem ar:
1. Não transporte ar.
2. Não armazene ar.
3. Elimine espaços que não criam valor agregado.
Ao perceber que o ar ocupava 93% do espaço das embalagens de descar-
gas e tubos de escape das motocicletas da empresa, Sugiyama encontrou o
desperdício de kaizen e obteve grande economia. Mais tarde, a engenharia
sem ar também foi aplicada na utilização de espaço de armazenamento de
modo mais eficiente. A partir desta experiência, a Yamaha desenvolveu uma
fórmula para calcular a economia de espaço em termos monetários e reali-
zou uma campanha por uma empresa totalmente sem ar.
Na visão de Sugiyama, qualquer um pode adicionar itens à lista de “sem
engenharia”, bastando para isso tomar o cuidado de identificar o muda.
Muda de tempo
Outro tipo de muda observado diariamente é a perda de tempo, ainda que
não tenha sido incluído nos sete tipos de Ohno. O mau uso do tempo resulta
em estagnação. Materiais, produtos, informações e documentos parados em
um lugar sem agregar valor. No chão de fábrica, a muda de tempo assume
a forma do estoque. No trabalho administrativo, isso acontece quando um
documento ou informação ficar parado em uma mesa ou computador à es-
pera de uma decisão ou assinatura. Onde houver estagnação, surge o muda.
Os 16 tipos de muda
em serviços
Transporte [hora/ano]
Processo do negócio
Empregado
Estoque [hora/ano]
Criatividade [número]
Entregas [hora/ano]
Know-how [qualidade]
Procedimentos operacionais [hora/ano]
Saúde [hora/ano]
Defeitos [hora/ano]
Figura 6.1 O modelo de árvore de perdas para calcular o desperdício dos exe-
cutivos.
ocupar entre 27% e 38% da carga horária da semana. A Figura 6.2 mostra o
questionário utilizado para a pesquisa.
Muitas vezes, as noções kaizen para poupar a maior parte do tempo per-
dido no trabalho administrativo são simples. “As reuniões podem ser mais
eficazes se você as realiza em pé em vez de fazê-lo sentado”, de acordo com
Sebastian Reimer, consultor sênior do Kaizen Institute. “É comum ver equi-
pes que passam cerca de 50% por cento do tempo em reuniões. Basta calcu-
lar o quanto isso representa por semana e por ano”.
Mesmo que a tecnologia da informação (TI) tenha tornado as empresas
mais eficientes, ainda há muito muda para ser removido por meio do kai-
zen. “Você ficaria surpreso se calculasse e somasse os dois números”, afirma
Reimer:
1. De quanto tempo você precisa por semana para classificar toda a sobre-
carga de informações?
2. Quanto tempo leva para se obter todas as informações necessárias para
os seus processos?
A abordagem tradicional para a melhoria de máquinas, software e pro-
gramas de gestão cada vez melhores muitas vezes aumenta os custos, en-
quanto a eliminação do muda que se concentra no gemba os reduz, assim
melhorando a qualidade e entrega simultaneamente.
Esse tipo de muda é muito mais predominante no setor de serviços. Ao
eliminar as restrições de tempo que não agregam valor acima mencionadas,
o setor de serviços deve ser capaz de obter aumentos substanciais em efi-
ciência e satisfação do cliente. A eliminação do muda não custa nada, por
isso é uma das maneiras mais fáceis de uma empresa melhorar suas opera-
ções. Tudo o que precisamos fazer é ir ao gemba, observar o que está aconte-
cendo, reconhecer o muda e tomar medidas para eliminá-lo.
Classifi-
Perdas de tempo devido a: Descrição h % cação Mín. Máx.
Pesquisa Por documentação, arquivos, todo tipo de informação 1,5 3,7% 4 0,0 10,0
Espera Por programas de TI, colegas, assinaturas, etc 1,5 3,7% 5 0,0 12,0
Parada Do trabalho real através de paradas 2,5 6,2% 1 0,0 11,0
Busca De informação perdida, colegas que não podem ser alcançados 1,8 4,5% 3 0,0 15,0
Participação Em reuniões ineficientes e excessivamente longas sem resultados 2 5,0% 2 0,0 8,0
Separação Por excesso de informação, propaganda, e-mail, spam, etc 1,2 2,9% 8 0,0 13,0
Esclarecimento Por má delegação, falta de clareza ou tarefas confusas 1,4 3,5% 6 0,0 10,0
Correção Por incorreção, lançamentos/entradas incompletas 1,4 3,4% 7 0,0 12,0
Monitoramento De processos complicados, complicados ou burocráticos 1,2 2,8% 9 0,0 10,0
Transporte De papéis de e para copiadora, correio, etc 0,9 2,3% 10 0,0 5,0
16/06/14 09:33
88 Gemba Kaizen
Mura (variação)
Sempre que um fluxo regular de trabalho é interrompido durante as tarefas
do operador, no fluxo de peças e máquinas ou no cronograma de produção,
ocorre o mura. Suponha, por exemplo, que os operadores estão trabalhando
na linha de produção e cada um está realizando uma determinada tarefa repe-
titiva antes do envio para a próxima pessoa. Quando um deles leva mais tem-
po para fazer o trabalho que os outros, o resultado é mura – além de muda –,
pois trabalho de todos deve ser ajustado a fim de combinar com o trabalho da
pessoa mais lenta. A noção de mura também se aplica à variação na qualidade
dos bens e serviços. Procurar esse tipo de variação no âmbito dos processo
ou dos resultados de processos é uma maneira fácil de iniciar o gemba kaizen.
Muri (sobrecarga)
Muri significa “condições extenuantes” para trabalhadores e máquinas, bem
como para os processos de trabalho. Se, por exemplo, um trabalhador recém-
-contratado é designado para fazer o trabalho de um veterano e não tem trei-
namento suficiente, a tarefa ficará sobrecarregada e possivelmente o novato
será mais lento, podendo até mesmo cometer muitos erros e criar muda.
Quando vemos um operador suando em bicas enquanto realiza uma ta-
refa, devemos reconhecer que o esforço é demasiado e retirá-lo dali. Quando
ouvimos o chiado de uma máquina, é preciso reconhecer que a sobrecarga,
o que significa que uma anormalidade está ocorrendo. Assim, muda, mura
e muri reunidos são formas úteis para identificar anormalidades no gemba.
De todas as atividades de kaizen, a eliminação do muda é a mais fácil de
começar, pois não é muito difícil de identificar o muda com um pouco de
prática. A eliminação do muda geralmente significa parar algo que estive-
mos fazendo até o momento e, portanto, custa pouco para se implementar.
Por estas razões, a gestão deve tomar a iniciativa de iniciar o kaizen com a
eliminação do muda onde quer que exista: no gemba, na parte administrati-
va ou na área de prestação de serviços.
• “Escritório vivo”
nistradores e Envolvimento Melhoria física
subordinados do pessoal no local de
trabalho
Revisão da Melhoria do
política processo
• Mapeamento do
fluxo do processo
• Alto comitê
• Revisão da regulamentação • Redução do tempo de
governamental produção
• Taxa de agregação
de valor
16/06/14 09:33
Capítulo 6 S Muda 91
A fundação da casa
do gemba
S Facilitar o trabalho
S Retirar o esforço excessivo das tarefas
S Acabar com os contratempos no trabalho
S Tornar o trabalho mais seguro
S Tornar o trabalho mais produtivo
S Melhorar a qualidade do produto
S Economizar tempo e dinheiro
A perspectiva da gestão japonesa contrasta com a preocupação quase
exclusiva do gestor ocidental com o custo da mudança e seu retorno econô-
mico.
As implicações da padronização são mencionadas muitas vezes neste
livro. Quando os funcionários do gemba participam do gemba kaizen e o
resultado são padrões novos e atualizados, eles desenvolvem naturalmente
um senso de propriedade desses padrões e, portanto, terão a autodisciplina
para segui-los.
Se, por outro lado, os padrões são impostos pelos gestores, os funcioná-
rios do gemba podem mostrar resistência psicológica. Torna-se uma ques-
tão “nós contra eles”. Essa é outra razão por que é tão importante envolver
as pessoas do gemba em atividades de kaizen como os sistemas de sugestão
e os círculos de qualidade.
O desenvolvimento da autodisciplina
Não é preciso dizer que a autodisciplina é um dos pilares da gestão da casa
do gemba. Funcionários que possuem autodisciplina podem ser uma fonte
confiável para informar sobre os períodos de trabalho, manter ambientes
limpos, ordenados e seguros, e seguir os padrões vigentes a fim de se atin-
girem as metas de QCD. Em meus seminários sobre kaizen, muitas vezes
peço aos participantes que escrevam maneiras de ajudar os funcionários a
adquirir autodisciplina. Aqui estão algumas das respostas que recebi:
1. Recompense etapas graduais.
2. Surpreenda-os fazendo a coisa certa.
3. Abra-se para questionamentos.
4. Desenvolva uma cultura que diga “vamos fazer isso!”
5. Torne o processo conhecido para melhorar os padrões.
6. Realize avaliações.
7. Incentive o envolvimento do cliente.
Gestão visual
Máquinas
S Como você sabe que a máquina está fabricando produtos de boa quali-
dade? Se os dispositivos de jidoka e poka yoke (à prova de erro) estive-
Materiais
S Como você sabe que os materiais não estão apresentando problemas?
Como você sabe se tem mais material do que pode controlar e se está
produzindo mais produtos do que deveria? Quando se especifica um ní-
vel mínimo de inventário e se usa o kanban – cartão ou etiqueta anexa-
dos a um lote de trabalho em processo como meio de informar pedidos
entre os processos –, essas anomalias se tornam visíveis.
S O local em que os materiais estão armazenados deve ser mostrado, junto
com o nível de estoque e os números de peças. Deve-se utilizar cores di-
ferentes para evitar erros. Use lâmpadas de sinalização e sinais sonoros
para destacar irregularidades, como falta de suprimentos.
Métodos
S Como o supervisor sabe se as pessoas estão fazendo seu trabalho direi-
to? Isso fica claro com o uso de planilhas de padrão afixadas em cada es-
tação de trabalho. As planilhas devem mostrar a sequência do trabalho,
tempo de ciclo, itens de segurança, postos de controle de qualidade e o
que fazer quando surgir variabilidade.
Medições
S Como você verifica se o processo está funcionando perfeitamente? Os
medidores deverão mostrar informações claras para mostrar faixas de
operação seguras. Fitas sensores de temperatura devem ser anexadas aos
motores para indicar excesso de calor.
S Como você sabe se uma melhoria foi feita e se você está no caminho
para atingir a meta?
Publicação de padrões
Quando vamos ao gemba, a gestão visual fornece medidas de desempenho.
Vemos uma irregularidade quando encontramos excesso de caixas de supri-
mentos ao lado da linha de produção, quando um carrinho de suprimentos
é deixado fora de sua área e quando um corredor está repleto de caixas, cor-
das, itens defeituosos e tapetes. (O corredor deve servir apenas como passa-
gem, e não como área de armazenamento.)
A exibição de padrões de trabalho na frente da estação de trabalho é a
gestão visual. Esses padrões de trabalho não apenas lembram ao funcionário
a maneira certa de fazer as tarefas, mas – o que é mais importante – per-
mitem ao gestor definir se o trabalho está sendo feito de acordo com os
padrões. Quando os operadores deixam seus postos, sabemos que há uma
irregularidade, pois os padrões exibidos na frente da estação de trabalho es-
pecificam que os funcionários devem ficar lá durante o horário de trabalho.
Quando os operadores não concluem suas tarefas no tempo de ciclo, não
podemos esperar atingir a meta de produção do dia.
Embora os padrões projetem como os trabalhadores devem fazer seu
trabalho, muitas vezes eles não especificam qual ação deve ser tomada no
caso de alguma falha. Os padrões devem, em primeiro lugar, definir as fa-
lhas e, em seguida, prever os passos a serem seguidos como resposta.
As metas diárias de produção também devem ser visíveis.
Metas de hora em hora e diárias devem ser mostradas em um quadro
juntamente com os números reais.
Essa informação alerta o supervisor para tomar as medidas necessárias
a fim de atingir a meta, como a mudança de funcionários para a linha de
produção onde há atraso.
Todas as paredes do gemba podem ser transformadas em ferramentas de
gestão visual. As informações a seguir devem ser exibidas nas paredes e nas
estações de trabalho para que todos saibam o status atual do QCD:
S Informações sobre qualidade: quantidades diárias, semanais e mensais
de rejeitos e gráficos de tendências, bem como metas de melhoria.
Definição de metas
O terceiro objetivo da gestão visual é esclarecer as metas de melhoria. Su-
ponha que os requisitos externos levaram uma fábrica a reduzir o tempo de
setup de uma determinada prensa no prazo de seis meses. Nesse caso, um
quadro de exibição foi colocado ao lado da máquina. Em primeiro lugar, o
tempo de setup atual (por exemplo, seis horas a partir de janeiro) é traçado
em um gráfico. Em seguida, o valor da meta (uma hora e meia, até junho) é
traçado. Em seguida, uma linha reta é traçada entre os pontos que mostram
a meta de cada mês. Toda vez que é feito o setup na prensa, o tempo é medi-
do e traçado no quadro. Deve haver um treinamento especial para ajudar os
trabalhadores a atingir a meta.
Com o tempo, algo incrível acontece. O período de setup real do gráfico
começa a seguir a linha de meta! Isso acontece porque os operadores se tor-
nam conscientes da meta e percebem que a gestão espera que eles a alcan-
cem. Sempre que o número ultrapassa a meta, eles sabem que surgiu alguma
irregularidade (por exemplo, falta de ferramentas etc.) e tomam medidas
para evitar esse contratempo no futuro. Este é um dos mais poderosos efei-
tos da gestão visual. Os números por si só não são suficientes para motivar
as pessoas. Sem as metas, os números não sobrevivem.
Yuzuru Itoh, ex-diretor do centro de controle da qualidade da Matsushi-
ta Electric, fez os seguintes comentários (citados no meu livro, Kaizen: The
Within Industries – TWI). Esses programas vieram para o Japão dos Esta-
dos Unidos e foram projetados para ajudar os japoneses a desenvolver seus
próprios programas de treinamento em gestão e em supervisão. O MTP foi
utilizado, principalmente, para o treinamento de gerentes de nível médio,
enquanto que o programa TWI treinou supervisores.
Este é um resumo das origens e do desenvolvimento desses programas,
de acordo com Alan G. Robinson e Dean M. Schroaeder, “Training, Conti-
nuous Improvement, and Human Relations: The US TWI Programs and the
Japanese Management Style” [California Management Review 35(2), 1993]*:
W. Edwards Deming, Joseph Juran e outros especialistas norte-america-
nos conquistaram seu lugar na história por suas contribuições significati-
vas para o desenvolvimento industrial do Japão. No entanto, os programas
Treinamento Dentro das Indústrias (TWI) dos Estados Unidos, instaladas
no Japão pelas autoridades de ocupação após a Segunda Guerra Mundial,
podem bem ter sido ainda mais influentes. Pelo menos 10 milhões de ad-
ministradores, supervisores e trabalhadores japoneses são graduados de
programas TWI ou um de seus muitos cursos derivados, todos ainda am-
plamente utilizados no Japão em 1992. O TWI teve, de fato, forte influência
sobre o modo japonês de pensar e praticar gestão: uma série de práticas
de gestão consideradas “japonesas” têm suas raízes no TWI.
Os programas TWI foram desenvolvidos nos Estados Unidos, mais de
meio século atrás. Eles foram projetados para desempenhar um papel im-
portante no aumento da produção industrial aos níveis necessários para
vencer a Segunda Guerra Mundial. Ainda que o TWI tenha feito isso com
muito sucesso, após a guerra o uso dos programas foi caindo, de modo
que, em 1992, eles eram raramente utilizados ou mesmo conhecidos nos
Estados Unidos.
A história é bem diferente no Japão. Depois da guerra, a indústria ja-
ponesa estava operando a menos de 10% dos seus níveis de 1935-1937.
Diante da ameaça de agitação, fome e desordem social generalizadas, é
natural que as autoridades de ocupação pensassem no TWI, um conjunto
de programas especificamente projetado para aumentar a produtividade
e qualidade em escala nacional. Embora o TWI tenha causado impacto
em muitos países do mundo, ele certamente teve maior efeito sobre o
Japão. Em 1992, embora os programas tenham mudado pouco desde sua
chegada no Japão, eles são respeitados nos círculos de gestão japone-
ses e são considerados tão importantes para os interesses nacionais que
chegam a ser supervisionados pelo Ministério do Trabalho, que licencia
instrutores e assegura padrões de treinamento em todo o país.
O TWI forneceu três programas de treinamento padronizados para su-
pervisores e capatazes. O primeiro, Treinamento sobre Instruções de Traba-
* Copyright © 1993 de The Regents of the University of California. Reproduzido da California Manage-
ment Review 35 (2) com a permissão da The Regents.
de empresa para empresa. Além disso, o título do cargo dessa pessoa pode
variar; a pessoa pode ser denominada líder de grupo, capataz, hancho ou
(na Alemanha) meister. (Aliás, hancho, originalmente termo japonês que
significa “chefe ou patrão”, significa “supervisor” quando usado no gemba.)
No gemba, o supervisor gerencia insumos para produzir produtos. Os
insumos são os chamados três Ms – ou seja, mão de obra, materiais e má-
quinas. (Às vezes, métodos e medições são adicionados a esses três, sendo a
lista chamada coletivamente de “os cinco Ms”.) O produto é qualidade. custo
e entrega, ou QCD. (Às vezes, moral e segurança são adicionados a esses
três, e a lista é referida como QCDMS).
Os supervisores de empresas são responsáveis por alcançar os produtos
de QCD, mas devem gerenciar os três Ms básicos – mão de obra, materiais
e máquinas – para fazê-lo.
Em primeiro lugar, os supervisores devem gerenciar suas pessoas. No
entanto, os supervisores costumam dizer: “Sim, eu sei que deveria fabricar
bons produtos dentro do cronograma, mas o fato é que meus funcionários
não estão motivados para fazer um bom trabalho. Eles são mal treinados
nem sequer seguem as normas estabelecidas. Esse é meu problema!”
Nenhum supervisor deve fazer esse tipo de declaração. Se sua equipe
não está motivada, o supervisor deve implementar vários programas para
motivá-la. Se a equipe não segue normas, medidas devem ser tomadas. Tal-
vez os padrões atuais sejam defasados e impraticáveis, ou talvez os operado-
res não tenham sido treinados para segui-los. Ou pode haver muito muda,
mura e muri no ambiente de trabalho, dificultando a conformidade com
normas. Supervisores que culpam sua equipe estão abdicando de seu papel.
Em uma fábrica de dispositivos eletrônicos que emprega donas de casa
em meio-turno, no período da tarde, a administração concluiu que as fun-
cionárias que trabalhavam meio expediente produziam muito mais rejeito
do que funcionários regulares. Os dados revelaram que a maioria de seus
erros ocorria por volta das 15:00. Quando a administração perguntou às
donas de casa que tipo de coisas passavam em sua mente por volta desse
horário, as respostas típicas foram as seguintes:
“Em torno desse horário, de repente me lembro que é a hora de nossos
filhos chegarem da escola e começo a me perguntar se eles vão en-
contrar os biscoitos que deixei na geladeira”.
“Começo a pensar no jantar e tento decidir em que loja devo comprar
peixe. Quero saber qual loja oferece a melhor promoção. A Sra. A,
que trabalha na outra linha, entende desses assuntos, talvez eu deva
procurá-la depois do trabalho”.
Absenteismo
S
QCD
Manter padrões
Introduzir Estabelecer pontos de de trabalho
novos produtos controle e verificação Leiaute de equipamento
e local de trabalho
Segurança
Implantar uma nova linha
Estabelecer Manuais
Verificação de
Aguardar
calibração formulários
contratação de Estabelecer padrão
novos operadores métodos de POP (procedimentos
medição operacionais padrão)
Gestão visual Método de inspeção Atualizar sempre o
método de trabalho
O papel dos supervisores no gemba
16/06/14 09:32
116 Gemba Kaizen
Pontos-chave de segurança
FG RM Pontos-chave de qualidade
Capítulo 9
S
5 435 62 s 55 s
O papel dos supervisores no gemba
16/06/14 09:32
118 Gemba Kaizen
Segurança
S Quase-acidentes de segurança e análise de causa raíz e de medidas
corretivas.
S Tempo perdido de segurança (acidente com afastamento) e análise de
causa raíz, a fim de eliminar esses acidentes. Os líderes de grupo pre-
enchem um relatório completo de problemas de segurança resolvidos
e apresenta esse relatório à gerência sênior.
Qualidade
S Estabelecer um mecanismo de monitoramento para defeitos de qua-
lidade encontrados na área de responsabilidade do líder do grupo e
confirmar a análise de causa raíz e medidas corretivas.
S Todo desperdício é categorizado num diagrama de Pareto, e é dada
prioridade a corrigir e eliminar o problema.
S Um mecanismo de rastreamento de defeitos do fornecedor é criado,
mostrando visualmente um diagrama de Pareto do desempenho.
S Manter várias amostras-limite (boundary samples) em exposição.
S Os fornecedores estarão cientes desse sistema e demonstrarão ca-
pacidade de tomar medidas para corrigir problemas.
S Estabelecer mecanismos de monitoramento para desperdício de má-
quinas e análise de causa raíz, com tomada de medidas corretivas
para eliminá-las.
S Realizar verificações de qualidade diariamente em amostras de todas
as linhas de produção pelas quais é responsável; acompanhar as ten-
dências de desempenho e a estabilidade do processo.
O líder de grupo é responsável por todas as condições de qualidade
ao longo das linhas de produção sob sua responsabilidade; fazer auditoria
Entrega
S A análise do tempo de ciclo de máquinas é constantemente monitora-
da para garantir a entrega.
S Monitorar quadros de status de entrega por hora ou por minuto para
detectar problemas.
S Realizar auditoria do trabalho padronizado (operação padrão) no pro-
cesso (SWIP – standard-work-in-process) antes e depois e fazer as
alterações cabíveis dos níveis de manutenção necessários.
O líder de grupo se comunica com os grupos de apoio e direciona a
atividade para reduzir o tempo de parada gerado por causas relacionadas
a mão de obra, materiais, máquinas, ou métodos.
Custo
S Compreender o custo das ferramentas necessárias para processos,
usando o custo por unidade de ferramenta como medida para contro-
lar as tendências dos dados.
S Fazer um orçamento geral de custos, monitorando dados para con-
sumíveis e custos de fornecedores externos para investigar continua-
mente oportunidades de desempenho de custo.
S Entender as oportunidades para melhorar o número de pessoas-hora
por unidade.
S Implementar um programa de cross-training para os membros da
equipe.
S Medir a taxa de operação e investigar oportunidades de melhoria.
S Treinar líderes de equipe no processo de resolução de problemas uti-
lizando o método 4M de análise.
S Agendar reuniões semanais de resolução de problemas para cada
equipe, oferecendo treinamento e orientação para as equipes para
que elas possam aplicar medidas corretivas com sucesso.
O líder do grupo deve motivar, treinar e orientar membros da equipe
sobre o sistema do programa kaizen, de modo que cada pessoa seja ca-
paz de apresentar pelo menos 12 ideias por ano para melhorar a seguran-
ça, a qualidade, a produtividade e, como resultado, o custo.
O líder de grupo também deve auditar sistemas específicos (por
exemplo, TPM, sistema kanban, adesão ao padrão de trabalho, tempos e
procedimentos de instalação, variação na capacidade de máquinas e ní-
veis de buffer), monitorando desempenho nas áreas do TPS. Desta forma,
o líder do grupo não só verifica os resultados do trabalho de sua equipe,
mas também monitora o processo e as normas que garantem os resulta-
dos. As auditorias são realizadas utilizando cartões simples que identifi-
cam aonde ir e que padrão verificar. Essas verificações são realizadas não
só pelo líder do grupo, mas também por todos os níveis de gestão. Este
sistema de verificação interligada com diferentes camadas de auditoria é
chamado kamishibai.
O desempenho de todas as métricas é o que orienta o TPS. Na Toyota,
a gestão de desempenho é conduzida no nível do líder de grupo, com os
membros da equipe recebendo autoridade para aperfeiçoar o processo.
Figura 9.3 Como rejeitos podem ser classificados em três categorias distintas.
Works. Mais tarde, a diretoria percebeu que deveria seguir a lógica do dia-
grama de Pareto (ferramenta gráfica utilizada para resolver problemas) e
estabelecer prioridades na seleção de projetos de kaizen. Assim, em vez de
promover o gemba kaizen indiscriminadamente em todas as áreas da fábri-
ca, a gerência decidiu selecionar uma linha como modelo e fornecer à linha
todos os recursos e a assistência de que precisasse da sede da empresa, bem
como da gerência da fábrica. Depois que um progresso visível foi alcançado,
as melhorias foram estendidas para outras linhas. A alta gerência visitou a
linha piloto uma vez por mês para analisar a gestão diária e atividades de
kaizen. A revisão abrangeu os seguintes pontos principais:
S Que tipos de padrões estão estabelecidos?
S Como os padrões são seguidos?
S Quem gerencia os padrões?
S Quem está envolvido no kaizen?
S Quais os papéis que desempenham os gerentes de linha?
Uma vez que a hierarquia gerencial incluía capatazes, supervisores e lí-
deres de grupo na fábrica, a alta gerência também monitorou os papéis des-
ses gestores e os itens pelos quais eram responsáveis.
Desempenho de QA Grau
C B A
Devoluções do cliente No de No de No de
devoluções / devoluções / devoluções /
3 meses 6 meses 12 meses
5S 31 pontos de verificação
Funções pseudogerenciais
de supervisores no gemba
Como afirmado anteriormente, a função dos gestores resume-se a duas fun-
ções principais no gemba: manutenção e melhoria. A manutenção refere-se
a preservar o status quo, ou seja, certificar-se de que os subordinados sigam
os padrões atuais para alcançar os resultados esperados. O objetivo da ma-
nutenção – garantir que as coisas não saiam do controle – exige muito es-
forço. Sem manutenção, tudo no gemba se deteriora com o passar do tempo.
A melhoria, por sua vez, refere-se ao aprimoramento e à atualização dos
padrões atuais, estabelecendo continuamente metas novas e mais elevadas.
A melhoria pode ainda ser dividida em kaizen e inovação. Simplificando,
kaizen significa uma melhor utilização dos recursos internos existentes dos
cinco Ms de mão de obra, máquinas, materiais, métodos e medições. O kai-
zen é obtido alterando a forma como as pessoas trabalham, não gastando
grandes quantias de dinheiro. É preciso um espírito de desafio para atingir
o kaizen, pois as pessoas sentem-se sempre mais confortáveis com a forma
como vinham fazendo seu trabalho.
Funções e responsabilidades
dos gestores do gemba
Kaizen na Toyota Astra Motor Company
zar) ao longo do dia e (2) itens pelos quais os gestores são responsabilizados.
Para líderes de grupo e capatazes, os manuais fornecem uma lista de ativi-
dades diárias a serem realizadas durante o horário de trabalho. (Os manuais
não contêm esse tipo de lista para supervisores e gerentes de seção, pois
suas atividades diárias não podem ser definidas da mesma forma e com os
mesmos detalhes que as de líderes de grupo e capatazes. Isso significa que os
supervisores e gerentes de seção têm mais liberdade para cumprir com suas
responsabilidades diárias.)
As funções/atividades e responsabilidades de gestão estão também di-
retamente relacionadas com as avaliações de desempenho e com os salários
dos gestores. Por exemplo, os líderes de grupo têm a tarefa de monitorar
defeitos e anormalidades, manter registros, inserir dados em determinados
gráficos ou listas de verificação e postar esses gráficos ou listas de verifica-
ção em grandes murais no gemba. Cada líder de grupo e capataz tem seu
próprio mural, que é compartilhado com o segundo e o terceiro turnos.
(Muitas vezes, tabelas de inventário de habilidades de operadores e outros
gráficos e tabelas são exibidos nos mesmos murais.)
Os manuais definem claramente os itens a serem monitorados e os tipos
de dados a serem coletados, bem como os tipos de lista de verificação que
devem ser utilizados. Os itens a serem monitorados para fins de avaliação
nem sempre são os mesmos para todos os processos, mas eles sempre se
referem a funções vitais como qualidade, segurança, produtividade, redução
de custos, treinamento e manutenção produtiva total (TPM).
Ao pesquisar e publicar dados nesses murais diariamente, líderes de
grupo e capatazes podem se concentrar nos itens que requerem atenção
imediata. Seus supervisores, por sua vez, podem examinar os murais e ime-
diatamente avaliar iniciativas, manutenção e melhorias promovidas por
seus líderes de grupo e capatazes a respeito desses itens. Depois, os supervi-
sores podem postar um resumo dos dados obtidos de seus líderes de grupo e
capatazes em seus próprios murais. Os gerentes de seção têm murais seme-
lhantes. Com efeito, o conjunto de listas de verificação e gráficos postados
nos murais serve como um sistema de comunicação visual entre os gestores,
permitindo a rápida identificação de determinadas atividades prioritárias
que precisam de atenção imediata. Os murais também servem como sistema
de monitoramento visual do encontro entre o pensamento dos gestores.
Antes que cada turno comece, todos se reúnem em torno dos murais
para uma conversa de cinco minutos em que os líderes de grupo podem
explicar problemas específicos, a partir dos dados dos murais. (Da mesma
forma, os murais oferecem um meio de dizer aos visitantes o que está acon-
tecendo no gemba. Quando clientes ou gerentes seniores realizar um “gemba
walk” (caminhada pelo gemba), eles podem olhar para os murais para des-
cobrir o que está acontecendo ou para atualizar seus conhecimentos sobre o
progresso das diversas linhas.)
5. Melhorar diariamente:
a. Fazer preparativos para melhoria.
b. Auxiliar o capataz em orientar os esforços de melhoria dos su-
bordinados.
6. Outros:
a. Reunir-se com seus subordinados para explicar os resultados da
redução de custos.
b. Aproveitar todas as oportunidades para conscientizar os opera-
dores em relação a custos.
C. Qualidade:
1. Manter e melhorar o nível de qualidade:
a. Esclarecer os atuais níveis de qualidade em comparação com as
metas dos membros da equipe.
b. Monitorar e controlar o processo de entrada de dados de qualidade.
c. Analisar causas e tomar medidas preventivas.
2. Buscar a “qualidade integrada” diariamente:
a. Inspecionar o primeiro e o último produto de cada dia de trabalho.
b. Realizar inspeções programadas para prevenir defeitos.
c. Monitorar os trabalhadores para assegurar que eles realizem seus
trabalhos de acordo com os padrões de trabalho.
3. Tomar medidas corretivas quando defeitos forem encontrados:
a. Para defeitos produzidos internamente: reparar os defeitos e in-
formar o capataz, propondo medidas corretivas.
b. Para defeitos produzidos externamente: Fazer relatório para o
capataz e pedir instruções sobre reparos.
4. Outros: Promover reuniões diárias com a equipe; informar os mem-
bros sobre problemas de qualidade e discutir os problemas com eles;
promover a conscientização de todos os membros a respeito de qua-
lidade.
para seus clientes, eles geram mais resíduos e custos. Para eliminar muri,
trabalhadores e gestores devem ser treinados para executar suas funções.
Particularmente, a capacidade de se adaptar a mudanças no ambiente de
negócios é considerada uma das características mais importantes. A Toyota
acredita que o desenvolvimento da equipe é tão importante que deve ser
realizado de forma contínua.
Desenvolvimento de pessoal
Treinamento no local de trabalho
A base do treinamento da Toyota é o treinamento no local de trabalho (on-
-the-job – OJT), que desenvolve as capacidades do funcionário. Para seu
programa de OJT, a Toyota desenvolveu um programa chamado Toyota Job
Instruction (TJI) (Instruções de trabalho da Toyota).
Os materiais de treinamento foram derivados, inicialmente, do progra-
ma Treinamento Dentro das Empresas (TWI), que inclui relações de traba-
lho, melhoria do trabalho (kaizen) e instruções de trabalho.
Atividades voluntárias
Essas ações de formação são menos estruturadas do que as outras duas, e a
participação não é obrigatória. As atividades que se inserem nesta categoria
são os círculos de qualidade, sistemas de sugestão, relatórios de hiyari (“qua-
se acidentes”) e relatórios de hiyari de qualidade. A gerência acredita que
essas atividades estimulam a mente dos funcionários e ensinam-lhes algo de
grande valor. A seguir, é apresentada uma descrição de uma área de ativida-
des voluntárias, os relatórios de hiyari.
Os benefícios do Kaizen na
Toyota Astra Motor Company
Depois de 25 anos de operação, parece que a cultura do kaizen está firme-
mente estabelecida na Toyota Astra Motor Company, na Indonésia. Em 1995,
o número médio de sugestões foi de sete por pessoa por mês, melhor do
que os números da maioria das empresas japonesas. A gerência estima que
a economia gerada pelas sugestões foi da ordem de US$ 5 milhões, naquele
ano. Desde 1990, a meta de redução de kosu ou melhoria de produtividade
foi de 10 por cento ao ano, e isso tem sido alcançado a cada ano. No início
da década de 1980, a Astra tinha um “hospital de carros” na fábrica com até
400 “carros-pacientes”. Atualmente, todos os carros acabados são entregues
diretamente para o cliente, e o estoque médio de carros acabados na fábrica
é de seis horas. O consultor de kaizen Kristianto Jahja, que costumava traba-
lhar na TAM, lembra que nos primeiros dias ele costumava carregar um saco
plástico quando ia ao gemba, para juntar porcas e parafusos que cobriam o
chão. Porcas e parafusos – e até mesmo rótulos de peças mecânicas e garrafas
de refrigerantes – às vezes eram encontrados dentro de carros totalmente
acabados! Essas condições são coisa do passado. Obviamente, são necessá-
rios muitos anos de firme determinação de gestão para promover essa mu-
dança, mas isso foi alcançado na TAM – e com funcionários que normal-
mente ganham salários muito baixos, de até US$ 150 por mês.
Atualmente, as empresas de manufatura estão buscando novos horizon-
tes fora de seus próprios países. Depois de Cingapura, Indonésia, Malásia e
Tailândia, essas empresas estão se voltando para Vietnã, Mianmar (Birmâ-
nia), China e Índia, onde transformações culturais no ambiente de trabalho,
como aquelas obtidas na fábrica da Astra Motor Company, na Indonésia,
não são improváveis. Isso constituirá certamente um verdadeiro desafio
para empresas na América do Norte, na Europa e em outras regiões indus-
triais onde os trabalhadores ganham 10 vezes mais e estão profundamente
imbuídos de abordagens ocidentais tradicionais de supervisão e gestão.
Do Just-In-Time ao TFM
(Total Flow Management,
ou Gestão Total do Fluxo)
como pedido para iniciar a produção. Este sistema garante que a quantidade
mínima exigida dos modelos populares esteja sempre disponível. Não existe
nenhum depósito para os tipos de colchão diferentes do padrão, pois estes
são enviados diretamente da linha de produção para a loja de móveis que
realizou a encomenda.
A Aisin Seiki começa a fabricar um colchão no dia seguinte ao recebi-
mento da encomenda do revendedor. Isso é possível graças ao prazo de pro-
dução, que é bastante rápido (duas horas). Às vezes, há grandes encomendas
de hotéis e resorts; quando isso acontece, a empresa distribui a produção,
fabricando um determinado número de colchões a cada dia. Essa produção
se ajusta uniformemente em meio à fabricação de outros modelos, de modo
que a programação normal não seja afetada. Isso se chama heijunka, ou ni-
velamento. Grandes encomendas desse tipo exigem que a empresa reserve
espaço de armazenamento externo até a data de envio. Embora o JIT seja
conhecido como um sistema de produção sem estoques, nem sempre é pos-
sível ou prático manter um inventário zero.
Esse sistema de produção produz muitos insights. Primeiramente, pode-
-se perceber uma linha invisível que liga os clientes ao processo de produ-
ção. O tempo de execução curto permite o início da produção após o rece-
bimento do pedido, e os funcionários no gemba podem manter o cliente em
mente ao fabricar o produto. É quase como se o cliente estivesse esperando
na sala ao lado para receber o colchão recém-fabricado.
Em segundo lugar, este sistema permite grande flexibilidade para aten-
der as necessidades dos clientes. Com o uso do kanban, modelos populares
são novamente fabricados assim que são vendidos, minimizando, assim, o
inventário.
Terceiro ponto: esse tipo de sistema de produção pode reagir rapidamen-
te a alterações na linha. Se um item com defeito é produzido, toda a linha
tem de parar, pois não haverá nenhuma substituição. Em outras palavras, a
gestão tem de fazer um esforço conjunto para resolver os problemas na linha
de produção, de modo que ela jamais seja interrompida. Quaisquer proble-
mas de qualidade, mau funcionamento do equipamento e problemas relacio-
nados a erros humanos devem ser tratados e resolvidos para que a linha não
fique parada. O JIT necessita de atividades de kaizen contínuas no gemba e
apela à rígida autodisciplina por parte da gestão e dos funcionários. O fato de
a Aisin Seiki ter recebido o Prêmio Deming e o Prêmio de Controle da Qua-
lidade do Japão atesta o compromisso da empresa com a qualidade.
Em quarto lugar, o JIT permite flexibilizar a programação de produção.
A Aisin Seiki produz apenas os colchões que são encomendados pelos clien-
tes. Mesmo no caso dos modelos mais populares, a empresa não dá início à
produção como antecipação à futura demanda e antes de o inventário diário
mínimo ser determinado. Por outro lado, uma vez que a produção come-
ça, não é possível haver estagnação na forma de trabalho em processo, e o
produto deve ser concluído no menor prazo possível e enviado diretamente
para o cliente sem demora. No caso da maioria dos produtos, não é neces-
sário espaço de armazenamento: um caminhão na rua serve como depósito.
Em quinto lugar, este tipo de sistema de produção ajuda as empresas a
fazer previsões sobre o mercado com mais precisão. Em um mundo ideal,
a produção não começa até que todos os pedidos sejam recebidos. No en-
tanto, isso não é possível. A Aisin Seiki aprendeu com a experiência que a
demanda diária de seu modelo mais popular é de cerca de 40 produtos, que
é o número de colchões desse modelo específico mantidos em estoque. De-
pendendo da popularidade de cada modelo, o inventário diário varia entre 3
e 40. O sistema kanban é usado para a fabricação dos itens que são vendidos
todos os dias. Para outros tipos de colchões, a empresa inicia a produção
somente depois do recebimento do pedido. Tenha em mente que uma das
definições de JIT é “fabricar apenas o número de produtos, e na mesma se-
quência, do pedido”.
Essas são algumas das características visíveis que podemos facilmente
identificar observando a operação na Aisin Seiki ou qualquer outra baseada
em JIT. Alguns recursos adicionais que talvez não sejam tão visíveis, mas
estão presentes, incluem:
S Tempo takt x tempo de ciclo (tempo teórico x tempo real para concluir
uma peça de trabalho)
S Produção puxada x produção empurrada (produzir apenas itens neces-
sários ao próximo processo x produzir tantos itens quanto possível)
S Estabelecer fluxo de produção (refazer a disposição dos equipamentos
de acordo com a sequência de trabalho)
(8 horas/dia x 60 minutos/hora) /
80 colchões/dia = 6 minutos/colchão
Isto significa que, se cada processo da linha A termina sua tarefa a cada
seis minutos, os colchões concluídos saem pela porta a cada seis minutos, e
80 colchões deverão ter sido produzidos ao final do dia.
A palavra takt vem da palavra alemã para a varinha usada por um ma-
estro de orquestra. O tempo takt é um número mágico, porque segue o mo-
vimento do mercado. É o número pelo qual todos na empresa devem viver.
Assim como a batuta de um maestro oscila entre andante e crescendo, o takt
do mercado está sempre mudando, e o gemba deve reagir de acordo. Se cada
processo exceder o tempo takt, haverá falta de produtos; se cada processo
se realizar muito rapidamente, haverá excedente. Quando o tempo takt é
observado corretamente, o gemba avança na mesma cadência do mercado.
Depois de a gestão obter flexibilidade suficiente, o gemba pode reagir ins-
tantaneamente a alterações no ritmo do mercado, produzindo somente a
quantidade número de peças encomendadas.
O tempo takt é uma figura teórica que nos diz quanto tempo é neces-
sário para fazer um produto em cada processo. O tempo de ciclo, por outro
lado, é o tempo real necessário para cada funcionário concluir a operação.
No gemba, irregularidades são um fato da vida, e cada vez que surgem, o
tempo de ciclo aumenta. A noção por detrás do JIT é aproximar o tempo de
ciclo do tempo takt o máximo possível.
Para atingir esse ideal, anomalias de todos os tipos devem ser tratadas.
Quando comparado com o tempo takt em uma empresa que não adotou o
JIT, o tempo de ciclo é muito mais curto – em muitos casos, a metade do
tempo takt –, resultando em um acúmulo de trabalho em processo e produ-
tos acabados que se transformam em excedente de estoque.
Além disso, as linhas de produção devem ser revisadas, a fim de se obter
uniformidade dos tempos de ciclo. Não importa a rapidez com que deter-
minada linha é capaz de funcionar, a eficiência total não vai melhorar se as
demais linhas operarem em tempos de ciclo mais lentos.
teve que ser aumentado 40 vezes, enquanto que o tempo de setup total foi
reduzido. Isso foi possível porque o kaizen foi introduzido com base na
necessidade real.
A produção JIT rendeu outros benefícios também. Ela reduziu substan-
cialmente não apenas os tempos de setup, mas também os de kosu e de atra-
vessamento. Eliminou o depósito. Agora os colchões podem ser entregues
imediatamente, e a equipe de vendas pode oferecer aos clientes uma gama
completa de opções. Além disso, eliminar a necessidade de armazenar pro-
dutos acabados por longos períodos de tempo também eliminou problemas
de qualidade, como manchas, sujeira e desbotamento da cor.
A Aisin Seiki é um dos principais fornecedores de peças e componentes
automotivos para a Toyota Motor Company e tem se empenhado na produ-
ção JIT de seus produtos automotivos há muitos anos. O fato de a empresa
ter sucesso na realização do JIT em um campo desconhecido como a fabri-
cação de colchões mostra que as técnicas e o know-how de produção JIT po-
dem ser aplicados com igual êxito para muitos tipos diferentes de linhas de
produção. A Aisin Seiki também implementou a tecnologia JIT na produção
de máquinas de costura industriais. A empresa também oferece um serviço
de consultoria chamado Sistema de Gestão de Produtos para Costura Toyo-
ta, que auxilia a indústria do vestuário na solução de problemas de projeto,
operação e gestão de fábricas.
Os que ignoram as novas tendências em breve se surpreenderão ao per-
derem competitividade, à medida que a concorrência começar a aprovei-
tar esses incrível sistema de produção. Eles fariam bem em prestar atenção
às seguintes observações feitas por Chie Takagi, supervisor da Matsushita
Electric Works, depois que a empresa havia adotado a produção JIT: “Quan-
do lembro os velhos tempos, pergunto-me como conseguíamos dirigir a
empresa daquele modo. A forma como fabricávamos nossos produtos na-
quela época era praticamente um crime!”
* Adaptado de Euclides A. Coimbra, Total Flow Management: Achieving Excellence with Kaizen and
Lean Supply Chains (Suíça: Kaizen Institute, 2009).
Fábricas
Clientes
Clientes
Pedidos de
Circuitos de transporte
Supermercados e execução puxada Previsões de planejamento
de alta frequência e
distribuição entre armazéns PPE ou PSE da capacidade
pequenos lotes
01/08/14 14:35
Capítulo 11 S Do Just-In-Time ao TFM (Total Flow Management, ou... 161
S Redução de custos
S Redução do capital de giro
S Aumento da produtividade
S Aumento da qualidade
S Aumento da assistência e satisfação do cliente
Isto é obtido com a implantação de um fluxo em toda a cadeia logística,
e esse fluxo começa com o consumo do cliente.
Veremos que podemos começar com pedidos reais ou pedidos para rea-
bastecimento de estoques.
Fisicamente, será necessária a implantação de fluxo de uma peça, o fluxo
de um contêiner e o fluxo de um palete e acelerar esse fluxo por meio da uti-
lização do conceito de “milk-run” em transporte (outra solução que vários
gerentes consideram polêmica e difícil de se acreditar). Não serão utilizadas
previsões para a implantação de pedidos de produção ou de distribuição,
mas esses pedidos servirão à finalidade de gerenciamento da capacidade.
Na verdade, estamos falando de um modelo TFM baseado no processo
de implantação de um fluxo de materiais e informações, visando a obtenção
de resultados inovadores em termos de qualidade, custo e entrega (QCD) e
ao mesmo tempo mudando a cultura da empresa para uma cultura baseada
em kaizen todos os dias, em todos os lugares e na mentalidade de todos. A
Figura 11.2 mostra a relação dos sistemas de produção, logística interna e
logística externa no âmbito da TFM.
A Figura 11.3 mostra os três tipos de circuitos de logística puxada. Você
pode ver que o pilar da logística externa é dividido em duas partes simé-
tricas: a fonte produz fluxo e a entrega produz fluxo. Em cada um desses
fluxos, podemos encontrar a necessidade de implantar um fluxo de projeto
de armazenamento, de entrada, de saída, milk-run e planejamento de logís-
tica puxada.
II. Fluxo de produção III. Fluxo de logística interna IV. Fluxo de logística
externa
Gemba Kaizen
Confiabilidade básica
01/08/14 14:35
Imai_11 163
PSE PSE
Trabalho padronizado
Saída
Saída
Entrada
Entrada
Saída
Entrada
Entrada
Supermercados
Milk Run Milk Run
Fábrica FG ou Almoxarifados de Almoxarifados Centros de
Limite da Projeto de da planta FG distribuição
centros de matérias-primas
linha leiaute e de linha
distribuição
Mizusumashi
01/08/14 14:35
164 Gemba Kaizen
mos agora no final de 2004. Nos últimos quatro anos, a fábrica continuara a
treinar pessoas e implantar projetos de melhoria em muitas áreas. Mas isso
nunca resultou em mudança do sistema empurrado e jamais converteu-se
em um novo projeto de fluxos que fosse significativo.
Como resultado, todos os principais KPIs foram evoluindo muito lenta-
mente, e a fábrica não era mais capaz de mostrar o ritmo de melhoria e vi-
talidade que tinha no passado. Havia chegado o momento de se tentar uma
mudança de sistema. As metas tinham de ser as seguintes:
S Redução do estoque de produtos acabados
S Obtenção de um indicador OTIF em tempo integral (On-Time In-Full)
superior a 98% no serviço ao cliente final
S Obtenção de um indicador OTIF superior a 98% na execução do plano
de montagem
S Redução do estoque de peças e matérias-primas
S Obtenção de um indicador OTIF superior a 98% em entregas de forne-
cedores
S Aumento geral mínimo da produtividade de 10% a cada ano
S Continuação da redução de defeitos de qualidade
S Melhoria na pontuação de auditoria corporativa CI de 10% a 20% a cada
ano
Esse foi o desafio finalmente aceito pela Company A. Hoje em dia, a
concorrência é tão forte em qualquer mercado que só os melhores têm uma
chance. A melhoria contínua – melhor definida como melhoria todos os
dias, de todos e em todos os lugares – é uma importante vantagem compe-
titiva. Acostumada a ser a melhor em seu campo, a Company A não conse-
guia imaginar um cenário em que o ritmo da melhoria cessasse. Um novo
paradigma tinha de ser implementado. Era preciso tentar uma mudança de
sistema. O antigo sistema havia chegado ao limite.
Em seguida, um novo diretor entrou, responsável pelas finanças e lo-
gística, e, junto com o diretor de produção e engenharia, decidiu fazer algo
diferente e inovador. O primeiro passo era convencer a equipe corporati-
va de CI a permitir o contato da empresa com especialistas externos. Essa
tarefa se revelou um trabalho duro e levou cerca de um ano para ser bem
sucedida.
No início de 2005, a fase de planejamento do projeto de fluxo puxado
foi iniciada. A tarefa consistía em analisar o estado atual utilizando o ma-
peamento de fluxo de valor, definir uma visão de estado futuro e organizar
um projeto de implementação do fluxo puxado com base no modelo TFM.
Cartões Cartões
14 d 6h 0,3 h
2CX (30% ref) Pedidos mensais
8 dM Planejamento SAP 4dM, M1-M6
M1- de capacidade Div/Semana MMPP
Reg. 3 WIP WIP
Capítulo 11
M6 EPS
Pç Ext. Pç Ext. Pç Ext. Plan. de vendas mensais CDs
S
18,4 h 2,4 h
Chim
Do Just-In-Time ao TFM (Total Flow Management, ou...
01/08/14 14:35
170 Gemba Kaizen
• Redução da variabilidade;
S
• Contâiners menores ao
alcance da mão e em local fixo;
• Melhor balanceamento;
• Flexibilidade da mão de obra;
• Setup zero;
• Automação de baixo custo.
Do Just-In-Time ao TFM (Total Flow Management, ou...
171
01/08/14 14:35
172 Gemba Kaizen
Definição de MTS/MTO/Refa 4d
S
PA
FG
BC d-1 3.2.1
1h A1
16 min
An Embalagem
48 min
Do Just-In-Time ao TFM (Total Flow Management, ou...
Embalagem Embalagem
no supermercado
01/08/14 14:35
176 Gemba Kaizen
Just-In-Time na Wiremold
Este capítulo é um estudo de caso que mostra como uma empresa, a Wire-
mold, tratou a questão de aumentar a flexibilidade por meio da introdução
do just-in-time (JIT). A Wiremold é uma empresa de aproximadamente 100
anos de idade com sede em West Hartford, Connecticut. Suas duas princi-
pais linhas de produtos são dispositivos de gestão de cabos e produtos de
condicionamento de energia. Sob a liderança de Art Byrne, que assumiu
como novo presidente em setembro de 1991, a empresa iniciou um esforço
total para introduzir o gemba kaizen, com particular ênfase em JIT.
Tive a oportunidade de visitar a empresa cinco meses após a introdução
do gemba kaizen e tive longas conversas com Art Byrne e Frank Giannattasio,
vice-presidente de operações. Durante os cinco primeiros meses, a empresa
havia liberado aproximadamente 40 por cento do espaço do chão de uma fá-
brica. O nível de estoque, incluindo matérias-primas, trabalho em processa-
mento e produtos acabados, caiu mais de 20 por cento. A movimentação do
capital de giro aumentou em 30 por cento, e a empresa previa um aumento
de 25 a 30 por cento em sua produtividade até o final do ano. Depois de cinco
meses, o lead time de cerca de seis semanas para a fabricação de um produto
caiu para uma semana. Claramente, a introdução do gemba kaizen trouxe
grandes melhorias em um período muito curto. Minhas conversas com Byr-
ne e Giannattasio mostram um retrato ilustrativo do JIT em ação:
Imai: Que tipos de mudança ocorreram na maneira como você faz negó-
cios desde que o JIT foi introduzido?
Giannattasio: Antes a Wiremold operava com base na premissa de uma
previsão. Gerávamos um nível presumido de consumo de nossos produtos,
então programávamos lotes e produzíamos o volume de consumo de vários
meses de vários produtos. Depois armazenávamos tudo em estoque. Eles se-
riam, então, consumidos durante um período, alguns de acordo com nossa
não havia mais ninguém aqui quando cheguei que realmente entendesse o
just-in-time, fui também o primeiro instrutor. Escrevi o manual e ministrei
as primeiras aulas do treinamento. Treinei cerca de 200 pessoas em sessões
de dois dias. Mas isso, certamente, deu às pessoas a nítida impressão de que
isso era o que íamos fazer e que eu realmente apoiava a ideia. Não foi algo
que tentei delegar a outra pessoa ou entregar a um comitê. Eu acho que o
fundamental é que a alta administração deve liderar e deve estar bastan-
te envolvida; deve estar disposta a ir até o chão de fábrica, a trabalhar em
equipes de kaizen pessoalmente e a pegar uma máquina e colocá-la para
trabalhar. É realmente necessário ter o compromisso total da alta gestão, ou
nunca vai dar certo.
Imai: Que tipo de mudanças organizacionais tiveram de ser promovidas
para introduzir o gemba kaizen com JIT?
Byrne: Bem, antes de começarmos o kaizen, fizemos uma série de mudan-
ças organizacionais. Antes de tudo, tentamos horizontalizar a organização.
Tínhamos uma organização vertical muito tradicional que horizontaliza-
mos, colocando todos em equipes. Nossa antiga organização tipicamente
baseava-se em um tipo de processo, como estampagem, pintura, etc. Orga-
nizamos as novas equipes em torno de produtos, de modo que cada líder de
equipe tinha todos os recursos necessários para fabricar o produto comple-
to, para planejar esse produto e para colocar esse produto no mercado. Esse
foi nosso primeiro passo. Para apoiar essa atividade, criamos uma equipe
bastante ampla para promover o just-in-time. Temos seis de nossos funcio-
nários mais capacitados nesta equipe e seu trabalho é basicamente ensinar
e dar treinamento sobre just-in-time, acompanhar o kaizen que praticamos
e garantir que tudo o que dissemos que íamos fazer seja feito. Eles também
trabalham com os líderes de equipe no chão da fábrica e ajudam a imple-
mentar o kaizen.
Imai: Como você relaciona a abordagem JIT/kaizen ao planejamento estra-
tégico convencional?
Byrne: Uma coisa que me chamou atenção em minha função anterior
como planejador estratégico foi que muitas empresas são capazes de elabo-
rar planos estratégicos realmente maravilhosos, mas têm enorme dificulda-
de em implementar esses planos. A razão para isso é que os sistemas básicos
de entrega (a forma como fabricam determinado produto, o modo como
projetam e introduzem o produto) não funcionam muito bem. Assim, em-
bora o plano estratégico possa ter sido bom, o tempo necessário para desen-
Toyota, foram os únicos que tiveram a disciplina necessária para seguir com
este programa. Ohno levou cerca de 30 anos para desenvolver um bom sis-
tema just-in-time. Nos Estados Unidos, e talvez na Europa, tendemos a não
ter paciência para manter um sistema como este. Então, em minha opinião,
o just-in-time não é algo japonês; é algo que qualquer um pode fazer sem
muito investimento.
Estas conversas com Art Byrne e Frank Giannattasio ocorreram em
1992. Desde então, a Wiremold continuou a trabalhar com JIT/gemba kai-
zen. Em uma carta recente de Frank Giannattasio, ele resumiu a situação da
Wiremold da seguinte forma:
Nós, da Wiremold, utilizamos nosso método de produção just-in-time há
quatro anos. Chamamos nosso processo just-in-time de Sistema de Pro-
dução Wiremold. Reduzimos nosso prazo de entrega em 67% ao longo
de quatro anos: antes enviávamos os pedidos de nossos clientes em 72
horas; agora, enviamos os pedidos em no máximo 24 horas. Ao mesmo
tempo, aumentamos nosso giro de estoque em 367%, de 3 vezes para
14 vezes ao ano, quase duplicando o tamanho do nossa empresa. Fize-
mos isso pela prática dos três princípios básicos de nosso sistema de
produção:
S Produzir no tempo takt.
S Implantar o fluxo de uma peça.
S Usar um sistema puxado.
Implementamos esses princípios com uma estratégia de kaizen e com
trabalho em equipe. Tentamos manter todas as melhorias em padrão de
trabalho ao mesmo tempo em que avaliamos nosso progresso com várias
medições.
Mudamos nosso sistema de produção da produção em lotes guiada
pelo planejamento das necessidades de material (MRP) para um sistema
de fluxo de uma peça puxado pelo cliente em uma série de etapas:
1. A Etapa 1 consistiu em primeiro reorganizar a fábrica física e organi-
zacionalmente. Organizamos nossa fábrica em unidades de negócios
com base na similaridade entre produtos. Em seguida, limpamos nos-
sa fábrica, seguindo a orientação do modelo 5S japonês. Isso tornou
o desperdício muito evidente.
2. A Etapa 2 foi centrada na redução do tempo de setup e no segui-
mento estrito das programações de produção. As programações
agora são baseados nas vendas recentes em vez de previsões de
MRP. Nossos esforços nesta fase foram desenvolver flexibilidade e
capacidade de resposta. Sabíamos que tínhamos de reduzir os pra-
zos de entrega com nosso processo de produção e melhorar a confia-
bilidade operacional dos processos. Os ganhos que obtivemos com
cada kaizen foram geralmente a redução do tempo de setup em pelo
* Este trecho é impresso com a permissão da Association for Manufacturing Excellence, 380 West Pala-
tine Road, Wheeling, Illinois, EUA.
Imai: Você tem sido repetidamente capaz de mostrar que o kaizen pode
produzir resultados financeiros. Alguém tentou seguir o seu exemplo?
Byrne: Na Wiremold, muitas pessoas tinham ouvido falar de nós a partir
de artigos e livros, incluindo o seu Gemba Kaizen, e muitas diziam: “Nós
queremos fazer isso”. Por conta disso, começamos a realizar visitas às fábri-
cas. Pensamos que devíamos ajudar essas pessoas, pois boa parte de como
aprendemos essas coisas foi por acompanhar a Shingijutsu e ver o que ou-
tras pessoas estavam fazendo.
As visitas estavam começando a tomar muito tempo, e ainda precisá-
vamos administrar a empresa e fazer uma série de melhorias. Queríamos
ajudar, mas também sabíamos que a menos que o CEO estivesse envolvido,
nenhuma empresa voltaria para casa e faria aquilo. Então eu disse: “Vamos
instituir uma regra simples. Você pode vir nos visitar, mas só se trouxer o
seu CEO. Sem o CEO, você não pode vir a Wiremold”. Todas as visitas para-
ram de acontecer naquele mesmo instante. É a pura verdade. Foi exatamente
isso que aconteceu.
Imai: Este é o mesmo problema que temos visto: a alta administração pa-
rece que nunca está pronta para implementar o kaizen, mesmo quando os
benefícios são bem conhecidos. Por que isso acontece?
Byrne: Bem, a estratégia enxuta é algo realmente fácil de entender concei-
tualmente, mas difícil de fazer. A maioria dos CEOs não entende o básico,
o número um. A fim de fazer isso, você tem de fazer algumas mudanças
bastante radicais na forma como faz as coisas. Todo o seu pessoal interno
vai reclamar.
Digamos que você é o CEO e tem uma equipe de oito pessoas, e um dia
você diz: “Tudo bem, vamos mudar e deixar de fazer tudo em grandes lotes
em alta velocidade para adotar o fluxo de uma só peça. Vamos obter ganhos
anuais de produtividade de 15% a 20%, vamos liberar um monte de espaço,
diminuir bastante o inventário, encurtar drasticamente o nosso tempo de
atravessamento e ganhar participação no mercado”.
Isso pode parecer incrível, mas vai ser muito ameaçador e assustador
para sua equipe. Por exemplo, existe um motivo para haver o inventário:
sem ele, o pessoal não consegue atender ao cliente muito bem. Eles fazem
todas essas coisas de determinado modo há muitos anos, então estão con-
vencidos de que é a única maneira de fazê-lo. E eles estão convencidos de
que, se o inventário diminuir, vão ter um grande problema, e por esse mo-
tivo eles vão lutar contra isso. O pessoal do setor de fabricação vai dizer
ao CEO que isso não pode ser feito. As pessoas de vendas e marketing não
querem nem ouvir falar sobre cortes do inventário. Na verdade, eles estão
sempre reclamando para que haja ainda mais inventário. O cara do setor
financeiro utiliza sistema de contabilidade de custos padrão, e a ideia de
não produzir grandes lotes para calcular o custeio integral todos os meses é
horrível para ele.
Mesmo quando você mostrar um exemplo, eles não acreditam. Imagine
que você é o CEO de uma empresa e diz ao pessoal da fabricação: “Sabem,
acabo de voltar da fábrica do Art e vi o pessoal de lá fazer a mudança das
mesmas máquinas que temos em um minuto, então preciso que vocês façam
o mesmo”. Vão pensar que você é louco, mas, em seguida, vão mostrar todas
as razões pelas quais a sua fábrica não pode fazer isso. Mesmo que seja o
CEO, você não vai ganhar essa discussão, porque agora você está dizendo às
pessoas que fazem o trabalho para fazer algo que, depois de 20 anos de expe-
riência, elas acreditam que seja impossível. A única alternativa que você tem
é mostrar para elas como fazer. Infelizmente, a maioria dos CEOs não sabe
como fazer isso, então eles desistem e tudo continua como sempre.
Imai: Muitas empresas afirmam ser enxutas, mas não adotaram a estraté-
gia de produção enxuta. O pessoal da General Motors adora dizer que são
enxutos e precisos. Acho que eles são eficientes, mas não enxutos.
Byrne: Acredito que quando a General Motors e a Chrysler passaram por
reestruturação, foi apenas uma reestruturação financeira. Eles não firam
muito para mudar suas operações. Mantiveram as partes boas e se livraram
das partes ruins, mas eles não fizeram muito para mudar as partes boas e
a maneira de fazer o trabalho para que o desperdício fosse eliminado. A
mentalidade e o foco dessas empresas são muito mais do tipo “qual é o custo
do trabalho?” “Posso chegar a um acordo com o sindicato para obter um
sistema de dois níveis salariais?” “Posso levar o trabalho para fora do país?”
e outras coisas desse tipo.
A empresa tem um novo CEO, mas, por outro lado, boa parte da gestão
continua a mesma. É a mesma mentalidade, e é a mesma maneira de olhar
as coisas, então eu não entendo como a empresa de repente pode tornar-se
fantástica.
Talvez uma das maiores dificuldades para qualquer organização que
tenta adotar a estratégia enxuta seja a falta de critérios objetivos sobre o que
medir a fim de melhorar suas chances de alcançar uma posição melhor no
futuro. Você não pode gerir o passado, que já aconteceu. Gerencie as coisas
que tornarão melhores o próximo trimestre e o próximo ano. Se você puder
compreenda que todo mundo tem uma participação nisso. Isso ajuda de
verdade. Acho que essas cinco medidas podem ser muito bem aplicadas a
qualquer empresa de fabricação, e se você realmente se concentrar nelas e
definir metas ambiciosas, as coisas vão melhorar, acredite.
O sucesso reiterado de Art Byrne com kaizen em diferentes empresas con-
firma a minha crença de que, com a abordagem certa da alta administração,
o kaizen é um sistema confiável para melhorar o desempenho global e o
valor de uma empresa. A experiência da Art também sugere algumas dire-
trizes para CEOs seguirem um caminho similar. Vou resumir da seguinte
maneira: Para garantir o sucesso com o kaizen, o CEO deve
S Tornar a estratégia da empresa enxuta.
S Ser um líder na prática e um “fanático” pela estratégia enxuta.
S Tornar perfeitamente claro que todos os funcionários devem adotar a
cultura do kaizen.
S Agir rápida e decisivamente para colocar em prática as iniciativas de
melhoria imediatamente.
S Ir ao gemba pessoalmente e mostrar aos funcionários de todos os níveis
o que tem de ser feito.
S Adotar medidas com base em metas enxutas amplas, mesmo que não
sejam realizáveis no curto prazo.
S Estar pronto para mudar tudo o que uma empresa fez no passado, mes-
mo que haja resistência considerável e muitas razões sejam apresentadas
de por que isso não pode funcionar “no nosso negócio”.
S Evitar sistemas de medição que analisem o passado exageradamente; em
vez disso, concentrar-se em critérios simples e objetivos que definam
um caminho em direção a um melhor desempenho.
S Envolver a melhor experiência enxuta disponível e aprender continua-
mente a partir da práticas dos outros.
Além de tudo isso, os CEOs devem tornar as empresas melhores no que
fazem. A agregação de valor ocorre no gemba, não no escritório do CEO.
Qualquer pessoa na empresa que não esteja tentando ativamente melhorar a
forma como o valor é agregado é desperdício. Só podemos esperar que mais
líderes sejam inspirados a agir desse modo.
Ir ao gemba
Gemba Kaizen e o kaizen corporativo geral
C. Combinação do movimento:
1. Sequência do trabalho
2. Direcionamento do trabalho
Outros itens importantes a serem incluídos são considerações de segu-
rança, inspeção, tempo de ciclo e trabalho inacabado padrão.
kaizen sejam planejados por meio de uma série de processos ligados em vez
de ilhas isoladas; caso contrário, o fluxo global de material e informações
pela empresa não vai melhorar tão rapidamente.
Outro risco comum das empresas que iniciam o gemba kaizen que deve
ser evitado é apenas ministrar workshops de gemba kaizen sem estabelecer
a fundação da casa de gemba centrada no pessoal (ver capítulos 7, 9, 10 e
13). Para o gerente que se orienta por resultados, pode ser excitante planejar
diversos workshops de gemba kaizen e planejar com antecedência tendo em
mente as diversas e maravilhosas economias que irão resultar, mas sem a
fundação, não há sustentabilidade dos resultados a longo prazo.
A Tabela 14.1 mostra uma média de melhorias por tipo entre os clientes
do Kaizen Institute que se envolveram em um programa sustentado e equili-
brado de gemba kaizen e desenvolvimento da capacidade humana.
Uma das razões pelas quais o Kaizen Institute começa pelo gemba kaizen
é que ele ajuda a identificar muitos sistemas inadequados de gestão de in-
sumos na empresa. O gemba é como um espelho que reflete as capacidades
reais da empresa: Os problemas encontrados no gemba são muitas vezes o
resultado do suporte fraco dado por vários departamentos. Entre os exem-
plos, encontramos:
A. Departamento de engenharia:
1. Projeto de layout insuficiente
2. Equipamento inadequado
3. Preparação inadequada para produção
precisa pedir todos os dias. Trabalhei por alguns anos na Alemanha, e se pe-
dir repetidamente a seus funcionários que façam algo lá, você é considerado
inadequado, porque eles são mais independentes.
Em Portugal, temos também um sistema de classes muito extremo em
muitas empresas. No nível da manufatura, há funcionários sem instrução e
pouco qualificados, enquanto nas áreas indiretas há profissionais muito quali-
ficados e instruídos, que podem falar três, quatro ou cinco línguas diferentes.
O kaizen nos ajudou a construir uma cultura que valorizava nossos
funcionários de colarinho azul ainda mais do que nossos funcionários de
colarinho branco. Quando implementamos a Manutenção Produtiva Total
(TPM), por exemplo, percebemos que o operador tem de ser proprietário
da máquina.
Percebi isso muito claramente quando estava visitando uma fábrica no
Japão e vi um trabalhador de chão de fábrica muito irritado, gritando com o
gerente da fábrica. Perguntei a um de meus tradutores o que havia aconteci-
do, e ele disse que o trabalhador de chão de fábrica havia acabado de casar.
Quando as pessoas se casam no Japão, elas ficam afastadas do trabalho por
cinco dias, e ninguém havia cuidado de sua máquina durante esses cinco
dias. Na cultura do kaizen, a máquina não pertencia à empresa ou a seus
proprietários – ela pertencia ao operador. Isso é muito importante.
Voltei a Portugal e expliquei esse princípio aos outros, e esse pode ter
sido o momento da virada. De repente, as pessoas começaram a acreditar na
TPM, e eu percebi que o kaizen não exigia tanta energia. No início exige, mas
depois que as pessoas assumem esse caminho, tudo se torna muito mais fácil.
Nossos números começaram a melhorar, mas isso não aconteceu de um
dia para o outro. Em 2003, atingimos 275 pontos de 800 – não era a classi-
ficação que esperávamos. Em 2007, no entanto, havíamos atingido o nível
de 500 pontos, que é a referência para uma boa fábrica da Bosch. A Bosch
realizou um concurso nesse ano, e fomos indicados como uma das cinco
melhores fábricas do Sistema Bosch de Produção em todo o mundo. Além
disso, algumas de nossas práticas para envolver e capacitar nossos funcioná-
rios foram consideradas para implementação na Bosch em todo o mundo.
Isso não é nada mau para um país pequeno como Portugal.
primeira vez, como suas ações ou falta reações estavam afetando outros na
cadeia de valor.
Jogos também foram usados para compreender melhor os papéis de ou-
tros membros da equipe e para aprender sobre os benefícios e as dinâmicas
de equipes multifuncionais. Jogos tradicionais de manufatura enxuta, como
o Jogo de Avião, foram adaptados para a TI.
Depois que foram estabelecidos alguns entendimentos básicos, equipes
de melhoria multifuncionais puderam prosseguir com o mapeamento do flu-
xo de valor. Em um projeto típico de desenvolvimento de software, o produto
invisível se move a partir da definição dos requisitos de negócios para fluxo-
gramas, construção de código, solução de problemas e testes com usuários.
Um exemplo na Achmea foi a adaptação do aplicativo de planejamento de
poupança para aposentadoria para dar conta de novas regras fiscais.
Ver seu trabalho representado em mapas do fluxo de valor ajudou os
funcionários a descobrir alguns dos principais problemas organizacionais.
Os gerentes de projetos, que eram responsáveis por garantir que seus pro-
jetos fossem concluídos no prazo e dentro do orçamento, não tinham auto-
ridade sobre os membros da equipe que estavam desenvolvendo o produto.
Em vez disso, os membros da equipe respondiam aos gerentes de linha, cujo
trabalho era alinhado por função – engenheiros respondiam ao gerente de
engenharia, analistas respondiam a um gerente de testes, etc. Foram realiza-
das reuniões de equipe para discutir problemas, mas estas ocorriam apenas
dentro dos mesmos grupos funcionais.
A falta de coordenação entre esses grupos funcionais significava que
cada projeto era, essencialmente, livre para todos. Os gerentes de projeto
muitas vezes tinham que competir por recursos para concluir seus projetos
e frequentemente eram usurpados por outros com mais influência. Para se
proteger, eles costumava fazer alocações em excesso. Embora os gerentes de
linha soubessem das capacidades de seus funcionários, ninguém sabia como
construir e gerenciar as equipes multifuncionais com que se contava para
concluir os projetos.
O estabelecimento de fluxos de valor também identificou desperdício
sem agregação de valor, tornando possível medir a produtividade dos fun-
cionários. Esse número é caracteristicamente baixo em grupos de desenvol-
vimento de software, devido à complexidade das interações – 25% é consi-
derado normal.
Os funcionários da Achmea resistiram muito a pesquisas que mediam a
razão entre seu tempo produtivo e improdutivo – muitos disseram que sen-
tiram estar sendo espionados. Os pesquisadores conseguiram avançar, no
menores. Essas melhorias, por sua vez, ajudariam a empresa a atingir suas
metas de reduzir prazos de entrega e aumentar a flexibilidade para atender
a demandas dos clientes.
Após o treinamento inicial, os membros de equipe estabeleceram um
plano focado que iria ajudá-los a implementar o kaizen. A primeira etapa
foi a construção de dois mapas do estado presente da Ledervin. O primeiro
destes analisava o fluxo de materiais desde a recepção de matérias-primas
até o transporte do produto final. O segundo seguia o fluxo de informações
desde o pedido do cliente, passando pelo planejamento de produção, pelo
planejamento de materiais, até o pagamento pelo cliente.
Depois que os mapas foram concluídos, os funcionários foram designa-
dos para seus respectivos processos e, usando o formato de workshop gem-
ba kaizen, realizaram uma série de sessões regulares de kaizen para debater
melhorias que poderiam ajudá-los a alcançar o estado futuro. Alcançar seu
objetivo significaria reduzir os tempos de setup, aumentar a disponibilidade,
reduzir os defeitos em produtos e melhorar o leiaute e o projeto da linha,
estabelecendo metodologias de kaizen como supermercados e rotas mizu-
sumashi.
A Tork Ledervin sabia que a mudança de cultura não acontece da noite
para o dia, então a empresa concentrou energias no departamento de tecela-
gem. A partir de fevereiro de 2010, todos desde administradores até pessoal
de manutenção e líderes de equipe iniciaram uma série de workshops com
duração entre 7 e 10 dias com o objetivo de reduzir o número de defeitos,
aumentar a eficiência dos teares e reduzir os tempos de setup. Cada planta
realizava o kaizen para ajudar a melhorar um processo existente. Em uma
sessão, por exemplo, funcionários construíram um supermercado que for-
neceria fios de forma mais eficiente.
Apesar de atingir resultados positivos significativos no prazo de três me-
ses, os defensores do kaizen na Ledervin sabiam que precisavam desenvol-
ver uma cultura de melhoria contínua na empresa para além dos workshops.
Uma abordagem diária ao kaizen garantiria que esses padrões fossem man-
tidos e que desvios fossem tratados adequadamente nos anos seguintes.
Trabalhando com o Kaizen Institute, o diretor-gerente da Tork Leder-
vin, Irineu Bergamo, construiu um modelo com vários objetivos principais
em mente. Eram eles:
S Melhorar a gestão de área por meio da implantação de um sistema visual
para exibir indicadores-chave de desempenho (KPIs) e compartilhá-lo
com as equipes de trabalho.
sei do Kaizen Institute que gerenciou o projeto. “Isso tinha de começar com
uma clara identificação do “valor” do ponto de vista do cliente do aeroporto”.
Desse ponto de vista, a verificação de segurança tinha o objetivo de ga-
rantir o bem-estar dos passageiros, respeitando um conjunto internacional
de normas e costumes sociais e, ao mesmo tempo, cumprindo com rigo-
rosas normas internacionais. O valor real estava em fazer os passageiros se
sentirem seguros sem fazer com que se sentissem examinados ou constran-
gidos por procedimentos de segurança intrusivos.
Três equipes de kaizen foram formadas, cada uma delas com 10 a 12
membros que representavam todas as subáreas da categoria “controle de
passageiros e de bagagem de mão”, incluindo preparação dos passageiros,
triagem, operações da porta de raio-x e detector de metais, sala de controle
e supervisão. As equipes foram treinadas a respeito de conceitos básicos de
kaizen e ferramentas de manufatura enxuta.
Depois de obter uma compreensão dos conceitos, as equipes começa-
ram uma “caminhada” para ajudar a identificar desperdício e fazer sugestões
de melhorias. Cada membro da equipe seguiu o caminho que o passageiro
percorria desde a emissão do bilhete, passando pela fila para controle de se-
gurança e pela efetiva verificação de segurança, até sair da área de seguran-
ça. Durante suas observações, os funcionários ficaram surpresos com o que
viram, e muitos experimentaram uma epifania que os ajudou a internalizar
a perspectiva de kaizen centrada no cliente.
Depois, a equipe usou o mapeamento do fluxo de valor para identificar e
visualizar os processos e para separar valor de desperdício. Uma fonte espe-
cífica de muda foram as longas filas, pois isso resultava em perda de tempo
para os passageiros e, em última análise, em menos receitas para o aeropor-
to (uma vez que os passageiros passavam menos tempo fazendo compras).
A caminhada ajudou a identificar algumas causas. Em primeiro lugar, não
havia bandejas suficientes para os passageiros colocarem seus itens de bolso
para a verificação da bagagem, fazendo com que tivessem de esperar pelas
bandejas. Além disso, a tela que exibia instruções para os passageiros era
muito alta e, como resultado, as pessoas muitas vezes não viam as instruções
e ficavam confusas sobre o que fazer.
As equipes publicaram uma lista planejar-executar-verficar-agir
(PDCA) para ajudar a eliminar os problemas e as fontes de desperdício.
Guiados pelos resultados do exercício de mapeamento do fluxo de valor, os
trabalhadores começaram, por meio de uma série de sessões de kaizen, a ge-
rar ideias para por em prática uma visão que permitisse que os passageiros
passassem tranquila e confortavelmente pelo processo.
qualidade dos processos que tinham impacto maior e mais direto sobre os
clientes. A equipe descobriu que quando passageiros internacionais saiam
do avião para o aeroporto, não havia nada que indicasse a atmosfera histó-
rica de Roma.
O kaizen havia ensinado à ADR que a energia que impulsiona a melho-
ria contínua vem de trabalhadores do gemba que têm contato diário com
milhares de clientes e, por isso, esses trabalhadores foram convidados a pro-
por ações simples e concretas que pudessem fazer com que os passageiros
sentissem o significado de lugar em que haviam aterrissado. Para incentivar
o trabalho em equipe, os projetos tinham de ser apresentados por grupos
com um mínimo de cinco pessoas. Cerca de 200 pessoas apresentaram um
total de 111 ideias de projetos, que foram avaliadas por uma comissão espe-
cial. Depois de considerações sobre o impacto e a viabilidade de cada ideia,
14 delas foram selecionadas, e cada uma delas foi entregue a uma equipe
encarregada de sua implementação. Algumas delas foram:
S Trinta cartazes diferentes foram afixados pela equipe nos terminais do
aeroporto para dar as boas-vindas aos passageiros em Roma. As ima-
gens incluíam fotografias da cidade e dos aeroportos Leonardo da Vinci
e Ciampino.
S Duas áreas foram selecionadas e preparadas, nas quais os pais podiam
ficar com seus filhos enquanto esperavam por sua bagagem.
S Carrinhos gratuitos foram colocados em duas salas de embarque do ter-
minal, e foi dado atendimento personalizado nos terminais de embar-
que e desembarque.
S Salas de espera foram criadas para passageiros com mobilidade reduzi-
da.
S Novecentos livros com frases foram distribuídos aos operadores de ter-
minais, contendo as expressões mais comuns em língua inglesa. Outros
trezentos foram distribuídos com as frases mais comuns em russo, chi-
nês, japonês e alemão, além de um guia de pronúncia.
S Um manual foi colocado em cada loja, detalhando procedimentos de
comunicação, novos produtos e os procedimentos gerais apropriados.
O projeto Archimede também contribuiu para o funcionamento da se-
gurança do aeroporto, por meio do desenvolvimento de padrões de com-
portamento que ajudariam a deixar os passageiros mais à vontade durante
processos de verificação potencialmente tensos. Alguns dos assuntos que fo-
ram abordados nos folhetos desenvolvidos pela equipe foram contato visual
com os passageiros, entrega dos objetos físicos que passaram pela verifica-
Continuidade
Uma cerimônia de premiação foi realizada em 2011 para reconhecer o tra-
balho duro e as conquistas de 200 funcionários de kaizen na ADR. Todos os
presentes entendiam, no entanto, que este não era um fim, mas um começo.
Seminários de kaizen, que continuam até hoje, são abertos a todos os tra-
balhadores e incentivam as pessoas a exporem suas próprias ao grupo e a
porem em prática o que aprenderam a cada dia.
Graças ao kaizen, há um senso renovado de energia na ADR. Os resul-
tados foram tão positivos que a gestão agora considera o kaizen como uma
competência distintiva e incentiva os trabalhadores a buscar continuamente
ações de melhoria diária. Resultados como este garantem que a ADR – no
verdadeiro espírito do kaizen – continuará a melhorar a experiência do pas-
sageiro nos próximos anos.
Esta história sobre kaizen em uma grande cadeia de varejo é outro bom
exemplo de como os princípios do gemba kaizen podem ser aplicados a se-
tores muito diferentes da manufatura. Além disso, demonstra que o kaizen
não é um método prescritivo, mas que evolui e se adapta com base nas ne-
cessidades específicas de cada organização. Neste caso, o que começou como
um programa de treinamento se transformou em um processo de transfor-
mação abrangente, que envolveu todos os 25.000 funcionários.
A gestão de uma operação de varejo requer um equilíbrio delicado.
Mudanças sutis no ambiente de varejo podem ter grande impacto sobre o
comportamento do cliente. Isso significa que as melhorias devem ser imple-
mentadas de formas que não sejam visíveis ou prejudiciais para o chão de
varejo, a fim de evitar o risco de afastar clientes. Consequentemente, quando
a Sonae MC implementou o kaizen em seus 171 supermercados de produtos
alimentares, ela se referiu a este trabalho como sua “revolução silenciosa”.
A Sonae MC é uma subsidiária da Sonae, a maior empresa privada de
Portugal. A Sonae MC é a unidade de negócios mais antiga da empresa, com
faturamento de 3,27 bilhões de euros em 2010. Depois de 25 anos no mundo
dos negócios, essa experiência ajudou a Sonae MC a se tornar líder em seu
setor, mas também criou uma cultura em que muitas pessoas acreditavam
que a maneira antiga era a maneira correta.
O kaizen foi considerado inicialmente na Sonae MC como forma de
cumprir uma nova exigência do governo, em vigor a partir de 2006, que
obrigava todas as empresas a oferecer um mínimo de 35 horas de formação
profissional por ano para cada funcionário. Isso, por sua vez, foi parte de
uma estratégia nacional para tornar Portugal um país mais competitivo no
âmbito da União Europeia e em todo o mundo.
Devido ao grande número de funcionários – a Sonae MC é a maior em-
pregadora de Portugal – estava claro desde o início que este não seria um
projeto de formação simples. O escopo incluía treinamento em sala de aula
Sucesso compartilhado
Embora o treinamento e o apoio para os conceitos de kaizen viesse da ges-
tão, as mudanças foram concebidas e implementadas pelos próprios traba-
lhadores. Cada vez mais, esses trabalhadores sentiam-se confortáveis com
Nova liderança
Enquanto as equipes estavam ocupadas com a estabilização da cultura de
kaizen, uma grande mudança ocorreu na gerência. Um novo executivo, Má-
rio Pereira, assumiu o papel de gerente da Sonae MC. Alguns temiam, ini-
cialmente, que isso pudesse prejudicar a cultura de kaizen que começava a
ser desenvolvida. No entanto, a transição foi cuidadosamente gerenciada, e
Pereira compreendeu imediatamente a importância da iniciativa de kaizen,
que havia sido considerada o maior projeto de inovação do ano anterior.
Pereira não só concordou em dar continuidade ao kaizen, mas também
o reforçou fortemente. Ele participou pessoalmente das sessões de treina-
mento, abraçou a cultura do kaizen e montou um comitê diretor para o
SIMk composto por gerentes encarregados do planejamento de alto nível
para a melhoria contínua.
O kaizen continua
A Sonae MC obteve muitas conquistas através do kaizen em cinco anos e
tornou-se a primeira e única grande cadeia de varejo a alcançar este nível
de proficiência em kaizen. Por meio de um esforço conjunto que chegou
• Pensamento enxuto
• Gestão da cadeia de fornecimento
• Qualidade
• Gestão de demanda
• P3M
• Inteligência competitiva
trial é fruto, entre outros esforços, de uma cultura em constante busca pela
excelência e que é parte da empresa desde os anos 1970, quando começou
suas atividades. Essa vocação foi confirmada e ainda existe até hoje.
Desde o início, o objetivo da empresa era expandir sua competitividade,
aumentando a produtividade e reduzindo os custos operacionais. O kaizen
chegou à empresa com a missão de dar bons resultados e de “se pagar” a
curto ou médio prazo. Com o desafio aceito, o projeto começou em Join-
ville. O ponto de partida foi a identificação de oportunidades por meio do
mapeamento de fluxo de valor (VSM) e a definição dos objetivos a serem
cumpridos, seguido pelo desenvolvimento de um plano inicial capaz de
transformar uma de suas unidades e de orientar os primeiros passos de sua
implementação.
Sem perder de vista os objetivos da estratégia operacional da Embraco, o
Kaizen Institute e os gerentes de projeto da Embraco concentraram esforços
no desenvolvimento e na implementação das ações identificadas na visão de
kaizen descrita no fluxo de valor futuro. Promover oficinas diretamente nos
gemba rendeu bons resultados em apenas uma semana e foi um fator deter-
minante que motivou a equipe a apresentar estes resultados preliminares
para a administração da empresa, que aprovou a continuidade do projeto.
Para estruturar esta primeira etapa, a equipe organizou alguns eventos de
sensibilização para a liderança, reunindo cerca de 70 profissionais, incluin-
do diretores, gerentes e líderes. Todos participaram de uma oficina que teve
como objetivo apresentar os conceitos e ferramentas de kaizen/manufatura
enxuta de forma prática, lançando as bases para um dos princípios da fa-
mosa metodologia de aprendizagem japonesa: aprender fazendo (ver figu-
ra CS-2).
Os jogos realizados durante as oficinas de gemba kaizen consolidaram as
bases de que as equipes precisavam para executar o projeto proposto com su-
cesso. O resultado foi a adesão coletiva. Todos estavam convencidos de que,
se bem conduzido, o kaizen não só poderia fazer uma análise dos processos
da fábrica de Joinville, mas também poderia indicar pontos para melhoria e
levar a unidade a melhores resultados. Convencida da teoria e sensibilizada
pelos workshops realizados, a equipe deparou-se com a tarefa mais difícil:
efetivamente orientar a mudança e alcançar os objetivos estabelecidos.
A cada semana, novos workshops de gemba kaizen foram realizados, e
mais funcionários foram sensibilizados para compreender seu papel impor-
tante no processo de transformação que a empresa pretendia implementar.
Cada etapa trazia novos resultados positivos, conforme novas conquistas e
novas rodadas de kaizen ocorriam. A cada semana, o diretor de operações
Imai_Estudo_casos_01 243
“Pensamento enxuto” – Modelo de construção de blocos
III.1.
e entrega
entrega
entrada e
IV.4. Saída e
Supemercados
fornecimento
fornecimento
IV.2. IV.2.
III.2. Mizusumashi
II. Fluxo de produção III. Fluxo de logística interna IV. Fluxo de logística externa
I. Estabilidade básica
V. Mapeamento de logística interna
Estudos de caso
01/08/14 14:37
244 Estudos de caso
Imai_Estudo_casos_01 245
“Pensamento enxuto” – Cadeia de valor da Embraco
Entrada do Planejamento
Fornecedores Manufatura Distribuição Clientes
pedido da produção
16/06/14 09:30
246 Estudos de caso
410 221 52 63 59 15
2009
285 168 40 9 53 15
2008
82 82
2006
2005
que variavam de uma fábrica para outra, as fábricas dos Estados Unidos, da
China, da Itália e da Eslováquia desenvolvem uma força produtiva que, jun-
tamente com o Brasil, contribui para reforçar a liderança global da Embraco
no mercado de compressores herméticos para refrigeração.
16/06/14 09:30
Kaizen no Centro Hospitalar
do Porto: Tornando o
atendimento centrado no
paciente uma realidade
Excelência
Melhoria de Inovação de
processos processos
Gestão da mudança
Princípios básicos
foi substituída por um sistema kanban com duas caixas, atualizado duas ve-
zes por dia. Um sistema simplificado busca, obtido pela reconfiguração do
depósito central, utilizando 5S, e a introdução de mizushumashi (uma pes-
soa de logística, também chamada de “aranha-d’água”) foram medidas que
possibilitaram a transição.
A chave para executar a mudança foi a ampla participação dos funcioná-
rios, e foram necessários esforços persistentes para superar os desafios cul-
turais habituais enfrentados pelos esforços de kaizen. “Mudar paradigmas
não é uma tarefa fácil”, afirma Vitor Herdeiro, administrador de hospital
no CHP” e, quando se muda os padrões de comportamento, a tarefa está
longe de ser pacífica. Portanto, é essencial envolver todas as pessoas, pois
são elas que garantem o sucesso da mudança cultural. Acredito na incrível
transformação que o kaizen proporciona para equipes, mas o sucesso só é
alcançado se todos se integram ao projeto, se há compromisso da gerência
e um envolvimento consistente de todos. Portanto, devo enfatizar que nada
deve ser imposto, as soluções devem vir de todos, senão o processo de me-
lhoria contínua pode não atingir os objetivos propostos” (ver Figura CS-11).
Os resultados foram particularmente motivadores para a equipe. Como o
novo sistema respondia diretamente à demanda, vários enfermeiros foram li-
berados da função de gerenciar os estoques de suas unidades, podendo, assim,
INTEGRAÇÃO ORGANIZACIONAL
SATISFAÇÃO DE PACIENTES E FUNCIONÁRIOS
desenvolvimento
Estrutura física
Treinamento e
Funcionários
Informações
Processos
Pacientes
Disponibilidade
Privacidade e
Transparência
em serviços
Desenvolvi-
sustentável
Excelência
Perfeição
respeito
mento
Imai_Estudo_casos_01 254
Tabela CS-1 Resultados do SLH
Âmbito Objetivo Resultados
16/06/14 09:30
Estudos de caso 255
Eficiência +5%
Não conformidades -60%
Lista de espera -9%
Lista de espera (verificar a prioridade normal) -75%
caso de enfermeiros, cuja pressão foi reduzida”, disse Simão Esteves, médico
anestesista e diretor da sala de cirurgia. “Pequenas mudanças, como o uso
de telefones celulares para chamar o próximo paciente, foram muito úteis.
A gestão visual claramente reduziu o estresse no ambiente de trabalho entre
os cirurgiões e seus assistentes. Com o plano de trabalho dinâmico estabele-
cido, agora é muito mais fácil saber onde os trabalhadores estão e distribuir
suas tarefas de maneira mais justa”.
Os resultados também incluíram uma surpresa – a lista de espera de
urgência foi reduzida em 9% e a lista de espera ambulatorial foi reduzida
em 75% (ver Tabela CS-3). “Nunca quisemos fazer mais cirurgias, mas qui-
semos aumentar a qualidade das cirurgias com mais tempo disponível para
os pacientes”, disse Luís Matos. “Se as listas de espera são reduzidas, é ótimo,
mas este nunca foi nosso objetivo principal”.
Impacto cultural no hospital
Embora este caso envolva três diferentes projetos em três áreas hospi-
talares diferentes, todas elas observaram aumentos similares em produti-
vidade e melhorias no atendimento ao paciente. Em todos os três casos, os
médicos e os enfermeiros estão passando mais tempo atendendo a pacientes
e menos tempo dedicados a processos burocráticos desorganizados. A expe-
riência do CHP com kaizen demonstra que o trabalho melhor organizado
reduz o estresse e gera profissionais mais relaxados, que cometem menos
erros. As organizações que reduzem custos pela eliminação de desperdício
acabam por ter profissionais mais dedicados e motivados.
“Esta maneira de fazer as coisas deve ser vista como uma transformação
da cultura organizacional”, afirma Manuel Valenta, enfermeiro-chefe da sala
de cirurgia do HSA, “valorizar as pessoas, ideias inovadoras e a simplifica-
ção de processos no ambiente onde tudo acontece, no gemba original japo-
nês, onde o valor é criado”.
M M
M M Por quê? 5x
Havia um Sim
defeito? Procure nos 4 Ms
Não
Imai_Estudo_casos_01 260
1,30 1,00mm
1,25
1,20 20000
1,15 0,80mm
1,10
1,00 0,60mm
Estudos de caso
0,90 15000
0,45mm
0,80
0,70 0,40mm
N (planilhas)
0,60 10000
Falha (percentual)
0,55 0,43 0,32mm
0,50
0,40 Falha em
planilha
0,30 0,21 5000
0,29
0,17 0,27
0,15 0,23 Meta
0,16 0,28
0,20
2009,8
2009,9
2010,1
2010,2
2010,3
2010,4
2010,5
2010,6
2010,7
2010,8
2010,9
2009,10
2009,11
2009,12
2010,10
2010,11
2010,12
Figura CS-13 Os defeitos caíram de 1,25 para 0,05%, mesmo com o aumento do volume de produtos e da dificuldade e
complexidade do processo.
16/06/14 09:30
Estudos de caso 261
enxutos nessa fase, a alta administração viu o que precisava ser feito e co-
meçou a agir.
“Inicialmente, acreditávamos que as ferramentas enxutas poderiam ser
aplicadas somente pelo grupo de processos enxutos na empresa”, disse o
Dr. Zhen, líder de processos enxutos do Grupo Xuji, um especialista muito
respeitado em recursos humanos e gestão de desempenho, “mas, por fim,
percebi que estava errado. Precisávamos das pessoas. Sem elas, não há nada,
não é possível conseguir a melhoria contínua”.
Em 2011, o Grupo Xuji contratou a equipe chinesa do Kaizen Institute
Consulting Group para ajudá-lo a avançar de uma forma mais abrangente.
A primeira etapa foi realizar treinamento sobre processos enxutos para ge-
rentes seniores, para que pudessem compreender seu papel como apoiado-
res e promotores dos processos enxutos. O treinamento compreendeu desde
métodos organizacionais de gestão visual até a abordagem de minimização
de inventário do sistema puxado.
Com o apoio da gerência firmemente estabelecido, o foco do treinamen-
to passou para os níveis intermediários de gerência. Uma recepção inicial-
mente fria aos poucos foi melhorando, conforme as pessoas começaram a
entender como Grupo Xuji poderia se beneficiar, e logo o grupo conseguiu
formar várias equipes de trabalhadores entusiasmados que estavam dispos-
tos a promover o processo enxuto em suas áreas.
A etapa seguinte foi a implementação desses processos. Como o Grupo
Xuji é uma empresa de grande porte, no entanto, os gerentes seniores sa-
biam que a transformação teria de ocorrer em etapas. “Você não pode tentar
ferver o oceano inteiro”, disse Zhen.
O Grupo Xuji começou com quatro de suas subsidiárias. Essas empre-
sas concentravam seus recursos em um número limitado de iniciativas en-
xutas – de quatro a cinco para algumas e de sete a oito para outras. Todas
estas iniciativas, no entanto, eram destinadas a alcançar duas metas prin-
cipais que a gerência sênior tinha estabelecido. A primeira era o prazo de
entrega. “Havia muitas reclamações de clientes sobre atrasos na entrega”,
disse Zhen, “porque levava muito tempo para fabricar o produto”. A segun-
da referia-se à baixa eficiência e à baixa produtividade dos trabalhadores,
que, os gerentes agora compreendiam, era derivada de desperdício nos pro-
cessos de produção.
As equipes enxutas e cheias de energia começaram com o básico. Elas
implementaram o 5S para criar um ambiente visual onde as células de traba-
lho pudessem se comunicar facilmente e mudaram o leiaute das máquinas
para minimizar as distâncias que os trabalhadores do chão da fábrica preci-
Incerteza/Padrões/Insights Clareza/Foco
Repensando o processo
Ficou claro que o que era para ser um processo linear não era, de modo
algum, linear. Essencialmente, não era possível prever exatamente como
determinado protótipo ou amostra iria tomar forma. Em vez de etapas or-
denadas, o processo de desenvolvimento era, a equipe descobriu, de algum
modo similar a uma caminhada aleatória, com o produto sendo enviado de
um lugar para outro em um método de tentativa e erro, até que todos os pro-
blemas fossem resolvidos e que, quando necessário, fosse feitas as devidas
concessões (ver Figura CS-16).
Através do processo de mapeamento do fluxo de valor, tornou-se claro
que essa “caminhada aleatória” era normal e não podia ser fixada. Em vez
Conclusão
A experiência da Rossimoda com kaizen mostra o poder do trabalho em
equipe multifuncional. Se a informação passada para o cliente deve vir de
10 grupos separados no gemba, o processo se torna altamente complexo e
A Finsa foi fundada em 1931 por Manuel Garcia Cambon. Ela começou
como uma pequena serraria na pequena cidade de Santiago, na Espanha.
Em 1965, a Finsa começou a fabricação de placas de aglomerado de madei-
ra na fábrica de Cesures, que havia sido completamente renovada. Com o
passar dos anos, outras fábricas foram adicionadas e, enquanto as fábricas
tinham um efetivo de 100 a 200 trabalhadores e a maioria das instalações
de produção estavam na Galícia, o modelo de liderança funcionou perfeita-
mente, com o proprietário servindo de modelo para as equipes de gerentes.
O modelo de liderança alcançou um nível de compromisso dos funcionários
que pode ser seguramente considerado melhor do que o de qualquer outra
fábrica ou de qualquer outra indústria.
De 1995 a 2005, a empresa cresceu significativa e rapidamente por meio
da renovação tecnológica de fábricas com problemas da Finsa e pela aqui-
sição de outras empresas, que, na maioria dos casos, enfrentavam sérios
problemas de sobrevivência. O fato é que, em 1998, a empresa tinha 1.760
funcionários e, menos de 10 anos mais tarde, tinha mais de 3.300; ou seja, o
número de trabalhadores duplicou.
Isso fez com que a gerência repensasse algumas questões. A liderança do
proprietário vinha sendo transmitida aos trabalhadores pelo exemplo pes-
soal, e estava ficando evidente que isso não seria mais possível com fábricas
que empregavam 600 pessoas, das quais 300, ou mais da metade, tinham
três anos ou menos na empresa. No entanto, ficou claro que a liderança e seu
know-how eram a principal chave para o sucesso relativo da empresa.
Com base nessas observações, ficou claro para nossa equipe do Kaizen
Institute que havia necessidade de registrar essa filosofia por escrito, pois
ouvir sobre isso apenas uma vez já não era suficiente. A terceira geração da
família do proprietário transcreveu, com a ajuda de seus pais, a essência da
filosofia antiga em uma lista clara dos valores atuais da Finsa. Os valores
Plantando a semente
Conceitualmente, este projeto pioneiro abordou mais um item: A linha conhe-
cida na fábrica como “linha margarida”, devido a sua semelhança com a forma
da flor, consistia em minifábricas onde lotes de uma a cinco peças dos módulos
B e C eram fabricados, e estes constituíam 20% do volume de negócios, acumu-
lando, assim, a maior parte do muda nesta linha e permitindo uma maior pro-
dutividade das linhas que compõem o módulo A (80% do volume de negócios).
Para aqueles que procuram resultados tangíveis, podemos dizer que,
mesmo em tempos de crise, foi possível elevar o serviço ao nível que os
clientes esperavam e permitir à empresa manter os pedidos em dia e, por-
tanto, seu nível de atividade. Reivindicações externas caíram pela metade,
enquanto defeitos internos caíram de 1,77 para 0,69%, apesar da redução
dos lotes de produção de 1 para 5, mas sem prejudicar a OEE*, e isso graças
ao fato de que os tempos de transição da produção caíram de 20 para 12 mi-
nutos. O material era fornecido em ciclos frequentes dentro da fábrica, com
uma redução de 40% no prazo de entrega.
Todas as etapas na implementação deste processo de melhoria foram
muito cuidadosamente pensadas e incluíram as lições aprendidas de proje-
tos anteriores. A próxima prioridade, portanto, parecia bastante clara – en-
volver a equipe de manutenção.
O objetivo era muito simples: trabalho em equipe entre a produção e a
manutenção, a fim de induzir a produção a realizar algumas tarefas simples
e repetitivas de manutenção para que o pessoal da manutenção pudesse ser
liberado para se concentrar em fazer melhorias e desempenhar tarefas mais
especializadas.
O projeto passou para a liderança de manutenção com um colíder da
produção. As tarefas derivadas do plano de ação que poderiam ser reali-
zadas pela equipe de produção foram as primeiras a serem colocadas em
* OEE – Overall Equipment Efficiency. Sigla que indica a eficiência operacional de um posto de trabalho.
Lições aprendidas
Os cinco anos desta experiência forneceram ainda mais informações do que
os mais otimistas poderiam ter imaginado no início.
Paciência
Acreditamos firmemente que a maioria das empresas falha na implemen-
tação da melhoria contínua por falta de paciência. Testemunhamos isso em
nossa viagem ao Japão, cuja cultura inclui o costume de esperar paciente-
mente para o plantio e para a colheita. Na Espanha, a tendência é plantar
e esperar pelo fruto no dia seguinte. Se não houver frutos imediatos, as
pessoas trocam a semente. Esse é o grande obstáculo de nossa cultura. Es-
tamos viciados no princípio de que o processo certo nos levará ao resultado
esperado.
Cultura
Começamos em um estado de livre gestão dos negócios; com a crise, muda-
ram as regras do jogo. No entanto, a situação inicial nos permitiu propor o
projeto como uma cultura que não esperava resultados imediatos, mas bus-
cava o envolvimento de nossos colaboradores para a melhoria da empresa.
O desafio de sustentar
É bastante simples obter uma melhoria ou obter 5S perfeitos, do mesmo
modo que é simples implementar um sistema para resolver problemas de
qualidade ou qualquer outro, seja em uma linha ou seção, e, por fim, atingir
um SMED e melhorar substancialmente a OEE. Mas não subestime a difi-
culdade de preservar essas melhorias. É muito mais difícil de sustentar do
que fazer. É fundamental alcançar a sustentabilidade e, portanto, as melho-
rias que obtemos vêm da base para o topo, e não o contrário, como acontece
na liderança tradicional.
Quanto mais crescemos, mais humildes devemos ficar a fim de defender
o princípio de que “sua ideia aumenta seu comprometimento”, e esta é a úni-
ca maneira de promover uma melhoria sustentável e contínua.
Novas direções
O processo 3P fez com que a equipe da Group Health assumisse um dos de-
safios mais difíceis em termos de projetos de produtos de assistência médica:
o projeto de seguro baseado em valor (VBID – projeto de seguro com base de
valor). A abordagem é considerada como uma das formas mais inovadoras
para lidar com o aumento dos custos, melhorando a saúde geral do paciente,
porque, essencialmente, motiva os pacientes a cuidarem de sua própria saúde.
Por exemplo, os exames de Imagem de Ressonância Magnética (Magne-
tic Resonance Imaging – MRI) são muitas vezes utilizados em demasia, de
modo que o VBID podia cobrar um adicional por este serviço e ao mesmo
tempo oferecer um medicamento que reduz a pressão arterial de forma gra-
tuita. Isto coloca mais ênfase no cuidado preventivo, que vem predominan-
do. Um pacote de seguros com base em valor, por exemplo, pode oferecer
descontos para planos de academias ou material de escritório ergonômico, a
fim de ajudar a impedir doenças crônicas.
A questão é: como você projeta um produto desse tipo? O VBID acrescenta
complexidade considerável ao processo de desenvolvimento em que o valor de
medição muda ao incluir elementos que são difíceis de quantificar. Por exem-
plo, uma companhia de seguros de saúde pode optar por incluir um desconto
para funcionários, o que envolve variáveis como custo, eficácia do produto e
relevância para o mercado. Este é o desafio que a Group Health assumiu com o
processo 3P, e ao realizar o processo, a empresa tornou-se o único fornecedor
do estado de Washington a oferecer um produto desse tipo.
O novo processo de desenvolvimento baseado em 3P da Group Health
revelou-se adequado para lidar com as diversas variáveis de VBID. Desde a
implementação do 3P, a Group Health observou uma redução no tempo de
lançamento do produto para o mercado de aproximadamente 18 para 12 me-
ses. Além disso, as partes interessadas têm renovado a confiança na qualidade
de seus produtos e antecipado ainda mais a inovação no futuro próximo.
Inovação
A Group Health também está usando 3P em outra importante área de plane-
jamento: o projeto de instalações. Em 2012, a construção começará em uma
clínica de 43.000 pés quadrados em Burien, Washington, na qual a equipe
será capaz de cuidar de até 20.000 pacientes. A implantação vai dar supor-
te ao conceito de assistência médica enxuta, que se concentra no paciente.
Os objetivos enxutos para a implantação incluem 50% menos distância de
caminhada ao redor da clínica para pacientes e funcionários e 80% menos
“transferências” durante o atendimento ao paciente.
Projetar uma implantação enxuta é um desafio, pois os planejadores têm
de entender completamente os processos enxutos que a implantação irá su-
portar. Além disso, a equipe tem de incluir não só os proprietários desses
processos, mas também a equipe de projeto, composta por arquitetos, enge-
nheiros e construtores.
O processo 3P era semelhante ao utilizado para o grupo de planejamen-
to de produtos. O estatuto do Plano de Projetos Instalação e Assistência In-
tegrada contava com patrocínio executivo, seguia o formato 7-3-1 e se va-
Muitas vezes os trabalhadores já sabem o que precisa ser feito para tornar a
empresa melhor. Quando esta consciência existe, a alta administração deve
fornecer as ferramentas e o suporte necessários para que essas ideias atin-
jam seu pleno potencial. Quando medidas assim são implementadas corre-
tamente, isso cria um ambiente onde a inovação pode florescer e grandes
mudanças são possíveis.
Foi o caso da Medlog, uma empresa do setor de assistência médica por-
tuguesa que fornece serviços de logística e de marketing para a indústria
farmacêutica. A companhia foi fundada em 1975, quando um grupo de pro-
prietários de farmácias inaugurou a cooperativa da Cooprofar, que agora
possui mais de 1.250 farmácias.
A jornada de kaizen da Medlog começou quando os administradores
perceberam a necessidade de um processo estruturado que fosse sensível
às sugestões de melhoria que as equipes de trabalho já estavam fazendo.
Durante as férias, por exemplo, um empregado tinha desenvolvido vários
modelos de avental com bolsos especiais para ajudar a resolver algumas das
dificuldades que estava enfrentando no trabalho. Muitos trabalhadores ti-
nham ideias desse tipo, capazes de ajudar a empresa, mas não dispunham do
canal adequado para implementar as suas aspirações.
“As ideias e a vontade de trabalhar estavam presentes, mas não havia ne-
nhum canal comum que unisse todas as sugestões”, relata Raquel Miranda,
conselheira administrativa da Medlog. “Com o apoio do Kaizen Institute,
agora temos um processo estruturado no local para esse fim. Isso resultou
em um aumento da motivação e um reforço da cultura da nossa empresa.
As pessoas estavam ansiosas para contribuir com ideias, bem como para
implementá-las”.
Melhorias visíveis
A satisfação da equipe começou a aumentar à medida que as áreas de tra-
balho se tornavam mais limpas e organizadas. Agora os funcionários ti-
nham um ambiente de trabalho mais agradável e ficavam menos cansados
no desempenho das suas tarefas. Além disso, as pessoas não estavam mais
fazendo caminhadas desnecessárias dentro do armazém. “Agora a empresa
pode fazer mais com as mesmas pessoas”, diz Miranda. Esta mudança foi
particularmente valiosa para o crescimento contínuo em volume que a Me-
dlog estava observando.
Como resultado da reorganização dos armazéns e da redefinição dos
processos, a produtividade nos armazéns da Medlog aumentou considera-
velmente, variando de 7% em algumas áreas a 25% em outras, como na área
de armazenamento com sistema de coleta manual (MPS). A empresa conse-
guiu obter 41,5 horas a mais de produtividade por dia, o equivalente a cinco
funcionários em tempo integral e 60.000 euros por ano.
Na área de transporte, verificou-se um ganho global de produtividade
de cerca de 25%, e o leiaute redesenhado evitou o uso de centenas de me-
tros de esteiras transportadoras, reduzindo assim o consumo de energia
em cerca de 25%. Também espera-se que o departamento de manutenção
reduza o tempo médio de parada devido a avarias de 1 hora para 30 minu-
tos. Além disso, o número de faturas com reclamações foi reduzido de 1,3%
para 0,8%.
O roteiro de treinamento
A empresa começou a “desenvolver a organização através do desenvolvi-
mento das pessoas”, como o processo é descrito nos princípios do sistema de
gestão da Toyota. Isso aconteceu ao longo de um período de três anos.
Julien Bratu, gerente geral do Kaizen Institute Romênia, definiu um
conceito amplo de “Kaizen pela harmonia”, baseado nos princípios da Toyo-
ta. Isso dividiu o treinamento nos seguintes quadrantes:
kaizen estratégico organizacional kaizen operacional organizacional
kaizen estratégico individual kaizen operacional individual
O principal objetivo do “Kaizen pela harmonia” era desenvolver todos
os quadrantes simultaneamente, nivelando-se os desempenhos e criando
um equilíbrio dinâmico entre todos os elementos.
O treinamento foi aplicado através de dois programas: um programa de
treinamento externo do Kaizen Institute Romênia e um programa de trei-
namento interno desenvolvido por Ciprian Gradinariu, gerente executivo da
empresa e coordenador de implementação do SMK. Os dois programas foram
sincronizados a fim de maximizar os efeitos sobre a organização e as pessoas.
Ferramentas adicionais
Nas áreas que utilizam máquinas, workshops com técnicas especiais, como
sistema de troca rápida de ferramentas (SMED) e kobetsu kaizen, foram rea-
lizados, a fim de melhorar a eficiência e eficácia do equipamento. Na área
onde os ingredientes eram misturados, por exemplo, o tempo de setup foi
reduzido em 30 minutos (15%), o que levou a uma melhoria nos tempos de
140 127
120
100
80
53
60 39
35
40
20 Número
de ideias
0
Número total Número de Número de Número de
de ideias ideias em ideias em ideias em
setembro outubro novembro
alinhar seus próprios valores e missão com a visão da empresa. Todo gestor
tem o seu próprio plano de desenvolvimento pessoal, seguido de planos de
ação, a fim de alcançar seus objetivos.
Medindo os resultados
No final do primeiro ano, o gerente geral Levente Hugo Bara realizou uma
auditoria anual com o auxílio de consultores do Kaizen Institute sobre o
processo de implementação do SMK e sobre os processos da empresa. Os
seguintes progressos foram citados:
S Uma ampla conscientização sobre a nova visão da empresa com metais e
objetivos pessoais alinhados com as metas e objetivos da empresa
S Ampla adoção da cultura kaizen, com uma atitude orientada para a me-
lhoria contínua
S Sólido senso de ordem na instalação, baseado em princípios 5S, junta-
mente com um espírito 5S orientado para a comunidade
S Estabilização dos processos de trabalho com base na padronização
S Linhas fortes de comunicação estabelecidas para questões de qualidade
com base no princípio de kaizen “falar com base nos fatos!”
S Melhoria no profissionalismo da equipe de gestão
S Melhoria das condições de trabalho e qualidade do emprego
Encorajada por esses resultados, a empresa estabeleceu 11 projetos es-
tratégicos a serem cumpridas até 2015, o que tornará a Supremia um dos dez
maiores produtores de ingredientes alimentares da Europa. Com o Sistema
de Gestão Supremia e uma cultura kaizen firmemente estabelecida na or-
ganização, a gestão está confiante de que a empresa está pronta para tornar
essa visão uma realidade.
No Walt Disney World, o espírito gemba kaizen está vivo e passa bem. Os
funcionários do gemba da Disney estão no topo da organização. Walt Disney
disse certa vez: “Você pode sonhar, criar, projetar e construir o lugar mais
maravilhoso do mundo, mas isso requer pessoas para tornar o sonho uma
realidade”. Este caso do Walt Disney World mostra como a adesão confiante
da administração da Disney com a limpeza e a padronização contribuíram
para o sucesso do negócio.
57 anos após a abertura da Disneylânida na Califórnia em 1955 e 41
anos depois da inauguração do Walt Disney World na Flórida, em 1971,
os membros do elenco da primeira linha ainda são os mais importantes da
empresa. No Walt Disney World, os funcionários do parque são chamados
de membros do elenco, e os clientes são chamados de convidados. A satis-
fação dos clientes é uma prioridade do Walt Disney World, e a limpeza e
padronização são os dois principais meios para se atingir essa meta. Muitos
visitantes do Walt Disney World Resort fazem visitas periódicas, pois ficam
muito impressionados com o ambiente limpo e seguro.
Desempenho impecável
Observando cuidadosamente, os hóspedes descobrirão que os recipientes
para resíduos estão instalados em todo o parque. Em uma visita recente,
pude contar seis desses recipientes no local onde eu estava. Walt Disney
acreditava que nenhum convidado deveria andar mais de 25 passos para
jogar o lixo fora. Os recipientes são projetados para se fundirem de forma
discreta com o ambiente. Durante o desfile de Mickey Mouse e sua turma na
Main Street, à tarde, encontrei muitos convidados encostado nos recipien-
tes ou sentados ao lado deles, e alguns até estavam sentados em cima deles
comendo lanches.
Em intervalos regulares, as caixas de lixo no interior dos recipientes são
substituídas, de forma rápida e eficiente. Um carrinho de transporte com
várias caixas vazias é levado até o local, e a caixa dentro do recipiente de
resíduos é substituída por uma vazia. Uma equipe de membros do elenco
passa pelo parque a cada 10 ou 15 minutos, com um escovão e uma vassou-
ra, recolhendo o lixo de vias, bancos e arbustos. Todo membro do elenco do
Walt Disney World que anda pelo parque e encontra lixo deve recolhê-lo.
“Se Michael Eisner estivesse lá, ele faria o mesmo”, me disseram. O lixo co-
letado é rapidamente transportado para uma estação subterrânea e enviado
para a usina de processamento através de tubos a vácuo. Assim, os clientes
são poupados da visão e do cheiro de lixo.
Outra razão citada pelos convidados para querer voltar ao Walt Disney
World são os simpáticos e elegantes membros do elenco da Disney. O sonho
de Walt Disney era oferecer serviços que não apenas satisfizessem os convi-
dados, mas também “superassem suas expectativas de forma consistente”. O
Walt Disney World é um lugar onde os convidados são levados para o palco.
Os membros do elenco devem interpretar seus papéis no palco para entreter
os convidados. O elenco deve prestar atenção à segurança e limpeza e usar
trajes apropriados em todos os momentos. Assim como no cinema ou no
palco, a imperfeição (neste caso, lixo na rua, odores desagradáveis etc.) não
é permitida. Portanto, cada tarefa, cada movimento do elenco, cada prédio,
cada unidade, cada evento e cada atração devem se tornar um meio de sa-
tisfazer plenamente aos convidados. Para fazer isso, cada membro do elenco
recém-contratado, inclusive em tempo parcial, deve passar por um progra-
ma de orientação de dois dias que os instrui sobre a filosofia da Disney, a
história da empresa e os detalhes do trabalho.
Os membros do elenco consistem de funcionários em tempo integral,
meio-período e sazonais, e seus trabalhos se dividem em cerca de 1.500 di-
ferentes categorias. Cada função tem a sua própria descrição do trabalho e
procedimentos operacionais padronizados (POPs), e as 37 mil pessoas que
trabalham no parque devem seguir as normas. Se não houvesse esses pa-
drões e cada um dos 37.000 membros do elenco começassem a trabalhar
da sua própria maneira, a gestão em breve descobriria não haver nenhuma
maneira de controlar o comportamento dos membros do elenco e a empre-
sa; portanto, não haveria maneira de garantir a satisfação dos convidados.
Cada novo membro do elenco recebe a seguinte lista de diretrizes para
atender aos convidados:
AM 43 18 29 30 60 20 34
PM 31 20 24 35 48 25 64
Média 37 19 27 33 54 22 47
Margem de Posiciona- Centralização Nivelamento Abertura Centralização Posição do
Estudos de caso
16/06/14 09:30
324
Trabalho Materiais
Imai_Estudo_casos_02 324
Rebuço
posicionado Rebuço afixado Falta de
Contraforte cortado incorretamente incorretamente lubrificante
incorretamente Detergente
Costura
Desbaste
Corte Contraforte
Excesso de camadas posicionado
Costura
Estudos de caso
incorretamente
Camada superior
posicionada incorretamente Falha em usar o
Desbaste
material adesivo
Parte traseira Contraforte adequado
posicionado
Posição incorreta da parte traseira incorretamente Problemas
no
Falta de
salto
Corte que resulta em Fixação do contracrivo
pisada incorreta rebuço que cai Uso de
Costura Colorações
látex
Contraforte desfiguradas
Rebuço Migração Corte Falta de dispositivo
para material Corte
Costura Falta de
Contraforte regulação da adesivo
Sem deformado
Uso de reação temperatura
argamassa Falha na tração
engarrafada
Regulação Desbaste
Falta de errada do
Enfraquecimento
centralização bico Falta de bitola
do contraforte Falta de ajuste
suave
Método Equipamentos
16/06/14 09:30
Estudos de caso 325
35,0
Turnos
30,0
AM PM
24,0
25,0 Amostra: 60 pares por turno
20,0
15,0
15,0
Meta: 7%
10,0
7,5
7,1 6,5
7,0 4,7 5,5
5,0 5,7 5,5 4,6 5,5 5,7
4,5
3,2 4,2
0.0
Início 12/7 14/7 19/7 21/7 25/7 27/7
11/7 13/7 15/7 20/7 22/7 26/7
Economia
A atividade de kaizen na área piloto economizou 34.000 pesos argentinos
por ano. A aplicação dos mesmos procedimentos em outras áreas envolvidas
na montagem do salto dos calçados prevê uma economia total de 225 mil
pesos por ano. (O peso argentino mantinha uma relação de um por um em
relação ao dólar americano na época.)
O desafio de kaizen
A Excel Industries inicialmente começou o processo de kaizen em março de
1992, com o apoio do Kaizen Institute of America. A motivação para imple-
mentar o kaizen era simples. Sem um processo disciplinado para alcançar
a melhoria contínua, a capacidade da Excel para continuar como entidade
independente e ativa corria perigo. A intensificação da concorrência global
para atender a exigências do cliente em torno de melhoria contínua de qua-
lidade, custo e entrega exigia uma resposta.
Apoio da
Força de trabalho
organização
Processo de
Dados
melhoria
Equipe
Imai_Estudo_casos_02 335
Liderança
Fase 1 da Excel
Supervisor de
Equipes de Workshops Workshops
Equipe inicial Reunião com Reunião 1
padrinho Reunião 2
Padronizando os Reunião 3
trabalhos Reunião 4
Reunião 5
Reunião 6
Melhorando os Reunião 7
trabalhos Reunião 8
Projeto de melhorias
TPM ergonomia
Fase 2 da Excel
335
16/06/14 09:30
336 Estudos de caso
Ação e responsabilidade
A alta de administração da Excel tem claramente definido o motivo pelo
qual uma mudança cultural é necessária. A competição global pressiona por
contínuas melhorias em qualidade, custo e entrega. Não atender às neces-
sidades dos clientes ameaça a capacidade da Excel para sobreviver como
entidade independente.
A gerência intermediária tem claramente definido o que precisa mudar
na cultura corporativa. Através dos esforços do Excel 2000 Empowerment
Team, a gerência intermediária agora possui os processos, habilidades, fer-
ramentas e treinamento necessários para liberar o potencial humano dos
funcionários da Excel.
Os funcionários da Excel conquistaram a capacidade de definir a forma de
implementar a mudança e aceitar a responsabilidade por ela. Agora eles têm a
autoridade e a responsabilidade de melhorar o seu próprio trabalho como par-
te de uma equipe que trabalha com dados e segue um processo padronizado.
A chave para o sucesso futuro da Excel está diretamente relacionada com
a responsabilidade entre a alta administração, a gerência intermediária e todos
os funcionários. A responsabilidade da alta administração será medida pela
capacidade de liderar e apoiar o processo. A gerência intermediária será ava-
liada por sua capacidade de desenvolver a confiança por meio de treinamento
e ensinamento do processo e pelo fornecimento de suporte. A responsabilida-
de dos funcionários sem responsabilidade de chefia será medida pelo grau de
implementação das mudanças aceite da responsabilidade que eles atingirem.
1 Acidentes graves
29 Acidentes menores
1983 10 127
1985 18 132
1990 23 282
1995 41 429
Círculos de qualidade
Outra característica das atividades de kaizen no Inoue Hospital é os círculos
de qualidade ativos, iniciados em 1983. A tabela a seguir mostra como o nú-
mero de círculos de qualidade no hospital tem crescido ao longo dos anos:
Categorias:
Medicamento ou injeção errados 41%
Liberação de água 23%
Coagulação do sangue 17%
Inserção de ar 10%
Hemorragia 9%
muita fome. Estava ansiosa para saber quem seria minha enfermeira e
esperava que fosse alguém com habilidade para dar injeções sem causar
dor. Normalmente, quando trabalho como enfermeira e ouço o paciente
dizer algo assim, fico chateada, pois estou sempre tentando fazer o meu
melhor”.
S Enfermeiro C: “Quando estava deitado na cama, sentia-me muito des-
confortável. Acho que os pacientes se sentem da mesma maneira. Fiquei
muito aliviado quando a enfermeira veio até mim e perguntou: ‘Você
está bem?’ Quando tira seu uniforme branco e deita na cama, você se
sente muito indefeso. Da cama, as pessoas em pé ao seu lado parecem
muito altas, e o médico parece realmente fantástico! É um sentimento
diferente do que você tem como enfermeiro. Todo mundo parece in-
crível quando você está de cama. Por isso, acho que não devemos falar
com os pacientes como se estivéssemos olhando de cima para baixo para
eles”.
S Enfermeiro D: “Parece que alguns pacientes hesitam em chamar um en-
femeiro, mesmo se o conhecem bem. Seria melhor se pudéssemos ante-
cipar as necessidades do paciente e ir até seu leito sem sermos chama-
dos. Acho que eles não deveriam hesitar em nos chamar, mas penso que
deveríamos tomar a iniciativa e ir conversar com eles”.
S Funcionário administrativo: “Fiz a experiência de usar uma cadeira de
rodas. Considerei que o botão ao lado do elevador ficava em uma posi-
ção muita alta e era difícil de apertar. Nunca escutamos essa reclamação,
mas quando o paciente não está acompanhado, ele terá de pedir a ajuda
de alguém”.
Além de ganhar experiência real ao ficar no lugar do paciente, a equipe
é encorajada a experimentar a realizar tarefas fora de suas áreas tradicionais.
Isso ajuda a entender melhor como o negócio é administrado em outros
departamentos e auxilia no desenvolvimento de equipes de trabalho multi-
disciplinares.
Mudanças organizacionais
Para começar o processo de kaizen na Leyland Trucks, Oliver deu início
a três importantes mudanças na estrutura organizacional da empresa: (1)
adoção de unidades de negócios, (2) supressão de camadas excessivas de
burocracia e (3) melhoria de sistemas e procedimentos.
Unidades de negócios
Quando John Oliver chegou à fábrica de montagem da Leyland em meados
de 1989 no cargo de diretor de operações, ele descobriu que o moral dos
funcionários estava muito baixo. A atitude deles em relação a Leyland DAF
podia ser fielmente descrita como aquiescência relutante. Alguns eram fran-
camente hostis.
Oliver e os outros gerentes resolveram melhorar a qualidade de vida
profissional. Melhore a satisfação com o trabalho de um empregado, dizem,
e você irá melhorar sua autoestima e, eventualmente, sua relação com a em-
presa. A administração percebeu que a chave para melhorar a qualidade de
vida era desenvolver uma infraestrutura adequada às necessidades dos em-
pregados – e não se concentrar em melhorar o projeto de trabalhos ou atri-
buições individuais. “Nossa estrutura hierárquica e funcional tradicional era
muito vaga, muito lenta, muito impessoal e burocrática demais para atender
às necessidades dos funcionários”, conta Oliver. “Se estivéssemos falando a
sério, teríamos de encontrar um novo modelo”.
Por fim, a gestão teve a ideia do conceito de unidade de negócios, uma
equipe de ligação composta por funcionários que representavam cada área
funcional (engenheiros industriais, planejadores, técnicos da qualidade, es-
pecialistas em logística etc.) Os membros da unidade de negócios deveriam
trabalhar no chão de fábrica, junto às linhas – em contato direto e contínuo
com os funcionários normais dali. Os membros das unidades de negócio re-
ceberiam treinamento para desenvolver habilidades interpessoais, inclusive
de criação de equipes. O objetivo era simplesmente seguir as atividades de
Management 101. Como resultado desses esforços, os defeitos de qualidade
caíram de 28 por veículo em 1986 para 4 em 1995 (veja a Figura CS-28).
Estrutura antiga
Gerente de produção
Capatazes/supervisores
Chão de fábrica
Gerente de fabricação
Divisão organizacional
A estrutura tradicional de gestão apresentava diversos obstáculos para a
criação de uma organização capacitada. No entanto, qualquer movimento
em direção a uma pirâmide mais bem distribuída e ampla desafiava o status
quo. Todas as organizações resistem a mudanças radicais; nunca há um mo-
mento “certo” para esse tipo de mudança. Entretanto, a gestão percebeu que
a organização dividida em níveis tinha de desaparecer.
por hora. Além disso, não concluí minha tarefa”. Isso nos deu o incentivo
necessário para capacitar as equipes.
Uma iniciativa chamada efetividade de sistemas abordou a questão
de clareza do processo. Mais uma vez, os objetivos não eram sobre re-
dução de custos, mas apontava para alguma forma de qualidade. Primei-
ramente, realizamos uma autoauditoria, projetada para melhorar o envol-
vimento. Por até cinco dias, grupos de funcionários mantinham diários
pessoais para descrever tudo o que fizeram. Os participantes e seus cole-
gas analisavam os dados para distinguir atividades de valor agregado das
que resultavam da falta de conformidade em outras partes do sistema. As
pessoas gostaram da novidade de autoavaliação e do desafio da análise.
Nossas expectativas com o exercício eram modestas. Queríamos
uma burocracia mais transparente. Queríamos desafiar o status quo. Con-
seguimos tudo isso e muito mais. 30% da papelada relativa a operações
desapareceu – e, junto com isso, uma série de reuniões, agendas, atas,
relatórios e documentos diversos [papelada] que simplesmente atrapalha-
va nosso dia a dia e praticamente não agregava valor algum. Em suma,
mais um exemplo de redução de custos quase inadvertida em uma escala
muito considerável.
Quando começamos, os objetivos eram obter percepções melhores
de “propriedade”, simplicidade de sistemas, clareza e disponibilidade da
informação, maior satisfação do cliente, e assim por diante. Mas a análise
final mostrou uma economia anual de £ 1.000.000 no custo convencional
de desempenho de qualidade – uma incrível redução de 83%.
A mudança da cultura
Há um ditado japonês que afirma que uma estátua de Buda não servirá
de nada se a pessoa que a esculpe não conseguir colocar uma alma nela.
Mesmo depois de a Leyland adotar o aspecto de “hardware” de unidades de
negócios, de divisão e de eficácia do sistema, a administração considerou
essas medidas insuficientes para levar a empresa pelo rumo desejado. Fo-
ram necessários esforços adicionais para envolver e capacitar empregados.
Sobre esses esforços, que vieram a ser conhecidos como projeto “Bridging
the Gap”, Oliver relata:
Pequenos grupos de discussão de representantes de diversas funções e
níveis abordaram algumas das mais duradouras e incômodas questões.
Visitas internacionais aos principais concorrentes mostraram aos repre-
sentantes as referências de práticas de trabalho.
Tudo isso aconteceu enquanto as atividades acima mencionadas
estavam acontecendo. Além disso, um pequeno experimento que apre-
sentou o trabalho em células na nossa área de usinagem ganhou uma
O início da jornada
Oliver conclui seus comentários dizendo:
O que vimos descreve apenas alguns dos mecanismos destinados a pro-
mover o envolvimento e participação. No entanto, creio que a tarefa fun-
damental é continuar a vencer barreiras, para prosseguir com a adoção
de novas ideias e manter o ritmo. A Leyland está apenas no início de sua
jornada.
O.F.I.
OPORTUNIDADE DE MELHORIA
DATA: RELATO DE:
A situação a seguir está impedindo que eu faça meu trabalho da melhor maneira:
OPCIONAL:
O que já foi feito:
Nº de registro:
Cliente:
Endereço:
Telefone: ACCT:
Nº VENDEDOR N°:
Motivo da chamada do cliente:
Descrição detalhada:
Ação solicitada:
Emitido por:
Melhorias contínuas
Cada divisão da Sunclipse tem um facilitador, que elabora vários programas
para garantir o apoio dos colegas de trabalho às melhorias contínuas. Cada
divisão tem também uma equipe de melhoria da qualidade (QIT – quality
improvement team), que se reúne uma vez a cada duas semanas para exami-
nar problemas não resolvidos e discutir como executar programas.
Muda Miles
Na Divisão de St. Hart da Sunclipse, na Califórnia, que fabrica produtos
de papelão ondulado (e que dá especial ênfase à eliminação de muda ou de
atividades sem valor agregado), o facilitador Pat Arnold introduziu o “Muda
Miles” (Milhas de Muda) como forma de representar visualmente as melho-
rias feitas por colegas de trabalho. Um mapa dos Estados Unidos é afixado
em um lugar de destaque, e cada vez que a sugestão de um funcionário ajuda
a reduzir o muda, a melhoria é convertida para um valor de milhagem e
traçada no mapa. O objetivo é “viajar” por todo o país, tomando St. Hart
como ponto de partida da viagem. Junto ao mapa, há uma lista de projetos
de kaizen que foram implementados e sua milhagem correspondente.
era substituída por uma flor laranja, e quando o problema era resolvido, a
flor era substituída por uma laranja. A equipe de qualidade agora está con-
siderando a próxima etapa para envolver colegas de trabalho em projetos de
kaizen.
Cada supervisor desta divisão é convidado a apresentar um relatório
mensal à gestão sobre como o muda foi tratado em sua área durante o mês
anterior. Em reuniões bimestrais, os supervisores leem seus relatórios e tro-
can informações sobre o status atual da eliminação de muda.
cionários, mas que essas lições deveriam ser função do próprio presidente.
Ele não havia compartilhado com os funcionários suas aspirações e visões
para a empresa, bem como o que ele considerava serem os problemas da
empresa. Percebendo que ele precisava tomar a iniciativa de ensinar e com-
partilhar suas ideias, ele decidiu realizar uma série de reuniões com seus
funcionários.
Em 1988, uma sessão de aprendizagem mútua foi instituída, com Ta-
naka como líder. As sessões de aprendizagem eram programas de dois dias,
realizadas no primeiro fim de semana de cada mês. Os funcionários se re-
vezaram participando das sessões, e cada funcionário devia participar pelo
menos uma vez por ano.
Os sábados eram dedicados à discussão de questões de interesse comum.
Tanaka percebeu que quando os funcionários discutiam questões de seu inte-
resse direto, eles ficavam muito mais animados e envolvidos do que durante
suas aulas sobre eletricidade e controle de qualidade. Os funcionários foram
envolvidos, desenvolveram um senso de responsabilidade sobre os problemas
que estavam discutindo e sugeriram muitas soluções possíveis. Aos domin-
gos, os funcionários cozinhavam e comiam juntos em uma área de piqueni-
que nas proximidades, atividade que reforçou bastante a camaradagem.
A fábrica foi reconstruída assim que essas sessões começaram, e uma
sala de aulas específica para as sessões de aprendizagem foi adicionada. Pa-
lestrantes convidados vinham compartilhar suas ideias, e as sessões eram
abertas aos membros da comunidade em geral.
Atualmente, os temas de discussão nas sessões de aprendizagem in-
cluem planos de gestão, compra de equipamentos, recrutamento e bônus.
Os relatórios financeiros da empresa e números de desempenho mensais
também são apresentados. Outros temas abordados nas sessões incluem re-
creação, segurança, comunicação e gestão financeira.
Hidesaburo Kagiyama, presidente de um fornecedor local de peças au-
tomotivas com uma rede nacional de muito sucesso, foi convidado a falar
em uma sessão. Kagiyama tem uma única filosofia de gestão: a gestão deve
começar com limpeza e terminar com limpeza. Ele acredita de modo bas-
tante contundente na necessidade de limpar os banheiros – e faz isso pes-
soalmente todos os dias.
Tanaka ficou tão impressionado com a palestra de Kagiyama que decidiu
colocar suas ideias em prática de imediato. Na manhã seguinte, levantou-se
cedo e foi limpar o terreno do santuário em sua vizinhança. O santuário tem
uma loja de doces em suas dependências, e o chão é coberto por embalagens
descartadas por crianças. Depois de limpar essa sujeira, Tanaka começou
a limpar os banheiros públicos, que estavam tão sujos que a cidade havia
decidido fechá-los. Tanaka foi até a prefeitura e convenceu as autoridades
locais a reabrir os banheiros, prometendo que os limparia todas as manhãs.
Tanaka tinha ouvido Kagiyama dizer que a limpeza leva as pessoas a
mudar seu comportamento e, para sua surpresa, descobriu que isso é ver-
dade. Ele pediu a ajuda de seus filhos na limpeza dos banheiros. As crianças
diziam: “Hoje os banheiros estavam muito sujos. Foi maravilhoso!” O que
eles queriam dizer era que estavam satisfeitos em saber que as pessoas esta-
vam usando os banheiros que eles tinham limpado e que estavam felizes por
tê-los deixado limpos novamente. Tanaka percebeu que agradar as outras
pessoas é o ponto de partida para agradar a si mesmo.
Tanaka descobriu que depois que as embalagens de doces foram cole-
tadas e os banheiros foram limpos, as crianças pararam de jogar lixo e as
pessoas começaram a tentar manter os banheiros em bom estado. Tanaka
aprendeu dessa experiência que a autodisciplina não surge espontanea-
mente, mas sim como resultado da participação em alguma atividade bené-
fica como a limpeza do ambiente.
Além da educação dos funcionários, outra questão que vinha assom-
brando Tanaka por muito tempo era a autodisciplina dos funcionários. Nos
primórdios da empresa, a gerência teve dificuldade em contratar trabalha-
dores que poderiam realizar as tarefas designadas. Um operador uma vez
foi encontrado fumando em seu horário de trabalho. Quando repreendido
por um supervisor, ele ficou tão irritado que começou a golpear a máquina
com um martelo. Tanaka percebeu que as aulas sobre tecnologias e capacita-
ção eram totalmente inúteis se houvesse problemas fundamentais no âmbito
das relações humanas e da autodisciplina. Tanaka passou a acreditar que a
autodisciplina devia ser o ponto de partida de todas as atividades de sua
empresa. Ele criou três atividades para servir como pilares da autodisciplina:
limpeza, cumprimentar uns aos outros e etiqueta.
Depois que Tanaka apresentou esses três pilares da autodisciplina aos
funcionários, ficou surpreso ao perceber como eles melhoraram as relações
humanas, conscientizaram os funcionários de outras questões de qualidade,
reduziram avarias em equipamentos e mudaram a atitude dos funcionários
em relação aos clientes. As relações com a comunidade também melhora-
ram. Em outras palavras, uma revolução de consciência estava acontecendo
entre os funcionários. Como mais um benefício da autodisciplina, a taxa de
produção de refugos caiu pela metade.
Tanaka lançou um projeto de limpeza em larga escala, e agora o dia de
trabalho na Shin ei Electronics começa às 07h30, quando todos os funcioná-
Mesmo depois que essa rotina de limpeza e outras atividades para au-
mentar a autodisciplina estavam enraizadas em sua empresa, Tanaka sentia
que algo estava faltando. No final de 1994, Tanaka disse a um consultor de
kaizen que, além da qualidade, um de seus maiores problemas era que os
funcionários começavam a trabalhar muito lentamente na parte da manhã,
ficando mais dinâmicos com o passar do dia e atingindo um pico de produ-
tividade perto do final do dia. Ele disse que o mesmo era verdade em relação
à produção mensal – ou seja, a produção começava lenta no início de cada
mês e seu ritmo se acelerava perto do fim do mês, para atender aos pedidos
dos clientes.
O conselho do consultor foi: “Você investiu uma quantia considerável
de dinheiro em seu equipamento. Você contrata determinado número de
pessoas. Tanto os equipamentos quanto as pessoas devem estar disponíveis
para trabalhar em plena capacidade em todos os momentos. A distribuição
desigual da carga de trabalho provavelmente está custando muito dinheiro à
empresa. A razão para a distribuição irregular da carga de trabalho está em
alguns sistemas ou processos de trabalho inadequados na empresa. Então,
por que você não resolve este problema? O maior problema é que você acei-
tou essa distribuição desigual como algo inevitável e nunca questionou a si-
tuação. A primeira coisa a fazer é promover uma revolução na consciência”.
“Por exemplo”, o consultor continuou, “por que é que o trabalho começa
tão devagar na parte da manhã? Deve ser porque as máquinas são iniciali-
zadas lentamente em função de preparações de setup inadequadas. Por que
você não pode mudar o processo de trabalho de modo que o setup da má-
quina seja concluído antes do final do dia? Em outras palavras, os padrões
existentes e os procedimentos de trabalho devem ser revistos. Em particular,
se as operações dos trabalhadores não são padronizadas, não há nenhuma
maneira de estabelecer um balanceamento de linha adequado”.
Tanaka decidiu por em prática o conselho do consultor e declarou que
uma revisão dos padrões existentes ocorreria imediatamente. A empresa ti-
nha muitos padrões de trabalho estabelecidos, mas os padrões haviam sido
preparados pela equipe de engenharia; os funcionários do gemba deviam
segui-los sem questionar. Muitas vezes, os engenheiros preparavam padrões
sem verificar como eles afetariam o gemba.
No sábado e no domingo da mesma semana em que Tanaka havia se
encontrado com o consultor, todos os funcionários foram convocados para
uma revisão dos padrões. (Os funcionários estavam acostumados a partici-
par das sessões de discussão nos fins de semana.) Os funcionários chegaram
no gemba trazendo com eles as normas existentes (planilhas de sequência
A maioria dos problemas no gemba pode ser resolvida se (1) os cinco princí-
pios do gemba forem seguidos ou se (2) dados forem coletados e analisados
sistematicamente. Alguns problemas podem ser facilmente identificados e
resolvidos se formos até o gemba imediatamente e passarmos cinco minutos
perguntando “Por quê?” até chegar às causas do problema. Nesses casos, a
observação é o principal, e soluções podem ser encontradas no local e em
tempo real. A maioria dos problemas nos ge gemba mba podem ser resolvi-
dos desta forma. No entanto, outros tipos de problemas exigem a coleta de
dados no gemba e a dedicação de algum tempo para resolvê-los.
Este estudo de caso descreve como problemas de segurança foram re-
solvidos na Tres Cruces Cold Storage Plant, uma empresa da Argentina que
fabrica produtos como salsichas sem pele, presuntos e salames. Entre janei-
ro de 1993 e maio de 1994, 27 acidentes ocorreram na empresa, custando
o equivalente a 78 dias dias/funcionário. A empresa organizou um grupo
composto por um supervisor e três trabalhadores no depósito de recebi-
mento de matérias-primas. Eles tiveram que desenvolver um projeto de se-
gurança para reduzir acidentes durante a descarga e o transporte da carne.
(A empresa processava cerca de 100 mil toneladas de carne por dia.)
O grupo começou seu projeto através da coleta de informações sobre o
status atual de acidentes. Como não havia um meio sistemático de coleta de
dados naquela época, apenas dados posteriores a 1993 puderam ser encon-
trados. O grupo determinou que 52% dos acidentes resultava em lesões de
pele, 33% em ferimentos com corte e 15% em outros tipos de lesões.
Para obter uma melhor compreensão da situação, os membros do gru-
po realizaram sessões de brainstorming visando a definir as causas dos aci-
dentes mais frequentes. Eles elaboraram um “relatório de alarme” para os
operadores, que deveriam apresentá-lo durante as quatro semanas seguintes
cada vez que ficassem assustados com quase acidentes, criando um banco
de dados para análise.
Esses relatórios de alarme são muitas vezes utilizados para relatar quase
acidentes nos gembas japoneses (ver Figuras CS-31 e CS-32 para obter exem-
plos típicos). O número e os tipos de relatórios de alarme enviados durante as
quatro semanas em Tres Cruces são mostrados na Figura CS- 33. Com base
nesses resultados, o grupo de kaizen conseguiu identificar os principais aci-
dentes e suas frequências e traçá-los em um gráfico de Pareto (Figura CS-34).
Formulário de alarme
Nome: ______________________
Supervisor: __________________
1. Quando:
Onde:
O que aconteceu:
2. Ideias de kaizen
2. Não posso lidar com o problema por causa da seguinte razão. Data ______________
Data: ______________
Quando
Antes do trabalho Durante o trabalho Após o trabalho Durante o intervalo
Onde
Quem e o quê
(Principal indicação do problema)
1. Quase prendeu os dedos 2. Quase ficou preso
O que 3. Quase foi atingido 4. Quase se cortou
aconteceu? 5. Quase se queimou 6. Outros
Por quê?
Opinião e
instruções
do superior
Contramedidas ainda
Contramedidas adotadas não adotadas
(Pessoal, gembutsu ou ambos) (a serem implementadas por)
Encarregado: Processo:
Participantes
Líderes etc.: Nome:
Relatório de alarme
Período Primeira Segunda Terceira Quarta
Parcial %
Alarme semana semana semana semana
Queda de carcaça de suínos /// //// // //// 14 9
Cortes //// // //// //// //// //// //// //// 36 24
Queda de carcaças de bovinos //// //// / //// //// //// //// / //// //// / 42 27
Queda de matéria-prima congelada /// //// //// //// 18 12
Escorregão no piso do caminhão /// //// // //// 14 9
Atingido por carcaças de animais // /// /// / 9 6
Carcaças de animais espalhadas //// /// // /// 12 8
Outros /// / // // 8 5
Total 153
Cortes 24%
Outros 5%
Ações de kaizen
Como resultado das conclusões, a equipe de kaizen da Tres Cruces tomou
estas 10 ações:
Imai_Estudo_casos_02 374
Mão de obra Máquina Pavimentação
Método Material
Figura CS-35 Diagrama espinha-de-peixe de causa e efeito mostrando a natureza e a relação entre acidentes na Tres Cruces.
16/06/14 09:30
Estudos de caso 375
180
160 158
153
140
120
100
80
60
40
26
20 14
8 9
5 4
0
Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Figura CS-36 Este gráfico ilustra a queda acentuada nos relatórios de alarme na
Tres Cruces.
Padronização
Como parte do esforço de kaizen, os seguintes itens ou procedimentos fo-
ram padronizados na Tres Cruces:
S Relatório de alarme
S Corte das carcaças pelo fornecedor
S Procedimento para a limpeza do piso do setor
S Uso da esteira transportadora
Etapas subsequentes
O projeto kaizen foi acompanhado pelas seguintes ações:
S Estudo da viabilidade de um sistema de transporte em esteiras pelo alto
S Estudo da viabilidade de descarga de gordura congelada diretamente na
câmara fria
S Modificação do leiaute, a fim de melhorar a recepção de carne na câmara
Análise da árvore de falhas. A análise da árvore de falhas é usada para analisar e evitar
problemas de segurança e confiabilidade com antecedência, identificando relações de causa e
efeito e a probabilidade de problemas usando o diagrama de árvore.
Análise de valor (VA). Método para redução de custos introduzido por L.D. Miles na General
Electric em 1947. Destina-se a reduzir os custos de material e de componentes nas fases de
insumos de projeto e revisão de projeto, envolvendo colaborações multifuncionais de projeto
de produtos, engenharia de produção, garantia de qualidade e fabricação. A VA também é
empregada para benchmarking competitivo.
AQL. Nível de qualidade aceitável é uma prática entre clientes e fornecedores que permite
que fornecedores entreguem certa percentagem de refugos, pagando multas.
Atividade em pequeno grupo. Atividade de grupo do chão da fábrica para resolver proble-
mas que aparecem em seu próprio local de trabalho. Os grupos são geralmente formados por
5 a 10 operadores do chão da fábrica. Suas atividades são em sua maioria semelhantes às dos
círculos de qualidade. No entanto, as atividades em pequenos grupos são implementadas não
só para atividades como a melhoria de qualidade, redução de custos, manutenção produtiva
total e melhoria de produtividade, mas também para atividades recreativas e outras ativida-
des sociais.
Certificação QA Best-Line. Sistema interno de certificação para certificar o desempenho de
garantia de qualidade de nível internacional de um determinado processo.
Cinco Ms (5M). Um método para a gestão de recursos no gemba – especificamente daqueles
conhecidos como 5M – mão de obra, máquina, material, método e medição.
Cinco porquês. Um método de análise de causas usado na resolução de problemas em que a
pergunta “Por quê?” é repetida até que a causa raiz do problema seja compreendida.
Cinco regras de ouro da gestão do gemba. Um conjunto dos lembretes mais práticos na
implementação do kaizen no gemba: (1) Vá para o gemba quando surgirem problemas, (2)
verifique o gembutsu, (3) tome medidas corretivas no local, (4) encontre e elimine a causa e
(5) padronize para evitar a recorrência.
Cinco Ss (5S). Uma lista de verificação de boas condições de limpeza para alcançar maior
ordem, eficiência e disciplina no local de trabalho. É derivada das palavras japonesas seiri, sei-
ton, seiso, seiketsu e shituke e adaptada para os equivalentes em inglês sort (separar), straighten
(arrumar), scrub (esfregar), systematize (sistematizar) e standardize (padronizar). Em algumas
empresas, é adotado como a campanha 5C: clear out (limpar), configure (configurar), clean &
check (limpar e verificar), conform (conformar) e custom & practice (padronizar e praticar).
Jidoka (autonomação). Dispositivo que para uma máquina sempre que um produto defei-
tuoso é produzido. Este dispositivo é essencial na introdução do just-in-time (JIT).
Jishuken. No início da década de 1960, o jishuken (equipe autônoma de estudo de JIT) foi
iniciado para implementar atividades de JIT no gemba das empresas do Grupo Toyota.
JIT (just-in-time). Sistema concebido para atingir o melhor nível possível de qualidade, cus-
to e entrega de produtos e serviços por meio da eliminação de todos os tipos de muda nos
processos internos da empresa e do fornecimento de produtos just-in-time para atender às
demandas dos clientes. Originalmente desenvolvido pela Toyota Motor Company, também
é chamado por nomes como Sistema Toyota de Produção, sistema de produção enxuta e
sistema kanban.
JK (jishu kanri). Jishu kanri significa “gestão autônoma” em japonês e refere-se à participa-
ção dos trabalhadores em atividades de kaizen como parte de suas atividades diárias, sob
orientação de um gerente de linha; é diferente das atividades de círculo de qualidade, que são
voluntárias e são realizadas pela própria vontade dos trabalhadores.
Junjo. Sistema de logística que prepara e entrega materiais para a linha ou ponto de uso na
sequência de uso. A palavra japonesa para “sequência” é junjo.
Kanban. Ferramenta de comunicação no sistema JIT utilizada sempre que ocorrer a produ-
ção em lote. Um kanban, que significa “placa de aviso” em japonês, é ligado a determinado
número de peças ou produtos na linha de produção, instruindo a entrega de uma quantidade
específica. Quando todas as peças foram usadas, o kanban é devolvido à sua origem, onde se
torna um pedido para que mais peças sejam produzidas.
Kosu. As operações de fabricação podem ser divididas em horas de máquinas e horas de
pessoal. Kosu refere-se às horas de pessoal específicas que são necessárias para processar uma
unidade de um produto em determinado processo e é calculado multiplicando-se o número
de trabalhadores envolvidos em um processo pelo tempo real necessário para completar o
processo e dividindo-se esse número pelas unidades produzidas. É utilizado como medida de
produtividade dos operadores. A redução do kosu é uma das principais medidas de melhoria
de produtividade no gemba.
Lei de Heinrich. Princípio relacionado com a taxa de ocorrência de acidentes com ferimen-
tos. Heinrich expressa a seguinte proporção:
Ferimento grave: ferimento leve: sem ferimento = 1: 29: 300
A equação expressa que, quando você vê uma pessoa que ficou gravemente ferida por um
acidente, o mesmo acidente poderia ter ferido 29 pessoas levemente. Ao mesmo tempo, pode
haver 300 pessoas que, felizmente, não foram feridas, mas experimentaram o mesmo acidente.
Local de armazenamento. Lugar onde trabalhos inacabados e suprimentos são armazena-
dos no gemba. Um local de armazenamento difere de um armazém normal, porque apenas o
inventário padronizado é mantido no local de armazenamento.
Manutenção produtiva total (TPM). A manutenção produtiva total visa maximizar a eficácia
de equipamentos ao longo de toda a vida do equipamento. A TPM envolve todas as pessoas
em todos os departamentos e em todos os níveis; ela motiva as pessoas para a manutenção
da fábrica por meio de atividades individuais e em pequenos grupos e envolve elementos
QCD (qualidade, custo e entrega). Qualidade, custo e entrega são considerados como obje-
tivo final da gestão. Quando a gestão é bem-sucedida em obter QCD, a satisfação do cliente e
o sucesso empresarial são os resultados.
QCDMS. No gemba, frequentemente M (moral) e S (segurança) são adicionados ao QCD
como metas a serem alcançadas.
QFD (desdobramento da função qualidade). Abordagem de gestão para identificar as ne-
cessidades dos clientes em primeiro lugar e, em seguida, trabalhar nas etapas de projeto,
engenharia, produção, vendas e serviço de pós-venda de produtos.
QS 9000. A versão dos EUA da série ISO 9000 imposta pelas “Big Three” (as três maiores
empresas automotivas) para seus fornecedores em comparação com a descrição geral dos
requisitos da ISO 9000. A QS 9000 especifica requisitos adicionais, particularmente a neces-
sidade de melhoria contínua das ações padrão e corretivas.
Qualidade. No contexto de QCD, qualidade refere-se à qualidade de produtos ou serviços
entregues ao cliente. Neste caso, qualidade refere-se à conformidade com as especificações e
exigências do cliente. Em sentido mais amplo, qualidade refere-se à qualidade do trabalho na
concepção, produção, entrega e manutenção pós-venda de produtos ou serviços.
Realização simultânea de QCD. A alta gerência deve certificar-se de que todos os níveis do
trabalho da empresa atinjam o QCD. O objetivo final é realizar QCD simultaneamente, mas,
antes de tudo, é necessário estabelecer prioridades entre os três, com a qualidade sempre em
primeiro lugar.
Relatório de Hiyari (relatório de susto). O relatório de Hiyari (relatório de susto) é um
formulário escrito que um trabalhador entrega a um supervisor relatando uma condição que
não é segura e que pode levar a problemas de qualidade e/ou acidentes.
Relatório de susto. Ver relatório de Hiyari.
SDCA (padronizar-executar-verificar-agir). As etapas básicas a serem seguidas para manter
o status atual.
Sistema de sugestões. No Japão, o sistema de sugestões é uma parte altamente integrada do
kaizen orientado para o indivíduo. O sistema de sugestões de estilo japonês enfatiza benefí-
cios que aumentam o moral e a participação positiva dos funcionários em vez dos incentivos
econômicos e financeiros que são enfatizados nos sistemas de estilo ocidental.
Sistemas de kaizen. Principais sistemas que devem ser estabelecidos para atingir um status
de nível internacional.
S Controle de qualidade total (gestão da qualidade total)
S Sistema de produção just-in-time
S Manutenção produtiva total
S Implementação da política
S Sistema de sugestões
S Atividades em pequenos grupos
Tempo de ciclo. O tempo efetivo levado por um operador para processar uma peça de
produto.
Tempo takt. Tempo teórico em que o fabricante deve manufaturar uma peça de produto
encomendado pelo cliente. O tempo takt é calculado dividindo-se o tempo de produção dis-
ponível líquido pelo número de unidades que devem ser produzidas nesse tempo.
TQC. Ver Controle de qualidade total (TQC).
Trabalho padronizado. Combinação ideal de trabalhador, máquina e material. Os três ele-
mentos do trabalho padronizado são tempo takt, sequência de trabalho e processo de traba-
lho padrão.
Três Ks (3K). As palavras japonesas que se referem à percepção convencional do gemba: ki-
ken (“perigoso”), kitanai (“sujo”) e kitsui (“estressante”) – em contraste direto com a ideia do
gemba como lugar onde o valor real é agregado e como fonte de ideias para alcançar QCD.
Três Ms (3M). Muda (“desperdício”), mura (“variação”) e muri (“sobrecarga”). Essas três pa-
lavras são usadas como pontos de verificação de kaizen para ajudar os trabalhadores e a ge-
rência na identificação de áreas para melhoria.
Três Ms (3M) no gemba. Os três principais recursos a serem gerenciados no gemba: mão de
obra, materiais e máquinas. Os três Ms algumas vezes são chamados de 5M, com a adição de
métodos e de medições.
Vá ao gemba. O primeiro princípio do gemba kaizen. Este é um lembrete de que, sempre que
ocorre uma anormalidade, ou sempre que um gerente deseja conhecer o estado atual das ope-
rações, ele deve ir ao gemba imediatamente, pois o gemba é a fonte de todas as informações.
Verificar o gembutsu. Examinar os objetos tangíveis do gemba ao tentar determinar a causa
raiz de problemas.
Yokoten. Expansão horizontal de resultados bem-sucedidos de kaizen em uma área pelo
compartilhamento do aprendizado com pessoas de outras áreas.
Abordagem do kaizen diário, 220–223 Ver também Toyota Astra Motor Com-
Abordagem orientada para o processo, pany (TAM)
kaizen como, 4–5, 7–8 Astra International, 129.
Abordagem planejar-agir-aprender (PAL), Ver também Toyota Astra Motor Com-
313–314 pany (TAM)
Achmea, 215–219 Atividades de kaizen, 3, 126–128
Aeroporti di Roma (ADR), 224–228 Af- Atividades de melhoria da qualidade,
fordable Care Act, 289–290 39–44, 47–48
Aeroporto Ciampino, 224–228 Atividades em pequenos grupos, natureza,
Aeroporto Dallas-Fort Worth, 21 10
Aeroporto Leonardo da Vinci-Fiumicino, Atividades que agregam valor, 21–23, 193
224–228 Auditoria, padrões como base para, 54–55
Aeroportos, 21, 224–228 Autoaperfeiçoamento, 213–214
Aisin Seiki Autodisciplina
produção just-in-time (JIT), 148–151, aquisição de, 74–75, 96–98
154–159 limpeza, 22–23
produção puxada, 152–153 na Tokai Shinei Electronics, 364–366
Alpargatas, 56–57, 320–328
American Safety Razor, 190 Back, Greg, 82–83
Análise da causa raiz, 29–30, 116–118 Banco de reciclagem, 69–70
Andrade, Fernando, 220–221 Bara, Levente Hugo, 310–311, 313–314
Aprender fazendo e aprender ensinando, Benchmarking, 95–96, 242–248
241 Bergamo, Irineu, 220–223
Aprender pelo exemplo, 242–248 Bokern, Joop, 12–13
AQL (nível de qualidade aceitável), 124– Brainstorming, 349–350, 370
125 Bratu, Julien, 64–67, 310
AQM (matriz autoquality), 312–314 Brower, Greg, 360–361
Arena do cliente, 216–217 Bunge & Born, 352
Arnold, Pat, 358–359 Burkhalter, Steve, 114–116
Árvore dos desejos, 358–360 Byrne, Art, 178, 179–196
AS 9000, 59–60
Caetano Bus, 295–299
Associação de Formação Industrial do
Calcagni, Marina, 93
Japão, 111
California Management Review, 110
Associação dos Fabricantes do Quênia,
Cambon, Manuel Garcia, 281
301–302
Caminhada pelo gemba, 132–133
Astra Group, 23–25
Campanhas da etiqueta vermelha, 67–70