Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Prezados Senhores,
1. Operação projetada
1No momento da implementação da operação ora examinada, o capital social da Adgas é representado por um
total de 155.555 quotas. Além das 15.555 quotas de titularidade da Albatroz, Roberto detém 56.000 quotas, no
valor nominal de R$1,00 cada uma, representativas de 36% do capital social, e Pedro e João Paulo detêm,
42.000 quotas cada um, no valor nominal de R$1,00 por quota, representativas de 27% do capital social.
2 Os preços devidos pela Albatroz pela aquisição dos direitos de subscrição, fixados de modo a respeitar as
participações de cada sócio no capital – e, consequentemente, sua preferência para acompanhar o aumento –
foram de (a) R$ 120.000,00 para Roberto, (b) R$ 90.000,00 para Pedro; e (c) R$ 90.000,00 para João Paulo.
2
valor nominal, assim entendida a importância (fixa) pela qual o subscritor se obriga a
contribuir para a sociedade, que representará uma parcela igualmente fixa do capital social.
3 Cfr. JOSÉ WALDECI LUCENA, Das Sociedades Limitadas (6ª ed.), Rio de Janeiro: Renovar, 2005, 322. Essa
também é a opinião de GUSTAVO TEPEDINO, HELOISA HELENA BARBOZA e MARIA CELINA BODIN MORAES, que, em
obra coletiva, reconhecem que o Código Civil “permite que o capital social das sociedades limitadas seja
dividido em quotas iguais ou desiguais quanto ao valor ou a natureza. (....) Assim, pode a sociedade
apresentar capital dividido em quotas de mesmo valor nominal ou em quotas com valores nominais diversos.”
In Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República (3º vol), Rio de Janeiro: Editora Renovar,
2011, 168.
3
Entendemos, portanto, que, no caso da Adgas – cujo contrato social não prevê
nenhuma restrição – é legítima e absolutamente legal a emissão de quotas, aprovada por
unanimidade dos sócios, com valor nominal distinto daquelas preexistentes, detidas não
apenas pelos demais sócios, como pela própria Albatroz (no caso, R$25,07, ao invés de
R$38,57 ou R$1,00).
Cumpre ainda notar que referida operação não implicará em qualquer tributação
para as partes em presença, especialmente a Adgas.
Caso o preço devido pela Albatroz pela subscrição das novas quotas excedesse o
valor nominal das mesmas, a Adgas seria obrigada a registrar essa diferença como ágio, em
uma conta de reserva de capital. Haveria, então, risco de as autoridades fiscais
considerarem a parcela do preço de subscrição correspondente ao referido ágio como um
rendimento tributável da Adgas, sob o argumento de que a operação (envolvendo uma
sociedade limitada, e não uma sociedade anônima) não estaria abrangida pela isenção
estabelecida pelo art. 38 do Decreto-Lei n.º 1.598/77. 4 Apesar de – em nossa opinião -
referida interpretação literal ser questionável, ela já foi adotada pelo Fisco, por exemplo, na
Solução de Consulta DISIT 8 n.º 195/99.5
No caso concreto, porém, a Adgas não receberá qualquer sobrepreço pelas quotas
emitidas, mas apenas o valor nominal das mesmas. A Albatroz contabilizará o valor pago na
integralização como custo de seu novo investimento (avaliado pelo método da equivalência
patrimonial) e a Adgas limitar-se-á a registrar a totalidade da importância recebida em sua
conta de capital, operação esta insuscetível de qualquer tributação.
4O art. 38 do Decreto-Lei n.º 1.598/77, que assim dispõe: “Não serão computadas na determinação do lucro
real as importâncias, creditadas a reservas de capital, que o contribuinte com a forma de companhia receber
dos subscritores de valores mobiliários de sua emissão a título de: I - ágio na emissão de ações por preço
superior ao valor nominal, ou a parte do preço de emissão de ações sem valor nominal destinadas à formação
de reservas de capital (...).”
5 A Solução de Consulta DISIT 8 n.º 195, de 23 de Junho de 1999, recebeu a seguinte ementa: “ÁGIO NA
EMISSÃO DE QUOTAS. Serão computadas na determinação do lucro real as importâncias creditadas a
reservas de capital, que o contribuinte com a forma de sociedade por quotas de responsabilidade limitada
receber, dos subscritores de quotas de sua emissão, a título de ágio, quando emitidas por preço superior ao
valor nominal.”
4
3. Cessão de direitos de subscrição
O art. 1.081, §1º, do Código Civil estabelece que, na hipótese de aumento do capital
de uma sociedade limitada, os sócios têm preferência para dele participar “na proporção
das quotas de que sejam titulares”.
De mais a mais, “a cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros (...) a partir
da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes” (art. 1.057).
Dúvidas não há, portanto, que também essa etapa da operação – a cessão onerosa
dos direitos de subscrição decorrentes da preferência para participação no aumento de
capital – atende perfeitamente a legislação societária em vigor.
5
Do ponto de vista fiscal, o preço pago pela Albatroz na aquisição dos direitos de
subscrição também deverá integrar o custo da nova participação societária na Adgas
(avaliada pelo método da equivalência patrimonial).
Já com relação aos sócios cedentes (Roberto, Pedro e João Paulo), o ganho obtido
por cada um deles na alienação do direito de subscrição – correspondente à diferença entre
o preço recebido e o custo daquele direito – encontra-se sujeito a tributação pelo imposto
de renda das pessoas físicas (“IRPF”) à alíquota de 15% (art. 117 e 142 do Regulamento do
Imposto de Renda, aprovado pelo Decreto n.º 3.000/99 – “RIR/99”).
Como o custo de tal direito de subscrição é zero, o ganho apurado por cada um dos
sócios cedentes corresponderá à totalidade do preço recebido e deverá ser integralmente
oferecido à tributação6. O recolhimento do imposto de renda deverá ser feito até o último
dia útil do mês subsequente ao auferimento do ganho por cada cedente.
4. Conclusões
c) Os valores recebidos pela Adgas na emissão das novas quotas (com valor
nominal diverso daquele atribuído às quotas preexistentes), contabilizado
6 O ganho de capital é tributado pela pessoa física em separado em relação aos rendimentos do exercício, não
integrando a base de cálculo do imposto na declaração de ajuste anual do contribuinte (art. 117, §2º, do
RIR/99).
6
integralmente na conta de capital social, não é computado pela empresa na
determinação do seu lucro tributável; e
d) O preço recebido por cada sócio pessoa física na alienação dos direitos de
subscrição da Adgas será considerado na apuração de ganho de capital,
tributável pelo IRPF à alíquota de 15%, o qual deverá ser recolhido até o
último dia útil do mês subsequente ao recebimento do preço.
Atenciosamente,